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Universidade de São Paulo

Escola de Engenharia de Lorena – EEL


Departamento de Biotecnologia - DEBIQ

RELATÓRIO PARCIAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


PIBIC/CNPQ

TÍTULO DO PROJETO:

CARACTERIZAÇÃO ECOTOXICOLÓGICA DO EFLUENTE


DA DESLIGNIFICAÇÃO DO LÍNTER

Bolsista: Marília Brito Oliveira


Orientador: Prof. Dr. Flávio Teixeira da Silva

Lorena, Fevereiro de 2011


RESUMO

Neste trabalho estão apresentados a revisão bibliográfica e os resultados parciais do


projeto “Caracterização Ecotoxicológica do efluente da Deslignificação do Línter”. Este visa
dar continuidade ao projeto “Caracterização química do efluente de deslignificação do línter”
e tem como objetivo identificar compostos tóxicos presentes no efluente de deslignificação do
línter, proveniente de uma indústria de explosivos no Vale do Paraíba – SP.

Atualmente, é importante saber se o efluente produzido por uma empresa é tóxico e


conhecer seu grau de toxidade, pois assim as indústrias podem se enquadrar nas normas
previstas pela legislação. Para avaliar se o efluente lançado ao meio ambiente é prejudicial ao
meio ambiente e em que proporção são realizados testes de toxidade. Dessa maneira, é
possível saber se há componentes tóxicos no efluente e qual será o melhor tratamento a ser
empregado.

I. INTRODUÇÃO

A água é um bem essencial para sobrevivência da espécie humana bem como para
manutenção da vida no planeta. Entretanto, a poluição dos recursos hídricos cresce devido a
diversos setores industriais que geram águas residuais, estas podem conter desde compostos
orgânicos até metais pesados. O descarte inadequado de efluentes industriais pode provocar
danos profundos aos ambientes aquáticos e aos organismos vivos.

O descarte de substâncias químicas provenientes de efluentes domésticos, industriais,


agropecuários, entre outros provoca modificações do estado químico e biológico dos
mananciais hídricos, prejudicando o fornecimento de água limpa. Com o desenvolvimento
industrial, esse problema tem aumentado mundialmente. Portanto, a legislação tornou-se
mais rigorosa e as indústrias precisam atender diversas normas para controle da qualidade da
água.

A caracterização de determinado efluente industrial é efetuada de duas formas


distintas, embora complementares. Uma é a análise química, responsável pela identificação e
quantificação de substâncias, outra é a análise ecotoxicológica, cuja importância está
crescendo cada vez mais e que se ocupa com os efeitos produzidos por estas substâncias. A
avaliação do seu potencial de risco para homem e o meio ambiente é muito importante.
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A qualidade dos recursos hídricos pode ser controlada através dessas análises químicas
ou análises biológicas (na qual estão incluídos os testes de toxicológicos). A ecotoxicologia,
através dos testes ecotoxicológicos, estuda os efeitos adversos causados aos organismos vivos
por substâncias químicas liberadas no ambiente (Chasin & Pedroso 2004). Como os ensaios
ecotoxicológicos não dependem da substância química estar ou não isolada, eles preenchem a
lacuna deixada pelas análises químicas. Os ensaios ecotoxicológicos têm por finalidade saber
se as substâncias químicas, isoladas ou em forma de mistura, são nocivas a sistemas vivos, e
como e onde se manifestam seus efeitos (Knie & Lopes 2004).

Os agentes principais da poluição industrial são os gases tóxicos liberados na


atmosfera, os compostos químicos orgânicos e inorgânicos lançados nos corpos hídricos e a
poluição do solo com uso de pesticidas e outras substâncias
(http://www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br).

O complexo industrial localizado na região do Vale do Paraíba está entre os maiores e


mais importantes do país, incluindo setores produtivos altamente diversificados, como as
indústrias químicas, farmacêuticas, de alimentos, de papel e celulose, de explosivos,
petroquímicas, siderúrgicas, metal mecânico e têxtil, entre outras (BRANDÃO, 2010).

Na ausência de tratamento, as águas residuárias lançadas diretamente nos rios,


contribuem cada vez mais com a poluição do meio ambiente. A indústria de explosivos possui
grande potencial poluidor dos ambientes aquáticos e seus efluentes apresentam compostos de
difícil degradação e altamente tóxicos como cloro, lignina, 2,4,6-TNT e seus
metabólitos(BRANDÃO, 2010).

