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DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA - THA

DISCIPLINA ARQ&URB NO BRASIL CONTEMPORÂNEO


PROFª DRª. ANA PAULA GURGEL

Escola modernista carioca


Entre o racionalismo e a cultura brasileira
Sumário
1. Contextualização
2. A escola carioca
3. Le Corbusier e o edifício do MES
4. Lucio Costa
5. Oscar Niemeyer
6. Referências
1. Contextualização
Contextualização
1914 -18 1922 1928 1930 1934-37 1939 -1945 1947-52
1ª Guerra Semana Villa Revolução Atuação de 2ª Guerra Unité
Mundial de Arte Savoye, de de 30 Luiz Nunes Mundial d'Habitation
Moderna Le Lucio Costa no Recife , Marseille
Corbusier assume a de Le
Escola de Corbusier
Belas Artes
do RJ

1917 1927-28 1929 1933 1936-47 1940 1951


Revolução Casa do Quebra da Carta de Construção Complexo Edifício
Russa arquiteto bolsa de NY Atenas dá sede do da Copan de
Gregori MES – atual Pampulha Oscar
Warchavchi Palácio de Oscar Niemeyer
k Capanema Niemeyer
em SP
2. A escola carioca
A escola carioca Era Vargas é o nome que se dá
ao período em que Getúlio Vargas
governou o Brasil por 15 anos, de
forma contínua (de 1930 a 1945).
Esse período foi um marco na
história brasileira, em razão das
inúmeras alterações que Getúlio
Vargas fez no país, tanto sociais
quanto econômicas.

A Era Vargas, teve início com a


Revolução de 1930 onde expulsou
do poder a oligarquia cafeeira,
dividindo-se em três momentos:

• Governo Provisório -1930-1934


• Governo Constitucional – 1934-1937
• Estado Novo – 1937-1945
A escola carioca
REVOLUÇÃO DE 1930

Revolução??
A escola carioca
REVOLUÇÃO DE 1930
• Antecedentes: política oligárquica
do café–com-leite

• Aliança Liberal: a chapa


encabeçada pelo fazendeiro
gaúcho Getúlio Dorneles Vargas
prometia um conjunto de medidas
reformistas (voto secreto, o
estabelecimento de uma legislação
trabalhista e o desenvolvimento da
indústria nacional)

• Júlio Prestes foi considerado


vencedor das eleições

• Assassinato do liberal João


Pessoa
GOLPE
• derrubada do governo oligárquico
com o auxílio de setores militares
MILITAR
A escola carioca
Revolução de 30 e a Era Vargas

• Criação do Ministério da educação, com o


jurista Francisco campos que escolheu como
chefe de gabinete Rodrigo de Mello
Franco de Andrade, um importante
intelectual carioca.

• Este convenceu o ministro a convocar


Lucio Costa para uma renovação da Escola de
Belas Artes:

“pretendia-se proporcionar aos seus alunos uma


opção entre o ensino acadêmico, ministrado por
professores catedráticos, que seriam mantidos em
suas funções e o ensino ministrado por elementos
mais jovens, identificados com o espírito moderno
e que seriam recrutados por contrato”
(BRUAND, p. 72)
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
• Lucio Costa chega à direção da Escola com apenas
4 anos de formado em arquitetura e 28 de idade,

• Substitui o professor Corrêa Lima, escultor que vinha


buscando mudanças, apesar de ter em sua formação a
orientação de Archimedes Memória (arquiteto de
inclinação clássica) e de José Mariano Filho (antigo
diretor), que na ENBA defendia as poéticas da
arquitetura neocolonial.

• O esgotamento do modelo historicista

• Lucio costa já possuía, como jovem intelectual e


arquiteto sensível, a sedução do novo, razão que o fez
percorrer caminhos ainda não totalmente abertos na
Escola.

• É importante salientar que ele não


era a única voz
que defendia a modernidade.
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Desvinculava o ensino de Arquitetura das Belas Artes e incluía em
seu currículo as disciplinas do Urbanismo e do Paisagismo.

O ensino de Arquitetura assumiria identidade própria, mais


próxima da problemática urbana e das novas técnicas da
indústria.

