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Coordenação Editorial:
Vicky Safra
Manuscrito integrante da Assistentes de Coordenação:
coleção conhecida como os Clairy Dayan
Pergaminhos do Mar Morto Fortuna Djmal
Assessora Internacional:
Muriel Sutt Seligson
Supervisão Religiosa:
Rabino Y. David Weitman
Rabino Efraim Laniado
Rabino Avraham Cohen
Jornalista Responsável:
Desirée Nacson Suslick
MTb 13603
Colaboradores especiais:
Jaime Spitzcovsky
Reuven Faingold
Tev Djmal
Zevi Ghivelder
Revisão e tradução de texto:
Lilia Wachsmann
Consultor:
Marcello Augusto Pinto
Coordenação de Marketing:
Hillel de Picciotto
Produção Gráfica:
Joel Rechtman
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Projeto Gráfico:
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Serviços Gráficos:
C&D Editora e Gráfica - Tel: 3862 8417
Tiragem: 25.700 exemplares
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morasha@uol.com.br
15 34
42 50
56 66
03 carta ao leitor 20 NOSSAS FESTAS
Os mandamentos da
Festa de Purim
06 NOSSAS FESTAS
Oito considerações para 26 história de Israel
os oito dias de Chanucá 70 anos da Partilha
por zevi ghivelder
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NOSSAS leis 34 CAPA
Tu B’Shvat Os Pergaminhos do
e as sete espécies Mar Morto
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06
26
42
educação 66
destaque
Science Day - Ciências de forma O avanço da extrema direita
prática e interativa na Alemanha
Judaísmo na Escola Beit Yaacov por JAIME SPITZCOVSKy
46 MORAShA.COM
50
PERSONALIDADE
69 HISTÓRIA DE ISRAEL
A “Questão Das Terras”
Simone Veil um ícone mundial
na Palestina Britânica
56
comunidades
por reuven faingold
5 dezembro 2017
nossas festas
E
m resposta aos cruéis decretos de Antíoco Para comemorar esses dois milagres – o azeite e a vitória
e seu empenho de extirpar o Judaísmo, dos Macabeus –, celebramos a festa de Chanucá durante
um grupo de judeus intrépidos, os oito dias. O triunfo militar desses valentes judeus foi,
Macabeus, enfrentou as forças sírio- como dizemos em nossas orações, uma vitória dos
gregas, superpotência da época. Após três poucos contra os muitos, dos fracos contra os fortes.
anos de guerra, os Macabeus tiveram uma vitória O profeta Zechariah resumiu o acontecimento de
espetacular contra o exército mais poderoso da forma poética: “‘Não pelo poder nem pela força, mas
Antiguidade. Após vencer Antíoco e seus exércitos, pelo Meu Espírito’, diz o Eterno”. O milagre do azeite
libertaram Jerusalém, reinauguraram o Templo que se seguiu à vitória militar foi um sinal Divino de
Sagrado e reacenderam a Menorá – o candelabro que os judeus tinham vencido a guerra apenas porque
de sete braços –, valendo-se apenas de um jarro de o Eterno, D’us Todo Poderoso, tinha operado milagres
azeite de oliva ritualmente puro encontrado em em seu favor. O suprimento de azeite para um dia
meio aos escombros. Todos os outros jarros de azeite milagrosamente ardeu durante oito não apenas porque
ritualmente puro para o serviço no Templo, que esse era o mínimo tempo necessário para produzir
levavam o selo do Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, azeite ritualmente puro, mas porque, segundo a Torá,
tinham sido propositalmente profanados pelos sírio- o número oito representa o sobrenatural, o milagroso.
gregos. Esse fenômeno sobrenatural assinalava que a Divina
Providência possibilitara o triunfo dos Macabeus, ainda
Esse único jarro continha azeite que daria para que eles não tivessem nem a força nem o poder nem
acender a Menorá durante um único dia – e os armamentos nem os homens para vencer a máquina
eram necessários oito para produzir mais azeite de guerra sírio-grega. Essa vitória militar significou
ritualmente puro. Os Macabeus usaram esse jarro; a sobrevivência do Judaísmo e, por conseguinte, do
mas o azeite, milagrosamente, ardeu durante oito Povo Judeu. A festa de Chanucá, portanto, não é apenas
dias – o prazo necessário para que fosse produzido a celebração de milagres. Comemora, também, a
mais azeite ritualmente puro. eternidade da Torá e do Povo de Israel.
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Este ano, Chanucá se inicia em uma Judeu, mas para todas as pessoas após a Criação (ano de 1273 AEC no
terça-feira à noite, 12 de dezembro de bem no mundo. Suas luzes nos calendário gregoriano), e os milagres
de 2017. Na primeira noite da festa, ensinam que cedo ou tarde, a luz de Chanucá ocorreram nos anos de
acendemos um jarro de azeite ou triunfa sobre a escuridão, a bondade 3621-3622 (ano de 140-139 AEC no
uma vela; na segunda noite, duas; sobre a maldade, a justiça sobre a calendário gregoriano). No entanto,
na terceira, três, e assim por diante. iniquidade e a santidade sobre o D’us, que é Onisciente e acima do
Na oitava e última noite, acendemos profano. tempo e de todas as demais limitações,
todos os oito jarros de azeite ou velas incluiu alusões à Chanucá na Torá.
da Chanuquiá – o candelabro de oito Chanucá e suas luzes transmitem Isso não surpreende, pois a Torá é o
braços reminiscente da Menorá de inúmeras mensagens e lições. projeto de toda a Criação: todo evento
sete braços do Templo Sagrado de Preparamos, pois, oito considerações de maior ou menor porte – já ocorrido
Jerusalém. sobre Chanucá – uma para cada um ou que um dia ocorrerá – tem
dos oito dias da Festa das Luzes. fundamento ou alusão no Pentateuco.
Chanucá é uma das festas judaicas
mais apreciadas. Suas luzes são 1º dia Seguem-se algumas das alusões à
queridas não apenas para o Povo Chanucá na Torá Chanucá encontradas nos Cinco
Judeu, mas para muitas pessoas de Livros da Torá:
outras religiões. Uma Chanuquiá é Chanucá e seus mandamentos não
acesa na Casa Branca e no Kremlin são mencionados explicitamente na • A 25a palavra na Torá é Or, “luz”.
e líderes políticos do mundo todo, Torá, pois os eventos comemorados Começamos a acender as luzes de
inclusive do Brasil, a acendem. na festa ocorreram mais de 1.000 Chanucá na noite do 25o dia do mês
Chanucá é reconhecida de forma anos após D’us ter dado a Torá ao judaico de Kislev.
ampla porque seus temas e lições Povo Judeu. Moshé terminou de
são atemporais e universais. São transcrever o Pentateuco – os Cinco • Durante a jornada de 40 anos dos
relevantes não apenas para o Povo Livros da Torá – no ano de 2488 judeus pelo deserto a caminho da
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nossas festas
Terra Prometida, eles acamparam D’us instruiu Moshé a dizer a seu Esse número não é acidental – como
em diversos lugares. O 25º lugar era irmão Aaron que não se aborrecesse nada na vida o é, especialmente em
chamado Chashmoná. Isso é uma com o fato de sua tribo não trazer assuntos diretamente relacionados à
alusão à família de sacerdotes, os sacrifícios, já que estes durariam Torá. Rabi Levi-Yitzhak Schneerson
Chashmonayim, que lideraram os apenas enquanto existisse o Templo revela um profundo significado
Macabeus na luta contra os sírio- Sagrado – ao passo que as luzes da desse número, associado a um dos
gregos. Menorá continuariam a ser acesas principais temas de Chanucá.
por todo o sempre. A mensagem
• O 23o capítulo de Levítico, terceiro de D’us a Aaron aludia às luzes da Está escrito na passagem Al
livro da Torá, descreve os vários Chanuquiá, que são uma recordação Hanissim, recitada na oração da
feriados judaicos. Logo a seguir, das luzes da Menorá do Templo. E Amidá e no Bircat Hamazon durante
no início do capítulo 24, vemos o de fato, já transcorreram quase 2.000 os oito dias de Chanucá, que os sírio-
mandamento de acender a Menorá. anos desde que foram interrompidos gregos se empenharam em “Fazer
Isso é uma alusão à Chanucá – nossa os serviços de sacrifício, mas as [Israel] esquecer a Sua Torá”.
festividade ligada ao acendimento da luzes da Chanuquiá, remanescentes
Chanuquiá - a Menorá de oito braços. diretas da Menorá, nunca deixaram Em sua tentativa de fazer com
de brilhar. Apesar da ausência do que isso acontecesse, os sírio-
• O capítulo 7 de Números, Templo Sagrado de Jerusalém, elas gregos visaram à Torá Oral, que
quarto livro da Torá, descreve as continuam a iluminar a escuridão explica e elucida a Torá Escrita. Os
oferendas trazidas pelos líderes que há no mundo. invasores perceberam que a própria
das tribos após a inauguração do Torá Escrita, tão amplamente
Mishkan – o Tabernáculo. 2º dia – As 36 velas documentada em milhares de rolos,
O capítulo 8 se inicia com as de Chanucá jamais seria esquecida. Sua estratégia
seguintes palavras: “O Eterno falou foi, então, erradicar todos
a Moshé, dizendo: ‘Fala a Aaron e Este ensinamento provém dos os vestígios da Torá Oral,
diz-lhe: Quando acenderes as luzes, escritos de um gigante espiritual, que era preservada e transmitida
faz de modo que as sete Cabalista, o Rabi Levi-Yitzchak oralmente de uma geração
luzes iluminem a luz central Schneerson, pai do Lubavitcher à outra. Sem a Torá Oral, é
da Menorá’ ”. Vemos, aqui, uma Rebe. impossível entender corretamente
conexão entre a inauguração do a Torá Escrita e cumprir seus
Tabernáculo – que foi o predecessor Durante a festa de Chanucá, mandamentos. Os sírio-gregos
do Templo Sagrado de Jerusalém – e acendemos um total de 36 luzes: perceberam que se conseguissem
o acendimento da Menorá. 1 +2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8. fazer o Povo Judeu esquecer a Torá
Na história de Chanucá, depois Oral, o fim do Judaísmo seguir-se-ia.
que os Macabeus venceram a
guerra, os judeus restauraram Séculos após o milagre de Chanucá,
e reinauguraram o Templo a Torá Oral foi finalmente redigida.
Sagrado, novamente Seu núcleo, conhecido como a
acendendo a Menorá. Mishná, foi editado pelo Rabi
Yehudá HaNassi. Nas gerações
Além disso, o Midrash nos seguintes, mais conteúdo
ensina que após ser inaugurado da Torá Oral foi escrito,
o Tabernáculo, D’us ordenou formando-se os dois principais
que cada líder de tribo trouxesse corpos da Lei Judaica: um em
uma oferenda. Uma tribo foi Israel, o Talmud Yerushalmi
excluída – a de Levi. D’us (Talmud de Jerusalém), e
ordenou a Aaron, o primeiro o outro na Babilônia – o
Sumo Sacerdote e chefe Talmud Bavli (Talmud da
da tribo de Levi, que não Babilônia). Este último,
trouxesse oferenda, mas em geral mais estudado do
que acendesse a Menorá. que o de Jerusalém, contém
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nossas festas
Israel vivenciou a destruição de dois As luzes de Chanucá ensinam ao hoje. O mundo, particularmente
Templos Sagrados e foi expulso Povo Judeu e a toda a humanidade a Civilização Ocidental, deve
da Terra de Israel. Na Diáspora, que o poder do espírito humano de muito à Grécia Antiga. Eles
foi submetido a perseguições e vencer qualquer dificuldade não tem geraram filósofos como Sócrates,
expulsões constantes, aos massacres limites. A festa de Chanucá nos faz Platão e Aristóteles; historiadores
dos Cruzados, às fogueiras da recordar, repetidamente, que temos como Heródoto e Tucídides, e
Inquisição espanhola, aos pogroms que nos recusar a aceitar a derrota. dramaturgos como Sófocles e
e, acima de tudo, ao Holocausto. O jarro de azeite ritualmente Ésquilo. Os antigos gregos foram
Mas, de um modo ou outro, os puro que sobreviveu à destruição mestres na Arte e na Arquitetura,
judeus não desistiram. Não se representa o Povo Judeu. Somos uma entre inúmeros outros campos do
prostraram e choraram. Juntaram Ner Tamid – uma Vela Eterna – cuja conhecimento humano. Foram
o pouco que restara, reconstruíram luz perene não há potência na Terra grandes pensadores, linguistas,
nosso povo e brilharam de forma que possa extinguir. artistas, intelectuais, desportistas,
ainda mais vibrante do que antes. líderes políticos e guerreiros. Ainda
A luz do Judaísmo sempre se 4º dia - Um choque de assim, essa superpotência foi
recusou a ser apagada. Pelo civilizações: Atenas vencida por um grupo pequeno de
contrário, sempre que a escuridão versus Jerusalém combatentes judeus, conhecidos
ameaça extingui-la, consegue brilhar como os Macabeus e, a partir de
com intensidade ainda maior. É comum ouvirmos, atualmente, a então, entrou em declínio. A Grécia
O resultado foi que as maiores expressão “choque de civilizações”. Antiga desapareceu para nunca
catástrofes na História Judaica A história de Chanucá foi um dos ressurgir. Hoje, vive apenas nos
foram seguidas pelos maiores primeiros grandes choques de livros de História: os descendentes
triunfos do Povo Judeu. O estudo e a civilizações, travado entre os gregos dos gregos da Antiguidade não
disseminação da Cabalá floresceram da Antiguidade e os judeus – entre mais vivem em Atenas nem em
após a Inquisição na Espanha. Atenas e Jerusalém. outro lugar qualquer. Por sua vez, o
O retorno dos judeus à Terra de minúsculo Povo Judeu, destituído
Israel e a Jerusalém, bem como a Não se pode negar que os gregos de seu Lar e perseguido, sobreviveu
disseminação do Judaísmo pelos produziram uma das civilizações a 2.000 anos de exílio, perseguições
quatro cantos do mundo, ocorreram mais extraordinárias na história constantes e mesmo genocídio, e
pouco após o Holocausto. humana. Seu legado dura até hoje vive soberano em sua Pátria
ancestral e eterna. Seus filhos
chanuquiá. nuremberg, alemanha, c. 1790. brincam, hoje, nas ruas de Jerusalém
ourives: johann nicholas wollenberg (1759-1789)
e falam a mesma língua que os
Profetas usavam há 3.000 anos.
