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RESUMO
O presente artigo tem por objetivo discutir um tema até então pouco estudado no campo
da antropologia, que é as artes marciais mistas, mais conhecido como MMA (Mixed
Martials Arts). Nosso trabalho consiste na observação de um grande evento midiático,
atualmente o mais importante e mais lucrativo desse mercado de lutas, chamado UFC
(Ultimate Fight Championship), mais precisamente o evento intitulado UFC 168, que
ocorreu no dia 28 de dezembro de 2013. Nossa perspectiva parte de uma discussão atual
na Antropologia, um campo ainda pouco explorado, mas bastante rico e inovador, a
chamada antropologia da performance. Nessa perspectiva estaremos preocupados com
processos ligados a prática, a ação em si, a performance dos lutadores, seus ensaios
repetitivos de aprimoramento de técnicas ligadas as artes marciais, de performances dos
lutadores no momento de um evento midiático, de suas ações e palavras na promoção
antes e na repercussão dessas ações pós-evento também. Inicialmente apresentaremos
uma revisão da literatura sobre a Antropologia da Performance tentando deixar mais
claro, quais são os objetivos desse campo e a perspectiva analítica que esta propõe;
posteriormente apresentaremos nosso referencial teórico; mais adiante faremos a
descrição de nosso percurso de pesquisa trazendo as descrições de nossa observação
etnográfica e por fim, as últimas considerações e proposições para um entendimento
mais aprofundado desse tipo de fenômeno aqui analisado.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo discutir um tema até então pouco estudado no
campo da antropologia, que é as artes marciais mistas, mais conhecido como MMA
1
(Mixed Martials Arts). Nosso trabalho consiste na observação de um grande evento
midiático, atualmente o mais importante e mais lucrativo desse mercado de lutas,
chamado UFC (Ultimate Fight Championship), mais precisamente o evento intitulado
UFC 168, que ocorreu no dia 28 de dezembro de 2013. Nossa observação consistiu não
só no evento em si, mas também em algumas chamadas midiáticas realizadas antes e
após o evento.
Tal observação está vinculada a um olhar de cunho antropológico, entretanto não
pautado numa antropologia clássica, na busca de representações sociais, de significados,
de questões simbólicas ou identitárias, nem a partir de questões que permitam
compreender motivações ou interpretações de atores sociais. Nossa perspectiva parte de
uma discussão atual na Antropologia, um campo ainda pouco explorado, mas bastante
rico e inovador, a chamada antropologia da performance.
Nessa perspectiva estaremos preocupados com processos ligados a prática, a
ação em si, a performance dos lutadores, seus ensaios repetitivos de aprimoramento de
técnicas ligadas as artes marciais, de performances dos lutadores no momento de um
evento midiático, de suas ações e palavras na promoção antes e na repercussão dessas
ações pós-evento também.
Compreender essas questões se torna um desafio ainda maior, visto que nossa
prática de pesquisa até então não se tinha dado por essa via intelectual, uma vez que a
formação clássica da antropologia está mais vinculada a sentidos e significados das
ações, do que um olhar mais vinculado ao ato e os ritos em si. A própria observação
etnográfica exige um esforço mais apurado, que deve ser orientado por um conjunto
teórico novo e pouco discutido em língua portuguesa.
A motivação para tal trabalho se deu a partir de nossa participação em uma
disciplina do mestrado do PPGCS (Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais) da
UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) no ano de 2013 sob a orientação do
professor Rodrigo Grünewald, que nos convidou a refletir e discutir esse campo da
Antropologia da Performance de uma forma muito interessante e desafiadora.
A escolha de trabalhar a observação de um evento de MMA, se deu pelo fato de:
primeiro temos uma grande afinidade, enquanto expectador desse evento, assistindo
praticamente todas as exibições que passam durante o ano em canal de TV paga;
segundo, ao refletirmos sobre o campo da performance entendemos que as artes
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marciais mistas compreendem uma série de ações dos atletas, que permitem pensarmos
questões relativas a instituição de atos performáticos necessários para a obtenção, no ato
da competição, de uma vitória, o que exige treinamento específico, ensaio,
aprimoramento de técnicas; terceiro, que o próprio evento UFC se torna uma grande
performance midiática, que exige dos lutadores além de uma técnica de luta, a
promoção deles na construção de uma imagem de atleta que tem que tirar fotos, dar
entrevistas, encenar e teatralizar em meio a uma demanda de consumo e de
expectadores interessados em observar tais performances.
