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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE SOBRAL
3ª VARA CÍVEL
Av. Mons. Aloísio Pinto, nº 1.300, Dom. Expedito, Sobral(CE)
CEP 62.050-262 - Telefone: (88)3677-5818

Processo nº 45632-74.2012.8.06.0167
Requerente: Rosilene Pereira Correia
Requerida: BV Financeira S/A Crédito, Financiamento e Investimento

SENTENÇA

Vistos e etc,

Cuida-se de ação revisional de contrato com pedido de tutela antecipada proposta


por Rosilene Pereira Correia em face de BV Financeira S/A Crédito, Financiamento e
Investimento, ambas as partes qualificadas nos autos.

A parte autora propôs ação revisional de contrato tendo em vista a contratação de


financiamento para compra de moto, onde a promovente almeja, em síntese, revisionar e tornar
nulos diversos preceitos da cédula de crédito bancário de fls. 64/66.

Alega a parte requerente que consta no contrato taxa de juros simples de 2,98%
mensal e de 57,05% ao ano.

Entende a parte autora que não cabe capitalização de juros mensal porque não
foram pactuados no contrato de fls. 64/66 (fl. 31), nem a cobrança de diversos encargos, como
TAC, TEC, IOF, serviços de terceiros (fl. 36) e comissão de permanência (fl. 43), que diz serem
ilegais.

A parte autora alega ainda que, após o pagamento da 7ª prestação do contrato,


passou a ter dificuldades em quitar as demais parcelas, sendo impraticável qualquer negociação
com a parte promovida por conta dos valores cobrados, em desacordo com o que a autora acha
justo.

Pede o deferimento da Justiça Gratuita e que o valor da causa seja o proveito


econômico pretendido e não o valor do contrato.
Pede decisão liminar para que a instituição demandada se abstenha de efetivar o
protesto do título e inscrever a parte autora nos cadastros de proteção ao crédito em relação ao
contrato questionado nos autos, assim como, que a posse do bem seja mantida com a mesma,
determinando-se o impedimento de propositura de ação de busca e apreensão pelo requerido.

Também pede a autorização judicial para depositar judicialmente quantia inferior


ao estipulado no contrato.

No mérito, pede a revisão do contrato e declaração de nulidade das cláusulas


abusivas com a devolução dos valores pagos a mais indevidamente.

Com a inicial vieram os documentos de fls. 56/72.

Pela decisão de fls. 76/79-v, o pedido de antecipação de tutela foi indeferido e


determinada a citação da parte ré, a qual apresentou a contestação de fls. 89/137.

Na contestação apresentada, a parte alega preliminar de ausência de pressupostos


de constituição e de desenvolvimento regular do processo e as seguintes matérias de mérito:
autonomia da vontade na celebração do contrato (fl. 93); validade de exigibilidade de
cumprimento do contrato (fl. 95); inexistência de contrato de adesão e de cláusulas contratuais
abusivas (fl. 97); a legalidade dos juros contratados (fls. 100/104) e da capitalização (fls.
104/108), a legalidade da cobrança de comissão de permanência, inclusive, sem a cumulação
com outros encargos (fls. 108/112); impossibilidade de deferimento do pleitos antecipatórios da
autora (fls. 112/123); impossibilidade de inversão do ônus da prova e não comprovação de
hipossuficiência (fls. 123/127); inexistência de motivo para repetição de indébito (fls. 127/131);
legalidade da tarifa de cadastro, a qual não possui relação com a tarifa de abertura de crédito -
TAC (fls. 131/132) e legalidade da taxa de emissão e recebimento de boleto bancário – TEC (fls.
133/136). Por fim, requereu o julgamento improcedente da ação.

Conforme termo de audiência de fl. 88, as partes não realizaram acordo, tendo
sido anunciado o julgamento antecipado do pedido, com a respectiva intimação de ambas.

É o relatório. Decido.

Não obstante, a extensiva matéria abordada tanto na inicial como na contestação,


na qual, ambas as partes, argumentam fatos além dos realmente ocorridos no negócio jurídico
realizado, como, por exemplo, a suposta existência de tarifa de emissão de carnê (TEC),
informada na fl. 36 da inicial e fl. 133 da contestação, esta sentença se limitará ao julgamento
dos fatos realmente existentes, alegados e comprovados, situação que não se trata de omissão,
mas sim, manifestação da jurisdição incidente sobre o real interesse das partes, na aplicação de
uma interpretação mais correta do pedido, observando a técnica e princípios previstos no CPC,
em especial, o art. 322, §2º.

PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DE


CONSTITUIÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO REGULAR DO PROCESSO.

