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Museus, Nag&o e Patriménio Museu, nagao, acervo Dominique Poulot Arige baseado na conferéncia “Museus, Nagéo ¢ Patriménia”, realizada em 7 de outubro de 2002. 26 Noticia Biogrdfica Dominique Poulet Froncts, narcide em 1956, foi clunc de Escola Normal Superior de SainCloud, onde obteve suo gradvacdo em Histéria em 1978. Cursou a Ecole d’Haules Fludes en Sciences Sociales ¢ foi também bolsists na Ecole Francaise de Rome nos anes de 1981 @1982. Ne ono seguinte tornou-se protessor na Universidade de Grenoble ||, onde permanaceu até 1997. Dovior em Histéva pols Universidade de Paris 1, defandeu, em 1989, ¢ tese Le passé en REvolvlion. Essai sur les arigines irtellectuelles du patimoine ef la formation des musées, 1774-1830, Apés ume temporada ds estudos em Florenga, Wlio, entre 1990 & 1991, regressou 6 Universidade de Granoble, onde reclizoy pesauisas em toro ia histéprie do potriménia na Franca, Membro jdnior do lnslituto Universtiio de Franca, entre 1992 #1997, Poulot tomou-se, em 1998, responsével pele habililagS0 20 doutoramenta (DEA) de discipli- 80 “Estudos da Cidade" da Universidade de Tours. £ membro do Comité de Histévia 62 Ministério do Cultura. autor de diversas livros sobre hi érie da patrimdnic e dos museus da Frence. Portinde de cansistonte delimitecéo tebrico do tema, o autor eslabelece que qualquer histérie da institu 0 do cullure deve criar lacos entre o hisidria do status ¢ do valor des abjetos de cullura, numa pont, © a histério das identidedes socieis e polilicas, no outra porta, Frisando que néo abondard a problemé- fica da progriedade e do nascimento do indviduo madema, e considerande que ¢ volor de gosto ov 0 valor de maméria de determinads objeto é prerogative de um govema das caisas, © arigo busco ullropssar uma histéria dos objatos imogineda sob a forma de crénica de circulagées mais ou menos erréticos e da percursos mais ou menos sugestivos. Levonda em conto o atuclestégio de desenvolvimento dos estudes de cultura matarial buses colocar em evidéncia a qualidade porticular de determinodos abjctos sem secair no fetichismo, ov no modo desse lelichisme, que nade mais & de que um edo sxocerbado dos ebjeles no compo de uma porte dos ciéncias socicis ~ espectto recomtenta no obra de diverses autores contemporaneos, Por essa perspective, o foco se concentra sobre o geste ¢ 0 estilo do proprielér, do sabio, do amadar, da ortesdo, seus processes e aperacées ds Irabalho e de gozo, suas PrGticas segunde « diferenca sexvot, levando sempre em considerogéo 0 objate, suas quolidades, suo materialidade. © compe essin definido de ume percepcao e de uma representagéo dos objetos permite oproximor os madalidadas de acumulagae destes, de sev aprondicado, de seu extudo, de uma eventual ‘sujeigé0 a sev local, sempre lavande em conta o sus malerielidede. Palavras-chave histéria; meméria; nagdo;patrimanio cultural; museus; colegées; cultura material, Tradugde do Fruncis Regis Willaume. 26 Qualquer histério da instituigdo da cultura deve criar lacs enire a histéria do status e do volor dos objetos de cultura, nume ponta, e histéria dos identidades sociois € politicas, na outra ponte, Nao evocoremos aqui a problemética do propriedade e de nasciments do individuo moderno, que é um tema cléssico tonto para a histéria econdmi- ca quonto para a histéria das idéias politicas’. Também ndo se trote de se sacrificar as diversas filosofias pés-modernas, que se fornaram centrais aa economia contemporénea dos discursos sobre os sistemos de objetos?. Oactmulo de vestigios e de restos, rvinas, reliquias ¢ dreas obendonadas diverses que oflororom, foram conservades @ roapropriados — o que & perceptivel mais especio!- mente no literatura? parece atender & produgéo de orlefatos; como se a lernada em consideragdo de uma heranga comum, formada por uma quantidede de objetes a serem selecionodos, respandesse & permanente renovacae dos consumes. Simultaneamente, © “acervo” parece acomporihar os cniversérios € os comemoragbes, Construidos em espe- Iho, 0 consumo eo conservacéo elaboram um catdlogo de objets notéries para se ape- gar. Estimar 0 valor de gosto ou 0 valor de meméria de determinade objeto corresponde: 6. uma atirmagao de si ov do grupo, am oposictio ou em paralelo a cutres abjetos € outros sujeitos. Esse discurso tem porceria com uma retérica da experigncia ou da paixéo, do reconhecimento ou de lembranca — em summa, ele se inscreve numa perspective de recep- G80, & imegem do moderna sistema de belos-artes desde a invengtio da estética’. A leorio geral da recepcéo envolve aquila gue o historiador de literatura H.R. Jouss denominave “horizonte de expectativa’, ou seja, “o sistema de releréncia objelivamente formulével que, para cada obre, no momento da histéria onde ele aparece, resuliam tr8s fotores principois: a experiéncia prévia que o publica possvi do género do qual ela pro yém, a forma ¢ a temdtica de obras anteriores que ela pressupde conhecer ¢ a opesigao: entre o mundo imaginério ¢ a realidade quotidians”. Seré sob a inspiracdo dessa andlise que pretenderemos imaginar aqui o horizonte de expectativa que o século XX forneceu & patrimoniclizegdo. Afirmor o volor de gosto ou 2 volor de maméria de determincdo objeto é prerraga- tiva de um governo das coisas ~-¢ olé mesmo de claboracdo de conceitas, mas é também uma ofirmaggo de si ¢ de outrem essociada @ uma relérica, a experiéncias cemporiiha- dos, ao reconhecimento de lembrongos comuns®. Até enlde, o histdria dos coisas dava énlase er mostrar o quanta os objetos sao fetos — produzides, criados, imaginades, ar concebidos ~ pelos homens; mas as obje'os também so, durante o longo século XVII, ume condigéo e um recurso dos homens ne sociedade. Especificamente, trata-se de ultra~ possar ume histério dos objetos imaginada sob a forma de uma crénica de circulagdes mais ou menos erréticas, de percursos mais ov menos sugestivos (os destinos criticos, as biogratias sociais, os itineraries de objetos} para insistir nos respansdvels por sua triogem, nas instituigSes que organizam seus destinos - aqueles que inventom as pedras de toque e 98 padrées, oqueles que fixam fronteiras, delimitam territérios @ brincam de guorda-can- celas (gate keepers)’. Alem disso, desejamos, no atual estagio de desenvolvimento dos moierial culture studies, insistir ne especificidade dos objetos “que contam”: colocar em evid8ncia c qualidade particuler de determinades abjetos sem recoir no fetichismo, au no. medo desse fetichismo, que neda mois é do que um medo exacerbada dos objetos no campo de uma parte dos ciéncios sociais - conforme idéias que vdo de Bruno Latour a Daniel Miller ou Antoine Hennion — representam toda uma corrente da pesquisa contem- poranes. Seria oil desenvolver, dentro de ume perspectiva historiogréfica, aguilo que Chorles Taylor denominava “hiperbens", 6 sober, cbjetos-valores inaprecidveis. Por essa perspeciiva, seria interessante destacor © trabalho de si sobre si, 0 gesto ¢ 0 estilo da proprietario, de sdbic, do amador, do artesdo, seus processos e operagées de trabalho ¢ de gor0, suas prétices segundo ¢ diferenga sexual, levanda sempre em consideragéo 0 objeto, suas qualidedes, sua materialidade. © compo assim definido de uma percepyao e de umo representacac dos objetos permite oprey war a5 modolidades de acumulagio destes, de seu aprendizado, de seu estudo, de uma eventual sueigée a seu local, sempro levando em conta a sus materialidade®, 1—Consumir: 9 afirmagao da gox0 O esiudo das culiuras materiais entrou, hé pelo menos uma geragGo, no registro da historiografic des tempes madernos. Embora ele disponha, agora, de manucis ad hac, bem como de revistas especiclizadas em nimero cada vez maior, a exemplo dos outros compos cléssicos da histéria?, trata-se menos de um novo territério disciplinar e mois de uma problemética critica: de um lecal de questionerento para diferentes perspectivas que véo do historia social & historia culturcl ¢ politica, da sociolagia histérica de produgéo e do consumo @ antropologia histériea da vide priveda. 28 Ahistéria da cultura moterial atendeu, primeiramente, a um cuidade exclusivo de procura pela peco daca, & colegtio de obras de elite, empreendide como preocupasae pela histéria da arte. Mois tarde, uma preccupacéo propriamente arqueclégic determi- nou 0 elaboragSo de tipolagias descritivas e cronolégicas, sistemas de classificagio de artefatos sequndo os competéncios ortesanais de cade épocs, resultando, as vezes, num certo fascinio toxionémico. © estudo da cultura material comega, entéo, aos poucos, o fazer parte de uma histéria social hegeménica no conjunto da discipling’®. A preocupagéo moior 6 com a andlise dos objetes para esclaracer as condutas, considerende seus usos & seus intercémbios dentro de uma comunidade™ iversilicadas, forom atribui- das, hd mais de meio século, & cultura ou 4 civilizagdo material — canlorme a caso — coma campo de estudos. As primeiros cogitavam o enconiro da psicolagis com ¢ objeto através das nogées de utensilio mentol, de comportamentos quotidianos, de arqueologia de vivi- Mokiplas pesquisas, oriundas de disciplinas bastante do sensivel {rnodos da ver, de sentir, de gazor)"?, Mais larde, a questéo central tomou-se o nascimento de nossa moderna sociedede de consume, especialmente através de andlise das formas de existéncia dos objetos na vida privada"’. Cerlas orientagoes dos trobathos sé relacionam com a histéria econémica © social {estude da tronsmisséo dos pairiménios, antropologie histérica dos modas de sucesstio ou das estratégias de admin lor etc.j, autras pertencem « uma histéria da culture moteril ov a uma arqueolagia socicl istrogao de um em busca da “coixe preto” dos mados do sober ou da arte'*, Um terceire grupo, enti, toce o histéria da arte, uma historia intelectual que se tomnou cada vez mais uma historia dos significodos e das cprogriagées. Assim, o debole sobre o luxa, a quesiao do pope! dos mulheres, @ importéncia da moda sdo todos temas privilegiodas'® Os historiadores da cultura nos anos 70 finham empreendido a ciribuigho de defini- ges para as culturas “popular” e “de elite”’*, Durante muito tempo, a anélise da vido moterial permenecey fiel a0 ideal de uma arqueologia do quotidiano, de uma recoastituigtio do ambiente fomiliar dos individues gragas & pesquisa serial numa fenle privilegiada por sua comadidadel’. Ela constava das hipdteses de trobalhe formuladas recentemente por Pierre Chaunu, sobre 0 quantilalive ne lerceiro nivel, ¢ dos progressos de uma disciplina especial, a historia nolerial’®, A leilura socicl da cultura material nela se limitava, com fregd€ncic, & gstotlstica do distribuigao des bens segundo os niveis de rence. 29 Mois tarde, um longo tratalho envolvendo os aspectos materiois da cultura permitiv uma reviséio intelectuol dessa abordagem, que, no mbito do livzo e do leitura, gravitou em torne de D.F. Mackenzie ¢, em sequida, de R. Chortier, em diregao a uma antropologia da reconstrugéo do sentido". Na histéria dos ciéncias, paralelamente o ums renovegao do sociologia das préticas de laboratério (Bruno. Latour}, © processo de Simon Schaffer esboga uma sociclegia do procura e da mediacéo através de sociabilidade construido em tomo de abjcto técnico (Air-Fump e The consuming flame: electrical showmen and fory ‘mystics in the world of goods). Recantements, o inleresse deslocou-se para o modo pelo qual as coisas ¢ os sujeitos se movem, seguindo a linha de trabaiho de A. Appadurai e |. Kopytoff, todavia salientando os interrogagdes sobre o sujeito, que veo desde considera- s6e5 sobre o gestual @ técnicas do corpo até as perspectives da politologia”®, © interesse possa entao de inventétio serial pera a reconstituicdo do contexto do objeto; nde apenas 6 contexto de suc circulacéo, mas também o de seu gozo eo de sua eventual redefinigde. Visto que uma importante dimensdo dos objetos do cultura material que nos cercom estd ligoda as relogées privadas que cada um de nés mantém com eles. Nesse sentido, o status real do objeto depende intimamente da hiogratio do(e) proprictirio{a). Esses aspectos revelam uma inspiragéo que pade ter origem em Marcel ‘Mauss e trobathos realizados entre 1920 & 1930 sobre os processes de socializagao e os técnieas do corpo". A questéa dos objetos identifica-se entdo com um processo - os “artes de fazer", assunto do qual Michel de Certeau {4 tratova — e pode ser castado ao longo de operagées de apropriagde que envolvem desiocamentos, determinagdes,, reapropriocées, em suma, que iragam Iraje‘érias socialmente delimitadas. Areferncic sociolégice domina os