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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
CURSO DE MESTRADO
Rio de Janeiro
Junho de 2006
Livros Grátis
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
CURSO DE MESTRADO
Rio de Janeiro
Junho, 2006
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
CURSO DE MESTRADO
_____________________________________________
Professor Doutor CELSO PEREIRA DE SÁ (Orientador)
____________________________________________________
Professor Doutor RICARDO VIEIRALVES DE CASTRO
_____________________________________________________
Professora Doutora JACQUELINE DE OLIVEIRA MUNIZ
Aos meus dois grandes amores, Derly e Manoel...
AGRADECIMENTOS
Esse trabalho não poderia ter sido concluído sem ajuda, a boa vontade e a paciência de
muitas pessoas. Receio no momento esquecer algum nome, já que a “cabeça” não está muito boa.
A ordem em que os nomes vão surgindo não tem nenhuma importância, é que todos não cabem
em uma mesma linha. Assim sendo...
Deus Nosso, sem a sua sustentação e força que se fizeram presentes através de tantos
amigos, eu não teria conseguido. Obrigada por todas as pessoas que o senhor colocou em meu
caminho, independente da contribuição que trouxeram, me ajudaram a crescer.
Aos policiais militares que aceitaram fazer parte desta pesquisa, pela oportunidade de me
fazer útil com o meu trabalho. E a todos aqueles outros que aceitaram compartilhar comigo suas
angústias.
Professor Ricardo Vieiralves, confesso que no início achava o senhor muito sério e “meio
inacessível”; tinha dificuldades em elaborar questões durante a sua aula... Mas depois de alguns
“largos” sorrisos seus, soube que era mais uma pessoa com quem poderia contar.
Professor Luiz Eduardo Soares, sempre disponível e acessível. Obrigada pelas dicas e
textos.
Professora Jacqueline Muniz, desde o início mostrou-se interessada e pronta para ajudar.
Facilitou o acesso a sua tese de doutoramento, o que foi de extrema importância para esta
pesquisa.
Cássia Cristina, Maria Luíza e Sabrina: seguraram uma barra comigo! Wanderley,
Thereza, André, Marília, João Carlos, Alexandre e “Tia” Celina, sempre me empurrando para
frente. Helena, Márcia e Linda, mesmo distantes, amigas sempre! Eduardo (Dudu), coração
gigante...
Tia Efigênia e Tia Sônia: fortaleza e conforto.
À Direção e aos amigos da Escola Municipal Presidente Gronchi, pelo apoio e paciência
(Beth, você também faz parte deste grupo).
Soldado Michael, Sargento Rosemery e Sargento Nunes do CFRPM: Vocês fazem parte
disso!
Resumo
Abstract
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Folha de assinaturas
INTRODUÇÃO
This study describes, discusses and compares the social representation built up by cops
from Rio de Janeiro, with different periods of time on duty, of the Military Police and its relations
with society. Added to this, these representations are approached in terms of place of work (
capital / Baixada Fluminense / countryside) and Level of education ( Secondary school and
University Degree) of the individuals, without any concern about time on duty. All of the
individuals are graded as private, and they form three segments: (1) Recruits; (2) Corporals; (3)
Auxiliary Officers Effective (AOE) – Data was collected by means of a questionnaire constituted
of: seven multiple choice questions, twenty questions of open answer and a task evoking the issue
“Military Police”. The outcomes show the existence of structural differences among social
representations formed by the three groups of individuals, pointing out the group of corporals,
with a representation whose contents diverge considerably from the other two groups, the recruits
group and the AOE group. As a conclusion, it is assumed that features such as period of time on
duty, level of personal satisfaction, institutional acknowledge, evidenced by the appreciation of
the professional by all means, as well as the support that is understood to come from society,
influence the representations built up by the cops and will also affect their professional acts.
Tabela 3: Distribuição dos cursos de nível superior, concluídos pelos policiais militares _____ 64
Tabela 5: Distribuição da última ocupação profissional do policial militar, anterior a sua entrada
na corporação _______________________________________________________________ 65
Tabela 8: Distribuição das próprias práticas profissionais entendidas como insatisfatórias pelos
policiais ___________________________________________________________________ 82
Tabela 9: Distribuição das próprias práticas profissionais entendidas como satisfatórias pelos
policiais ___________________________________________________________________ 85
Tabela 10: Distribuição da opinião dos policiais militares a respeito do quantitativo de auxílio
oferecido pela população ao trabalho policial ______________________________________ 86
Tabela 11: Distribuição das expectativas dos policiais quanto aos tipos de auxílio que podem ser
oferecidos pela população ao seu serviço _________________________________________ 87
Tabela 12: Distribuição dos comportamentos que, realizados pela população, não expressa
colaboração com o trabalho policial, segundo os próprios policiais militares ______________ 89
Tabela 13: Distribuição das opiniões dos policiais militares a respeito da pesquisa que afirma,
serem os moradores de uma Favela Carioca, mais bem tratado por traficantes do que por policiais
___________________________________________________________________________ 91
Tabela 14: Distribuição das opiniões dos policiais militares sobre críticas da imprensa que,
apontam para modos indistintos de atuação profissional, por parte do policial _____________ 93
Tabela 15: Distribuição de comentários emitidos pelos policiais, sobre a falsidade da afirmação
da imprensa de que eles atuariam de maneira indistinta em situações de conflito e situações
preventivas _________________________________________________________________ 93
Tabela 16: Distribuição dos comentários emitidos pelos policiais, a respeito do fato de
concordarem razoavelmente com a afirmação da imprensa de que atuariam de maneira indistinta
em situações de conflito e situações preventivas ____________________________________ 94
Tabela 17: Distribuição da opinião dos policiais militares a respeito das denúncias de más
atuações profissionais _________________________________________________________ 95
Tabela 18: Distribuição das justificativas oferecidas pelos policiais, para o fato de que as
denúncias de más atuações policiais pela imprensa dificultam a prestação de serviços pela Polícia
Militar _____________________________________________________________________ 96
Tabela 19: Distribuição das justificativa oferecidas pelos policiais, para o fato de que as
denúncias de más atuações policiais pela imprensa contribuem para a melhoria da atuação da
Polícia Militar _______________________________________________________________ 97
Tabela 20: Distribuição das justificativas oferecidas pelos policiais, para o fato de que as
denúncias de más atuações policiais pela imprensa é um serviço que ela presta a população
___________________________________________________________________________ 98
Tabela 21: Distribuição das circunstâncias em que, mesmo sem risco de vida, os policiais
militares acreditam poderem usar sua arma de fogo __________________________________ 99
Tabela 22: Distribuição da existência ou não de circunstâncias em que é possível utilizar outros
modos de atuação, além da força e da arma de fogo _________________________________ 101
Tabela 23: Distribuição das circunstâncias em que o policial militar pode ter atuações que
diferem do uso da força e da arma de fogo ________________________________________ 102
Tabela 24: Distribuição de atuações possíveis, na prática policial, que diferem do uso de armas
de fogo e da força ___________________________________________________________ 103
Tabela 25: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito da existência, ou não, de
uma predisposição para o uso da força e de armas de fogo junto a determinado segmento da
população _________________________________________________________________ 104
Tabela 26: Distribuição da opinião do policial militar, a respeito dos segmentos da população
sujeitos a intervenções mediante o uso da força e de armas de fogo ____________________ 105
Tabela 27: Distribuição das justificativas para as críticas que afirmam que, pobres, negros e
mulatos são mais abordados por policiais militares do que brancos e pessoas que demonstrem
possuir maior poder aquisitivo _________________________________________________ 106
Tabela 28: Distribuição das justificativas dos policiais, quanto ao uso de arma de fogo fora do
horário de serviço ___________________________________________________________ 107
Tabela 29: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito da Campanha Nacional
sobre o Desarmamento _______________________________________________________ 108
Tabela 30: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito de policiais que achacam
__________________________________________________________________________ 109
Tabela 31: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito da existência de diferenças
entre achacar e aceitar dinheiro ________________________________________________ 110
Tabela 32: Distribuição das justificativas dos policiais militares que concordam com a existência
de diferenças entre achacar e aceitar dinheiro _____________________________________ 111
Tabela 33: Distribuição das sugestões oferecidas pelos policiais militares, para a melhoria dos
serviços prestados a população ________________________________________________ 113
Tabela 34: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito de considerarem suficientes
e adequadas a preparação recebida para a atuação da sua prática profissional ____________ 114
Tabela 35: Distribuição das alterações que, segundo os policiais militares, são necessárias na
preparação do policial militar _________________________________________________ 116
Tabela 36: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito da possibilidade de poderem
atuar como agentes educadores em algumas situações de trabalho ____________________ 118
Tabela 37: Distribuição do nível de concordância a respeito do fato de que, o modo como se
realiza uma intervenção policial poderá interferir na predisposição do meio social em colaborar
com o trabalho do policial ___________________________________________________ 119
Tabela 38: Distribuição das justificativas dos policiais militares que concordam com o fato de
que sua atuação profissional pode interferir na predisposição do meio social colaborar, ou não,
com o trabalho policial _____________________________________________________ 120
Tabela 39: Distribuição das justificativas dos policiais militares que não concordam com o fato
de que sua atuação profissional pode interferir na predisposição do meio social colaborar, ou não,
com o trabalho policial _____________________________________________________ 122
Tabela 40: Distribuição das justificativas para a escolha da profissão de policial milita __ 123
Tabela 41: Distribuição das recompensas percebidas na profissão de policial militar, segundo os
policiais _________________________________________________________________ 125
Tabela 42: Distribuição da existência, ou não, do desejo de mudar de profissão pelo policial
militar __________________________________________________________________ 126
Tabela 43: Distribuição dos possíveis motivos para o abandono da profissão de policial
militar___________________________________________________________________ 127
Tabela 44: Distribuição dos motivos para não abandonar a profissão de policial militar __ 127
Tabela 45: Distribuição da concordância, ou não, por parte do policial militar, a respeito da
interferência do trabalho nas suas relações sócio-familiares _________________________ 128
Tabela 46: Distribuição dos modos possíveis, do trabalho do policial interferir em sua vida
sócio-afetiva ______________________________________________________________ 129
Tabela 48: Distribuição de “outros” sentimentos vivenciados pelos policiais, a respeito de sua
profissão ________________________________________________________________ 131
INTRODUÇÃO
A proximidade com os policiais fez a pesquisadora perceber algo óbvio, mas que até
então nunca tinha imaginado: eles eram de carne e osso! Tinham famílias! Ficavam doentes!
Tinham medo! Não queriam morrer! Tinham problemas! E não se poderia generalizar todos
eles como “bandidos com carteira”. Tinha-se, então, muito trabalho pela frente.
o crime, com o tráfico e a violência, simplesmente porque tal proximidade não é sinônimo de
“igualdade”, ou seja, não se “tem que ser” – e não se é!– criminoso porque se mora no morro
e se é pobre. Não se pode generalizar a “bandidagem”, que tanto pode estar no morro como no
asfalto.
A reforma das polícias é vista pelo PSP como o ponto de partida para a mudança de
paradigmas em segurança pública. A polícia deixaria de ser “treinada para guerra, organizada
como instrumento de defesa do Estado (...)”, para ser uma “polícia eficiente, que respeita a
cidadania, agente do processo de construção da paz” (p. 09). Entretanto, ainda segundo o PSP,
tudo isso só será possível se realmente houver, dentro da polícia, uma reformulação em seus
valores fundamentais e da sua identidade, ou seja, é necessário que ocorram transformações
no “princípio fundador das corporações” (p. 21). O mesmo plano sugere que
militar e a sociedade, constrói, a este respeito, suas representações sociais e desenvolve suas
práticas.
Os policiais militares não são “seres que caíram do espaço”, ou seja, não vieram de
“um nada”. Com isto, se deseja chamar atenção para o fato de que o policial militar é um
sujeito social, e que na maioria das vezes provém das camadas sociais menos favorecidas.