A sociedade industrializada assumiu que os ecossistemas naturais têm certa


capacidade de assimilação dos despejos por ela produzidos (ZIOLLI e JARDIM, 1998). No
entanto, os organismos vivos e suas funções podem ser alterados pela presença destes rejeitos,
o que se reflete em modificações como freqüentes mortandades de peixes, florações de algas,
interferência na propagação das espécies, significativo decréscimo da qualidade das águas e,
até mesmo, morte de rios (ZAGATTO e BERTOLETTI, 2006).

Suspeita-se que muitos destes compostos tóxicos sejam potentes agentes


carcinogênicos (BERTOLETTI, 1989; 1990). Além disso, como as águas residuais
normalmente contêm na sua composição mais de um composto orgânico, deve-se levar em
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consideração o efeito sinérgico que agrava ainda mais a contaminação ambiental (VANEGAS
et al., 1997; BERVOETS et al., 1996).

Pelos motivos acima mencionados, a caracterização química, ecotoxicológica e o


tratamento de efluentes, gerados a partir de diferentes processamentos, têm sido intensamente
estudados e vários deles já se encontram industrialmente implementados. Todavia, nem
sempre os resultados são satisfatórios. Muitas vezes há uma redução significativa de
parâmetros como, por exemplo, DBO, DQO e cor, sem que isso implique na remoção da
toxidez do efluente tratado (BRANDÃO, 2010). Nesses casos, quando lançado no corpo
receptor promoverá, sem dúvidas, sérios prejuízos ao meio ambiente e deixará de atender a
Resolução CONAMA 357/2005, como é o caso do efluente da deslignificação do línter,
gerado a partir da produção da nitrocelulose e que será objeto de estudo desse projeto de
iniciação científica.

I. 1. Celulose

A celulose é a matéria-prima básica para produção de nitrocelulose. As principais


fontes de obtenção da celulose são a madeira e o algodão. Para a produção de nitrocelulose,
utilizam-se polpas com mais de 98% de pureza. A celulose é um polímero de alta massa
molar, de cadeias lineares, que tem como unidades repetitivas a celobiose, que é um dímero
de β-D-glicose (C6H10O5)n, podendo ter de 1.500 a 10.000 unidades desse açúcar (Figura 1).
As unidades de glucose adjacentes são ligadas entre si pela eliminação de uma molécula de
água proveniente das hidroxilas, ligadas ao carbono 1 e ao carbono 4. A posição β do grupo
OH requer um giro da unidade de glicose em torno do eixo C1 - C4 do anel piranosídico
(FENGEL; WEGENER, 1989).

Figura 1. Molécula de Celulose

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Devido à linearidade das cadeias, as moléculas adjacentes formam uma rede de
agregados (microfibrilas) insolúveis em água, com comprimento e largura variados. As
microfibrilas com diâmetro médio de 1 a 30 nm apresentam regiões cristalinas e amorfas
(FENGEL; WEGENER, 1989).

As pontes de hidrogênio inter e intramolecular são responsáveis pela manutenção das


redes cristalinas, tornando a celulose altamente resistente a tratamentos químicos e biológicos
(WOOD; SADDLER, 1988; CONVERSE; WARE, 1994). Além disso, a celulose não se
dissolve em solventes comuns. Logo, os produtos derivados da celulose não podem ser
preparados pelos métodos convencionais utilizados no tratamento de polímeros, como a
formação a partir de fusões, soluções ou métodos de deformação plástica, dentre outros
(FENGEL; WEGENER, 1989).

Cada unidade de β-D-glicose contém uma hidroxila primária, representada por (-CH2-
OH), e duas hidroxilas secundárias (-OH), que desempenhará um importante papel na
transformação química da celulose em nitrocelulose, por reação com ácido nítrico. As
hidroxilas primárias apresentam maior reatividade que as secundárias (VOTORANTIM,
2004).

Submetendo-se a celulose a tratamentos químicos, obtêm-se compostos com novas


características e aplicações especiais, dentre os quais se citam os vários tipos de papel
existentes e a nitrocelulose (TEMMING et al., 1973).

