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OUVIR OS DESEMPREGADOS PARA COMPREENDER A RELACAO COM 0 TRABALHO?” Christine Revuz”” Resume (0 aumento do desemprego suscitou 0 aparecimento de um novo “olcio” que eonsiste em acompanhar ‘esos em husca de emprego. O trabalto ea rela subjetiva como trabalho esto no centro dessas Priticns © fornecem om material original para compreender. em una abordagem clinica, como 0 faneionamento psiquico do seit, os movimentas de seu descjo se articulam com a realidad seat t tenica das stages de trabalho. Esta abordagem permite também analisar aquilo que toma problemiiiea « colocagao em palavras da atividade real de trabalho por aqueles que no entanto o ‘feta A evolugio do mercado de trabalho, « multiplicagio das. situagoes dificeis (desemprego, reconversio ou mobilidade forgadas, niio acesso dos jovens ao trabalho, emprego precirio, exigéncias novas na empresa) suscitaram, hd uns 15 anos. 0 desenvolvimento ripido de uma categoria profissional, até entio embriondrin. Este novo “oficio" consiste em ajudar os individuos a sair de uma situagio profissional insatisfatéria, através de um trabalho de orientagio, de balango. de acompanhamento na insergdo, até mesmo, para emprestar 0 jargio em uso, de "remotivagio” ou de "edinamizagio -Traduzido do original frames publicado no wimero 117."Compreendre le travail”, da revista Fdueation Permanente dirigida por G. JOBERT ‘hautora € psicanalista c eonferencista em Psicologia do Trabalho nv CNAM, em Pais ue, Catnpinas, 39-35, 1997 10 Ouvir os desempregados para compreender a retacde com o trabalho? trabalho ¢ a relagio subjetiva com o trabalho parece que devem estar assim no centro dit atividade e dos saberes construidos por estes profissionais. Na realidade, as coisas sto mais complexas, € se, de fato, esses profissionais acurmulam um “material” original, este permanece, essencialmente, inexplorado, Uma sétie de obsticulos, que Procurarei destacar, em uma primeira patte, prejudicam a elaboragdo tedriea, pelos Drofissionais, de sua experigneia que, por isto, nito tem nenhura visibilidade para as diversas categorias de pesquisadores interessados no trabalho. Mostrarei adiante que a escuta das pessoas em dificuldade profissional, mobilizando outros procedimentos, diferentes daqueles que sto familiares aos pesquisadlores, permite colocar um olhat diferente sobre o trabalho. Procurarei, enfim, a partir desta "clinica da relagiio com 0 {rabalho", destacar algumas pistas de investigagio, Mas voltemos, por enquanto, aos que a inventam no cotidiano, Um oficio em construgio Para além da diversidade das denominagdes, dos estatutos! institucionais ¢ das formmages iniciais’, esses profissionais 18m um espago de agio relativamente homogéneo porque estreitamente enquadrado pels cocrgdes econdmicas © os {False em “psicslogos do trabalho” na AFPA, em “conselheiros de balango” nos CIRC (Centeus {nierinsttucionais de Balango de Competeneias). Os “conselheiros profissionais da ANPE tomharamy se. onsets principas a favor de uma redetinigio ambigua de suas lunges. Mas encontramee também prolssionais do conselho profssional nos GRETA, nos PALO (Petmunoncia de Reeepgte,Inforiusio-e Oriemtagioy, nas misses locos. nas antenas da asuciagdo “Reiravaller”. sem lars miliples struts jas aividades vcupam um espagn imprecise na enerwilhada da fommegao. do. apoio 'srapéutico, do taba social eassistencial. Os estatatos desses proissinas ada diversos luncionsns CDI com garantia de emprexo, CDD estagirios): suas renuneragies variam quase do simples tiple, Na seqiéneia desse anigo, falar, por convengio, de “conselheiros profissonais” para desir 6 canjunto desses especalistas ligados ao servigo public do emprego. Nae abordo aul os problera, em Dare similares, que eoloeamn as priticas de seus homlogos gue tabalham em empress nox seviges de ‘orientago. de vestio de prevsio de emprego ete s psicdlogos da AFPA so agora