Trata-se de um sujeito histórico, socialmente situado e contextualizado, e que, quando
ingressa na corporação, já traz consigo toda uma gama de saberes (representações) a respeito
da corporação. Parece, ser relevante atentar para este último ponto, em virtude da
possibilidade da existência de um ciclo, pelo qual as práticas profissionais do policial militar
venham, a alimentar a construção de representações sociais nos grupos com os quais ele
interage, dos quais, posteriormente, advirão novos sujeitos para ingresso na organização
militar, e que provavelmente tenderão a repetir essas mesmas práticas sociais/ profissionais.
No quarto capítulo, que relata a pesquisa, serão apresentados o seu objetivo geral e os
objetivos específicos, bem como as análises dos dados levantados e as discussões desses
resultados à luz da teoria das representações sociais.
Finalizando, se buscará, a partir das análises e das discussões realizadas, construir uma
“fotografia” do atual momento que o policial militar vivencia a respeito de suas práticas na
relação com o meio social, sugerindo assim, caminhos que aproximem essas duas realidades
que se mostram distantes e distintas, mas que na verdade, são complementares.
1 - A INSTITUIÇÃO POLICIAL
Como “polícia” deve-se entender um órgão da administração pública que limita direitos
e deveres individuais em benefício da coletividade. Manoel (2004) esclarece ainda, a este
respeito, que se trata de um
De um modo mais claro, Bayley (2002) afirma que a polícia pode ser entendida no
sentido de “se referir a pessoas autorizadas por um grupo para regular as relações
interpessoais dentro deste grupo através da força física” (p. 20).
- Ordem de polícia → quando o policial solicita ao sujeito que não realize determinado
ato prejudicial, ou que não se deixe de fazer algo que poderia evitar prejuízo público;
1
Anterior a Constituição de 1988, o termo “policiamento” referia-se a mero patrulhamento.
24
2
BITTNER, William J. “Reclaiming the Public Spaces of New York”. Police Strategy n° 5. New York. Police
departament of New York, 1994.
26
Rio de Janeiro, antes da chegada da Corte, era composta, em sua maioria, por homens
oriundos de outros locais “cujo status favorecia o ressentimento com a ordem social ou o
pouquíssimo interesse pela sua preservação” (p.40). Segundo o mesmo autor ao chegar ao
Brasil em 1808, D. João VI e sua comitiva encontraram “uma população hostil e perigosa e
com o espaço público da cidade ocupado por escravos africanos como nunca tinham visto em
sua pátria” (p.41).
3
Primeira tentativa de uma “organização policial” no Rio de Janeiro. Foi criado pelo Ouvidor Geral Luiz
Nogueira de Brito em 1626. Seu único objetivo era a repressão, para manter a ordem.
27
Os sujeitos integrantes da Guarda Real eram oriundos, de modo maciço, das classes
mais pobres e não escrava (as mesmas que eram mais atingidas pelos seus métodos
repressivos). Não havia impedimentos quanto à presença de negros, desde que livres. Estes
aspectos podem ser observados durante todo o desenvolvimento da Polícia, isto é, acesso
irrestrito para todos os que fossem “livres”, brancos ou negros, estrangeiros, desde que
residentes há algum tempo no país, mas todos provenientes das classes mais miseráveis e sem
instrução. Os conflitos com essa mesma parcela (de nível social e econômico mais baixo)
sempre foram constantes, pois estes consideravam os métodos de atuação da Guarda Real
muito violentos. Halloway (1997) relata a avaliação feita por um comerciante inglês residente
no Brasil àquela época, a respeito da Guarda Real, cujos integrantes, para ele, “logo se
tornaram corruptos, abusaram de sua autoridade e não só envolveram-se em práticas
incompatíveis com suas funções, mas também adotaram um sistema geral de violência e
extorsão” (p.64). Entretanto, para a elite que a havia idealizado (a Guarda Real), seu
funcionamento estava em perfeita ordem, já que eles conseguiam reprimir a desordem,
impondo a disciplina.
28
Uma conclusão que se pode tirar dos registros de 1810-21 é que o intendente,
sua equipe e a Guarda Real que patrulhava as ruas em seu nome gastavam a
maior parte de seu tempo tentando manter na linha os escravos. A polícia
também prendia ladrões e apartava brigas, mas seu forte era capturar escravos
fugitivos, impedir que grupos de escravos e negros livres se reunissem nas ruas
ou agissem de maneira que a patrulha policial considerasse suspeita, desordeira
ou desrespeitosa, e apreender quaisquer instrumentos que pudessem ser usados
como armas por essa mesma categoria de pessoas. (p.54)
Em julho de 1831 a Guarda Real é extinta, sendo esta decisão conseqüência da sua
participação no motim ocorrido em 12 de julho, ao colaborar com o 26o Batalhão de Infantaria
do Exército, quando este último se rebelou contra a sua própria dissolução, determinada por
ordens emitidas em 04 de maio daquele mesmo ano. Um mês antes deste acontecido, havia
sido criada a Guarda Municipal, de caráter civil. A proposta era de que os guardas civis
substituíssem os soldados da Guarda Real nos distritos judiciais locais. Uma das principais
preocupações da Guarda Municipal referia-se à origem de seus membros, que deveriam
apresentar certos antecedentes que os validassem como devidamente qualificados. Não havia
uma discriminação formal quanto à raça, mas seus membros estavam inseridos em uma parte
da população com um melhor poder aquisitivo. Halloway (1997) acrescenta, quanto aos
sujeitos, que “eles não seriam remunerados por seus serviços, mas receberiam armas e
munições a expensas do governo e serviriam quando convocados pelos juizes de paz ou seus
delegados” (p.77). Continuando, o mesmo autor esclarece que “sua missão geral era ‘manter a
segurança pública e prender malfeitores’” (p.77).
antiguidade para atuarem como soldados, e eram conhecidos como Oficiais de Confiança
(Batalhão dos Oficiais-Soldados, Voluntários da Pátria, Sagrado Batalhão e Guerreiros da
Pátria). Muitos desses oficiais eram remanescentes do 26º Batalhão de Infantaria do Exército,
que ficaram sem função com a extinção deste último. Seu contingente ultrapassou o montante
de 400 homens.
Em agosto de 1831 foi criada a Guarda Nacional, com caráter paramilitar. Seu
surgimento foi precipitado pelas dificuldades vivenciadas pela Guarda Municipal durante a
rebelião de 12 de julho. Ela deveria ser organizada militarmente, em toda a nação, ser bem
armada, e estava subordinada ao ministro civil da justiça, às autoridades políticas e judiciais e
aos juizes de paz. As condições de recrutamento deveriam ser semelhantes àquelas da Guarda
Municipal. Holloway (1997) esclarece que
Sabe-se que os sujeitos mais abastados e com mais contatos políticos conseguiam
facilmente modos de se evadir deste tipo de serviço. Na verdade, o objetivo de se ter esta
parcela da população no trabalho de guarda é que se entendia que eles, como proprietários,
deveriam auxiliar na defesa dos seus próprios bens. Como os guardas municipais, os membros
da Guarda Nacional também não eram remunerados.
que a Guarda Real teria atuado de modo impróprio, cometendo muitas arbitrariedades e
excessos, o que apenas aumentava os problemas que elas deveriam resolver. Porém,
acreditava também que não se deveria permitir uma postura mais “frouxa”, com relação aos
“policiais”, visto que, assim, certamente caminhariam para uma completa desorganização. Daí
a importância da criação de uma organização pautada em modelos militares de hierarquia e
disciplina.
mesmo ano, a força policial militar é reestruturada, voltando a ser responsável pelo
policiamento, já que, a partir do surgimento da Guarda Urbana, ela deveria ficar apenas de
prontidão para atuar nos casos emergenciais. Contudo, neste momento sua nomenclatura já
havia sido alterada, com a reforma de 1871, de Corpo de Guardas Municipais Permanentes
para Corpo Militar de Polícia da Corte. Deixa também de ser subordinada ao Chefe de Polícia.
Em 1890, recebe a denominação de Brigada de Polícia da Capital Federal.
Em 1905 a Brigada passa a ser chamada de Força Policial do Distrito Federal. Seu
efetivo tem agora 2.010 homens, e seu comandante responde diretamente ao Ministro da
Justiça.
Em 1920 novamente o nome é alterado para Polícia Militar. Seu comando continua
subordinado aos oficiais de alta patente do Exército.
Em 1960, após a transferência da capital federal para Brasília, a Polícia Militar torna-
se a Polícia Militar do Estado da Guanabara. Entretanto, com a fusão dos Estados da
Guanabara e do Rio de Janeiro em 1975, a instituição recebe sua atual denominação, isto é,
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro – PMERJ.
Até o presente momento, o efetivo da PMERJ conta com 38.594 mil ativos e 23 mil
inativos. Destes, aproximadamente 1.500 são mulheres (531 oficiais e 911 praças).
A Constituição de 1934, em seu artigo 167, define as polícias militares como “reservas
do Exército”, podendo ser mobilizadas pelo Governo Federal para atuar na defesa interna do
país contra todos aqueles considerados inimigos. A Lei n° 192, de 17 de janeiro de 1936,
determina a estruturação da Polícia Militar nos moldes da infantaria e da cavalaria do
Exército. Nesta Constituição percebe-se claramente como a noção de segurança pública
relaciona-se diretamente à de segurança interna.
do país, contra aqueles que, neste caso específico, são agentes internos potencialmente
perigosos, e como na guerra, devem ser eliminados.
Tal fato acabou por trazer, em longo prazo, prejuízos e distorções tanto para a construção da
identidade do policial, como para a própria representação social da instituição, quando se
observa de perto relatos de sujeitos de várias camadas sociais (principalmente as mais
carentes), bem como apreciações da mídia e análises de publicações científicas. Em trabalho
publicado por Lemgruber, Musumeci e Cano (2003), pode-se destacar a seguinte fala de um
morador de bairro de classe média do Rio de Janeiro: “A última pessoa que eu chamaria
quando tivesse um problema seria a polícia!” (p.43).
Para a ascensão dentro da instituição, dois critérios básicos são adotados: antiguidade
(tempo de serviço na instituição) e merecimento (resultado de uma avaliação realizada
anualmente, em que pontos são conferidos aos sujeitos pelo seu desempenho profissional por
seu superior hierárquico). No Círculo de Praças ainda há a possibilidade de provas de
ascensão na carreira. Estas podem ocorrer para as graduações de Cabo e de 3º Sargento. Para
o ingresso no Quadro de Oficiais Auxiliares, aberto às graduações de 1º Sargento e de Sub-
Tenente, além da antiguidade, deverão também ser realizadas provas.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro foi estruturada tendo como base as
disposições do Exército Brasileiro, o que fica mais fácil de perceber ao se observar o
Regulamento Interno e dos Serviços Gerais (RISG) do Ministério do Exército6, que tem como
4
Diferenciando-se dos Combatentes apenas na primeira fase, visto que, o exame intelectual refere-se à
especialidade de cada área profissional.
5
Psicólogos, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, veterinários, farmacêuticos e dentistas.
6
1ª edição, 1984
35
objetivo, segundo seu Capítulo I, art. 1º, prescrever “tudo quanto se relaciona com a vida
interna e com os serviços gerais das Unidades de Tropa, estabelecendo normas relativas às
atribuições, às responsabilidades e ao exercício das funções de seus integrantes”. Assim, toda
estrutura administrativa e operacional, com algumas variações e adaptações, parece ter sido
copiada para o âmbito da Polícia Militar. Na figura 1 é possível observar a estrutura
administrativa e operacional da PMERJ, sendo que no anexo “A” ela é apresentada de forma
mais detalhada
COMANDANTE GERAL
OPMs EXECUTIVAS
COPOM
ASSESSORIA ESTADO-MAIOR
Centro de Operações CORREGEDORIA
ESPECIAL GERAL
OPMs SETORIAIS
DGS
DEI DGAL DGP DGF
Diretoria Geral de
Diretoria de Ensino Diretoria Geral de Diretoria Geral de Diretoria Geral de
Saúde
e Instrução Apoio Logístico Pessoal Finanças
OPMs OPERACIONAIS
CPC
CPI CPB Cmdo UOpE
Comando de
Comando do Comando de Comando das Unidades
Policiamento da Capital
Policiamento do Interior Policiamento da Baixada de Operações Especiais
Batalhões (BPMs) e Batalhões (BPMs) e Batalhões (BPMs) e BpChoq, BPRv, BPFer,
Companhias Companhias Companhias BOPE, BPFMA, RCECS7
Independentes (CIPMs) Independentes (CIPMs) Independentes (CIPMs)
Figura 1. Estrutura administrativa da PMERJ8.
