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2012
REM: REVISTA ESCOLA DE MINAS, OURO PRETO, v.65, n.4, p.475-481, OUT-DEZ, 2012
http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/39585
Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo
Marcelo Henrique Farias de Medeiros et al.
Engenharia Civil
Civil Engineering
1. Introdução
Muitos pesquisadores têm se de- minar o coeficiente de difusão de clore- sem as seguintes questões. 1) ������������
Seria possí-
dicado a medir o coeficiente de difu- tos, a partir de ensaios de migração, têm vel extrair mais fatias de um mesmo cor-
são de cloretos como um parâmetro de sido desenvolvidos (Luping & Nilsson, po de prova sem perder a confiabilidade
comparações quantitativas de diferentes 1992; Andrade, 1993; Andrade et al., dos resultados? 2) As compactações das
concretos a serem usados em estruturas 1999; Truc et al., 2000; Castellote et al., diferentes camadas de um único corpo de
expostas a ambientes marinhos. Entre- 2001; Yang, 2005; Medeiros & Helene, prova são tão diferentes que modificam
tanto a determinação desse parâmetro, 2009; Medeiros et al., 2012), gerando a significativamente os resultados?
para ensaios de difusão, consome muito possibilidade de executar comparações A necessidade de reduzir o número
tempo, precisando de meses para a de- quantitativas. Esse artigo trata da aplica- de corpos de prova moldados no progra-
terminação do coeficiente de difusão dos ção de um desses métodos propostos. ma experimental da tese de doutorado de
cloretos. Por causa disso, em 1981, Whi- Muitos pesquisadores (Yang et al., um dos autores desse artigo motivou esse
ting desenvolveu um experimento que 2005; Tang & Sfrensen, 2001; Medeiros trabalho. Dessa maneira, o principal ob-
demanda poucas horas para obtenção de & Helene, 2009; Castellote et al., 2001; jetivo desse trabalho é responder as ques-
resultados de avaliação de penetração de Yang et al., 2007) que usam testes de mi- tões anteriormente apresentadas, além de
cloretos no concreto (Geiker et al., 1995). gração de cloreto extraem uma fatia de estudar a diferença da penetração de clo-
O procedimento do ensaio idealizado 50 mm de largura do núcleo central do retos entre a face superior (superfície aca-
por Whiting é ainda recomendado pela corpo de prova cilíndrico (100 mm de di- bada com desempenadeira de aço - topo
ASTM C1202/97, ensaio que não per- âmetro e 200 mm de comprimento). Esse do corpo de prova) e base do molde (su-
mite a determinação do coeficiente de procedimento resulta no descarte de cer- perfície em contato direto com a forma)
difusão de cloretos, mas é um caminho ca de 75% do concreto usado para mol- das vigas e lajes. A análise de variância
possível para comparações qualitativas. dar os corpos de prova. Esse fato fez com foi utilizada como ferramenta estatística
Contudo muitos estudos, para se deter- que os autores desse trabalho levantas- para se obterem conclusões confiáveis.
2. Procedimento experimental
Duas proporções de misturas de porção de mistura, 8 corpos de prova de prova foram cortados em fatias como
concreto foram utilizadas neste trabalho, cilíndricos foram moldados (100 mm de indicado na Figura 1. A Tabela 1 apresen-
com diferentes quantidades de cimento diâmetro e 200 mm de comprimento). ta o planejamento do experimento, assim
e relação água/cimento. Para cada pro- Depois de moldados e curados, os corpos como as proporções de mistura adotadas.
(Superfície uniformizada)
Descartadas Camadas
testadas
Figura 1
5.0 cm
Camada-base ensaiada
(Superfície em contato
direto com a forma)
Disposição do corte das amostras (4
Descartado
amostras para cada proporção de mistura)
Superfícies expostas à
(A) Corte em três camadas.
solução de cloreto (B) Corte nas camadas de topo e de base.
Materiais
O concreto foi produzido com o ci- escória), cuja composição química está apre- uma brita de origem granítica e o agregado
mento CPII E-32 (cimento composto com sentada na Tabela 2. O agregado graúdo foi miúdo foi uma areia natural de rio.
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Marcelo Henrique Farias de Medeiros et al.
Os detalhes das proporções de mis- lizada, para se garantir a compactação maras úmidas com umidade relativa de
turas são apresentados na Tabela 3. Após adequada. A cura adotada consistiu em 100 % e 23°C ± 2°C de temperatura por
a mistura, uma mesa vibratória foi uti- acondicionar os corpos de prova em câ- 91 dias.