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nossas festas
do Estado de Israel –, não podemos Após a destruição do segundo de Israel, o Hatikvá (A Esperança),
esquecer que a vitória suprema é Templo Sagrado de Jerusalém, que inspirou o Povo Judeu a voltar
vencida não no campo de batalha, muitos rabinos julgavam que a festa ao seu Lar e à sua capital eterna,
mas em nossos lares e em nossas de Chanucá deveria ser abolida. Jerusalém, onde um dia brilhou
comunidades. O Povo Judeu é Argumentavam que como Chanucá majestoso o Templo Sagrado.
singular porque valoriza a vida, o celebra a reinauguração do segundo Ao acendermos as luzes de Chanucá,
casamento, os filhos e o lar – mais do Templo Sagrado, deixara de existir devemos lembrar-nos que, apesar
que as grandes vitórias militares. uma razão para seguir celebrando-a da queda do Templo Sagrado e de
– já que o Templo havia sido toda a destruição que nosso povo
Os judeus comprovaram ser capazes destruído por Roma. vivenciou, o Povo Judeu manteve
de produzir os melhores guerreiros viva a sua esperança, e essa esperança
do mundo. Os Macabeus foram Conta-nos o Talmud que em uma nos manteve vivos como povo.
soldados determinados e destemidos cidade, Lod, Chanucá chegou Nunca se deve duvidar do poder
que, com a ajuda de D’us, venceram mesmo a ser abolida. No entanto, da esperança. Ela é mais potente
uma superpotência militar. Hoje, o Povo Judeu decidiu que, apesar e duradoura que grandes impérios
o Estado de Israel tem as forças da destruição do segundo Templo, e exércitos. A luz da esperança
armadas mais bem treinadas no continuariam a celebrar a festividade. preservou e sustentou nosso povo
mundo. País algum, nem mesmo os Esse foi o terceiro milagre de mesmo em seus momentos mais
Estados Unidos ou a Rússia, tem Chanucá: a decisão de continuar a difíceis. As luzes de Chanucá
pilotos, forças especiais, tecnologia celebração apesar da ausência do Beit despertam o coração e a alma de
militar e serviços de inteligência HaMikdash, o Templo Sagrado. tantas pessoas porque nos ensinam a
melhores do que os de Israel. E por que tomaram essa decisão? nunca perder a esperança.
O Estado Judeu não tem outra Porque, apesar de ter caído a
opção – tem que ser uma “Morada de nossa Vida”, a esperança 7º dia - Constante
superpotência militar, pois se o judaica continuava de pé. Podíamos crescimento espiritual
Holocausto nos deixou alguma ter perdido o Beit HaMikdash – a
lição, esta foi que nós, judeus, Morada Divina na Terra –, mas os Na primeira noite de Chanucá,
temos que nos defender sozinhos. romanos não nos tinham tirado a acendemos um jarro de azeite ou
Nosso desejo, no entanto, é formar lembrança, a esperança e a luz de uma vela. Na segunda, acendemos
eruditos e cientistas, não soldados. Chanucá e tudo o que simboliza. duas, e na terceira, três. Somente na
Contrariamente aos antigos gregos, Tinha sido destruída uma gloriosa oitava e última noite de Chanucá
preferimos viver para nossos filhos e estrutura física, mas seu espírito acendemos todas as luzes da
netos do que ter uma morte heroica continuou a viver dentro de cada Chanuquiá. Essa progressão nos
no campo de batalha. um dos judeus e dentro de cada ensina que o que importa na vida não
uma de nossas sinagogas – que são é nosso ponto de partida, mas nosso
Há vezes em que a luz da guerra um Mikdash Me’at – um pequeno progresso. O que D’us espera de cada
é necessária, como na história de Templo Sagrado. Continuamos um de nós é que cada dia consigamos
Chanucá e na do Estado de Israel. a celebrar Chanucá 2.000 anos dar um passo à frente: que possamos
Mas, quando há opção, a luz da paz depois do segundo Templo ter sido produzir mais luz hoje do que ontem
é preferível. destruído, porque sabemos que um e que amanhã possamos brilhar mais
dia o terceiro Templo Sagrado será intensamente do que hoje.
6º dia - O terceiro construído. Sempre acreditamos que
milagre de Chanucá os milagres dos dias dos Macabeus Ninguém se torna um sábio ou um
poderiam voltar a acontecer – e gigante espiritual da noite para
A festa de Chanucá celebra dois de que acontecerão, de fato. As o dia. Isso exige muitos anos de
milagres: a vitória militar dos palavras Od Lo Avdá Tikvatenu, estudo, prática e auto-refinamento.
Macabeus e o suprimento de azeite “nossa esperança não está perdida”, O processo é longo e árduo. Tornar-
para um único dia ter durado oito. reverberaram, sem parar, na alma se mestre em Torá e – ainda mais
Mas houve um terceiro milagre. coletiva dos Filhos de Israel nos difícil – tornar-se mestre de si
Poucos o conhecem. Ocorreu séculos últimos 2.000 anos: tornaram-se mesmo, requer um empenho e
mais tarde. parte do Hino Nacional do Estado uma bravura enormes. Mas, se
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nossas festas
acendendo a Chanuquiá
Todas as noites, antes de acender as velas Costuma-se colocar a Chanuquiá sobre
pronunciam-se as seguintes bênçãos: uma mesa no lado esquerdo da porta
de entrada, em frente à mezuzá, ou na
janela que dá para a via pública.
Os seguintes horários são referentes
apenas a São Paulo.
A cada noite, após recitar as bênçãos,
acendem-se as velas da Chanuquiá 1ª noite
com o shamash, que é colocado na 25 de Kislev
Terça,
Chanuquiá de modo a ficar mais 12 de dezembro,
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu alto do que as demais chamas. Após a partir de 20:18 horas
Mêlech haolam, asher kideshánu acender as velas, recita-se em seguida
bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner
Hanerot halálu: 2ª noite
Chanucá.
26 de Kislev
Quarta,
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei 13 de dezembro,
a partir de
do Universo, que nos santificaste com 20:18 horas
Teus mandamentos, e nos ordenaste
acender a vela de Chanucá. 3ª noite
27 de Kislev
Quinta-feira,
14 de dezembro,
a partir de
20:19 horas
4ª noite
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Hanerot halálu ánu madlikim, 28 de Kislev
Mêlech haolam, sheassá nissim al hanissim veal hapurkan, veal Sexta-feira,
laavotênu, bayamim hahêm, 15 de dezembro,
haguevurot veal hateshuot, veal 19:31 horas, antes de
bazeman hazê. haniflaot, sheassita laavotênu, acender as velas de
Shabat
bayamim hahêm, bazeman hazê, al
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei yedê cohanêcha hakedoshim. Vechol 5ª noite
29 de Kislev
do Universo, que fizeste milagres para shemonat yemê Chanucá, hanerot Sábado,
nossos antepassados, naqueles dias, halálu côdesh hem, veen lánu reshut 16 de dezembro,
nesta época. lehishtamesh bahem êla lir’otam 20:30 horas,
após a Havdalá
bilvad, kedê lehodot lishmêcha,
Apenas na primeira noite, al nissêcha, veal nifleotêcha, veal
6ª noite
depois de recitar as duas yeshuotêcha. 30 de Kislev
bênçãos, recita-se o Domingo,
shehecheyánu: 17 de dezembro,
Acendemos estas luzes em virtude a partir de
dos milagres, redenções, bravuras, 20:21 horas
salvações, feitos maravilhosos e
auxílios que realizaste para nossos 7ª noite
antepassados, naqueles dias, nesta 1 de Tevet
Segunda-feira
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu época, por intermédio de Teus 18 de dezembro, a
Mêlech haolam, shehecheyánu sagrados sacerdotes. Durante todos os partir das 20:21 horas
vekiyemánu vehiguiyánu lazeman oito dias de Chanucá, estas luzes são
hazê. sagradas, não nos sendo permitido 8ª noite
fazer qualquer uso delas, apenas mirá- 2 de Tevet
Terça-feira,
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei las, a fim de que possamos agradecer 19 de dezembro,
do Universo, que nos deste vida, nos e louvar Teu grande nome, por Teus a partir de 20:22 horas
mantiveste e nos fizeste chegar até a milagres, Teus feitos maravilhosos e
presente época. Tuas salvações.
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nossas leis
O
15o dia do mês judaico de Shvat, Tu No sétimo ano do ciclo, não havia separação de dízimos,
B’Shvat, é o Ano Novo das Árvores – um pois toda a produção que cresce durante a Shemitá não
dos quatro Anos Novos mencionados no tem dono e pode ser colhida por qualquer um.
Talmud. Os outros três são 1o de Tishrei
(Rosh Hashaná), 1o de Nissan e 1o de Elul. Como a Torá não nos permite separar dízimos
das safras de um ano anterior, era fundamental
Qual o propósito de um Ano Novo para as árvores? determinar o início de uma nova safra. Nossos Sábios
Segundo a Lei da Torá, o ciclo agrícola na Terra de determinaram que os frutos que floriam antes do dia
Israel leva sete anos, e conclui com um ano sabático – a 15 de Shvat eram safra do ano anterior. Se cresciam
Shemitá. Quando o Templo Sagrado de Jerusalém estava a partir desse dia 15, eram produto do novo ano. No
de pé, nos seis primeiros anos de cada ciclo os plantadores entanto, o ano novo para grãos, legumes e verduras é
eram obrigados a separar uma porção de sua produção o dia 1º de Tishrei – Rosh Hashaná. Por que, então,
anual e reservá-la para os seguintes propósitos sagrados: o ano novo das frutas é no dia 15 de Shvat e não em
cerca de 2% da produção eram dados a um Cohen – isso Rosh Hashaná? Porque na região do Mediterrâneo,
é conhecido como Terumá – e 10% a um Levi – o que a estação chuvosa se inicia na festa de Sucot. Leva
se chama de Maaser Rishon (Primeiro Dízimo). Após aproximadamente quatro meses – de Sucot (que se
determinar a Terumá e o Maaser Rishon, nos anos um, inicia no dia 15 de Tishrei) até o dia 15 de Shvat - para
dois, quatro e cinco de cada ciclo, os plantadores tinham que as chuvas do ano novo saturem o solo e as árvores
que separar outros 10% de sua produção e comê-los deem frutos. Todos os frutos que florescem antes
em Jerusalém. Esse dízimo é chamado Maaser Sheni são produto das chuvas do ano anterior e, portanto,
(Segundo Dízimo). No 3o e 60 anos do ciclo, em vez contabilizados para os dízimos juntamente com a safra
de comer o Maaser Sheni em Jerusalém, os fazendeiros do ano anterior.
davam esse Segundo Dízimo aos carentes, que, por sua
vez, podiam consumi-lo onde quisessem. Esse dízimo é As leis dos dízimos são técnicas. Preenchem muitas
conhecido como Maaser Ani (Dízimo do Carente). páginas do Talmud Yerushalmi, mas têm pouca
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nossas leis
relevância para a maioria dos judeus. Shivat HaMinim - as Sete animal (Talmud Bavli, Sotá 14a). O
Na verdade, Tu B’Shvat é uma data Espécies da Terra de trigo simboliza a alma Divina, ao
que não teve significado prático Israel passo que a cevada, a alma animal. O
durante os milênios em que o Povo trigo representa o empenho humano
Judeu esteve exilado da Terra de Ademais de ser um livro de leis e em buscar transcendência – ou seja,
Israel. Contudo, sempre foi uma data ensinamentos, a Torá é um código. elevar-se para alcançar o Divino.
festiva no calendário judaico. Ainda Significa exatamente o que está
que não seja um Yom Tov – um dia escrito, mas há infinitos níveis O Talmud tece um comentário de
sagrado –, é uma data festiva na qual metafóricos e alusivos em suas que o fruto proibido no Jardim do
omitimos as preces de Tachanun entrelinhas. Por exemplo, quando a Éden era o trigo. Ainda que o trigo
(pedidos de perdão e confissão). Torá afirma que a Terra Prometida não seja tecnicamente uma fruta, sua
São muitas as razões para esse dia se distingue por meio de suas natureza era diferente no Éden. Por
ser festivo. Uma delas é o fato de sete espécies, faz alusão à alma do que teria Eva sucumbido à tentação
que durante os 2000 anos em que homem e às sete qualidades que a e consumido o fruto proibido?
nós, judeus, vivemos na Diáspora, movem e enriquecem. Como um dos Porque a serpente lhe havia dito que
Tu B’Shvat nos recordava a conexão propósitos primordiais do estudo da se o fizesse, o ser humano se tornaria
eterna de nosso povo com a Terra Torá, e particularmente da Cabalá, como D’us. O desejo de comer
de Israel. Outra razão para sempre é atingir-se o autoconhecimento, é o fruto proibido surgiu do anseio
termos celebrado Tu B’Shvat é importante nos aprofundarmos no humano de união com o Divino,
que apesar de ser o Ano Novo das que dizem os livros místicos sobre o ainda que isso fosse autodestrutivo.
árvores, atribuímos significado simbolismo das Shivat HaMinim –
especial à data pois, como nos ensina as Sete Espécies da Terra de Israel Contrariamente à alma animal, que
a Torá, “o homem é a árvore do – que temos o costume de comer na busca a autopreservação e o prazer, a
campo” (Deuteronômio 20:19). As celebração de Tu B’Shvat. alma Divina busca a comunhão com
leis referentes a essa data podem D’us. Aquele que apenas alimenta
ser técnicas e irrelevantes para 1. Trigo: Transcendência sua alma animal e priva a Divina
muitos judeus, mas nossos Sábios de seu alimento espiritual, nunca
derivam muitas lições relevantes da Aprendemos na Cabalá que cada encontrará a verdadeira felicidade,
comparação que a Torá faz entre o um de nós tem duas almas distintas: satisfação e paz. A alma Divina
homem e a árvore do campo. uma Divina, que incorpora nossos somente pode ser alimentada com
impulsos transcendentes, e uma espiritualidade. Não há quantidade
Celebramos Tu B’Shvat consumindo animal, que é a origem de nossos de fartura material que a sacie. O
frutas, particularmente as sete instintos naturais e auto orientados. trigo – a primeira das Sete Espécies
espécies destacadas pela Torá como – nos ensina que nossa prioridade na
prova da fertilidade da Terra de Na Torá, o trigo é considerado a vida tem que ser nutrir, adequada e
Israel: trigo, cevada, uvas, figos, base da dieta humana, enquanto a plenamente, nossa alma Divina.
romãs, azeitonas e tâmaras. cevada é mencionada como alimento
2. Cevada: Vitalidade
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nossas leis
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nossas festas
Os mandamentos
da Festa de Purim
Purim, celebrada no 14o dia do mês de Adar, é A DATA mais
alegre do ano judaico. Comemora a milagrosa salvação do
Povo Judeu na antiga Pérsia da trama de Haman para “destruir,
matar e aniquilar todos os judeus, jovens e idosos,
crianças e mulheres, em um único dia”.
S
ão quatro as mitzvot (mandamentos de ouvir a leitura da Meguilá duas vezes durante a festa:
Divinos) básicas associadas com a festa na noite e, novamente, no dia de Purim.
de Purim. Apesar de não ser um Yom Tov,
um dia sagrado – já que não há restrições O mandamento de ouvir a leitura da Meguilá se
como no Shabat ou nas festas bíblicas aplica a homens e mulheres. É preferível que seja feita
(Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot, Pessach e Shavuot) na presença de um minyan. Como uma das razões
–, deve-se, se possível, tirar o dia de folga do trabalho para a leitura é divulgar os milagres celebrados nesse
para celebrar essa festividade alegre e, assim, poder dia, o fato de ser feita na sinagoga permite que o
cumprir seus mandamentos de forma adequada. mandamento seja cumprido da melhor forma.