diferentes empréslimos obtides junto ds ciéncigs socicis: de fato, a reflexéo sobre © consumo mobilizou toda uma peirte da sociclogia cléssica, a partir de Mox Weber. Os fendmenos de consumo se mostrarem férteis, sobratu- do em teorias gerais da emulagio e do mimetisme da estentocdo, formuladas de Veblen @ René Girard, para néo evacar a proliferacéo de ensaies sobre a alienugto devida oos objetos. Mos o andlise histérica do consume engio-scxao uiiliza, princigalmente, a tese de Mary Douglas para quem 0 consumo é um proceso ritual que confere &s mercadorias 80U8 sentidos, em outras polavras um sistema de informagéo”, © consumidor constréi sua personclidade graces ds suas opges, suas ignorincias, suas predilecdes e seus desdéns a dispute por compros ¢ objetos significa folar de valores, de moral social e, no cémnputo 30 total, de identidedefs}. Partilhar o mesme consume significa, pertento, forjar uma soiidori- edade e dar festemunho de um pertencer. Numa anélise do consumo, cogitada simullaneamenie como invengda técnico-eco- némica ¢ mentolidade modema (John Brewer e Roy Porter, Introduction), a dificuldade raside nos significados: come passar da pure e simples constatagaa da presenga ov do auséncie de bens neste ou noquele lugar para ume lotura dos condutas? fré. a multiplica- cdo “objetiva” dos abjetos possuides, dos servicos gozadas, resultar em novas organiza- g6es do vivide no quotidiano, em uma nova esiética da posse, em novas moruis? Quais as discrep8ncios que podemos evocar entre 0 gosta ¢ 0 acaso, 6 confarmisma das compras inconseqdentes @, polo contréria, 0 transiorne nos hdbitos decorrente de um teste de nevos produtos? Enlim, qual o relagéo que podemos estobelecer com a construgdo da vide privada moderna, a constitvigéo de uma esfera intima, sem conlundir precipitada- mente os mercadorias consumidas e 0 significado no qual as compradores investem? A presengo de objelos de luxo ov de “populuxe” nes grupos desprivilegiados ndo enira forcosamente numa ldgica da emulagéio, mes a denuncia desta emulagdo pede ler rela- Go com 0 mado sociel das camadas privilegiodas, preecupades am osseguror uma apre- sentagéo exclusive de si. Dentro de uma perspectiva ampliada, convém ultrapassor yma visdo que reduziria a questée cultural ao nivel des escolhes de consumo e néo faria nenhuma jusfiga as suas ombigiiidades nem as suas contradigées. Haje vista que boa parte dos objelas ndo dizem respeilo G temética: os bens de herange, 05 objetos fobricados em cosa, os “talismas” & oulras lembrangas piedosamente conservadas, 05 objetos favorites do espaco deméstico, 0 primeiros bibelds conjugam-se de medo bem préximo a leitura dos emblemas ou das posturas corporis. Uma série de trabalhos insistizam a respeito do permanéncia da eco- nomic do deacéo” no vida social ocidental muito além do século XVIII, com destaque pora um reexome do status da mercodoria, recentemente progoslo no dmbito de uma *histéria social dus coisus”™, A situagéo de mercedorie desta ou daquela coisa nela aperece come um momenta dantro de uma histéria mais longa, 9 historia do sua “vida social", durante a qual o “sua intercambiciidade (sossoda, presente ou futura} com outra coisa constitui seu trogo socialmente pertinante"®®, Essa idéia de que os objetos passam através de diferentes status desconstréi a identidede dos coisas para, ac contrario, insistir no recontextualizagéo permonente — come ocarre dentro da procura por ume identidade 2 pessoal ou pela conquista de uma privacy. Por fim, permanece o guestéo des ideologias politicas, dos lacos de dominio e de comendo, dos objelos pxdprios pare que ume nagbe seja imagineda 6 pore alimentor rituais publicos — as figuras do ostentogde e do cparato. Considerando que os significedes dos mercadorias sao de tal simultaneidede fluidica e contextual que chega a ser impassivel vinculé-les a uma responsabilidade politica, confor- me afirmo C.CH. Agnew’, ¢ saide para a altemativa comadificagio/decomodificagso autorza que a questo seja repensada o partir de novas beses. O ciclo da consumo ndo esgote as virtuolidades histéricas do objsto, cuje conserva- G0 em colegées, no museu ou qualquer outro lugar, ov ainda sua inalieanobilidade ivridica ov moral ttm o poder de manté-lo fora do mercada, embera no centro de préticas Socicis e intelectuais. Ao longo des sucessdes, apera-se mais amplamente o transmissdo de bens — que sdo apropriades sem ocorrar trocas de natureza consumidora — des quais 0 desaporecimento provocaria ume frustragde bem superiar a seu valor material. 4 experi Encia do luto por este ou aquele objeto, pela sua perdo, estd intimamente associeda o um certo niimero de experigncias histéricas que véo do exilio cos ritos de passagem, O ascelismo, enfim, quer se tratando de voto de pobreza quer de formas laices de ética pessoal — como as formas da vicléncia véndale ou icongclasta —, opde-se, terme contra termo, a0 consumo modemo ¢ co seu sistema de valores. E também dionte de sal cenério que se deslace a reivindicagao da condigtio de consumidor — ume reivindicagdo forjada no seio de lutes diversas, contra as leis suntudrias ov 0 fovor delos, contra a lgreja ou a layer dela, no debate classica sobre o luxe etc. Il - Utilizar: © meter da maestria A afirmagéo de ums sociedade dos Luzes, qua pensa por meio de projetos, possa por um novo papel atribuide ae ensino, co professor, escola eo seus recursos. Cada um disserla sobre os efoitos benélicos desse ensino sobre ¢ moralidada publica ¢ ¢ prosperi- dade nacional, sobre as empresas comerciais e os servigos de Estado: tanto na conferén- cic do académico quanto nos reflexdes do sabio, do vigjante, do naturalisto cu do antiquario, 6 preocupsgae dominante € assegurar a circulagdo e a reprodugée dos rnodelos de forma @alimentor o emulogéo. Nos sociedades do Ancien Régime, cs cbjelos desempenham um papel especial nos modolidades de aprendizado, ewvolvende uma fenomenologia dos recursos cognitivas. Eles so assim vinculados 00 “olho” de um meio e de uma época, no 32 modo pelo qual ele define os soberes, pelo qual os transmite ¢ os memorize {M.. Boxondall), mas sdo também vinculados & emogéo no momento onde o tema do “prozer dos olhos" izagGa modema (Norbert Elias), Enfim, os atividades relacionadas @ andlise de cerlos objetos revelam “hibridos”, entra na construgdo de auto-imposigae des prozeres préprios 4 ci que so os processes da representacao, da mediacéo, du traducée dos mods de coorde- nagéo (R. Chartier, B. Latour). A auséncia quase total de ieabalhos valtados para esse cssunto remete, som duvide nenhuma, o uma série de preconceitos bem conhecidos contra a cultura material, até mesmo dentro da histéria cultural, com excegéio apenas das obras dos grandes mestres. No entanto, as Luzes constituirem um momento-chave de dugs visGes complementares’ quanto ao lugar do luxo e da mada 2, em seguida, quante & uma preacupagao social parc a formagde, que chega ao ponte de desenvolver um auténtico felichismo de modelo nos represenlagées convencionais do progresso, do gosto e do comércio, da civilizagéo e do individuo, Durante o Revolugéo, Qualremare de Quincy ossumird o papel de irado intérprete disso ao constotor que os pedacos dos grandes mesires assumem 9 aspecto de verdadeiras “reliquios” poro aqueles que tém prafunda conviegéie nas virludes da emula- sao. Se abandonarmas o perspective de uma histéria da arte ou de umo historia do gosto, e também a de uma hisléria dos técnicos stricto sensu, para enfocar ume histéria geral dos meios de representar e dos empregos destes, em termos de pragmélica, o pers- pectivo da ‘simples pritica’ (8. Latour} deveria permitir esclarecar a censfitvicao de experi- Encias, 0 jogo da descoberia e da cbietivacdo. A definicio de éreas de conhecimentos, de procedimentos de obstracéo e de modos de aplicego se estabelece @ partir do abjeto, mes dentro de yma complementaridade evidente com oquilo que fai escrito: 0 comenté- rio, ¢ progrema, o manual de sprendizado... S60 inscrigdes que comandam, explicitam & criticam, seguinds um veivam entre 0 texto @ © objeto, Os objetos enciclopédicos (cuje anélise Jacques Proust conduziu exemplarmente a partirdo artigo “Bas”, no Encyclopédie}, 08 objetes de arquitetura (J. Guillerme), de orqueologia [P Pinon), de observacée tervestre (6.M. Stafford) ilusiraram esse lipo de processo. Assim, pademos trabalhar pera combater a ilusdo de uma transperéncic das representagdes de objetos e de fendmenos, que é, no vardade, 0 resultado de processes cognitives @ de culluras incorporadas nos prélicas. Nesse sentido, deveremos levor em conte “o enquedramanto” da pratica des ebjetos, nos 33 livros de notas, nos levantomentos tEcnicos, em suma, no diversidade dos géneros de inscric6o, © os delalhes 2 registrar ou, pele contrério, a desprezar, que induzem esses diferentes quadros, Sob fodos esses aspectos, 0 objelo de estudo @ de oprendizogem entretém lagos estreitos @ constantes com as préticas sociuis e 9 construgdo das culuras ¢ das identida- des. Quol 0 emprega que damos aos know-how acumulados, em que ocasidio pademos mobilizé-los e qual a evolugdc que se opera entre o oprendizado ¢ a aplicacdo concrato? Quondo se conhece por alto as jinhas mestras da educagéo formal, este mundo do cop. togéo dos abjetos torna-se uma verdadeira “terra incdgnite”, embora o conhecimento da cultura das elites mercantis tenha progredido nesses ultimos anos (D. Roche e F. Angiolini}. O estudo dos modas da tronsposigéo des modelos nas diferentes profissées de produgdo Ginda esté pora ser feito, A époco pense num vinculo obrigatério enire © qualidade do “gosto" dos objetos © a prosperidede piblica: uma especulagéo dese tipo alimento, as- sim, ume série de representagées variadas, politicos ¢ econémicos, algm de merois, na instrugde do povo ¢ ne filentropia. Ill — Herdeiro: a invengéo do tesouro Qs objetcs “patrimoniais", documentos ¢ monumentos, tesiemunhos de uma Epo- co, de possoas ¢ de eventos passades, seporados de seu meio de origem, quer porque perderam sua fungdo e sue vtilidade, quer porque forom mutilados, modificodos ou destrvidos em maior ou menor grou, manifestam um vinculo fisico entre nds © 0 outro desoparecido: eles tim um potencial de evecagdo. Usondo as palovras de Peirce, elas sd0 “indicios” do passado (a relogéo entre a sinal e seu objeto é fisica) © ndo fcones (cvja Felagde “nao fornece nenhuma base que permita interpreté-los como um reenvio a uma existencia real”}. Este foi o exquema escolhide por Alfred Gell para canstruir umo aniropo- logia de cbro de arte entendida como index da sociedade. Em sua andlise das relagées de comunicagao social, a semiética peirciona destaca lr8s grandes categorics do comunicogéo: a comunhia, ou linguagem “simpélica’, que se realiza sem ragras externas & relacdo (@ compreende, especialmente, o campo da crlagao Gnistica}; 9 Comunidade, organizada segundo regras aceitcs, ofetede por uma “moral terminalégice”, como os sociedades eruditas, ¢ onde ocorre a formate do inowagéa; e, por fim, @ sociedade, esotérica, submetida o regres incontoméveis ¢ cuja linguagem é ub “transformecional’?” . A cada um desses niveis corresponde os elementos de uma “retéri- ca”. Assim, no primeiro, estéo as préprias figuras do acordo, que jogam com a presenga através de cilagdes, apdstrofes, alusées. No segundo, as objetas (ou tipos de objetos} do acorde: 0 argumentagéo, propria de um debate e de um meic, envolvendo hierarquios valores. Por fim, 0 acordo resultante da argumentagée, que transforma essos presuncoes, introduzindo-os nos fatos?®. Estamos tocando aqui a esfera propriamente politica quando reconhecemos 8 obra uma eficécia de certos objelos. Para © direilo romene, responsdvel pela formagéo de parte de consciéncia ociden- tal, © patriménio € © conjunto dos bens familiais considerados ndo segundo seu valor pecunidrio, mas segundo sua condicde de bens-paro-transmitir. Tal trago os diferencia de forma absolute dos demais bens que, de modo geral, “nao estdo inscritos num status (...), sim considerados em separado dentro de um mundo de objatos que possuemn um valor préprio, atribuide exclusivamente pela troca e pelo moeda”. De falo, na cultura do potrimonium, “o norma socicl pedia que aquilo que fosse possuido por alguém devia ter sido trensmitide através de hercnga paterna e aquilo que tinha side herdado devia ser transmitido. (...