I. 2. Nitrocelulose

A nitrocelulose é considerada uma das mais antigas resinas sintéticas utilizadas na


fabricação de tintas e vernizes. Produzida pela primeira vez há mais de 160 anos, passou a ser
largamente empregada em tintas após a 1ª Guerra Mundial. Também representou um marco
no desenvolvimento da indústria de tintas a nível mundial e foi responsável pela
popularização das lacas automotivas e industriais, propiciando acabamentos de fácil
aplicação, rápida secagem e alto desempenho. A sua rápida secagem foi o principal fator que
tornou possível a produção em massa na indústria automobilística (Figura 2) (BARCZA, data
desconhecida).

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Por tratar-se da resina de secagem mais rápida, é ainda usada em segmentos como
repintura automotiva, seladores e acabamentos para madeira, tintas de impressão por
rotogravura e flexografia, cosméticos (esmalte de unha) e acabamentos para couro, além de
diversas outras aplicações, apesar do aparecimento de novos sistemas de resinas (BARCZA,
data desconhecida).

Figura 2. Molécula de Nitrocelulose

Há muito tempo foram detectadas propriedades explosivas do algodão nitrado. A


descoberta de métodos de gelificar o material, transformando-o numa massa uniforme e
densa, de aparência resinosa, reduziu a superfície e a rapidez da explosão. Com a descoberta
de métodos apropriados de estabilização, para prolongar a vida em depósitos, a nitrocelulose
logo deslocou a pólvora negra como propelente militar. Sendo uma das principais matérias-
primas para pólvoras e dinamites (BARCZA, data desconhecida).

O grau de polimerização da nitrocelulose é determinado pelo número médio de β-D-


glucose que existe em uma molécula de resina. O índice nos revela a viscosidade do produto.
A nitrocelulose pode ser umectada em etanol ou em isopropanol (BARCZA, data
desconhecida).

O processo de fabricação consiste na purificação do línter bruto para obtenção de


celulose, nitração da celulose com mistura sulfonítrica, estabilização e fervimentos para
extração de ácido residual ocluso nas fibras da NC (BARCZA, data desconhecida).

Durante o processo, algumas variáveis são controladas de acordo com a necessidade


de sua aplicação. Os diferentes tipos do produto são caracterizados principalmente em relação
ao teor de nitrogênio e à viscosidade (ou grau de polimerização). A nitrocelulose com alto
teor de nitrogênio possui entre 11,8% a 12,3% do elemento em sua fórmula. O produto tem
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boa solubilidade em ésteres, cetonas e glicóis e é insolúvel em alcoóis, exceto com metanol e
quando em mistura com os solventes acima. É usada como solvente nas áreas de tintas e
vernizes. O produto com baixo teor de nitrogênio possui entre 10,8% a 11,3% do componente
em sua fórmula e tem boa solubilidade em alcoóis. Nitrocelulose com teor de nitrogênio
acima de 12,5% a 13,6%, praticamente insolúvel em alcoóis, são destinadas na fabricação de
pólvoras e cargas para diversos explosivos de aplicações civis e militares (VOTORANTIM,
2004).

I. 3. Processo Industrial

Existem três grupos hidroxila por unidade fundamental de unidade de β-D-glucose que
podem ser esterificados pelo ácido nítrico representada pela seguinte reação:

C6H7O2(OH)3 + 3HNO3 + H2SO4 → C6H7(ONO2)3 + 3H2O + H2SO4

É possível alcançar um teor teórico de nitrogênio próximo de 13,6%, o mais elevado


entre os produtos comercialmente obtidos (BARCZA, data desconhecida).

I. 3.1. Purificação do línter bruto

Nesta primeira etapa, a purificação do línter de algodão ocorre através de dois


tratamentos, mecânico e químico.

Línter bruto é estocado em fardos com aproximadamente 200 Kg, algodão bruto com
coloração bege claro, indicando pequena presença de óleo. Inicialmente são retiradas
impurezas grossas tais como: cascas, ramos, sementes, areia, pedras. Após, são colocados na
desfiadeira, desfiado e enviado por uma esteira, que contém um imã, para a retirada de
partículas metálicas. Segue para uma centrífuga que opera a pressão negativa, para eliminar
finos do línter. Esses finos, considerados impurezas, são mandados para filtros manga, onde
ficam armazenados (BARCZA, data desconhecida).