O Comando Geral da Polícia Militar deverá ser exercido por um oficial da ativa que
ocupe o posto de Coronel. É importante ressaltar que, em quase 200 anos de existência,
apenas a partir de 1983 os próprios oficiais da PMERJ começaram, de modo ininterrupto, a
assumir o seu comando. Até então, a prerrogativa do comando pertencia ao Exército
Brasileiro.
7
Ver glossário no apêndice “A”
8
Fonte: PMERJ
36
O Estatuto dos Policiais Militares esclarece como ocorre a divisão dos cargos. Assim,
cabem aos postos de Coronel PM, Tenente-Coronel PM e Major PM as funções de comando,
liderança, direção e planejamento. Ao Capitão PM e ao 1º e 2º TEN PM fica a
responsabilidade pela gerência e administração, constituindo os elos de comunicação entre o
comando e os praças. Dentro do círculo de praças, caberão ao Subtenente PM, bem como aos
1º, 2º e 3º Sargentos PM, as execuções das diretrizes administrativas e operacionais. Dentre
estas, incluem-se, além da instrução, adestramento e controle das praças, a participação de
9
Fonte: PMERJ
37
O Estatuto dos Policiais Militares foi criado pela Lei n˚ 443, de 1º de julho de 1981, e,
juntamente com o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
(RDPM), existente pelo Decreto n˚ 6.579, de 05 de março de 1983, são dois importantes
vetores dentro da corporação a orientar condutas relativas a direitos e deveres dos policiais.
Análises e discussões bastante completas acerca do Estatuto Policial e do Regulamento
Disciplinar são encontradas em Muniz (1999), Soares (2000) e, Biscaia, Mariano, Soares e
Aguiar (2001).
Ainda sobre as características do trabalho policial, Bayley (2002) declara que “a única
característica exclusiva da polícia é que ela está autorizada a usar a força física para regular as
relações interpessoais nas comunidades” (p.117). O mesmo autor chama atenção para as
diversidades, tanto de situações como de comportamentos implicados nas práticas policiais.
Assim, apesar do patrulhamento ser a principal atribuição, na sua forma de policiamento
38
manter determinado “parceiro”, evitando “outros”, pois “é muito perigoso não confiar em
quem está nas suas costas quando você sobe um morro”. Esta situação faz com que muitos
policiais progressivamente deixem de confiar nas pessoas de um modo geral. Em longo prazo
essa “desconfiança”, segundo os policiais, faz com que haja, muitas vezes, um contínuo e
progressivo afastamento de qualquer atividade social. Evitam sair de casa, pois têm que
“descansar” e “evitar problemas”. Contudo, nestes casos, “ficar em casa” não significa que
estejam mais próximos da família. Muitas queixas referentes a mudanças de comportamento e
atitudes após a entrada destes sujeitos na corporação, puderam ser registradas durante os
atendimentos. Tanto os policiais como seus familiares referem-se a um aumento de irritação,
intolerância, agitação e dificuldades de relacionamento familiar e social. Além disto, relatam
que estes quadros, ao longo do tempo, muitas vezes se agravam, apresentando-se como crises
depressivas, surtos psicóticos, vários quadros neuróticos, tentativas de suicídio, alcoolismo,
agressões físicas, divórcio e homicídios.
O recurso da força, segundo Muniz, Júnior e Diniz (1999), apresenta-se como “um ato
legal, legítimo e idealmente profissional” no trabalho do policial militar (p. 1). O uso da força,
como visto anteriormente, é inerente às práticas profissionais dos policiais. Não se concebe
um policial no exercício de sua função que não traga atrelado ao seu papel social à
possibilidade do uso da força, isso porque, para que ele seja capaz de solucionar qualquer
problema, por mais simples que seja, como, por exemplo, quando é chamado para apartar uma
briga entre dois indivíduos, é necessário que inicialmente as pessoas que o solicitaram
reconheçam nele o profissional legalmente investido e preparado para o uso da “força”
(aquele que possui autorização legal), se necessário. Assim, como profissional que é, ele
deverá saber agir de forma ordenada e progressiva para a solução dos conflitos. A respeito
desta ordenação e progressão no uso da força, é importante que se fale do que tecnicamente é
conhecido como “gradiente de uso da força”, isto é, instruções que possibilitam ao policial
conhecer quais serão as técnicas que terá a sua disposição durante o seu trabalho e que lhe
permitirão intervir em situações diferenciadas ou quando da abordagem de indivíduos. Sobre
este assunto, é interessante observar a explanação que Soares (2000) apresenta a propósito de
uma palestra do então Major PM Antônio Carlos Carballo Blanco para um grupo de policiais:
Ainda em relação aos padrões de uso de força pela polícia, Cerqueira e Dornelles
(1998) apresentam princípios fundamentais:
Em oposição ao uso legítimo e legal de força pelo policial, têm-se os atos de violência.
Alguns autores como Lemgruber, Musumeci e Cano (2003), ao abordarem a violência
cometida por alguns policiais, assim a definem: “por violência entende-se tanto o uso abusivo,
e sobretudo o uso letal, da força nas intervenções policiais quanto a tortura cometida para
obter confissões nas investigações ou para garantir controle sobre os detentos” (p. 37). A
violência está ligada então a um uso de força que é arbitrário, desmedido e ilegal. Cerqueira e
Dornelles (1998) esclarecem que “os abusos e excessos no uso da força podem ter um efeito
de tornar impossível uma tarefa que já é difícil” (p. 71). A este respeito Soares, Bill e Athayde
(2005) explicam: “a violência policial autorizada estimula a corrupção, que significa
incompetência no combate à criminalidade” (p. 266). Ainda segundo estes mesmos autores,
Quem pede mais violência policial talvez não saiba que está alimentando a fera,
jogando lenha na fogueira da anarquia. Prepare-se para colher mais corrupção,
cumplicidade com o crime e ineficiência. A brutalidade policial só na aparência
contraria o interesse dos criminosos: ao contrário, ela cava um abismo entre as
instituições policiais e as populações atingidas e, sobretudo, ao inibir os
instrumentos de controle internos e externos, contribui para a independência
excessiva dos que atuam na ponta. (p. 269)
Parece que, em longo prazo, práticas abusivas e ilegais concorrem para a criação de
um ciclo vicioso que não apenas afasta a população da polícia, fazendo com que a primeira
deixe de colaborar e confiar na segunda, mas também termina por criar e legitimar um
pseudo-saber sobre o agir policial, o que em última análise termina por “atrelar” a violência à
identidade da profissão de policial. Como conseqüência, poder-se-á ter bons profissionais
carregando estigmas de não-confiáveis e violentos, e, por um outro lado, alguns “sujeitos” que
43
esperam entrar para a PMERJ para “poderem se dar bem”, como se ser policial fosse uma
garantia para agir impunemente.
a percepção geral, nesses grupos, era de que, além de não cumprir seu papel de
oferecer segurança, os policiais agem em áreas carentes como “terra de
ninguém”: não são fiscalizados e fazem o que querem, na certeza da impunidade
(...)”. (p. 46)
Se por um lado à população não confia na polícia, a polícia também parece não confiar
na população, justamente as comunidades carentes. Para alguns policiais (como também
poderá ser visto mais à frente com os dados desta pesquisa), as pessoas daquelas comunidades
sempre estarão a favor do tráfico, ou por terem ali algum parente, ou por receberem benefícios
destes. A respeito deste tipo de relação que parece se estabelecer em bases mútuas de
desconfiança, Bretas e Poncioni (1999) afirmam que ela parece exprimir
A presença e o domínio do tráfico dentro das comunidades carentes faz com que esta
tenha que lidar com dificuldades tanto advindas dos criminosos, quanto àquelas decorrentes
da polícia (Soares 2000). Sob o jugo do tráfico, principalmente quando a “facção” presente na
comunidade age de modo a intimidar e violentar os que ali vivem, as pessoas passam a ter que
moldar seu comportamento de acordo com o que aqueles sujeitos querem, mesmo que para
isso tenham que expor suas vidas e de seus familiares. É o que ocorre quando, durante
confrontos com a polícia, os criminosos ordenam que mulheres, crianças e idosos passem a
circular pelas ruas.
No contato com a polícia, algumas pessoas podem se defrontar com indivíduos que
possuem a carteira de identidade de policial, mas que na realidade são criminosos. Destes,
nunca se sabe o que esperar, uma vez que deveriam estar ali como representantes legais do
Estado para os protegerem, contudo, roubam, matam, achacam, ameaçam, estupram. E o pior,
jogam na lama todos os outros policiais, pois aqui, eles não têm nomes, são apenas policiais
militares, fardados e uniformizados.
3 – REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Este capítulo busca apresentar as teorias nas quais esta pesquisa se fundamenta. A
concepção teórica adotada foi a teoria das representações sociais desenvolvida por Serge
Moscovici (1978, 2001, 2002), tendo como suporte complementar contribuições da teoria do
núcleo central – ou abordagem estrutural das representações sociais – desenvolvida por Jean-
Claude Abric (2000). Antes porém, de se passar à explicitação das teorias em si, é relevante
expor os motivos reconhecidos como significativos para utilizá-las em um estudo a respeito
da Polícia Militar.
buscar “explicações” que tendem a justificar para si mesmo a manutenção ou não dessas
ações ou participações. O mesmo autor (ibid.) continua afirmando existirem possibilidades de
que, com a repetição do seu uso, essas “boas razões” passem a integrar consistentemente a
representação do policial militar acerca da sua instituição.
Concluindo, a análise dos dados coletados à luz da teoria das representações sociais e
da teoria do núcleo central é importante para que este trabalho possa ser capaz de, ao final,
propiciar reflexões a respeito de todo conhecimento que é produzido no âmbito da Polícia
Militar em sua interação com o meio social, bem como propor estratégias de ação que possam
sugerir novos caminhos que a tornem mais legítima, tanto para o policial quanto para a
sociedade.
Para a elaboração da teoria das representações sociais, Serge Moscovici se utiliza não
apenas da psicologia, mas também de outras disciplinas, como a sociologia e a antropologia.
Uma primeira apresentação sistemática desta teoria vem à tona com o lançamento do livro de
Moscovici, La psychanalyse, son image et son public, em 1961, na França. Este trabalho
descreve a apropriação da psicanálise por variados segmentos da população parisiense, ou
seja, como era representada essa área de conhecimento científico pelos considerados “leigos”.
Segundo Jodelet (2001), “uma das razões que levaram Moscovici (...) a restabelecer o
uso da noção [de representação] foi à reação contra a insuficiência dos conceitos da psicologia
social, a limitação de seus objetos e paradigmas” (p. 25), estando ela aqui se referindo
justamente à psicologia social psicológica americana. A isso se pode acrescentar o propósito
de Moscovici de pôr fim à distinção entre sujeito e objeto. Assim, uma representação social
não estaria atrelada ao simples ato de reprodução, mas implicaria, de fato, uma construção,
em que sujeito e objeto não mais estariam em posições distintas.
É ainda Denise Jodelet (2001) quem irá fornecer uma definição mais apurada de
representação social: “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada,
com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social” (p. 22). Tal definição possui a capacidade de comportar em si todas as
características que Moscovici e outros autores haviam atribuído anteriormente ao conceito.