É importante lembrar que no calendário judaico, Ouvir essa leitura é tão importante que tem
o novo dia começa ao pôr-do-sol. Purim, portanto, precedência sobre o cumprimento de todos os demais
que é uma festa de um só dia, se inicia ao anoitecer mandamentos positivos da Torá. Isso significa que
e termina no dia seguinte, com o cair da noite. mesmo quem estuda a Torá durante o dia todo, deve
Excetuando-se o mandamento de ouvir a leitura da interromper seus estudos para ouvir a Meguilá. A única
Meguilá, que deve ser lida à noite e novamente no dia mitzvá que não é suspensa para a leitura da Meguilá é o
de Purim, os outros três mandamentos da festa são enterro de uma pessoa que foi encontrada morta e não
realizados durante o dia. tem quem a enterre.
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de que mesmo quem não conseguiu a “Solução Final para a Questão Outro tema importante em Purim é
ouvir uma ou outra palavra, poderá Judaica” de Haman se aplicava a sobrevivência física do Povo Judeu.
ler sozinho e, assim, cumprir o a cada um deles. E juntos, eles Se Chanucá celebra o triunfo do
mandamento. Quem não tiver uma enfrentaram essa ameaça à sua Judaísmo, Purim comemora eventos
Meguilá manuscrita, deverá ler de existência. Oraram e jejuaram juntos. bem mais dramáticos e extremos.
uma impressa. E juntos prevaleceram contra seus Haman não estava interessado em
inimigos. Assim, em Purim, todos os converter ou assimilar nosso povo,
2º mandamento: Dar judeus celebram juntos. Se Haman, o como os sírio-gregos. Ele queria
presentes aos carentes Hitler da Antiguidade, nos ensinou realizar o que seu “filho espiritual”
(Matanot LaEvyonim) algo, esse algo foi que, apesar de quase conseguiu, dois milênios
nossas diferenças e discórdias – mais tarde: extirpar todos os judeus
Um dos temas primordiais de nosso grau de observância religiosa, da face da Terra. Assim sendo,
Purim é a união do Povo Judeu. nossas tendências políticas, se enquanto Chanucá celebra uma
O notório antissemita Haman, somos sefaraditas ou asquenazitas, vitória militar em guerra travada por
primeiro-ministro do rei persa se vivemos em Israel ou na razões espirituais, Purim comemora
Achashverosh, tentou matar todos Diáspora –, nós, judeus, somos um a existência física do Povo Judeu.
os judeus, sem exceção – homens, povo indivisível. Nossos inimigos
mulheres e crianças. Não fazia – antigos e atuais – não fazem Como Purim comemora a
distinção entre os judeus; para ele, distinção entre nós. Às vezes, sobrevivência física do Povo Judeu,
todos eram iguais – e cada um deles como nesse caso, até a maldade celebramos essa festa contribuindo
tinha que ser exterminado. Pouco personificada tem algo a nos ensinar para o bem-estar físico dos demais
lhe importava se eram religiosos, – ou seja, que não há distinção judeus, em especial, dos mais
eruditos, bem-sucedidos – ou real entre os judeus, pois todos os necessitados. O mandamento da
não. Como todos eles viviam sob Filhos de Israel constituem um só Tzedacá, a mitzvá mais importante
o domínio do Rei Achashverosh, organismo. da Torá, se aplica a todos os dias do
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nossas festas
ano nos quais a Torá nos permite Os Matanot LaEvyonim não devem alimentos devem ser prontos para
usar dinheiro. O judaísmo nos ser dados antes de Purim, para que o consumo, como biscoitos, frutas,
ordena ser generosos e empenhar- quem os recebe não os utilizem doces, vinho ou outras bebidas.
nos em ajudar os demais ao nosso antes da festa – pois nesse caso, É importante observar que esse
máximo – a judeus e não judeus. o doador não teria cumprido o mandamento não pode ser cumprido
Mas em Purim, o mandamento da mandamento. com dinheiro ou outro tipo de
Tzedacá é especialmente enfatizado; presentes. É louvável enviar os
temos que ser generosos com todos Quem não deparar com pessoas Mishloach Manot ao máximo de
os que buscam ajuda. carentes em Purim, deve doar amigos possível. E mais, é adequado
o dinheiro a uma sinagoga que que sejam substanciais ao ponto de
Um dos quatro mandamentos dessa esteja arrecadando fundos com denotar respeito. Portanto, devemos
festa é dar Matanot LaEvyonim, esse propósito. É necessário que atentar para não enviar um presente
literalmente, “presentes aos carentes”. o dinheiro dado em Purim seja de alimentos qualquer para que não
Devemos dar Tzedacá a duas pessoas destinado aos necessitados: não seja insulto a quem o recebe.
necessitadas, no mínimo. Isso pode pode ser usado para nenhum outro
ser cumprido por meio de qualquer propósito, por mais nobre ou sagrada É importante ressaltar que ao
tipo de presente: dinheiro, alimento, que seja a finalidade. cumprirmos os mandamentos de
bebida ou roupa. O ideal é que seja Purim, devemos ser mais generosos
um presente substancial. Em Purim, doamos dinheiro a quem nos presentes para os carentes do
Os Matanot LaEvyonim devem ser o pede: não fazemos perguntas nem que nos presentes de alimentos
dados durante o dia de Purim e, de procuramos saber se quem pede a para os amigos. Devemos priorizar
preferência, na parte da manhã, para Tzedacá realmente a necessita ou não. os Matanot LaEvyonim ao alocar
que quem os recebe possa usufruí-los a verba que iremos gastar no
durante a festa. A quantia dada deve O mandamento de Matanot cumprimento dessas mitzvot.
ser suficiente para que comprem LaEvyonim é dever de todos os É muito mais importante ser
alimento e bebida, dessa forma judeus – homens, mulheres e até generoso com os necessitados do que
possibilitando que tenham uma crianças. enviar Mishloach Manot elegantes e
refeição festiva nesse dia. Contudo, caros aos amigos.
quem recebe o presente não é 3º mandamento:
obrigado a gastar o dinheiro em Enviar presentes de O mandamento de Mishloach Manot
Purim: pode usá-lo em outra data e alimentos para amigos deve ser cumprido durante o dia
da forma que quiser. (Mishloach Manot) de Purim, não na noite da festa. Os
homens enviam Mishloach Manot
Como explicamos acima, Purim a homens; as mulheres, a mulheres.
celebra a unidade judaica e a É preferível que os presentes de
sobrevivência física do Povo alimentos sejam entregues por um
Judeu. Por isso, os mandamentos terceiro – e não diretamente. Apesar
relativos à festa enfatizam e buscam de haver uma regra geral na Torá de
promover a amizade e o senso de que é preferível cumprir a mitzvá
comunidade. Uma das formas de em pessoa a delegá-la a um terceiro,
o fazer é cumprir o mandamento esse mandamento é diferente,
de Mishloach Manot: o envio de pois a expressão Mishloach Manot
presentes de alimentos a amigos e usada na Meguilat Esther implica
conhecidos. que essa mitzvá em particular é
mais adequadamente cumprida
Essa mitzvá é cumprida mediante se realizada por meio de um
o envio de um presente contendo, intermediário. (Mishloach significa
no mínimo, dois tipos diferentes de envio). No entanto, se a pessoa
alimentos prontos ou bebidas a, pelo entregar seus presentes de alimentos
menos, um amigo ou conhecido. pessoalmente, terá cumprido
Para cumprir essa obrigação, os plenamente o mandamento.
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4º mandamento:
Refeição festiva no dia
de Purim (Seudat Purim)
É importante observar que como Deve-se comer carne e tomar vinho Torá antes de se iniciar a Seudat
Purim não é um Yom Tov, não se na Seudat Purim. Também é costume Purim. O Zohar, obra fundamental
recita o Kidush nessa festividade. comer legumes, comemorando o da Cabalá, revela que ao se realizar
Contudo, antes de iniciar a Seudat fato de que a Rainha Esther comia um banquete em Purim, pode-
Purim, deve-se lavar as mãos com a legumes e verduras enquanto vivia se conseguir a mesma elevação
bênção de Netilat Yadayim e comer no palácio real, pois se recusava a espiritual que se consegue ao jejuar
pão. Após a refeição, recita-se o comer a comida não casher servida em Yom Kipur.
Birkat Hamazon (Oração após as no palácio.
Refeições), incluindo-se a passagem Nossos Sábios ordenaram-nos servir
de Ve’Al Hanissim – que menciona o Deve-se notar que a refeição festiva vinho nesse banquete pelo fato de o
milagre de Purim. de Purim é outro mandamento que milagre de Purim ser intimamente
enfatiza o plano físico: essa mitzvá ligado ao vinho. A queda da Rainha
A Seudat Purim deve começar antes é cumprida com alimento e bebida. Vashti, mulher de Achashverosh,
do pôr-do-sol. Merece louvores O mandamento de Seudat Purim ocorreu em um banquete de vinhos –
quem convida amigos para seu enfatiza, novamente, o tema geral e foi a oportunidade para que Esther
banquete. Se Purim cai numa 6a da festa – a sobrevivência física e o tomasse seu lugar ao lado do Rei e
feira, a refeição festiva é realizada bem-estar material do Povo Judeu. salvasse nosso povo do genocídio.
mais cedo e tem que estar concluída Além disso, também a derrota de
bem antes do Shabat para que se É importante enfatizar, contudo, que Haman se deu em meio a uma festa
possa desfrutar da refeição do dia apesar de que a refeição de Purim de vinho organizada pela Rainha
sagrado com prazer; contudo, há deve ser alegre, o mandamento não Esther.
quem tenha o costume de fazer deve ser cumprido frivolamente. Não
a refeição de Purim bem mais se trata de uma refeição desregrada e, Nossos Sábios também ordenaram
tarde na 6a feira, estendendo-a até muito menos, uma bacanal romana. que, em Purim, devemos beber vinho
a chegada do Shabat: coloca-se, Ainda que seja um mandamento até nos embriagarmos. Ensinaram
então, a toalha própria na mesa, cumprido por meio de comida e que é louvável beber até não se poder
recita-se o Kidush de Shabat e bebida, essa refeição festiva tem um diferenciar entre “que Haman seja
segue-se com a refeição – que passa, enorme significado espiritual, pois amaldiçoado” e “que Mordechai seja
então, a ser duplamente festiva, eleva a alma enquanto satisfaz o abençoado”. No entanto, se a saúde
tanto em honra de Shabat quanto corpo. Na verdade, é recomendado da pessoa for prejudicada com esse
de Purim. que se realize algum estudo de excesso, ou se ela temer que bebendo
23 DEZEMBRO 2017
nossas festas
demais seja levada a agir de forma ocorrida em Purim e agradece a D’us prêmios para as crianças. Além de
irresponsável ou desagradável, ou a pelos “milagres de redenção, atos acrescentar alegria ao dia e despertar
negligenciar as bênçãos e orações, poderosos, de salvação e de milagres” a curiosidade das crianças, o costume
ela não deve beber demais. Há quem que Ele realizou em prol de nossos de se fantasiar reflete um dos
não deva beber de forma alguma. antepassados, salvando-os do plano principais temas de Purim: o fato de
Estes devem tirar um cochilo de Haman de exterminá-los. que D’us está sempre presente no
durante o dia, pois aquele que está mundo e em nossa vida pessoal, mas
adormecido não sabe diferenciar Durante as orações matinais do que Ele geralmente “Se disfarça”. Na
entre “que Haman seja amaldiçoado” dia de Purim, lê-se uma porção maioria das vezes, D’us age em total
e “que Mordechai seja abençoado”. especial da Torá (Êxodo 17:8-16), segredo. Como ensina o Talmud – e
que descreve a batalha de Yehoshua como rezamos na oração da Amidá,
Ainda que seja louvável realizar contra Amalek – o povo ancestral de três vezes ao dia –, D’us está sempre
uma Seudat Purim elaborada e Haman e inimigo mortal do Povo operando milagres – à noite, de
farta, é preferível ser generoso Judeu –, ocorrida quase mil anos manhã e à tarde. Se a maioria de nós
com os necessitados do que gastar antes dos eventos de Purim. não os percebe, é porque eles vêm
demais em um rico banquete de disfarçados em “eventos naturais”.
Purim. Como explicamos acima, O uso de fantasias
o mandamento de Matanot Costumes antes
LaEvyonim – presentes aos Em Purim, é costume que as crianças e depois de Purim:
carentes – supera a mitzvá de – e até mesmo alguns adultos –
Mishloach Manot. Supera, também, usem fantasias. A tradição é alusiva Leitura de Zachor,
o mandamento de Seudat Purim. aos milagres Divinos ocultos que na Torá
Evidentemente, é necessário cumprir salvaram nosso povo do nefasto
todos os quatro mandamentos objetivo de Haman. A Meguilat Na manhã do Shabat que antecede
de Purim. Contudo, a maioria Esther é o único livro do Tanach que Purim, após a leitura da porção da
dos gastos com a festa deve ser não faz menção a D’us – nem uma Torá da semana, lê-se uma passagem
direcionada aos presentes para os vez sequer. A razão para essa omissão especial chamada Zachor (“Lembra-
necessitados, como vimos. A razão é que na história de Purim, D’us te”). Ouvir a leitura dessa passagem
para isso é que, como dissemos “usou um disfarce”: Ele Se ocultou é um mandamento bíblico. Nela,
acima, não há mandamento mais e agiu sigilosamente. Ao orquestrar D’us ordena a todo o Povo Judeu
importante no Judaísmo do que a uma série de eventos naturais – uma se lembrar dos feitos da nação de
Tzedacá. E também, como ensinam série incrível de coincidências –, Ele Amalek – os ancestrais de Haman,
nossos Sábios, não há alegria maior salvou o Povo Judeu. cujo objetivo é aniquilar os Filhos de
ou ato mais digno do que alegrar o Israel.
coração do necessitado, do órfão e Em Purim, muitas sinagogas
da viúva. Escreveu Maimônides, que organizam uma festa à fantasia, com A porção de Zachor nos recorda
quem alegra o coração deles pode que Amalek e seus descendentes –
ser comparado à Shechiná, a Presença Haman e Hitler, entre muitos outros
Divina, como diz o versículo: “(D’us) vilões – são os inimigos jurados
reanima o espírito dos oprimidos e do Povo Judeu, da Humanidade
restaura o coração dos humilhados” e até de D’us. Amalek personifica
(Rambam, Hilchot Meguilá 2). todas as formas de escuridão e
mal que há no mundo. Esse povo
Orações especiais assume diversas formas – físicas e
para a festa de Purim espirituais – e há um mandamento
na Torá para erradicá-lo da face da
A passagem Ve’Al Hanissim é Terra. Todos os anos, no Shabat que
recitada nas orações da Amidá precede a festa de Purim, ouvimos a
e no Birkat HaMazon (Oração porção de Zachor porque nosso povo
após as Refeições). O trecho de precisa lembrar que homens como
Ve’Al Hanissim descreve a salvação Haman e Hitler jamais poderão
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ser desculpados como lunáticos frustrar os planos de Haman. às moedas de prata que Haman
que guardavam no coração um Para celebrar esse jejum de três dias, deu ao Rei Achashverosh em troca
ódio irracional contra os Filhos que foi instrumental para a salvação da permissão de aniquilar todos os
de Israel. Esses filhos de Amalek de nosso povo, jejuamos no dia que judeus. Além disso, o Talmud ensina
sabiam exatamente o que faziam antecede Purim. Taanit Esther (o que a Tzedacá nos salva de todo o
quando tentaram exterminar o Povo Jejum de Esther) se inicia cerca de mal, mesmo da morte. Assim como
Judeu. Seu propósito era extirpar o uma hora antes do nascer do sol e os meio-shekels pouparam os judeus
Povo Eleito por D’us para poderem dura até a noite. É costume quebrar da destruição na história de Purim,
estabelecer o reino da escuridão no o jejum após ouvir a leitura noturna nós também fazemos Tzedacá na
mundo. O maior inimigo de Amalek da Meguilá. tarde do Jejum de Esther como fonte
é o Povo de Israel – o Povo da Luz de proteção e bênção.
