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SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA – SOCIESC


INSTITUTO SUPERIOR TUPY - IST

LUANA DA SILVA MARTINS

TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA DURANTE TRATAMENTO ISOTÉRMICO A 370 OC,


EM AÇOS DE ALTO CARBONO CONTENDO TEORES VARIÁVEIS DE Si, Mn E Ni

Joinville
MAI/2013
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LUANA DA SILVA MARTINS

TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA DURANTE TRATAMENTO ISOTÉRMICO A 370 OC,


EM AÇOS DE ALTO CARBONO CONTENDO TEORES VARIÁVEIS DE Si, Mn E Ni

Trabalho apresentado ao Instituto Superior Tupy,


como requisito parcial para a aprovação na
disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso em
Engenharia Mecânica.

Orientador: Prof. Dr. Modesto Hurtado Ferrer

Joinville
MAI/2012
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LUANA DA SILVA MARTINS

TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA DURANTE TRATAMENTO ISOTÉRMICO A 370 OC,


EM AÇOS DE ALTO CARBONO CONTENDO TEORES VARIÁVEIS DE Si, Mn E Ni

BANCA AVALIADORA

Prof. Dr. Modesto Hurtado Ferrer – IST (Orientador)

Prof. Esp. Vitor Ogliari – IST (Avaliador Interno)

Profa. MSc Daniele Silva Ramos – IST (Avaliadora Interna)


4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Osvaldo da Silva Martins e Zenilde Augusta
Martins, aos meus irmãos Sheila e Douglas da Silva Martins, amigos e equipes de
professores e acadêmicos da SOCIESC.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram para efetivação deste trabalho, ao meu professor
orientador Modesto Hurtado Ferrer, a professora Daniele da Silva Ramos, ao meu co-
orientador Vitor Ogliari, aos laboratoristas Wagner e Felipe e ao apoio de serviços de
tratamento térmico da Sociesc, em especial ao Luiz Fernando Dagostim, por todo apoio
e acompanhamento durante todo o desenvolvimento do projeto e aos colegas de classe
que juntos, conquistamos mais esta etapa.
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"Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta


e alegramo-nos pouco pelo muito que temos."
(W.Shakespeare)
7

RESUMO

Atualmente o contínuo aumento do número de passageiros e do volume da carga


transportada criaram condições necessárias para acelerar as falhas nos principais
componentes dos vagões (eixos e rodas) e na via permanente (trilhos), exigindo a
utilização de novos conceitos de materiais. Nas últimas décadas tem-se evoluído muito
no desenvolvimento dos aços microligados para estes fins e, mais recentemente, dos
aços bainíticos. Neste projeto estudaram-se quatro ligas de aços bainíticos de alto
carbono com teores diferentes de Si, Mn e Ni, as quais foram austemperadas após de
serem laminadas a quente. A austêmpera foi realizada em forno com banhos de sais a
3700C, por tempos que variaram de 1 a 72 h. As amostras de cada uma das ligas,
tratadas sob estas condições, foram caracterizadas com o auxilio de microscopia óptica
e microdureza Vickers bem como com microscopia eletrônica de varredura, em algum
caso. Foi possível constatar, uma microestrutura mista, em todos os aços e condições
experimentais, constituída por feixes de ripas de ferrita bainítica, imersos em uma
matriz predominantemente martensítica. Nos três arranjos de liga estudados, foi
verificado o efeito da composição química na cinética da transformação bainítica. Na
liga contendo o maior teor de silício a curva cinética mostrou uma tendência de
deslocamento para maiores velocidades de transformação, associada a uma taxa de
transformação mais elevada, reafirmando o efeito favorável do silício na cinética da
transformação bainítica. Nas ligas contendo os maiores teores de Mn e Ni, para tempos
de até 24 horas, a curva cinética mostrou uma tendência para uma maior velocidade de
transformação, reafirmando o efeito do manganês no sentido de retardar a formação de
ferrita bainítica, após este tempo constata-se uma reversão de comportamento que
pode estar associada à presença de partículas de austenita retida.

Palavras-chave: Aços Bainíticos, transformação de fase, bainita, austenita retida


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ABSTRACT

Keywords: Bainitic steels, phase transformation, bainite, retained austenite.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................13
1.1. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................14
1.2. OBJETIVOS............................................................................................................15
1.2.1. Objetivo Geral.......................................................................................................15
1.2.2. Objetivos Específicos............................................................................................15
1.3. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA...............................................................................16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................17
2.1 ASPECTOS GERAIS DOS AÇOS BAINÍTICOS.....................................................17
2.1.1 Aços bainíticos de alto carbono..............................................................................18
2.1.2 Composição química e efeito dos principais elementos de liga nos aços
bainíticos.........................................................................................................................22
2.1.3 Propriedades mecânicas e aplicações dos aços bainíticos...................................24
2.2 FUNDAMENTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASE EM AÇOS:
DECOMPOSIÇÃO ISOTÉRMICA DA AUSTENITA........................................................25
2.2.1 Aspectos cinéticos da transformação bainítica......................................................32
2.2.2 Aspectos cinéticos da transformação bainítica incompleta....................................36
2.2.3 Aspectos morfológicos da transformação bainítica nos aços.................................39
3 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................49
3.1 MATERIAIS...............................................................................................................49
3.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL........................................................................50
3.2.1 Ensaios de tratamento térmico...............................................................................52
3.2.2 Caracterização microestrutural...............................................................................53
3.2.3 Fluxograma do procedimento experimental...........................................................53
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................54
REFERÊNCIAS ............................................................................................................555
ANEXOS..........................................................................................................................58
ANEXO A - CRONOGRAMA DE ATIVIDADES..............................................................58
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1 INTRODUÇÃO

Nos últimos séculos o desenvolvimento do sistema ferroviário


impulsionou um grande avanço tecnológico, possibilitando um substancial crescimento
em diversas áreas da engenharia. Em poucas décadas, as ferrovias se tornaram o
principal meio de transporte, tendo um aumento contínuo no número de passageiros
assim como no volume da carga transportada.
Atualmente, o Brasil possui cerca de 30.000 km de trilhos destinados ao
transporte de cargas, o que é pouco se fosse considerados os 8,5 milhões de km 2 de
área de todo o território nacional. A densidade da malha brasileira é de 3,5 km de linha
para cada 1000 km2 de área, uma baixa cobertura ferroviária se comparado a países
como Estados Unidos (com densidade de malhas de 21,3 km) ou Alemanha (com
densidade de malha de 130,3 km) (GALDINO, 2009).
Alguns estudos apontam para uma mudança de cenário até 2015. A perspectiva
é de construção de mais 4.100 km de trilhos. O Brasil ainda concentra 58% do
transporte de cargas nas rodovias, sendo que as ferrovias aparecem com 28% dessa
demanda. Não obstante, dados da Associação Nacional dos Transportadores
Ferroviários (ANTF), afirmam que o Brasil transportou no ano de 2008 cerca de 459,7
milhões de toneladas úteis. Entre 1997 e 2008, a movimentação de cargas pelas
ferrovias cresceu 81,5%.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a quantidade de carga
transportada pelas ferrovias passará para 765 milhões de toneladas até 2015 (VILLAS
BOAS, 2009), (GALDINO, 2009).
Assim como em outros setores da economia, o setor de transporte ferroviário
principalmente voltado ao transporte de minério de ferro tem buscado uma maior
competitividade de seus produtos e serviços. Desta forma, a redução de custo é
imperativa. Uma das maneiras de reduzir custos é através do aumento da carga
transportada por eixo, do tamanho do trem ou da velocidade no trajeto. Se, por um lado,
tem-se uma redução de custo uma vez que a mesma composição transporta mais
carga e em menor tempo, por outro lado aumenta o custo de manutenção corretiva,
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uma vez que aceleram as falhas nos componentes dos vagões (eixos e rodas) e na via
permanente (trilhos) (BERETTA; GHIDINI; LOMBARDO, 2005).
Entretanto, uma vez que a segurança de operação é o fator mais importante na
ferrovia, a redução de custo na fabricação de seus componentes em momento algum
deve afetar a confiabilidade dos produtos, pois é conhecido que as falhas no setor
ferroviário geram elevados prejuízos financeiros, danos ambientais algumas vezes
irreparáveis, perdas de vidas humanas e atrasos nas entregas de cargas e transporte
de passageiros.
Tal como os outros componentes, o sistema roda-trilho ou roda-trilho-sapata de
freio é sensivelmente afetado por esses aumentos de esforços. Assim como os trilhos
na via permanente, as rodas representam destacadamente o maior custo na
manutenção do material rodante e a principal causa da retenção de vagões para
manutenção corretiva (ALVES, 2000).
Cummings (CUMMINGS, 2009), afirma que para melhorar o desempenho das
rodas ferroviárias e aumentar a sua vida, um dos fatores mais importantes é a melhoria
das propriedades mecânicas fundamentais (limite de escoamento, limite de resistência
à tração, alongamento específico até à fratura e outras). Se o aço da roda for
desenvolvido para ter alto limite de escoamento e alta dureza em temperaturas
elevadas, a remoção de rodas por defeitos na pista de rolamento poderá ser reduzida
(LONSDALE, 2010).
As propriedades mecânicas dos materiais utilizados na fabricação de rodas
ferroviárias dependem basicamente da composição química e da condição metalúrgica
do aço bem como dos controles do processamento termomecânico durante a
fabricação da roda (FERREIRA, 2009; CHIAVERINI, 2008). Durante anos, houve
poucas mudanças no desenvolvimento de novos tipos de aços para aplicação em rodas
ferroviárias.
Entretanto, nas últimas décadas tem-se evoluído muito em relação aos aços
microligados e, mais recentemente, nos aços bainíticos livres de carbonetos. Sabe-se
que nestes aços, a presença de carbonetos produz efeitos prejudiciais na tenacidade à
fratura, quando comparados com os aços convencionais temperados e revenidos, pelo
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que seu processamento requer de controle para a precipitação desses compostos