Como já visto, as representações sociais são criadas dentro dos grupos, através da
comunicação, em processos de interação, ou seja, são compartilhadas. Um dos motivos pelo
qual isso ocorre deve-se ao fato de que as representações sociais são formadas de modo a
tornar familiar o que não nos é familiar. Possibilita, deste modo, a apreensão das coisas do
mundo. Moscovici (2004) aponta para um outro aspecto de grande relevância e esclarecedor a
este respeito, ou seja, que “a procura pelo familiar em uma situação estranha significa que
essas representações tendem para o conservadorismo, para a confirmação de seu conteúdo
significativo” (p. 207). Isso permite inferir, como se verá mais adiante, no grande peso das
estruturas sociais mais fortemente marcadas pelo tradicionalismo e pela memória de muitas
gerações na formação e manutenção das representações sociais.
Para que possa ocorrer a formação e a sustentação das representações sociais, Vala
(2000), declara existirem dois fatores: o primeiro refere-se aos processos sociocognitivos, que
atuam através da objetivação e da ancoragem; o segundo refere-se aos fatores sociais. Quanto
ao aspecto sociocognitivo, Sá (2002) esclarece que “o primeiro passo para a elaboração de
uma teoria das representações sociais terá sido a estrutura de dupla natureza – conceptual e
figurativa – que Moscovici lhe atribuiu desde o início” (p. 45). Assim, todas as representações
trariam em si, de maneira indissolúvel, dois aspectos: a figura e o conceito. O mesmo autor
(ibid.) continua explicando que
O processo de objetivação permite que se possa remeter para o nível do concreto algo
(ou um sentido) que não possua nenhuma materialidade, tornando-se, então, mais fácil a sua
compreensão e explicação. Nóbrega (2001) explicita que “a objetivação consiste em
materializar as abstrações, corporificar os pensamentos, tornar físico e visível o impalpável,
enfim, transformar em objeto o que é representado” (p. 73).
Deste modo, o indivíduo deve ser concebido em uma perspectiva atuante com o seu
meio social, e não como simples receptáculo de ideologias e valores. Não obstante, há certas
condições, discutidas por Moscovici, que irão influenciar a emergência ou não de uma
representação social de um dado objeto por parte de um dado conjunto social. Esse mesmo
autor, citado por Vala (2000), aponta para três fatores:
grupos reflexivos12 se complementam uns ao outro e são requisitos fundamentais para o que
se chama identidade social” (p. 12). Nesse sentido, a pesquisa, ora desenvolvida é, ao mesmo
tempo, uma pesquisa da sua própria identidade social, pelo policial militar.
Uma importante discussão a respeito das práticas sociais e das representações sociais
refere-se ao questionamento de qual delas caracterizar como uma variável dependente ou
variável independente. Qual influencia qual? Influenciam-se mutuamente?
Deste modo, dentro das representações sociais construídas, sempre haverá espaços
para as características histórico-sociais de cada sujeito. Entretanto, Rouquette chama atenção
para o fato de que nem sempre se realiza aquilo que se deseja, seja por motivos morais, legais
ou normativos, dentre outros. Ou seja, existem pressões a respeito das quais muitas vezes é
difícil desvencilhar-se e que levam as pessoas a determinados comportamentos e, como
resultadas destes, as representações podem ser alteradas. Rouquette (op. cit.) continua,
afirmando que “por todas estas razões, a influência das práticas sobre a cognição constitui
uma determinação objetiva” (p. 43).
Como conclusão, o autor anteriormente citado afirma que não há uma mútua
influência entre as instâncias da vida social, ou seja, entre práticas e representações sociais,
sendo mais correto “tomar as representações como uma condição das práticas, e as práticas
como um agente de transformação das representações” (ibid, p.43).
12
Segundo Wagner (2000, p.10), grupo reflexivo “é entendido como um grupo que é definido pelos seus
membros, que conhecem sua afiliação e dispõem de critérios para decidir sobre quem são os seus membros”.
13
(Von Cranach, 1992)
54
14
L’organisation interne des représentations sociales: système central et système périphérique. In C. GUIMELLI
(Ed.). Structures et transformations des représentations sociales. Neuchâtel, Delachaux et Niestlé, 1994b, p 79.
55
Segundo Abric (ibid.), “o núcleo central será determinado pela natureza do objeto
representado, (...) pelo tipo de relações que o grupo mantém com este objeto e, (...) pelo
sistema de valores e normas sociais que constituem o meio ambiente ideológico do momento
e do grupo” (p. 31). Continuando, Abric afirma que o núcleo central possui duas importantes
funções: uma geradora, que permite criar ou transformar significados dos outros elementos
integrantes de uma representação; e uma função organizadora, que lhe possibilita estruturar as
ligações entre os elementos de uma representação.
Uma propriedade do núcleo central é, segundo Abric (ibid.), a de promover uma certa
estabilidade da representação. Deste modo, o núcleo central é o elemento mais resistente de
uma representação, o mais difícil de se alcançar para a produção de mudanças em uma
representação. Só é possível falar na transformação de uma representação, se ocorrerem
alterações em seu núcleo central.
Retornando aos elementos periféricos, é importante que se diga que não se tratam de
elementos menores de uma representação. Sem sua correta compreensão, a teoria do núcleo
central poderia se apresentar de modo confuso, visto que, as representações, segundo Abric
(ibid.), se mostram “simultaneamente, estáveis e móveis, rígidas e flexíveis” (p. 34), e
continua esclarecendo que “além disto, as representações são, ao mesmo tempo, consensuais e
marcadas por fortes diferenças individuais” (p. 34). Ou seja, aparentemente parece existir uma
certa contradição interna. Contudo, a mesma pode ser facilmente explicada; sendo que para
isto Sá (2002) declara que, a própria teoria acaba por propor a idéia de que,
uma representação social, conquanto uma entidade unitária, é regida por um sistema
interno duplo, em que cada parte tem um papel específico mas complementar ao da
outra. Haveria, assim, um sistema central, constituído pelo núcleo central da
representação (...). Em segundo lugar, como complemento indispensável do sistema
central (...) “um sistema periférico”, constituído pelos elementos periféricos da
representação (...). (p.73)
Deste modo, são os elementos periféricos que concedem um caráter mais flexível e
móvel à representação, justamente por estarem apoiados nas experiências individuais dos
sujeitos, enquanto o núcleo central, como já foi visto, é responsável pela rigidez e estabilidade
da representação, apoiando-se na história e valores do grupo.
Os elementos periféricos também são entendidos por Flament como esquemas. Para
ele, (2001), “os esquemas periféricos asseguram o funcionamento quase instantâneo da
representação como grade de decodificação de uma situação: indicam (...) o que é normal (e,
56
por contraste, o que não é); e, portanto, o que é preciso fazer compreender ou memorizar” (p.
177). Baseando-se nesta noção de esquema, Abric (2000) cita Flament para explicitar três
características identificadas por este último para os elementos periféricos.
Nesta pesquisa, o uso da abordagem estrutural permitiu que fossem realizados diversos
níveis de comparação entre as representações sociais levantadas. Inicialmente, do total de
sujeitos analisou-se e compararam-se as representações construídas por três grupos com
diferentes tempos de serviço na corporação, em seguida observou-se o nível de escolarização
(ensino médio ou superior) e por fim, a localização da unidade operacional a que pertence:
interior ou capital.
4 – REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA POLÍCIA MILITAR PELOS
PRÓPRIOS POLICIAIS: UM ESTUDO EMPÍRICO
4.1 – Objetivos
4.2 – Método
4.2.1 – Sujeitos
Os sujeitos deste estudo foram Praças em serviço ativo na Polícia Militar do Estado do
Rio de Janeiro. Acreditou-se que através destes, se poderia alcançar como uma instituição
“centenária” é capaz de se perceber através do olhar de sujeitos que de dentro de seus portões,
também fazem parte de uma vasta rede social. Os policiais pesquisados estão incluídos em
faixas distintas de tempo de serviço dentro da corporação. Para se obter estas amostras os
pesquisados foram recrutados dentre:
15
Fonte: Diretoria de Ensino e Instrução da PMERJ – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP
16
Para melhor compreensão acerca dos currículos escolares dos policiais, ver Tese de Doutorado de Paula
Poncione, “Tornar-se Policial: A construção da Identidade Profissional do Policial no Estado do Rio de Janeiro”
– 2003.
59
Para o Curso Especial de Formação de Cabos, os policiais devem estar há cerca de,
no mínimo, oito anos na instituição. É importante frisar que soldados com um tempo de
serviço menor também possuem o direito de realizar o curso de formação de cabos, desde
que aprovados em concurso interno da corporação; contudo, estes não fizeram parte da
amostra desta pesquisa.
17
Fonte: Diretoria de Ensino e Instrução da PMERJ – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP
18
Fonte: Divisão de Ensino da PMERJ – Centro de Qualificação de Profissionais de Segurança - CQPS
60
A escolha destes locais foi baseada na relevância dos mesmos como referência na
formação dos policiais pertencentes a diferentes municípios do Rio de Janeiro. Assim, foi
possível alcançar um número representativo de policiais provenientes de várias regiões do
Estado.
19
No momento, o CQPS encontra-se sediado no CFAP.
62
Como pode ser observada na Tabela 1 a maioria dos sujeitos pesquisados atua em
áreas situadas na cidade do Rio de Janeiro ou na Baixada Fluminense, refletindo a grande
concentração de unidades operacionais nestes locais. Um outro aspecto possível de inferir, é
que, em virtude da distância e das dificuldades de deslocamento para a capital, muitos
policiais militares optam por não realizar cursos, por serem longe de sua residência. Este fato
pôde ser observado quando a pesquisadora trabalhava no 8º BPM, Campos dos Goytacazes,
em que muitos policiais solicitavam não ingressar (pois tinham direito, e eram comunicados
do fato) em cursos que lhe facilitariam a promoção, esperando que a mesma ocorresse por
tempo de serviço, para não ficarem longe da família, e do “bico”, isto é, do serviço extra, cuja
renda muitas vezes já estava incorporada ao seu orçamento familiar.
Tabela 2: Distribuição do nível de escolaridade dos policiais militares. Rio de Janeiro, 2005.
CATEGORIA
QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
NÍVEL DE INSTRUÇÃO
f % F % f %
Ensino Superior Completo
12 22,0 5 5,0 10 5,5
Ensino Superior
Incompleto 13 23,5 7 7,2 67 37,5
Ensino Médio Completo
30 54,5 68 70,0 101 56,5
Ensino Médio Incompleto
- - 12 12,4 1 0,5
Ensino Fundamental
Completo - - 4 4,4 - -
Ensino Fundamental
Incompleto - - 1 1,0 - -
A Tabela 3 mostra que dentre os cursos superiores concluídos pelos policiais, dois
destacam-se. Variados cursos de Licenciatura (Língua Portuguesa, Matemática, Educação
Física, Química e etc), e Direito. A questão do Curso de Direito é interessante, pois reforça a
idéia de que para grande parte dos policiais, seu trabalho pode ser resumido em se saber (e
muito bem!) todas as leis contidas em todos os códigos. Não que tal conhecimento não seja
necessário e imprescindível, visto que, o policial é um dos responsáveis pelo cumprimento das
leis e é quem está mais próximo da população, mas por isso mesmo não deve esquecer que
estas leis são para serem aplicadas em contextos sociais e junto a pessoas, o que não permite
que esta instituição se afaste dos conhecimentos produzidos na área de ciências humanas e
sociais.
64
Tabela 3: Distribuição dos cursos de nível superior, concluídos pelos policiais militares.
Rio de Janeiro, 2005.
tabelas, algumas considerações serão feitas a este respeito, visto ser necessário, inicialmente,
observar quais as características das tabelas mais negligenciadas por estes sujeitos.