Rejeitada nos embates iniciais da ENBA, a Reforma seria


implantada apenas em 1946, com a fundação da
Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil,
atual UFRJ

A contratação de novos professores, afinados com o ideário


moderno - entre os quais Gregori Warchavchik (1896 - 1972),
bem como o escultor Celso Antônio e o pintor Leo Putz - assim
como a reestruturação das Exposições Gerais de Belas Artes e
dos prêmios de viagem ao exterior estão entre as metas primeiras
do arquiteto.
Frank Lloyd Wright ladeado por Gregori
Warchavchik e Lucio Costa, em sua visita ao
Brasil em 1931, na Casa Nordshild, RJ.
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes

“A reforma visará aparelhar a escola de um


ensino técnico‐científico tanto quanto possível
perfeito, e orientar o ensino artístico no sentido
de uma perfeita harmonia com a construção.

Os clássicos serão estudados como


disciplina; os estilos históricos como
orientação crítica e não para aplicação direta.

Acho indispensável que os nossos arquitetos


deixem a escola conhecendo perfeitamente
a nossa arquitetura da época colonial ‐ não
com o intuito da transposição ridícula de seus
motivos, não de mandar fazer falsos móveis de
jacarandá ‐ os verdadeiros são lindos ‐, mas de
aprender as boas lições que ele nos dá de
simplicidade, perfeita adaptação ao meio e à
função, e consequente beleza.”
(COSTA, 1931, p, 89)
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
• 38ª Exposição Geral de Belas Artes realizada entre os
dias 1° e 29 de setembro de 1931, na Escola Nacional
de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro.

• Foi revolucionaria por ter abrigado, pela primeira vez,


artistas de perfil moderno e modernista.

• Comissão organizadora: além de Lucio Costa,


Manuel Bandeira, Anita Malfatti, Candido
Portinari e Celso Antônio, todos ligados ao movimento
moderno.

• Diversos artistas modernos expõe

• Na arquitetura, Gregori Warchavchik participou


apresentando as fotografias de suas casas
modernistas
Revista da Semana, Rio de Janeiro, 12 de Setembro de
1931. "O Salão de 1931"
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
"O Salão, por exemplo - que exprime sobejamente o nosso grau de cultura artística -, diz
bem do que precisamos.

De ano para ano, tem-se a impressão de que as telas são sempre as mesmas, as mesmas
estátuas, os mesmos modelos, apenas a colocação ligeiramente varia.

Apesar do abuso de cor (ter colorido gritante, julgam muitos, é ser moderno), sente-se uma
absoluta falta de vida, tanto interior como exterior, uma impressão irremediável de raquitismo,
de inanição (...).

Tem-se a impressão que vivemos em qualquer ilha perdida no Pacífico, as nossas últimas
criações correspondem ainda às primeiras tentativas do impressionismo".

Lucio Costa
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
Anita Malfatti - O homem amarelo (1915-1916)
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
Antônio Gomide –
Nu Cubista - s/d
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
Pensando - Flávio de Carvalho - 1931
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall Projeto para farol
• Paulo Rossi Osir de Colombo, em
tempos onde
• Quirino da Silva apenas Gregori
• Tarsila do Amaral Warchavchik
• Waldemar da Costa possuía obras
modernistas
• Victor Brecheret
construídas -
Flávio de Carvalho
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
L. Segall - Morro Vermelho 1926
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
Imigrante Lituano, 1930 Paulo Cláudio Rossi Osir
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret

Caipirinha - c. 1923 – Tarsila do Amaral


A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
A feira II, 1925 / Tarsila do Amaral
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão
Revolucionário
Artistas que participaram:
• Alberto da Veiga Guignard
• Aldo Bonadei
• Anita Malfatti (org.)
• Antônio Gomide
• Cândido Portinari (org.)
• Cícero Dias
• Di Cavalcanti
• Flávio de Carvalho
• Ismael Nery
• John Graz
• Lasar Segall
• Paulo Rossi Osir
• Quirino da Silva
• Tarsila do Amaral
• Waldemar da Costa
• Victor Brecheret
Fuga para o Egito - c. 1924 - Victor Brecheret
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário

Tocadora de Guitarra, escultura de Victor Brecheret, 1927.