(BHADESHIA, 2005).
A ausência dos carbonetos nos aços bainíticos implica em microestruturas mais
resistentes à falha por clivagem e à formação de vazios, constituída por constituintes
bainíticos (BHADESHIA, 2001). Nesse sentido, o exemplo mais característico de
estruturas com constituintes bainíticos isenta de carbonetos são os ferros fundidos
nodulares austemperados, nos quais as altas resistências à fadiga mecânica obtidas
são atribuídas em parte à estrutura de ausferrita - bainita sem carbonetos ou ferrita
bainítica, (CARMO, 2011; KOVACS, 1986).
Por outro lado, se sabe que a formação de carbonetos durante a transformação
bainítica dos aços pode ser inibida com a adição de elementos de liga. Esse fenômeno
é conhecido como “estase da transformação bainítica” ou como o fenômeno da
transformação interrompida, através do qual se promove a formação de ferrita bainítica
e de austenita retida enriquecida de carbono. A estase pode estar associada à
separação entre as curvas em C da bainita e da ferrita/perlita e à existência de uma
baía na curva TTT destes materiais (GOLDENSTEIN, 2002).
O cenário apresentado, portanto, abre interessantes perspectivas para o
estudo da transformação bainítica em aços de alto carbono com combinações de
elementos de ligas, tais como: silício, manganês, cromo, níquel e molibdênio, para
atender os requisitos para a fabricação de rodas ferroviárias e para garantir o
desempenho em serviço destes componentes.
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1.1. OBJETIVOS

1.1.1. Objetivo Geral

Estudar a cinética e morfologia da transformação bainítica em aços de alto


carbono, contendo teores variáveis de silício, manganês e níquel, durante o tratamento
isotérmico a 370oC.

1.1.2. Objetivos Específicos

Os objetivos específicos propostos neste trabalho são:

 Caracterizar a morfológica dos produtos da transformação bainítica em aços de


alto carbono, contendo teores variáveis de Si, Mn e Ni, com o auxilio de
microscopia óptica e microdureza Vickers;
 Determinar experimentalmente a fração transformada de austenita em
constituintes bainíticos, em função do tempo, durante o tratamento de
austêmpera a 3700C;
 Avaliar a influência do Si, Mn e Ni na cinética da transformação bainítica durante
o tratamento de austêmpera a 3700C.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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2.1 AÇOS PARA RODA FERROVIÁRIA: CONCEPÇÃO E PROCESSAMENTO

Segundo a norma técnica AAR (AAR M-107, 2009), que padroniza o processo de
fabricação e a composição química dos aços para rodas ferroviárias, existem dois tipos
básicos de rodas ferroviárias: as rodas forjadas e as rodas fundidas. Ainda, segundo a
AAR (AAR M-107, 2009), as rodas ferroviárias forjadas e fundidas, são tradicionalmente
feitas de aço com alto e médio teor de carbono e, dependendo das condições de serviço,
se dividem em 4 classes de aplicações:

 Classe L: C(máximo) = 0,47(%p), com dureza de (197 – 277) BHN, para


aplicações em altas velocidades e condições severas de frenagem.
 Classe A: C = 0,47 – 0,57 (%p), com dureza de (255 – 321) BHN, para aplicações
em altas velocidades e condições severas de frenagem com cargas moderadas.
 Classe B: C= 0,57 – 0,67(%p), com dureza de (302 – 341) BHN, para aplicações
em altas velocidades com condições severas de frenagem e altas cargas.
 Classe C: C= 0,67 – 0,77(%p), com dureza de (321 – 363) BHN, para aplicações
em baixas velocidades, condições leves de frenagem e altas cargas.

Os aços microligados bem sendo desenvolvidos desde o início da década dos 70.
Nestes aços são adicionados pequenas quantidades (menores que 0,1% em massa) de
elementos de liga (origem do termo “micro”) que melhoram muito as propriedades
mecânicas, a resistência ao desgaste e a temperabilidade do material.
Os elementos de liga mais comuns nos aços microligados são, dentre outros:
vanádio, nióbio e titânio (MINICUCCI, 2003). Além destes, outros elementos de liga, tais
como: o cromo e o silício, podem aumentar a temperatura de início da austenita e reduzir
a temperatura de formação da martensita fazendo com que a zona termicamente afetada
diminua e a martensita ocorra somente em condições mais severas (VILLAS BOAS,
2010), (LONSDALE, 2005).

O desenvolvimento de aços bainíticos de baixo carbono, usando composições


com teor de carbono na faixa de 0,10 a 0,15 %, foi uma tentativa de produzir aços cuja
resistência ao escoamento passasse de 450 para 900 MPa, mantendo boa soldabilidade
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e resistência ao impacto. Os aços bainíticos são de baixo carbono e neles se impede a


formação de martensita. Eles possuem uma tenacidade maior que os aços perlíticos
(estrutura principal dos aços carbonos para rodas ferroviárias).
A Tabela 1 compara as principais propriedades mecânicas dos aços microligados
e bainíticos, onde: B e C – Aços fabricados conforme a norma AAR-M-107, nas classes
B e C; MB e MC – Aços fabricados conforme a norma AAR nas classes B e C, porém
microligados; I e H – Aços bainíticos de baixo carbono.

Tabela 1. Comparação entre propriedades mecânicas de aços fabricados


conforme a norma AAR e aços modificados

FONTE: (CONSTABLE, 2004)


A análise da tabela aponta as vantagens dos aços microligados em relação aos
convencionais temperados e revenidos. Os aços microligados possuem vantagens mais
significativas ainda, pois com baixos teores de carbono conseguem-se dureza e
tenacidade superiores ao da classe C da AAR e dos microligados.
No entanto, os bainíticos de baixo carbono possuem vantagens mais significativas
ainda, pois com baixos teores de carbono conseguem dureza e tenacidade superiores
ao classe C da AAR e dos microligados.
Recentemente, novos aços bainíticos com teores de carbono mais elevados,
contendo Si, Mn, Cr, Ni e Mo, vêm sendo desenvolvidos por processos de fundição
seguidos de tratamento térmico isotérmico de austêmpera. A austêmpera vem sendo
realizada por tempos muito longos, de modo a obter uma significativa fração de
agregados bainíticos (ferrita bainítica isenta de carbonetos e austenita retida) ao utilizar
uma temperatura de transformação mais baixa e ao utilizar o efeito retardador do silício
na precipitação de cementita (CORDINE, 2013).
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Por outro lado, sabe-se que durante o resfriamento contínuo (após o trabalho a
quente) a bainita se forma em um amplo intervalo de taxas de resfriamento, e, além
disso, a curva de transformação bainítica apresenta a parte superior achatada, de modo
que a temperatura de transformação é constante nessa ampla faixa de taxas de
resfriamento. Isso traz como resultado que a resistência mecânica se mantenha
constante para uma ampla variedade de dimensões transversais da peça e,
conseqüentemente, resistência mecânica de peças com grandes dimensões resfriadas
ao ar sofre pouca variação (CORDINE, 2013).
No caso dos aços bainíticos de alto carbono é necessário produzir bainita num
amplo intervalo de taxas de resfriamento, sem a formação de martensita, de modo a
evitar a formação de trincas de têmpera que, conseqüentemente, reduzem a resistência
ao impacto dada à microestrutura mista de bainita e martensita.
Uma das dificuldades no uso dos aços bainíticos na fabricação de rodas
ferroviárias é a temperatura de forjamento e laminação e o condicionamento da austenita
para a transformação de fase por resfriamento contínuo. A faixa ideal para a
conformação a quente destes materiais é muito estreita e o seu controle, associado ao
dos outros parâmetros do processo (grau de deformação e taxa de deformação), tem
que ser muito preciso de forma a garantir o compromisso entre a microestrutura e o
comportamento microestrutural destes aços, (VILLAS BOAS, 2009), (MINICUCCI, 2003).

1.1.1 Efeito dos elementos de liga na microestrutura e propriedades mecânicas dos


aços para rodas ferroviárias.

