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326 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 25, no.

3, Setembro, 2003

Introdução à Mecânica dos “Quanta”


Parte I∗
Theodoro A. Ramos
Escola Politécnica de São Paulo

Este artigo consiste nas notas da primeira conferência publicado originalmente no número de Novembro de
1931 no Boletim do Instituto de Engenharia, pp. 157-166. Aqui os conceitos básicos da fı́sica ondulatória e da
óptica geométrica são discutidos e a analogia entre a mecânica clássica e a óptica geométrica é explorada com
vistas à introdução da mecânica ondulatória de Schrödinger.

This paper consists of the first lecture notes published originally in the November 1931 issue of the Bulletin of
the Engineering Institute, p. 157-166. Here the basic concepts of the physics of waves and geometrical optics
are discussed and the analogy between the classical mechanics and geometrical optics is explored towards the
introduction of the Schrödinger undulatory mechanics.

I Introdução Poisson.
A teoria ondulatória da luz foi a primeira teoria fı́sica
Uma das principais tarefas da Fı́sica moderna tem que se desenvolveu apoiando-se em uma concepção radical-
sido a investigação e o estudo aprofundado das formas mente diferente da concepção newtoniana. A propagação
matemáticas abstratas nas quais se enquadrem satisfatoria- da luz é aı́ assimilada à propagação de ondas. O fenômeno
mente os fenômenos fı́sicos observados. luminoso em um ponto caracteriza-se por uma função
Não mais se hesita, atualmente, em abandonar as periódica do tempo denominada “variável luminosa”. A
concepções “simplistas” de um mundo constituı́do por intensidade da luz no ponto considerado é por definição o
associações de partı́culas e de fluidos movendo-se no espaço quadrado da amplitude da vibração luminosa. A variável
de acordo com determinadas leis de força. Em sua evolução luminosa deve também satisfazer à equação de propagação
a Fı́sica teórica utiliza-se cada vez mais das formas ab- das ondas e a determinadas condições limites.
stratas; é possı́vel que o progresso cientı́fico conduza a teo-
Quando a luz se propaga em um meio cujo ı́ndice de
rias fı́sicas que não mais admitam as representações conc-
refração é constante, as superfı́cies de igual fase, em um
retas sugeridas pela tradição clássica, e que se exprimam
dado instante, são planos paralelos cujas normais constituem
exclusivamente por intermédio de combinações de sı́mbolos
os “raios” percorridos pela perturbação luminosa.
matemáticos.
No inı́cio do século passado prevalecia entre os homens No caso de um meio refringente cujo ı́ndice é uma
de ciência a opinião de que a velha mecânica de New- função de ponto lentamente variável as superfı́cies de igual
ton enfeixava os elementos necessários à explicação dos fase adquirem curvatura e os raios deixam de ser retilı́neos.
fenômenos fı́sicos. Em tais casos a intensidade luminosa ou é constante ou
As idéias de Newton sobre a natureza corpuscular da varia lentamente ao longo dos raios cuja forma é determi-
luz eram ainda aceitas por sábios eminentes como Laplace e nada pelo princı́pio de Fermat o qual afirma que “entre 2
∗ Com este artigo iniciamos a publicação da série de conferências sobre a Mecânica Quântica ministradas pelo Prof. Theodoro Ramos na Escola Politécnica