A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário

Cícero Dias, que apresentou o imenso painel Eu vi o mundo ... Ele começava no Recife, que teve partes
que retratavam cenas eróticas danificadas pelo público.
A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário

• No exato dia da abertura da Exposição, 1° de setembro,


o ministro da Educação Francisco Campos demitiu-se
do governo, fragilizando a posição de Lucio Costa na
direção da Escola.

• As resistências e as campanhas movidas contra a


gestão de Lucio Costa à frente da ENBA, a despeito do
apoio (sobretudo dos alunos), a falta de apoio político,
Costa não foi capaz de suportar as pressões e acabou
por também se demitir 18 de setembro de 1931, não
por acaso no mês em que o Salão Revolucionário abre
as portas ao público.

• Foi substituído Arquimedes Memória, escolhido por


votação da Congregação

Porém, o “estrago” já estava feito!


A escola carioca
A reforma da Escola de Belas Artes
Salão de 1931, conhecido como Salão Revolucionário

O Salão Revolucionário foi sintoma de uma sociedade em transformação, rumo à


consolidação da cultura moderna e, em se tratando de sua importância enquanto
acontecimento histórico, vale ressaltar uma colocação do pensador Pierre Bourdieu:

"a ruptura com o estilo acadêmico implica a ruptura com o estilo


de vida que ele supõe e exprime".

A despeito da Semana de 1922 já ter proclamado tal ruptura, o Salão reafirma-se em sua
importância por realizar as façanhas do moderno no seio da sociedade tradicionalista,
representada pela canonizada Escola de Belas Artes.

Se em 1922, intelectuais e artistas travaram uma batalha no campo da estética, projetava-


se nos anos 1930 um combate institucional, na defesa de um sistema de Estado que
favorecesse a cultura, e mais especificamente, a cultura moderna. Lucio Costa saiu do
comando da Escola, mas deixou a mensagem de ruptura com os dogmas acadêmicos
dentro de um recinto oficial.
3. Le Corbusier e o edifício do
MES
3. Le Corbusier e o edifício do MES Primeira viagem: 1929
• Le Corbusier visitou o
Rio e São Paulo,
durante uma viagem à
América do Sul iniciada
por Buenos Aires.

• Seus anfitriões sul-


americanos foram
Victoria Ocampo,
escritora argentina de
elite (de quem, aliás,
partira o convite inicial
para a viagem), e Paulo
Prado, grande
fazendeiro de café e
também escritor, além
de homem influente na
política brasileira e
patrocinador da
Le Corbusier a bordo do navio Lutetia retornando do Brasil à França, 1929
Semana de 1922
Foto divulgação [SEGRE, Roberto. Ministério da Educação e Saúde]
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para SP
Em São Paulo, Le Corbusier descobriu que alguns
arquitetos já praticavam o ‘moderno’:
Warchavchik, p. ex.

Aproveitando a passagem de Le Corbusier, mostrou o que


fazia e reuniu o circulo de artistas e amadores de arte de
vanguarda de São Paulo. O visitante o convidou a
comparecer, como representante da América do Sul, aos
Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna.

Le Corbusier and A. Monteiro de Carvalho in Rio de Janeiro, 1929.


3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para SP
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para SP
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
Victoria Ocampo e Paulo Prado
acenaram a Le Corbusier com projetos
de villas (mansões), mas não chegaram
a confiram-lhes encomendas.

As sérias dificuldades para construir


uma mansão ‘moderna’ com o arquiteto
principal a enorme distância e os riscos
e incertezas quanto aos ganhos
simbólicos envolvidos em habitar uma
‘casa de vanguarda’, intimidavam os
anfitriões sul-americanos de Le
Corbusier como comanditários pessoais
de sua arquitetura.