Os elementos de liga, tais como: Cr, Mo, Mn, Si e Ni, de maneira geral, tornam
mais lenta a difusão do carbono na estrutura do ferro, atrasando a transformação da
austenita para a ferrita. A temperabilidade do aço é, portanto, aumentada e a martensita
pode ser produzida em taxas de resfriamentos menores.
O carbono é o principal elemento químico do aço, tem efeito direto na faixa
de temperatura em que ocorre a transformação bainítica. A temperatura da
transformação da bainita pode ser reduzida por alguns elementos de liga, porém é o
carbono que exerce o maior efeito sobre esta. Apresenta maior solubilidade na austenita
que na ferrita, auxiliando na estabilidade da austenita. A sua concentração é um dos
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fatores mais importantes, do qual depende a estabilidade da austenita, pois dependendo


da sua quantidade é possível se ter austenita retida a temperatura ambiente (BLECK,
2002).
O Molibdênio melhora a austemperabilidade da liga, permitindo taxas de
resfriamento maiores e evita a formação da perlita. Tem efeito de arrasto de soluto,
resultando no retardo da recristalização e da precipitação de átomos de impureza.
Aumenta a solubilidade de carbono na austenita, devido a diminuição da força motriz da
precipitação. Este também melhora a resistência à fadiga e propriedades magnéticas da
liga. O molibdênio exerce efeito sobre o revenimento. Quando o aço é revenido, o
aumento da ductilidade é acompanhado pela perda de resistência. Este efeito é muito
pronunciado no aço carbono.
Uma importante função dos elementos de liga é diminuir a perda de resistência no
revenimento. Através da sua capacidade de formar carbonetos, o molibdênio combinado
com cromo e vanádio é muito eficiente em atrasar a perda de resistência durante o
revenimento enquanto aumenta a tenacidade à fratura. A estrutura resultante, martensita
revenida, é muito resistente e com um aceitável nível de tenacidade (IMOA, 2010).
O principal efeito do molibdênio na microestrutura é alterar a morfologia da perlita
e introduzir a bainita superior como uma substituição parcial da perlita. Considerando os
valores de resistência individual da perlita e da bainita similares, propõe-se que o
aumento de resistência é devido à solução sólida resultante (KEY TO METALS, 2010).
Lonsdale (LONSDALE, 2010) relata que a adição de molibdênio, cromo e silício resultou
em melhoria nas propriedades mecânicas do aço em desenvolvimento (dureza e limite
de escoamento em temperaturas elevadas) em relação ao aço classe C da norma AAR.
Sakamoto (SAKAMOTO, 2000) estudou o efeito do carbono, manganês e
refinamento de grão com alumínio para se obter um alto valor de tenacidade à fratura e
com isso prevenir fraturas em rodas ferroviárias. Concluiu que, com o aumento do
carbono, o valor da tenacidade à fratura diminui e o aumento da relação
manganês/carbono melhora a tenacidade à fratura.
Clayton (CLAYTON, 1980) estudou a relação entre desgaste em ensaio de pino
contra disco e a composição química do aço. Segundo o autor, as adições de elementos
de liga reduzem o percentual de ferrita livre na microestrutura e possibilitam a obtenção
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de microestruturas perlíticas com menores teores de carbono, uma vez que adições de
elementos como o manganês, molibdênio, vanádio e cromo deslocam o ponto eutetóide
do sistema ferro-carbono para a esquerda, ou seja, aumenta a fração volumétrica da
perlita para teores menores de carbono.
O manganês atua ainda no sentido de reduzir a temperatura de reação eutetóide,
o que favorece a obtenção da perlita fina (redução do espaçamento interlamelar). O
silício atua na microestrutura através do aumento da resistência da ferrita por formação
de solução sólida. Ainda, o manganês tende a diminuir a temperatura Ms (início da
transformação da martensita), é um estabilizador da austenita, contribuindo com o
volume de fração volumétrica de austenita retida. Este elemento aumenta a solubilidade
do carbono na austenita, deslocando a curva da formação da bainita para a direita,
aumentando assim a taxa de resfriamento
Makino (MAKINO, 2002) em ensaio de disco contra disco para simular desgaste
de roda ferroviária sobre trilho, testou os aços classe A, B e C da norma AAR M-107 e
um quarto aço classe B com adição de silício. Concluiu que o aço classe B com adição
de silício foi o que teve maior vida (definida pelo número de ciclos) e o aço classe A teve
a menor vida. Verificou também que a resistência à fadiga de contato aumenta com a
elevação da dureza do aço. Kristan (KRISTAN, 2004) estudou um aço com adição de
silício e cromo. O silício foi escolhido pela sua habilidade de aumentar a temperatura do
início da austenita, inibindo a formação do spalling e o cromo pela sua capacidade de
aumentar a temperatura de austenitização durante o aquecimento.
Por outro lado, o silício é um dos elementos mais significativos e importantes na
composição do aço, devido retardar a formação de carbonetos (Barbacki, 1995). Este
elemento expulsa o carbono em solução sólida na austenita aumentando sua difusão na
ferrita, e sendo o silício pouco estável na cementita, retarda a precipitação de carbonetos
durante a transformação bainítica. Posteriormente favorecendo a segregação do
carbono que estava na ferrita para a austenita remanescente. Este fenômeno é o que
ocorre durante a transformação bainítica incompleta (BLECK, 2002).
Testes de campo foram efetuados para se determinar a formação de martensita
nas rodas de teste, em comparação com rodas classe C da norma AAR M-107. O
resultado foi que as rodas com liga de silício-cromo produziram um aumento da
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resistência à formação de martensita durante o escorregamento, que gerou uma redução


de 28% em área e de 43% na espessura da martensita formada em relação às rodas
classe C da norma AAR M-107.
Villas Boas (VILLAS BOAS, 2009) ainda em sua revisão bibliográfica relata que os
elementos de liga que formam com a ferrita solução sólida, melhoram o comportamento
da microestrutura, pois atuam como barreiras para a movimentação das discordâncias.
Sobre o espaçamento interlamelar da perlita, ele concluiu que quanto menor o
espaçamento, maior a resistência ao desgaste. Isso se deve ao fato que menores
espaçamentos lamelares proporcionam uma maior dureza para a microestrutura.
A explicação para esse fato é que quanto menor o espaçamento interlamelar,
menor a distância que uma discordância percorre na ferrita, sendo imediatamente
bloqueada pela cementita. Comparando a perlita com outras microestruturas de aços de
roda, o referido pesquisador relatou ser a perlita fina a microestrutura que melhor se
comporta face os efeitos combinados de cargas térmicas e mecânicas.
O níquel é um elemento que aumenta a austemperabilidade, auxiliando na
diminuição considerável da velocidade de resfriamento. Quando o níquel esta ligado ao
cromo, ele torna o aço resistente à corrosão e ao calor, também contribui para o refino
de grão e um fato importante é que ele não é formador de carbonetos (BARBACKI,
1995).

2.2 AÇOS BAINÍTICOS DE ALTO CARBONO ISENTOS DE CARBONETOS

Os aços bainíticos com alto teor de carbono têm como característica principal o
aumento considerável da dureza do material, por isso geralmente são utilizados quando
se requer de um bom desempenho de resistência mecânica.
Após a obtenção da bainita o material passa a ter elevada dureza, porém a
resistência ao impacto pode se ver comprometida devido à presença de carbonetos,
neste caso a cementita. O aumento da resistência mecânica da bainita pode ser
proveniente dos mecanismos de endurecimento por solução sólida, do aumento da
densidade de discordâncias e/ou do endurecimento por precipitação de carbonetos.
A quantificação do efeito destes mecanismos na resistência da bainita resulta ser
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um exercício complexo devido a que em muitas ocasiões os mecanismos


microestruturais acabam interagindo entre eles.
Em relação à tenacidade a correlação entre microestrutura e propriedades
mecânicas é muito mais complexa. Um fator importante neste caso é estabilidade
mecânica da austenita retida, pois caso a mesma se transforme em martensita, diminui-
se a tenacidade do material. Segundo o Barbacki (BARBACKI, 1995) o alongamento dos
aços bainiticos é muito sensível ao teor de austenita retida, alcançam-se melhores
resultados quando a austenita se apresenta na forma de filmes entre as subunidades da
bainita (BARBACKI, 1995).
Também, é necessário conhecer a distribuição e o tamanho das fases presentes,
pois o tamanho dos carbonetos ou de partículas frágeis é decisivo para o mecanismo de
fratura. Quanto maior o tamanho dos carbonetos menor será a tenacidade do aço. Nos
aços bainíticos, o tamanho dos carbonetos pode ser controlado e até mesmo eliminado
com a adição de elementos de liga, como por exemplo; o silício (BARBACKI, 1995). De
acordo com Bhadeshia e Edmonds (BHADESHIA & EDMONDS 1979), a presença de
carbonetos em aços de alta resistência é uma característica indesejável, capaz de
nuclear trincas e vazios, desta forma, os aços livres de carbonetos ganham espaço.
Chang e Bhadeshia (1994) comprovaram que para a obtenção de aços bainíticos
livres de carbonetos e de martensita, a austenita retida deve ser estabilizada em
combinação com a fração transformada de austenita em ferrita bainítica, durante a
execução do tratamento de austêmpera, resultando em uma microestrutura mista, à qual
se atribui a atrativa combinação de propriedades mecânicas nestes materiais.
Segundo Barbacki (BARBACKI 1995), o aspecto básico da composição química
dos aços bainíticos, livre de carbonetos, consiste na combinação de altos teores de
silício com adições de manganês e/ou níquel. As propriedades mecânicas decorrentes
tendem a ser muito mais interessantes, apresentando 1400 MPa de resistência ao
escoamento e tenacidade à fratura em torno de 100 MPa.m ½. Por outro lado, Kovacs
(1986) afirmou que a alta resistência à fadiga mecânica é atribuída em parte à estrutura
de bainita isenta de carbonetos.