De plano, verifico que a questão indicada como preliminar não tem outra
natureza, senão, de matéria que envolve o próprio mérito.

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O argumento, exposto na contestação, de que a autora não teria instruído o
processo com provas de suas alegações, assim, não inviabiliza a apreciação do mérito, na medida
em que com ele se confunde, sendo, na verdade, o próprio mérito, o qual será devidamente
apreciado com todos os elementos trazidos aos autos pelas partes.

Destarte, afasto a preliminar alegada e passo à apreciação do mérito.

DA PACTUAÇÃO DOS JUROS

Compulsando os autos, verifico que foi apresentada via do contrato celebrado


entre as partes às fls. 64/66, onde está expresso que a taxa de juros contratada foi de 2,98% ao
mês e 42,24% ao ano, para emprestar a quantia de R$ 6.198,99.

Verifico ainda, que consta no item 13 do contrato (fl. 65),


a indicação de incidência taxa mensal capitalizada referente ao item 5.2.

Destarte, é possível afirmar que há sim contratação de juros capitalizados


mensalmente.

DOS JUROS CAPITALIZADOS

Com relação aos juros do contrato, a sua estipulação não está sujeita ao
tabelamento pelos órgãos de controle financeiro, sendo certo que deve ser obedecida a legislação
de regência, que somente poderá ser invalidada em caso de abuso devidamente comprovado, por
meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não
bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva da parte.

Apesar da alegação de abuso na estipulação da taxa de juros, não foram


apresentados elementos que justifiquem a modificação da taxa livremente pactuada pelas partes.

É pacifico no STF e STJ que os contratos bancários, nos quais figuram como parte
instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional, não é abusiva a pactuação de juros à taxa
superior a 12% ao ano, por não lhe aplicarem as disposições do Decreto nº 22.626/33, de acordo
com o teor da Súmula n. 596 do STF, que diz:

“Súmula nº 596: As disposições do Decreto nº 22.626, de 1933, não se


aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por
instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional”.

Ressalto ainda o teor da Súmula Vinculante nº 07 do STF:

“Súmula vinculante nº 7: A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição,


revogada pela Emenda Constitucional nº 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a
12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar”.

Já o STJ editou a Súmula n. 382 no sentido de que “a estipulação de juros


remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.

3
O que se conclui da jurisprudência reiterada é que os tribunais superiores têm
afastado de forma peremptória qualquer interpretação da ordem jurídica que conclua pelo
tabelamento de taxas de juros. Assim, eventual estipulação de taxa superior a 12% não leva
inexoravelmente à conclusão de que há abusividade.

Quanto à capitalização de juros, a partir da edição da Medida Provisória de nº


1.96317 (publicada em 31/03/2000, consolidada e a atualizada pela M.P. 2.17036, com
publicação no DOU de 12/09/2001), tornou-se admissível a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do
Sistema Financeiro Nacional. Nesta linha, a jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de ser
lícita a capitalização de juros compostos, em periodicidade mensal (a partir da publicação da MP.
1.96317) ou anual, mas desde que, em ambos os casos, tenha sido expressamente pactuada.

Essa tese foi expressamente acolhida pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça,
que em sede de julgamento de recursos repetitivos, tendo como relatora a Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, onde se firmou o entendimento de que a fixação dos juros anuais em
patamar superior ao duodécimo do valor mensal é permitida, desde que expressamente pactuação
no contrato ( REsp 973827/RS).

Neste sentido, foram publicadas Súmulas pelo STJ, que tratam da possibilidade de
capitalização dos juros, conforme transcrições a seguir:

Súmula 539: “É permitida a capitalização de juros com periodicidade


inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada”.

Súmula 541: “A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual


superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva
anual contratada”.

Provocado a manifestar-se sobre a aplicação de juros capitalizados em contratos,


o egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará adotou entendimento semelhante, diversas
ementas in verbis:

“AGRAVO INTERNO EM DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO


REVISIONAL. CONTRATO BANCÁRIO. FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO EXPRESSA DE
TAXA ANUAL SUPERIOR AO DUODÉCUPLO DA MENSAL. VALOR NOMINAL
INFERIOR À MÉDIA DO MERCADO. ABUSIVIDADE NÃO CARACTERIZADA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. POSSIBILIDADE, DENTRO DAS LIMITAÇÕES
DISPOSTAS NA SÚMULA 472 DO STJ. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 7ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, unanimemente, em conhecer e negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Relator, que passa a integrar este acórdão. (Relator(a):
DURVAL AIRES FILHO; Comarca: Fortaleza; Órgão julgador: 7ª Câmara Cível; Data
do julgamento: 08/03/2016; Data de registro: 08/03/2016; Outros números:
476482302010806000150000)”.