(Isaías 60:3). A porção de Zachor As “meias moedas”
recorda a nosso povo que uma de (Machatzit HaShekel) Shushan Purim
nossas missões é combater e vencer
Amalek – total e definitivamente. Na tarde do Jejum de Esther, ou Em Jerusalém, Purim é celebrado no
Somente quando isso acontecer, a antes da leitura da Meguilá na dia 15 de Adar – e não 14 de Adar.
paz reinará no mundo. noite de Purim, há uma tradição de O dia 15 é chamado de Shushan
doar certa quantia à sinagoga para Purim. Fora de Jerusalém, inclusive
Jejum de Esther celebrar o meio-shekel que todos os na Diáspora, a data de 15 de Adar
judeus contribuíam como sua parte não é Purim – não se podendo
Quando a heroína da festa, a Rainha nas oferendas comunitárias na época cumprir as mitzvot da festa nesse
Esther, foi informada sobre o decreto do Templo Sagrado de Jerusalém. dia. Contudo, Shushan Purim é um
genocida de Haman, ela pediu ao seu Qual a conexão entre o donativo de dia de alegria e celebração para todos
tio Mordechai, líder do Povo Judeu, meio-shekel ao Templo Sagrado e os judeus, tanto em Israel como na
que ordenasse aos judeus jejuarem Purim? Diáspora.
por três dias. Ela própria jejuaria,
bem como Mordechai. O propósito Ensina o Talmud que “D’us manda a
do jejum era ganhar o favor do Todo cura antes da enfermidade”. O meio-
Bibliografia
Poderoso, Rei dos Reis, para que ela, shekel que cada judeu contribuía http://www.chabad.org/holidays/Purim/
Esther, conseguisse influenciar seu como seu quinhão para as oferendas article_cdo/aid/1362/jewish/Purim-
esposo, rei terreno poderoso, para comunitárias serviu como antídoto -How-To-Guide.htm
25 DEZEMBRO 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
70 ANOS DA PARTILHA
POR Zevi Ghivelder
O
sucesso corresponde à efetiva criação de linhas telefônicas e bloqueando estradas, além de
Israel, no ano seguinte, e que em sete incendiarem propriedades e plantações do ishuv
décadas alcançou êxitos surpreendentes (judeus residentes na Palestina) e atacarem os ingleses
em todos os campos da atividade com operações de guerrilhas.
humana na moldura de um estado
democrático de direito. O fracasso diz respeito à A chefia da comissão foi confiada ao lorde William
recusa dos árabes em aceitar os termos da partilha, Peel, 69 anos, destacado político e empresário inglês.
tendo deixado de estabelecer sua própria nação no A chamada Comissão Peel chegou à Palestina em
território que lhes competiria, preferindo submeter-se novembro, tendo os árabes desde logo anunciado
à soberania do rei Abdullah, da então Transjordânia, que boicotariam todas as suas ações. Os líderes do
atual Jordânia. ishuv perceberam que seu futuro estava ameaçado
e preparam para apresentar à Comissão Peel um
Entretanto, é importante assinalar que sobre o memorando com 228 páginas e cinco apêndices, no
atual 70o aniversário avulta outro, de 80 anos, qual esmiuçaram a história da Palestina e seu vínculo
igualmente relevante, que foi a semente do conceito ancestral com o povo judeu, as implicações legais e
da implantação de dois estados na antiga Palestina. territoriais que levaram à atribuição do mandato ao
Trata-se da Comissão Peel, constituída em maio de Império Britânico e os progressos materiais e agrícolas
1936 pelos mandatários britânicos, com a finalidade alcançados pelos colonos judeus nos últimos vinte
de resolver os dramáticos problemas então existentes anos, ou seja, desde a Declaração Balfour. (Trata-se de
naquela região. Sete anos antes, uma rebelião árabe um documento emitido por Lord Balfour, membro do
havia massacrado judeus em Jerusalém, Hebron, gabinete inglês, em novembro de 1917, afirmando que
Safed e outras cidades, resultando em mais de uma o governo de Sua Majestade era favorável à criação de
centena de mortos e mais de 300 feridos. No mesmo um lar nacional judaico na Palestina). A argumentação
ano de 1936, os árabes promoveram uma greve geral do ishuv enfatizava que há três anos os nazistas
no território sob mandato, sabotando ferrovias, estavam no poder na Alemanha e, portanto, eram
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graves as ameaças que pairavam o recinto em Londres lotado e mais novos depoimentos, os membros
sobre os judeus. milhares de pessoas fazendo vigília da Comissão Peel começaram a
em torno do prédio. Weizmann concluir que a solução mais plausível
Entre novembro de 1936 e fevereiro também falou em Londres, a portas seria a partilha da Palestina em dois
de 1937, Chaim Weizmann, David fechadas, advertindo aos ingleses que estados. Chamaram Weizmann
Ben Gurion e Zeev Jabotinsky, eles se arrependeriam das concessões informalmente para ouvir sua
líderes proeminentes do movimento que estavam sendo estendidas ao opinião e este disse: “Não estou
sionista, prestaram depoimentos Mufti de Jerusalém, um declarado autorizado a falar em caráter oficial.
perante a Comissão Peel. Uma aliado do regime nazista. Mas acho que é uma boa ideia e que
leitura atual de suas palavras deve ser levada adiante”. Em março,
demonstra que o sionismo jamais foi Por causa das repercussões o parlamentar Winston Churchill
apresentado e defendido com tanto internacionais alcançadas por esses compareceu perante a Comissão e
fervor e precisão desde a atuação depoimentos, os árabes decidiram se opôs à partilha, argumentando
de Theodor Herzl no Primeiro suspender o boicote à Comissão que tal divisão daria origem a uma
Congresso Mundial Sionista, Peel e o próprio Mufti testemunhou: guerra na qual os judeus da Palestina
quarenta anos antes. De todos, Ben “Tanto o mandato quanto a seriam exterminados em face da
Gurion foi o mais assertivo: “Nossos Declaração Balfour são inválidos abissal diferença numérica existente
direitos na Palestina não decorrem porque resultaram de pressões entre os dois lados. Em junho, Sir
do mandato, nem da Declaração exercidas pelos judeus que querem Archibald Sinclair, líder do Partido
Balfour. Nossos direitos estão no reconstruir o Templo de Salomão Conservador da Inglaterra, ofereceu
mandato da Bíblia que nós mesmos em nossas sagradas propriedades. um jantar a Chaim Weizmann
escrevemos em nosso idioma, A Palestina está plenamente ao qual compareceram Churchill,
aqui nesta terra”. O depoimento ocupada e não tem como acolher o líder sionista britânico James
de Jabotinsky foi em fevereiro de dois povos”. Nos meses seguintes, de Rothschild e outros ilustres
1937, na Câmara dos Lordes, com à medida em que eram colhidos políticos. Quando Weizmann se
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HISTÓRIA DE ISRAEL
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traziam imigrantes ilegais para a tinha à frente Moshe Sharett (futuro que se deparou com um ambiente
Terra Santa, e muitas vezes não chanceler e primeiro-ministro imerso em rancor, a ponto de Bevin
eram bem sucedidos. Em terra, de Israel) e seu braço direito, o ter-se recusado a receber Weizmann,
enfrentavam as ações da Irgun, economista David Horowitz. Ambos o que era uma absurda quebra no
organização também clandestina decidiram que a Agência Judaica comportamento tradicional da
comandada por Menachem Begin, deveria ter dois observadores junto chancelaria britânica. Além disso,
que atacava e sabotava sem cessar à Unscop. Levaram este pleito à membros da Câmara dos Comuns se
grande número de alvos militares ONU, que o aceitou. Horowitz mostraram céticos quanto à missão
britânicos, incluindo, com grande seria um deles. Àquela altura, da Unscop, tendo um deles afirmado
audácia, seu quartel-general no hotel encontrava-se em missão em que o problema da Palestina só seria
King David, em Jerusalém. Amsterdã um jovem de 32 anos de resolvido com guerra e não com um
idade, militante da Agência Judaica relatório. A propósito, num trecho
No dia 27 de janeiro de 1947, teve em Londres, nascido na África do muito significativo da autobiografia,
início uma série de reuniões em Sul, chamado Audrey Sacks, que se Eban escreve: “Um dos momentos
Londres, com uma delegação árabe tornaria uma celebridade mundial mais sensíveis da minha vida pública
e outra judaica, separadamente. e seria consagrado chanceler de aconteceu quando eu, Horowitz
Após dez dias de conversações, os Israel com o nome de Abba Eban. e John Kimche (historiador e
ingleses apresentaram às partes a Chamado por Sharett para ir a jornalista judeu de nacionalidade
possibilidade de uma prorrogação Nova York e integrar-se como o suíça), fomos ao encontro do
de quatro anos do mandato na segundo observador na Unscop, diplomata egípcio Azzam Pasha,
Palestina, seguido de independência ele conta em sua autobiografia que secretário-geral da Liga Árabe, no
para ambas as partes, caso chegassem voltou a Londres e correu para a hotel Savoy, em Londres. Horowitz
a um posterior entendimento e livraria Foyle’s onde comprou tudo foi o primeiro a falar. Disse que a
permissão para uma entrada limitada que havia sido publicado até então presença dos judeus no Oriente
de judeus. Não houve acordo e em sobre as Nações Unidas e sobretudo Médio era um fato consumado
abril de 1947, o chanceler Ernest sobre os seus procedimentos e que, mais cedo ou mais tarde,
Bevin, ferrenho adversário do internos: “Foi a minha entrada na os árabes teriam que aceitar essa
sionismo, que já havia remetido arena internacional”. Pouco adiante realidade. Em seguida, apresentou
para o âmbito das Nações Unidas acrescentou: “Como pressenti que o um plano de acordo político, de
o problema da Palestina, decidiu trabalho a partir dos Estados Unidos garantias mútuas de segurança e
jogar mais uma cartada. Propôs a seria longo, levei comigo, por minha de cooperação econômica. Azzam
criação de uma Comissão Especial conta, minha mulher Suzy”. Em Pasha respondeu que o mundo árabe
das Nações Unidas Para a Palestina, Londres, antes de partir, Eban narra não estava propenso a nenhum
a United Nations Special Committee
on Palestine, ou seja, a sigla Unscop
em inglês, que, a partir de junho,
percorreria a região e apresentaria
novas recomendações para a solução
da questão entre árabes e judeus.
Bevin julgava que poderia manipular
o comitê em favor dos árabes e de
seus próprios interesses.
29 dezembro 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
entendimento, acrescentando que John D.L. Wood representava a britânico, onde por controle remoto
o plano de Horowitz era lógico e Austrália e assim Eban se refere na de Bevin, o Comitê foi tratado
racional, mas que os destinos das autobiografia aos três indicados da com uma descortesia que beirou à
nações não eram determinados por América Latina: “Salazar, do Peru, hostilidade.
lógicas racionais. E enfatizou que era um estereótipo de embaixador
nações não concedem, lutam. Disse de cinema, cabelos brancos, Dos dias 18 de junho a 3 de julho a
que talvez os judeus poderíamos taciturno, austero e dono de um ar Unscop percorreu Jerusalém, Haifa,
conseguir algo, mas que isso só de mistério decerto adquirido no o Mar Morto, Hebron, Beersheva,
daria através da força das armas, Vaticano, aonde servira. O dinâmico Gaza, Jaffa, a Galiléia, Acre, Nablus,
razão pela qual os árabes tentariam e loquaz Rodriguez Fabregat era Tel Aviv, Tulkarm e Rehovot, além
nos derrotar e porque qualquer do Uruguai e García Granados, da de visitar dezenas de kibutzim
acordo só seria aceitável segundo Guatemala, tinha experiência com (colônias agrícolas coletivas). As
os termos da Liga Árabe”. Em os britânicos no que se referia ao audiências públicas da Unscop,
seguida, conforme Eban escreve, conflito de seu país a respeito do constantes de depoimentos de
Pasha foi dura e francamente território de Belize”. O nomeado judeus e árabes, aconteceram de 4 a
explícito: “O mundo árabe vê da Checoslováquia foi Karl Lisicky, 17 de julho, tendo a Agência Judaica
os judeus como invasores e está incerto quanto ao futuro de seu país, apresentado um inacreditável total
pronto para lutar contra vocês”. prestes a ser dominado pela União de 32 toneladas de documentos. As
Depois de duas horas de conversa, Soviética. Da Iugoslávia incorporou- oitivas foram tão extensas que até
Kimche, Horowitz e Eban se Vladimir Simic, diplomata mesmo o Partido Comunista da
chegaram à rua atônitos. Eles não veterano. O mundo islâmico se fez Palestina teve espaço para manifestar
haviam percebido nenhum sinal representar pelo indiano Sir Abdul sua posição contra o sionismo.
de ódio nas palavras de Azzam Rahman, que, segundo a descrição
Pasha que, inclusive, se referira de Eban, “era 120% britânico no No dia 19 de julho, parte dos
aos judeus como primos. O que sotaque e nos maneirismos” e o membros da Unscop se deslocou até
lhes aterrorizou foi a impassível persa Nazrollah Entezam, diplomata o porto de Haifa, aonde estava em
postura árabe no sentido de ignorar de primeira categoria. A Unscop curso o drama do navio Exodus, cujos
a lógica, até mesmo a lógica do foi oficialmente confirmada pelas 4.554 passageiros, sobreviventes do
rancor, dando lugar a um cego Nações Unidas no dia 15 de maio Holocausto, fizeram uma greve de
fatalismo. de 1947 e desembarcou na Palestina fome que emocionou o mundo, mas
um mês depois. Abba Eban descreve mesmo assim foram impedidos pelos
Chegando em Nova York, Eban uma escala em Malta, protetorado ingleses de pisar o solo da Terra
juntou-se a Horowitz e os dois Santa e deportados à força de volta
se dedicaram a analisar os onze para a Europa. Os componentes
nomes internacionais indicados do Comitê ficaram horrorizados
para a constituição da Unscop. com o macabro espetáculo que
Chegaram à conclusão de que, com presenciaram e ficaram ainda mais
poucas exceções, não eram homens sensibilizados quando ouviram o
públicos ou diplomatas de primeira testemunho do reverendo cristão
grandeza. O presidente do Comitê John Stanley, que estivera a bordo
era o sueco Emil Sandstrom, juiz do Exodus e implorou à Unscop que
da Suprema Corte de Estocolmo decidisse em favor dos judeus. Anos
em fim de carreira, mas uma mais tarde, Golda Meir declarou que
pessoa conhecida por suas posições a intervenção de Stanley tinha sido
humanitárias. Nicholas Blum, da crucial para a criação do Estado de
Holanda, tinha sido governador Israel.
das Índias Orientais, atual
Indonésia. Uma figura central era o Depois da Palestina, a Unscop foi
juiz da Suprema Corte canadense para o Líbano, onde foi recebida
Ivan Rand, magistrado probo pelo primeiro-ministro Riad al-
e independente. O diplomata “Exodus” chega a haifa, julho 1947 Sohld e pelo chanceler Hamid
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31 dezembro 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
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Os votos
Votação referente à Partilha da Palestina na Assembleia Geral
das Nações Unidas, no dia 29 de novembro de 1947
A favor: 33 Contra: 13
África do Sul, Austrália, Bélgica, Afeganistão, Arábia Saudita, Cuba,
Bolívia, Brasil, Bielorússia, Egito, Grécia, Iêmen, Índia, Irã,
Canadá, Checoslováquia, Costa Iraque, Líbano, Paquistão, Síria e
Rica, Dinamarca, Equador, Turquia.