Nesse sentido, Bhadeshia (BHADESHIA, 2001) cita como grandes vantagens


desta microestrutura mista:
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 A cementita é responsável por iniciar a fratura em aços de alta resistência. Na sua


ausência na microestrutura deixará o material mais resistente à falhas por
clivagem e á formação de vazios;
 A ferrita bainítica é praticamente livre de carbono, o qual aumenta sua resistência
e a fragiliza;
 A resistência, também, é derivada da microestrutura, sendo esta composta de
finas placas de ferrita, tendo em média menos de 1 µm de espessura. O refino é o
único método viável para simultaneamente melhorar a resistência e a tenacidade
dos aços;
 Os filmes de austenita dúcteis que estão dispersos entre as placas de ferrita tem
um efeito de ancoramento das trincas. Estes, também, podem aumentar a
resistência do material através do efeito TRIP, onde se terá a transformação da
austenita em martensita durante a deformação plástica;
 Aços com microestrutura de ferrita bainítica e austenita podem ser obtidos sem a
utilização de elementos de ligas caros, apenas utilizando uma concentração
suficiente de silício é possível retardar a formação de cementita durante a
transformação de fase.

Porém, Bhadeshia (BHADESHIA, 2001) ressalta que as vantagens desta


microestrutura podem ser afetadas pelos grandes blocos de austenita entre os feixes de
ferrita bainítica, conforme se pode visualizar na imagem da Figura 1, onde estes blocos
se transformam em martensita de alto carbono, sob aplicação de uma tensão. Desta
forma, como a martensita formada é rica em carbono, apresenta então elevada dureza,
fragilizando o aço severamente.

Figura 1 - Microestrutura de Aço Baínitico livre de carbonetos: a) micrografia


eletrônica de transmissão de placas de ferrita bainítica separadas por filmes de
austenita estável. b) micrografia óptica que mostra grandes blocos de austenita
não transformada.

(a) (b)
23

Fonte: Bhadeshia (2001)

De acordo com Bhadeshia (2001) existem três formas de eliminar os blocos de


austenita: i) Reduzindo a temperatura de transformação isotérmica. Sendo que o limite
mínimo é dado pela temperatura de início da transformação martensítica; ii) Reduzindo a
concentração total de carbono no aço, de modo que a austenita atinja a sua composição
limite, na última etapa da reação; iii) Movendo a curva T 0 do diagrama de fases para
grandes concentrações de carbono. Isto pode ser realizado através do ajuste da
concentração e do tipo de soluto substitucional.

2.2.1 Aspectos cinéticos da transformação Bainítica

Segundo Bhadeshia (2001) a transformação bainítica ocorre num intervalo de


temperatura entre as transformações de alta temperatura, tais como: ferrita e perlita
(cerca de 550-720ºC) e as transformações de baixas temperaturas, neste caso a
martensita.
A bainita consiste de agregados de plaquetas ou ripas de ferrita separadas por
regiões de fases como austenita ou martensita. A primeira teoria relacionada com o
mecanismo de reação bainítica foi elaborada por Bhadeshia e Edmonds (1980),
incorporando os seguintes princípios:

I. Uma ripa individual de ferrita bainítica cresce sem difusão. Todo excesso de
carbono é então particionado para a austenita. A fração volumétrica de ferrita
bainítica é limitada pelo fato de que, para uma dada temperatura, as energias
livres da austenita e da ferrita, para uma dada composição, se tornam idênticas;
24

II. O tamanho de cada ripa individual é limitado pela quebra de coerência na


interface α/γ, em função da deformação plástica causada pela mudança de
formato na frente de reação. O crescimento de um feixe de ripas exige então a
nucleação de novas subunidades;
III. A teoria clássica de nucleação não se aplica à transformação bainítica; uma vez
que a nucleação é governada pela dissociação de arranjos tridimensionais de
discordâncias.

De acordo com Bhadeshia (2001), esta teoria foi importante na reprodução de


alguns dos aspectos da transformação bainítica em aços isentos de carbonetos; por
exemplo, o fato da temperatura de início da transformação bainítica (BS) ser muito mais
baixa do que aquela na qual a formação de ferrita torna-se termodinamicamente
possível.
Uma das principais falhas deste modelo, segundo o próprio Bhadeshia, é a
incapacidade de separar os eventos relacionados à nucleação das ripas de ferrita
bainítica, que ocorre nos contornos de grão da austenita, daqueles que ocorrem de
forma “autocatalítica”, para gerar os agregados de feixes de ripas. O modelo sugere que
a nucleação ocorre de forma aleatória, o que já foi comprovado como sendo incorreto.
Deste modo, o modelo não é apropriado para descrever o efeito do tamanho de grão
austenítico na transformação bainítica.

Entretanto, para Aaronson (1999), existem três definições para bainita:

i) Definição geral pela microestrutura: segundo esta definição, bainita é um produto


não lamelar oriundo de um mecanismo não cooperativo de decomposição
eutetóide. Esta definição implica a necessidade de duas fases produto;
ii) Definição pela cinética global de reação: a bainita tem uma curva em C própria no
diagrama TTT, abaixo, mas extensivamente sobreposta com a perlita, mas ainda
inteiramente abaixo da curva C da perlita; e
iii) Definição do relevo de superfície: segundo a qual as placas de ferrita têm um
efeito de relevo de superfície associado a elas, e crescem por um mecanismo
25

martensítico, ou em passos martensíticos marcados pela difusão de carbono.

No que diz respeito à cinética e aspectos limitadores de velocidade da formação


de bainita, a mesma está relacionado com o teor de carbono na ferrita imediatamente
após a frente de reação ter varrido a fase matriz (REYNOLDS, 1990). A formação de
bainita sem partição de carbono foi inicialmente proposta por Zener (COSTA, S. A. V.,
2008).
A observação posterior por Ko e Cottrell (1952) de que a formação de uma placa
de ferrita daria origem a um efeito de relevo na superfície foi tomada como uma
evidência de um mecanismo martensítico de formação da bainita.
Os mesmos autores interpretaram a existência de um relevo na superfície como
evidência de crescimento “coerente” de ferrita supersaturada em carbono. Eles
afirmaram, porém, que cinética global é muito mais lenta do que a da martensita, e
controlada pela difusão de carbono.
Ko e Cottrell (1952) também disseram que a formação da bainita é contínua, e
não composta de passos sucessivos de crescimento. Ou seja, esse conjunto de
afirmações não está realmente de acordo com nenhum dos dois mecanismos propostos
para a formação de bainita, uma vez que contraria particularidades dos dois pontos de
vista. Um ponto que merece destaque é que o conceito de um mecanismo martensítico
de formação da bainita não é devidamente suportada pelas velocidades de crescimento
medidas experimentalmente.
Atualmente, o processo de crescimento não é totalmente esclarecido. Porém,
sabe-se que, dependendo da temperatura, a quantidade de carbono nas regiões
nucleadas poderá ser menor. Um crescimento coerente somente pode ocorrer na
temperatura de reação bainítica, quando a tensão gerada devido à a distorção na rede
cristalina é aliviada. Este alívio de tensões somente pode ser obtido pela redução do teor
de carbono da bainita (BHADESHIA, 2001).
Percebe-se, ainda, que há concordância entre os autores em relação ao
mecanismo de nucleação da bainita, dado através da nucleação de ripas de ferrita a
partir dos contornos de grão da austenita de origem, bem como em relação ao
mecanismo de crescimento, que neste caso é dado através da nucleação de repetidas
26

subunidades, formando feixes de ripas de ferrita bainítica, com ou sem dispersão de


carbonetos, austenita retida e/ ou martensita.
A Figura 2 apresenta um modelo descritivo para entender os mecanismos de
nucleação e crescimento da bainita, segundo, Bhadeshia (2001), onde se pode notar a
evolução da fração transformada da austenita de origem em constituintes bainíticos em
função do tempo para diferentes temperaturas de tratamento.

Figura 2 - Modelo descritivo da cinética de transformação bainítica, mostrando a


ocorrência de nucleação de ripas de ferrita bainítica a partir do contorno de grão
da austenita, crescimento das ripas (ou subunidades) e nucleação repetida de
ripas sucessivas.
27

Fonte: Bhadeshia (2001)

De acordo com Bhadeshia (2001), o tempo é outro fator importante para a


transformação bainítica e está ilustrado também na figura anterior, é possível notar a
variação da taxa de transformação bainítica para duas diferentes temperaturas, assim
como o mesmo também influencia no tamanho das subunidades e agrupamentos.