A análise das evocações produzidas pelo inteiro conjunto dos 331 sujeitos ante o
termo indutor “Polícia Militar”, feita com auxílio do software EVOC, resultou no quadro de
quatro casas apresentado na Figura 3. Os temas evocados contidos no quadrante superior
esquerdo, que se encontram ao mesmo tempo acima da freqüência média (45) e abaixo da
média das ordens médias de evocação (O.M.E.) das palavras (3,0), são os mais prováveis
elementos constituintes do sistema ou núcleo central, justamente por terem sido aqueles mais
freqüentemente e mais prontamente evocados. No quadrante superior direito, ou seja, a
primeira periferia da representação, tem-se os elementos mais freqüentes e menos
prontamente evocados pelos indivíduos. Por sua aproximação ao núcleo central, são os
elementos periféricos mais importantes e referem-se a aspectos que são menos afetados pelo
contexto social imediato. O quadrante inferior esquerdo engloba elementos menos freqüentes,
porém muito prontamente evocados pelos policiais. Abric entende esta periferia como uma
“zona de contraste”, que sugere a existência de um processo de transformação nas
representações, ou seja, envolve elementos temáticos não evocados pela maioria dos sujeitos
do conjunto, mas que podem ser muito valorizados pelos sujeitos de algum ou alguns dos
subconjuntos estudados, possibilitando assim, em médio ou longo prazo, transformações. O
67
Figura 3: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto dos policiais militares. Rio de Janeiro, 2005. N = 331.
profissional do policial. Outros elementos centrais referem-se às condições que lhes são
proporcionadas como profissionais, sendo uma positiva “estabilidade” e outra negativa “baixo
salário”. Finalmente, a evocação de “respeito” agrega à representação uma nítida valorização
positiva da instituição policial militar.
Três aspectos positivos podem aqui também ser observados. Um relacionado a um dos
objetivos da instituição, qual seja, o de se “fazer cumprir as leis”. E outro referente à
constatação dela ser “essencial” ao meio social. Por último, uma valorização positiva da
instituição, demonstrada pelo “orgulho” em ser policial.
A segunda periferia, sendo a mais afetada pelas práticas, como visto anteriormente,
tem a função de proteger o núcleo central da representação, evitando assim, mudanças.
Contudo, por sua flexibilidade, ela se adapta mais facilmente a novas situações e, dependendo
do contexto em que isto ocorre – isto é, se essas novas práticas se apresentam como
reversíveis ou não a mudança da representação poderá ocorrer ou não. Os termos encontrados
na segunda periferia do conjunto de sujeitos, ou seja, a “corrupção” identificada no interior da
organização, a “disciplina”, que se mostra ambígua na compreensão de muitos policiais, visto
que, se para alguns ela é necessária, característica intrínseca ao militarismo, para outros ela é
entendida como coercitiva, devendo ser mais “suavizada”; bem como o termo “sociedade”,
que parece se dirigir para uma compreensão daqueles que são os reais clientes da instituição
policial militar, e a quem, os policiais militares atendem sob “más condições” de trabalho,
69
apontam para a possibilidade de se pensar estratégias, em curto prazo, que possam vir a
contribuir para um aperfeiçoamento da instituição, através de uma maior reflexão e controle
das práticas e valores arraigados a ela.
Percebe-se que com exceção do grupo de Cabos, todos os outros foram responsáveis
pela atribuição de centralidade ao tema “servir e proteger”. O termo “segurança”, também
central na representação do conjunto de sujeitos, surgiu no núcleo central de quase todos os
grupos, menos entre os Cabos e os que estão de serviço no interior do Estado. Contudo, foram
estes dois últimos grupos, mais o daqueles que possuem nível médio de instrução que
proporcionaram centralidade ao termo “baixo salário”. Em relação a este fato, pode-se dizer
que a representação construída pelo grupo de Cabos, e que será apresentada mais adiante,
discrepa das outras, quando comparada em termos de tempo de serviço na corporação, por
não conferir centralidade aos elementos positivos “servir e proteger” e “segurança”. Estes são
privilegiados por poucos desses profissionais, encontrando-se, por isso, na zona de contraste e
na segunda periferia da representação. No grupo em atividade no interior do Estado, o
elemento “segurança” estará na zona de contraste. Os outros dois termos encontrados no
núcleo central da representação do conjunto de sujeitos, “estabilidade” e “respeito”, foram
contribuição do grupo de Recrutas, dos que atuam na Capital/ Baixada Fluminense e daqueles
portadores de nível médio de instrução. Parece que os sujeitos que estão ingressando na
polícia (Recrutas), comparados com os outros dois grupos diferenciados por tempo de serviço,
isto é, Cabos e integrantes do QOA, são os que mais vinculam o valor “respeito” ao trabalho
policial, sendo que este mesmo termo nem é evocado nas representações desses outros dois
grupos. Isto pode sugerir que, com o passar dos anos o policial sinta-se mais “desvalorizado”,
uma vez que parece constatar que não é conferido “respeito” a sua prática profissional.
manutenção da “ordem pública”, destaca-se a “repressão”, que envolve “risco” para o policial.
Os sujeitos que mais contribuíram para a localização dessas duas últimas evocações na
primeira periferia foram os que atuam na Capital/ Baixada Fluminense, os portadores de nível
superior e o QOA. Uma das coisas que se pode perceber é que é justamente nas áreas da
capital e entorno onde parece existir um maior número de enfrentamentos entre policiais e
criminosos, e onde os policiais sentem-se mais vulneráveis aos riscos inerentes da profissão.
Uma outra observação possível sugere que o sentimento de exercer uma profissão perigosa,
que inclui “riscos”, tende a aumentar na medida direta em que aumenta o tempo de
permanência do sujeito na instituição, principalmente se ele atua na Capital/ Baixada
Fluminense.
Cabe aqui destacar, para as considerações finais que serão feitas mais à frente, que os
indivíduos que atuam na Capital/ Baixada Fluminense foram os únicos que apresentaram o
termo “repressão” em sua primeira periferia. A isto convêm acrescentar que os termos
“desacreditada” e “risco” foram os mais evocados nas primeiras periferias de todos os grupos.
20
Structure, dynamique et transformation dês representations socials. In: J. –C. Abric (Ed). Pratiques socials et
representations. Paris, Presses Universitaires de France, 1994b, 37 – 57.
72
Servir-e-proteger 95 2,4
³ 37 Segurança 63 2,3
Estabilidade 45 2,4
Respeito 41 2,7
Figura 4: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto dos Recrutas. Rio de Janeiro, 2005. N = 179.
ausência de evocações nesta periferia é teoricamente possível, não representando assim, falhas
na execução da pesquisa.
Figura 5: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto dos Cabos. Rio de Janeiro, 2005. N = 97.
Como será observado mais à frente, outros dois grupos conferiram centralidade aos
termos “desorganizada” e “baixo salário”, bem como situaram na primeira periferia o termo
“desacreditada”: são os portadores de nível médio de instrução e aqueles em serviço no
interior do Estado.
74
Figura 6: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto do QOA. Rio de Janeiro, 2005. N = 55.
Figura 7: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto de sujeitos em serviço na cidade do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. Rio de
Janeiro, 2005. N = 232.
Figura 8: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto de sujeitos em serviço no interior do Estado do Rio de Janeiro. N = 66.
Como pode ser visto na Figura 8, a representação construída pelos sujeitos em serviço
no interior do Estado, apresenta em seu núcleo central o lema da corporação como elemento
principal, ou seja, “servir e proteger”. Outras evocações sugerem um entendimento negativo
da corporação, que é percebida como “desorganizada” e oferecendo um “baixo salário” para
seus servidores. Como já discutido, este grupo contribuiu com os termos “servir e proteger” e
“baixo salário” para a construção do núcleo central do conjunto de sujeitos.
Figura 9: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto de sujeitos portadores de nível superior de instrução. Rio de Janeiro, 2005. N = 27.
Figura 10: Distribuição estrutural das evocações ao termo indutor “Polícia Militar”, pelo
conjunto de sujeitos portadores de nível médio de instrução. Rio de Janeiro, 2005. N = 199.
CATEGORIA
QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
EXPECTATIVAS DA
POPULAÇÃO f % f % f %
Segurança
5 6,7 12 9,7 61 25,9
Tratamento respeitoso
2 2,7 10 8,1 20 8,5
Honestidade e
3 4,0 12 9,7 18 7,6
Confiabilidade
A população não espera
6 8,0 10 8,1 6 2,5
nada
Eficiência e Eficácia
15 20,0 24 19,3 17 7,2
Repressão
2 2,7 - - 2 0,8
Combate a Criminalidade
- - - - 17 7,2
Não Responderam
5 6,7 - - 3 1,3
TOTAL (*)
75 100 124 100 236 100
Quanto ao nível de satisfação da população para com o trabalho oferecido pela Polícia
Militar, quase dois terços dos policiais, em todos os três grupos, acredita que as pessoas
estejam “pouco” satisfeitas, como se observa na Tabela 7.
81
O envolvimento de - - - - 11 6,0
policiais com o crime
Tabela 9: Distribuição das próprias práticas profissionais entendidas como satisfatórias pelos
policiais. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 10: Distribuição da opinião dos policiais militares a respeito do quantitativo de auxilio
oferecido pela população ao trabalho policial. Rio de Janeiro, 2005.
Entretanto, como mostra a Tabela 11, os policiais esperam auxílio das pessoas, e quase
dois terços das respostas dos três grupos de sujeitos se orientaram para dois itens que,
segundos eles são importantes para esta ajuda. Em primeiro lugar vem a “denúncia”,
demonstrando que para o efetivo trabalho da polícia é necessário que a população colabore
com informações. Um segundo e importante modo esperado de colaboração é a
“cumplicidade, respeito e confiança”. Uma outra categoria relevante para o QOA é a
“cooperação com o trabalho policial”, que de certa forma abarca os dois termos citados
anteriormente. Parece ser assim importante para o policial algum tipo de “apoio moral” das
pessoas. Quando isto não ocorre, a falta de credibilidade sentida pelos policiais, por parte da
população em relação a sua profissão, parece favorecer a construção de uma baixa auto-
estima, profissional e pessoal. A este respeito, é possível observar a declaração de um
indivíduo do grupo do QOA que diz que “a falta de acolhimento e o descaso com relação às
atividades policiais” são sentidos como falta de colaboração da população. Um outro aspecto
possível de se ressaltar sobre isto é que os três termos destacados parecem completar-se em
uma unidade que, de um lado apresenta uma necessidade concreta (denúncias) e, de outro,
valores subjetivos e positivos (cumplicidade, respeito e confiança). Parece que só assim o
policial “sentirá” que existe cooperação com o seu trabalho.
87
Tabela 11: Distribuição das expectativas dos policiais quanto aos tipos de auxílio que podem
ser oferecidos pela população ao seu serviço. Rio de Janeiro, 2005.
com o trabalho do policial”, talvez também sentida como desrespeito, constituem uma quarta
parte das respostas dos Cabos, quase 30% dos Recrutas e 15% das do QOA, estes
possivelmente mais acostumados a tal relação insatisfatória com a população.
Uma última observação possível de ser feita quanto aos comportamentos realizados
pela população refere-se a algumas respostas menores que os policiais apontam para uma
implicação da população com a atual conjuntura social. Isto é, eles indicam o “consumo de
drogas e álcool”, a “receptação de produtos roubados” e a “apologia ao crime” como
comportamentos reconhecidos no meio social, e muitas vezes tidos como “coisa pequena, sem
importância”, mas que parecem dificultar, em muito, o seu trabalho.
89
Tabela 12: Distribuição dos comportamentos que, realizados pela população, não expressa
colaboração com o trabalho policial, segundo os próprios policiais militares. Rio de Janeiro,
2005.
21
Relatos publicados no Jornal do Brasil de 1º de novembro de 2004.
90
pela Polícia Militar, em que a comunidade afirmava ser mais bem tratada pelos traficantes do
que pela Polícia, os policiais foram chamados a emitir sua opinião sobre os resultados desta
pesquisa. Os três grupos de policiais ofereceram o maior quantitativo de respostas (entre
quase 30% a mais de 40%) afirmando que, na verdade, “os traficantes fazem o que o Governo
não faz”. No entendimento dos policiais parece haver uma omissão governamental que
permite que criminosos assumam papéis sociais no vácuo deixado pelas autoridades públicas.