Estados Unidos, Filipinas,
França, Guatemala, Haiti,
Holanda, Islândia, Libéria, Abstenções: 10
Luxemburgo, Nicarágua, Argentina, Chile, China, Colômbia,
Noruega, Nova Zelândia, El Salvador, Etiópia, Honduras,
Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Iugoslávia, México e Reino Unido.
República Dominicana, Suécia,
Ucrânia, União Soviética, Ausência: 1
Uruguai e Venezuela. Tailândia
33 dezembro 2017
CAPA
os pergaminhos
do mar morto
uma coleção de manuscritos antigos foram descobertos
entre 1947-1956, em cavernas do Deserto da Judeia, e constituem
a maior descoberta arqueológica do século 20. poucos
achados arqueológicos – quiçá nenhum – são tão conhecidos
ou despertaram tanto interesse ou controvérsia. Esses
manuscritos revolucionaram o entendimento que se tinha
sobre o último período do Segundo Templo, quando emergiram
o Judaísmo rabínico e o Cristianismo.
e
m 1947 o Oriente Médio estava 900 diferentes textos. Eles contêm passagens de todos
tumultuado, o que fazia da época o pior os livros do Tanach, exceto o Livro de Esther, além de
momento para se lidar com manuscritos textos apócrifos, orações e textos sobre a Leis Judaica.
antigos. Mas, para o Povo Judeu, que lutava Foram escritos predominantemente em hebraico,
política e militarmente pela recriação de sendo apenas 15% deles em aramaico e alguns em
seu Estado, em sua terra, a Terra de Israel, a descoberta grego.
dos primeiros pergaminhos e sua aquisição no exato
dia em que as Nações Unidas votaram pela Partilha No início da década de 1950 era costume falar na
da Palestina, tinha significado simbólico. Era como se “batalha dos pergaminhos” em virtude dos inúmeros
eles estivessem escondidos na escuridão das cavernas e candentes debates públicos acerca da identidade
durante 2.000 anos, apenas esperando pelo retorno do de seus autores e sua relevância para o Judaísmo e
Povo de Israel a seu Lar ancestral. Cristianismo. Muitas das hipóteses e teorias da época
estão hoje sendo questionadas ou descartadas.
A descoberta original se resumia a alguns pergaminhos
encontrados em uma caverna próximo a Qumran. Mas, Durante décadas, a maioria dos achados arqueológicos
os arqueólogos e beduínos continuaram procurando, ficaram nas mãos da Jordânia e de uma equipe de
durante anos, ao longo da margem oriental do Mar estudiosos cristãos – a maioria católicos. Por mais
Morto, e encontraram no interior de outras dez absurdo que fosse, apesar dos manuscritos terem
das centenas de cavernas existentes milhares de sido escritos por judeus e versarem apenas sobre
documentos antigos e de fragmentos de textos assuntos relativos à vida religiosa judaica, ao Templo
escritos sobre pele de animal, papiros e até sobre cobre. de Jerusalém, e ao Tanach - composto de 24 livros: a
Hoje, esse tesouro, conhecido como os Pergaminhos Torá, os Profetas (Neviim), e das Escrituras Sagradas
do Mar Morto, inclui seis pergaminhos praticamente (Ktuvim). Nenhum judeu podia fazer parte desse
completos, 80 mil fragmentos agrupados em grupo. Como veremos adiante, somente em 1980 os
20 mil segmentos, que representam mais de estudiosos judeus passaram a fazer parte da equipe.
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CAPA
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Filhos da Luz contra os Filhos da Em janeiro de 1948, Sukenik recebe sobre o “Livro de Habakuk” (Pesher
Escuridão”, ou “Pergaminho da uma ligação de Anton Kiraz, da Habakuk, em hebraico) e o “Livro
Guerra” – em hebraico, Milchamá. Comunidade Ortodoxa Siríaca, Apócrifo de Gênesis”. Este último
Uma semana mais tarde, ele adquiriu colocando à sua disposição os quatro estava tão enrolado e frágil que não
o terceiro, um manuscrito do Livro pergaminhos que estavam em posse pôde ser desenrolado. Trever envia
de Isaías, conhecido como “Isaiahb”. de Mar Samuel. Quando Kiraz fotos a William Foxwell Albright,
Horas após seu retorno, Sukenik os mostrou a Sukenik, este percebeu, renomado arqueólogo bíblico e
estava em seu escritório quando de imediato, que pertenciam especialista em epigrafia semita da
seu filho menor, Mati, entra ao mesmo conjunto que os que época, que lhe responde em 15 de
correndo para lhe contar que as adquirira. Ofereceu £2.000 libras maio de 1948, justo o dia em que
Nações Unidas tinham aprovado a esterlinas por eles, mas como Israel Israel declarava sua independência:
Resolução da Partilha. estava às vésperas da Guerra de “Minhas congratulações …pela
Independência, ele não conseguiu o maior descoberta em manuscritos
Yigael Yadin, relembra: “Não pude dinheiro. Sukenik nunca mais os viu. dos tempos modernos! … a escrita
evitar a sensação de que havia algo Em seu diário, ele conta: “O Povo é mais arcaica do que a do Papiro
de simbólico na descoberta dos Judeu perdeu uma herança preciosa”. Nash... Eu diria que data por volta
pergaminhos e em sua aquisição, Mas ele estava enganado, pois, do ano 100 AEC ”.
no momento exato da criação do anos mais tarde, seu filho Yigael os
Estado de Israel. Parecia que os adquiriria para o Estado de Israel. Em janeiro do ano seguinte, Mar
manuscritos ficaram esperando em Samuel contrabandeia os quatro
cavernas, por 2.000 anos, desde o Frustrada a venda, Mar Samuel pergaminhos para fora do Oriente
fim da independência de Israel até decide mostrá-los à Escola Médio, instalando-se em New Jersey,
que Am Israel retornasse a seu Lar Americana de Pesquisa sobre o nos EUA. Uma vez lá, ele recomeça
ancestral e recuperasse sua liberdade. Oriente, em Jerusalém3, então as buscas por um comprador. Nove
O simbolismo fica ainda mais forte sob a direção de Millar Burrows. meses depois, os pergaminhos foram
pelo fato de que os três primeiros O assistente de Mar Samuel, expostos na Biblioteca do Congresso.
pergaminhos foram comprados por Butros Sowmy, contata o diretor Despertaram enorme interesse, mas
meu pai, em nome de Israel, no dia em exercício, John Trever. nenhuma instituição se apresentou
29 de novembro de 1947, dia exato Arqueólogo e estudioso bíblico, com uma proposta de compra.
em que a ONU votou pela recriação este último lhe pede que leve os
de um Estado judeu na Terra de pergaminhos à Escola. No dia Após a descoberta
Israel, após 2.000 anos...”. seguinte, quando Sowmy surge inicial...
com os quatro manuscritos, Trever
fica boquiaberto. A escrita era Nesse ínterim, a notícia da
3
Hoje, Instituto W.F. Albright de Pesquisa semelhante à do Papiro Nash, descoberta se tinha espalhado pelo
Arqueológica. datado de cerca de 150 AEC 4. mundo arqueológico. Na tentativa
4
O Papiro Nash, fragmento mais antigo Ele fotografa os pergaminhos, o de localizar a caverna onde os
do Tanach conhecido até então, contém o
texto dos Dez Mandamentos e do Shemá Livro de Isaías (Isaiaha), o “Manual pergaminhos iniciais haviam
Israel. da Disciplina”, um comentário sido encontrados, o diretor do
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CAPA
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um telefone público, liga para um pergaminho completo por Museu de Israel. Todos os demais
número e diz as palavras-código: US$ 100.000. Era o Pergaminho do manuscritos e fragmentos de
Lechaim, Viva! A missão tinha sido Templo. O intermediário concordou textos estão preservados no Museu
um sucesso. O preço acordado em enviar um fragmento a Yadin, Rockefeller, em Jerusalém, onde fica
pelos quatro pergaminhos foi de que, após examiná-lo, garantiu ser o Departamento de Antiguidades de
US$ 250.000 – uma barganha autêntico. O texto, em hebraico, que Israel.
mesmo para a época. Os recebera tratava do papel do Sumo
pergaminhos são despachados, Sacerdote. Iniciam-se as negociações, A batalha para
separadamente, para Israel. Lá, mas o vendedor continuava a subir publicá-los
foram reunidos aos outros três rolos o preço, e em maio de 1962, cessou
que, sete anos antes, o pai de Yadin toda a comunicação entre as partes. Os textos dos sete pergaminhos da
comprara. descoberta inicial foram publicados
Em 7 de junho, Yadin enviou um por estudiosos israelenses e
Em fevereiro de 1955, o Primeiro coronel do Exército de Israel a americanos já na década de
Ministro de Israel à época, Moshe Bethlehem, já em mãos israelenses, 1950 e disponibilizado a outros
Sharett, convoca uma coletiva de para confrontar Kando. As suspeitas pesquisadores. No entanto, o tesouro
imprensa para anunciar que todos de Yadin estavam corretas. Ao ser arqueológico que estava nas mãos
os sete pergaminhos estavam, confrontado, Kando removeu alguns do time de estudiosos reunidos pelo
finalmente em Israel. No início da ladrilhos do chão de sua casa e de padre de Vaux publicara uma parte
década de 1960, construiu-se em lá tirou uma caixa de sapatos onde bem reduzida do material, e não
Jerusalém o Santuário do Livro, tinha colocado o “Pergaminho do permitia que outros pesquisassem
Heichal ha-Sefer, para abrigar os sete Templo”, enrolado em celofane e o material. Estudiosos acreditavam
tesouros encontrados na Caverna 1. toalha e embrulhado com papel. que após Israel ter assumido o
As autoridades israelenses o controle, os pergaminhos seriam
Mais 12 anos se passaram até que confiscam, pagando a Kando US$ disponibilizados rapidamente. Mas
todos os achados estivessem, por 105.000. Finalmente, o “Pergaminho tudo ficou na mesma. Mesmo sob
fim, em mãos de Israel. Durante a do Templo” estava a salvo e foi os auspícios israelenses e apesar
Guerra de Seis Dias, de 1967, os exposto junto dos primeiros sete da insistência de Yadin, os avanços
jordanianos não os transferiram rolos, no Santuário do Livro, no para sua publicação continuavam
para um local “mais seguro”, como emperrados.
acontecera em 1956, antecipando
um possível avanço de Israel. Eles O problema era que Israel queria
foram simplesmente levados ao ser visto como “um conquistador de
subterrâneo do Museu. No terceiro boa paz”. Avraham Biran, diretor do
dia da Guerra, Israel capturou Departamento de Antiguidades, e
Jerusalém Oriental e arqueólogos Yigael Yadin trabalharam em busca
israelenses entraram no museu em de um relacionamento amigável
busca dos Pergaminhos. entre Israel e a equipe de publicação,
apesar de saber que o sentimento
Yadin, à época assessor militar do prevalecente na Escola Bíblica era
Primeiro Ministro Levi Eshkol, de ressentimento contra Israel – ao
sabia que o “Pergaminho do ponto de os pesquisadores, todos
Templo” estava sendo escondido por antissionistas, recusarem-se a pisar
um comerciante de antiguidades. em Jerusalém após 1967.
Descoberto na Caverna 11 em 1956,
até o início dos anos 1960 ninguém Mas Israel não queria ser acusado de
no Ocidente sabia de sua existência. apropriação intelectual e, de início,
Um pastor americano, preposto de manteve o status quo, deixando a
um negociante de antiguidades – responsabilidade pela publicação em
que, mais tarde se soube ser Kando mãos da equipe original e aceitando
Yigael Yadin estudando um dos
– escreveu a Yadin oferecendo um Pergaminhos do Mar Morto a exclusão dos pesquisadores judeus
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e israelenses. Quando de Vaux Em dezembro de 2012, mediante Uma das várias conclusões do
procura Biran, este lhe comunica colaboração com a Google, o trabalho é que mesmo no contexto
que Israel honraria os direitos de Departamento de Antiguidades das inúmeras disputas entre os
publicação de sua equipe – ou seja, de Israel disponibilizou on-line diferentes grupos judaicos à época,
os direitos exclusivos de publicar os Pergaminhos, constituindo a certos pontos básicos em comum
os pergaminhos sem permitir “Biblioteca Digital Leon Levy de caracterizam o Judaísmo.
que outros estudiosos tivessem Pergaminhos do Mar Morto”. Essa
acesso aos mesmos nesse ínterim. biblioteca digital pode ser acessada A centralidade do estudo da
Mas o “monopólio” e a demora gratuitamente. Torá era comum a todas as seitas
na publicação desperta conflitos e e, apesar das disputas entre
controvérsias crescentes. Importância dos fariseus, saduceus e a seita de
Pergaminhos Qumran, é importante esclarecer
Em 1980, Emanuel Tov e Elisha que a observância da lei dos
Qimron são os primeiros israelenses Atualmente há um consenso entre sacrifícios, do Shabat, de pureza
a trabalhar nos pergaminhos. os estudiosos acerca da necessidade e de outras práticas haláchicas
John Strugnell, chefe da equipe de um grande foco no contexto eram comuns aos judeus do
internacional de 1986-1990, judaico dos Pergaminhos do Mar período do Segundo Templo.
aumenta ainda mais o número de Morto. Entendem, ainda, que essa Ademais, os Pergaminhos revelam
participantes e inclui alguns judeus. abordagem também permite que a existência de um grande grau
Em 1990, depois de uma entrevista esses documentos tenham um de continuidade entre o Judaísmo
onde ele se auto descreve como “anti- papel ainda maior em facilitar o antes e após a destruição do
judaísta”, dizendo entre outros : “... entendimento sobre os primórdios Segundo Templo.
Judaísmo – uma religião horrível”, do Cristianismo.
ele é destituído e Emanuel Tov,
professor da Universidade Hebraica, A descoberta dos Pergaminhos nos
Bibliografia
assume como editor-chefe do projeto ofereceu a oportunidade de aprender
Lawrence H. Schiffman, Qumran
de publicação dos manuscritos. O muito não apenas sobre a seita de and Jerusalem: Studies in the Dead Sea
Prof. Tov aumentou o número de Qumran, mas também sobre outras Scrolls and the History of Judaism.
pesquisadores e ficou na direção até o seitas do período do Segundo Edição do Kindle.
término dos trabalhos. Templo. Somente compreendendo Shanks, Hershel, The Mystery and
a complexa dialética entre acordo Meaning of the Dead Sea Scrolls.
Edição do Kindle.
Em 2008, Tov presenciou o e desacordo podemos traçar
Leonard, Cheryl, The Dead Sea
término real da série oficial de corretamente o panorama religioso Scrolls: Ancient Secrets Unveiled.