2.2.2 Aspectos cinéticos da transformação bainítica incompleta

Os aços bainíticos isentos ou livres de carbonetos são produzidos durante a


austêmpera, onde se promove de forma incompleta transformação isotérmica da
bainítica, de modo a obter uma microestrutura constituída por ferrita bainítica
entremeada de austenita retida com tendo alto teor de carbono.
28

A transformação bainítica incompleta ocorre pela decomposição isotérmica da


austenita que, em temperaturas abaixo da baía da curva TTT, é inicialmente rápida,
promovendo a formação de feixes de ferrita isentos de carbonetos, que são descritos
na literatura como bainita superior isenta de carbonetos ou ferrita pró-bainítica
doravante denominada apenas de ferrita bainítica (Goldenstein, 2002).
Após formação da ferrita pró-bainítica a transformação de fase pode cessar,
quase que completamente, por longos períodos na temperatura de tratamento, desta
forma o a precipitação de carbonetos é retardada, principalmente, influenciada pela
presença dos elementos de liga, tais como: o silício. Depois da parada ou “estáse”,
como também se conhece na literatura, a microestrutura pode transformar-se em um
agregado de ferrita e carbonetos de ferro, dando origem à bainita propriamente dita.
Na Figura 3, apresenta-se um diagrama esquematizando a transformação
bainítica incompleta, onde é possível observar a interrupção ou estáse da
transformação bainítica, logo abaixo onde acontece a separação entre as curvas em C
da bainita e da ferrita/perlita, acentuada pela existência de uma baía na curva TTT
nestes aços.
A estase ocorre tanto nos aços ligados com elementos que são fortes
formadores de carbonetos, como cromo (Cr) e molibdênio (Mo), em concentrações
onde a cementita (Fe3C) não é mais o carboneto de equilíbrio, como também nos aços
ligados com silício (Si) ou alumínio (Al), quando estes elementos estão associados a
teores críticos de manganês (Mn) ou níquel (Ni); nestes aços o efeito do Si ou do Al é
devido à solubilidade quase nula destes elementos da cementita, o que atrasa a
formação dos carbonetos (Goldenstein, 2002).
Reynolds et al (1990), mostraram que a estase não é um fenômeno geral da
transformação bainítica, mas que esta pode ocorrer devido a presença de alguns
elementos de liga, a partir de determinadas concentrações mínimas. Sendo, que este
fenômeno está associado à redução da cinética de migração das interfaces
ferrita/austenita em relação à velocidade calculada supondo equilíbrio (ou pára-
equilíbrio) na interface, o que provoca a separação das curvas em C e da baía da
curva TTT.

Figura 3 - Diagrama esquemático das etapas do tratamento térmico de


austêmpera Sendo: γ - austenita; α B - ferrita bainítica; γRem - austenita
remanescente
29

Fonte: Kovacs (1990)

Esta diminuição na velocidade de migração das interfaces está associada ao


fenômeno de arraste de soluto, proposto por Kisman (1973) e aprimorado por Purdy
(1995). Este fenômeno faz com que a migração de interfaces praticamente cesse, logo
após a nucleação. Um super-resfriamento posterior pode permitir a nucleação de
subunidades a partir da própria interface /, pelo processo de nucleação simpática. O
produto gerado é classificado na literatura como sendo uma ferrita de morfologia acicular
degenerada que cresce rapidamente (GOLDENSTEIN, 2002; FERRER, 2003).

O fenômeno de nucleação simpática é interrompido pela partição de carbono para


a austenita, provocando a diminuição do potencial para nucleação e a formação do
patamar característico do fenômeno de estase.

Na Figura 3 é apresentado um diagrama esquemático da cinética global da


transformação bainítica, destacando este fenômeno (FERRER, 2003).
30

Figura 3 - Diagrama esquemático da cinética global da transformação


bainítica mostrando o fenômeno de estase da reação

Fonte: Ferrer (2003) após Reynolds et al, (1990)

Desta forma a microestrutura obtida em aços bainíticos livre de carbonetos é a


bainita que não apresenta carbonetos, isso devido ao carbono, que é particionado para a
austenita residual e não se precipita, tornando a austenita estável a temperatura
ambiente. Obtém-se uma microestrutura que consiste de finas placas de ferrita bainíticas
separadas por regiões de austenita enriquecida de carbono. Esta microestrutura é a
responsável pela combinação de propriedades mecânicas atrativas deste material.

2.2.3 Aspectos morfológicos da transformação bainítica nos aços

Conforme citado anteriormente a transformação bainítica da austenita se dá em


uma faixa de temperatura entre o início da transformação da martensita e as
temperaturas de formação da ferrita e perlita (REYNOLDS, 1990). Nestas condições é
possível a obtenção de morfologias provenientes de uma transformação global ou
completa ou por morfologias que caracterizam uma transformação parcial ou incompleta.
A morfologia da bainita isotérmica que é proveniente da transformação completa
é geralmente descrita na literatura (Bhadeshia, 2001) como uma microestrutura
composta por uma mistura não lamelar de ferrita e carbonetos, que pode ser classificada
em dois tipos principais: i) bainita superior e ii) bainita inferior. Outra definição
31

comumente utilizada descreve esta microestrutura como sendo composta por ferrita
acicular ou em placas, contendo carbonetos dispersos, como se mostra na Figura 4.

Figura 41 - Representação esquemática dos mecanismos de formação e de


transição entre bainita superior e bainita inferior

Fonte: Bhadeshia (2001)

Conforme a ilustração da Figura 4, a bainita superior é constituída de finas ripas


de ferrita, as quais possuem aproximadamente 0,2 μm de espessura e 10 μm de
comprimento e por carbonetos. Estas ripas crescem em agrupamentos, sendo que no
mesmo agrupamento tem-se a mesma orientação cristalográfica, onde os planos estão
distribuídos paralelamente. Cada plano do agrupamento é uma subunidade da bainita
superior. A bainita inferior possui a microestrutura e cristalografia semelhantes às da
bainita superior, sendo que a faixa de temperatura para sua formação está entre 250ºC e
350ºC e, assim como a bainita superior, é dependente da composição química do aço
(BHADESHIA, 2000).
Observa-se na Figura 4, também, que a principal distinção entre bainita inferior
e superior é que a primeira pode ocorrer em temperaturas mais baixas, promovendo a
formação de carbonetos (cementita) no interior das ripas de ferrita. Por outro lado,
distinguem-se dois tipos de precipitados de carbonetos (cementita): i) o que cresce a
partir da austenita enriquecida em carbono e que separa as ripas de ferrita bainítica; e ii)
uma segunda cementita que precipita a partir da ferrita saturada. Esta última apresenta
relação de orientação de revenido, encontrada quando ocorre a precipitação de
32

carbonetos durante o tratamento térmico da martensita (BHADESHIA, 2001).


Neste caso, foi reportado por Bhadeshia (2001) que a morfologia decorrente da
transformação completa inicia sua formação nas placas de austenita que estão
saturadas de carbono e, dependendo da composição química e a temperatura de
resfriamento isotérmico, pode-se ter a formação da bainita inferior ou superior, conforme
citado anteriormente. No entanto, enquanto na bainita superior se formam finas ripas, na
bainita inferior tende a se formar abundantes planas no lugar de agulhas, onde se
interior ocorre a precipitação do carboneto (cementita).
Por outro lado, a morfologia da bainita isotérmica, proveniente da
transformação incompleta é constituída de ferrita bainítica e austenita retida, devido à
estáse da reação bainítica. A estáse ocorre tanto nos aços ligados com elementos que
são fortes formadores de carbonetos, tais como: como cromo (Cr) e molibdênio (Mo), em
concentrações onde a cementita (Fe3C) não é mais o carboneto de equilíbrio, como
também nos aços ligados com silício (Si) ou alumínio (Al), quando estes elementos estão
associados a teores críticos de manganês (Mn) ou níquel (Ni). Nestes aços o efeito do Si
ou do Al é devido à solubilidade quase nula destes elementos da cementita, o que atrasa
a formação dos carbonetos (CARMO, 2011).
Reynolds mostrou que a estase não é um fenômeno geral da transformação
bainítica, mas que esta pode ocorrer devido à presença de alguns elementos de liga, a
partir de determinadas concentrações mínimas. Sendo que este fenômeno está
associado à redução da cinética de migração das interfaces ferrita/austenita em relação
à velocidade calculada supondo equilíbrio (ou pára-equilíbrio) na interface, o que
provoca a separação das curvas em C e da baía da curva TTT (GOLDENSTEIN, 2002).
33

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAIS

Quatro aços de alto carbono, contendo teores variáveis de Si, Mn e Ni foram


estudados neste trabalho, cuja composição química se apresenta na Tabela 2.

Tabela 1 - Composição química das ligas.

Aço C Si Mn Ni Cr Mo Al P S
bainítico
B1 0,78- 1,48 1,5 0,5 1,00-1,20 0,20-0,40 0,045-0,065 0,025 0,015
0,83
B2 0,78- 1,94 1,4 0,43 1,00-1,20 0,20-0,40 0,045-0,065 0,025 0,015
0,83
B3 0,78- 1,52 1,98 0,47 1,00-1,20 0,20-0,40 0,045-0,065 0,025 0,015
0,83
B4 0,78- 1,42 1,5 1,85 1,00-1,20 0,20-0,40 0,045-0,065 0,025 0,015
0,83
Fonte: A autora
34

O manganês foi variado na composição química para avaliar efeito potencial na


estabilidade da austenita nas etapas de austenitização e de austêmpera. O níquel foi
alterado para avaliar seus efeitos no austemperabilidade destes aços dada a presença
dos outros elementos, tais como o Cr e Mo.
Por outro lado, adicionou-se silício tendo em vista seu efeito inibidor na
precipitação de cementita durante a reação bainítica. Isso faz com que a cinética de
nucleação e crescimento dos carbonetos passe a ser controlada pela difusão deste
elemento substitucional e, como conseqüência, que a austenita remanescente fique
enriquecida em carbono, o que favorece o aumento da sua estabilidade.
Os aços foram obtidos junto ao Setor de Fundição nas áreas de Serviços de
Engenharia da Sociedade Educacional de Santa Catarina (SSE), vazados em bloco tipo
Y atendendo às especificações da norma ASTM A897. O formato do bloco fundido foi
escolhido para obter um melhor rendimento de metal fundido e de modo a permitir seu
manuseio nas operações de usinagem de corpos de prova subseqüentes.