do Rio de Janeiro em 1931. Quatro artigos foram publicados nos números de Novembro de 1931, Fevereiro de 1932, Junho de 1932 e Agosto de 1933 do
Boletim do Instituto de Engenharia. No nosso conhecimento, trata-se do primeiro texto didático sobre a Mecânica Quântica publicado no Brasil. No primeiro
artigo, T. Ramos explora com fundamentação matemática e riqueza de detalhes a analogia entre os princı́pios da mecânica clássica e da óptica geométrica. A
mecânica ondulatória é apresentada no segundo artigo seguindo os passos e analogias encontradas nas comunicações de Schrödinger que apareceram em 1926
no Annalen der Physik. A seguir a interpretação probabilı́stica de Born é discutida em profundidade. No terceiro artigo, T. Ramos explora as origens básicas
da mecânica quântica seguindo a formulação inicial de Heisenberg. Finalmente, em sua quarta conferência, a mecânica quântica matricial de Heisenberg,
Born e Jordan é analisada concluindo com a demonstração da equivalência entre a mecânica ondulatória e a mecânica matricial. Com a publicação desta série,
a RBEF procura resgatar trabalhos de eminentes professores que contribuı́ram para a introdução de teorias cientı́ficas “modernas” no Brasil ainda incipiente
em pesquisa na área de Fı́sica. Por outro lado, o material pode contribuir eficientemente na aprendizagem dos conceitos e teorias fundamentais abordados
nas disciplinas de História da Fı́sica e Mecânica Quântica dos cursos de Fı́sica. Para os interessados, recomendamos como leitura complementar o livro
Quantum Mechanics de S. Tomonaga (North-Holland, 1968) e o artigo de R. Köberle, Sobre a Gênese da Mecânica Ondulatória, Rev. Bras. Fis. v. 9, n. 1
(1979). Agradecemos ao Prof. Ildeu de Castro Moreira por nos ter chamado atenção para este importante documento da história da fı́sica brasileira e ao Prof.
Salomon Mizrahi pela leitura do texto editado [Nota do Editor].
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pontos a luz segue o caminho óptico estacionário relativa- a designando o determinante dos aij (sempre positivo); e
mente aos caminhos ópticos vizinhos que possuem as mes- aij .a = Aij , sendo Aij o complemento algébrico do ele-
mas extremidades”. mento aij no determinante a. Se as coordenadas xi forem
P 2
Se o meio possui um ı́ndice de refração cuja variação cartesianas e ortogonais, ∆ψ = i ∂∂xψ2 .
i
é muito rápida, ou então se surgem na propagação da luz
obstáculos provocando o aparecimento de fenômenos de in- A equação das ondas é, pois, uma equação de derivadas
terferência ou de difração, o principio de Fermat, que car- parciais linear, de 2a. ordem, homogênea relativamente às
acteriza a Óptica geométrica, não mais se aplica e torna-se derivadas de ψ. A esta equação se aplica o “principio da
necessário recorrer aos métodos mais rigorosos da Óptica superposição linear das soluções”. Assim se tivermos um
ondulatória. numero finito m de soluções ψk (r, t) (k = 1, 2, ...m) e m
constantes arbitrárias ck , a função

II Equação da propagação das on- k=m


X
ψ(r, t) = ck ψk (r, t) (4)
das. Ondas luminosas. Óptica k=1
geométrica e o seu campo de
aplicação. Princı́pio de Fermat. é uma solução da equação das ondas. Se o número de
soluções particulares ψk (r, t) for infinito, a função
Consideremos um fenômeno fı́sico, representado pela
função ψ(r, t) realizando-se, por hipótese, em um meio não k=∞
X
homogêneo, mas permanente e isótropo, caracterizado pela ψ(r, t) = ck ψk (r, t) (5)
função escalar de ponto n(r). Dizemos que o fenômeno se k=1
propaga por ondas se a função ψ(r, t) satisfaz a equação
será uma solução da equação das ondas caso a série seja
n2 ∂ 2 ψ
∆ψ = . (1) convergente e derivável duas vezes termo a termo.
c2 ∂t2
Indiquemos ainda outros tipos de soluções da equação
Nesta equação c designa uma constante e ∆ o operador
das ondas. Seja ψ1 (r, t, α) uma solução dependendo do
“laplaciano”; ∆ψ = div grad ψ.
parâmetro α, a fórmula
Se o fenômeno fı́sico considerado é um fenômeno lu-
minoso, ψ(r, t) representa uma “variável luminosa”, n(r) é Z α2
o ı́ndice de refração do meio, e c é a velocidade da luz no ψ(r, t) = ψ1 (r, t, α)y(α)dα, (6)
vácuo. Tomemos um sistema de coordenadas curvilı́neas xi α1
(i = 1, 2, 3) cujo elemento de arco ds é dado pela fórmula
X y(α) designando uma função arbitrária de α, também rep-
ds2 = aij dxi dxj ; (2)
resentará uma solução da equação das ondas, caso a inte-
ij
gral tenha um sentido e se lhe possa aplicar duas vezes a
obtemos derivação sob o sinal de integração. Em vez de uma integral
à !
simples poderı́amos considerar integrais múltiplas soluções
1 X ∂ √ X ij ∂ψ
∆ψ = √ a a (3) da equação das ondas; assim, por exemplo
a i ∂xi i
∂xj