40 volumes, e sua publicação. da antiga Terra de Israel. Edição do Kindle.
41 DEZEMBR0 2017
@
MORASHA.COM
Exposição de arte
confiscada pelo 3º Reich
O conteúdo e propósitos de ambas
as exposições foram cuidadosamente
coordenados.
A de Berna focaliza os
trabalhos de “Arte degenerada”
confiscados pelos nazistas de museus
alemães durante o período. O Centro
de Bonn, por sua vez, expõe as obras
saqueadas pelos nazistas durante sua
campanha de perseguição, além de
peças cuja procedência ainda não foi
esclarecida. As duas mostras estarão
em exibição a partir deste novembro
de 2017 até março de 2018. E, nos
meses seguintes, a exposição agora
em Bonn será exibida no Museu de
Soldado americano guarda, logo após a guerra, o chamado. Collecting Point, Belas Artes de Berna.
depósito de arte roubada pelos nazistas Este museu porá em exibição
O
200 trabalhos considerados “Arte
Museu de Belas 3º Reich. Mais de 1.200 obras foram degenerada” pelos nazistas em
Artes, em Berna, e escondidas em seu apartamento em virtude de serem trabalhos “não-
o Centro de Artes Munique e outras 250 ou mais em germânicos, feitos por judeus ou
e Exposições da Salzburgo, na Áustria. por comunistas” – ou eram obras
República Federal impressionistas ou mais modernistas,
da Alemanha, em Bonn, estão não apresentando, portanto, o
apresentando, simultaneamente, realismo tradicional. Os trabalhos
obras de arte da Coleção Cornelius foram confiscados em uma investida
Gurlitt. nazista, em fins da década de 1930,
contra o que eles chamaram de
Cerca de 1.500 trabalhos foram “Arte degenerada”, sendo mais tarde
descobertos, há cinco anos, durante vendidas para financiar a máquina de
uma investigação oficial sobre guerra nazista.
uma questão tributária. As peças
de arte estavam escondidas nas Já a exposição do Centro de Artes
várias residências do colecionador e Exposições de Bonn, concentra-
alemão, Cornelius Gurlitt, cujo pai, se em arte saqueada e roubada – a
Hildebrand Gurlitt, foi um dos maioria de colecionadores judeus
principais marchands do Hildebrand Gurlitt – pelos nazistas. Entre elas incluem-
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1 2
4 5
A
página do Facebook “Eu restrições alimentares religiosas é envolve a culinária judaica.
não cozinho, mas dou um desafio para qualquer cozinheiro Desde a sua criação, há 10 anos,
receitas”, criada pelas irmãs ou dona-de- casa. Além do mais, tornou-se algo mais do que um
Goldie Adler Nathan e Esty Adler os jantares de Shabat em família espaço para troca de receitas.
Wolbe, moradoras do Brooklyn são geralmente considerados o Com cerca de 30 mil membros,
(Nova York) em 2007, está fazendo ponto alto da semana. A página a página transformou-se em
sucesso na comunidade judaica do Facebook tornou-se um fórum uma comunidade de mulheres,
americana e da diáspora. Afinal, para troca de receitas, com o fluxo principalmente ortodoxas, que
usufruir de um jantar formal com de informações sobre tudo o que discutem os mais variados temas.
47 DEZEMBRO 2017
MORASHÁ.COM
A
Coleção Günzburg, uma das autoridades russas assinaram um
coleções de Judaica uma das contrato de compra do acervo, com
mais importantes do mundo a transferência de 500.000 rublos
judaico, guardada na Biblioteca de ouro o governo imperial russo,
Estatal Russa, em Moscou, será conseguidos mediante doações de
digitalizada e disponibilizada ao sionistas russos. Essa soma equivale, à Rússia documentos comprovando
público pela Biblioteca Nacional de hoje, a cerca de US$ 15 milhões, de a posse da coleção, esperando que
Israel, em Jerusalém. Para tanto, em acordo com o valor atual do ouro. as relações entre os dois países, que
7 de novembro de 2017 foi assinado O acervo já estava encaixotado, estão em fase de reaquecimento,
um histórico documento entre pronto para ser despachado à então possam dar um fim ao impasse.
as duas importantes instituições. Palestina, mas a 1a Guerra Mundial
Trata-se de um marco significativo interrompeu os planos. Com a Netanyahu falou várias vezes com
nas tratativas entre ambas, iniciadas Revolução Bolchevista, os livros o Presidente Vladimir Putin sobre
exatamente há 100 anos, quando a foram confiscados, nacionalizados o caso, mas chegou à conclusão que
Biblioteca Nacional de Israel ainda e transferidos à Biblioteca Estatal por ora não há possibilidade de
era chamada de Beit Hasfarim Lenin, em Moscou. Albert Einstein, receber a coleção. Recentemente,
Haleumi. Chaim Weizmann e inúmeras outras o Premier Bibi Netanyahu revelou
personalidades do mundo judaico que apesar de Israel não abrir mão
A Coleção Günzburg contém mais tentaram, em vão, no decorrer dos da demanda pela recuperação de
de 14.000 itens, entre os quais anos persuadir os russos a devolver a posse do acervo, desejava, primeiro,
milhares de livros raros em hebraico, coleção. cooperar em sua digitalização como
bem como manuscritos nesse forma de permitir aos estudiosos
idioma e em muitos outros. Nas Em anos recentes, Israel tem o acesso ao importante material.
palavras do Dr. Aviad Stollman, da abordado o assunto durante Assim sendo, orientou a Biblioteca
Biblioteca de Jerusalém, a coleção encontros oficiais com autoridades Nacional a acelerar o projeto de
é um tesouro nacional para o Povo russas, com o envolvimento do digitalização. O diretor da Biblioteca
Judeu. Constam da Coleção obras Ministério das Relações Exteriores Estatal Russa, por sua vez, afirmou
medievais sobre Ciências, Filosofia e de Israel, do próprio Bibi Netanyahu que “A moderna tecnologia da
Estudos Judaicos, Midrashim, cópias e do então Presidente Dmitry informação abriu e possibilidades
de trabalhos de Maimônides e do Medvedev, da Rússia. Israel enviou novas e ilimitadas para o acesso aos
Rashba (Rabi Shlomo ibn valores culturais dos países e seus
Aderet), comentários bíblicos, povos”.
livros de gramática hebraica e
Halachá (Lei religiosa judaica), O projeto de digitalização
poesia medieval, Cabalá e foi financiado pela Fundação
textos médicos. Peri, presidida por Ziyavudin
Magomedov, bilionário
O acervo foi reunido muçulmano russo, do Daguestão,
por três gerações de uma muito atuante na preservação
aristocrática família judaica da cultura. Há algum tempo, ele
russa, a partir de meados contribuiu para um projeto de
do séc. 19. Em 1917, o Beit preservação da mesquita de Kala
Hasfarim Haleumi e as Koreysh, em seu país.
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REVISTA MORASHÁ i 98
O
shekel israelense desponta a saltar, em abril, para
atualmente como a o 3o lugar em uma lista
segunda moeda mais forte das economias mais
no mundo, segundo relatório do estáveis e promissoras
Deutsche Bank, conglomerado no ano passado, segundo
alemão bancário e de serviços a agência Bloomberg.
financeiros. O mesmo documento A economia israelense
coloca o yuan, moeda chinesa, continua a ter bom
como a mais forte do mundo. desempenho, de
Segundo seu analista estratégico acordo com os padrões
para moedas estrangeiras, nos internacionais.
últimos 12 meses o shekel teve uma
valorização de 6,1 % face às moedas Em janeiro, Israel
dos principais parceiros comerciais entrou para as 10
de Israel, como o dólar americano, melhores na versão 2017
a libra inglesa, o euro e o iene. do Índice de Inovação
Bloomberg (Bloomberg Innovation pontuando seu dispêndio anual
A inflação quase inexistente e o Index), que classifica o nível de em P&D e o número de empresas
baixo desemprego ajudaram Israel inovação na economia de um país de tecnologia de capital aberto.
49 DEZEMBRO 2017
PERSONALIDADE
Simone Veil,
um ícone mundial
A França ficou de luto em junho deste ano de 2017
ao tomar conhecimento do falecimento de Simone Veil.
Judia, sobrevivente do Holocausto, ela ocupou vários
postos governamentais, tornando-se um ícone na luta
contra a discriminação das mulheres. Empenhada em todas
as causas em que acreditava, conquistou os franceses,
e sua popularidade ia muito além dos limites da política
A
vida de Simone Veil foi turbulenta. de sobreviventes do Holocausto e conquistou o respeito
Vivenciou épocas de terror e de luto, internacional por sua atuação para a preservação das
assim como de amor e de vitórias, memórias das vítimas de Hitler.
sempre demostrando uma dignidade e
uma seriedade que incutiam o respeito e Em uma das primeiras reações à sua morte, o presidente
admiração de todos em sua volta. Uma pesquisa realizada francês, Emmanuel Macron, declarou esperar que Simon
em 2010 a indicou como a preferida entre as mulheres da Veil “possa inspirar, com seu exemplo, os franceses a
França. encontrar o melhor da França”.
Apesar de não praticante, Simone jamais negou seu Após o nascimento de seus dois primeiros filhos,
judaísmo. Participou ativamente de várias organizações Madeleine e Denise, o casal trocou Paris por Nice.
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REVISTA MORASHÁ i 98
2 3
1. a jovem Simone Veil 2. em casa com seu cachorro, Paris, 1974 3. Simone Veil, em seu escritório
Nessa cidade, na Riviera Francesa, O país é, então, dividido – o norte Pétain. E uma área do sudeste fica
nasceram seu filho Jacob e, no e a costa do Atlântico, inclusive nas mãos da Itália fascista. Milhares
dia 13 de julho de 1927, Simone. Paris, ficam sob ocupação nazista, de judeus refugiam-se na Zona Livre,
Com a crise de 1929, os projetos enquanto o sul e o sudeste, a inclusive Nice, onde viviam Simone
arquitetônicos do pai diminuem chamada Zona Livre, passam a e sua família. Em 11 de novembro
drasticamente e a família se muda ter um governo leal à Alemanha, de 1942, alemães e italianos invadem
para um apartamento menor. Sua o Regime de Vichy, do marechal o território francês, quebrando o
mãe, Yvonne, começa a fazer roupas Armistício, e Nice fica sob domínio
de tricô para famílias necessitadas. italiano até 1943.
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PERSONALIDADE
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PERSONALIDADE
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REVISTA MORASHÁ i 98
1 2 3
1. Simone Veil segura sua espada de Imortal, 2010. Ela foi eleita dois anos antes para Academia Francesa de Letras
2. com o Presidente Shimon Peres, 2008 3. com Nicolas Sarkozy, 2010
fossem as perseguições, a miséria a minha morte, meu judaísmo seja Veil, Simone e Black,Tamsin, A Life .
imprescritível. Kindle edition
e a vida errante. Para minha mãe,
Deloeuvre, Guy, Simone Veil: Destin. Kindle
o judaísmo era uma questão de edition
um compromisso com valores O Kadish será recitado diante de
Jactance, Assoumou Ondo, Ce que serait
com os quais, ao longo de sua meu túmulo. Sou judia”. Seus filhos devenue la femme française sans Simone Veil.
longa e trágica história, os judeus atenderam sua vontade. Kindle edition
55 DEZEMBRO 2017
COMUNIDADES
N
o dia da invasão do Terceiro Reich, Varsóvia era a capital do novo estado, e os judeus que
1º de setembro de 1939, viviam na lá viviam desempenhavam um papel central na vida
Polônia 3,2 milhões de judeus – era a da cidade, da população judaica polonesa, bem como
maior comunidade judaica da Europa. dos asquenazitas do mundo todo. Em 1921, viviam em
Milhares de autores têm escrito Varsóvia cerca de 310 mil judeus, número apenas superado
detalhadamente sobre a Shoá, sem dúvida o mais por Nova York. A vida judaica na cidade era ao mesmo
doloroso período da História Judaica, e sobre o tempo tradicional e criativa, religiosamente ortodoxa e
extermínio de milhões judeus em terras polonesas. sionista, politicamente atuante. Era grande o número
Pouco, porém, tem-se escrito sobre o período em de partidos, instituições, organizações beneficentes e
que existiu a Segunda República Polonesa movimentos juvenis com sede na cidade.
(1918-1939), quando o endêmico e profundo
antissemitismo dos “poloneses étnicos” cresceu ainda No período entre guerras o judaísmo polonês forneceu
mais. E, infelizmente, sobrevive até os dias de hoje. uma poderosa, podemos até dizer inigualável, vitalidade
Neste 11 de novembro de 2017 houve em Varsóvia à vida judaica religiosa e secular, à sua cultura, ao teatro
uma manifestação durante a qual cerca de 60 mil iídiche, assim como à vida política, apesar da hostilidade
pessoas gritavam “Europa Branca”, “Fora, judeus” e e pobreza de grande parte da população, principalmente
“Retirem os judeus do poder”. após a Crise de 1929.
Em 1918, quando nasceu a Segunda República, os Era uma comunidade organizada, tinha suas próprias
cerca de 3 milhões de judeus que viviam no país eram escolas, ieshivot, hospitais, instituições assistenciais,
vistos como “elementos estranhos”, que ocupavam partidos políticos, editoras, jornais e teatros. Na Polônia
funções econômicas e posições de poder que deveriam se fortaleceram partidos e movimentos judaicos de
estar em mãos dos poloneses étnicos, e, para “o bem todas as tendências - sionistas, religiosos, socialistas,
da nação”, tais elementos deveriam ser removidos e revisionistas. Viviam na Polônia grandes rabinos e
substituídos por poloneses. talmudistas, importantes mestres chassídicos, líderes de
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REVISTA MORASHÁ i 98
Cidade Velha de Varsóvia. É patrimônio mundial histórico e cultural, tombado pela UNESCO em 1966
movimentos juvenis que se tornaram Russo ficou com mais de 60% do de Lublin, Lódz, Mazóvia e Kielce.
heróis, renomados sionistas, território: a Ucrânia, Lituânia e O novo estado era uma monarquia
historiadores, artistas, escritores e Polésia, inclusive Varsóvia. Com constitucional, a princípio
músicos de renome. as anexações, a vida política semiautônoma em relação ao
A comunidade judaica polonesa era e econômica dos habitantes, Império Russo. O Czar da Rússia
a principal arena onde floresceram principalmente dos judeus, passa a era também o Rei da Polônia. A
diferentes linhas de pensamento depender das decisões tomadas em Polônia do Congresso constituía o
religioso, ideológico, político e Berlim, Viena e São Petersburgo. coração da Polônia étnica, centro
cultural. político e cultural; uma área
A Era napoleônica, de 1799 a 1815, econômica de grande importância.
Os anos que provocara mudanças geopolíticas
antecederam a em toda a Europa. Após a derrota Após o esmagamento de uma
independência de Napoleão, para trazer de volta revolta armada polonesa contra
a estabilidade, representantes o domínio russo – o Levante de
No final do século 18, desaparece dos países vencedores (Impérios Novembro (1830-1831) pelas
do mapa da Europa a Comunidade Austríaco e Russo, Prússia e Reino forças imperiais – a Polônia do
Polaco-lituana. Em 1772, 1793 Unido) reúnem-se, em 1815, em Congresso perde grande parte
e 1795 a nação foi invadida e Viena e redesenham o mapa da de sua semi autonomia. No ano
seu território anexado por seus Europa. No Congresso de Viena seguinte é abolida Constituição,
poderosos vizinhos. O Reino da é criado o Reino da Polônia, fechada a Assembleia Legislativa e
Prússia ficou com a parte ocidental mais conhecido como Polônia desmantelado o exército.