Os blocos Y foram moldados através do processo de cura frio e durante a fusão


das ligas foi utilizado um forno aquecido por indução de média freqüência com
capacidade de 300 kg. A composição química das ligas foi ajustada, durante o
processo de fusão, com o auxílio da técnica de espectroscopia de emissão óptica, em
espectrômetro do tipo SPECTROLAB, instalado junto ao Laboratório de Materiais da
SOCIESC.
Posteriormente, foram extraídas as extremidades ou partes úteis dos blocos em
Y, que aqui serão denominadas como tarugos, mediante processo de corte com jato de
água, com espessura média de 40mm. Os referidos cortes foram realizados utilizando
uma máquina OMAX 2626, junto à empresa Weld Vision, localizada na cidade de
Joinville-SC.
Após a extração dos tarugos procedeu-se à laminação a quente de cada um dos
aços. A laminação a quente foi realizada com a finalidade de quebrar a estrutura de
solidificação e de permitir a realização de tratamentos térmicos em condições
microestruturais de partida, semelhantes às dos aços conformados que são
regularmente empregados na fabricação de componentes de máquinas.
35

Para tanto, os tarugos em estado bruto de fusão foram submetidos a


aquecimento até 1100°C por 40 minutos, em um forno com câmera horizontal rotativa
com temperatura máxima de 1350°C, seguido de laminação de desbaste em um
laminador duo reversível. Para a laminação a quente estabeleceu-se um arranjo de
parâmetros pré-determinados, consistindo em dois passes com reduções de 0,5 e 0,3,
nas temperaturas de 960±30 e 870±200C, no primeiro e segundo passe,
respectivamente, obtendo-se como produto final as tiras de 7mm de espessura em
cada aço. A laminação a quente foi realizada junto à Empresa Metisa-Metalúrgica
Timboense S.A., na cidade de Timbó-SC. Posteriormente as tiras foram retificadas em
ambas as faces, de modo a eliminar a carepa oriunda do processo de laminação, até
atingir a espessura final de 6mm.
A partir das tiras laminadas a quente foram confeccionados os corpos de prova
com formato retangular para a execução dos experimentos de tratamentos isotérmicos
(em cada um dos aços). Para efetuar os cortes foi utilizado uma máquina de corte Cut-
Off, sendo que os mesmos foram realizados na direção longitudinal e transversal das
tiras de modo que se obtiver corpos de prova com dimensão de 12 mm (sentido
longitudinal) x 8 mm (na direção transversal) x 6 mm (que corresponde à espessura da
tira) .

3.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

O ciclo de tratamento térmico, proposto neste trabalho, consistiu em austenitizar


°C

os quatro aços à temperatura de 900°C por 0,5h, antecedido de pré-aquecimento a


450°C por 0,5h, seguido de um resfriamento controlado com estágio isotérmico a
370°C, com tempos
1000°C / de
0,5hpermanência que variaram entre 01 e 72h, como se representa
na Figura 5, com a finalidade de estudar o aspecto da cinética e morfologia da
transformação bainítica bem como de avaliar o efeito do tempo da reação bainítica na
Banho deretida,
fração volumétrica de austenita Sais decorrente desta transformação de fase.

450°C / 0,5h

370°C
Figura 5 - Representação esquemática do experimento de tratamento térmico.
420°C
Banho de Sais Ar

1 4 12 15 24 36 48 72 (h)
36

Fonte: A autora
Os corpos de prova correspondentes a cada material e condição experimental
foram identificados de acordo com a legenda da Tabela 3.

Tabela 3 - Especificação dos parâmetros do tratamento isotérmico e identificação dos


corpos de prova para cada material.

Temp. de
Aço Tempo de austêmpera (h)
austêmpera
Bainítico 1 4 8 12 15 24 36 48 72
(oC)

B1 B1-01 B1-04 B1-08 B1-12 B1-15 B1-24 B1-36 B1-48 B1-72

B2 B2-01 B2-04 B2-08 B2-12 B2-15 B2-24 B2-36 B2-48 B2-72


370
B3 B3-01 B3-04 B3-08 B3-12 B3-15 B3-24 B3-36 B3-48 B3-72

B4 B4-01 B4-04 B4-08 B4-12 B4-15 B4-24 B4-36 B4-48 B4-72

Fonte: A autora
Foi realizada uma réplica de cada condição experimental, nos quatro aços, as
quais foram identificadas acrescendo o dígito 1 aos códigos apresentados na Tabela 4.
A identificação das réplicas pode ser exemplificada com o código B1-011, onde: B1
identifica o material como aço Bainítico-1; 01 representa a duração do tratamento a
37

3700C, neste caso igual a 1 hora, 1 identifica o corpo de prova como sendo a réplica
deste tratamento.
Para a realização dos experimentos foram utilizados os fornos em banho de sais
que estão alocados no Setor de Tratamentos Térmicos da SSE.

3.3 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL

Ao longo do desenvolvimento do trabalho, foram utilizadas as seguintes técnicas


de caracterização microestrutural.
- Microscopia óptica, usando microscópio óptico Olympus BX51 (Japão) com
programa de análise de imagem Pro Plus 2002, acoplado ao banco
metalográfico, localizado junto ao Laboratório de Caracterização de Materiais da
SOCIESC, onde foram feitas as medidas de metalografia quantitativa para a
determinação das frações volumétricas transformadas;
- Microscopia eletrônica de varredura, usando equipamento de marca JEOL,
modelo JSM 6360, disponível no Laboratório de Caracterização Microestrutural,
junto à empresa ARCELORMITTAL VEGA, situada na cidade de São Francisco
do Sul – SC;
Para a revelação da microestrutura utilizou-se o reagente “Le Pêra” (LE PÊRA,
1980) o qual ataca de forma diferenciada cada constituinte, conferindo-lhes uma cor
característica (tons de marrom para a bainita, amarelo para a austenita retida e
martensita e preto no caso da presença de perlita). O ataque é efetuado misturando-se
iguais quantidades de duas soluções químicas, uma delas formada por metabisulfito de
38

sódio (2 g) dissolvido em água destilada (100 ml) e a outra formada por ácido pícrico (4
g) dissolvido em álcool etílico (100 ml), e em seguida esfregando um chumaço de
algodão embebido no reagente químico sobre a superfície da amostra. O tempo para o
ataque foi de 30 s.

Para a análise quantitativa de fase utilizou-se o procedimento descrito por Silva


(SILVA, 2008). No ambiente do programa Image ProPlus™, a análise de fases e de
características microestruturais é realizada por um módulo conhecido como
MaterialsPro. Dentro deste ambiente existem diversas ferramentas destinadas à análise
microestrutural, que podem ser utilizadas, por exemplo, para a determinação de frações
volumétricas e tamanho de grão, entre outros. Neste trabalho foi utilizada a ferramenta
“Measure Phases”, destinada à quantificação das diferentes fases presentes na
microestrutura. Após a seleção desta opção, utilizou-se outra ferramenta de ajuste
chamada “Phase Threshold Selection”, onde se determinou o nível crítico de saturação
para a melhor separação das fases de interesse. Nesta etapa são selecionadas
quantas fases (”Ranges”) forem desejadas, atribuindo-se a cada uma delas uma cor
específica.

O método padrão desenvolvido no presente trabalho utilizou duas faixas de


“Threshold” destinadas à quantificação de: i) constituinte acicular e ii) constituinte não
acicular ou maciço. Com auxílio de uma ferramenta que possibilita o ajuste e definição
dos intervalos de tonalidades é possível que o software quantifique as fases escolhidas
por diferenças de cores, neste caso a cor vermelha utilizou-se para quantificar o
constituinte acicular e a amarela para quantificar o constituinte maciço.

Durante as medidas quantitativas foram analisados em média cinco campos por


região e por amostra, com magnitudes de aumento entre 200 e 1000 vezes,
dependendo da fração volumétrica das fases de interesse e do grau de refinamento da
microestrutura.

Medidas de microdureza Vickers foram realizadas com o objetivo de


complementar a caracterização realizada por microscopia bem como com o intuito de
identificar a presença de martensita em regiões específicas de algumas amostras. Para
39

tanto, utilizou-se um microdurômetro Leitz-Wetzlar 6833, com cargas de 100 gf (HV-


0,1). Em média foram realizadas cinco medidas por amostra/região.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. ASPECTOS MICROESTRUTURAIS E ANÁLISES QUANTITATIVA DE FASES

Com o auxilio da técnica de microscopia óptica e de microdureza Vickers foi


possível a caracterização da morfologia dos diferentes aços estudados neste trabalho.
Na Figura 6 são apresentadas as morfologias
(a)
características das transformações
(b)
de
fase que correspondem aos aços B1, B2, B3 e B4, após a laminação a quente seguida
de resfriamento ao ar.