O línter livre de impurezas segue para o tratamento químico, em uma autoclave recebe
uma solução de soda cáustica diluída (NaOH). Sob pressão e elevação de temperatura, há o
processo de desengorduramento, onde são eliminadas proteínas, ceras, graxas e gorduras que
envolvem as fibras. Também, a soda reage com a lignina do línter e a deixa solúvel em água.

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Faz se lavagem com água visando retirar resíduos da solução de soda do línter (SANTOS,
2001; 2006).

I. 3.2. Branqueamento

Após a polpação alcalina, a polpa celulósica é lavada exaustivamente com água,


gerando um efluente rico em lignina que contém grupos hidroxilas formados pelo ataque dos
grupos OH- à molécula de lignina. A remoção desta lignina e impurezas faz-se necessária para
que se obtenha uma celulose com alto grau de alvura e pureza adequadas à nitração. Para
tanto, a polpa é submetida ao processo de branqueamento. Os principais agentes do
branqueamento são: cloro, hipoclorito de sódio, clorito de sódio e clorato de sódio (SANTOS,
2001; 2006).

I. 3.3. Nitração da celulose

A celulose preparada é colocada em silos para a alimentação dos reatores (nitradores).


É transportada através de roscas sem fim para uma balança. Após a pesagem a celulose é
colocada nos nitradores (Figura 03), normalmente em séries de cinco, junto com a mistura
sulfonítrica (MSN) com composição aproximada e específica de acordo com tipo de
nitrocelulose (NC) a ser preparada, segundo tabela abaixo:

Tabela 1. Composição da Nitrocelulose


Tipo de NC % N2 % Ac. Sulfúrico % Ac. Nítrico % Água
Baixa 11,3 - 12,3 57,3 - 57,6 26 16,4 – 16,7
Explosivo 12,5 - 13,6 59,0 – 66,0 26 8,0 – 15,0

Esta MSN é resfriada em trocadores de calor do tipo casco-tubo a uma temperatura


próxima de 30º C. A reação de nitração ocorre nesta temperatura durante aproximadamente 25
minutos. Toda carga do nitrador é descarregada numa centrífuga, onde os ácidos residuais são
separados do nitrato de celulose (BARCZA, data desconhecida).

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Figura 3. Reator (nitrador)

Os ácidos utilizados são parcialmente concentrados, para reutilização, ou são


encaminhados para desnitrificação e concentração do ácido sulfúrico (SANTOS, 2001; 2006).

O produto nitrado segue para os refervedores sem pressão, onde é adicionada água
para remover o ácido. Nesses refervedores dependendo do grau de nitração, o produto pode
ficar de 2 horas (baixa nitração) até 70 horas (alta nitração). A temperatura dentro dos
refervedores é mantida a 98ºC (BARCZA, data desconhecida).

Em toda reação de nitração ocorre também uma reação de sulfonação e por isso é
necessária a remoção dos produtos sulfonados. A nitrocelulose que está nos refervedores sem
pressão é mandado para as autoclaves onde será feita a retirada desses produtos para garantir a
sua estabilidade. Esta autoclave trabalha a elevadas temperaturas (≈ 142ºC) e pressões acima
da atmosférica. Também ocorre hidrólise para diminuir o peso molecular da nitrocelulose
(BARCZA, data desconhecida).

Após a retirada dos sulfonados, ainda resta ácido nítrico necessitando de nova
lavagem, que pode ser à quente, frio ou alcalina (com carbonato de sódio ou cálcio) à pressão
ambiente. A lavagem alcalina é feita na nitrocelulose para fabricação de explosivos. Na
utilização como solvente ou fabricação de filmes, a nitrocelulose produzida é lavada apenas

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com água fria para retirar a acidez. Então segue para uma centrífuga com uma peneira onde
será feito o controle da umidade final (≈28%) (BARCZA, data desconhecida).

Para utilização na obtenção de explosivos o teor de água na nitrocelulose é reduzido a


um valor mais baixo mediante a percolação com álcool (etanol). É colocada em centrífuga e o
álcool é pulverizado para garantir uma distribuição uniforme e obter um produto homogêneo.
Nesta etapa a nitrocelulose não é inflamável (BARCZA, data desconhecida).