c
Z α2 Z β2 Z γ2
ψ(r, t) = ψ1 (r, t, α, β, γ)y(α, β, γ)dαdβdγ. (7)
α1 β1 γ1

É fácil obter soluções particulares da equação das ondas. satisfaçam às condições impostas pela natureza fı́sica da
Assim, por exemplo, questão.
Nas aplicações aos fenômenos ondulatórios é importante
ψ(r, t) = (r − r0 ) · e + c1 t + c2 (8) o estudo das soluções particulares do tipo

é uma solução, quaisquer que sejam as constantes escalares ψ(r, t) = a(r)f [νt − ϕ(f r)] (9)
c1 e c2 e o vetor constante e (em coordenadas cartesianas
retangulares xi , ψ(r, t) seria uma função linear de xi e ν designando uma constante positiva. A função Φ(r, t) =
t). O que importa, porém, é achar soluções que também νt − ϕ(r) recebe a denominação de “fase”. As superfı́cies
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de igual fase Φ0 são representadas por Suponhamos agora que a função f (Φ) seja periódica e
de perı́odo δ: f (Φ + δ) = f (Φ). Neste caso λ = δ/ |gradϕ|
Φ = νt − ϕ(r) = Φ0 (10) recebe a denominação de comprimento de onda. Eis como
se justifica esta denominação no caso em que as superfı́cies
ou da famı́lia ϕ(r) = const. são planos paralelos sobre o raio
ϕ(r) = νt − Φ0 . (11) retilı́neo, tal que a fase Φ varie de δ, e tal portanto que f (Φ)
Em um dado instante t0 a superfı́cie de fase Φ0 coincide retome seu valor (o tempo permanecendo constante):
com a superfı́cie
δ = |∆n ϕ| = |gradϕ · ∆n r| , (18)
ϕ(r) = νt0 − Φ0 (12)
δ
λ = |∆n r| = ; (19)
da famı́lia |gradϕ|
ϕ(r) = const. (13)
neste caso λ é constante. Quando as superficies ϕ(r) =
O tempo crescendo, a superfı́cie de fase Φ0 transporta- const. não são planas, define-se ainda o comprimento de
se de uma para outra superfı́cie da famı́lia ϕ(r) = const. As onda λ pela mesma fórmula; λ é então função de ponto λ(r).
linhas ortogonais às superfı́cies ϕ(r) = const. recebem a No estudo dos fenômenos luminosos impõe-se a
denominação de “raios”. consideração da função periódica
Procuremos a velocidade escalar u de fase que, por
definição, é a velocidade escalar com a qual se deve deslo- f (Φ) = e2πiΦ (20)
car ao longo do raio para acompanhar um valor constante da
fase. donde, para a função de ondas,
Consideremos, no instante t um ponto P (dado por r) da
superfı́cie ψ(r, t) = a(r)e2πi[νt−ϕ(r)] , (21)