Assim, a viagem se limitou a


conferências em clubes literários,
sociedades de engenheiros e arquitetos
e câmaras municipais.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
No Rio, as conferências de Le Corbusier se repetiram, agora atingindo estudantes e arquitetos descontentes
com o ensino na principal escola de belas artes do país e mais próximos ao centro de decisões políticas.

O prefeito do Rio, Antônio Prado (irmão de Paulo Prado), ofereceu a Le Corbusier um vôo de avião sobre a
cidade, mas nada pôde encomendar como programa urbanístico, visto que outro francês, o urbanista Donat-
Alfred Agache, já desenvolvia um plano para a cidade.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
“Quando escalamos as ‘favelas’ dos negros, morros muito altos e escarpados, onde eles
dependuram suas casas de madeira e taipa, pintadas em cores vistosas, e que se
agarram a esses morros como os mariscos nos enrocamentos dos portos — os negros são
asseados e de estatura magnífica, as negras vestem-se de morim branco,
irrepreensivelmente lavado; não existem ruas ou caminhos, é tudo muito empinado,
mas atalhos por onde escoam o esgoto e a água da chuva; ali ocorrem cenas da vida
popular animadas por uma dignidade tão magistral que uma requintada escola de pintura
encontraria, no Rio, motivos muito elevados de inspiração; o negro tem sua casa quase
sempre a pique, sustentada por pilotis na parte da frente, com a porta atrás, do
lado do morro; do alto das ‘favelas’ sempre se contempla o mar, as enseadas os portos, as
ilhas, o oceano, as montanhas, os estuários; o negro vê tudo isso; o vento reina, útil sobre
os trópicos; existe orgulho, no olhar do negro que contempla tudo isso; o olho
do homem que avista horizontes vastos é mais altaneiro; tais horizontes
conferem dignidade; eis aqui uma reflexão de urbanista.”
LE CORBUSIER. Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do Urbanismo. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
p.228/229 grifo nosso.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
As oportunidades de
trabalho profissional ficaram
adiadas.

Le Corbusier trouxe de volta


apenas carnês de viagem
cheios de desenhos das
montanhas do Rio, de
mulatas curvilíneas e de
negros musculosos.
Numerosos croquis em
perspectiva aérea de
Montevidéu, São, Paulo e
Rio de Janeiro mostravam
cidades cortadas por
`majestosas auto-estradas'
que, se construídas,
atestariam para todo o
sempre a passagem do
arquiteto pelo continente.
Le Corbusier e Josephine Baker em sua primeira viagem ao Brasil, 1929
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio

O texto de despedida, escrito a


bordo do navio, é pleno de gratidão
pelos "momentos de lucidez"
que lhe proporcionara a já
cansativa "profissão de
conferencista improvisador
ambulante".

Ligado apenas, por enquanto, a


amadores de arte com uma relação
diletante com a arquitetura, Le
Corbusier deixou a América do Sul
de mãos vazias.

Joséphine Baker e Le Corbusier no Rio de


Janeiro, desenho. Le Corbusier, 1929
[SANTOS, Cecilia Rodrigues; et al. Le
Corbusier e o Brasil]
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
Joséphine Baker

Josephine Baker in Banana Skirt from the Folies


Bergère production "Un Vent de Folie“ - 1927
(Saint Louis, 3 de junho de 1906 — Paris, 12 de abril de 1975) foi

• nome artístico de Freda Josephine McDonald, uma célebre


cantora e dançarina norte-americana
Um parêntesis

• Naturalizou-se francesa em 1937 durante a Segunda Guerra


Mundial, desempenhando um papel importante na resistência
aos ocupantes.

• Vedete do teatro de revista, Josephine Baker é


geralmente considerada como a primeira
grande estrela negra das artes cênicas.