- Poznan, Silésia e Pomerânia até do Congresso, para distingui-lo
o Mar Báltico; o Império Austro- de reinos poloneses anteriores. Há uma intensificação da política
húngaro com o Sul, que incluía Seu território correspondia, de “russificação”. Em 1863, após ter
Galícia e Cracóvia; o Império a grosso modo, às regiões sido esmagada mais uma revolta,
57 dezembro 2017
COMUNIDADES
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REVISTA MORASHÁ i 98
ainda era preferível à dos judeus áreas econômicas e comerciais. No Segunda República
que viviam em outras partes do final do século, em Varsóvia, dos 26 Polonesa
Império. Esse fato, juntamente com principais bancos privados 18 eram
o desenvolvimento econômico da propriedade de judeus ou de judeus Em 1918, depois de 136 anos de
região na segunda metade do século convertidos ao catolicismo. E os ocupação, França e Reino Unido
19, levou muitos judeus a migrarem judeus se destacavam cada vez mais decidem restabelecer um estado
para lá. Foi particularmente grande nas profissões liberais. polonês soberano, a Segunda
o influxo dos chamados Litvaks, os República Polonesa. Os impérios
judeus originários de Lita, palavra em O crescimento de uma classe que tinham anexado o território
iídiche que identificava a Lituânia. média urbana católica, aliado ao polonês no final do século 18
fortalecimento do nacionalismo, haviam entrado em colapso.
Nas últimas décadas do século 19, já levam à exacerbarão das relações Áustria-hungria e Alemanha,
emancipados, os judeus se organizam entre os “poloneses étnicos” e derrotadas militarmente, estavam
politicamente. Um de seus maiores população judaica. As acusações arrasadas internamente. Na Rússia,
problemas era a atitude a ser tomada contra os judeus de práticas a Revolução de 1917 depusera
em relação aos vários concorrentes comerciais “desleais” e de o Czar e o país estava engolfado
à hegemonia sobre os territórios da “separatismo” vão ressoar doravante numa sangrenta guerra civil entre
antiga Comunidade Polaco-lituana com força. os bolcheviques e as várias forças
onde viviam. Nas rebeliões armadas contrárias a eles, inclusive polonesas.
dos poloneses de 1830-1831 e 1863, A criação, em 1897, do Endecja
haviam participado milhares de (ou Endeks), partido nacionalista No Tratado de Versalhes de 1919,
judeus. Muitos acreditavam que a de extrema-direita, profundamente que encerrou oficialmente a 1a
independência polonesa levaria ao antissemita, é sintomática do forte Guerra Mundial, os termos impostos
desaparecimento do antissemitismo. crescimento do anti-judaísmo. As à Alemanha incluíam a perda de
Mas, a “indecisão” demostrada pela raízes econômicas e políticas do uma parte de seu território para
população judaica no primeiro novo antissemitismo (sem contar nações fronteiriças. A Polônia
momento sobre quem deveriam a tradicional vertente religiosa) acabou ficando com territórios
apoiar não seria esquecida pelos manifestaram-se, claramente, dos Impérios Austro-húngaro e
poloneses. em 1912, quando o Endecja Alemão – entre outros, a Província
organizou um boicote às empresas de Posen, outrora parte da Grande
No final do século 19, os judeus eram de proprietários judeus. Na véspera Polônia, “berço da nação polonesa”,
um elemento basicamente urbano em da 1ª Guerra Mundial, as relações e a parte leste da Alta Silésia. Ficou,
uma região grandemente camponesa. entre poloneses e judeus estavam também, com parte do território
Eram um grupo econômico distinto, extremamente tensas. que a Rússia perdera no Tratado de
uma minoria mais educada cuja
fé, idioma e costumes diferiam
Meninos estudando no cheder. Lublin, Polônia, 1924
frontalmente dos da maioria. Apesar
da emigração em grande escala para o
continente americano, nos territórios
da atual Polônia cerca de 14% dos
habitantes eram judeus, sendo que
em inúmeras cidades eram uma
grande parcela dos habitantes e, nos
shtetls, muitas vezes a maioria.
59 dezembro 2017
COMUNIDADES
Brest-Litovski1. Depois de anexar a Alegavam que outras nações não em relação a estrutura de um estado
região da Galícia oriental, a Polônia, tinham o direito de interferir polonês independente apresentava
no decorrer da Guerra Polaco- nos assuntos internos e que esses duas vertentes principais. A da
soviética (1919-1921), consegue tratados eram fruto do lobby direita acreditava que deveria
expandir-se mais para leste. judaico-americano. As negociações haver uma completa identificação
A guerra era, em parte, o resultado desses tratados ocorriam enquanto do Estado com a nação polonesa
da insegurança dos poloneses em na fronteira russo-polonesa eclodiam étnica – ou seja, com a população
relação às fronteiras orientais por pogroms. polonesa e católica. A extrema
causa da Guerra Civil na Rússia. direita, o Endecja, ia além, queria um
Mas, a verdade é que o Marechal Que papel as minorias teriam no estado polonês católico de domínio
Józef Piłsudski, revolucionário e novo Estado era uma pergunta que exclusivo dos poloneses étnicos.
líder das forcas armadas, viu nesta muitos poloneses étnicos se faziam. A esquerda e centro se inclinavam
instabilidade a oportunidade de Por que “estrangeiros” detinham o para uma “parceria” mais ampla do
expandir as fronteiras do jovem controle da indústria, comércio, e Estado com as minorias. Poloneses
estado, como de fato ocorreu. de outros setores fundamentais à étnicos eram “os primeiros entre
economia? A bem da verdade, os iguais”, mas a Polônia seria um
Em 1921, quando foram definidas judeus não eram o único alvo dessa estado de muitas nacionalidades.
as fronteiras, a Segunda República hostilidade. Milhões de cidadãos Parecia não haver muito espaço
da Polônia era o sexto maior país da das antigas potências imperiais eram para os milhões de habitantes não
Europa, contando com 27,2 milhões também vistos como “estrangeiros” poloneses que viviam no território
de habitantes. Destes, cerca de 11 usurpadores da riquezas e direitos da Segunda República, muito menos
milhões eram minorias. Os judeus dos poloneses. Havia, porém, uma para a população judaica.
chegavam a 3 milhões. diferença básica: todos, a não ser os
judeus, tinham um “estado-irmão” Os judeus na Polônia
Em teoria, as minorias, inclusive a ao qual podiam recorrer mesmo não independente
judaica, eram protegidas por tratados sendo cidadãos. Os judeus estavam
internacionais assinados pelos recém- sós. A criação de um estado polonês
criados estados na Conferência de soberano não levou, como muitos
Paz de Versalhes, em 1919. Entre Na época da criação da Segunda judeus acreditavam, a uma
outros, esses tratados garantiam a República, o pensamento político aproximação com os não judeus.
liberdade religiosa e a igualdade civil;
asseguravam o direito das minorias
Interior da Sinagoga Velha de Cracóvia
de manter suas tradições sem ser
discriminadas, e seus idiomas. Entre
as garantias dadas aos judeus, em
particular, estava o respeito ao Shabat
por parte do Estado.
1
Tratado de Brest-Litovski, assinado
em março de 1918 entre o novo
governo russo e as Potências Centrais
(os Impérios Alemão, Austro-húngaro,
Otomano e a Bulgária), reconhecia a
saída da Rússia do conflito. A Rússia foi
obrigada a abrir mão da Finlândia, Países
Bálticos, Polônia, Bielorrússia e Ucrânia.
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COMUNIDADES
a República Polonesa chegou eleitoral que afetaria a representação e o governo adotou a política de
a tolher os poderes das Kehilot, proporcional das minorias no Sejam estatismo, uma forma de capitalismo
restringindo-as a funções puramente (Parlamento), os judeus reagiram de Estado. No campo econômico
religiosas. Os dispositivos legais formando uma frente unida para essa política implica uma
discriminatórios remanescentes concorrer às eleições. Em 1922, o forte intervenção do Estado
contra os judeus nos territórios “bloco das minorias” conseguiu uma que atua como empresário em
herdados do Império Russo e substancial vitória. A facção judaica diversos setores.
Austríaco permaneceram até 1931. elegeu 35 dos 444 membros do Sejm,
Nesse ínterim, uma série de medidas Câmara de Deputados. Mas a união As medidas antijudaicas adotadas
tornou o tratado ineficaz e, em entre as minorias não perdurou e a pelo governo, que podemos definir
1934, diante da aprovação pública, o influência dos partidos judaicos foi como um “pogrom morno”, era
governo o repudiou. diminuindo. resultado dessa política, aliado a uma
grande dose de antissemitismo.
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REVISTA MORASHÁ i 98
governo autoritário. A princípio, seu não judeus, em parte pelo fato de Joint Distribution Committee -
governo tem uma atitude positiva em terem sido barrados do serviço JDC), organização de assistência
relação aos judeus. Apesar de odiá- público onde os empregos eram humanitária norte-americana2,
los, pessoalmente – como demostrara mais seguros, e porque era pequeno sustentava mais de 150 mil famílias
durante a Guerra Polaco-soviética o número de trabalhadores judeus e fornecia fundos para a TOZ e
– um dos primeiros atos de Piłsudski nas grandes empresas. A maioria outras congêneres. Mas a ajuda
foi acabar com a política antissemita trabalhava em pequenas oficinas que acabou sendo reduzida por causa
do governo. Centralizando a maior rapidamente foram à falência. da Grande Depressão de 1929
parte de suas atenções nos assuntos e, após 1933, pela necessidade
de defesa e relações públicas, ele não Em 1931, um milhão de judeus de enviar recursos para ajudar
demostrava um interesse especial estavam desempregados. Lódz, os judeus alemães vítimas da
em relação à “questão judaica” e importante centro têxtil, fora perseguição nazista.
nem exibia em público sentimentos transformado num necrotério
contrários aos judeus. Um líder industrial. Em Lvov, 29 % dos Cresce o fascismo
sionista, Apolinary Hartglas, judeus estavam sem emprego. polonês
escreveu que, no primeiro ano do Em 1931, em Varsóvia, onde dois
governo de Piłsudski, a “propaganda de cada cinco habitantes eram Com a Crise de 1929, as ideias
antissemita cessara ... ninguém se judeus, 34% da força de trabalho de Piłsudski de um Estado que
atrevia mais a publicar listas negras judaica estava desempregada. A abrangesse todos os cidadãos deu
de poloneses que ousavam comprar Beth Lechem, uma entidade de lugar à ideologia nacionalista. Com
de estabelecimentos judeus… assistência social judaica, mantinha a paralização de um segmento da
ninguém atacava ou surrava os judeus vans nas ruas oferecendo chá e economia nacional após o outro, os
...”. No entanto, nenhum avanço pão para que judeus famintos não camponeses, o proletariado urbano
foi feito em relação às minorias, caíssem de fraqueza. A Sociedade e a classe média polonesa começam
principalmente a judaica. de Proteção à Saúde dos Judeus a vociferar cada vez mais seu
(TOZ), fundada em 1921, forneceu descontentamento.
O banimento de Piłsudski ao em seus relatórios a trágica As classes privilegiadas polonesas –
antissemitismo “oficial” veio muito evidência do colapso econômico os grandes industriais, a oligarquia
tarde para poder ajudar a população de sua gente. As comunidades nobre, assim como os latifundiários
judaica. Menos de três anos mais judaicas do exterior ajudavam como e a Igreja – donos de grande parte
tarde, a Crise de 1929 atinge a podiam; o Joint (American Jewish das terras cultiváveis da Polônia,
Polônia e o país entra em profunda
depressão econômica. Empresas
faliram e havia desemprego em
massa entre os trabalhadores
e os agricultores. Os que mais
sofreram foram os judeus, que, já
enfraquecidos economicamente pelo
estatismo, foram alijados para uma
marginalização econômica da qual
nunca se recuperaram.
O desemprego entre sua população
era bem maior do que entre os
2
Fundada em 1914, seu propósito inicial
era arrecadar e distribuir fundos para
ajudar as populações judias da Europa
Oriental durante a 1ª Guerra. Na década
de 1920, o JDC se tornou a principal
agência para socorro e reabilitação dos
judeus no exterior. varsóvia, 1930
63 dezembro 2017
COMUNIDADES
não estavam dispostos a 12 de maio de 1935, o ódio aos De 1935 em diante, a violência
implementar as mudanças judeus aumentou; parecia que com irrompeu em um clima de ardorosa
necessárias no tecido econômico do sua morte as forças que o haviam retórica e de atividades políticas,
país, que implicaria necessariamente contido se desencadearam. Uma com distúrbios organizados em
na perda de seus privilégios, para variedade de grupos paramilitares 50 cidades polonesas que deixaram
sanear a economia. Esses grupos fascistas, apoiados pelos muitas mortes. Em março de
usaram o antissemitismo da acontecimentos na Alemanha, 1936 um pogrom em Przytyk, um
população ao máximo para ocultar proliferam pelo país inteiro, shtetl perto de Radom, deixou dois
das massas trabalhadoras e dos abertamente estimulados pela judeus mortos e muitos feridos.
camponeses a verdadeira origem das propaganda católica. Os grupos Em julgamentos subsequentes dos
dificuldades econômicas que a nação paramilitares mais notórios eram envolvidos, os defensores judeus
enfrentava. Endeks e Naraso. Vagando pelas receberam penas muito mais pesadas
ruas à procura de judeus, os grupos que os atacantes. Milhares de
A maioria dos poloneses estavam fascistas provocavam badernas, judeus participaram de marchas de
convencidos de que a economia, distúrbios públicos, atacando protesto em Radom e outros lugares
e consequentemente sua situação, brutalmente os judeus nas ruas da Polônia. O clima entre judeus e
melhoraria se os judeus fossem e nos trens. Lojas e residências não judeus se intensifica e cresce o
eliminados, ao menos da esfera judaicas eram saqueadas. número de pogroms.
econômica.
Uma campanha ativa, semioficial, Um boicote econômico foi iniciado
As atitudes políticas dos poloneses procurou limitar o acesso dos tendo amplo apoio da população,
étnicos passaram a variar de judeus à instrução superior, com o e a aprovação da Igreja e membros
profunda hostilidade da direita a fatídico numerus clausus. Os poucos do governo. Em 1936, uma carta
uma atitude cautelosa da esquerda. que conseguiam ser aceitos nas pastoral do Cardeal Hlond, Primaz
Os partidos da direita, como o universidades eram perseguidos; da Polônia, publicamente conclama
Endeks, defendiam abertamente a em inúmeras universidades eram a população de aderir ao boicote.
completa eliminação dos judeus da obrigados a assistir às aulas nos O primeiro Ministro Felicjan Sławoj
sociedade e dos postos de emprego “bancos do gueto”. Składkowski o endossa, com a única
remunerado e sua imigração em ressalva de “não violência”.
massa. Os socialistas, embora
condenando os ataques físicos e No início de 1937 formou-se
verbais violentos que ocorriam um novo agrupamento político,
na época contra os judeus, não o OZON, “campo da unidade
estavam imunes ao antissemitismo. nacional”. A ênfase dessa facção
Havia inclusive socialistas entre política, que dominou até a invasão
aqueles que preconizavam a partida alemã, era sobre os princípios
em massa da população judaica. totalitários e os laços católicos.