4
“APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO.
CAPITALIZAÇÃO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE EXPRESSAMENTE CONTRATADA.
JUROS REMUNERATÓRIOS, TAXA MÉDIA DO MERCADO, OBSERVÂNCIA
NECESSÁRIA. LEGITIMIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE CADASTRO.
CARACTERIZAÇÃO DA MORA. NÃO PROVIMENTO. 1.É válida a capitalização mensal
dos juros expressamente prevista em cláusula do contrato, celebrado após a vigência da
MP nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº 2.170-36/2001). 2.A taxa
aplicada de 19,56% ao ano está abaixo da média praticada pelo mercado, naquele
período - janeiro/2010 e para a mesma modalidade contratual, fixada pelo Banco Central,
portanto, inexiste a apontada abusividade neste encargo. 3.A legitimidade da cobrança de
"Tarifa de Cadastro" foi afirmada no julgamento dos já citados recursos especiais nº
1.255.573/RS e nº 1.251.331/RS. Permitida a inclusão da referida tarifa no valor
financiado pelo mesmo fundamento adotado pelo STJ para permitir a inclusão do IOF no
valor financiado, qual seja, o atendimento aos interesses do financiado, que não precisa
desembolsar de uma única vez todo o valor, ainda que para isso esteja sujeito aos
encargos previstos no contrato. 4.A ausência de abusividade nos encargos incidentes no
período de normalidade contratual caracteriza a mora do devedor. 5.Recurso conhecido e
não provido. ACORDA a 3ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO CEARÁ, por uma de suas turmas julgadoras, à unanimidade, em conhecer e negar
provimento ao apelo, nos termos do voto do relator, parte integrante deste”. (Relator(a):
ANTÔNIO ABELARDO BENEVIDES MORAES; Comarca: Fortaleza; Órgão julgador: 3ª
Câmara Cível; Data do julgamento: 07/03/2016; Data de registro: 07/03/2016)

“AGRAVO REGIMENTAL. APELAÇÃO. REVISÃO DE CONTRATO


BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE E SUMULADA DO
STJ E DO STF. APLICAÇÃO RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1 – Cuida-se
de agravo regimental contra decisão monocrática que negou seguimento ao apelo
interposto pela agravante. 2 – A capitalização de juros, embora objeto da Súmula 121 do
STF, sofreu regramento legal posterior (MP 2.170-36/2001) e deu ensejo uma nova
jurisprudência formada pelo STJ, a quem a Constituição Federal atribui a competência de
zelar pela legislação federal. Com efeito, fala-se do Recurso Especial repetitivo nº
973.827/RS e das súmulas 539 e 541 do STJ. 3 – Assim, é permitida a incidência de juros
compostos, mesmo porque a previsão de taxa anual superior ao duodécuplo da taxa
mensal é suficiente para a cobrança da taxa efetiva anual, em cumprimento ao dever de
transparência imposto pelo CDC. 4 – Agravo regimental conhecido e desprovido.
ACÓRDÃO. Acordam os integrantes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer do recurso, contudo para negar-lhe
provimento, tudo nos termos do voto do Desembargador Relator”. (Relator(a):
WASHINGTON LUIS BEZERRA DE ARAUJO; Comarca: Fortaleza; Órgão julgador: 3ª
Câmara Cível; Data do julgamento: 07/03/2016; Data de registro: 07/03/2016; Outros
números: 904968862012806000150000)

Ou seja, a jurisprudência consolidada dos nossos tribunais é no sentido de que


nosso ordenamento jurídico não alberga tabelamento de juros e de que não há qualquer
abusividade ou ilegalidade na capitalização de juros se, no contrato, juntamente com a taxa
mensal, vem especificada a taxa anual. Com estes fundamentos, afasto a alegada ilegalidade ou
abusividade na forma de cálculo dos juros estipulados no contrato celebrado entre as partes, uma
vez que o instrumento traz expressamente a taxa mensal e anual a ser aplicada no cálculo das
parcelas.

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DA COBRANÇA DE ENCARGOS NO CONTRATO DE
FINANCIAMENTO

Conforme depreende-se do contrato trazido aos autos, além dos juros


remuneratórios e encargos de inadimplemento, foram cobrados também: R$ 23,47 de IOF, R$
237,52 de seguro e R$ 418,00 de tarifa de cadastro, enquanto que, destas cobranças realizadas,
apenas a tarifa de cadastro e o IOF foram questionados na inicial (fl. 38).