neste caso δ = 1 e u = λν ; ν é a freqüência da onda que


ϕ(r) = νt − Φ ; (14)
então se diz monocromática.
seja, no tempo dt, dr o deslocamento elementar de P ao Vejamos como determinar a fase Φ e a amplitude a(r).
longo do raio que passa por P , o valor de Φ permanecendo Observemos preliminarmente que
constante; temos ¯ ¯
¯ dr ¯ ∂2ψ
u = ¯¯ ¯¯ . (15) = −4π 2 ν 2 ψ , (22)
dt ∂t2
Ora, se, para o deslocamento dr, a fase não variou, e a equação das ondas torna-se
dΦ = νdt − gradϕ·dr = 0, (16) 4π 2 ν 2 n2
∆ψ + ψ=0. (23)
c2
ou
ν
u= . (17) Temos
|gradϕ|

2
∆ψ = [∆a − 4π 2 a |gradϕ| − 2πi(a∆ϕ + 2grada · gradϕ)]e2πiΦ , (24)

e, portanto, a equação identicamente tomando-se a amplitude a(r) constante, e


ϕ(r) = (r − r0 ) · e, sendo |e| = nν/c; a equação ϕ(r) =
u2 n2 ∆a λ2 2
1− 2
+ i (∆ϕ + grada · gradϕ) = 0. (25) const. representa então uma famı́lia de planos paralelos.
c a 2π a Este é o caso mais simples da Óptica geométrica.
Igualando a zero separadamente a parte real e a parte ima-
Se o ı́ndice de refração for lentamente variável diremos
ginária, obtemos as duas equações
que as condições da Óptica geométrica são verificadas, se
n2 u2 λ2 ∆a na escala dos comprimentos de onda λ as variações da am-
+ =1; (26)
c2 4π 2 a plitude a(r) e do vetor grad ϕ forem pequenas; neste caso
2 λ2 (∆a/a) é desprezı́vel em face da unidade e obtemos
grada · gradϕ + ∆ϕ = 0 . (27)
a
Na hipótese de um ı́ndice de refração constante (meio c
u= , (28)
homogêneo), as duas equações acima podem ser satisfeitas n(r)
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ou, para determinar ϕ(r), a equação ora µ ¶


∂(gradϕ) ∂ϕ
n2 ν 2 = grad ; (37)
|gradϕ| =
2
. (29) ∂α1 ∂α1
c2
vemos, pois, que dr e grad ϕ são paralelos, e a linha con-
Seja b s um vetor unitário, normal à superfı́cie ϕ(r) = siderada é uma trajetória ortogonal das superfı́cies ϕ(r) =
const., e orientado no sentido dos ϕ crescentes; temos const.. A fórmula
nν nν
gradϕ = b
s, (30) dϕ = gradϕ · r = ds (38)
c c
e a fórmula conduz a Z
ν
1 ϕ= n(r)ds , (39)
grad(log a) · b
s=− div(nb
s) (31) c
2n
a integral, tomada ao longo de um “raio” isto é ao longo de
para determinar a amplitude a(r). uma trajetória ortogonal das superfı́cies ϕ(r) = const., rep-
Estas fórmulas mostram que se a variação do ı́ndice resenta o caminho óptico seguido pela luz. Como
de refração for muito rápida, a amplitude a(r) e o grad ϕ
poderão variar consideravelmente, e a aproximação ofere- c ds
u= = (40)
cida pela Óptica geométrica poder-se-á tornar insuficiente. n dt
Também nos fenômenos de difração, nos quais há variações
tem-se, também, Z
bruscas da amplitude, ter-se-á de rejeitar a simplificação
trazida pela Óptica geométrica, e de recorrer diretamente à ϕ=ν dt ; (41)
equação das ondas.
Observe-se ainda que a transição da Óptica ondulatória ϕ é pois proporcional ao tempo gasto pela luz para percor-
ou Óptica fı́sica para a Óptica geométrica poder-se-ia efet- rer, entre 2 pontos, um determinado “raio”. Pelo princı́pio
uar, considerando-se em cada ponto o comprimento de onda de Fermat do qual decorrem, como sabemos as proposições
λ como infinitamente pequeno e supondo que as outras elementares fundamentais da Óptica geométrica tais como
grandezas na equação se conservassem finitas e contı́nuas; as leis da refração de Descartes, o caminho óptico seguido
resultaria, no limite, a equação já achada pela luz, entre dois pontos, é estacionário, e se deve ter
Z
2 n2 ν 2 δ n(r)ds = 0 . (42)
|gradϕ| = (32)
c2
ou, em coordenadas curvilı́neas xi , Conforme ver-se-á mais adiante, o princı́pio de Fer-
mat conduz efetivamente à equação de derivadas parciais da
X ∂ϕ ∂ϕ n2 ν 2
aij = 2 ; (33) Óptica geométrica e permite a determinação dos “raios” per-
ij
∂xi ∂xj c corridos pela luz.