• Usou sua grande popularidade na luta contra o


racismo e pela emancipação dos negros,
especialmente apoiando o Movimento dos
Direitos Civis de Martin Luther King.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Primeira viagem: 1929
Ideias para o Rio
Joséphine Baker
(Saint Louis, 3 de junho de 1906 — Paris, 12 de abril de 1975) foi
Um parêntesis

Josephine Baker dancing the Charleston at the


Folies-Bergère, Paris - 1926
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O concurso para a sede do MES
• Criação do Ministério da Educação e
Saúde deu-se no âmbito do governo
Getúlio Vargas

• Em 26 de julho de 1934, dez dias após a


eleição de Vargas para a presidência da
República pela Constituinte, Gustavo
Capanema foi efetivamente nomeado
ministro

• Dentro das suas ações de


“modernização”, organizou o concurso
para o edifício do Ministério da Educação
e Saúde em 1935.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O concurso para a sede do MES
• A comissão julgadora, de arquitetos academicistas, escolheu como vencedor o projeto de
Archimedes Memória e Francisque Cuchet, com um projeto marcado pela ornamentação
marajoara.

• O ministro Gustavo Capanema premia o projeto, mas não o executa, chamando Lucio
Costa para formular outro plano.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil
• entre 12 de julho e 15 de agosto de 1936

• Demonstra resistência em elaborar o projeto do edifício ministerial no terreno originalmente


proposto, localizado no centro da cidade, definido por uma quadra inteira delimitada pelas
ruas Graça Aranha, Araújo Porto Alegre, da Imprensa e Pedro Lessa

Segundo Queiroz (2012)


• dos 35 dias que permaneceu na cidade do Rio de Janeiro, Le Corbusier reservou 31 à
elaboração de um projeto alternativo para o edifício do ministério, primeiramente
implantado em chão fictício, abstrato, vazio e com perspectiva completamente
desimpedida, defronte ao mar.

• Passados dez dias de sua chegada, o arquiteto encontra o terreno ideal para a
implantação de seu novo projeto e adapta seu estudo a uma área linear com o
comprimento voltado à Baía da Guanabara.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

Ministério da Educação e Saúde Pública, estudo para a


Praia de Santa Luzia, Le Corbusier e equipe brasileira,
1936 [CORONA, Eduardo. Oscar Niemeyer: uma lição
de arquitetura]

• Faltando apenas quatro dias para seu retorno à Paris, Le Corbusier é informado da inviabilidade de sua
proposta e dedica-se, contrariado, à elaboração de um novo projeto para o terreno original

• Esse episódio ilustra com nitidez um dos principais paradoxos da arquitetura moderna: a suposta
incompatibilidade entre o projeto do espaço moderno e a cidade tradicional.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

Le Corbusier, croqui de estudo para a Cidade Universitária, Rio de Janeiro, 1936.


Um parêntesis
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

Le Corbusier, croqui de estudo para a Cidade Universitária, Rio de Janeiro, 1936.


Um parêntesis
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

Le Corbusier, croqui de estudo para a Cidade Universitária, Rio de Janeiro, 1936.


Um parêntesis
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil
Le Corbusier, croqui de estudo para a Cidade Universitária, Rio de Janeiro, 1936.
Um parêntesis
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

Le Corbusier, croqui de estudo para a Cidade Universitária, Rio de Janeiro, 1936.


Um parêntesis
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

Le Corbusier, croqui de estudo para a Cidade Universitária, Rio de Janeiro, 1936.


Um parêntesis
3. Le Corbusier e o edifício do MES
A 2ª visita de Le Corbusier ao Brasil

PROJETO
BRASILEIRO

Ministério da Educação e Saúde Pública, estudo para o terreno


original, Le Corbusier e equipe brasileira, 1936 [CORONA,
Eduardo. Oscar Niemeyer: uma lição de arquitetura]
3. Le Corbusier e o edifício do MES
Projeto definitivo
“essas modificações introduzidas no estudo de Le
Corbusier transformavam-no num projeto
inteiramente novo, embora integralmente baseado
nas propostas Iniciais do arquiteto consultor e aplicando
princípios por ele ditados.

Não cabe negar a contribuição fundamental de Le


Corbusier, plenamente reconhecida pelos jovens
brasileiros [...]
O projeto definitivo [...] foi obra
da equipe brasileira, que lhe deu
um desenvolvimento e um
encanto peculiares [...]

Revelou o talento potencial


dos jovens arquitetos
cariocas da nova geração.