Dessa forma, este trabalho está dividido da seguinte forma, inicialmente
apresentaremos uma revisão da literatura sobre discussões teóricas a respeito da
Antropologia da Performance tentando deixar mais claro, quais são os objetivos desse
campo e a perspectiva analítica que esta propõe; posteriormente procuraremos deixar
claro especificamente qual é o nosso referencial teórico; mais adiante faremos a
descrição de nosso percurso de pesquisa trazendo as descrições de nossa observação
etnográfica do evento proposto e por fim, as últimas considerações e proposições para
um entendimento mais aprofundado desse tipo de fenômeno aqui analisado.
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partir de estudos ligados a “ritos de passagem”, cuja expressão teórica principal teve
inspiração na obra de um autor chamado Van Gennep (1978). Entretanto Turner procura
diferenciar “ritos de passagem” de “dramas sociais”, como afirma Silva (2005) que:
“Esse autor parece sugerir que, no processo da vida social, os dramas emergem
demarcando a relação dialética entre 'estrutura' (que representa a realidade cotidiana) e
antiestrutura (momentos extraordinários, definidos pelos 'dramas sociais')”.
Nesses termos Turner (1974) parte para pensar em termos de estrutura,
influenciado pela antropologia britânica e cria termos como comunitas e liminaridade,
cujo primeiro estaria ligado a noção de estrutura e o segundo a anti-estrutura. Nesse
sentido Turner ao pensar os dramas sociais, está preocupado em entender formas
criativas de ressignificação do mundo a partir das seguintes etapas por ele apresentadas,
que se inicia com um processo de ruptura, crise, solução e reagrupamento.
Em resumo, nas palavras de Landon (2007) podemos compreender que: “O rito,
ou performance cultural, é um evento crítico, que é marcado por uma ruptura no fluxo
da ação social, por um limite temporal, e os atores sociais que estão, de alguma maneira,
manifestando sobre seu mundo”.
Outra perspectiva interessante e vinculada a esse campo da performance está
ligado as ideias de Goffman (1985), em sua obra “A representação do Eu na vida
cotidiana”, onde o referido autor trabalha com uma noção de representação de papéis
sociais de indivíduos que atuam diante de uma plateia ou audiência, com objetivo de
participar de uma espécie de jogo social na defesa de interesses próprios. Nesse sentido
o mundo social é um palco onde os indivíduos são atores sociais interpretando um
gigantesco teatro, cuja plateia é a sociedade que o cerca.
É importante ressaltar que no campo da performance a expressão ritual está
vinculada não só a uma concepção clássica ligada a símbolos e processos vinculados ao
sagrado e profano, mas num sentido mais abrangente capaz de perceber que rituais são
processos que envolvem performances diversas, atos e ações, papeis sociais que não
estão vinculados apenas a estrutura social que o indivíduo está inserido, a papeis
formais ou oficiais, mas a processos diversos que podem inclusive negar ou modificar a
estrutura vigente.
Em termos práticos, nos faz pensar que os indivíduos atuam num mundo para
além de uma estrutura social, entendendo essa estrutura como os aspectos formais,
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regras, normas e valores vigentes. No campo dos esportes, mais especificamente o que
pretendemos estudar, as competições de MMA, que empregam a violência em atos que
no campo vigente das relações sociais, seria complicado as pessoas se baterem,
implicando em sanções sociais e processos jurídicos, mas no momento do espetáculo
midiático, essa violência passa a ser um processo de encenação, controlada e vigiada,
capaz de canalizar na plateia as contradições a ela existentes em um dado momento e
que ao ser encerrado, volta-se a estrutura vigente.
Dentro dessa questão podemos definir que, segundo Silva (2005): “O trabalho
etnográfico consiste justamente, para Turner, no exame da articulação da trama
dramatúrgica das relações simbólicas performática, com o jogo das relações sociais na
vida cotidiana”. Nesse sentido, entender as performances de um drama social é
compreender melhor a própria sociedade que está inserido.
Outro autor que apesar de não diretamente estar vinculado a estudos de
performances, mas que tem trabalhos que podem ser pensados indiretamente dentro
dessa perspectiva é o americano Clifford Geertz. Para esse autor, a partir da leitura de
Silva (2005):
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de determinado contexto cultural observado.
Geertz também se apresenta como um teórico crítico de Turner, principalmente
no tocante a não considerar que a proposta analítica de Turner deva ser encarada como
aplicável a todo e qualquer fenômeno, uma vez que Geertz está vinculado a pensar que
as interpretações do campo cultural são diversas e passíveis de interferências subjetivas
em diferentes contextos e permeados de uma teia de significados diversos.