recrutados com um DESS de psicologia (clinica do trabalho, experimental te), Na ontrasinstituigdes, os rerstamentos So mus ecktios,sobretude na ANPE, que feeruta por concurso em um nivel diddo de estudos = mis em boa parte 330 psictlagos ao lado dos Formadores, dos especiaisas do recrtaento ou da GRU, Rua, Campinas, 3:9-38, 1997 Christine Revu un dispositivos estatais de gestio do emprego. Entretanto, a realidade institucional arrebentada, conflituosa, na qual eles intervém’, ¢ 0 exercicio essencialmente solitétio’ da atividade, freiam a identifieagao com um (a um) oficio. |A constituigao desta atividade em oficio identificado & também entravada pel impossibilidade de projetar uma imagem ideal e perene dele. A Tua contra a doenga, a tdaptagiio das competéncias, por exemplo, podem parecer aos enfermeiros, aos formadores de adultos. como um horizonte antropolégico estivel que justifiea a cristalizagio de um oficio. O desemprego, inversamente, aparece ~ ainda? - como uma inaldigao social proviséria, evitivel, O ideal paradoxal dos conselheiros profissionais poderia set 0 de ver sua atividade desaparecer’, se eles nao tivessem a intuiedio de que, para além da conjuntura econémica, seu trabalho esté preso a mutagdes profundas © estruturais do trabalho e do mercado de empregos. Eniretanto, todos acumulam uma experiéncia tao rica quanto pestda, que procura ‘uma saida pela palavra, em uma reflexio coletiva sobre a pritica, as vezes, escrita’, criando potencialmente as condigdes de unm visibilidade social do oficio. Mas esta fomada de palavra obedece a necessidades mais imediatas: seus praticantes ‘constroem, caminhando, um profissionalismo ainda hesitante que ndio os impede de ‘modo algiim de serem roidos pelo sofrimento de seus consultores’, © por sua propria impoténeia cm modificar os determinantes sociais deste sofrimento, A reflexdio coletiva sobre a pritica aparece pois ao mesmo tempo como um instrumento, de ° 0s com 1 a insituigdes que emtretéi entre si eolages varialas, As vezes regis por tum princpio ue dvisio do trabalho, coma é o caso entte a ANPE © os que prestam uum seguimento personalizado ow sessbes de arientagie, essas relagdes podem também sé-o por um principio de oncorténea,sobretad no quaro des pracediaienas de "acoro™ pelos poderes pico O wrabalho se efeun mais feguentemente no quadro de una relagio dual eonselheiro/consult evemualient ‘rupo, Em indo caso. 0 trabalho é raramente regolado por uma elle td equipeofiealmente institu, SO gue os ante da ANPE expressavarn correntemente, i poueos anos ionizando: “Nunca seremos desempresidos. pois quando nao houver mais desempregados, ainda assim nds enconta emprego ier 2°. 108 da Edtcation Permanente que agrupa, sobre 0 tema “Balango de Orientagio" gontebuigo de piticos da AFPA. da ANPE, assim que se design em yeral as pessoas reeebidas pels conselheirs, Rua, Campinas, 39-38, 1997 2 Owvir os desempregados para compreender « relagdo com o trabatho? profissionalizagao ¢ como um meio de elaboragho psiquica do sofrimento (Dejours, 1993b: Revuz, 1993b), Mas esta fala sobre a pritica nto pode se desenrolar em cireuito fechado, Os elheiros esto bem conscientes de que procuram avidamente, fora de seu meio, formagdes, referéncias tedricas, interventores capazes de esclarecer sua pritica Esta busea acaba freqiientemente em um meio fracasso ou na constatagzo de um mabentendido, € enguanto os praticantes desse oficio saem como entraram, sua experigneia clinica, de uma riqueza incomparivel, nao irriga mais a reflexio dos Pesquisadores do que inspira os responsiveis institucionais encarregados de inventar priticas de “tratamento” do desemprego, Este mal-entendido, que persiste em um campo em que as questdes sociais sto tio vivas, em que a armada dos pesquisadores engajados nessas questées incha paralelamente i dos praticantes no terreno, niio pode ser explicado apenas pela clivagem tio tradicional quanto contestivel enire