Por assumirem ações que seriam da alçada do poder público, eles passariam a ser, em alguns
casos, mais benquistos pela comunidade. É importante que se reflita que esse espaço deixado
pelo poder público é desejado pelos traficantes, que se empenham em mantê-lo, uma vez que
isto faz com que seu domínio aumente sobre e dentro da comunidade (Soares, 2000). Não é
interessante para criminosos que o meio social, de preferência a comunidade onde se esconde,
se aproxime das instituições públicas, principalmente as ligadas à segurança pública. A
entrada do poder público, bem como das condições de exercício pleno de cidadania, poderiam
fazer com que as pessoas passassem a colaborar com os Governos, e conseqüentemente, com
a polícia.
Tabela 13: Distribuição das opiniões dos policiais militares a respeito da pesquisa que afirma,
serem os moradores de uma Favela Carioca, mais bem tratado por traficantes do que por
policiais. Rio de Janeiro, 2005.
As próximas três tabelas mostram as reações dos sujeitos quando questionados sobre
as críticas da imprensa a respeito de sua prática profissional, que afirmam que os policiais
atuam de modos indistintos em situações de conflito e situações preventivas, ou seja, sem
atentar-se para os diferentes contextos que solicitam ações diversas. Como se pode ver na
Tabela 14, mais de 90% dos sujeitos dos três grupos manifestam-se declarando ser tal
afirmativa “falsa” ou apenas “razoavelmente verdadeira”, com mais da metade dos grupos do
QOA e dos Cabos privilegiando a primeira resposta categoricamente negativa, enquanto
metade do grupo dos Recrutas admitia que ela contém alguma verdade. Finalmente, uma
proporção ínfima dos sujeitos, nos três grupos, considerou “inteiramente verdadeira” a
denúncia da imprensa.
92
Tabela 14: Distribuição das opiniões dos policiais militares sobre críticas da imprensa que,
apontam para modos indistintos de atuação profissional, por parte do policial. Rio de Janeiro,
2005.
CATEGORIA QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
CRÍTICAS DA
f % f % f %
IMPRENSA /
Falso 29 52,7 52 53,6 76 42,0
A PM é herança de um 1 3,0 - - - -
regime autoritário
Tabela 16: Distribuição dos comentários emitidos pelos policiais, a respeito do fato de
concordarem razoavelmente com a afirmação da imprensa de que atuariam de maneira
indistinta em situações de conflito e situações preventivas. Rio de Janeiro, 2005.
A respeito das diversas denúncias acerca das más atuações do policial militar, os três
grupos pesquisados, como mostra a Tabela 17, privilegiaram fortemente as respostas (entre 40
a 50%) em uma mesma categoria, ou seja, as denúncias que são feitas “dificultam a prestação
de serviços pela Polícia Militar”. Não obstante, a soma dos aspectos positivos de tais
denúncias para a Polícia Militar e para a população alcança percentuais semelhantes nos três
grupos, indicando uma compreensão por parte do policial, que reconhece que as denúncias
95
ajudam a separar o “joio do trigo”, ou seja, os bons e os maus policiais, contribuindo para
uma melhoria da corporação e, de certo modo, pressionando o governo a oferecer uma maior
qualidade nos serviços prestados por suas instituições, entendendo que a segurança pública
não pode ser pensada em separado de outros órgãos governamentais, tais como a área social,
educacional, esporte e lazer, cultura, habitação, saúde etc. Contudo, tal difusão de notícias
parece abrir espaços, segundo alguns policiais, para uma valorização negativa da instituição e
de seus membros (uniformizados), o que, em médio prazo, é sentida como uma dificuldade
para a prestação de serviços pela polícia.
Tabela 17: Distribuição da opinião dos policiais militares a respeito das denúncias de más
atuações profissionais. Rio de Janeiro, 2005.
CATEGORIA
QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
DENUNCIAS DE MÁS
ATUAÇÕES f % f % f %
PROFISSIONAIS
Dificultam a prestação de
35 45,4 51 39,8 127 52,7
serviços pela polícia
militar
Contribuem para a
20 26,0 22 17,2 62 25,7
melhoria da atuação da
polícia militar
É um serviço que ela
17 22,1 22 17,2 52 21,6
presta a população
Não responderam
5 6,5 33 25,8 - -
TOTAL (*)
77 100 128 100 241 100
Tabela 18: Distribuição das justificativas oferecidas pelos policiais, para o fato de que as
denúncias de más atuações policiais pela imprensa dificultam a prestação de serviços pela
polícia militar. Rio de janeiro, 2005.
CATEGORIA
QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
DIFICULTA A
PRESTAÇÃO DE f % f % f %
SERVIÇOS
A imprensa só fala mal,
1 2,8 23 45,1 37 29,0
nunca anuncia nada bom
que o policial faça
Colocam a população
27 77,3 10 19,6 31 24,4
contra a polícia
Divulgam operações que
1 2,8 5 9,8 16 12,6
deveriam ser sigilosas
Encorajam a
- - 1 2,0 1 1,0
criminalidade
Distorcem informações,
5 14,3 - - 13 10,2
prejudicando a polícia
Outros
- - 1 2,0 2 1,6
Não responderam
1 2,8 11 21,5 27 21,2
TOTAL (*)
35 100 51 100 127 100
Para os policiais que crêem que denúncias de más atuações contribuem para a
melhoria da atuação da Polícia Militar, os maiores percentuais de respostas apontam para o
fato de que estas denúncias “ajudam a identificar os maus policiais” e “ajudam a melhorar o
trabalho do policial”, como se pode ver na Tabela 19. Deste grupo fazem parte policiais que,
costumam afirmar que “quem não deve, não teme!”.
97
Tabela 19: Distribuição das justificativas oferecidas pelos policiais, para o fato de que as
denúncias de más atuações policiais pela imprensa contribuem para a melhoria da atuação da
polícia militar. Rio de janeiro, 2005.
CATEGORIA
QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
CONTRIBUEM PARA A
MELHORIA DA f % f % f %
ATUAÇÕA
Ajuda a identificar os
6 30,0 8 36,4 24 38,7
maus policiais
Ajuda a melhorar o
7 35,0 3 13,6 25 40,3
trabalho policial
Obriga a instituição a
4 20,0 3 13,6 5 8,0
melhorar seus serviços
Outros
- - - - - -
Não responderam
3 15,0 8 36,4 8 13,0
TOTAL (*)
20 100 22 100 62 100
maturidade que, apesar de também criticar e questionar, já o faz de um modo mais consciente,
tendo como base o conhecimento construído no interior da instituição em conjunto com o
meio social, o que acaba por possibilitar a existência de outras posturas frente à mídia.
Tabela 20: Distribuição das justificativas oferecidas pelos policiais, para o fato de que as
denúncias de más atuações policiais pela imprensa é um serviço que ela presta a população.
CATEGORIA
QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
SERVIÇO PRESTADO
Á POPULAÇAO f % f % f %
Não responderam
2 11,8 3 13,6 7 13,5
TOTAL (*)
17 100 22 100 52 100
Quando questionados sobre as situações possíveis para o uso de armas de fogo, mesmo
sem risco aparente de vida, os três grupos situam-se entre duas categorias, como pode ser
observado na Tabela 21. No QOA foram 66% de respostas e no grupo de cabos 41% para
categoria “nenhuma”. Já 23% das respostas dos Cabos e 18% do QOA se dirigiram para a
categoria “na defesa de sua própria vida ou de outras pessoas”. No grupo de Recrutas o maior
quantitativo de respostas (28%) também foi para esta última categoria, sendo que, 24%
assinalou “nenhuma”. Como o grupo de recrutas ainda não atua efetivamente no trabalho
policial, suas opiniões parecem se basear tanto nas aulas que estão recebendo no curso de
formação como em sua experiência prévia.
A respeito da Tabela 21, cabe assinalar que algumas respostas – que descrevem
situações em que os policiais acreditam justificar-se o uso de armas de fogo –, mesmo que não
99
Tabela 21: Distribuição das circunstâncias em que, mesmo sem risco de vida, os policiais
militares acreditam poderem usar sua arma de fogo. Rio de Janeiro, 2005.
Nenhuma
45 66,0 35 40,7 45 24,0
Na defesa de sua própria
vida ou de outras pessoas 12 17,7 20 23,3 53 28,2
Incursões em favelas
3 4,4 7 8,0 13 7,0
Em quase todas
2 3,0 4 4,7 - -
Para conter tumulto
generalizado 3 4,4 4 4,7 19 10,0
Situações de flagrante
- - - - 7 3,7
Quando se defronta com
- - - - 5 2,7
fugitivos
Para evitar futuros ataques
- - - - 6 3,2
Quando age assim, o
policial ou é mal
preparado ou tem - - - - 8 4,2
problemas psicológicos
Na Tabela 22, estão os resultados oferecidos pelos policiais quando interrogados sobre
a existência de circunstâncias em que se pode atuar sem arma de fogo e sem o uso da força. É
importante que se entenda que aqui o termo “força” foi utilizado significando um uso
exagerado e abusivo da força. Todos os grupos responderam afirmativamente a esta questão,
apresentando números significativos. O que demonstra que os policiais há mais tempo na
corporação, e mesmo os Recrutas, estão cientes de que o uso abusivo da força e o de armas de
fogo não são partes intrínsecas do trabalho policial, existindo situações em que a autoridade
de que dispõe, advinda do poder de polícia, é suficiente para a solução de um conflito.
Em seguida, como mostra a Tabela 23, foi solicitado que os sujeitos identificassem
essas circunstâncias. A este respeito, é necessário inicialmente destacar que os sujeitos dos
três grupos apresentaram uma grande diversidade nas respostas, o que sugere a identificação
de muitas situações, por parte dos policiais, em que não se fazem necessárias armas ou do uso
abusivo da força. O grupo de Recrutas e do QOA destacou a possibilidade da realização de
serviços sociais. Sendo que, para os Recrutas, situações de trânsito, brigas de vizinhos e
casais, ou qualquer situação em que não exista risco de vida, é passível também de não se
utilizar armas de fogo. O grupo do QOA acrescenta ainda que, “caso o meliante se entregue
sem esboçar reação armada”, não há necessidade de armas. O grupo de Cabos oferece o maior
percentual de respostas para as situações em que haja brigas entre vizinhos e casais. Quanto à
ausência de respostas a esta pergunta, os Cabos e o QOA apresentaram números que merecem
serem observados: 10 sujeitos do QOA e 13 cabos não apontaram a existência de
circunstância alguma em que o policial possa agir sem armas e com uso exagerado da força.
Mesmo sendo um número pequeno de sujeitos, indicando a sua posição periférica na
representação, eles devem ser considerados, com vistas à formulação de estratégias que
impeçam o seu crescimento na corporação. Como os elementos mais distantes do núcleo
central são aqueles mais afetados pelas práticas, a possibilidade de construção de variadas
estratégias de instrução, não apenas durante os cursos realizados para aperfeiçoamento, mas
também de modo sistemático dentro das Unidades Operacionais, acrescentados de maneiras
efetivas de controle do trabalho policial, podem provocar mudanças para uma melhor
compreensão e utilização do gradiente de força, que permitirá aos policiais militares
utilizarem a força e os meios necessários para cada situação, caminhando das formas mais
simples para a solução de conflitos até aquelas em que se faça necessário o uso de armas de
fogo, para a preservação da própria vida ou de terceiros.
101
Tabela 23: Distribuição das circunstâncias em que o policial militar pode ter atuações que
diferem do uso da força e da arma de fogo. Rio de Janeiro, 2005.
Em operações de - - - - 4 2,4
investigação
grupo de Cabos, mais de 80% das respostas foram para as categorias “através do diálogo”
“realizando projetos sociais junto às comunidades”. Para os Recrutas, apesar de 25% das
respostas serem para a categoria “através do diálogo”, 108 sujeitos não souberam identificar
situações em que se pode atuar sem o uso exagerado da força ou de armas de fogo. Estes
números talvez se devam ao fato de não estarem ainda estes indivíduos em efetivo serviço
dentro da instituição, sem a conclusão teórica do Curso de Soldados, bem como do estágio nas
ruas. Ou seja, sugerem que somente com o passar dos anos dentro da corporação, nas suas
experiências diárias, é que o sujeito vai conseguindo distinguir diferentes modos de atuação.