Vale salientar também uma perspectiva de um autor chamado Bauman esse
talvez como sendo um dos que inaugura os estudos sobre performance. Bauman se
preocupou sobre como as pessoas produzem a performance e como identificar os tipos
de performances existentes. Segundo Langdon (2007):
A grande ressalva que precisa ficar clara é que nem todo ato de comunicação
implica em um ato performático, uma vez que dentro de uma perspectiva de um autor
chamado Jakobson (1960), a performance apresenta uma “função poética”, ela se
apresenta como um ato comunicativo, mas a ênfase a ser dada não está no conteúdo a
ser comunicado, mas sim na sua forma de expressão prática.
A discussão sobre Antropologia da Performance é extensa e não tem a pretensão
de ser encerrada aqui nesse trabalho, muito menos nesse tópico, nosso objetivo foi
apresentar de forma bem sucinta e geral algumas perspectivas fundantes e necessárias
para se compreender esse campo da antropologia que sem dúvidas inovou o olhar dos
antropólogos e abriu um leque de possibilidades para a reflexão e compreensão de
outros aspectos culturais e sociais existentes.
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vinculados a uma perspectiva voltada para questões de entretenimento, esportes,
espetáculos e formas de expressão teatral, corporal e ligadas a questões que envolvem o
performer se apresentando a uma audiência.
Uma característica diferente em sua concepção sobre performance está ligada a
dois tipos pelos quais são classificados em dois grupos, as que envolvem “eficácia”,
portanto, aquelas que provocam mudanças na sociedade, nos papeis e nas posições dos
atores sociais envolvidos, e as performances ligadas a “entretenimento”, que seriam
aqueles ligados a fenômenos teatrais e espetacularizados, que não alteram de modo
significativo a sociedade. O primeiro estaria ligado a fenômenos como “ritos de
passagens”, “dramas sociais”, “ritos de iniciação”, já o segundo vinculado ao campo das
artes, dos esportes e dos negócios, etc.
Alguns conceitos desse autor são de fundamental importância para nosso
trabalho, uma vez que nosso objetivo está ligado a entender um fenômeno ligado a um
grande espetáculo de massas, midiatizado e que está ligado ao campo do
entretenimento. Schechner é fundamental nesse percurso de análise de tais
performances aqui estudadas e muitos de seus conceitos serão aqui utilizados.
Em seu trabalho intitulado “Performance studies: an introduccion, second
edition”, de 2006, Schechner faz uma introdução básica sobre o que considera
performance, suas principais e fundamentais características, inclusive dando grande
apoio a compreensão desses fenômenos sugerindo formas de observação e análise dos
diferentes tipos de performance existentes.
Segundo Schechner (2006):
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Para complementar essa perspectiva, podemos ainda citar Silva (2005), que nos
diz que:
Isso é de grande relevância quando nos referimos as artes marciais, que teve seu
principal referencial fundador os países de cultural oriental, em especial China e Japão,
que por diversas gerações foram transmitidas e fundadas em preceitos culturais ligados
a disciplina e eficiência de golpes capazes inclusive de substituir o uso de armas.
Os praticantes de artes marciais mistas (MMA) possuem um tipo de treinamento
diário diferenciado, muito pesado e frequente, que envolve o treino de diversas artes
marciais diferentes, que misturam técnicas de soco, chutes, joelhadas, cotoveladas,
aplicação de quedas e ataque e defesa de chaves usadas em situação de luta de solo.
Assim como nos diz o próprio Silva, a luz de Schechner, que o: “'comportamento
restaurado' nada mais é do que um 'modelo' que instrui o performer como deve, ou
deveria, atuar (desempenhar o seu papel), num palco teatral (...)”.
E para além das técnicas propriamente de lutas, há uma disciplina no controle do
peso dos atletas, uma vez que as lutas do UFC são organizadas em diferentes tipos de
categorias por peso, que são: Peso Pesado (93 a 120 kg); Meio-Pesado (84 a 93 kg);
Médios (77 a 84 kg); Meio-Médios (70 a 77 kg); Pesos Leves (66 a 70 kg); Peso Pena
(61 a 66 kg); Peso Galo (58 a 61 kg); Peso Mosca (52 a 56 kg); Peso Galo Feminino (58
a 61 kg)desde o peso mosca (até 57kg) até o peso pesado (até kg) num total de 9
categorias diferentes. O lutador então num processo rigoroso de controle do peso,
precisa atingir o limite de sua categoria para poder lutar, sem perder parte da bolsa, no
caso sua remuneração, ou não ser desclassificado.