equação de derivadas parciais de 1a. ordem e do 2o. grau, e


do tipo Hamilton-Jacobi. III O princı́pio de Hamilton na
Seja ϕ(r, α1 , α2 ) uma integral completa desta equação
de derivadas parciais, contendo duas constantes arbitrárias
Mecânica clássica. Equações
α1 e α2 não aditivas. As equações de uma trajetória ortog- canônicas. Equação de Hamilton-
onal das superfı́cies ϕ = const. ou de um “raio” percorrido
pela luz, são
Jacobi. Analogia entre a
∂ϕ ∂ϕ
Mecânica clássica e a Óptica
= β1 = β2 , (34) geométrica
∂α1 ∂α2
β1 e β2 designando duas constantes. O princı́pio de Fermat sugeriu a Hamilton a descoberta do
Com efeito, se dr é um deslocamento elementar ao célebre princı́pio que recebeu seu nome e do qual decorrem,
longo da linha representada pelas 2 equações acima: sob certas condições, as equações do movimento dos sis-
µ ¶ µ ¶ temas da Mecânica clássica.
∂ϕ ∂ϕ
grad · dr = 0, grad · dr = 0. (35) Vamos enunciar o princı́pio de Hamilton para o caso
∂α1 ∂α2 de uma partı́cula de massa m cuja posição é determinada
2 no espaço por um sistema de coordenadas curvilı́neas xi .
Por outro lado derivando |gradϕ| = n2 ν 2 /c2 relativamente
A força viva [energia cinética] T da partı́cula é dada pela
a α1 e a α2 :
fórmula µ ¶2
∂(gradϕ) ∂(gradϕ) 1 2 1 dr
gradϕ · = 0, gradϕ · = 0 ; (36) T = mv = m . (43)
∂α1 ∂α21 2 2 dt
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Temos X e
2
|dr| = ds2 = aij dxi dxj ; (44) H =2T − (T − U ) = T + U . (51)
ij
Derivemos H relativamente a xi e pi :
pondo ẋk = (dxk /dt) vem ∂H ∂L dpi ∂H dxi
=− =− , = ẋi = ; (52)
mX ∂xi ∂xi dt ∂pi dt
T = aij ẋi ẋj . (45)
2 ij
é o sistema das equações canônicas de Hamilton. Calcule-
mos dH/dt; obtemos
Seja U (r, t) ou U (xi , t) a função potencial que repre- dH ∂H
senta a influência das ações exteriores, no caso de um campo = . (53)
dt ∂t
não permanente.
A função Se o campo é permanente, H não depende do tempo, e H
= const = E, ou T + U = E, é o teorema da conservação da
L(xi , ẋi , t) = T (xi , ẋi ) − U (xi , t) (46) energia total. No caso do campo permanente pode-se enun-
ciar o princı́pio de Hamilton sob a forma conhecida pelo
recebe a denominação de função de Lagrange e tem as di- nome de “princı́pio da menor ação”. Temos:
mensões de uma energia. Z t Z t
Rt
A integral V = t0 Ldt é denominada integral de Hamil- V = Ldt = (2T − E)dt = S − E(t − t0 ) , (54)
t0 t0
ton e tem as dimensões do produto de uma energia por um
tempo, isto é as dimensões de uma “ação”. pondo Z t
Sejam P0 e P as posições do móvel nos tempos t0 e t,
S= 2T dt . (55)
respectivamente. O principio de Hamilton afirma que: “en- t0
tre as trajetórias infinitamente vizinhas que levam o móvel Se
de P0 a P no mesmo intervalo de tempo, a trajetória real Z Z