teoria & pratica (Clot. 1993), Parece que a dificuldade se prende antes ao fato de que, mais do que outros, os priticos do conselho profissional manipulam cotidianamente, na urgéneia da agi oneeitas que esto no ceme dos debates cientiticos assim como es Jog6 politico e social, Ora, eles 0 fazem a partir de ums elinica, a da relagao subjetiva 40 trabalho que, se queremos fealmente tomii-li em conta, & de natureza a abslar as relagdes de forga estabelecidas no seio das disciplinas mobilizadas para o estudo do trabalho human. Um encontro eminente pesqr Poder-se-ia pensar que 0 encontro, em si mesmo sempre problemitico, entre as questes saidas da pritica e os questionamentos que produzem um objeto de pesquisa seria facilitado pelo fato de que, no caso que nos ocupa, a distincia entre praticantes & pesquisadores & particularmente reduzida, Os conselheiros profissionais, todos, seguiram estudos que 0s familiarizaram, mais ‘ou menos, com © manejo de conceitos cientificos: uma certa facilidade no manejo da linguagem € 0 exere(cio cotidiano da ajuda a explicitagio deveriam tor: Rua, Campinas, 39-35, 1997 Christine Revuz B aptos do que quaisquer outros para intexpelar os pesquissxdores, Paradoxalmente, ito & assim 'A facilidade na verbalizagio nilo assegura por si a passagem da “ret6riea macrativa” (Clot, 1993) a uma problematizagio da experigncia. A familiaridade com os Coneitos, quanto a ela, atisca fazer a palavra atolar em uma verbosidade Convencional que nfo tem mais nada aver com a experiéneia viva. Nisto, os Conselheites profissionais no estio nem melhor nem pior repartidos do que seus Colegas "psi" confrontados com o dificil mas necessério enredamento da clinica coma wworia. Mas para os conselheiros profissionais, as difieuldades no param af, ou mats cexatamente, elas comegaram bem mais acima, nia medida em que sua pratica faz Surgirem questdes sobre a competéncia, sobre o conhecimento do trabalho, sobre & ménese da relagao do individuo com 0 trabalho, que nio poderiam ser enderegadas a dima disciplina, a uma teotia de referéncia, mas que convocam ao contrgio wma série de disciplinas no ponto em que elas se confrontam ¢ buseam a articulagio arriseada de seus objetos respectivos. ‘A psicologia, a sociologia do trabalho ou a das organizages, a ergonomia, areiam us priticas de orientagio ou de balanco como o sol clareia a Terra, rmergulhando na noite continentes inteitos, ¢ os pesquisadores, quer eles sejamn previstos para "trizer contribuigdes” (de conhecimento) ou para_animar "grupos de Tinatise das priticas", arriseam sempre passar ao lado da especificidade da atividade tie trabalho. dos conselheiros. e propor modelos de pensamento ou de ago inadequados. Acontece isso, por exemplo, com psicanalisias que vem candidamente fazer um trubalho de "supervisio" sem se intertogar sobre as particularidades do posicionamento do conselheiro, nem sobre a especificidade do objeto posto em Servigo na relagao conselheiro/ consultante. Entio, nit reflex, eles importam 0 modelo da cura analitica clissiea, acentuando até o limite do insuportével 0 entimento de impoténcia dos conselheiros, convencidos de ecupar uma posicae bastarda, perpetuamente falseada. 'A questio do quadro no qual 0 conselheiro insereve « relagao € central, mas ela & também bastante espinhosa. Ela no pode encontrar tesposta ja feita nem nos saberes Rua, Campinas, 39-35, 1997 4 Owvir os desempregados para compreender a relagao com 0 trabalho? disciplinares constituédos, nem nas priticas mais ou menes conexas de outros corpos de oficios (socislogos, psiedlogos clinicos, assistentes sociais etc.) ‘Trazer mais inteligibilidade as priticas dos conselheiros supe pois que os Pesquisadores, qualquer que seja sua disciplina, aceitem que suas referencias tedricas € metodolégicas sejam torcidas pelo encontro com esses profissionais que, de fato, so praticantes-pesquisadores. Os conselheiros profissionais, face as