} Ero! malvisto equele que interrompesse a cadeic de uma transmisséo do quel a institvigdo familiar fora publicamente investida” °. © terme “patriménio” remele ossim a um “bem de herango” que, segundo Litré, por exemple, “descende conforme os leis dos pats e das mées aos filhos". Fle no evoca a priari o tesouro ov @ obra-prima, mas envolve @ reivindicacdo de ume geneclogio. Assim, um abjelo somente se transforma em palriménio apds ser Ironsmifido, ou seja, no moioria das vezes, apés ser tronsferido de lugar, desclassificado, reclassificado, glosado, reconstituide, conteda, trabolhado. A exegese que suas sucessivos instalagées jorna obrigatéric, a partir, mais particulermente, dos revolugées modernes ingleso ¢ fran- ceso, e que é freqiientemente ossimilada a uma espécie de ciéncia, tornc-o, entée, um iocal de memor Além dos conflitos sempre aceses o respeito de seus contornos, 0 gotriménic em acervo define-se, desta forma, simultaneamente, pela reclidade Fisica de seus objetos, pelo valor estétice e documental (na maioria das vezes} ov ilustrative (oté mesmo por reconhecimento sentimental), que lhe airibui o saber comum, ¢ pelo seu status especitico, Isso é da compeléncio de uma reflexdo crudita mas tambérn de uma vontade politica, ambas soncionades pela opiniéo. E sob eso dupla relagdo que o acerve cric uma representogée, no centro do jogo complexe dos sensi sodo, de suas diversos apropriagées ¢ da construcéio dos identidades. idades com relagSe ao pas: 6 No maioria dos vezes, © acervo contribui pora a legitimidade do poder, para a mitologia das origens ¢ pora 0 ato de transmitir. Sequndo essa construcdo, uma porte da “moldagem humana do histérico”, segundo A. Dupront, articule-se “quanto as ieléncias laboriosas da meméria coleliva, quonto & contissdc de modelos ou 3 proclamagéo de “Tontes! e, principalmente, quonto ds necessidades profundes de viver © duracéo, continua ou descor ue, @ sob qual medida influenciadoro*. £ aquilo que poderiames designor como “profundidade” de acer, a fim de melhor distingui-lo de sua “extensdo”. A profun- didade do ace-ve pariicipa da consttugéo de uma geneclogia essencial pora sua legitimi- dade politica. Elo permite reivindicar um lugar no histéria, fozer valer direitos ou atacar, sob @ forma de um mito dos origens, os males do mundo modemo, Em qualquer dos casos, ela porticipa da elaboracdo de uma pertinéncic do passada, que se fora a parte recebedora da atualidade no que fange fanto o lugar material de seus objetos como o stotus simbélico desies (identitério ¢ auténtico). Os vestigios e restos — ruinas, reliquias, raridades, locois inabitodos ¢ tesouros -que aftoraram foram acumulados, conservedos e opropriados segundo diferentes préticas — perceptiveis mais particulormente no tradicéo literdria da Europa moderna™. Esse tipe de acimulo parece atender & crescente produgdo de artefatos; camo se levar em considera G0 a existéncia de umo heranga comum, composta por toda uma série de objetos a serem selecionodos — boa parte dos quais se tornard desirogo ou néo serd acaita, mas ‘cuja outro porte 6 composta por tesourus ¢ serem preservados — fossé a reverse de uma renovagie inédita das propriedades e dos consumos. © consumo imediato eo partilha pela duracdo, ambes cansiruides em espelhe, eloboram normas ¢ catélogos segundo Ya impasicéo moral e um anseio pela “verdade”, que seria o fruto de acumulagdo des. conhecimentos ¢ das perspectivas. IV - Interpretar: garantir o saber © ocervo, em suc configuragée classica, inscreve-se na longo tradigao do colecionismo - ern que, no épece modeme, opesar do comunhéo com o objeto, o gozo apsia-se na seber do conhecador. Uma cas obras ossenciais scbre esse aspecta — ¢, sem dévida, 0 primeira do Inglaterra, pois que logo se tornaré a patria dos amadores, fo} escrito por Jonathan Richardson: Two Discourses, publicada em Londres em 1719, antes de ser revista © reeditada em 1792 (The Works of Jonathon Richardson). Esse 36 astudo nos mosira o modo pelo qual as obras de orte inscrevem-se no trabalho das comunidades eruditas, mas principclmente nume prética de gosto, segundo diversas Gtividedes de codificagdo, todas elos incorporagées das formas e que atimentam uma retorica materialista do poder ¢ da distincdo. Com o desenvolvimento de ume circula- 60 ligada co mercado, @ imporiéncia do eoanaisseurship & do atribuicionista € amplificada: Quatremére de Quincy ja constatave o peso daquilo o que ele se referio com desprezo, coma uma “espécie de saber". Podemos concluir dot o quento a patrimanializagde coincide com a tradicgao do cullura erudita e, mois especificamente, com a tradigio escrita ocidentol; a historia da arte, 05 teorias arfisticas, 05 relaidrios administrativas, os artigos e as criticas na imprensa, 05 romances e os ensoios... Conforme Jacques Thuillier bem frisou, para o destino da cringéo artistica, “a escrita alé aqui desempenhou um papel determinante e podemos até dizer que foi ela que implementav o ponorame (...}, fixando as hierarquias: detetminando, ‘em consegiiéncia, o prépria sobrevida da obra durante um prazo maior ou menor”. Em suma, “com relacéo acs perfodes antigos, a reparigéo das pinturas ¢ das esculiuras conservadas acabou por corresponder praticamente ao esquema des artistes © das obras citadas pelos historiodores antigos — sem muita relagde com a prépric producéa, confor- me cs pecas arquivadas nos permitem conclvir. Salvo raras excecdes, a resisténcio dos escolas ¢ das obras foi resultado de presenco dos livros e dos datas nas quais foram publicados. A realidade ecobou se canformendo 4 escrita". © século XVIll €o momento estrolégico dessa construgéo, que ossiste 4 elaboragdo de cénones, repertérios @ catélo- gos - transitando do teatro 6 musica, do pinturo 4 literatura - e especificamente instala- go de museus, 08 primeiros contextos de objetivacéo de “culturas", Mais especificamente, @ histéria do acervo cemete & génese das leituras eruditas, preocupadas em interpretar as obros camo decumentes sobre o passado, em imbuir compreensdo das anligiidades classicas ¢ naciongis de desafios intelectucis diferentes, segundo cada épac®?. Uma ver estobelecido o valor ¢ confiabilidade desses monumen- tos de quaisquer espécies, visando ume ressurreigdo do passado, a delinigéo contemporé- nea do patriménio pode ser construida. Desde a era da erudicdo, ne sécula XVIl, a critica e a histéria unam-se em torno da preacupagéo com as fonles: “a método maderno de pesquise histérica esté totalmente fundamentada na distingdo enlre fontes originals @ fon- tes nao originais”™. © desenvolvimento da reflexéo ne século XVIll repousa na busca por 7 um didlogo entre fontes literérios e fontes figuredas e no surgimento de umo histéria cultural, com Voltaire. Desde entéo, 0 questéo das relagdes dos textos de histéric com os inventérios de abjetos materia's seré continuamente colocade: « orqueclagia moderna & oriunda disso, deniro de um dificil didlogo entre percep¢éo e representacéo. Assim, qualquer implementagée de um acevo $ ccompanhada de sabares eruditos, especiolizedos, suscetiveis de legitimar ou combater qualquer infervencda, restauragée ou inventério e também capazes do acompenhar uma mekilizocéo civica ou ideolégica. O ‘acervo, em outras palavras, é um trabalhe (o de recensear e atualizor, por exemplo, cam- pilagdes de inscrigées, conforme Ma‘fei realiza durante sua estada em Paris e Londres & através de sua rede de correspondentes) cujo status ¢ cuja ambigdo dependem concreta- mente, segundo os momentos histdricos, do pasig&o que anliquarios, arquedlogos, histo- riaderes da orte, entre outros, ccupam no seio da comunidade intelectual nacional — especialmente em relagao a seus pores lingliisticos, folcloristas ou arquivistas, Daf provém o interesse em obordar 0s propésitos das “inventores” de herancas, os estilos de suas encenagées @ as modalidades de seus desfrutes. Algumas desses figuras esto bem identificados: a abertura das colegdes do Principe, a adogde de um regime da histério ou um regime da arte nos museus do século XIX, a defesa da insity ov os reagrupamentos ¢ as transferéncias de monumentos oo sabor do remanejamento urbane. Em sequida, convém inleressar-se por algumas figuras embleméticas da histéria da patrimonializegao— como o antiquario e sya ving, © conservador e sau museu, a folclorista @ seu terreno. Através do estudo dos percursos individuais — de personagens eminentes ou alores secundérios — € gragos, porticularmente, & anélise de “relatos” (autobiogréticos, obras didaticas, recomendagées, programogées, cotélogos), formuloremes interrogasées sobre as construg6es reciprocas da singuloridede do porta-voz e de afirmacéo de valores coletivos, sobre a montogem de objetos como representagdo de uma comunidade, de ume regide, de uma nado e sobre os modos de ressandacia assim elaberades [entre esiética ¢ politica, por exemplo} A literatura patrimenial foi, até entée, captada ceme uma categoria de literatura artistice da qual Julius Yon Schlosser nos oferaceu um modelo classico. Se essa literature patrimonial, no sentido amplo, teve inicio, sem duvida, com a literatura de peregrinagéo e © clogio dos reliquias, ela ird conhecer sua forma moderna no combate o toda espécie de 38 destrvigéo, gerclmente quolificada como vandolismo. Essa mbilizagéo € © fator que Ihe fornece legitimidade, além de seu principio intimo de geragéo, ao ritmo das perdas de- nunciadas. Em compensagao, essa fileralure néo formule perguntas schre a posigdo que seus iniciadores — antiquérios, arquivistas, bibliotecérios, conservadores, lingbistos au folcloristas, além de amedores e off mesmo de produtores de diferentes categorias de objetos patrimoniais — ccupam na representagSo social daquilo que é venerdvel, Esse discurso, amplamente exiolégico, também ignora © peso da consciéncia individual do potrimoniclizador, ov seja, a afirmacde de si dz um colecionador ou mililante do conser- vacdo, que conseque expressor-se na linguagem das emogoes tonto quanta no discurso erudito, no competigée secial tanto quanta na sabedovia “desinteressada”. Anica ombigéo do programa de srabalho, nesta parte e nas outras, nde é sondar c opacidade dos objetos dentro de uma agéo hermenéutica, nem estabelecer seu interes- se arlistico, decumentér, ilustrativo ou erudita; é formular uma boa interrogacao do ‘enunciado & colocar em divida ¢ cmogae patrimonial ~ ¢ moneira pelo qual ele evoluie se faz reconhecer, inscrevenda seus intentas no seio dos estilos e des morais. Tenfaremos, ssi, analisar ¢ modo pelo qual os alores dessas diferentes formas de expresséio, de construgdo e de difuséo de acervas alimentom vme inteligéncio — @ um comércio - com cerlos objetas do passado praximo ov longinquo. © estudo das narrativas elaboradas pelos protegonistas de gesta potrimonial, ou suscitades per iniciotiva de diversos media- dores, constitviré 0 base essencial da pesquisa, visondo esbogar uma andlise dos discur- 08 potrimoniais, em vez de transferi-los sistematicamente pora oviros fipos de discurso {poltico, erudite, técnico, filosélico ekc.), que, estima-se, prestam conta desta maléria de modo simultoneomente mais geral e mois fundamental, Em outros polavras, postula-se que, ao se apvesentorem, os otores dessa polrimoniolizagéo podem fornecer uma cbardagem renovada do fenémeno, revelonde os formes esperificas assumidas pelas reivindicacées idenlilérics e as projetos de transmis- sdo. Comegadas de histérias de vides, romances familiais ¢ até relatos mois vastos da identidade e da memdrio™, essas palavros constréem a legilimidade ou o ilegitimidade do potrimonializador e desvendam as regras da recanhecimento, Daremos uma aiengdo mais especial &s conirovérsias nas quais este ov aquele acervo foi criticado por ser originario de a2 iniciativas particulores: por ocasiéo de polémicas a respeito de determinada instituigao, Museu ou restourogce, © ataque ad hominem — cuja violéncia pode, as vezes, cousar espanto — manifesta, com frequéncia, o escAndalo que o surgimento de uma iniciative pessoal e sus busca por aprovagéo represenfom para um apostolado panhorado. Este histéria da patrimonializagéo pretende, além de constatar o desenvolvimento de protegées monumentais e a muttiplicagée de museus, desnudar o configoragde das merais individuais ¢ das éticas coletivas eloboradas em relacao 0 “legados” mais ou menos imagindrios. Sue orientocdo prioritéria seré o moneira pela qual diferentes relatos elaborom “estilos” de descobridores - de inventores — de acervos, responsdveis per “des- cobertas” sucessivas (as vezes antagénicas} e por suas volorizagbes. Y — Solenizar: os cominhos de um projeto nacional Jé observamos que os ocerves de colecionador, do emador ov do curioso so fruto de uma dialética complexa da conservagéo e da destruigde no seio de “enquadramentos” de certos obros em determinado momento de sua