t t
é aquela que torna estacionária a integral V de Hamilton; δ Ldt = 0, vem δ 2T dt = 0 ; (56)
deve-se ter, pois, para a trajetória realmente percorrida pelo t0 t0
móvel Z t S recebe o nome de “ação”. Observemos que
δ Ldt = 0 (47) √
t0 ds2 √
2T = m e 2T dt = 2T mds , (57)
quando se faz variar infinitamente pouco a forma das dt2
Z P p
funções xi (t) e por conseguinte de ẋi (t), os valores inici-
ais e finais dos variáveis xi permanecendo fixos. S= 2m(E − U )ds , (58)
Rt P0
Sabemos, pelo Cálculo das Variações, que se t0 Ldt é a integral sendo tomada ao longo da trajetória da partı́cula.
estacionária, as 3 derivadas variacionais de L relativamente Conhecida a constante E e dada a posição inicial do
aos xi são nulas móvel, a velocidade inicial deste fica determinada em
µ ¶ grandeza mas não em direção. Pode-se enunciar o princı́pio
∂L d ∂L
− =0; (i = 1, 2, 3) (48) da menor ação: “Sejam P0 e P dois pontos fixos. Lançando-
∂xi dt ∂ ẋi
se de P0 móvel em uma direção tal que ele atinja o ponto P ,
são as equações de 2a. ordem, de Lagrange, que permitem a trajetória por ele descrita goza da propriedade de tornar
determinar o movimento da partı́cula em função de 6 con- nula a variação da ação S quando se passa da trajetória real
stantes arbitrárias, p. ex. as coordenadas iniciais (xi )0 do para uma trajetória infinitamente vizinha que possui as mes-
ponto P e os valores iniciais (ẋi )0 da velocidade. mas extremidades.”
O sistema de 3 equações de 2a. ordem de Lagrange pode Com o objetivo de pôr em evidência a analogia entre a
ser substituido por um sistema de equações de 1a. ordem Mecânica clássica
R t e a Óptica geométrica, vamos mostrar: 1)
de Hamilton, introduzindo as novas variáveis pi = ∂L/∂ ẋi a “ação” S = t0 2T dt satisfaz a uma equação de derivadas
que recebem a denominação de momentos conjugados das parciais de 1a. ordem do tipo Hamilton-Jacobi, análoga à
variáveis xi . Consideremos para isso a função de Hamilton equação da Óptica geométrica; 2) as trajetórias do ponto
móvel são ortogonais às superfı́cies S = const., assim como
X
H(xi , pi , t) = pi ẋi − L(xi , ẋi , t) ; (49) os raios luminosos são ortogonais às superfı́cies ϕ = const.
Admitiremos que, nas demonstrações, as funções sejam
supomos, no 2o. membro, os ẋi expressos em função dos univalentes, contı́nuas e deriváveis.
xi , pi , e t por intermédio das fórmulas de transformação. 1) Temos, pondo p = mv
Como T é homogênea relativamente aos ẋi : Z t Z t
dr
S= 2T dt = p · dt (59)
X ∂L X t0 t0 dt
2T = ẋi = pi ẋi (50) dS = (gradS) · dr = p · dr (60)
∂ ẋi
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resulta à fase. A freqüência ν da onda deve ser tomada igual a E/h,