(BRUAND, p. 89)
3. Le Corbusier e o edifício do MES
3. Le Corbusier e o edifício do MES
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
• os três volumes distintos sobre pilotis,
projetados por Le Corbusier, se transformam em
um bloco principal também sobre pilotis - mais
altos do que o previsto - e em dois outros
blocos baixos localizados num mesmo eixo, de
modo a sugerir continuidade.

• No térreo, uma esplanada aberta, ajardinada,


com espaços livres distribuídos por todos os
lados, valoriza a construção, que ganha um
novo efeito de monumentalidade, sugerido pelos
contrastes entre volumes e vazios.

• o edifício no centro do terreno, e separando-o


do entorno: modelo de implantação de arranha-
céus isolados, o que subverte as normas de
ocupação tradicional da cidade do Rio de
Janeiro.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES

• Verticalidade versus a
horizontalidade pretendida por
Le Corbusier

• As salas são dispostas de


ambos os lados do corredor
central, tendo sido as paredes
substituídas por divisórias de
meia altura, que facilitam a
ventilação e conferem maior
flexibilidade ao espaço.

• Caixilhos de vidro na fachada


sudeste - para maior iluminação
e vista da baía de Guanabara -
e, na fachada oposta, mais
iluminada, os brise-soleils.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
O projeto reflete a tentativa do grupo brasileiro de incorporar os preceitos racionais da
arquitetura corbusiana:

• a adoção de formas
simples e geométricas,
• o térreo com pilotis,
• os terraços-jardim,
• a fachada envidraçada,
• as aberturas horizontais,
• a integração dos espaços
interno e externo,
• o aproveitamento da
ventilação e luz naturais
por meio do uso de
lâminas móveis
• o trabalho com volumes
puros, a partir do
cruzamento de um corpo
horizontal e de um vertical.
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
• Resultado novo, fruto da combinação entre:
 o léxico do racionalismo arquitetônico
internacional ,e
 as experiências até então realizadas
pela escola carioca.

• Segundo Yves Bruand, são inovações


brasileiras
 o dinamismo e a leveza do conjunto,
 forte integração entre arquitetura,
paisagismo e artes plásticas.

• O projeto tem destaque ainda por ser a


primeira realização mundial da curtain
wall (fachada envidraçada orientada para a
face menos exposta ao sol) e a primeira
utilização do brise-soleil em larga escala,
inventado três anos antes por Le Corbusier
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
“A suspensão da
edificação sobre pilotis
proposta por Le Corbusier
e a consequente
desobstrução do solo
consiste em uma solução
arquitetônica que assimila
a técnica – estrutura de
concreto armado
composta por pilares e
vigas – como instrumento
fundamental para o
desenho da cidade
moderna que tem no piloti
sua correspondência
arquitetônica que permite
a constituição de um solo
aberto, democrático,
sem limites.”
(QUEIROZ, s/p, 2012)
3. Le Corbusier e o edifício do MES
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O edifício do MES
• Uso de vegetação
tropical –paisagista
Roberto Burle Marx

• Pedras da região

• Azulejos
3. Le Corbusier e o edifício do MES
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
“A inserção das artes
plásticas no MES esteve
relacionada com a
participação de alguns
membros da equipe na
dinâmica artística carioca.
Lucio Costa nunca deixou
de desenhar as paisagens
relacionadas com suas
obras e em viagens de
estudos. Oscar Niemeyer
manteve uma constante
produção literária, gráfica,
escultórica e de desenho
de mobiliário. Carlos Leão
foi o mais próximo das
atividades artísticas,
concentrando no final de
sua vida a dedicação à
pintura e ao desenho”
(BARKI et.al., 2006)
3. Le Corbusier e o edifício do MES
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3. Le Corbusier e o edifício do MES
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3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
“compreenderam
eles que a arquitetura
nova não estava
essencialmente
voltada para
austeridade e que
não devia excluir o
apelo a recursos
do passado, se
estes conservavam
sua razão de ser e se
adaptavam ao
espírito das
edificações
modernas”

(BRUAND, p. 91)
3. Le Corbusier e o edifício do MES
O edifício do MES
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O edifício do MES
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O edifício do MES
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