hisléria; enquadramentos esses transmi- tides, utilizados, deformados, esquecides de geragéo « geragdo, cada um recobrindo o outro, leve ou pesadamente, absorvendo-es, modificando-os ao mesmo tempo em que 60 modificados. Na escalo das coletividades, os mecoaismos de aquisigéo, de transmis- sdo ¢ de conservacdo das obras, quer se trate de formagdo e da evolugéo dos compila- Ges de monumentos preservades, quer das colegdes dos museus, envolvem um horizonte de expectativa ligado és representagées de um grupo social, © uma sensibilidade local, as experiéncias, proximos ov langinguos, sociois e culturais, das quais ele participa. H.R. Jouss o define nos seguintes termos: “sistema de referéncias objelivamente formuldvel, que, pero cada obra, no momento da historia onde ela cparece, resulta em trés fatores principais: a experiéncia prévie que o ptblico passui do género do qual ela se origina, o forme ¢ @ tematica de obras anteriores que ela pressupée conhecer e a oposigds entre o munde imagindrio e a realidade do dia-a-dia", Pedemos identifi Griswold, pelo menos cinco tipos de recepgbes de objetos culturais, que se relacionam uns. i, juntamente com a sociéloga e historiodora da literatura Wendy com 5 eutros. Um deles é a interprelagio (concebide come elaboragto do signiieade); um outro idenifica-se com o sucesto (a popularidade, madida pelo nimera de adeptos ou de convertidos av par qualquer indice de estima concedida); um terceiro & entendido em 40 termos de impacto no campo de referéncio cultural (a influéncic de um cbjsto cultural na fisionomia de outros ebjetos do mesmo género}; um quorta equivale & canonizagéo ( aceitogdo desse objeto pelo grupo de especiolistos capacitados para Ihe conferir legitimi- dade no scic do colecicnamento, por exempla}. © dltimo elemento de recepgao, enfim, diz respeito 4 duragéo (a persisténcia de um objete cultural no tempe gragas a um reco= nhecimento ampliedo ou noo}. A defi cées, que deve ciender a certos figuras de modo obrigatério, mas esté longe de satisiazer io patrimoniol constityi uma dessos configuro- forgosamente a tedes os critérios de made positive, Acdefinigo patrirmenial ilustra pelo menos, em grande parte, aquilo que . Gombrich denomina como “clima social” de exceléacia ¢ de admiragéo artisticas. Sequndo ele, “poderiamos estudar esbogende um verdndeiro programa, suas manifestacdes ¢ sucs flutuagées nos arquivos des pregos atingidos nes vendes publicas, na difusdo das reprodu- cOes € no crgenizagao de peregrinagdes preparadas pelos agéncias de turismo (...}, ob- servor o desenvolvimente de seifas exclusivos, até mesmo de heresias {...), identificar os hordis culturcis que permaneceram no ‘cullo de uma minorio’ e colocor o nascimento e o desoparecimento desscs reputagdes em correlagdio com outros movimentos sociais. Pode- rfomos tombém fer muitas coisas interessantes para dizer sabre os condigées sociais que fovorecemn o respeito pelos velhos mestres e sobre o clima que incita em consideror com orgulho as realizagées de arte contempordnea™ Por conseguinte, os gastos de coleta, de classificagdo, de expasicio e de interpreta- go de uma cultura material demonstram um processo, um crescimento, ao mesmo tempo ‘em que exallam ume continuidade. Nessa relagéo, 0 acerve depende de operacio de enquadramento dos ebjetos — do retalhamento daguilo que & venerdvel e da amplidao das “quedas” —, ou seja, ele esté ligado & idéia de uma declaragdo de reconhecimento & Gs formas pelos quais esto se manifesta no espace publico. Isto significa relletir sobre @ relagdo especifica que ume comunidade mantém com certos objelos © que ndo envolve nem o quesido do opacidade dus objetas, cujo proceso hermenéutico {az seu principio de produgdo, nem c questao de seu interesse artistico, dacumentaric ou evocctiva. A polami- co ave opde regulcrmente paridérios ¢ adversdrios dos acervas trensleridos e des acervos conservados in sir € um bom exemple disso, porquania mobiliza, incansovelmante © desde as origens, discurso dos modemos 6 dos ontigos, chegando co ponto de provocer discussées conexas sobre o principio da destinagdo ou n&o das obras. at As primeiras medidas conservatérias iniciadas pelo popado e por outros estados do Htélia resultaram no reconhecimento de um cénon dos mestras ¢ na idéia de um corpus de objetos a serem detinidos e protegidas. Uma das mais importontes dotas foi “o decreto de 1807, pelo qual o grdo-duque Fernando de Médicis listowa dezoito fernosos pintores do passado cujas obros néo mais pederiam ser vendidas co extarior””. © aive dessa solene declaregio € 9 alirmagée e a perpetuacdio da exceléncia do principe ¢ do pais. Esse tam- bem 6 um dos objetives das colectes recis, que propiciam o geracéo dos museus necionais pelo Europa. Durante 0 século XVlll, surge cullos por objetos singulores, come os locais, usodes por escritores: os religiosos eruditos provengois reivindicom Petrarca para elaborar o esterestipo de Provenca, terrs da poesia romana, Em tado lugar, ume preacupacao inédita por eficécia cemego, aos pouces, a dominar 9 idéic de heranga: vé-se nela um meio pora dissolver a ignoréncia, aperieigoar os artes, despertar o espirito publica e © amor 6 patria. Tombém se vé nela, simultaneamente, um simbolo patridticee a prove de uma boo aciminis- tregéo. A preocupsgiio com o ulilidade propicia, a partir de entéo, « conservocéo de um acervo que, espera-se, trard bons resultados para o espirita publico e a prosperidade do pats. Um processo é, dessa forma, iniciado. Os sucessivos confiscos ¢ transferéncias oconi« dos duronte Revolugdo Francesa - como lagilimagéo patriética, vontade de gozo dema- erdtico e releitura do passado — tragaréo, aes pouces, @ fisionomia contemporénea: uma heranco publico do qual ¢ povo pede ser, dorovante, o destinatério eminente ou até mesmo © tor © 6 responsdvel por exceléncia. Foi nesse momento-limiar, citando a expresso do ontropdloge Victor Turner, quando a antiga comunidad desintegrou-se ¢ 4 nove emergiu, que o reivincicagéie por um acer de embiemos 9 de herdis, com fundamento em novas justificotivas e acomponhada eventualmente do proscrigéo de anigos sincis, lornou-se mais evidenle. © acervo inscreve-se num venlade geral de projeto. Sem ultrapassor as ‘ronteiras crenolégicas deste programa de trabelho, podernos distinguir, em meio a diversas abordagens primordiais, juntamente com John Breuilly, os essencialistos, funcionalistas, narvalivas, ov as madernas, da nagée —as quais correspandem diversas historias do ccetvo. Pora Benedict Anderson, 0 construgéo de acervo nacional participa de um processo mais geral, que v8 0 goro de certos bens fazer-se de experiéncia iva grocos & qual a comunidade imaginéria {se} reconhece ume identidade histérica, social, cultural. Apés realizar um estudo cerparotivo entre grupos patridticos de diferentes pequenas nacées de Europa Central, Miroslaw Hroch propés isolar trés fases da histéria do cok 42 nacionalismo: o primeira, de 1789 @ 1815, acontece quando uma intelligentsia resirita & a Onica a ser tocoda pela emergéncia das idéios nacionclistas ligades & Revolugéo Fran- ceso. A segunda (1815-1848) tastemunho a difusdo desses idéias junto 4 burguesio e c Gliimo fose principia em 1848, quando 0 nacionalismo obtém um omplo apoio populor, ilusirodo pelo Primeira Guerra Mundiol e a queda do império de Habsbourg. O coso froncés — como, aliés, 0 do ltdlio unitéria — ilustra aquilo que © sociélogo Luigi Bobbio denomina “concepcéo nacional-patrimonial”, com base na meldfore de heronga, no atri- bute da soberania € na elaboragae de um Estado-nagac moderne. Tol concepcée é hie- rarquice @ results numa cdminisizagée burecrético € erudita. A esse modelo vem opor-se ume concepcae societal, ou sacietdrio, do qual a Inglaterra represente o arquélipo, que envolve a sociedade civil pelo viés de associagées contributivas. VI-O museu de histério O museu de histéria trabalha com o repestério das fontes do historiador, sanciona a emergéncia de novos curiosidades, tem seu préprio peso nas vicissitudes dos interasses sébios, enquanto vulgariza mais ou menos bem os conhecimentos eruditos junto aes visi- lantes, pelo viés de catélogos e notas histéricas*. A institvigho passe por momentos de maioy intensidade, au de moior fervor, quando o sentimento nacional assim exige - no momento em que as energias patridticas se mobilize. No enfant, conirariomente as ‘aparancias, os trabalhos de confirmacao entre museus de histéria e a historiografie, ou o ensino de histéria, so bastante frocos*?. © museu situa-se a morgen ca escrita da hist- ric: ac lado da compilagéo e da preservacio das indicias da pasado, Isolodo da inven- cdo intelectual dos escritos e dos reascritos, o museu também ndo censtituiy uma motriz cultural, come o escola — apesar dos lagos ovidentes entre o museu @ a escola na tradiceo francesa, assinolodes secentemente por Dominique Schnapps: Se uma genealogia — freqilentemente exposto — dos museus de histéria ne Franca busco suas origens em compilagdes de ontiquérios, documentagdes ou ilustragées de obras histéricas, integrando, assim, essos origens numa histéria mais ompla dos usos eruditos das imagens", devemos lembrar aqui a especificidade dos inuseus “verdadei- que c parspective de ume histério da erudi esquecids 0 peso da novidacle representada pela invencao do museu de histérie dentro de paisagem intelectusl francesa. © espetéculo do museu ilustra, nesse senlide, « discrepan- ros”, j 10 traz 0 risco de fazer com que seic a? cia entre o escrila do historic ¢ uma representacaa do passado cepaz de evacar, de outre moda que o da meméria, mas usando ym processo parecido, a “pequena felici- dade, o pequeno milagre do reconhecimento e de seu momento de intuigdo ¢ de crenca imediata*, “o reconhecimento do passado come tendo side, embora (6 ndo mais seja”*!. Com relocée a isso, a crliculagdo praposte por Reinhart Koselleck entre as muta- sées de experiéncias do histéria e os mudancas de métodos e de representacdo dequilo que esté conclufdo pode ser itil. Ele escreve que, caso sejam superpostas as estruturas Jemporais das experi&ncias histéricas aos modos de narragdo — independentemente de qualquer leoria dos géneros -, tornc-se possivel distinguir trés tipos fundomentois de histé © que registra, @ que desenvelve ¢ o que reescreve. Em outras palavras, as otividedes “de registro singular, de desenvalvimento cumulative e de reescrila incessan- te” constituem um cardter minimo do método do historiador, além de Irés modalidades possiveis de aquisigdo da experitncia. Podemos concluir dai que a histéria contemporanea nao é recém-chegada ao Museu: suc presenga jé 0 marcava desde c origem, quando ainda se cogitave criar um Westminster francés. Com eleito, no inicio de reinado de Luis XVI, a Franca passa 0 desenvelver, com o conde d’Angiviller {1 730-1509) que assume c Direction des Bétiments, uma nova politica de posteridede; um dos simbolos desta 6 a nomeacéo de Thomas, aulor dos Eloges, para © cargo de historiégroto do érgdo, em 1775". © diretor onun- cio, em dezembro de 1774 ¢ em joneiro de 1775, uma encomende anual de “pinturos de historia @ de esiétucs cujos temos serao os grandes personalidedes froncesas”®, A série, com Intengées patridticas, ccampanha ¢ retérica do “momenta significotivo”: cada escultura ilustra um gesto moralmente e historicamente signilicativo da personagem, longemente explicitado no livrate do Saléo. A série prosseguiu regularmente de 1776 a 1787 ¢ originou 27 estatues: “es grandes capilées estéio bem ritidemente em minoria em relagdo aos representantes dos letras e das ci8ncias (‘os sdbios da Nagdo), Sinal des tempos: até mesma um ‘filésofo’ contempordnes, Montesquisu, foi odmitide nesse "4. Tal politica da imaginéria nacional inscreve-se num debate sobre os firmamento’ valores 4 serem reconhecidos na histéria froncesa @ sobre os eventuais modelos patrié- ticos o serem nelo encontrados*® or O museu de histé: nasce com a ruptura revoluciondria Logo em seus primeiros meses, o Revolugéo parece dar oporlunidade pore uma politica de meméria finclmente morol e racional. No Musée des Monumants Frangais, os jumulos refirndos de Saint-Denis foram dispostos nitida ¢ elicozrmente, numa ordem que antes teria sido perfeitamente incongruente, mes que agora atende & cbrigagoo imperiosa de trotor com inteligéncia a heranga histérica. Entretonto, junto com a afirmagao de uma ruplura em relacdo & histéria anterior, o principto de ressurraigéo dos morlos, reivindicode por toda ume geragdio de historicdores, de Guizot o Michelet (“eu defini o histério Ressur- reigdo"}, também é parte integrante