e a velocidade de fase torna-se
gradS = p (61)
hν E E
gradS 2 = mv 2 = 2m(E − U ) . (62) u= = =p . (67)
|gradS| mv 2m(E − U )
S satisfaz, pois, à equação de derivadas parciais de Tem-se para o ı́ndice de refração n(r)
Hamilton-Jacobi p
c c 2m(E − U )
X ∂S ∂S n(r) = = . (68)
aij = 2m(E − U ) (63) u E
ij
∂ xi ∂xj
A equação de Hamilton-Jacobi toma então o aspecto
análoga à equação da Óptica geométrica. ¯ ¯2
¯ ¯ 2 2
2) Como ¯grad S ¯ = 2m(E − U ) = n ν . (69)
¯ h¯ h2 c2
dr
gradS = p = m , (64)
dt Fazemos corresponder a uma partı́cula de massa m em
a tangente à trajetória do ponto P é paralela ao vetor grad S movimento, uma onda monocromática de freqüência a qual
e portanto normal à superficie S = const. que passa por P . é proporcional à energia E da partı́cula. O comprimento de
As equações das trajetórias ortogonais das superficies onda λ proporcional à constante h: λ = u/ν = h/mv ; esta
S = const. e portanto as equações das trajetórias do móvel, é a fórmula que De Broglie obteve recorrendo à teoria da
são dadas pelas equações ∂S/∂α1 = const., ∂S/∂α2 = relatividade.
const., S(r, α1 , α2 ) designando uma integral completa da Ao princı́pio da menor ação no movimento do ponto P
equação de Hamilton-Jacobi, contendo 2 constantes ar- de massa m, corresponde o princı́pio de Fermat. Com efeito
bitrárias não aditivas α1 e α2 . A demonstração desta Z Pp Z
E P
proposição se faz como para o caso dos raios luminosos S= 2m(E − U )ds = n(r)ds. (70)
quando consideramos a equação da Óptica geométrica. P0 c P0
A analogia entre a Mecânica clássica e a Óptica Se a ação S é estacionária para a trajetória real descrita
geométrica ainda mais se evidencia traduzindo as fórmulas R
pelo móvel, vem δ n(r)ds = 0 que é a expressão analı́tica
da Mecânica em linguagem das ondas e comparando os re- do Princı́pio de Fermat: “ao longo de uma trajetória ortog-
sultados com os que anteriormente foram obtidos para a onal das superfı́cies de igual fase o caminho óptico é esta-
Óptica. cionário relativamente aos caminhos ópticos infinitamente
Seja V (r, t) = S(r) − Et a função de Hamilton na qual vizinhos que possuem as mesmas extremidades.”
se tomou t0 como origem dos tempos. Consideremos, num A analogia entre a Mecânica clássica e a Óptica
dado instante, a famı́lia de superfı́cies V = S(r) − Et = geométrica é completa quando se compara a trajetória de
const., grad V ou grad S é um vetor normal à superfı́cie, um ponto móvel com um raio luminoso.
em cujos pontos V é constante e também é, como vimos, Já vimos que as leis da Óptica geométrica constituem
tangente à trajetória da partı́cula de massa m. uma aproximação das leis da Óptica ondulatória ou Óptica
Tomemos uma superficie V = const. correspondente ao fı́sica, quando o comprimento de onda λ é pequeno relati-
valor V0 de V ; crescendo o tempo a superfı́cie V transporta- vamente às dimensões das outras grandezas que intervêm
se de uma para outra superfı́cie da familia S(r) = const. nos fenômenos considerados. Salientamos que para os
Calculemos, nesse movimento, a velocidade escalar u de um fenômenos de interferência e de difração essa condição
ponto P da superfı́cie V0 , contada normalmente à mesma su- não é geralmente satisfeita e a aproximação fornecida pela
perfı́cie. Temos, se V conserva o valor constante V0 : Óptica geométrica se torna insuficiente.
O princı́pio de Hamilton, na Mecânica clássica, aplica-
∂V
dV = 0 = gradV · dr + dt (65) se corretamente ao estudo do movimento dos sistemas
∂t macroscópicos, quando aplicado aos fenômenos atômicos
donde conduz, como é notorio, a resultados pouco satisfatórios.
¯ ¯ Schrödinger salienta a analogia entre as condições que
¯ dr ¯ −(∂V /∂t) E
u = ¯¯ ¯¯ = =p (66) provocam o fracasso do Princı́pio de Fermat no estudo
dt |gradV | 2m(E − U ) de certos fenômenos ópticos, e as que determinam o
fracasso do princı́pio de Hamilton quando aplicado aos
2
pois grad V 2 = |gradS| = 2m(E − U ). fenômenos atômicos, onde é fundamental, conforme vere-
Consideremos agora um meio permanente e isótropo mos, a consideração da relação de Planck E = hν (h =
cujo ı́ndice de refração é n(r). Suponhamos que as 6.55 × 10−17 C. G. S. designando a célebre constante de
condições de aplicação da Óptica geométrica sejam verifi- Planck). Para Schrödinger ambos os fracassos são devidos
cadas e tomemos −V /h = E/h − S(r)/h como a fase de à mesma causa: as dimensões das grandezas que intervêm
uma onda luminosa; h é uma constante com as dimensões de nos fenômenos considerados são pequenas relativamente ao
uma ação, e V /h é portanto um número puro, como convém comprimento de onda λ. Em um fenômeno atômico, isto
332 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 25, no. 3, Setembro, 2003