I. 4. Efluentes da produção da nitrocelulose

A nitrocelulose é produzida em larga escala tanto a partir da celulose poduzida pelas


indústrias que produzem papel pelo processo soda, que tem na celulose a principal matéria-
prima, quanto pelas indústrias bélicas, que utilizam fibras de algodão como principal
constituinte. A aplicação da nitrocelulose neste último setor industrial encontra-se em franca
expansão no mercado brasileiro da produção de pólvoras, propelentes e dinamites à base de
nitroglicerina (SANTOS, 2001;2006).

Apesar de estas indústrias utilizarem processos de características intrínsecas às suas


cadeias produtivas, ambas geram efluentes da nitrocelulose, que são potencialmente
poluidores ao ambiente nas etapas de deslignificação do línter e branqueamento da polpa de
madeira e de algodão (SANTOS, 2001; 2006).

Segundo David et al. (1997), os despejos contendo resíduos de nitrocelulose (finos de


NC) podem não apresentar uma ameaça toxicológica para os humanos, entretanto, a presença
desses finos favorece a formação de lodo com características explosivas e requerem
tratamento, pois podem prejudicar o meio ambiente.

O efluente da deslignificação do línter, também chamado lixívia é uma fonte constante


de preocupação no que se refere à contaminação ambiental. Desta forma, devido à produção
de grandes volumes de efluentes e a crescente preocupação das indústrias com a gestão
ambiental, tem-se observado nas últimas décadas uma significativa redução dos impactos
ambientais, promovido principalmente pela criação de leis ambientais mais exigentes, aliadas
aos avanços tecnológicos e científicos no tratamento dos efluentes.

I.5. Ensaios ecotoxicológicos

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As indústrias vêm adotando medidas de gerenciamento e monitoramento para a
avaliação e controle dos agentes tóxicos presentes em efluentes líquidos. Segundo
GHERARDI-GOLDSTEIN et al. (1990) duas abordagens podem ser utilizadas com este
objetivo: controle através de substâncias específicas e controle do efluente como um todo. O
monitoramento através de substâncias específicas, também chamado de monitoramento
químico, é realizado através da identificação e quantificação de substâncias potencialmente
tóxicas no efluente, para as quais foram estabelecidos limites de emissão.

Ao se considerar a grande quantidade de substâncias lançadas no ambiente aquático


por atividades industriais, se torna analítica e economicamente inviável a identificação e
estabelecimento de padrões de emissão para todas essas substâncias. Além disto, através desta
abordagem não é possível avaliar os efeitos tóxicos que estas substâncias podem apresentar à
biota e a possível existência do efeito sinérgico entre as substâncias lançadas no ambiente
(RAYA-RODRIGUEZ, 2000).

Desta forma, o monitoramento biológico através da utilização de análises


ecotoxicológicas torna-se um importante instrumento na avaliação da toxicidade conjunta dos
constituintes de um efluente aos organismos aquáticos, ou seja, avalia o efluente como um
todo (BERTOLETTI et al., 1992). A ecotoxicologia aquática é definida como o estudo
qualitativo e quantitativo dos efeitos adversos (toxicidade) de elementos químicos e outros
materiais antropogênicos danosos à vida aquática (RAND & PETROCELLI, 1985).

A legislação vigente não determina a realização de análises ecotoxicológicas. No


entanto, a Resolução nº 20 do CONAMA (BRASIL,1986) encontra-se em fase final de
revisão, com a inclusão de parâmetros biológicos associados aos parâmetros físicos e
químicos, como já sugerido por PRINTES (2000) ao fazer uma análise crítica da classificação
brasileira de qualidade das águas estabelecidas por esta Resolução. BASSOI et al. (1990)
apontam que o monitoramento biológico complementa os procedimentos já adotados através
do monitoramento químico. Outros autores também ressaltam a importância da realização de
ambos os tipos de monitoramento para uma completa avaliação dos efeitos resultantes das
atividades humanas sobre o meio ambiente (ELDER, 1990; FOWLER & AGUIAR, 1991;
RAVERA, 1998; VAN DER VELDE & LEUVEN, 1999). Para RAVERA (1998) e CAIRNS
(2002), a associação do monitoramento químico com o monitoramento biológico permite uma
melhor avaliação das causas dos efeitos nos organismos, através da identificação de

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substâncias que podem estar influenciando na toxicidade das amostras. Neste sentido, se faz
importante a realização de trabalhos que busquem avaliar os efeitos de efluentes líquidos aos
organismos aquáticos, verificando a relação entre a toxicidade e os parâmetros físicos e
químicos analisados.