Perlita fina
Figura 6. MO: microestrutura dos aços bainíticos após laminação a quente
seguida de resfriamento ao ar. a) Aço B1 (1,5Si-1,5Mn-0,5Ni); b) Aço B2 (1,9Si-
1,5Mn-0,5Ni); c) Aço B3 (1,5Si-2,0Mn-0,5Ni); Bainita
d) Aço B4(1,5Si-1,5Mn-1,85Ni). Perlita
fina, bainita e martensita. Lê Pera, 1000X.
(c) (d)

Martensita
40

Fonte: A autora
Constata-se a presença de uma microestrutura mista constituída por escassas
regiões de pertita fina, particularmente nos aços B1 e B3 (Figura 6 (a e c)), ripas de
ferrita bainítica nucleadas cooperativamente, definindo pequenos agrupamentos ou
pacotes de ferrita acicular, que são predominantes em cada um dos aços, associados à
presença de bandas martensita massiva.
De modo geral, em cada uma das amostras examinadas, independentemente da
composição química dos aços, observou-se a formação de bandas alternadas de
constituintes microestruturais, paralelas à direção na qual se realizou a laminação a
quente, que são oriundas das condições em que foram deformadas. Durante a
laminação a quente destes aços, o número reduzido de passes, o alto grau de redução
de aproximadamente 50% em cada operação, a alta taxa de deformação associado ao
pequeno tempo entre os passes são fatores preponderantes para a ocorrência do
bandeamento observado.
A microestrutura mista justifica-se pelas condições em que foi efetuado o
resfriamento destes materiais. Considerando que a taxa de resfriamento imposta pelo
ar, após a laminação a quente, próximo ao laminador, seja equivalente à diferença de
temperatura, entre a temperatura de saída do laminador (840 0C) e a temperatura
ambiente (250C), em função do tempo em que o material atingiu o equilíbrio térmico
41

com o ambiente (2,5h = 150min), têm-se valores de super-resfriamento ( 5,4 0C/min) que
quando sobrepostos sobre um diagrama de resfriamento contínuo destes aços, podem
cruzar os campos dos constituintes microestruturais observados.
Uma representação desta hipótese é apresentada na Figura 7 através da
sobreposição da Curva de Resfriamento – CR I, no referido diagrama.

Figura 7. a) Representação do diagrama de resfriamento contínuo de aços


bainíticos (b) Morfologias comumente observadas em aços bainítico em função
das condições do resfriamento.

2
3
4

Fonte: A autora (adaptado de Cordine , 2013)

Percebe-se, na Figura 7 (b) que dependendo das condições em que ocorre a


transformação de fase e atendendo à natureza das fases secundárias, que junto com a ferrita
acicular constituem a bainita, podem se distinguir três principais morfologias da bainita, sendo
neste caso: a bainita granular que nas micro-imagens da Figura ---, se assemelham à perlita muito
42

fina, também, conhecida como troostita, formadas em temperaturas pouco abaixo onde se forma a
perlita; a bainita superior e a bainita inferior, estas últimas já tratadas na revisão bibliográfica
deste trabalho.
As evidências microestruturais apontam para uma transformação de fase por resfriamento
contínuo, após a laminação a quente, tendo o seu início em temperaturas elevadas na faixa
(intervalo 1 a 2 da CR I) onde é provável a formação de troostita, seguido da expressiva formação
de bainita, neste caso nucleando como bainita superior (intervalo 2 a 3) e crescendo como bainita
inferior (intervalo 3-4 da CR I), a qual é interrompida quando a austenita remanescente
transforma-se em martensita (a partir do ponto 4 da CR I).

4.2. ESTUDO DA CINÉTICA DA TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA

Os parâmetros do tratamento isotérmico no campo bainítico, influenciam


notoriamente na constituição da microestrutura final, na relação entre a fração
volumétrica dos constituintes microestruturais bem como na estabilidade da austenita
retida.

O estudo da cinética da transformação bainítica realizado neste trabalhou


fundamenta-se na contagem da fração transformada em função do tempo de
austêmpera à temperatura de 370 0C e complementa-se com a análise morfológica dos
constituintes microestruturais e as medidas de microdureza Vickers.

No ANEXO I deste trabalho apresenta-se um mapa de transformações de fase


onde é possível visualizar as modificações da microestrutura com o progresso da
reação bainítica acompanhadas dos percentuais da fração de austenita transformada
em agregados bainíticos. A Tabela 4 resume os percentuais de constituinte acicular,
assim denominada durante a contagem, em relação à fase continua que remanesce da
transformação austenítica.

Tabela 4. Percentual de fases aciculares formadas a 370 0C em função do tempo de


austêmpera.

Tempo (s) % de austenita transformada


43

Tempo
(h) LIGA 1 LIGA 1* LIGA 2 LIGA 2* LIGA 3 LIGA 3* LIGA 4 LIGA 4*
1 3600 69,7 69,7 85,5 77,9 86,6 67,6 79,9 60,2
4 14400 72,7 72,7 81,4 81,4 77,1 77,0 67,6 67,4
8 28800 68,7 74,2 72,6 83,1 72,9 81,3 82,3 71,0
12 43200 80,5 75,0 82,1 84,1 78,8 83,7 56,8 73,0
15 54000 76,9 75,5 86,5 84,6 66,5 84,9 77,3 74,2
24 86400 71,5 76,4 83,5 85,7 77,9 87,4 51,7 76,5
36 129600 73,8 77,3 86,6 86,6 80,4 89,3 78,6 78,4
48 172800 73,4 77,8 75,7 87,2 90,6 90,6 61,6 79,7
72 259200 72,2 78,7 76,1 0,9 78,6 92,2 67,2 81,6
Fonte: O Autor

Os dados experimentais, apresentados na Tabela --- foram analisados e


ajustados de acordo com a equação de Johnson-Mehl-Avrami-Kolmogorov (JMAK),
onde a dependência da fração transformada (X) com o tempo (t) e dada pela equação:


X  1  exp  b t 
n
, cujos valores são mostrados em destaque na referida Tabela.
Com os dados correspondentes ao ajuste pela equação de Avrami foram construídas as
curvas cinéticas da Figura 8.

Figura 8. Curvas que representam o aspecto da cinética da transformação


bainítica durante austêmpera a 370 0C em aços de alto carbono contendo teores
variáveis de Si, Mn e Ni.
44

Fonte: O Autor

O gráfico da Figura 8 permite avaliar a influencia da composição química através


dos teores de Si, Mn e Ni na evolução das frações volumétricas de ferrita bainítica,
determinadas por microscopia óptica, em relação ao tempo.
As curvas cinéticas para as ligas contendo teores variáveis de Si (liga 1 e 2)
apresentam um comportamento padrão ao longo do tempo, entretanto, a curva da Liga
2 (Si=1,9%) mostra tendência de deslocamento para maiores velocidades de
transformação associada a uma taxa de transformação mais elevada em relação à
curva da Liga 1 (Si=1,5%), estando de acordo com os dados reportados na literatura
(Hupalo, 2012).
Por outro lado, as curvas de cinéticas das ligas contendo teores variáveis de
manganês (Ligas 1 e 3) apresentam comportamento bastante semelhante para
menores tempos de tratamento térmico. A inflexão da curva cinética da Liga 1
(Mn=1,5%) mostra tendência para uma maior velocidade de transformação quando o
tempo é inferior a 4 horas de tratamento térmico o que reafirma o efeito do manganês
no sentido de retardar a formação de ferrita bainítica.
Entretanto, após 4 hora de tratamento as curvas da cinética apresentam uma
inversão de comportamento, neste caso a Liga 3 contendo maior teor de manganês
mostra uma expressiva taxa de deformação, que se incrementa com o aumento do
tempo, em relação ao comportamento da Liga 1. Entretanto, estudos recentes apontam
para um comportamento da cinética da transformação de fase diferente do resultado
obtido neste trabalho.
Santofimia (2007) variou a concentração de manganês para estudar seus efeitos
na cinética da transformação bainítica em ligas Fe-0,3C, Fe-0,3C-1Mn y Fe-0,3C-2Mn à
temperatura de 450ºC. O gráfico da Figura 9 apresenta o comportamento cinético
constado pela pesquisadora.
45

De acordo com a Figura 9 (a) a liga com menor teor de manganês possui menor
valor inicial e final de Gm (Energia de ativação), trazendo como conseqüência um
aumento na velocidade da transformação conforme a Figura 9 (b).
Portanto, uma análise criteriosa dos resultados obtidos neste trabalho deve ser
feita, buscando esclarecer este comportamento controvertido. Cabe destacar que os
resultados reportados na literatura estão baseados em trabalhos experimentais
envolvendo aços com menor teor de carbono e silício bem como sem a presença de
outros elementos substitucionais como, por exemplo, o níquel e o cromo.
Nesse caso, cabe aprofundar nas análises microestruturais de modo a verificar
se a combinação destes elementos pode reduzir a velocidade da transformação. Sabe-
se que estes elementos podem afetar os mecanismos de mobilidade atômica que
garantem o efeito estabilizador que o manganês possui sobre a austenita.