Contudo, também demonstram a urgência de se investir neste tipo de instrução para os
policiais, principalmente os novatos. A conseqüência para a representação destes altos
percentuais de indivíduos que “não sabem o que fazer”, é que, excetuando o uso das armas de
fogo e da força, a maioria deles não sabe caracterizar (não representa) o trabalho do policial.
Tabela 24: Distribuição de atuações possíveis, na prática policial, que diferem do uso de
armas de fogo e da força. Rio de Janeiro, 2005.
CATEGORIA QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
ATUAÇÕES f % f % f %
POSSÍVEIS
Através do diálogo 19 51,4 42 67,8 47 25,1
Tabela 26: Distribuição da opinião do policial militar, a respeito dos segmentos da população
sujeitos a intervenções mediante o uso da força e de armas de fogo. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 27: Distribuição das justificativas para as críticas que afirmam que, pobres, negros e
mulatos são mais abordados por policiais militares do que brancos e pessoas que demonstrem
possuir maior poder aquisitivo. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 28: Distribuição das justificativas dos policiais, quanto ao uso de arma de fogo
fora do horário de serviço. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 29: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito da campanha nacional
sobre o desarmamento. Rio de janeiro, 2005.
Tabela 30: Distribuição da opinião dos policiais militares, a respeito de policiais que achacam.
Rio de janeiro, 2005.
Mentira - - 4 3,5 - -
Também se procurou saber se para o policial militar existe diferença entre a prática de
“achacar” e a de “aceitar dinheiro”. Os três grupos apresentaram altos percentuais – em torno
110
de três quartas partes dos sujeitos – de respostas que negam tal diferença, como se observa na
Tabela 31.
Tabela 32: Distribuição das justificativas dos policiais militares que concordam com a
existência de diferenças e3149 cm 1.00000 0 0 1.00000 0 0 Tm [(c)4.0(onc)3.9(or)-1.0(dam)] TJ ET
112
viria a favorecer as condições de serviços prestados a população. Aqui convém enfatizar que
mesmo em proporções menores, foram inúmeras as respostas oferecidas pelos três grupos de
sujeitos que trazem à baila críticas de ordem técnica e de políticas públicas. Melhores
condições de trabalho parecem não se resumir apenas na quantidade e qualidade de
instruções, mas apontam para a necessidade de melhorias técnicas, que incluem melhores e
mais modernos equipamentos que possibilitem ao policial agir de forma segura para consigo e
para com o meio social, evitando ao máximo a ocorrência de situações letais. O aumento do
efetivo pode ser entendido como algo que permitiria ao policial modificar sua atual escala de
serviço, que em alguns locais é de 24 X 48 horas, entrecortada continuamente por variados
“serviços extras” prestados para a corporação, o que conseqüentemente diminui seu tempo de
repouso e possibilidade de estar junto à família (muitos policiais reclamam que não vêem seus
filhos crescerem!).
Tabela 33: Distribuição das sugestões oferecidas pelos policiais militares, para a melhoria dos
serviços prestados a população. Rio de Janeiro, 2005.
Outro aspecto importante para este estudo foi procurar identificar o nível de satisfação
– ou insatisfação – dos sujeitos com as instruções (aulas) recebidas dentro da corporação,
como se observa na Tabela 34. É relevante relembrar que os três grupos pesquisados estavam
realizando cursos dentro da instituição na época da pesquisa. Isso poderia sugerir que tal
proximidade facilitasse que eles demonstrassem sua insatisfação com os mesmos. Contudo,
em contatos informais com os policiais dentro das Unidades Operacionais, pode ser observado
que mesmo aqueles que não estão no momento realizando cursos reclamam da qualidade
destes, ou de sua ausência e, no caso dos policiais que trabalham no interior do Estado, das
dificuldades para a realização.
Mas o que policial entende como necessário para sua preparação? Na Tabela 35
observa-se que os três grupos ofereceram um maior quantitativo de respostas para a categoria
“aumento do número e da qualidade das instruções”, sendo que o grupo de Cabos foi o que
apresentou os maiores percentuais para esta categoria, diminuindo no QOA, e mais ainda para
os Recrutas. Há muitas críticas sobre as dificuldades na condução dos cursos, visto que,
segundo os policiais, muitas vezes eles são deslocados para serviços variados, em detrimento
de suas aulas. Destacam-se em seguida, algumas declarações a respeito das instruções/ aulas/
treinamentos recebidos: “o policial quando da realização de cursos, deveria estar dedicado
integralmente a isso, e não ser escalado em serviços extra. Os instrutores também deveriam
ser melhor preparados” (Policial Militar / QOA). Segundo um outro policial: “revisão do
plano de matérias, adequando à realidade presente” (Policial Militar / QOA).
Nesta mesma tabela pode-se ainda observar uma grande quantidade de respostas
menos freqüentes, mas que sugerem de modo claro estratégias para, segundo os policiais,
facilitar o seu trabalho. Essas categorias envolvem questões relacionadas a diversas áreas de
conhecimento, tais como Psicologia, Direito, Direitos Humanos e treinamento técnico e
operacional. Ao se confrontar esses resultados com a temática evidenciada na periferia da
representação do conjunto de sujeitos (ver p. 73), algumas observações podem ser formuladas.
Entendendo que uma das maneiras do policial atuar seja através da “repressão”, “treinamentos
com o BOPE”, “instruções de tiro” e um “melhor preparo tecnológico” apresentam-se
sobremaneira imprescindíveis. Para o “cumprimento da lei” e a manutenção da “ordem
pública”, em um trabalho que se mostra como “essencial” para a “sociedade”, conhecimentos
vindos da área da Psicologia, Direito e Direitos Humanos também se mostram necessários.
116
Tabela 35: Distribuição das alterações que, segundo os policiais militares, são necessárias na
preparação do policial militar. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 37: Distribuição do nível de concordância a respeito do fato de que, o modo como se
realiza uma intervenção policial poderá interferir na predisposição do meio social em
colaborar com o trabalho do policial. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 38: Distribuição das justificativas dos policiais militares que concordam com o fato de
que sua atuação profissional pode interferir na predisposição do meio social colaborar, ou não,
com o trabalho policial. Rio de Janeiro, 2005.
Dentre os poucos – 13% a 20% – policiais que não concordaram com a possibilidade
de suas ações interferirem na predisposição do meio social para com o seu trabalho e com a
instituição, as respostas, observadas na Tabela 39, dos grupos diferenciaram-se. Para os
Recrutas “quem manda são os traficantes, por isso não mudaria”. No grupo de Cabos, “isso
121
não é da competência do policial, e apenas sobrecarrega o trabalho, o policial não pode ser
confundido com assistente social”. Para o QOA “as pessoas não gostam de ser reprimidas, por
isso não gostam de colaborar”, e uma alternativa é que, de qualquer modo, “as comunidades
repelem a polícia”. Aqui também, o grupo de Cabos e de Recrutas apresenta significativas
ausências de respostas. Para compreender esta omissão de justificativas, é necessário que se
retorne à análise estrutural da representação do conjunto de sujeitos. A evocação do termo
“desacreditada” na primeira periferia desta representação, bem como na primeira periferia da
representação do grupo de Cabos, e presente ainda na segunda periferia do grupo de Recrutas,
parece sugerir que para estes dois grupos, independente do que possam vir a fazer durante seu
trabalho, nunca irão “agradar”, visto o descrédito sentido pela população em relação à
corporação. O que explicaria a “despreocupação” dos policiais em justificar a resposta.
122
Tabela 39: distribuição das justificativas dos policiais militares que, não concordam com o
fato de que sua atuação profissional pode interferir na predisposição do meio social colaborar
com o trabalho policial. Rio de Janeiro, 2005.
No momento da 2 18,0 - - - -
intervenção, só se pensa
na própria segurança
Outros - - - - 2 8,7
Tabela 40: Distribuição das justificativas para a escolha da profissão de policial militar. Rio
de Janeiro, 2005.
Tabela 41: Distribuição das recompensas percebidas na profissão de policial militar, segundo
os policiais. Rio de Janeiro, 2005.
CATEGORIA QOA CABOS RECRUTAS
FUNCIONAL
RECOMPENSAS f % f % f %
PROFISSIONAIS
Tabela 42: Distribuição da existência, ou não, do desejo de mudar de profissão pelo policial
militar. Rio de Janeiro, 2005.
Tabela 43: Distribuição dos possíveis motivos para o abandono da profissão de policial militar
Outros 2 6,1 - - - -
Não responderam - - - - - -
Tabela 44: Distribuição dos motivos para não abandonar a profissão de policial militar. Rio de
Janeiro, 2005
Tabela 45: Distribuição da concordância, ou não, por parte do policial militar, a respeito da
interferência do trabalho nas suas relações sócio-familiares
Trabalho 46: Distribuição de modos possíveis, do trabalho do policial militar interferir em sua
vida sócio-familiar
MODOS DE INTERFERÊNCIA f % f % f %
Outros 3 8,4 - - - -
Não responderam - - - - - -
Finalmente foi solicitado aos sujeitos que apontassem o tipo de sentimento que
sentiam pela profissão. Três quartas partes dos Recrutas e mais de 40% dos Cabos e do QOA
afirmam sentir “orgulho” pela profissão, como mostra a Tabela 47. Não obstante, como se vê
na Tabela 48, outros 40% do QOA, e uma quinta parte dos Cabos e dos Recrutas declararam
ter “outros” sentimentos. Dentre estes “outros” sentimentos, os grupos do QOA e Cabos
privilegiaram a “decepção”. Os últimos assinalaram também a “insegurança”, juntamente com
os Recrutas, que dividiram esse sentimento com outro, descrito como uma “mistura de
orgulho e decepção”.
Tristeza 1 4,0 - - - -
Outros - - - - 2 5,0
que se “preocupar” com os novos e antigos amigos (alguns se afastam!), seja pela dificuldade
da esposa (marido) em “acreditar” que ele(a) tem hora para sair de casa, mas não
necessariamente para retornar, bem como dificuldades vivenciadas no interior da instituição
policial, que aí podem se apresentar em vários níveis, isto é, dificuldades hierárquicas,
dificuldades com pares, baixo salário, condições de trabalho não tão favoráveis etc. Assim
sendo, estes policiais parecem estar em conflito, onde vida profissional, social e familiar
articulam-se refletindo em diversos aspectos da representação.
Uma última tabela em que onze Cabos deixaram de manifestar foi a número cinco,
sobre a sua última ocupação profissional, que vem confirmar o significativo percentual de
sujeitos desempregados antes do ingresso na corporação.
133
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
tanto da estrutura governamental como da sociedade. Pretender fazer isto é como querer “secar
gelo”. A violência e a criminalidade vão continuar batendo nas portas; policiais morrendo ou
agindo de forma arbitrária, violenta e ilegal.
Com o passar dos anos o trabalho do policial parece também ser compreendido como uma
fonte de renda estável, sobreposta por alguns benefícios do serviço público, ou seja, um
“emprego”. Ser entendido como “profissão”, acrescentaria ao trabalho do policial uma
valorização positiva, no sentido deste sujeito reconhecer possibilidades de crescimento pessoal,
ter prazer no que faz, além do retorno financeiro. Os benefícios advindos do serviço público, suas
garantias, mostram-se como um dos principais motivos para a permanência dos policiais dentro
da instituição. Contudo, os motivos expressos pelos policiais sempre se apresentaram em dois
níveis, um ligado ao afeto (gostar, amar, sonho) e outro relacionado à estabilidade no trabalho.
Este aspecto, como já visto, aponta para uma bipolarização da representação
Como já abordado na quarta parte deste estudo, uma importante característica identificada
neste trabalho foi a diferenciação existente entre as representações construídas pelos três
principais grupos (Recrutas, Cabos e QOA). Os Cabos apresentaram o núcleo central da sua
representação dissonante em relação aos das representações dos grupos de Recrutas e do QOA. O
grupo de Cabos foi ainda o único que não concedeu centralidade ao lema da corporação, ou seja,
“servir e proteger”. Este mesmo grupo, no que se refere ao tempo de serviço, além dos sujeitos
que atuam no interior e daqueles portadores de nível médio de instrução, considerando os dois
135
O grupo de Cabos parece apresentar uma cisão interna a respeito da eficácia do trabalho
policial no combate a criminalidade, estando praticamente divididos entre os que acreditam que
as ações são eficazes e os que não acreditam.