questdes que 0 trabalho ea relagdo subjetiva com 0 trabalho colocam aos pesquisadores, nto sao trabalhadores como os outros, pois, por um efeito de encaixe, sta atividade consiste precisamente em us ado do trabulho e da relacdo daqueles que os recebem com o trabalho, Trabalhar consiste, para eles, em fazer com aquele que o consulta uma andilise aprofundada de seu itinertrio profissional, em destindar as trefas ‘cumpridas para apreender us competéncias utilizadas, em discemnir as caracteristicas de trabalho investidas positivamente ou negativamente, Esta colocagio em palavras implica os dois sujeitos em uma relagio marcada por movimentos trunsferenciais fortes em que ox jogos so vivos: suber sobre o trabalho, os oficios, © mercado de trabalho, mas também "saber" sobre 0 Sujeito'. Os conselheiros experimentam quotidianamente a armadilha que consttui, tanto para_o que consulta como para eles mesmos, uma demanda de saber nio articulada a um esforgo de elaboragio de seu vivido singular. O desenvolvimento do consetho profissional inscreve, pois, em seu préprio prinefpio, interrogagbes sobre a implicagdo subjetiva na produeio de "conhecimentos" sobre/com pessoas, que estio cerlamente presentes nas preocupagdes dos pesquisadores, mas que estdo longe de ai revestirem-se do cariter de urgéncia pritien que clas tém em cada micro-decisio eotidiana do conselheiro, Assim, a pritica dos conselheiros convoca os pesquisadores pela acao enérgica de suas elaboragdes conceptuais © epistemoligicas em um terreno que constitu um observatétio privilegiado das evolugdes do trabalho, do emprego, dox modos de Io do pessoal * Os comsetheizos se ouvem dizer frejientemente:“Uiga-me 0 que Ueva fazer”, “como vacd mie 8", Rua, Campinas, 3:9-35, 1997 Christine Revuc is Compreende-se, dai, que este meio profissional no pode ser, parn os pesquisadores, um "terreno" com os outros, Ele s6 pode ser abordado no quadro de time coopenigia, no. seio disto que Yves Clot chama, segundo Oddone, uma ~comunidade cientfica ampliada’. As escolhas tedricas e dtieas que esta concepeto dla peaquisa sobre o rahalho subentende, junta-se aqui uma outra. dimensiot a ttivdade dos conselheiros € essencialmente relacional. Falar a1 um pesquisador dessa itividade € colocé-lo em posigio terceia, © por af mesino instaurar uma nova rlagio, hovas transferéncias, novos jogos de saber. Se 6 pesquisador permanece surdo a esta Uinamica relacional, ele no poderd entender nada daguilo que esti: no cere da atividade dos consetheiros. Se ele a toma em conta, deverd, cle também, deixar-se tnarcar pela palavta dos conselheiras € die conta de seus efeitos sobre sui propria subjetividade Sem dnida, os pesquisadores este preparados de maneiras muito diversas para se engajar em procedimentos que modifica tao radicalmente as condigaes da produgio edo uso social do Saber, e que interrogum a prépria nogio de Saber. Mas seria vio creditar que, por seu lado, os conselheiros profissionals estejam prontos se insereverficilmente nessa dinmica Profissionais sueudidos en ento clinico e vistoria © procedii A dificuldade, para os conselheiros profissionais, de reivindicar a dimensio da tworizagio inseparivel de sua pritica € exacerbada pelo fato de que sua atividade & enquadrada pelos dispositivos de intervengio, os "instruments", modalidades de 9 de sett trabalho, cujos referemtes te das da I6gica epistemoldgica evocada acima (Revuz, 1992, 19934). A vontade de objetivagao dos sujeitos e das competéncias através de procedimentos técnicos herdados da psicologia do trabalho clissica, e reforgados pelas priticas dominantes de recrutamento © de gestio do pessoal, marcam fortemente o meio como sendo 0 tinico recurso operatério disponivel mesmo se, a cada dia, os seus praticantes so a prova da immilidade deste "iparecer de peritos’ ‘Colocar cm causa os instrumentos e as teorias que os justiicam 6, paralelamente, mais dificil, ja que estes sto subtraidos