Há lutadores que chegam a perder mais de 10kg antes da luta, a pesagem é
promovida faltando um dia para o evento, e esses lutadores acabam recuperando grande
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parte do peso que perderam. Inclusive a perca de peso exige uma série de performances
do atleta, como exercícios intensos antes da pesagem, dieta rigorosa, sauna quente,
imergir em uma banheira com água quente após ter recebido em seu corpo um produto
para que possa ser desidratado. O controle do corpo desses lutadores é intenso e exige
técnicas corporais rigorosas.
Bourdieu nos joga uma problemática interessante, uma vez que trás a tona uma
discussão no sentido de encarar o esporte não apenas como uma questão vinculada a
processos teóricos ou pedagógicos, que aparentemente se apresentam como de primeira
ordem a serem analisados pelas ciências sociais. Bourdieu sugere e indica que para além
de processos teóricos ou de linguagem, a prática e o corpo são essenciais para se
compreender um campo que é eminentemente prático, performático e pautado na
construção de um corpo que além de ser educado teoricamente, é moldado em técnicas
esportivas, que tanto precisam ser aprendidas intelectualmente como aperfeiçoadas
tecnicamente.
De fato, um discípulo de Bourdieu, o sociólogo, Loic Wacquant (2002) expressa
essa questão levantada por Bourdieu, ao estudar o Boxe em seu livro “Corpo e Alma:
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Notas etnográficas sobre o boxe”, nos mostrando em seu estudo que: (…) o boxe é uma
atividade que parece estar situada na fronteira entre a natureza e cultura, no próprio
limite da prática, e que, no entanto, exige uma gestão quase racional do corpo e do
tempo, de fato extraordinariamente complexa, (…). (WACQUANT, 2002, p. 34). Nesse
sentido o boxe, e no nosso caso podemos remeter as artes marciais mistas, pensar o ato
as ações a prática e ao que ele fala, de uma gestão do corpo e do tempo.
Wacquant (2002) ao promover um estudo etnográfico sobre o boxe, nos dá uma
excelente descrição sobre um esporte de luta e ao falar de sua experiência de imersão
nesse campo esportivo, nos ensina que se há um esporte que é marcado eminentemente
mais pela ação do que pela reflexão, seria o boxe, onde:
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Nesse sentido a prática esportiva, que envolve o corpo, práticas corporais e sua
moldagem, seja para qual fim, um deles haverá de ser o de perseguir performances, e
não é apenas a prática esporádica, mas a prática regular de exercícios, ou seja, é preciso
mais do que a mera repetição de movimentos, é preciso se entregar a uma prática
sistemática do ato de exercitar o corpo. É dentro disso que podemos pensar que atletas
de MMA buscam alta performance e estão vinculados a esse processo regular de treinos
do corpo. O próprio Wacquant em seu trabalho se rendeu a prática regular do boxe,
empreendendo não uma “observação participante”, mas uma “participação observante”,
sobre o mundo do boxe.
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A primeira luta, em junho, deixou mais dúvidas do que certezas. Tido
como um lutador "perfeito" e "imbatível", Anderson Silva deu
declarações enigmáticas por toda a semana do combate, falando sobre
o peso que sentia como campeão do UFC, o que culminou numa
apresentação bizarra em que extrapolou seu famoso estilo provocador,
a ponto de fingir estar balançado por um golpe para atrair o
adversário. Foi justamente este o momento que Chris Weidman,
conhecido por seu excelente jogo de chão, aproveitou para desferir um
poderoso gancho de esquerda, que conectou "no botão" do queixo e
levou o Spider a nocaute pela primeira vez em 16 anos de carreira.
(http://sportv.globo.com/site/combate/noticia/2013/12/weidman-e-
spider-se-reencontram-para-encerrar-duvidas-no-ufc-168.html)
É importante frisar que os eventos do UFC são marcados por 12 lutas, sendo 6
lutas do card preliminar e 6 lutas no card principal, a maioria são realizadas em 3 rounds
de 5 minutos cada, exceto disputas de cinturão e eventos principais em geral (última luta
da noite), que duram 5 rounds de 5 minutos cada.