Além das avaliações de efluentes industriais, os ensaios de toxicidade têm assumido


um papel fundamental nas avaliações dos efeitos de substâncias químicas específicas, amos
tras de água e sedimentos sobre os organismos aquáticos. ARENZON (2004) verificou que os
ensaios de toxicidade com organismos aquáticos também podem ser aplicados no
monitoramento de águas subterrâneas. Os ensaios de toxicidade constituem uma forma de
biomonitoramento ativo, pois neles são utilizados organismos-teste, definidos por RAYA-
RODRIGUEZ (2000) como indivíduos padronizados e cultivados em laboratório, que podem
fornecer indicações sobre as condições de um ecossistema frente à presença de impacto
ambiental. Sua utilização fundamenta-se na exposição dos organismos-teste, representativos
do ambiente aquático, a várias concentrações de uma ou mais substâncias, ou fatores
ambientais, durante um determinado período de tempo (GHERARDI-GOLDSTEIN et al.,
1990).

A toxicidade será monitorada através de três organismos. Os métodos para


determinação da toxicidade crônica com a alga verde Pseudokirchneriella subcaptata, os
microcrustáceos Daphnia similis e Ceriodaphnia dúbia, serão realizados de acordo com as
normas ABNT NBR 12648/05, 12713/04 e 13373/05, respectivamente.

A alga unicelular S. capricornutum, também conhecida como Pseudokirchneriella


subcapitata (USEPA, 2002) ou Raphidocelis subcapitata (RODRIGUES, 2002), pertence à
Ordem Chlorococcales, Divisão Chlorophyta. Esta espécie é muito recomendada como
organismo-teste em ensaios de toxicidade (CETESB, 1992; USEPA, 2002).

Figura 4 - Pseudokirchneriella subcapitata

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Daphnia é um género de crustáceos da ordem Cladocera. Os organismos do gênero
Daphnia, chamados microcrustáceos, são amplamente sensíveis a mudanças em seu ambiente
aquático, principalmente causadas por ação de xenobióticos. Atualmente esses organismos
são utilizados em bioensaios, ou seja, testes que usam organismos vivos na avaliação de
toxicidade em áreas afetadas por efluentes industriais e domésticos, agricultura e locais
próximos a portos, desde que sejam água doce. E, devido à sua sensibilidade, as Daphnias são
usadas para realizar esses bioensaios e essa é uma área importante da Biologia chamada
Ecotoxicologia aquática.

Figura 5 - Daphnia similis Figura 6 - Ceriodaphnia dúbia

II. OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivos dar continuidade ao projeto “Caracterização química
do efluente de deslignificação do línter” e o fracionamento, o isolamento e a identificação de
compostos tóxicos presentes neste efluente. Dessa maneira, é possível determinar técnicas
viáveis de tratamento com o intuito de atender à resolução CONAMA 357/2005.

III. METODOLOGIA

III.1. Amostragem dos efluentes

Foram coletados em recipientes de 20L do efluente deslignificação. As amostras foram


refrigeradas a -4°C, de acordo com a norma (APHA, 1998). Alíquotas de 1,5L foram retiradas
e armazenadas separadamente.
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III.2. Fracionamento

Os compostos inorgânicos foram separados do efluente através do seu tratamento com


resina catiônica fortemente ácida (Amberlite IRI20Na) para remoção dos cátions e fortemente
básica (Amberlite IRA900Cl) para remoção de ânios.

Foi necessário determinar a capacidade de troca iônica dessas resinas, o experimento


foi realizado de acordo a metodologia de Vogel, 1978.

III.2.1. Fracionamento e determinação de cátions

Passou-se 500 mL de efluente e 500 mL de água deionizada em uma coluna contento


resina catiônica em excesso, os líquidos passaram pela coluna a uma vazão de 2 mL.min-1. O
objetivo desse processo é reter os cátions presentes no efluente.