No grupo de Cabos, uma articulação das análises dos questionários com a estrutura
representacional, construída através das evocações livres, e com as observações realizadas pela
pesquisadora durante a aplicação do questionário, evidencia-se a adoção de uma postura
“rebelde”, crítica, mas que, diferentemente do grupo do QOA, onde a mesma “criticidade” é
acompanhada de reflexões, posicionamentos claros e sugestões, vem acompanhada de um certo
pessimismo, descaso e muita frustração. Porém, é principalmente entre os sujeitos deste grupo
que é mais possível encontrar atitudes corporativistas. Eles parecem se colocar como “protetores”
do grupo e da instituição, de que tanto reclamam, mas da qual, ao que parece, não admitem que
outros falem mal.
Os Cabos, os Recrutas e o QOA sabem que o uso da violência (uso exagerado da força) e
das armas de fogo não são inseparáveis do trabalho policial. Assim, sendo a força algo intrínseco
a prática policial, seu uso deve obedecer a determinadas gradações. Mas tanto o entendimento a
este respeito, bem como quanto à utilização de armas de fogo parecem ainda não terem sido bem
assimilados pelo grupo de Recrutas. Uma característica que deveria receber grande atenção
durante as instruções.
tendência é que com o tempo este entendimento diminua, aumentando o sentimento de menos
valia do sujeito, que passa a valorizar suas posições profissionais apenas por sua estabilidade.
Este ponto merece ser observa do para que a instituição aja de modo a evitar tal degradação e
conseqüentemente desmotivação e perda de interesse pelo trabalho, que se torna automática.
Além disso, cabe lembrar que o tempo todo o policial está interagindo com um complexo (e
problemático!) meio social, o que pode elevar o nível de estresse desses sujeitos e conduzi-los a
quadros de distúrbios orgânicos e/ ou psíquicos; quando também não favorece (por uma falta de
efetivo controle dos policiais que estão na ponta) situações de corrupção e violência.
Os sujeitos que hoje estão ingressando na corporação (Recrutas) parecem que estão
começando a entender o trabalho do policial militar como algo que é economicamente mal
remunerado. O mesmo tipo de situação mostra-se com os sujeitos em atividade na capital do
Estado ou na Baixada Fluminense, independentemente do tempo de serviço.
proximidade com áreas em que a criminalidade se mostra em níveis elevados. Aqui também, essa
“repressão” é vivenciada através do “risco”.
Finalizando, não é proposta deste trabalho justificar práticas violentas e ilegais por parte
de alguns muitos “policiais bandidos”, nem tão pouco colocar a instituição “contra a parede” e
dizer que tudo que deu e tem dado errado é responsabilidade única e exclusiva dos comandantes e
oficiais. Mas precisamos todos nós – policiais, políticos e cidadãos de um modo geral – saber
para onde vamos, em que tipo de sociedade desejamos viver, para somente assim sermos capazes
de começar a pensar a respeito dos caminhos existentes, e aí sim, escolhermos. Escolha essa que
implica novamente todos nós em sérios compromissos com práticas que possam promover a
transformação de representações que, no momento, refletem um meio social onde não há espaço
para o respeito, para a diferença, para o companheirismo, para o perdão e para a compaixão.
138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PANDOLFI, D. C., CARVALHO, J. M., CARNEIRO, L. P., & GRYNSPAN, M. (Orgs.). (pp.
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MUNIZ, J. (1999). Ser Policial é Sobretudo, Uma Razão de Ser. Cultura e Cotidiano da Polícia
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MUNIZ, J., JÚNIOR, D. P., & DINIZ, E. Uso de Força e Ostensividade na Ação Policial. (1999).
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NÓBREGA. S. M. da. (2001). Sobre a Teoria das Representações Sociais. Em: MOREIRA, A. S.
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VALA, J. & MONTEIRO, M.B. (Orgs.). (pp. 353 – 384). Psicologia Social. Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian.
140
22
Ver Glossário no apêndice “A”
Apêndice A: Glossário
Apêndice B: Questionário
QUESTIONÁRIO
Este questionário faz parte de um estudo sobre a Polícia Militar e nós achamos que ninguém
seria melhor para responder sobre essa instituição do que os próprios policiais militares.
Você não deve se identificar. As informações colhidas, em cada questionário, são
sigilosas.
Outras pessoas, inclusive você, terão acesso apenas ao resultado final da pesquisa, quando
todos os dados, depois de analisados, serão apresentados de forma global.
1) Escreva nas linhas abaixo, as cinco palavras ou expressões que venham logo à sua
cabeça, quando você ouvir a expressão que vai ser dita em voz alta pelo aplicador
deste questionário. Aguarde até ele enunciar qual é a expressão.
( )_______________________________________________________________
( )_______________________________________________________________
( )_______________________________________________________________
( )_______________________________________________________________
( )_______________________________________________________________
(a) Agora, você deve colocar essas palavras ou expressões em ordem de importância,
escrevendo, nos parênteses à sua frente, o número 1 para a que você acha mais importante, o
número 2 para a seguinte em importância, e assim por diante até o número 5.
______________________________________________________
7) Antes de você entrar para a Polícia Militar, qual foi a sua última ocupação profissional?
9) O que os policiais militares acham que a população em geral espera da Polícia Militar, em
termos de prestação de serviços?_________________________________________________
___________________________________________________________________________
146
10) Os policiais militares acham que a atuação da Polícia Militar tem atendido
satisfatoriamente às expectativas da população?
( ) Plenamente ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada
(a) Quais atuações têm sido satisfatórias? _________________________________________
__________________________________________________________________________
11) Os policiais militares acham que a população compreende e colabora, de alguma maneira,
com o trabalho da Polícia Militar?
( ) Plenamente ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada
12) A imprensa noticiou uma pesquisa realizada na Favela da Rocinha, após a ocupação pela
Polícia Militar, que mostrou que os moradores vêem os policiais militares como inimigos e
acham que os traficantes os tratam melhor do que a Polícia Militar. O que os policiais diriam
sobre isso?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
13) Críticas na imprensa dizem que os policiais militares costumam atuar da mesma maneira
em situações de conflito e em situações preventivas? Os policiais militares acham que isso é
( ) inteiramente verdadeiro ( ) razoavelmente verdadeiro ( ) falso
14) Em quais circunstâncias os policiais militares, mesmo sem estarem sendo atacados, se
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
15) Há circunstâncias nas quais os policiais militares acham que podem ter outra atuação além
do uso da força e de armas de fogo?
( ) Não ( ) Sim
16) Os policiais militares são mais predispostos a usar a força e armas de fogo na atuação
junto a determinadas populações?
( ) Não ( ) Sim
___________________________________________________________________________
17) Não é pouco comum que policiais militares portem armas de fogo fora do horário de
trabalho. Como eles justificam essa prática?________________________________________
___________________________________________________________________________
148
(a) Como, considerando essa prática, os policiais militares estão encarando a Campanha
Nacional sobre o Desarmamento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
18) Uma outra prática, menos comum mas freqüentemente denunciada pela imprensa, é de
policiais militares que "acharcam" pessoas procuradas ou suspeitas de algum delito,
liberando-as em troca de dinheiro. Como isto é visto pelo conjunto dos policiais militares?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
19) Há diferença entre a prática de "acharcar" e a de policiais militares aceitarem uma oferta
de dinheiro, em função da autoridade que exercem, para que algo seja realizado fora da
maneira regulamentar?
( ) Não ( ) Sim
Se você respondeu "sim", porque?________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
20) A imprensa diz também que durante uma atuação policial preventiva, os policiais
militares tendem a abordar principalmente e com mais rigor (uso da força) pessoas pobres e
negras ou mulatas, enquanto pessoas brancas e que pareçam ter maior poder aquisitivo são
menos abordadas e melhor tratadas. O que os policiais militares acham disso?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
21) Imprensa e Polícia Militar devem estar ambas, em princípio, a serviço da população.
Assinale as alternativas (uma, duas ou três) que completem corretamente a afirmativa a
respeito do que os policiais militares acham sobre as denúncias de más atuações policiais pela
imprensa:
( ) são um serviço que ela presta à população. Por que? _______________________________
___________________________________________________________________________
149
22) Como, estando dentro da instituição, os policiais militares acham que pode ser melhorado
o serviço que a Polícia Militar presta à população?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
23) A preparação que o policial militar recebe para atuar junto à população, em suas ações
preventivas e repressivas é suficiente e adequada?
( ) Sim ( ) Não
Se você respondeu "não", o que deveria ser acrescentado ou modificado nessa preparação?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
24) Os policiais militares podem funcionar como agentes educadores, pois, durante o trabalho,
os seus comportamentos e atitudes são muitas vezes observados por crianças e adolescentes,
além de serem, por força do serviço ou não, levados a conversar com esses jovens. De um
modo geral, a posição dos policiais militares em relação a essa afirmação é a seguinte:
( ) Nunca pensaram nisso.
( ) Concordam que isso acontece, mas não acham que seja sua responsabilidade.
( ) Aceitam que isso faz parte da sua função e se empenham em exercê-la
( ) Outra: ________________________________________________________
25) Mesmo que nunca tenham pensado nisso, os policiais militares concordariam que a
maneira como é realizada uma intervenção policial dentro de uma comunidade, seja esta
carente ou não, pode ter um efeito educativo sobre sua disposição a colaborar ou não com a
Polícia Militar?
( ) Sim ( ) Não
Porque? ____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
150
26) Em pelo menos uma coisa a imprensa defende os policiais militares: quando fala da
natureza não só perigosa, mas também árdua e estressante no dia a dia do seu exercício
profissional. Isto dá margem a uma série de perguntas que podem ser feitas aos policiais
militares:
(a) Por que escolheram essa profissão?____________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
(b) Fora o salário, a que todo trabalhador tem direito, que outras recompensas vêem na
profissão?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
27) Os policiais militares acham que o seu trabalho pode interferir em suas relações com a
família e o meio social?
( ) Sim ( ) Não
Se você respondeu "sim", como? ________________________________________________
___________________________________________________________________________
28) Considerando todas as questões levantadas até o momento, qual seria o sentimento que os
policiais militares têm por sua profissão?
( ) Orgulho
( ) Vergonha
( ) Outro. Qual?
______________________________________________________________
151
Estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada “Representações De Uma Relação: Como A Polícia E A
Sociedade Se Encontram”, que se propõe a analisar as representações sociais construídas pelo policial militar a
respeito da relação entre a Polícia Militar do Estado do Rio de janeiro e a Sociedade. Para tanto, estou realizando
a aplicação desta entrevista. Sua participação é de fundamental importância para a realização deste estudo.
Não haverá riscos, nem desconfortos, nem gastos de qualquer natureza. Você poderá solicitar qualquer
esclarecimento quando sentir necessidade e poderá interromper sua participação a qualquer momento, sem
nenhum ônus, de qualquer natureza. Asseguro que o que for dito, registrado e escrito será respeitosamente
utilizado, e que serão mantidos o sigilo e o anonimato das informações aqui contidas. Desde já agradeço a sua
colaboração.
fornecidas por mim, em forma escrita, para ser utilizada integralmente ou em partes, sem restrições de prazos ou
citações, desde a presente data. Da mesma forma, autorizo a leitura de tais por terceiros, ficando vinculado o
controle e guarda dos mesmos a Alexandra Valéria Vicente da Silva, mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de realizar a pesquisa
Assinatura: ___________________________________________
152
Apêndice D: Tabela com os cursos de nível superior não concluídos pelos policiais militares
Distribuição dos cursos de nível superior não concluídos pelos policiais militares. Rio de
Janeiro, 2005.
Outros
2 15,6 - - 10 15,0
Não Responderam
3 23,0 - - 4 6,0
TOTAL (*) 13 100 7 100 67 100
(*) O Total se refere ao conjunto de sujeitos.
155
156
159
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