da experiéncia do museu de historia’. Os retrotos s50 ‘os instrumentos desse falo, pois cles conservam os tragos, cfirma Lenoir, “daqueles que viveram ¢ junto dos quais cincia amamos reviver”™, Esse primeiro lipo de musev de histéria é um modelo da invisivel visibilidade, confor- me expressio de Francois Hortog, depois vtilizada por Michel Foucoult: € equele onde o historigdor ¢¢ fez de Edipo, explicando © enigma dos mortos*®. Michelet, ao evocar, du- rante um curso no Collage de France, sua visita, quando crianca, ac Musée des Monuments Frangais, falou dos “mortos em seus tiimulos que tornavam todos os tempos cantempord- neos”?. A experiéncic da “vida sepultada” que o museu parece propor é selorgoda aqui pela histéria pessoal do enterro do proprio historiador, um habitual freqentador de sepul- turas (coma scbemas, ele foi incorporado aos arquivos do reino em 2 de novembro de 1830, dia de Finados}*, No museu de Lenoir, ¢ distribvicéo de obras obedece « uma classificagéo “por idede e por ordem de date, ou seja, uma classificagéo em quantidade de pegs distintos equivalerite as épocas notdivels que o arle nos oferece”. A sucesstia de salas opresenia o resumo dos “monumentos de todos 95 séculos dispestos cronologicamente”. “O artista eo omador", informa Lenoir, "verdo de imedicte o inféncia de orte nos godos, seu deserwol- vimento sob Luis Xll e suo perfeigdo sob Francisco |, a origem de sua decadéncia sob Lu's XIV, ¢ sua restauragde por volta do tinal do nosso século”. A especificidade de museu dos Petits Augustins provém de suc decoragde que pretende estampar “em cada sala o caré- let, a fisionomia exala do século que ele: deve reoresentar’®*, gracas ao reemprego de “delolhes” provenientes de monumentos desiruidos, ou até mesmo despedacades, gor iotiva do préprio Lenoir. Alguns monurhentos “matricigis* ordenam, em maior ou me- nor grav de cocréncia, 6 conjunte da quadro exposto. 45 Ao se colocar na origem da trodigéo antiqudrio, Lenoir tombém fard um auto- elogio, num relatério ao principe Eugénio de 3 de abril de 1811, no qual afirmava que ‘seu museu “é grande também tanto pelos idéias que apresenta & imaginagéo como pela quantidade de abjetes preciosas que contém”. Pois 0 museu pretende ilustrar o quanto “a trabalho dos homens que lidam com as belas-ortes née pode ser nada mais do que uma reflexdo sobre aquilo que acontece no sociedade e cquilo que existe na natureza, mais oy menos modificade”®, demonstrondo que “a bistéria da Arle esté necessaria- mente vinculada 6 histéria politica’s*, A gradagSo das artes, do bérbaro oo aperleicoo- do, se manifesta, assim, de mado espelacular, através de um acréscimo de iluminagéo, que vei des sombrias salos medievais até a claridade final. Lenoir observeu, com efeito, gue “quento mais s9 avenge em diregGo aes séculas vizinhos do nosso, mals iluminados se fornam os monumentos pUblicos; come se a visdo do sol pudesse convir apenas ao homem instrufdo”S. Q itinerdrio recomendado pelo catslogo sugere um progressive desnudamento do que é verdadeiro. O percurso interno das sclos, quicdo por essa histéria “filosético”, remete ao jardim e & série de témulos edificantes que esiée dispostos nume dialética de sébios interesses ¢ de meméria sonhada, de conhecimentos e de ofetos. Pois o jardim, qualifi- cado de Eliseu, entende “introduzir na alma do visitante o sagrada respeito pelos conhe- cimentos, talentos e virtudes”; “imagina-se estes restos inanimodos recebendo uma nova vida pora se verem, se ouvirem @ gozorem uma felicidade comum e inolierévelY®, Regu- larmente quolificode por Lenoir come o “Westminster francés", trata-se na verdade de um Eliseu filoséfico. Assim, em 1806, no quinto volume do grande catdlago de seu museu, Lenoir cila a famosa passagem de Condorcet em l’Esquisse como fonte inspiradora do “imagem de um verdadeire Eliseu"’. © jardim constitui, no funde, o Unico monu- mento parisionse inspirado nas Segundas Luzes, ilustrando um propésito de antecipagdo © de regeneracde da humanidade. Com 9 advento do Impéria, loma-se projeto oficial a fundacéo de uma nove me- méria dindslica e nacional e o reclizagéo de amélgame das ilustragdes da Franca antiga e dos grandes personclidades da nova. Um decteto de 1806 atribui o Sainte-Geneviéve os timulos depositados no Museu, consagrando essa igreja 4 “segultura dos Senadores, dos Grandes Oficigis do Legiao de Honra, dos Genergis ¢ de outros funciondries publicos que prestaram bons servigos ao Estado”. Perclelomente, foi prevista, em Saint-Denis, o 46 instalagdo da sepultura dos imperadores. Sob a Restauragdo, 0 Musée des Monuments Francois teve, afinal, suos portas fechadas em nome de uma polilica de tradigéo restabelecida, que constitui um modemo tradicionalismo®*. Uma deterrinagao real, assi- nade em 24 de abril, devolve “os monumenias de qualquer espdcie que omavam a igreie de Saint-Denis (...) pare o igreja real a fim de nels serem recolocadas", numa perspective de expiagio”. O paradoxo reside no fate de que o museu, uma vez fechedo, foi transfigu- rado a posteriori em institvigdo pioneira do gosto pelo gétice sentimen‘al e religioso, bem como pelo descoberta da historia nacional, Ainvengéo de uma historia moderna de nagéo A sintese da curiosidade e do histéria foi realizeda com sucesso pelo geragdo de 1830. © implante do historiador no ontiquério coloca um ponto final o uma separagéo plurissecular que existio entre duas tradigées: o colecionamento de antiguidedes, cujos estu- dos resultavom em cakilogos, é a narragao histérice, que retomava indefinidamente o curso dos historias anteriores. Peralelamente, ume histéria com sotaque mais au menos popular, mos da qual a nogde passe a sor o suieito, se suceds & historia universal, tomade loica @ herdada de século XVIII, que tinha assumido a forme de umo histétic do espirito humane ov de uma histéria “natural” de arte a partir do modelo winckelmaniano. A comunidede naci- onal tomou-se, como dizia Frongois Furot, a “individualidade por exceléncia da bistéri (..} 6 0 produto do desenvohiments da nova sociedad civil ne sefo da antiga”. Se I'Histoire de ('art, de Seroux d’Agincourt (1730-1814), inicioda em 1779 — um *imenso museu” de obras classificadas e descritos de mado sistemético -, pretendia “des- tocar a iniluéncia das cousas gerais que, em todos os tempos ¢ lugares, decidem o destino dos belas-crtes”, uma abundancia de publicacées arqueclégicas nacionnis (Bulletin Mo- numentat, 1834, da Société Francaise d’Archéclagie; Bulletin orchéologique, 1837, do Comité des Arts ef Monuments; Archives de Vad frangais, 1851, da Société de I’Histoire de Art Frangais) atirmam, em seguida, uma relacdo com 0 passede, gético ov renascente, e com os antepassados sob a forma de conquisia de acevo. A portir dai, ja € possivel imaginar um museu de histéria nacional capaz de desenvolver os onais de Franca. Este 6.0 caso de museu de Luts Felipe, sobre o qual Victor Hugo diré, por ccosiao de sua inouguracdo triunfal em 10 de jynho de 1837, que “ele deu a este magnifico livre, que denominamos histéria da Franga, esto magnifica encadernagio sue denominamos uy Versailles”®. © rei tinha evidente interesse em reunir, num dnico gesta, a conservacio: do local real, em sitvagée de obandono, ¢ 0 iniciativa muscogritica didatica, de cardter progressiste e liberal, Versailles ilustra, assim, as virtudes do museu de sitio, parc usar uma expressdo comemporinea, ao contrdrio do Louvre, reveluciondrio e napcleénico consagrede o um universalismo imaginério. © prejeto de Luis Felipe reencontra, conferme Jean Adhémar identificou, a tradi- G60 do ensino do Principe e do uso pedagégico das imagens, numa longa duragée de galerias de retrates ¢ das histérias do Fronga, que presencia o reedicao de Anquetil e cbade Velly, colocondo sempre o fegendério Pharamond ne limiar da Franco, Foi atra- vés dessa perspectiva que 0 arquiteto Nepveu, sob controle rigoroso do rei, cujs presen- a no conteiro de obras foi constatada cerca de 400 vezes, inslala um museu moderno: no qual as pegas mois relevantes séo as sales teméticas: assim eram a famosa Sala das Cruzades, cuja ambigGo ere alrair os legitimistas para o regime, bem como as solas dedicodes 4s vitérios revoluciondrias e imperiais em 1792 ¢ 1830 e, finalmente, as salas das conquistas afficanas « partir de 1842. © empreendimanto é especiotnente dedicodo és grondes cenas histbricas, alé esto desprovidas de ilustragées, come o balismo de Clévis ou a chegada de Carlos Vill a Népoles*, Mas também se apdia numa notével continuidade de fontes visuais: os documentos reunidos por Roger de Gaigniéres ou Montaucon so recomendados aos arlistas*®. Em meio @ outros guias, uma Histoire de France servont de texte explicatit aux tableaux des goleries de Verscilles surge de 1838 a 1841. ‘© museu de Versoilles parece ter reunida um consenso gero! quanto oo principio de sua institvigdo, ligodo 4 necessidede habituclmente sentida por uma reescrito da histério, Atrayés dessc perspectiva, os doutrinérios, partiddrios do ideal capacitiirio, ea tondem obrir caminho paro “uma democratizagae do elilismo ao invés de uma raciona- lizagdo do demecracia popular". Conforme constateu Augustin Thierry am suos Considérctions sur histoire de Fronce (1840), na qual dé créditos a seu colega Guizot, “os planes (do momento} tendiam a alcar entre nds o estude das lembrangas ¢ dos monuments do pois ao nivel de instityiggo nacional”é” O Dictionnaire des idées reques, de Flauberl, “glorificagéo histérice de tudo equi- lo que oprovamos”, registra assim © verbete “museu": "Versailles: uma bela idéio do rei Luis Felipe. Retraga os grandes feitos da gléria nacional. Louvre: deve ser evitado pelos 48 mogos. Dupuytren: utilissimo pore ser exibide a juventude”. O muscu de Versailles, oo conirérig dos outros dois a respeite dos quais somos informados que devem ser mostrados ou, pele contrério, evitedos, mesmo considerande a vocacie expositors de ambos, esti ‘gui plenamente identificade 4 sue idéia. Em outras palavros, o maiar mérito do museu de Versailles parece ter sido de aclimatar na Fronga a idéio de museu de histéria opés uma primeira realizogéo, de Lenoir, excessivamente idecldgice ¢ pessoal, em sume, marginal. O museu de Luis Felipe, entretonto, néo deixou lembrangas impereciveis para o posteridade, embors tenha representado, de 1833 0 1847, uma preocupagée quase quolidiana do monarce. A instituigéo querio olerecer ume nova roupogem 4 historia do “comunidade imaginéric”®. O projet, porém, era maiar que as forgas de nova dinastia francesa: nenhume “inveng6o de ‘radicées” veio substituir 0 orlodoxia oneanista pintado nas paredes de Versailles. A pertir do segundo Império, © primazia do documento original, no tocante a uma distingdo rigoresa entre fontes primérias ¢ secunddrias, desvalorizou ‘lystragées elaborades segundo principios bem diferentes. Alidés, as obros encomendadas = mais de trés mil quadros — somente se tomaram pintura populer graces & reprodugtio ein série, opés 1850, e, principalmente, apés « derrota de 1870* Coberé ao Segundo Império a retomado de novas idéias pora um muscu dos sobe- fanos {1852-1871}, dentro de ume persgectivo de relicdrio sobre @ qual os contemporti- eos de Denon e Lenoir possufam um bom conhecimento”®. A colela incide agora sobre “tudo equilo que troz a impressaa ou que era como uma emanagae da pessoa, |...) tudo oquilo que @ representove contemporanea mente de modo flagrante"”". Cada objeto & cuidadesomente decumentado e sun entrade ne museu, devidamente cotalogada. A au- tenlicidade dos reliquias dos scberanos é, ogora, prafundamente verificade, tomendo o lugar do implicito da tradicéc”, © pove, no entonto, esté cusente da instituigae e nela eslo evidenciados propétitos de monipulagéo politico, O Musée des Souverains divide ‘assim com o Musée de Versailles, dentro da tradi¢éo ropublicana, a imagem negative de estobelecimentos desfovoréveis acs principios democréticos — co contrério dos museus revoluciondrios que encomam uma preacupagéo com ¢ educagde universal, com 9 opren- dizado do sentido civico ov até mesmo com a sclvecde de obras-primas desprezadas, escondidas ov desperdicadas nas residéncias do Principe e doravante censagrades @ uli- lidede publica. ug A representagéo da histéric nacional e popular Com © advento da geragéo romantic, os monumentas herdedos do possade séo entendidos como indicios de Epeca que devem ser respeitados deniro de seu principio de elaboragdo, de compreensis e de fazer reviver través de arte de narrador ov do ilustrador®. A elaboragéo do Musée des Thermes de Cluny, sob a direcéo da Commission des Monuments