Figura 9. Evolução da transformação bainítica em ligas Fe-0,3C, Fe-0,3C-1Mn y Fe-


0,3C-2Mn. (a) Diagrama de energia de ativação em função do tempo; (b) Curva
cinética da transformação bainítica.

(a)

(b)
46

Fonte: A Autora (adaptado de Santofimia (2007))

Em relação ao efeito do níquel na cinética da transformação bainítica o gráfico da


Figura 10 apresenta a evolução da microestrutura em aços contendo os mesmos
teores de C, Si e Mn, quando tratados a 370 0C por tempos variáveis.

Figura 10. Curvas que representam o efeito do Ni na cinética da transformação


bainítica durante austêmpera a 3700C.

Fonte: O Autor
Observa-se na Figura 10 que para tempos de até 24 horas o níquel reafirma o
seu efeito no atraso da transformação bainítica. Como pode ser observado, para os
menores tempos, a Liga 1 (Ni=0,5%) apresenta uma velocidade de transformação
associado a uma maior taxa de transformação, quando comparado com a Liga 4
47

(Ni=1,85%). Acima de 24 horas o níquel perde seu efeito retardador sobre a


transformação de fase, aumentando progressivamente a taxa de transformação com o
aumento do tempo de austêmpera. Estes resultados estão de acordo com os dados
reportados por Santofimia (2007).

4.3. ESTUDO DA MORFOLOGIA DA TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA

Com o auxilio da técnica de microscopia óptica e microscopia eletrônica de


varredura, assim como com as medições de microdureza Vickers, foi possível a
caracterização morfologia dos aços estudados neste trabalho.
A Figura 11 apresenta uma imagem obtida por microscopia óptica que
corresponde à Liga 1 tratada por 8 horas, com o intuito de caracterizar a morfologia
característica dos aços bainíticos quando austemperados por tempos curtos.
Observa-se na Figura 11(a) uma microestrutura constituída por feixes de ripas
de ferrita bainítica, com microdureza média de 580HV, imersos em uma matriz
predominantemente martensítica, com microdureza de 830HV, a qual é gerada a partir
da decomposição da austenita residual durante o resfriamento posterior à austêmpera.

Figura 11. MO: a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço


bainítico B1 (1,5Si-1,5Mn-0,5Ni) austemperado a 3700C por 8h. b) sítios
preferenciais onde ocorre a nucleação de ferrita bainítica na amostra do aço B2
tratada por 8h. Lê Pera, 1000X
(a) (b)

b 
48

Fonte: O Autor
Na Figura na Figura 11 (b) pode ser observado que a nucleação de ferrita
bainítica ocorre a partir dos antigos contornos de grão da austenita (indicados por
setas), neste casso bem visíveis como resultado do ataque utilizando uma solução de
10% de metabisulfito de sódio, por tempo de pelo menos 120s. Estas condições
microestruturais, a partir da nucleação simpática dos feixes de ripas, são destacadas
pela literatura, como sendo a premissa para que ocorra o fenômeno de partição do
carbono para a austenita que remanesce durante a formação da ferrita bainítica,
reduzindo a temperatura de inicio de transformação martensítica.
No entanto, quando o tempo da reação não é suficiente para produzir grandes
frações volumétricas de ferrita bainítica, a partição de carbono na frente da interfase
/é limitada e, portanto, a austenita apresenta menores teores de carbono, sendo
menos estável e sujeita a se transformar em martensita durante o resfriamento rápido.
Também, ao se comparar as amostras austemperadas nas mesmas condições
de tempo, nota-se que a amostra da Liga B2 (Si=2,0%) apresenta uma maior fração e
um melhor agrupamento das ripas e feixes de ferrita bainítica do que as observadas na
Liga B1 (Si=1,5%), reafirmando o efeito do silício no aumento na taxa da transformação
bainítica discutido anteriormente.
A Figura 12 apresenta os detalhes microestruturais desta amostra, mediante as
micrografias obtidas através de MEV, destacando-se os pacotes de ferrita bainítica e as
ilhas de martensita.

Figura 12. MEV: aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico


B1 (1,5Si-1,5Mn-0,5Ni) austemperado a 3700C por 36 horas. Nital 2%.
 
b
b
49

Fonte: O Autor

Na Figura 13 são apresentadas as imagens obtidas por microscopia óptica em


amostras de aços bainíticos tratados por 36 horas, onde se constata o predomínio de
ripas de ferrita bainítica (microdureza de 580HV), semelhantes às reportadas na
literatura (BHADESHIA, 2001), acompanhada de regiões massivas de martensita
(microdureza: 820HV)

Figura 13. MO: aspectos morfológicos da transformação de fase em aços


bainíticos austemperados a 3700C por 36 horas. a) Aço B1 (1,5Si-1,5Mn-0,5Ni); b)
Aço B2 (1,9Si-1,5Mn-0,5Ni); c) Aço B3 (1,5Si-2,0Mn-0,5Ni); d) Aço B4(1,5Si-1,5Mn-
1,85Ni). Perlita fina, bainita e martensita. Lê Pera, 1000X.

(a)
M (b)

b b

(c) (d)

r
M
r

M b
b
50

Fonte: O Autor
As análises quantitativa de fase, que aparece resumida no Mapa de
Transformações de fase (ANEXO I), corroboram o efeito dos elementos de liga na
fração transformada como já discutido anteriormente. Neste caso, observa-se um
acréscimo na fração de ferrita acicular nas ligas contendo os maiores teores de Si, Mn e
Ni.
Também, nas micrografias correspondentes às Liga 3 (Mn=2,0%) e 4 (Ni=1,85%)
observa-se a presença de partículas, semelhantes a os blocos de austenita retida
reportados na literatura (Ferrer, 2003), (Hupalo, 2012), situadas nas regiões de
encontro de diferentes agrupamentos de feixes de ripas de ferrita bainítica. A austenita
retida, regularmente possui forma triangular ou poliédrica e é chamada de austenita
retida em blocos (sigla ARB).
51

6 CONCLUSÕES

As conclusões deste trabalho são:

 Foi possível constatar, nos três arranjos de liga estudados, o efeito da


composição química na cinética da transformação bainítica em aços de alto
carbono.

 Na liga contendo maior teor de silício (Liga 1: Si=1,9%) foi possível constatar que
a curva cinética mostra uma tendência de deslocamento para maiores
velocidades de transformação, associada a uma taxa de transformação mais
elevada, em relação ao comportamento observado na liga com menor silício
(Liga 2: Si=1,5%).

 Nas ligas contendo teores variáveis de Mn observou-se um comportamento o


comportamento cinético bastante semelhante para tempos menores a 4h. Ainda
na liga contendo menor teor de manganês (Liga 1: Mn=1,5%) a curva cinética
mostra uma tendência para uma maior velocidade de transformação,
reafirmando o efeito do manganês no sentido de retardar a formação de ferrita
bainítica.

 No entanto, quando a austêmpera é superior a 4h constata-se uma inversão de


comportamento, onde a liga contendo maior teor de manganês apresenta as
52

maiores taxas de transformação. Este comportamento é controverso se levado


em conta os resultados recentemente reportados na literatura, merecendo uma
análise mais aprimorada.

 Constatou-se que nas ligas contendo teores variáveis de níquel um aumento do


tempo pode induzir uma inversão no comportamento cinético da transformação
bainítica. Acima de 24 horas o níquel perde seu efeito retardador sobre a
transformação de fase, aumentando progressivamente a taxa de transformação
com o aumento do tempo de austêmpera. Este comportamento é atribuído ao
efeito do níquel na estabilização da austenita retida.

 Nos aços contendo os maiores teores de elementos estabilizadores de austenita


(Liga 3: Mn=2,0% e Liga 4: Ni=1,85%) foi possível constatar a presença de
partículas de austenita retida, a partir de tempos de austêmpera intermediários,
podendo guardar relação com a inversão no comportamento cinético nestes
aços.

 Com o auxilio da análise quantitativa de fase e as medidas de microdureza, foi


possível observar repetibilidade na morfologia. Constata-se uma microestrutura
mista, em todos os aços, constituída por feixes de ripas de ferrita bainítica,
imersos em uma matriz predominantemente martensítica, com discreta variação
na fração volumétrica no decorrer do tempo de austêmpera.

 Constatou-se, ainda, que para os maiores tempos de austêmpera (72 h) é


notável a presença de colônias de martensita. Esta morfologia pode estar
associada à dificuldade para promover a difusão de carbono dado o efeito
contrário dos elementos substitucionais, neste caso de retardar a transformação
global da austenita em bainita.
53

6 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

Buscando esclarecer a inversão no comportamento cinético das ligas contendo teores


variáveis de manganês e níquel, sugere-se um estudo por dilatometría de têmpera
destes aços nas mesmas condições de tratamento térmico que foram desenvolvidas
neste trabalho.

Aprimorar o estudo microestrutural utilizando técnicas de MEV e Difração de raios X


que permitam verificar a provável fração de austenita retida e detalhar melhor os
aspectos morfológicos destes aços.
54

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
55

ANEXO I: Mapa de transformações de fase

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