Nosso objetivo nesse trabalho é apenas observar e descrever as performances
ligadas a luta principal do UFC 168 entre Weidman e Anderson Silva. O que não furta
do fato de termos que explicar também o funcionamento desse evento em termos de
performances, já que há premiação pelas melhores performances de luta da noite,
classificadas em: melhor finalização da noite, que ocorre quando um lutador aplica um
golpe de finalização, como uma chave de imobilização em alguma parte do corpo e faz
com que o adversário desista da luta, vence a performance mais bem aplicada
tecnicamente e mais bonita, ou mais “plástica”, conforme linguajar do MMA; há
também o melhor nocaute da noite, do qual é premiado o lutador, que com o golpe mais
belo e mais consistente do ponto de vista performático do entretenimento leve seu
adversário a nocaute técnico, ou TKO; por fim, temos a melhor luta da noite, como o
próprio nome já define, aquela luta que trás reviravoltas, grandes embates entre os
adversários, golpes emblemáticos de ambos os lados, vencem essa modalidade, no caso
ambos os lutadores que promoveram a luta, mesmo que haja a derrota de um.
A visualização das performances de luta são observadas atentamente pela
audiência presente no evento, e também de quem está assistindo na TV através do
recurso de câmera lenta. Inclusive as propagandas do UFC 168 foram marcadas por
chamadas de repercussão da luta principal do UFC 162. Esse artifício técnico visual se
tornou algo fundamental na promoção das lutas, inclusive o próprio Schechner nos
afirma que:
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“(...) Graças a difusão da fotografia em câmera lenta e do replay, até mesmo
“esportes brutos” como o futebol, a luta-livre, e o boxe produzem uma
dimensão estética, que fica mais transparente na revisita do que na própria
ação tumultuosa e repentina. Uma contribuição artificiosa é a exibição cheia de
escárnio e de vitória de atletas que dançam e saltitam sua superioridade”.
(SCHECHNER, 2006, p. )
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Weidman e Anderson Silva, a revanche. Nas palavras de Weidman, ele descreve um
pouco das performances que empreendeu em sua preparação, segundo o americano:
Acho que uma das maiores vantagens que tenho nessa luta são meu
wrestling e o meu jiu-jítsu. Meu preparo físico está excelente,
principalmente pelos meus parceiros de treino. Eu me preocupo muito
com isso, e acho que hoje é também um dos meus trunfos.
(http://idest.com.br/noticia.asp?id=51141)
Reparem que Weidman se refere a preparo físico, técnicas de luta como jiu-jitsu
e wrestling, isto é, uma série de atos performáticos, que segundo ele são suas vantagens,
e trunfos para conquistar a vitória sobre seu adversário.
Outro espaço de divulgação interessante do evento se trata do momento da
pesagem, que como falamos anteriormente, ocorre um dia antes da luta. Nesse momento
todos os lutadores se pesam e imediatamente cada dupla de lutadores adversários
empreende a performance da “encarada”, quando ficam cara a cara, posando para fotos,
se provocando com olhares fixos um no outro. Após a encarada eles se cumprimentam,
ou não, e quando não ocorre o cumprimento, fica uma onda de tensão no ar, que permite
a audiência presente no momento da pesagem a se manifestar com vaias ou aplausos.
A pesagem exige uma dupla performance, uma física, da preparação para a
perda de peso, já que é preciso pelas regras “bater o peso” certo, e as expressões verbais
em entrevista e corporal na encarada, do qual é feitas posições de luta entre os lutadores
frente a frente, que as vezes usam de comportamento curioso e engraçado, como
Anderson e Weidman no UFC 162, que praticamente chegaram a tocar os lábios na
encarada.
Eis que após todos esses momentos de aquecimento para o evento principal,
surge a transmissão do UFC 168, com uma audiência que lotou o ginásio do MGM
Grand Garden Arena gritando em coro gritos de “Uh vai morrer, uh vai morrer”, que já
são marcas registradas dos brasileiros. Mesmo em Las Vegas, EUA, era possível ver
com grande intensidade os gritos em português dos brasileiros provocando os
adversários americanos. O envolvimento da audiência não interfere diretamente na luta,
mas cria um ambiente de aquecimento ou de esfriamento da plateia de acordo com as
performances de luta.
No caso que estamos aqui dispostos a descrever e analisar, a luta de revanche
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entre Anderson e Weidman, valendo o cinturão do peso-médio, foi algo empolgante no
começo e frustrante no final. Para sermos fiéis a descrição, optamos em citar uma
matéria de um site especializado em notícias de MMA, o “Super MMA”, que descreveu
a luta da seguinte maneira:
A reportagem acima citada foi publicada praticamente após a luta ter ocorrido, e
houve apenas um erro, num dado momento da descrição, o de que Anderson havia
quebrado o tornozelo, uma vez que sua fratura foi um pouco mais grave, ele fraturou a
tíbia e a fíbula.