Historiques, criada em 1837, inaugura uma cultura dos locais no Grea dos myseus de hisiéria’. As sugestivas instalagdes concebidas por Alexandre de Sommerard (1779-1842) ~ conforme se pode censtatar no quarto de Francisco I ins crevem-ce exglicilamente numa colets de experifncias do passado vastamente populari- zade pele triunfo do romance histérico’, no seio de um verdedeiro chronciope da Idade Médio © do Renascimento’’. A mode do escole narroliva imoginada por Prosper de Barante, onde os fontes originais cedem ¢ palavre a0 passedo, para que ele proprio se conte, 9 montogem de reliquies e de pecas de arte decorative entende tornar senstvel a experiéncia da diferenga dos tempos” Alids, foi o proprio Barente quem pleiteoy na Chambre des Pairs, am 15 de julho de 1843, © compra de Cluny: “Quem nunca sentiu © cherme ¢ a curiosidade que desperiam estes restos e estes testemunhos, nos quais podemos ler os hébitos do possado? As armas, 05 méveis, os vases, as decoracées inleriares, o distribuicdo des prédios sfo para nbs memérias da vide privada”. Evocande os descabertes de Pompéia, o historiador prosse+ gue: "Os eventos saa contodos nes onais escritos mas o fator que nos faz compreendé-los melhor sao 0s monumentos, especialmente aquelas que nos permite fazer ume idéic dos costumes, assistir & vida comum das velhos séculos. Outros lembroncas histéricas também. s00 de grande 0 universol interesse, Tudo aquilo que faz lembrar nomes ilustres e reputa- <6e8 populares tem um forte poder de atreir a imaginacac e &, lreqientemente, envolto fume espécie de respeito. A espada de um grande guerreiro, as insignias de um fameso soberano, as jéins de ume gronde ov infeliz rainha, 68 livros nos quais um escritor ra ‘ou alguns comentarios s6o religuias que gosiamos de ver e que causam uma Impresséo bem diferente da leira morta do velume no qual lemos suc histéria’”® O Musée d’Archéologie Parisienne (futuro Musée Carnovolel) foi, mais tarde, funda- do por iniciativa de Hausmann, que, com esse projeto, respendia as criticas suscitodes por suas desiruicées na Per's antiga. A imagem de Cluny, esse museu terd uma seco destinade aos “espécimes de mobiliério e ulensilios domésticos", que “revelerao uma infinidade de 50 detolhes intimos”. Aqui, “nenhum detalhe deve ser desprezodo [pois] dificilmente olgum dos espécimes ove preservomos néo traz clgum detalhe engenhoso ov ingénuo, que representa indicios para 0 observader””*. Lm museu desse tipo envolve “séries cronclégicas que fazem ressaltor (...} diferangos ¢ (...] progressos em diversas épecas”. Em lal museu, as reconstituicdes motericis da existéncia em todas as épocas dever contribuir para a educo- 60 cristica de ortesdos © operdrios da arle, num momento em que a Exposigéa Universal de 1867 coloca em cena a Histéria do trabalho [em torna dos idéios de le Play}**. A vido da povo através da histéria voi ocupando, aos poucos, um espace cada vez maier nas exposicdes histéricas®', Ao contnirie das obras exibides no museu de arte em {ungdo de seu interasse visual, ¢ que pedem ume hermenéutica, os objetos agore expostes nos museus de histéria, oriun- dos da vida quotidiana de antigamente ou ligados a diversos eventos ou personagens, néo foram expressamente reclizados para serem oferecidos aa olhar desinteressado do visitante. E a sua qualidade de reliquia, ou seu papel na reconstituigao de um contexto ou ainda sua posigée ne interior de uma série cronolégica que legiima seu siatus como objeto de museu®, © mesmo acontece no tocarte a todos os cbjelos ligados és noves cléncias auxilia- res do historia e, principalmente, a um material arqueolégice inédito - e, am breve, superabundanie —, que convém registrar e analisar, Um Ultimo modsio de museu de hists- ria 6, assim, @ oficina, mais vollada para o futuro da ciéncic do que para a obrigacéo de 10 do pasado, Trata-se de reescre- transmitir 6 posteridade ou de atvalizar uma ressurtal ver a historia a partir de objefos convocados pore desempenhar © papel de testemunhos perante os histoxiadores ou os crquedlogos do futuro. Em 1835, Boucher de Perthes pro- punho, assim, a criagéo de diferentes museus de antiguidades froncesas, gale-romenas, gaulesos ¢ cellos; ele avisavo qua “nao seric a prépric notureza de depdsito © sev valor metdlico, ov suc beleza real que formariom © prego delas, mas os conseqiincios que podericmos deduzir. Em sumo, seria um quadro para o futuro”. Num sentido um pouco diferente, o Musée des Archives, aberto em 1867, tomhém se desfina a ser uma escola de irabalhos priticos da ciéncia, inversomente 99 Musée de Versailles, que, 0 partir da entéio, passa o valorizt-lo por contrasle, Conforme afirma a Ravue des Questions Hisforiques, “é diante desses monumentos de passado que seria inleressante ministrar um curse de paleografia elementar”. © reinado de Nepoleao Ill, 51 gerador, sob muitos aspectos, de diversos instituig6es @ representacées patrimoniais fran- cesas, ainda assiste & fundacae do Musée des Antiquités Nationales, em 1862, no Castelo de Saint-Germoin, sob a diregde de uma comissac de sébios, encamegada de elaboror 0 slono de organizagéo des 40 salas previstos. Também nesse caso, uma sociobilidade erudite é organizada em tomo do museu e alimenic o recémecriada pesquisa pré-histéri- co, Registror, desenvolver, reescrever a histéria na Franga do século XX Aevolugdo dos diferentes apresentagées da Histéria nos museus atende, certamen- te, 8 configuracde dos interesses do historicgrafia profissional, porém de modo indireto e, algumas vezes, até mesmo obliquo®. Se o desenvolvimento das sociedades erucitas per- mite @ acomparha, sob a Terceira Repiblica, « multiplicagéie de colegées cujos temsticas 360 mais ou menos histéricas ¢ freatentemente ligadas & pedagogic do potriotismo, 0 modelo da pesquisa universitéria que ird triunfor mois tarde entretém openas poucos legos com a poisogem dos museus de histéria Pelo menos um aspecto especial da histéric contempordnea no museu é representa- do pelo ragistro de diversos iestemunhos®. Os museus vollados pore c ilustragio de fois ‘aspectos conhecerarn um poderoso impulso a ponto de constituirem, a portir de entéo, uma dense rede, freqientemente sustenlada par associacdes, O emprego respective da metonimia e da sinédeque tonto 6 capaz de valorizor 0 abjeto-simbola quanto de combi- nar diferentes artefctos, visando obter um efeito da realidade. Mesclando histéria € etnogratio, tais instituigées redinem 05 objetos do trabalho € do lazer, freqentemente “ob- jetos de familia” que se torncram pecas de muse ao presterem depaimento sabre “um mundo que perdemos”, citando o notdvel titulo de uma obra do grande historiador Peler Lostett, um verdadeiro resumo da historiogrofia de década 1970. Em outras palovras, esses museus, com sua histéria freqientemente focol ou localizada, sG0 os locuis por exceléncia de um proceso de registro, dentro do movimento de uma experiéncia sensivel, freqdentemente escrupulose & contébil, ds vezes inquieta ov até mesmo doloroso™. Multiplicam-se, parclelamente, os museus de histéria que também sGo centros cul- turaist®, Neles encontramos gevalmente afirmades opgées dindimicas que propéem 0 re- presentagao de comunidades do future e privilegiam exsosi¢es temporbrias, na estera de um programa cultural o ser desenvolvida, Trota-se, sob determinado ospecto, de “alcan- 52 car’ a histéria — de ndo se deixer derrotar por ela, € sim de manifestar uma responsobi dade para governé-lo%. © historiador Raoul Hilberg, que dev consultorio & museogratia do Memorial do Holocausto, en Woshington, relota hover proposto “solicilar ao governc polonés uma caixa de 2yklon, 0 gds letcl usade para matar os judeus em Auschwitz @ Maidanek. Eu acharic interessante ver uma cuixe solitéria colocade sobre um pedestal puma salete, sem nada mois ¢ néo ser as quatro paredes. Isto leria simbolizodo a Alemo- nho de Adolf Hitler, exatamente de mesma forma que um voso de Eufrénio foi apresenta- do, solitério, no Metropolitan Museum para representar um exemplo de uma das mais bem acabadas criagées da Antigiiidade grega. Ao invés disso, as coixas de gés, gonerosa- menie doadus pelo governo polonés, farmavam um omontoado no meio da sole, atrapa- thando os passos dos visitantes, que sé podiam vé-las de cima". Na versio do histéria o ser reeserito, enfim, a legitimidade da instiluigéo repousa na consciéncia de um “fardo do maméria”: elo prevé um trabalho a respeito dessa meméria e suas representacdes®!. A relagac com a histdrio envolve, enl&e, ume releiture das cons- trugdes de identidade, suscelivel de fornecer outros interpratacdes para os objeios iracici- ‘onais dos museus. No Musée d’Ethnographie de Neuchétel, tivemos a oportunidade de percorrer, apés uma cuidadosa reconstiluigée de um gabinete de curiosidades do Ancien Régima, aquilo que Jacques Hainard denominava “gobinete de curosidades do sécule >X", no qual esiavam emontoados ume bea quantidade de testemunhas da nossa vida catidiana (estatvetes de pléstico, computadores, latas de cervejc etc). A estronheza de museu-relicdrie encontrava-se colocada a servigo da inleligéncic critica pare desconstruir everéncia em ralagéo ao auténtico. O empreendimento poderia fornecer um dos mo- delos pora umo reescrita simulténea da hisléria do museu 6 da Histério no museu, Os primeiros museus de histéria, oriundos da Revolugéo ¢ herdeiros de ume menta- lidade discriminatério proprio 4s utopias iluminadas, encamam um poder totelitério da institvigée sobre o possado morto"”, Sob a monarquia de julhe, uma concepgtio da histé- ia a guardo de sua escrito, de sua monutencéo, ao rio ~ pela viséo de sous anais ~ co’ Principe ¢ ¢ sous consalheiros. © musau deve reotar os lagos da aniiga e do novo Fronga @ partir do compo do acervo: Verssilles € arrancada das emeogas dos véindalos, mas 6 fombém desvieds de sua vecacéo cbsolutista. Apés a derrota de 1848, o partir de guon- do iniciou-se uma era recém-zerada, uma proposta de museu-oficina comeca a oparecer, 52 ligado o um ideal laborioso, quase arquivistico, de relagéo com a histério: ele tem deman- da tante pelo trabalho sdbio como pelos esforgos de uma sociabilidede erudita. Junto com ele, 6 incugurodo o musey relrospective-critico, equivalente o ume experiéncia antropolé- gica de ndo-superposigéo, conforme escreveu Reinhort Koselleck, do discurso e do acdo, da linguagem e do histério. Enquanto isso acontece, © sentido do pessado torna-se, doravante, morcado pela experiéncia de ume comunidade de individuas que contribui e que atende & Histéria. Esta € construida per todos e todos participom de sua evocagée. Desde entdo, do angustia a alegric perante o guerra ou 0 paz, por exemplo, ou da nostalgia co aborrecimento, ov ao Rojo, © museu de histéria convida o espectador © entrar em ressondacie com seu espetd- culo, O passado nacionel opresenta-se, egora, cemo a continuidade de um proceso, ao quai é possivel vincular-se e do qual os museus das pequenes pétries ativam-se em decli« nor cs ros. Isto significa olimentor uma participscéo no comunidade imaginéria da nage, desenvolvido er conjunto pela educacio « pola imprensa. As vésperas de 1914, 0 Musée Général de la Société Frangoise, por sua diversidade geogréfica e por sua espes- suro histérica, toma-se 0 alvo de diverses projetes. Assim, Armond Lendrin propée ao Conselho Municipal de Poris, em 1889, o Musée des Provinces de France, instrumento de educagée popular consagrado a0 popular, da mesma forma que o Musée d’Ethnographie 0 a0 primitive. Cerfamente, o museu de histéria deitou de ser hoje o legislador dos tempos, c local de portilhe entre o passado ¢ 0 futuro. Em relagéo ds instituigées flamejantes do primeira metade do século XIX®, os museus de historia da segunda metade do século XX parecem um pauce apagades. Tal evolucée, entretanto, é sinat de maturidade, ov, pelo menos, de sdbio profissionalisma, no sentido weberiono, sem excluir o sentido de “cidade"™, Os museus de histéria dé testemunho da discrepancia, mas também do eventual didlogo entre tivos de sober histéricos compromissados com a escrita c enire conhecimentos fun- damentados no objeto: entre a filosofic, preciosa para o humanismo, as novas discipli- Nos coma a etnologis, a historia do arte e a orqueclogia. Nac estariamos nés, na fundo, em busce de expasicoes que seriom capazes, simuligneamente, de registrar o nosso tem- po, de desenvolver sua historia, mas também de reescrevé-lo? be Notas 1. CB. Macpherson oferecau ume enélise c\éssico dos contradigées, om termes mantistas, entra 9 liberalismo @ aquilo que ele denominove possessive individuclism, ou seja, a idéio de que. principio politico ests ligadc 4 busca pele prosriedade. "Bu! the assumptions af possessive individualism ore not unalloyed funquahfied} in Locke. Fie relused to reduce oll social relations to market zeiations and morcliy to motkel morohiy, He would not entirely le! go of fraditional natural (ow... His main theoretical weakness {is best troced fo)... bls inability to surmount on inconsistency inherent in market society. A marke! society generates cinss alifsrentition in affective rights and rationality, ye! requires for its justification o postulate of equal nokural rights cond rationally. Locke recognizes the differentiation in his own society, end read it bock into naturel socialy. Ai the some time he maintained the postulate of equal natural rights ond rationally. Mos! of Lacke's theoretical confusions, ond most of his practical oppeal, con be traced to this ombiguous position”. (MacPHERSON, C.B; the Political Theory of Passessive Iecwidvalisen: Hobbes lo Locke. Oxiord : Clarendon Press. 