Sem maiores delongas, deve ser mencionado que a jurisprudência consolidada do


STJ, reconheceu a validade de cobrança de tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da
Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/04/2008, conforme disposto na Súmula 566, in verbis:

Súmula 566: Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n.


3.518/2007, em 30/4/2008, pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o consumidor e
a instituição financeira.

O STJ tem admitido também o financiamento do IOF, sujeitando-o aos mesmos


encargos contratuais do empréstimo.

Neste sentido, segue o julgado abaixo:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE


FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DIVERGÊNCIA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS. MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-
36/2001. RECURSOS REPETITIVOS. CPC, ART. 543-C. TARIFAS ADMINISTRATIVAS
PARA ABERTURA DE CRÉDITO (TAC), E EMISSÃO DE CARNÊ (TEC). EXPRESSA
PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇA. LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. MÚTUO
ACESSÓRIO PARA PAGAMENTO PARCELADO DO IMPOSTO SOBRE
OPERAÇÕES FINANCEIRAS (IOF). POSSIBILIDADE. 1. "A capitalização dos juros
em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão
no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é
suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada" (2ª Seção, REsp
973.827/RS, julgado na forma do art. 543-C do CPC, acórdão de minha relatoria, DJe de
24.9.2012). 2. Nos termos dos arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964, recebida pela Constituição
como lei complementar, compete ao Conselho Monetário Nacional dispor sobre taxa de
juros e sobre a remuneração dos serviços bancários, e ao Banco Central do Brasil fazer
cumprir as normas expedidas pelo CMN. 3. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a
orientação estatal quanto à cobrança de tarifas pelas instituições financeiras era
essencialmente não intervencionista, vale dizer, "a regulamentação facultava às
instituições financeiras a cobrança pela prestação de quaisquer tipos de serviços, com
exceção daqueles que a norma definia como básicos, desde que fossem efetivamente
contratados e prestados ao cliente, assim como respeitassem os procedimentos voltados a
assegurar a transparência da política de preços adotada pela instituição." 4. Com o início
da vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços
bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente
previstas em norma padronizadora expedida pelo Banco Central do Brasil. 5. A Tarifa de
Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) não foram previstas na
Tabela anexa à Circular BACEN 3.371/2007 e atos normativos que a sucederam, de forma
que não mais é válida sua pactuação em contratos posteriores a 30.4.2008.6. A cobrança

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de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto, se baseada em contratos celebrados até
30.4.2008, ressalvado abuso devidamente comprovado caso a caso, por meio da
invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não
bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do
magistrado. 7. Permanece legítima a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera
o serviço de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e
informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao inicio de
relacionamento decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou de poupança ou
contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil, não podendo ser
cobrada cumulativamente" (Tabela anexa à vigente Resolução CMN 3.919/2010, com a
redação dada pela Resolução 4.021/2011).8. É lícito aos contratantes convencionar o
pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio
financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos
contratuais. 9. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª Tese: Nos contratos
bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era
válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC),
ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em
cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em
30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou
limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela
autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa
de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra
denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro
expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual
somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição
financeira. - 3ª Tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre
Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao
mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. 10. Recurso especial
parcialmente provido. (REsp 1251331/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe 24/10/2013) (sem negrito no original)

Assim, conforme entendimento pacificado na jurisprudência, percebe-se que os


acessórios analisados, presentes no contrato celebrado e questionado pela autora, não são eivados
de ilegalidade que possa afastar a cobrança destes encargos na forma livremente pactuada.

DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

Não foi cobrada a comissão de permanência no período da normalidade do


contrato. Por outro lado, a parte não demonstrou nos autos quais encargos foram cobrados a
título de mora, não havendo como quantificar a possível abusividade deste fato alegado.

Sabe-se que a referida taxa é cobrada pelas instituições financeiras quando há


atraso nos pagamentos.

Segundo entendimento do STJ, consolidado na súmula 294, o montante pode ser


exigido legalmente durante a fase de inadimplência do contrato, desde que respeite a taxa média
de juros praticada no mercado, apurada pelo Banco Central, não podendo ser superior ao
percentual fixado no contrato.

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Porém, conforme as súmulas 30 e 296, o STJ também estabeleceu que a cobrança
da comissão de permanência não pode ser cumulada com a incidência de correção monetária e
de juros remuneratórios.

Nesse sentido, a súmula 472 formaliza que a cobrança de comissão de


permanência, além de não poder ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios
estabelecidos no contrato, exclui a exigência de juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual.

Sobre o tema o STJ publicou as seguinte súmulas e proferiu os julgados:

Súmula 30: “A comissão de permanência e a correção monetária são


inacumuláveis”.