Os cátions foram dessorvidos da resina catiônica usando solução 2M de HCl


concentrado, um volume igual ao do leito, e determinados por cromatografia de íons. As
análises cromatográficas foram realizadas em cromatografo Conductivity detector 1( 850
Professional IC 1), usando-se uma coluna Metrosep C 2 150/4.0.

III.2.2. Fracionamento e determinação de ânions

Passou-se 500 mL de efluente e 500 mL de água deionizada em uma coluna contento


resina aniônica em excesso, os líquidos passaram pela coluna a uma vazão de 2 mL.min-1. O
objetivo desse processo é reter os ânions presente no efluente.

Os ânions foram removidos da resina aniônica usando solução 1M de NaOH


concentrado,um volume igual a duas vezes do leito, e determinados por cromatografia de
íons. As análises cromatográficas foram realizadas em cromatografo Conductivity detector 1(
850 Professional IC 1), usando-se coluna Metrosep A Supp 5 150/4.0.

IV. Resultados e discussão

Primeiramente, duas colunas foram preenchidas com resinas trocadoras iônicas, uma
com 10g de resina aniônica e outra com 200g de resina catiônica. O volume de efluente
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utilizado para passar nas colunas foi 500mL. A coluna aniônica foi ativada com solução de
hidróxido de sódio 1M (duas vezes o volume do leito), e a catiônica com solução de ácido
clorídrico 2M (um volume igual ao do leito). O objetivo desse experimento foi dessorver
cátions e/ou ânions presentes no efluente.

Tabela 2. Concentração de cátions e ânions do efluente

Efluente da Efluente da
Componente deslignificação Componente deslignicação
bruto bruto
Sódio (mg.L-1) 13.527 Fluoreto (mg.L-1) 61
Potássio (mg.L-1) 27 Cloreto (mg.L-1) 1.457
Magnésio (mg.L-1) 16 Brometo(mg.L-1) n.d.
Cálcio (mg.L-1) 43 Sulfato (mg.L-1) 81
NH3 (mg.L-1) n.d.

Tabela 3. Concentração dos íons presentes em cada uma das frações obtidas através das

resinas aniônicas

Componente E.R.A. I.R.A. E.R.C. I.R.C. E.R.A.C.


Sódio (mg.L-1) 12540 8008,5 3548,8 5307,5 400
Amônio (mg.L-1) 82 47,5 64,4 372,5 35,2
Potássio (mg.L-1) n.d. n.d. 5,6 n.d. 16
Magnésio (mg.L-1) n.d. n.d. 44,4 180 n.d.
Cálcio (mg.L-1) n.d. n.d. 90 400 14
-1
Fluoreto (mg.L ) 74 23 77,6 n.d. 110,8
Cloreto (mg.L-1) 1310,5 420 1727,2 21175 1333,6
Brometo (mg.L-1) 28,5 11,25 170,8 242,5 60
Sulfato (mg.L-1) 132 33,25 189,2 n.d. 56,8
*E.R.A. – Efluente eluído em coluna com resina aniônica
I.R.A. – Íons dessorvidos da coluna com resina aniônica
E.R.C. – Efluente eluído em coluna com resina catiônica
I.R.C. – Íons dessorvidos da coluna com resina catiônica
E.R.A.C. – Efluente eluído em coluna aniônica e catiônica, respectivamente.

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Os resultados mostraram que a Fração I apresentou elevada concentração de sódio
(12.540 mg L-1), a qual pode ser explicada pelo uso de NaOH em concentrações em torno de
25 g L-1 no processo de deslignificação, com a finalidade de solubilizar a lignina presente no
línter. Entretanto, o objetivo era retirar ânions presentes no efluente, e a amostra apresentou
concentração considerável de cloreto ( 1310,3 mg.L-1) e também de outros ânions quando
comparando os resultados da fração I e os do efluente bruto.

O regenerado da coluna aniônica, Fração II, apresentou concentrações incorretas para


os ânions, já que estão menores que na Fração I. Provavelmente, houve erros experimentais
quanto ao uso da resina e a forma de regenerá-la. Isso pode ser confirmado comparando as
concentrações de ânions da tabela 3 e da tabela 2, já que a concentração dos ânions é bem
inferior no regenerado.