Esse ensaio foi conduzido de acor- As fatias saturadas foram colo- penetração de cloretos foi medida. Isto
do com a norma ASTM C1202/97, exce- cadas entre duas células acrílicas, cada é possível porque esse procedimento
to para tensão aplicada, que foi reduzida célula com 280 cm³ de capacidade volu- causa a formação de regiões brancas
de 60V para 30V de forma a diminuir o métrica. Uma célula foi preenchida com e marrons com fronteira de separação
efeito Joule (Medeiros et al., 2006). Após uma solução aquosa de NaOH 0,3N e bem definida. A região branca é devida
o tempo de cura úmida, fatias de 50 mm a outra com solução aquosa com 3% de à precipitação de AgCl e, portanto, re-
de altura e 100 mm de diâmetro foram NaCl, como ilustrado na Figura 2. Os presenta a área que contém cloreto. A
cortadas dos corpos de prova cilíndricos dois pólos da célula foram conectados à região escura corresponde à zona sem
de 100 mm de diâmetro e 200 mm de fonte de tensão de 30 V, conforme ilus- cloretos. A frente de coloração branca
comprimento, como descrito anteriormen- trado na Figura 2. corresponde aos cloretos livres e solú-
te. Fatias foram usadas para representar A diferença de potencial (D.D.P) veis em água. Desse modo, medindo-se
cada camada de estudo. Dessa maneira, foi mantida durante 30 horas após o a profundidade da frente branca, mede-
12 fatias da porção central dos corpos de início do ensaio de migração. Em segui- se a profundidade de penetração de clo-
prova (4 de cada uma das 3 camadas re- da, a fonte de energia foi desligada e as retos no concreto (Medeiros & Helene,
presentadas na Figura 1(A)) e 8 fatias das fatias de concreto foram seccionadas na 2009; Meck & Sirivivatnanon, 2003;
extremidades (4 da superfície acabada e 4 direção do fluxo de cloretos. Na sequên- Aït Mokhtar et al., 2007; Medeiros et
em contato com a fôrma) foram utilizadas. cia, uma solução aquosa de AgNO3 0,1 al., 2009). Esse procedimento está de
Essas fatias foram saturadas de acordo M foi aspergida na superfície de concre- acordo com as recomendações de Lu-
com o procedimento da ASTM 1202/97. to recém-fraturado e a profundidade de ping & Nilson (1992).
A B VOLTAGEM
Figura 2
Superfície
Arranjo experimental da célula Perspectiva explodida da célula
protegida
Catodo Ânodo
O método de ensaio usado está de acordo com o procedi- A Eq [1] foi utilizada para o cál-
neste trabalho para estimar o co- mento descrito por Geiker et al. culo dos coeficientes de difusão
eficiente de difusão de cloretos (1995) e Luping & Nilson (1992). de íons cloreto.
D = R . T . xd - a.xd
b
(1)
z.F.E t
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Ensaio de migração de cloretos para concreto: influência do número de fatias extraídas
3. Resultados e discussão
Comparando camadas
A Figura 3 mostra uma compara- As Tabelas 4 e 5 apresentam significância) que não existe dife-
ção da penetração de íons cloreto entre as os dados das análises de variância rença nos resultados de penetra-
3 camadas da porção central dos corpos usados para testar a validade das ção de íons cloreto, nas diferentes
de prova, tanto para as proporções de conclusões desse trabalho. Esses camadas da porção central de um
mistura 1:4,5, como para 1:6,0. resultados indicam (com 99% de corpo de prova.
35
Penetraç ão de c loretos (mm)
25
20 21 21
20
15
12 11
11
10
Figura 3
5
Penetração de íons cloreto, comparando
três camadas de amostras cilíndricas
0 (100 mm de diametro e 200 mm
Camada 1 Camada 2 Camada 3 Camada 1 Camada 2 Camada 3 de comprimento).
Significância = 99%
Soma dos Grau de Média dos
Fonte de variação F valor F crítico
quadrados liberdade quadrados
Camadas 19105,7 2 9552,8 0,0109 10,9
Corpos de prova 4149,6 3 1383,2 0,3021 9,8
Resíduos 5450,7 6 908,4 Tabela 4
Análise de variância para penetração
Total 28706,0 11
de Cl- (camadas X corpos de prova e
* Se Fvalor > Fcritico , então existe influência das variáveis estudadas. cimento:agregados = 1: 6,0).
Significância = 99%
Soma dos Grau de Média dos
Fonte de variação F valor F crítico
quadrados liberdade quadrados
Camadas 2,565 2 12,825 2,18 10,92
Corpos de prova 2.993.333 3 0,9977777 1,70 9,78
Resíduos 3.521,667 6 0,5869444 Tabela 5
Análise de variância para penetração
Total 9,08 11
de Cl- (camadas X corpos de prova e
* Se Fvalor > Fcritico , então existe influência das variáveis estudadas. cimento:agregados = 1: 4,5).
Usando a equação proposta por Lu- concreto foram calculados. Esses dados o mesmo coeficente de difusão de íons
ping & Nilson (1992) [Eq. (1)] e os resul- estão representados na Figura 4 e provam cloreto. Isto confirma a viabilidade em se
tados da profundidade de penetração de que a difusão dos íons em questão atra- usar mais de uma camada de cada corpo
íons cloreto (pelo teste colorimétrico), os vés das três camadas extraídas da porção de prova, para o ensaio de migração de
coeficientes de difusão de íons cloreto do central de um corpo de prova, apresenta íons cloreto.