ao debate de idgias pela neutralizagdo de que avaliagd Rua, Campinas, 3:9-35, 1997 16 Ouvir os desempregados para compreender « relacdo com o trabatho? sio objeto nos textos regulamentares’ ou nas modalidades de organizagao do trabalho ho seio das instituicSes. Infiltrando-se insidiosamente nos quadros institucionais, econdmicos ¢ técnicos do trabalho, esses referentes te6ricos contrariam triplamente 0 exereicio do pensamento: pelo golpe ideoldgico que constitui sua imposigao, pelas légicas de organizagio do trabalho que eles inspiram e que nfo deixam nenhum lugar institufdo para a reflexao coletiva, e, enfim, pela reducio do contetido do trabalho a uma sucessio pré-programada de operagdes técnicas!, cga a importincia da dindmica relacional e a necesséria elaboragio do que af se joza Ainda que s6 raramente haja, neste meio, verdadeira presericao do trabalho, a \égica do processamento, centrada na avaliagtio das pessoas, encontra-se reforgada por dois fatores. O primeiro se prende & "presstio do fluxo”. iésta pode tomar duas faces: a do fluxo fisico das pessoas que solicitam uma entrevista, e a da regulagio do fluxo por coergies econdmicas da instituigie. Nos dois casos, a Kigica quantitativa pesa no sentido de uma estandardizagao das prestagéies em detrimento de uma disponibilidade para a singularidade das situagdes individuais ¢ para uma diligéncia de investigagao pereebida como excessiva no consume de tempo. A essa pressio do nlimero - que se aventua continuamente hé anos - se junta um segundo fator de “inclinagao" para o parecer técnico de petites: os conselheitos profissionais, que recebem o dia inteiro pessoas em situagio profissional dificil - com © cortejo de problemas muteriais inextricaveis, de solrimento, de angtistia, que isto comportit -, fazem um trabalho estafante e, em muitos casos, desesperador. Eles nao sio sustentados no exereicio de sua agio nem por um ideal profissional claramente referivel, nem pelo reconhecimento social e institucional do cardter delicado e doloroso de seu trabalho, nem pela existéneia de um espago coletivo de elaboragao. desse softimento, Pode-se conceber que, nessas condigies. a retirada para posigoes ° Ver, pore 992, " Véemse, assim, balangos de processos cartados em virias fises asseguradas sucessivamente por consehcitos dilerentes (em fungGo de suas eompeténcias respectivas’, A uma exploragéo da historia de vida pode tamibém suceder a “eterEneia aos ganhos", ou a investigaco dos “imeresses © motivagdes” plo, 0 texto de let Sobre o balangn de eompeténcias que aparece no JO em novernbeo de Rua, Campinas, 3:9. 997 Christine Revue 7 tecnicistas seja um modo de proteciio freqiientemente utilizado, ¢ que, ao mesmo tempo, seja to raramente racionalizado pelo recurso a argumentos te6ricos, no centanto largamente disponiveis nesse meio. O recurso a testes, aos “instrumentos” de todos os géneros, suscita um discurso embaragado onde se misturam a mi consciénefa, a invocagdo de um "realismo” ea descrigdo do "desvio" dos testes no sentido da clinica, Haveria muito a dizer e a compreender sobre a ambivaléncia dos conselheiros, tensos entre 0 que os instrumentos prometem de eficicia téenica_indiscutivel, € logo de expertise socialmente reconhecida, ea conseiéncia de que o que eles tentam ‘descolar” no cotidiano & bem mais complicado do que © que esses “instrumentos” permitem aprender, mas também bem mais conflitante. tanto no plano intrapsiquice como no plano social Por uma clinica da relago subjetiva com o trabalho Procurei, em outro lugar, analisar como a oscilago entre as posturas contraditérias na relagdo com o consultante se apéia em um corpus tesrico © metedoldgico muito heteréclito (Revuz, 1992). Parecia-me, na época, que as teorizagbes expontineas dos praticantes marcavam, em profundidude, a nevessidade de uma psicologia do trabalho Clinico capaz de edificar sobre outras bases o profissionalismo dos. conselheiros. Demarcando-me