A Fração III apresentou redução significativa na concentração dos cátions,


principalmente de sódio (de 13527 mg.L-1 para 3548 mg.L-1), de dessa maneira, pode-se
afirmar que a resina catiônica reteve esses íons. O regenerado da coluna catiônica, Fração IV,
apresentou valores baixos para cátions, como o sódio (5307,5 mg.L-1). Tais resultados
mascarados podem ter ocorrido porque houve erro experimental ao regenerar a coluna.

A Fração V apresentou redução nas concentrações de ânions e cátions, o valor alto


para o cloreto ( 1333,6 mg.L-1) pode ser em função do uso de ácido clorídrico para regenerar a
coluna catiônica. Outros elementos apresentaram aumento na concentração em relação ao
efluente bruto, tais como: brometo, fluoreto e amônio, esse aumento pode ser em função de
impurezas contidas no efluente bruto ou nas soluções utilizadas.

V. Conclusão

Este projeto tem como objetivo dar continuidade aos estudos do efluente
deslignificação do línter, produzido por uma fábrica de explosivos do Vale do Paraíba-SP. De
acordo com trabalhos anteriores, sabe-se que o lançamento deste no rio é impróprio, já que
apresenta valores que não obedecem à resolução CONAMA 357/2005.

Vários íons, cátions ou ânions, podem ser responsáveis pela toxicidade de um efluente.
Através do uso de resinas trocadoras iônicas foi possível fracionar o efluente em estudo,
entretanto esse fracionamento não foi satisfatório, pois os dados analisados por cromatografia

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se apresentaram bastante confusos. O ideal é refazer os experimentos, identificar os
problemas técnicos, aumentar a quantidade de resina utilizada para intensificar a troca iônica.
Outra medida será rever os métodos para regenerar a coluna aniônica e a catiônica.

A análise de vários parâmetros para cada uma das frações obtidas, tais como os
apresentados na metodologia, permite saber o quanto os ânions e/ou os cátions presentes no
efluente são responsáveis por sua toxidade. Dessa maneira, será possível determinar métodos
de tratamento mais específicos, que possam diminuir a concentração dos elementos
responsáveis pela toxidade.

VI. Referências bibliográficas

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Engenharia Sanitária, 2891: 38-41.

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<http://www.fatma.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=64&Itemid=14
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VANEGAS, C., ESPINA, S., BOTELO, A.V., VILLANUEVA, S. (1997). Bulletin of


Environmental Contamination and Toxicology, 58: 87-92.

17
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de águas: o estado da arte no Brasil. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. n.1, p.10 –
15.

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AVALIAÇÃO DO ORIENTADOR SOBRE O RELATÓRIO PARCIAL E O DESEMPENHO
ACADÊMICO DA BOLSITA

1. IDENTIFICAÇÃO DO RELATÓRIO

Nome da Bolsista: Marília Brito Oliveira

Nome de Orientador: Flávio Teixeira da Silva

Período: Novembro / 2010 a Fevereiro / 2011

2. APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR SOBRE O RELATÓRIO PARCIAL

A bolsista elaborou e redigiu o relatório sem o auxílio do Orientador. A versão final


teve correções mínimas e reflete a sua capacidade de síntese

Durante esse período a aluna executou parcialmente o previsto no cronograma


proposto. Problemas experimentais não permitiram alcançar os resultados esperados. A
metodologia empregada deverá ser revista e aprimorada, de forma a não comprometer a
conclusão do projeto no prazo pré-determinado.

Na seqüência do desenvolvimento do processo a bolsista deverá fazer novas


determinações para caracterizar o efluente em estudo, usando técnicas mais sofisticadas,
do ponto de vista analítico, que incluirão os métodos espectrofotométricos, cromatografia de
íons e análise de carbono, além de avaliar a toxicidade das frações que serão produzidas.

3. APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR SOBRE O DESEMPENHO ACADÊMICO DA


BOLSITA

A aluna se destacou muito nesse primeiro semestre de bolsa. Foi assídua no


laboratório e sempre se mostrou receptiva em adquirir novos conhecimentos. O
desenvolvimento do trabalho no laboratório não interferiu nos estudos da graduação.
Destaque-se que nesse período o coeficiente de rendimento da aluna permaneceu estável,
como poderá ser comprovado pelo seu histórico escolar.

Prof. Dr. Flávio Teixeira da Silva Lorena, 28 de fevereiro de 2011.

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