corresponde a dizer que, nas equações, a constante de Planck antes da criação da FFCL da USP.” No mesmo ano con-
h, a que é proporcional λ não pode ser desprezada em face seguiu uma posição acadêmica na Escola Politécnica de São
das outras grandezas. Paulo assumindo, em 1926, a cátedra de “Vetores, Geome-
Schrödinger procura, então, elaborar para o estudo dos tria Analı́tica, Geometria Projetiva e Aplicação à Nomo-
fenômenos atômicos, uma Mecânica ondulatória que con- grafia”. Em 1923, apresentou na Academia Brasileira de
serve para com a Mecânica clássica a mesma relação que a Ciências (ABC) o primeiro trabalho original sobre a teoria
Óptica ondulatória guarda para com a Óptica geométrica. quântica no Brasil “A Theoria da Relatividade e as Raias
Espectrais do Hydrogenio” [publicado na Revista Polytech-
Continua nica, n. 74, pp. 181-188, set./dez. (1923)], e que apareceu
nos anais da ABC apenas em 1929 [v. 1, n. 1, pp. 20-27].
Publicou vários trabalhos originais em matemática, o que
IV Sobre o autor era incomum na época. Foi membro de várias comissões de
ensino de engenharia, inclusive membro do Conselho Na-
Theodoro Augusto Ramos (1895-1936), paulista da Capital, cional de Educação. Atuou ainda com eficiência no gov-
graduou-se pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em erno paulista na área de saneamento básico. Foi Secretário
engenharia civil e obteve no ano seguinte o grau de doutor de Educação e Saúde Pública e prefeito de São Paulo pelo
em Ciências Fı́sicas e Matemáticas com a tese “Sobre as perı́odo de três meses em 1933. Em 1934, participou da
Funções de Variáveis Reais”. Segundo Oliveira Castro1 , missão à Europa para contratar professores para a recém
a tese “representa certamente a contribuição mais impor- criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da
tante que pode apresentar a pesquisa matemática brasileira, USP da qual foi Diretor. [N.E]

1 F.M. de Oliveira Castro, “Matemática no Brasil” em As Ciências no Brasil, organizado por Fernando de Azevedo, Melhoramentos, São Paulo (1956).

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