O partido dos Camponeses, que Era extremamente antissemita,
se opusera ao antissemitismo não aceitando membros judeus,
na década de 1920, em meados preconizando leis discriminatórias
da década de 1930 declara que e também exigindo a emigração
os judeus eram uma “nação judaica.
estrangeira”, endossando o incentivo
à emigração judaica. Nos primeiros anos da república,
o antissemitismo embora um fato
A partir de 1933, o problema da aceito, era contido; em 1938 era
sobrevivência judaica se complicava. aberto e unia governo e oposição.
Um antissemitismo cuidadosamente Na época, chegou a ser cogitada
cultivado somou-se ao desastre a imigração de judeus para o
econômico da Grande Depressão. Pôster comemorativo dos Jogos Madagascar. Eles eram vistos como
Atléticos Shtern, em Varsóvia.
Após a morte de Piłsudski, em 31 maio - 2 junho 1933 um “empecilho” ao progresso da
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REVISTA MORASHÁ i 98
Fotos de judeus que pereceram durante a 2a Guerra Mundial em um dos poucos edifícios remanescentes na Rua Prozna, Varsóvia
Polônia. Alguns círculos liberais parlamento havia sido imensamente chegava mais perto do status de
e socialistas saíram em defesa reduzida a partir de 1935. “capital da Diáspora Judaica”. Nos
do judaísmo, mas suas vozes se A resposta política dos judeus dias que antecederam a invasão
perderam. foi voltar-se para o nacionalismo alemã, a atmosfera entre os judeus
judaico. O colapso econômico e da cidade era uma mistura de medo
A verdade era que para a maioria crescimento do antissemitismo e euforia patriótica. A medida
dos poloneses, a Polônia sofria de levaram a uma maior radicalização que aumentava a probabilidade de
uma “superpopulação judaica” e dos partidos e movimentos. uma guerra, eles ingressavam na
sua emigração em massa era uma mobilização civil e militar. Estavam
necessidade premente. Muitos À medida que desapareciam as aliviados em perceber que, ao menos
judeus pensaram em deixar o país. esperanças de uma autonomia nessa crise suprema, os poloneses os
Em 1936, Vladimir Jabotinsky, judaica e de um avanço pacífico, aceitavam. Grave engano.
cognominado Ze’ev, que fundou o ganharam mais adeptos as soluções
Movimento Revisionista Sionista mais extremas para a “questão No dia 1º de setembro, quando
Betar, declarou publicamente que judaica”. Dentro do Movimento a Alemanha nazista invadiu a
os judeus deviam deixar a Polônia. Sionista cresceram as facções Polônia, viviam no país 3,3 milhões
Mas a pergunta era: para onde? Na socialistas e a Direita Revisionista, de judeus, quase 10% do total de
década de 1930 inúmeros países, encabeçada por Jabotinsky, assim seus habitantes. Quando a guerra
para não dizer a grandíssima como o Partido Sionista Religioso, terminou, entre 50 a 70 mil estavam
maioria, não hesitavam em declarar o Mizrahi. O Bund disputava o ainda vivos na Polônia, e outros 180
sua má-vontade em recebê-los. terreno com o Comunismo e o mil na União Soviética. Três milhões
Sionismo Socialista. Aumentam de judeus poloneses haviam sido
Os judeus poloneses estavam os movimentos como o Halutz, assassinados.
cercados de hostilidade. Sem HeHalutz Hatzair, Hashomer
poder contar com aliados Hatzair, que resultaram na
poloneses, tampouco com nações- emigração em larga escala para Eretz
irmãs, os partidos judaicos e Israel. BIBLIOGRAFIA
os líderes da comunidade não Wasserstein, Bernard,On The Eve: The Jews
of Europe before the Second World War. eBook
conseguiam influenciar o curso dos Em 1939, Varsóvia com seus 381 Kindle
acontecimentos. A participação mil judeus, número maior do que Gold, Ben-Zion, The Life of Jews in Poland
dos partidos judaicos no em qualquer cidade do continente, before the Holocaust: A Memoir. eBook Kindle
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DESTAQUE
O
“Alternativa para a Alemanha” (AfD), O resultado eleitoral do AfD se insere no avanço da
com sua plataforma populista e xenófoba, extrema direita europeia, impulsionado por fatores
contabilizou 13% dos votos na eleição como recentes ataques terroristas na Europa e pela
de 24 de setembro, resultado responsável onda antiglobalização, já verificada com a vitória
por ofuscar a vitória da primeira-ministra do “Brexit”, em junho de 2016. A mobilização dos
Angela Merkel, que conquistou seu quarto mandato partidos populistas e anti-imigração se intensificou
consecutivo. Ela lidera o governo, com seu partido CDU ainda com a crise dos refugiados, com a chegada, ao
(centro-direita), desde 2005. velho continente, de mais de 1 milhão de pessoas
fugindo da violência e da guerra em países como Síria
“Parabéns a nossos aliados do AfD por seu resultado e Iraque.
histórico! É um novo símbolo do despertar dos povos
da Europa”, reagiu Marine Le Pen, líder da Frente Além da Alemanha, a França também testemunha
Nacional, partido de extrema direita na França. “A avanço recente da extrema direita. Embora Emmanuel
entrada do AfD no Bundestag é um grande choque”, Macron tenha vencido as eleições presidenciais de
opinou o Pierre Moscovici, socialista francês que ocupou maio com 66% dos votos, sua adversária, Marine Le
o Ministério de Assuntos Europeus entre 1997 e 2002. Pen, alcançou a marca de 34%, recorde histórico para
Mas, acrescentou, a “democracia na Alemanha do pós- seu partido, a Frente Nacional.
guerra é forte”.
Merkel e Macron, entre outros líderes internacionais,
Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico enfrentam desafios históricos, com objetivo de desfazer
Mundial, escreveu: “É abominável que o AfD, um a ameaça representada por grupos baseados em
movimento reacionário e vergonhoso que lembra o pior plataformas xenófobas e anti-imigração. Nos próximos
do passado da Alemanha e que deveria ser banido, agora anos, Alemanha e França, por exemplo, terão de
conta com a capacidade, dentro do Parlamento alemão, conquistar avanços em áreas como luta antiterrorismo
de promover sua plataforma vil”. e na absorção social e econômica de refugiados, a fim
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67 DEZEMBRO 2017
DESTAQUE
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HISTÓRIA DE ISRAEL
A
“Declaração Balfour” é de grande questão da posse das terras de Eretz Israel. A suposta
importância na história judaica moderna, pois “usurpação das terras” pelos colonos judeus é um tópico
nesse documento a Grã-Bretanha declarava constantemente utilizado pela propaganda árabe. A
“encarar favoravelmente o estabelecimento verdade, como veremos adiante, é que os judeus não
na Palestina de um Lar Nacional para o Povo usurparam as terras, mas as compraram de latifundiários
Judeu”. No entanto, antes de apoiar a causa sionista, árabes.
comprometia-se também com os árabes quanto à
formação de um Estado único e independente. A CORRESPONDÊNCIA
MC MAHON-HUSSEIN
Apesar de serem vagas e contraditórias as promessas
britânicas, historiadores concordam que a Às vésperas da 1ª Guerra, o Império Otomano
“Correspondência Mc Mahon - Hussein”, os “Acordos compreendia Síria, Líbano, Iraque, Palestina,
Sykes-Picot” e a “Declaração Balfour” são os documentos Transjordânia ( Jordânia), parte da Península Arábica
que decidiriam o futuro do Oriente Médio após o e Turquia. Em 1914, o Egito se tornaria oficialmente
desmembramento do Império Otomano no final da colônia inglesa. Em reação às mudanças geopolíticas,
1a Guerra Mundial. o sultão inicia uma “Guerra Santa” (jihad) contra os
aliados1, estratégia comum para fazer com que os estados
Parece-nos adequado analisar esse intenso processo islâmicos se revoltassem contra o domínio anglo-francês.
político ocorrido entre 1914 e 1917, pois envolve a
No momento da declaração da 1a Guerra, o mundo
1
NR. Em relação à história da 1a Guerra Mundial, usa-se o árabe se solidarizou com o Império Otomano, com a
termo “aliados” para os países que assinaram uma aliança militar intenção de impedir uma maior penetração dos europeus
chamada a Tríplice Entente: o Reino Unido, a França e o Império
Russo (a Rússia se retiraria após a Revolução Russa de 1917), para na região e impossibilitar uma eventual conquista dos
lutar contra os Impérios Centrais, o Império Alemão e a Áustria- territórios islâmicos pelas potências cristãs. Os árabes
Hungria, e o Império Otomano. aproveitariam esse apoio para ganhar, do governo turco,
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HISTÓRIA DE ISRAEL
concessões e autonomia. No entanto, assegurasse a coroa do futuro divididas entre Inglaterra e França.
nas províncias árabes, assim como Reino Árabe após a Guerra. Este Os planos de uma “Grande Síria”
na Península Arábica, o anseio movimento nacionalista árabe teve (incluindo a Palestina otomana) sob
pela emancipação era maior e a início em 1915-1916. A promessa de influência francesa era má ideia,
diplomacia britânica trabalhava unificação e independência árabe era principalmente para uma população
para o rompimento definitivo da uma grande farsa diplomática, pois a judaica ligada à Inglaterra pelo
unidade otomana. Os ingleses Inglaterra fechara acordos paralelos reconhecimento e por necessidade.
tentavam, a todo custo, enfraquecer com a França e a Rússia czarista. Esse seria um excelente motivo para
internamente o Império Turco, os ingleses oficializarem seu apoio à
incentivando a revolta das províncias OS ACORDOS SYKES-PICOT causa sionista, fato que aconteceria
árabes. no final de 1917.
Os “Acordos Sykes-Picot” (1916),
O governo britânico, representado tratados entre os aliados durante a A “DECLARAÇÃO BALFOUR”
pelo Alto Comissário Sir Henri Mc 1a Guerra, dividiram a Europa do
Mahon, deu o aval para o ambicioso pós-guerra e o Oriente Médio. Em 2 de novembro de 1917, o
projeto do xerife de Meca, Hussein Os acordos previam para Jerusalém Ministro de Relações Exteriores
bin Ali Hussein: restabelecer uma administração internacional, da Grã Bretanha, Lord Arthur
James Balfour, comunicava ao
representante da Organização
Sionista Mundial, em Londres,
Lord Walter Lionel Rothschild:
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HISTÓRIA DE ISRAEL
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REVISTA MORASHÁ i 98
73 dezembro 2017
HISTÓRIA DE ISRAEL
BIBLIOGRAFIA
Granott, A., The Land System in Palestine.
London, Eyre and Spottiswoode, 1952.
Kleiman, A., “The Palestine Royal Comission:
1937”. Garland Publications, 1987.
Sachar, M. Howard, A History of Israel from
the Rise of Zionism to our Time. Alfred A.
Knopf, 1976.
Stein, K., The Land Question in Palestine,
1917-1939. University of North Carolina
Press, 2009.
74
REVISTA MORASHÁ i 93
Extremamente interessante a Recebo a revista Morashá, mas quero Recebemos o material enviado a
matéria sobre Ética Medica Nazista, que minha filha, Marcia Rakoski, esta Fundação, em cumprimento
que acabei de ler on line. Muito comece a recebê-la porque meu neto à legislação vigente de Depósito
perturbador saber que dois médicos está se interessando em continuar Legal. Agradecemos esta importante
de renome foram nazistas. Adorei a nosso legado como judeus. contribuição para a preservação
matéria sobre a Polônia. Parabéns! Simão Stainer e a guarda da Coleção “Memória
Max Rotenberg
Paranavaí - PR Nacional”, composta pela produção
Rio de Janeiro - RJ intelectual do País.
Meus profundos agradecimentos Alessandra Moraes
Sou professor de História e Filosofia pelo lindo trabalho de tantos anos de Chefe da Divisão de Depósito Legal
e acabei de acessar o site, não dedicação. Digo isto, pois, retomei Fundação Biblioteca Nacional
Ministério da Cultura
conhecia. Ao ler as chamadas dos as edições Morashá de setembro Rio de Janeiro - RJ
textos fiquei impressionado com a dos quatro últimos anos, com as
quantidade de material à disposição, suas mensagens, fotos, qualidade
Essa revista é tão maravilhosa
parece uma enciclopédia judaica. Ao gráfica e, sobretudo, a profunda
que quando terminamos de lê-la,
ler alguns dos textos achei as matérias inspiração nas entrelinhas. Queria
ficamos querendo mais e mais.
muito instrutivas e gostosas de ler. me sentir acolhida à distância, ler em
Revista fantástica em conteúdo e em
Vi que traz assuntos dificilmente português as mensagens e ao mesmo
apresentação. Parabéns a todos.
encontrados com tamanha clareza tempo partilhar a alegria de estar em
e profundidade em outros sites. Jerusalém pensando em toda a equipe, Joanna Quintana
Por e-mail
Meus parabéns. Ao ler a matéria neste instante. Profunda gratidão é a
“Significado dos alimentos simbólicos minha partilha. Que o brilho desta
Conheci a Morashá através do Nº 97,
de Rosh Hashaná”, entendi o porquê revista continue por muitos anos.
Setembro 2017, em uma Biblioteca
de usarmos esses alimentos; sempre Sylvia Lakeland Pública do Rio de Janeiro. Parabéns!
Jerusalém - Israel
achei que era apenas um folclore. Me Matérias de alta qualidade, e tudo
interessei muito sobre o Krav Maga, e Renovo o entusiasmo por esta Revista. apresentado com um bom gosto
achei a matéria sobre a Polônia muito Além da bonita apresentação, seus único.
interessante. Meus avós são poloneses artigos habilmente selecionados, Vera Regina Affonso Basilio
e nunca quiseram nos contar sua entre os quais, a Carta ao Leitor; Rio de Janeiro - RJ
história. detalhes importantes sobre a Guerra
Marcio Kolipstein de 1967 e a Batalha de Jerusalém. Quando bem jovem ainda, na Bélgica,
Por e-mail
O que mais me impressionou foi o visitei Israel e fiquei um pouco mais
fato de rabinos ajudarem seus alunos de um mês no Kibutz Ein Carmel,
Há muitos anos recebo a Morashá a cavar trincheiras. Todos os demais perto de Haifa. Tive assim a sorte de
e a considero a melhor revista da artigos publicados são, como sempre, conhecer melhor esse ideal de vida
comunidade, tanto pelo conteúdo muito interessantes e servem para compartilhada que, infelizmente, já
como na produção gráfica. É esclarecer conhecimentos e dúvidas. começava a receber fortes críticas da
um orgulho ter esta revista na Aos componentes desta portentosa geração mais jovem. Leio a Morashá
comunidade, continuem assim. publicação, minha constante admiração. com muito interesse.
Flavio Derdyk Prof. Maurício Ary Jalom Dra. Theresa Calvet de Magalhães
São Paulo - SP Rio de Janeiro - RJ Belo Horizonte - MG
75 dezembro 2017