1962, p. 269. Essas teses foram 0 tema de uma ¢opiosa literatura critica: LEISS, W. C.8. MocPherson’s: The Dilemmas cf Liberolism ond Socialism. St Martin's Press, 1988, © TULLY, J. “The possessive individuclism thesis: A reconsideroiion in the light of recent scholarship.” In: CARENS, J fed.]. Democracy and possessive individualism: the infelecteal feqacy of C.B. MacPherson. New York : Stole University cof New York Prass, 1993.) 2. Um cémado canorama a esse reszeito & fornecide por Hal Foster. Ver FOSTER, H. (ed). Postmadern culture. London, 1985, 3. ORLANDG, F Gli oggetti desuett nelle immogini delic letierotura. Ravine, refiquie, reité, robactio, luoghi inobitotle tesor! neseoti. Torino: Einaudi, 1993. 4. Sobre a valorizagéo cultural, ver ¢ abordagem de Lend ¢ Lang, em LAND, G. Ee LANG, K. *Recagrition and Renown : The Survival of artistic cepulotions”, In: American Jourse! of Sociology (1988, 94), 9. 79-109. 5, Sobre a volorizagao cultural, ver 9 obordagem de Land ¢ Lang. [dern. 6. APPADURAI, A. [ed.). The social life of things: Commouities in o cultural perspective. Combridge, Cambridge University Press, 1984; BOURDIEU, P (1964). Distinclions: a social exiique of the judgement of fosie. London : Roulledge & Kegan, 1987; BOURDIEY, & (1975). “The specifiy of the scientific iald and tha social conditions of the progress of reason.” Social Science information (Vol. 14, no. 6, 1977), p. 19-47; BOLRDIEU, F Outline of a Theory of Practice. New York : Combridge, 1972, BECKER, H. 5. Art Worlds. Berkeley : University of Colifornio Press, 1972. 7. MILLER, D. “Why some things matter” In: MILLER, D. {ed}. Moteriol cultures. Chicago, 1998, p. 3-21, B, Sequindo com isso as propostas de Gell e Latour (fui convidada a prasidir uma des sessdes na apresentacio de Lotour durante o evento Représenter, Hybrides Coordoner, nos dias 9 10 de maio de 1996, em Paris, no Centra de Sociolagie de Ninnovetion, do Ecole des Mines de Pedis}. 9. Este € 0 caso do "Journal ol Molerial Cullure", que se aropde o estudar, sob seu aspecto metonal, as relagdes entre a identidades sociais ¢ © uso dos bens culturcis. 55 56 10. SCHLERETH, T. J. “Moterial culture studies and social history research,” Journal af Social History (Vol. 16, ne4, 1983), p. 111-43, 11. SCHLERETH, T.. “History museums ond material culture.“ In: LEON, W. L., ROSENZWEIG. «. (ods.). History museums in the United States: a evlical assessment, Urbana (EUA) : Univ. of Minois Press, 1 989, p. 294-320; ¢ SCHLERETH, TJ. “Material culture and culturel research.” In: SCHLERETH, Thomas J. fed, Material ewlture: 0 reseoich guide. Lawrence (FUAl - Kensos Univ. Pross, 1975, 12. Este 6 0 coso das trilhos oberios por Febvre lage antes de Segunde Guerra Mundial, & presentes em Mandrow [lniroduction & io France moderne, 1961), Braudel [Civilisation matérielle, économie ef capitalisme, 3v., 1979) © A. Corbin (Le miosme et ia jonquille, 1982) 133, Esso anélise possui uma longa historiogratia, mais especialmente ossinada por briténi- 08, 6 partir dos irakelhos do hisloriador e economista inglés Richard Tawney (1 860-1962}, ‘que publicou om 1921 The Acquisilive Sacialy 8, em seguida, Religion cid the rise of capitalism (1926), trabolhos que mereceram reflexes do préprio Reymond Williams, em Culture and Society (7958). 14, Assim, em torno da temélice fenomenolégice da ogency, DOBRES, M. Technology ond social agency, Orford, 2000, e Alfred Gell, At and Agency: Av Anthropological Theary, Cxtord, 1998, 15. DOUGLAS, M, e ISHERWOOD, B. The world of goods: Towards on anthropology of consumption (1978); SCHAMA, S. The embarassment of riches (1987); ROCHE, D. Le peuple de Paris (1981); BRESER, J, PORTER, R (eds.}. Consumption and the Woda of Goods, (1993); -ARDINE, L. Worldly goods (1997), BERG, M., CLIFFORD, H. (eds.). Consumers ond Luxury in Europe 1650-1850 (1999); LANGFORD, P Englishness Identified: Manners ond Character in Eighteenth-Century England (2000), 16, Sobrs os legados doquele momento e os rellexdes pionsiras de Michol de Certeou dispo- mos de um leveniomenio ¢ ume bibliografia em DAVIS, N. Z. "Toward mixtures and margins.” Americoa Historical Review (Der., 1992), p. 1409-1416. 17. Encontraremos a descricéo desse méiodo em ROCHE, D. Le peuple de Poris..., Op. ci, p. 59-61, @ PARDAILHE-GALABRUN, A. La noissonce de Fintime... Op. cit, p. 24.25, 1B. Ver ROCHE, D. Inventeires aprés décés porsiens et culture moteriele au XVII si@cle: Les cies notoriés, source de Fhisioira sociale, XWle Nike sidcles. Stresbourg, 1979, p. 231-240. 19. La bibliogrophie et io sociologie des textes, orelécio de Roger Chorlier, Faris, Cercle de la Librairie, 1991. 20. Um exemplo disso pode ses encontrade na obra singular de SOLNIT, R. Wanderlust: A history of wolking. London : Verso, 2001. Trata-se de uma hisléria simukaneamente poltica @ cullural que toca a histério da grepriedade @ dos esoages publics ¢ for uma leilure do englishness, sem detxcr de focclizar uma prétice compere! e suas figuras. 21. Sobre ‘udo isso, ver SCHLANGER, N. Le foil technique total: lo raison profique et las raisons de lo pratique dons roauwe de Marcel Mauss, Terain, 1991, p. 174-130; ¢ "The study of techniques as on ideological challenge: technology nation and humanity in the work ol Morcel Meus”. In: Marca! Mouss: 0 centenary ibule, ed, por W, James 2 N.J. Allen, New York, 1998, p. 192-212. 22. DOUGLAS, M. ¢ ISHERWOOD, B. ed. The world of goods: toward an anthropology of consumption. New York : Norton, 1979. 23. WARWICK, G, "Gif exchange ond art collecting: Padre Sebostiono Resta’s drawing olbums.” Ad Bulletin 79 (1977), p. 630-646. 24, APPADURA|, A. fed.). The social life of things. Commodities in a cultura! perspective. Cambridge, 1986. 25. APPADURAI, A. “Introduction: commodities and the politics of value”, p. 15. 26. IDEM, p. 33. 27, Para uma viséo geral do campo cf. BAL, M. & BRYSON, N. “Semiotics and Art History” At Bulletin 73 (1991), p. 174-208. 28. Um noidvel exemplo du consirugde de uma cultura podir de objetos até entao de consumo corrente é opresentade por Priscilla B Ferguson. “A cultural field in the making: Gastronomy in 19*Century France’. Americon Journal of Saciofogy 104; 597-64 1(1998) 29. THOMAS, ¥. "Res, chose et potimaine; note eur le ropport sujetobjet en droit romain’, Archives de la philosophie du droit, 1980, Siray, p 42S; “Les ornemenis, ta ci, le potrimeine”, Images romaines, Paris, Presses de VENS, 1998. 30. ORLANDO, F Gli cgget desuet nelle immagini dello letterotura: Rovine, reliquie, rarita, sobaccia, lvaghi inabiteti @ tesori naseet Turim : 1993. 31. Legon inaugural, Collage de France, 13 de janeiro 1978, p. 15. 32. HASKELL, F Uhistorien of les images. Paris : Gcllimard, 1996. 33, MOMIGLIANO, A. Problimes d’historiogrophie cncienne et modeme. Paris : 1983. 34, KIRSHENBLATT-GIMBLETT, B. “Objocts of memary: Material cullure os lle review." In: ORING. E. (ed). Folk groups and folklore genres: Reader. Logan (EVA) : Utah Stale Univ. Press, 1989. 35. GRISWOLD, W. 1988, “A methodological approach for the sociology of culture." Sociological Methodology (n°14), p. 1-35. Do mesmo autor, Renaissance Revivals: City comedy end revenge tragedy in the Londen theatre, 1576-1980. Ver também seu manual de saciolagio da cultura, Cultures ond societies ia a changing world. 36, Trabalhos como os de Francis Haskell podem ser lidos nessa perspectiva, conforme de- monstrou Antcine Hennioa, e conslitvem ensaios exemplares de uma hist6ria de madiogao vista “pelo angulo dos confltos de podoras 0 de pertoralidades” (HASKELL, F. La nome ete caprice. Paris : 1986, p. 33-34}, porém sempre ligodo, principalmente, & malerialidade dessa mediagGo {isto ecorre em Pour amour de lontique, com 0 joge das cépias multiplico das de estétuas originais). 37. GGMBRICH, E. H. Réfiexions sur ‘histoire de art (1987), Nimes : Jacqueline Chembon, 1992, p, 296. 38, Ver as rellexdes de Jacques Le Goff em Histoire et Mémaire (Paris : Gallimord, 1977) & seu prelécio a Maze Bloch, Apologie pour Hhistoine ou Métier d’historien (Paris + A. Colin, 1997). Viséo global contemporénea do quadro prolissional em KAVANAGH, G. History Curstorship. Leicester = Leicester University Press, 1990. 39. Ver CARBONELL, C. ©. histoie et historiens, une mutation idéologie des histories freingois, 1865-1885, Toulouse, + Privot, 1976; HARTOG, F Le XMeme sidcle et histoire. Le cos Fustel de Coulonges. Paris : PU 1988 40, Conforms CHAUDONNERET, M.C. “Musées des ovigines: de Montlaucon au musée de Versailles.” Romantisme (94, 1994-2), p. 11-35. Este também é 9 fio condutor da obra de HASKELL, Francis. Lhistorien ef les images. Poris : Gallimard, 1999. Um exericlo notével de museu de documents contemgordneo 3 aparicéo dos demois muscus consia em ARQUIE- 57 5B BRULEY, F “Les manuments francois inéaits (1806-1839). & em WILLEMIN, N.X. “Ansiquilés nationcles.", RACAR (vol. X, 7°, 1983}, p. 139-156 47, Ver RICOEUR, P *Lécriture de Histoire ef la ranrésentotion du patsé." 22° conferéncia de Marc Bloch. Annales HSS (N® 4, jutho-ogoste 2000), p. 731-747, aqui p. 746-747. 42. A resncilo do contexlo do considerivel sucesso oblica por Floges, de Thomas, no es90Go académico e no campo literéro, ver KELLY, G.A. Kelly. "The history of the new hero’ eulogy ‘and ils sources in eighteenth-cantury France.” The Eighteenth Century (Vol. 21, 1980), p. 3- 24, 43. MCCLELLAN, A, "Lo série des Grands hommes de Ia France dv comte d’Angiviller et la politique des Parlements.” Clodion at le sculpture francaise de ia fin du XVIif siécle. Actes du collaque du musée dy Louvre, (20-21 da marge de 1992}. Pars, 1993. 44, SOUCHAL, F “Situation de la sculpture en Fronce en 1978." DocHuilidme Siecle Vol. 11, 1979), p. 117-121, 45, Sobre o conjunta deste fendmeno, o relsréncia permanece cam Linnel Gossmon em ‘Medievalism and the ideologies of enlightenment. The world ond work of to Cure de Sonte Folaye, Baliimore, John Hopkins Univ Press, | 968, a qual podemos acrescentar seus ensaics Benwaen history and literoture, Baltimere, Johns Hopkins University Press, 1990. 46. “Este possade foi o presente; se ele assim néo voltou a ser para fi, s¢ estes martos ndo. forom reszuscitados, tu 05 desconheces”. GUIZOT, F Histoire de io chilisation en Fronce. Paris, ed. 1856, vol. 1, ». 284. E, olém dos famosos Irechos sobre a ressurreigao dos mortos, © conhecide narrative de vista feta por Michelet: "Foi ali e em nenhum outro lugar que, pela primeira vez, ev recebi a viva impressio da historic. Eu preenchia esses timulos com minha imaginagao, sentia esses mortos ctrovés do mérmore e no era san um certo lerror que eu penetrava sob os abébodes baikos onde dermiam Dagobert, Chilpécic e Frédégonde” (QUINET, A.M. E. te Peuple. Paris : Ed. P Violioneix, 1974, p, 67-68). 47. Musée, 1810, p. 79. 48, Beth Wright reaproxima o Musée des Monuments Francais do lreratura de Marchangy, © que me parece contestével embora néo comprometa o interesse de seu desenvolvimento geral. Var WRIGHT, 8. S. Painting and History during the French Resteration, Abandoned by the Post. Cambridge : Cambridge Univ, Press, p. 31-76. 49. MICHELET, J, Cours av Collage de France, Potis. Gallimard : 1995, |, 1942, p, 520-22. 50. Ver a demorstragao de Mona Oroul : %O tama (de fratura ae tempo} sebrevive ao. pensamento republicano bem além do Rerolugéo, inclusive nequeles para quem a inlerpreto- se do possado nacional & une necessidade profissional. Fstomias nos relerinds apenas 0 Michole! ¢ 0 Quinet, ambos grondes leitores de Herder e de Vico @, tania urn quanto @ outro, habitedo polo sentido do perpetuidade humana” (*L'idée républicaine el Vinlerprétation du possé national." Conferéncia de Marc Bloch, 1998. te Monde, 19 de junho de 1998, p. 14) 51. Cotdlogo do Musée des Monuments Francais, 1810, p. 6 52. Arquivos do Museu de Monumento Franceses. 