ao mesmo tempo do modelo psicoterapéutico © da entrevista estritamente finalizada sobre a procura de solucBes coneretas (em termos de emprego, de formagio, de cuidados médicos, de ajuda social, etc.), eu propunha fazer da investigagao sobre a relago de trabalho dos consultantes o cerne dt atividade do conselheito, 'A relagio com 0 trabalho articula a problemytica psiquica de uma pessoa As ddimensbes econdmicas, técnica, organizacionais, sociais do trabalho, tais como ela pode apreendé-las em sua experincia pessoal, ou pereebé-las refratadas nos discursos fou maneiras de ser dos seus préximos. Esses diferentes elementos, mentum, em si mesmo, facilmente acessivel ao pensamento e 2 verbalizagii, se acavalam no vivido do trabalho (ou do nio-trabalho). Nao & Feil para ninguém aprender ¢ analisar os diferentes determinantes de sua relagio atual com 0 trabalho, de perceber que Rua, Campinas, 39-38, 1997 18 Owvir os desempregados para compreender a retacio com o trabalho? dialética se instala entre eles. Concebe-se que uma pessoa, vivendo dolorosamente suas dificuldades profissionais, reduza sua situagdo a determinantes conjuntur que a deixa sem émulo face a uma "fatalidade” externa - ou, inversamente abandone a uma explicago puramente psicoldgicn que nio facilita 0 acesso a realidade do trabalho, do mercado de trabalho ¢ das margens de manobra que ele comporta, Cada um privilegia um ou outro desses sistemas de explicagto em fungio, de sua dialética prépria, isto é, da mancira singular com que processos de subjetivacio € processos de individuagao social (Bertrand et, al. 1987) se encontraram ~ para ele como para qualquer um - inexplicavelmente ligados. Os vaivéns constantes da fala entre os aspectos os mais "privados” de sua existéneia e as consideragées econdmicas, politicas ow téenicus sobre. seu trabalho passado, ou sua procura de emprego manifestam como as modalidades de intrineaeIo entre histéria individual e historia social esto no ceme do sofrimento atual A deteegio dessas modalidades pelo sujeito, da maneira como elas marearam sua histéria escolar e profissional, mas também do modo como ele vive, no presente, sua Sitmagio de trabalho ou sua procura de emprego, aparece eomo uma alavanea essencial para que algo mude ao nivel de sua inserigio na realidade social. Essa ‘mudanga no deve necessariamente ser entendida em termos de retorno ao emprego ou outra "said positiva” (o mercado do trabalho cerueldade absohitamente real), nem em termos de apaziguamento do sofrimento psiquico (o quadro temporal das entrevistas nao autoriza esse género de ambigao"). Deve-se entender a mudanga visada sobretudo em termos de reativagao da dialstica pela qual 0 sujeito interpreta 0 Universo social para jogar af algo de um desejo que petmnece largumente enigmitico, Essa mudanga se instaura, por outro lado, no seio de uma relagao em que © consultante € reconhecido em sua dupla qualidade de sujeito e de cidadao, sem que " A dorogio das entrevistas varia de alguns minutos (recepgio do Muse na ANPE) a uma quinzena de horas para os balanges. As prestagdes de seguimento pelem chs alé uma enievisa semnal em um period de 3 meses, mas eoncemmem uit timera muito pequeno de pessoas Rua, Campinas. 3:9-35, 1997 Christine Revue 19 intervenha nenhum julgamento de valor sobre o que ele pode dizer ou fazer, nem henhuma opinio a priovi sobre o que Ihe conviria fazer" Essa hipsteses de trabalho - por mais frustrantes que sejar - guiam, desde varios anos, ums atividade eliniea em dois niveis. De um lado, um trabalho de “andilise das priticas” desenvolvido com conselheiros de diversas instituigGes: de outro, em um {quadro associative, uma “consulta” aberta 3s pessoas com dificuldade profissional Esses dois eanteiros colocam prova as hipéteses evocadas mais acima e colocam rtiltiplas questdes. Eu gostaria agora, de formular algumas delas Algumas questdes sobre o lugar do trabalho na vida psfquica