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5.0E-08
Cimento:Agredados 1:4,5 Cimento:Agredados 1:6,0
4.0E-08
3.44E-08 3.45E-08 3.48E-08
D (c m²/s )
2.61E-08
3.0E-08
2.48E-08 2.56E-08
2.0E-08
Figura 4 1.0E-08
Coeficiente de difusão de íons cloreto,
comparando três camadas de corpos de
prova cilíndricos (100 mm de diâmetro 0.0E+00
e 200 mm de comprimento). Camada 1 Camada 2 Camada 3 Camada 1 Camada 2 Camada 3
35
Penetraç ão de c loretos (mm)
Significância = 99%
Soma dos Grau de Média dos
Fonte de variação F valor F crítico
quadrados liberdade quadrados
Topo/base 231104,8 1 2,00E+05 158,81 34,12
Corpos de prova 1037,8 3 345,9 0,24 29,46
Tabela 6 Resíduos 4365,6 3 1455
Análise de variância para penetração
Total 236508,2 7
de Cl- (topo e base X corpos de prova e
cimento:agregados = 1:6,0). * Se Fvalor > Fcritico , então existe influência das variáveis estudadas.
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Ensaio de migração de cloretos para concreto: influência do número de fatias extraídas
Significância = 99%
Soma dos Grau de Média dos
Fonte de variação F valor F crítico
quadrados liberdade quadrados
Topo/base 231104,8 1 2,00E+05 158,81 34,12
Corpos de prova 1037,8 3 345,9 0,24 29,46
Resíduos 4365,6 3 1455 Tabela 7
Análise de variância para penetração
Total 236508,2 7
de Cl- (topo e base X corpos de prova e
* Se Fvalor > Fcritico , então existe influência das variáveis estudadas. cimento:agregados = 1:4,5).
5.0E-08
Cimento:Agredados 1:4,5 Cimento:Agredados 1:6,0
3.90E-08
4.0E-08
3.58E-08
2.88E-08
D (c m²/s )
3.0E-08
2.52E-08
2.0E-08
Figura 6
1.0E-08
Coeficiente de difusão de cloretos,
comparando superfícies do topo e da
base dos corpos de prova cilíndricos
0.0E+00
(100 mm de diâmetro e 200 mm de
Base Topo Base Topo comprimento).
4. Conclusões
A partir do estudo apresentado nes- • A penetração de íons cloreto, nas su- • Como já esperado, ficou claro que
se documento, as seguintes conclusões perfícies de acabamento, é maior que não existe influência significativa do
podem ser tiradas: na base (nas faces em contato com corpo de prova em um teste de mi-
• Não existe influência significativa a fôrma) do corpo de prova. Isto é gração de íons cloreto. Além disso,
nos resultados de profundidade de causado, em parte devido ao maior o procedimento de ensaio é capaz de
penetração de íons cloreto, coefi- volume de poros maiores que 10 nm diferenciar concretos de qualidades
ciente de difusão de íons cloreto e apresentados pelas superficies finais distintas (cimento:agregados = 1:4,5 e
porosidade das três fatias distintas e, em parte, pela ocorrência de mi- a/c = 0,50; cimento:agregados = 1:6 e
extraídas da porção central de um crofissuras na superfície do topo dos a/c = 0,65).
único corpo de prova cilindrico corpos de prova (dados comprova- É importante verificar que esses
(100 mm de diâmetro e 200 mm de dos por Medeiros et al., 2009). Essas resultados foram obtidos utilizando-se
comprimento). Isso siginifica que é microfissuras ocorrem por causa da uma mesa vibratória, para se garantir
possível usar mais de uma fatia de exsudação e da rápida evaporação de uma compactação adequada. Outro tipo
um corpo de prova para um ensaio água nas primeiras horas depois da de compactação pode produzir resulta-
de migração de íons cloreto. moldagem dos corpos de prova. dos diferentes.
5. Agradecimentos
Os autores agradecem a Univer- Conselho Nacional de Desenvolvimento Estado de São Paulo) por tornarem esse
sidade de São Paulo (POLI-USP), Uni- Científico e Tecnológico (CNPq) e FA- estudo possível, dando suporte financei-
versidade Federal do Paraná (UFPR), PESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do ro ao mesmo.
6. Referências Bibliográficas
AÏT MOKHTAR, K., LOCHE, J. M., FRIEDMANN, H., AMIRI, O., AMMAR,
A. Steel corrosion in reinforced concrete. In: Report nº. 2–2-Concrete in marine
environment. MEDACHS – Interreg IIIB Atlantic Space – Project nº 197. Marine
Environment Damage to Atlantic Coast Historical and transport works or
Structures: methods of diagnosis, repair and of maintenance, 2007.
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Marcelo Henrique Farias de Medeiros et al.
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