Elementos da luta que marcaram o primeiro round entre os dois lutadores, foi a
técnica de Weidman em “colocar pra baixo”, ou “aplicar uma queda” em Anderson
Silva, promovendo no chão, com Weidman por cima do corpo de Anderson, golpes de
cima para baixo, técnica qual é chamada de ground and pound.
Mas especificamente pensando na lesão, que definiu a derrota de Anderson por
nocaute técnico, com interrupção do árbitro, o brasileiro se utilizando de técnicas de
chutes do Muay Thay destinados a atingir a parte inferior da coxa do americano, que por
sua vez se defendeu com outra técnica, agora, de defesa do Muay Thay, que é levantar a
perna para que os chutes de Anderson fossem neutralizados de modo a não permitir que
os chutes fossem eficazes em atingir a coxa, mas sim a parte dura do joelho que é mais
forte que a perna, levando a Anderson sofrer uma lesão.
Esse momento final da luta foi bastante repetido em câmera lenta, mostrando a
perna de Anderson como se tivesse solta, se balançando, causando gritos de espanto da
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plateia que assistia no ginásio.
Por fim, o evento é concluído com a mão de Weidman levantada pelo árbitro, o
cinturão de ouro com emblema do UFC na cintura do americano, que consequentemente
ergue a bandeira americana com os braços levantados. Imediatamente dá entrevista no
próprio octógono (espaço em que ocorre a luta), elogiando Anderson e lamentando o
ocorrido, mas convicto que fez seu trabalho performático com eficiência suficiente para
continuar sendo considerado o campeão da categoria peso-médio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho foi uma espécie de ponto de partida para que outros autores
busquem observar esse fenômeno do MMA, e das práticas esportivas ligadas a eventos
de entretenimento a partir de um olhar da antropologia da performance.
Nossa curiosidade, sobre elementos corporais, técnicos e performáticos do
MMA dentro do UFC está ligada a questão de que, todo e qualquer conteúdo lançado
seja no momento da promoção, divulgação e transmissão ao vivo do evento, todos esses
espaços estão intimamente ligados a performance dos lutadores, e sem estas
performances não é possível pensar em conteúdo publicitário ou de entretenimento.
Não chegamos a estar pessoalmente no presente evento que descrevemos,
apenas observamos através da transmissão ao vivo na TV, das propagandas também da
TV e da Internet, assim como a pesagem vista ao vivo pela Internet.
Sabemos que em termos de um olhar antropológico, as observações
empreendidas seriam muito mais ricas se fossem feitas in loco, o que desde já temos
como compromisso posterior de promover, para que além da observação da
performance dos lutadores, seja possível sentir o clima de envolvimento da audiência,
principalmente na observação das imagens em câmera lenta nos telões, a reação da
torcida na hora de um determinado golpe desferido, de uma finalização, enfim, do
momento da dramatização, do teatro performático da luta, que afeta a todos os
envolvidos num clima onde o que mais importa é promover a melhor performance
garantindo a vitória de um lutador sobre o outro.
As performances verbais nos momentos de provocação, entrevistas e matérias
midiáticas promovidas com os lutadores é outro momento rico que merece observação,
nos atemos pouco a isso, mas, mesmo assim, percebemos que eles fazem parte do
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entretenimento, da venda do evento, e estão embebidas de questões de ordem técnicas,
sobre as melhores técnicas de treinamento e condicionamento físico dos lutadores.
Finalizando, mas não concluindo, pois ainda temos muito a pensar sobre tal
fenômeno. Entendemos que o olhar antropológico sobre a performance, no caso aqui de
lutadores de MMA, exige um outro tipo de performance acadêmica, capaz de pensar a
experiência humana não ligada ao que as pessoas pensam sobre determinado fato, já que
estaríamos aqui partindo de campos simbólicos de representação cultural e social, mas
de pensar a prática, o ato, as técnicas e performances em si, que são humanas, culturais,
sociais e acima de tudo são parte de uma experiência antropológica riquíssima em dados
etnográficos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TUBINO, M. J. G. 1990. Por que Homo Sportivus? In: TUBINO, M. J. G.;
CAPINUSSÚ, J. M.; FERREIRA, V. L. C.. Homo Sportivus. Rio de Janeiro: Palestra
Edições Esportivas.
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