7, pega CCCCXWII 53. Exame da pintura "O roplo das Sobings”, p. 12. 54, Musée, 1810, “Apercu général de 'histoire des arts en Fronce.” Indapendentemante das opgées ideoldgicas de coda um, trate-se de uma convicgde amplemente compartilhada. Bonald evoca, em 1796, am suc Thécrie du pouvoir polligue e! religieux, 0 necessidade de uma “reaproxmagao do estado dos ores nos diferentes paves com a nolureza de suas insti- uicdes". Lo Décode também usta a lese através de artigos de Amaury-Duval, Choussard Ginguéné; esle 6, enfim, 0 argumenio central de obra de Medome de Stoél, De fa linérature (1800). 55, Musée (1810), p. 140. 86. Estamos utilizando, neste estudo, principalmente, a quints edigSo do ano Vill: Description histonque et chronologique des monuments do sculpture réunis av musée des monuments frongais por Alexandre Lenoir, (esignade como Description) © Musée Impériof de 1810 {designedo como Musée, 1810), p. 293 57. Cl, Musée (vol. 5, 1806}, p. 192-193: “O quadro da espécie humana, livre de todas os suas codeios, s2 entrega aos designias do destino e ae inimigo de seus progressos e, trlhon- do a passos linmes @ seguras ¢ comirho do verdade, da virtude e da felicidede, apresents ao filésofo um espelécula que vai corsolé-lo das erras, dos crimes dos injusticas que cinda maculam ¢ tera e das quais, com freqiiéncia, ele prdario ¢ a viimo. (..] Saqui que ele existe verdodetomente junto com seus semelhanias, num Eliseu que a sua raze soube cricr e que seu amor pelo humanidade eramenta dos mais puros goz0s" 5B. O estudo referencial continua sendo © obra de MELLON, 5., The politcal uses of history: {study of historions in the french restoration, (1955} 59. Com a delerminacéio de 18 de dezombro de 1816, 0 local, dedicado doravanle as betas aries, comega a receber ume nav colegio: desia ver, irala-se de moldes de pecos antigas. Ci FINATEL, C. “Origines dela collection des moulages d’antiquas de I'Ecole Notionole des Beous-Aris de Pars, auiaurd’hui & Varsalles." In: LAURENS, M.-F @ POMIAN, K. (eds). LAnticomanie : Lo collection d'entiquites cux Xvllldme ef Xikame sidcles. Paris : Editions de VE..ESS., 1992, p. 307.325. Paralelomente, a histéria dc famtlia reol ¢ representada no modo de expiagéo: ver ANCHEL, R. “La commémoration des rois de France 3 Poris pendant lo Rostouralion,*, In; Mémoires de lo Société de Ihistaire de Ports ef de Ile de Fronce. (Vol. 4, 1924), p. 173-208 ; DARNIS, J.-M. Les monuments expiatoires 6 la mémoire de Louis XVi et de Mavie-Arvtoinetie. Paris : Union porisienne d’imprimerie, 1981 ; 8RESC-BAUTIER, C. “Tombeaux inctices da V‘abboticle da Saint-Den’s.” Bulletin de lo Société notional des onliquaives de Fronce {1981}, p. 115 ss 60. Este & 0 coso do jovem Hugo: foi o segunda mudance de sepulturos, 2 qual a ideologia monerquists normalmente deveris oprovar, que porece té-lo comovide, sequnide relarou Adéle muito depois, “Vielor assisiu a troca de tmules. Ele viu os pedreiros trabalharem, embolo- fom as pedres, os sepuleras ebandond-los um 0 um. Foi dominade par um senlimento da meloncolia cele que hovia desaporecido. Fle santiu 0 vaio do timulo."(UBERSFELD. A, ¢ ROSA, G. leds,} Victor Hugo raconis por Adéle Hugo. Poris . 1985, 9. 314-315]. O bards de Guilhermy também se recorda de fer, quando exianc, “recolhide nos Petits Augustine”, fechado, 0 destragas das “novas mutilagies”. (Monogiaphie de I'église royale de SoinkDecis, Paris, TBAB. p. 104) 61. FURET, F. LAtetier cee Mhistore, Pars : Flommarion. Capitulo inruladoLhistoire au XVIleme siécle.” 62. Ver Choses wwes 1830-1846. Paris : Gallimard-Folio, 1972, 9. 153-154. Ele comenta: “Aquile que a rai Luis Felipe fex em Versoilles é bom. Ter cumprido essa obia é ler sido grande cams rei e impercial como filésofo; 6 12 constzuido um monumente nacionol a parir de um maswmento monéreuico; # fer colocado uma idéia imensa no passada, 178? peramle 1688, © imperador na caso do rei, Napoledio ag case de Luis XIV" 59 60 63. ADHEMAR, 2. “Léducation visuelle des fils de France et 'origine du Musée de Verscilies.” bo Rewue des Ais (N° 6, 1956), p. 29-34 ; th. “Venseignement par Vimage”, Gazelle des Beaux Arts (N97, 1981; N? 98, 1981), p. 53-60, 98; 9. 49-60, 64, Conforme France's Haskell far rassoltar. Ver HASKELL, & History ond its imoges: At ond the intespretotion of the past, New Haven (EUA) : Yale Univ. Press, 1993, pr, 250. 65. Idem, p. 28). 66, ROSANYALLON, 2 Le socre du citoyen: Histoire du suffrage universel en France. Foris ; Gallimard, 1992, p, 232. 67. De modo significetivo, Thierry coloce a poliica do Restouragéo em oposigée a essa politica: "Nosso histéris, cujo governo, restourado em 1814, desconhecou, pore sua infelici- dode, 08 verdedeiros caminhos e 3 irresistivel declive foi elvo, por parle desse governo, de dois ctos de dimensées bem oposies: 0 primer, o sor eternamenie lamentodo, foie daper- s00 do Musée des Monuments Francais ¢ 0 autio, digno de elogies e reconhecimenta, foi a ctiagéo da Ecole des Chortes” [Copitulo ¥, em Ocuvres complétes. Paris : Fume. Vol. 1, 2 133). 68. ANDERSON, B. Imagined communities: reflactions on the origin and spread of nationalism. Londres : Verso, 1991. A respeits desse tino de proceso, ver a compilagéo de origos de KAPLAN, FE.S. fed.) Museums and the Mcking of “ourselves”: The role of abjecis in notional identily. Leicester : Leicester University Press, 1994, e de MacDONALD, 8, e FYFE, G. feds.). Theorizing Museums: representing identity ond diversity ino changing world. Oxford : Blackwall, 1996, Em DIAZ-ANDREU, M. ¢ CHAMPION, T. ad). Notionaiism and archaeology in Europe. UCL Press; ver SCHAPPR A., “French archaeology: between notional identity ond cultura! identity", p. 48-67, © « conclusio de Miroslav Hroch, p. 294-300. 69. MARRINAN, M, Painting poltics for Louis-Philippe: a7 and ideology in O:leanist Fronce, 1830-1848 (1988), bem como CHU, P ien-Doesschate, WEISBERG G. P (eds). The popularization of mages: visuc! culture under the July Monarchy. Princeton : Princeton University Press, 1994. 70. & respeito de tradigao especifica de conservar mechos de cobelos de pessoos movies, engatades depois em jdias, por exemplo, ver POINTON, M. “Materializing Mourning: Heir, Jewelry, ond the Bod}.” In: KWINT, M., BREWARD, C., AINSLEY, J feds]. Moterial Memories: Design and Evacation, Oxford : Berg. 1999, p. 39-57. 71, Texto de 27 de morgo de 1852, Arch Mus Noi, MS 1. Devo esta referéncia © Richard Wrigley, que ests preporande ume obra sobre o histério das retiquias vestimentais. 72, BARBET de JOUY, H. Notice des antiquités, objets du Moyen 8ge, de lo Renaissance, ef des temps modemes composant fe Musée des Scurerains, Poris : 1866. 73. BANN, 5. The clothing... Op. cit, p. 60-61. Lembramos que Jakobson covudleriza 0 ‘ealismo por meio do predomingincia da mstonimia e do sinédaque, 2m opasicio 6 metéfora gue define @ romantisma e o simbolismo: essos relagdes de contigilidade germilem possor erscnagens fora sey conlexio, cb intriga para a atmostera (Ver JACKOBSON, R. *Ducéalisme en on." {1921} em Questions de Postique, Poris, Seu, 1973) 74. BERGE, & “Le probléme de lo conservotion in sity av XIXéme siécle: le musée dos Monuments frangais d’Alexondre Langir el le musée de Cluny.” In: FRANCE, Entretiens du Palrimoine 1992: Meubles al immeubles. Paris < Ministre de la Culture, 1993, p, 18-25, e MAROT, R “Les origines d'un musée d’antiquités nationales." Mémoires de ls socigié des antiquaires de Fronce (Ij, p. 259-325. 75. Ner mais parsiculormente BERNARD, C. Le possé recomposé: Le roman historique feangais dv Yikeme siecle. Poris : Hachatie, 1996 ; a respeito ds Roman de lo momia, de Gautier, “Démomification et remorificotion de histoire.” Postiqua (N° BB, 1991), p. 479-488 ;th.o capitulo infiulade “Pages de pierre, Les apories du roman crchéologique.”, em PERRIN: SAMINADAYAR, E. (dic). Réver lorchéalogie ... Op. cit., p. 123-146. 76. Tomei empresiade este conceilo de BAKHTINE, M. Esthdtique et théorie du romon. Paris Seuil, 1978. 77. © calélogo analitice (Les arts cu Moyen Age, 1834) anuncia os musaus europeus de artes decoralvas, 2B. BARANTE. Rapport 6 lo chambre des poirs du 15 juillet 1843. publeado em sua obra Erudes, II, apud LETERRIER, S-A.. Le XIXeme siécle historia: Anthologie raisonnée. Paris: Belin, 1997, p. 49 79, Documents citado por Modelaine Dubois, Les origines du Atusée Comavaler. Le formation des collections et leur accroissemert 1870-1897, 3 volumes, 1947, Ecole du Love. Um exemplar consta da documentagio do Musée Carnavolet. 80, Em meio a uma abundante litoratus, ver o ihime sintese de TRUESDELL M. Suectocuter Poliies: Leuis-Napoigen Bonaparte ond the Féle impécals. Oxford : Oxford University Press, 1997. 81. Numa perspectiva antropolégicn, ver HERZFELD, M. Cultura! intimacy: Sociel poetics in the Notion-Stote. Londres : Routledge, 1997. 82. Cf. Michael Baxardail, em KARP t., LAVINE, D. feds). Exhibiting cuttures: the poetics and polities of museum disploy. Washington D.C. : Smithsonion University Press, 1990. 83. A respsito de Soucher de Perthes, ver COHEN, C., HUBLIN, J. Boucher de Renthes: Les origines romantiques de fo préhistoie, Paris : Belin, 1989 e GRAND-AYMERICH, E. Naissance de Karchéolegie moderne : 1798-1945, Paris - Editions du CNRS, 1998, ¢ o capitulo “aschéologie at préhistoire: les effets d’une révolution”, em PERRIN-SAMINADAYAR E. {dit} Op. cit, p. 17-46. 84, Ver RICHARD, N. *La préhistoire ou quotidian. La pratique de Marchéologis préhistorique av XKeme siécle, d'epres les correspandonces réuniet ou Musée des A fiquités Mationales de Saini-Germoin-en-Loye.” Gradhiva. (0®. 9, 1991}, p. 77-94, BS. FRANGOIS, £. “Naissance d'une nation. Le musée hislorique allemand de Berlin.” Vingtiéme: siecle. (n°. 24, 1992), p. 69-84. 86. A respeito do ternétics, ver HARTOG, Francois. “Le témoin et Ihistorien, communications ay colloque infemational des sciences historiques d’Oslo." Dispontvel em hit: // sw. 0s102000.ui0.ne. BY. Sobre a questéo de ecomusey, nos reporlamos ous textos cldssicas cla Hughes de Vorine- Bohan (VARINE-BOHAN, H. "l'Ecomusée.” Gazeite de ['Associaiion des musées canadiens (ol. X, n° 2, 1978), p. 29-40,), e de Andre Desvollées, (DESVALLEES, A. “Lespril ef lo leltre de Vecamusée.” Ecomusées en France : Actes des premiéres nencontras nationales des écomusées, Ulste d’Abeau, 1987). Um caso particular é anclisade por MARTIN J.C. et SUAUD, Ch. Le Puy du Fou, en Vendée. tHarmatian, 1996 61 62 88. JOLY, M-H. e COMPERE-MOREL T. Des musées d'histoire pour l'avenir. Poris : Editions Nodsis, 1998. Especialmente © orligo de SCHAFER , H. "Votre, la demande et lo cisntale", p. 129.129. 89. BEDARIDA CIF. "Lhistorien régisseur du temos: savoir et rasponsobilié,” Revue Historique (N° 605, jan.-mar. 1998} 90. HILBERG, R. Lo politique de fo mémaire, Paris, Gallimard, 1996, p. 123. 91. A respite da publicogée da sua “Hisiério da Frongo” /BURGUIERE A., REVEL, J. {éir) Histoire de fo Fonce, Poris Seuil, 1989-1993}, Jacques Revel fomeceu uma reflexdo sobre © fendmeno em "Le fardeav de la mémoire", Correspondance, bulletin scientifique de FIRMC, 1995. Leremos também Pierre Nora, “Ure de io commémaration”, em NORA P (org). Les freuxde mémoire. (Tome Il, vol 3). Paris : Galimard, 2992, ». 975-1032, e os comentérios de Frangois Horlog, “Temps et histoire: comment écrire Phisicire de France” Lucette Valensi, “Histoire notioncle, histoire monumental, les Lieux de mémoire”, em Annales — Histoire Sciences: sociales, 1995, 6, p. 1219-1236 e 1271-1277. No histariagrafia iniemacional, © tema “excesso de rmeméria” loi omplomente daservolvido nesles 20 tliimos anes. 92. Seria interessonle, sern divida, estudar esle episédio mais proiundamente, imoginando 0 modo pelo qual o mina o sublime puderam entrar em corpasigtio com o sentido do sujeito moral eo idéia da estélica desinieressada: ver elementos de reflexéo em LANG, K. "The dialectics of decay: rereading the kantian subject.” Art bulletin (Vol. LXXIK, 3, 1997), p. 413+ 439, 93. Ver & demonstrocbo classica de HROCH, M, Social preconditions of notional revival in Europe, Combridge : Cambridge University Press, 1983, 94. Vero introdugio de Roland Arpin no IV Coléquio de Assaciotion inlernationale des musées d'histoire, “La fonction politique des musées.” In: Musée de ler Civilisation. Musées ef poiltique. Québec : Musée de la Civilisation, 1999, p. 25-56.

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