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PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE SOBRAL
3ª VARA CÍVEL
Av. Mons. Aloísio Pinto, nº 1.300, Dom. Expedito, Sobral(CE)
CEP 62.050-262 - Telefone: (88)3677-5818
Processo nº 45632-74.2012.8.06.0167
Requerente: Rosilene Pereira Correia
Requerida: BV Financeira S/A Crédito, Financiamento e Investimento
SENTENÇA
Vistos e etc,
Alega a parte requerente que consta no contrato taxa de juros simples de 2,98%
mensal e de 57,05% ao ano.
Entende a parte autora que não cabe capitalização de juros mensal porque não
foram pactuados no contrato de fls. 64/66 (fl. 31), nem a cobrança de diversos encargos, como
TAC, TEC, IOF, serviços de terceiros (fl. 36) e comissão de permanência (fl. 43), que diz serem
ilegais.
Conforme termo de audiência de fl. 88, as partes não realizaram acordo, tendo
sido anunciado o julgamento antecipado do pedido, com a respectiva intimação de ambas.
É o relatório. Decido.
De plano, verifico que a questão indicada como preliminar não tem outra
natureza, senão, de matéria que envolve o próprio mérito.
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O argumento, exposto na contestação, de que a autora não teria instruído o
processo com provas de suas alegações, assim, não inviabiliza a apreciação do mérito, na medida
em que com ele se confunde, sendo, na verdade, o próprio mérito, o qual será devidamente
apreciado com todos os elementos trazidos aos autos pelas partes.
Com relação aos juros do contrato, a sua estipulação não está sujeita ao
tabelamento pelos órgãos de controle financeiro, sendo certo que deve ser obedecida a legislação
de regência, que somente poderá ser invalidada em caso de abuso devidamente comprovado, por
meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não
bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva da parte.
É pacifico no STF e STJ que os contratos bancários, nos quais figuram como parte
instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional, não é abusiva a pactuação de juros à taxa
superior a 12% ao ano, por não lhe aplicarem as disposições do Decreto nº 22.626/33, de acordo
com o teor da Súmula n. 596 do STF, que diz:
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O que se conclui da jurisprudência reiterada é que os tribunais superiores têm
afastado de forma peremptória qualquer interpretação da ordem jurídica que conclua pelo
tabelamento de taxas de juros. Assim, eventual estipulação de taxa superior a 12% não leva
inexoravelmente à conclusão de que há abusividade.
Essa tese foi expressamente acolhida pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça,
que em sede de julgamento de recursos repetitivos, tendo como relatora a Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, onde se firmou o entendimento de que a fixação dos juros anuais em
patamar superior ao duodécimo do valor mensal é permitida, desde que expressamente pactuação
no contrato ( REsp 973827/RS).
Neste sentido, foram publicadas Súmulas pelo STJ, que tratam da possibilidade de
capitalização dos juros, conforme transcrições a seguir:
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“APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO.
CAPITALIZAÇÃO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE EXPRESSAMENTE CONTRATADA.
JUROS REMUNERATÓRIOS, TAXA MÉDIA DO MERCADO, OBSERVÂNCIA
NECESSÁRIA. LEGITIMIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE CADASTRO.
CARACTERIZAÇÃO DA MORA. NÃO PROVIMENTO. 1.É válida a capitalização mensal
dos juros expressamente prevista em cláusula do contrato, celebrado após a vigência da
MP nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº 2.170-36/2001). 2.A taxa
aplicada de 19,56% ao ano está abaixo da média praticada pelo mercado, naquele
período - janeiro/2010 e para a mesma modalidade contratual, fixada pelo Banco Central,
portanto, inexiste a apontada abusividade neste encargo. 3.A legitimidade da cobrança de
"Tarifa de Cadastro" foi afirmada no julgamento dos já citados recursos especiais nº
1.255.573/RS e nº 1.251.331/RS. Permitida a inclusão da referida tarifa no valor
financiado pelo mesmo fundamento adotado pelo STJ para permitir a inclusão do IOF no
valor financiado, qual seja, o atendimento aos interesses do financiado, que não precisa
desembolsar de uma única vez todo o valor, ainda que para isso esteja sujeito aos
encargos previstos no contrato. 4.A ausência de abusividade nos encargos incidentes no
período de normalidade contratual caracteriza a mora do devedor. 5.Recurso conhecido e
não provido. ACORDA a 3ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO CEARÁ, por uma de suas turmas julgadoras, à unanimidade, em conhecer e negar
provimento ao apelo, nos termos do voto do relator, parte integrante deste”. (Relator(a):
ANTÔNIO ABELARDO BENEVIDES MORAES; Comarca: Fortaleza; Órgão julgador: 3ª
Câmara Cível; Data do julgamento: 07/03/2016; Data de registro: 07/03/2016)
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DA COBRANÇA DE ENCARGOS NO CONTRATO DE
FINANCIAMENTO
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de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto, se baseada em contratos celebrados até
30.4.2008, ressalvado abuso devidamente comprovado caso a caso, por meio da
invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não
bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do
magistrado. 7. Permanece legítima a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera
o serviço de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e
informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao inicio de
relacionamento decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou de poupança ou
contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil, não podendo ser
cobrada cumulativamente" (Tabela anexa à vigente Resolução CMN 3.919/2010, com a
redação dada pela Resolução 4.021/2011).8. É lícito aos contratantes convencionar o
pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio
financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos
contratuais. 9. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª Tese: Nos contratos
bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era
válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC),
ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em
cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em
30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou
limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela
autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa
de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra
denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro
expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual
somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição
financeira. - 3ª Tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre
Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao
mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. 10. Recurso especial
parcialmente provido. (REsp 1251331/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe 24/10/2013) (sem negrito no original)
DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
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Porém, conforme as súmulas 30 e 296, o STJ também estabeleceu que a cobrança
da comissão de permanência não pode ser cumulada com a incidência de correção monetária e
de juros remuneratórios.
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excepcional, somente adotada se impossível o seu aproveitamento. 6. Recurso
especial conhecido e parcialmente provido”. (REsp 1058114/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 16/11/2010)
Muito embora não tenha ocorrido fato que desconstitua a mora da requerente, o
contrato eivado de abusividade ocasionou, em parte, o estender da dívida no tempo, situação que
não pode ser suportada pela autora exclusivamente.
No caso dos autos, houve contratação dos juros capitalizados e não foi
demonstrada a cobrança ilegal do IOF. Todavia, apesar de não quantificados os valores
possivelmente exigidos pela parte demandada a título de mora, há sim, previsão de cobrança de
comissão de permanência com multa, o que representa a ilegalidade do contrato que deve ser
afastada.
Para fins de incidência dos encargos moratórios deverá ser considerado como
termo inicial o trânsito em julgado da presente sentença.
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Custas processuais em metade para cada, ressalvando ser a autora beneficiária da
justiça gratuita.
P. R. Intimem-se.
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