Súmula 296: “Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de


permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado
estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado”.

Súmula 294: “Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a


comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco
Central do Brasil, limitada à taxa do contrato”.

Súmula 472: “A cobrança de comissão de permanência - cujo valor não


pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato
- exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual”.

“DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS


SUJEITOS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ OBJETIVA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. VALIDADE DA
CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES. DECOTE DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO
DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO
CÓDIGO CIVIL ALEMÃO. ARTIGO 170 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. 1.
O princípio da boa-fé objetiva se aplica a todos os partícipes da relação
obrigacional, inclusive daquela originada de relação de consumo. No que diz
respeito ao devedor, a expectativa é a de que cumpra, no vencimento, a sua
prestação. 2. Nos contratos bancários sujeitos ao Código de Defesa do
Consumidor, é válida a cláusula que institui comissão de permanência para viger
após o vencimento da dívida. 3. A importância cobrada a título de comissão de
permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e
moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média
de mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período
de normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e
c) multa contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52,
§ 1º, do CDC. 4. Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de
comissão de permanência, deverá o juiz decotá-los, preservando, tanto quanto
possível, a vontade das partes manifestada na celebração do contrato, em
homenagem ao princípio da conservação dos negócios jurídicos consagrado nos
arts. 139 e 140 do Código Civil alemão e reproduzido no art. 170 do Código Civil
brasileiro. 5. A decretação de nulidade de cláusula contratual é medida

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excepcional, somente adotada se impossível o seu aproveitamento. 6. Recurso
especial conhecido e parcialmente provido”. (REsp 1058114/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 16/11/2010)

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO COM PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DESCUMPRIMENTO DE CLÁUSULA
CONTRATUAL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.1. É
admitida a cobrança da comissão de permanência durante o período de inadimplemento
contratual, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central, limitada à
taxa do contrato, não podendo ser cumulada com a correção monetária, com os juros
remuneratórios e moratórios, nem com a multa contratual. 2. O embargante traz à apreciação
desta Corte insurgência desprovida de causa quanto ao tema. Ademais rever o entendimento
firmado na origem ensejaria o reexame do conteúdo fático-probatório dos autos, a atrair a
incidência das Súmulas 5 e 7 do STJ. 3. Embargos de declaração acolhidos unicamente para sanar
omissão em relação à comissão de permanência, sem contudo emprestar-lhes efeitos
modificativos”. (EDcl no AgRg no AgRg no AREsp 34.358/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/12/2012, DJe 13/12/2012)

Destarte, extrai-se do entendimento predominante na atual jurisprudência do STJ,


que a previsão de comissão de permanência no contrato exclui a exigibilidade dos juros
remuneratórios, moratórios e da multa contratual.

Mesmo reconhecida a cumulação indevida da comissão de permanência com


multa contratual, tratando-se de encargo de inadimplemento, a ocorrência desta abusividade não
tem a propriedade de desconstituir a mora, conforme entendimento expresso na alínea b da
orientação 2, do Resp n. 1.061.530-RS, razão pela qual, neste caso, não é possível o
afastamento da mora e das respectivas consequências práticas deste pedido.

Muito embora não tenha ocorrido fato que desconstitua a mora da requerente, o
contrato eivado de abusividade ocasionou, em parte, o estender da dívida no tempo, situação que
não pode ser suportada pela autora exclusivamente.

No caso dos autos, houve contratação dos juros capitalizados e não foi
demonstrada a cobrança ilegal do IOF. Todavia, apesar de não quantificados os valores
possivelmente exigidos pela parte demandada a título de mora, há sim, previsão de cobrança de
comissão de permanência com multa, o que representa a ilegalidade do contrato que deve ser
afastada.

Diante de todo o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido para afastar a


cobrança indevida de multa cumulada com comissão de permanência, sendo que este encargo de
inadimplemento só pode ser exigido calculado pela taxa média de mercado apurada pelo Banco
Central, limitado à taxa do contrato, não podendo ser cumulada com a correção monetária, com
os juros remuneratórios e moratórios, nem com a multa contratual.

Para fins de incidência dos encargos moratórios deverá ser considerado como
termo inicial o trânsito em julgado da presente sentença.

Indefiro os demais pedidos.

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Custas processuais em metade para cada, ressalvando ser a autora beneficiária da
justiça gratuita.

Cada parte arcará com os honorários do respectivo advogado.

P. R. Intimem-se.

Sobral(CE), 15 de agosto de 2017.

Aldenor Sombra de Oliveira


Juiz de Direito

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