Antes de tudo, se a questio da "relagio com o trabalho" € central na atividade dos conselheitos profissionais, em qué a sta escutit constrdi um objeto “tabalhs diferente daquele que aparece nas investigagoes. também elas centradas na relagio abjetiva com o trabalho mas conduzidas no proprio Iugar do trabalho, junto aos ariudos empregados? Evidentemente, «1 maneira de abordar a questi € diferente pois, na _quase totalidade dos casos, 0 problema de emprego é o primeiro na demanda dirigida a0 ‘conselheiro, No entanto, i questo do trabalho propriamente dito niio desaparece do ddiscurso dos consultores"’. Assim como a dimensfio do emprego, ov do gan, no testi igualmente ausente da maneira como os assalariados falam do trabalho, Este istanciamento forcado em relagio as situagdes de trabalho produz, no entanto, tfeitos, tanto no discurso dos consultantes como a escuta dos conselheiros © nas abordagens dos pesquisadores facamins aqui em difieeis problemas de quadra, © conselheie dispde com efeto de informs fas de ajuda, poosbildades de formagio, et.) que no so nem muito aeessveis. nem factimonte decodiicdveis. © gue & preciso por h disposigio sem no entanto oscilar em uma Kisiea ttagndstico/temgdio, Cevtos conselhetos tem uma posigao delicada pois sio ao meso texspo eprosentantes dos poderes piblicos (como foi @ caso da operagio 900 000 desempregados de longs duragio} © por sso, snvestidns de uma missao de controle VP Mesto fio caso des consultantes assalarindos (veniam por sun prépria inictativa ou de seu cemmpregador, & rare gue o trabalho de “balango” se efetue “a fro", fora de qualquer questio sobre epee. ‘Rua, Campinas, 39-35, 1997 20 Owvir os desempregados para compreender at relacdo com 0 trabalho? ‘Tudo se pass, com efeito, como se no houvesse continuidade possivel da teflexio sobre o trabalho de um ¢ de outro lado da linha que separa trabalhador desempregado, como se 0 ponto de vista do desempregado sobre o trabalho (perdido ou procurado) nio pudesse ensinar nada aos especialistas do trabalho. Nas priticas dos conselheiros. esta clivagem reforga a tendéncia em pensar o trabalho nas categorias abstratas da gestio do emprego. dos repertérios de offcio, as expensas da itencio 4 atividade real de trabalho, Esta divergéncia dos universos conceptuais &, em si, um fator de exctuso, pois as légicas que dominam as priticas de orientagiio e de balango ndo permitem ao desempregado repensar sua experiéneia profissional. Esta claboragio no entanto é necessiia, tanto para dominar o sofrimento ligado 2 ruptura quanto para se reassegurar das competéncias adquiridas, © que & preciso explicitar para que a experiéncia acumulada no seja anulada na procuta de um novo emprego. Se os especiallistas do trabalho se interessam {G0 pouco pelo que dizem disto os desempregados, se os especialistas do desemprego recorrem tio pouteo aos resultados las anilises do trabalho, € talvez. porque 0 discurso dos desempregados sobre o trabalho coloca questies que transbordam o campo ¢ os presstipostos da anilise do trabalho, A perda de uma ancoragem profissional estivel obriga com feito 0 sujeito a reconsiderar sua participagao na rede social, © por isso mesino a recolocar a questo do trabalho em um horizomte antropoldgice mais. ample. Privado de trabalho © coagido st repensar seu lugar, © desempregado repensa a sociedade, A saida desse trabalho de pensamento depende bastante do apoio gue pode encontrar no meio social Ora, este & mais prédigo em "sustentagtio psicolégica” (visando uma angiistia individual) do que em cooperagao intelectual para pensar a erise do trabalho & os gos que ela faz. phainar sobre a eidadania, A derrocada psicoldgiea de um grande nimero de desempregados, © notadamente desses cuja trajtéria social nao preparava para esta eventualidade, se explica em grande parte por este déficit de pensamento no plano politico e social, que “Taz cama” para uma culpabilizagao individual 0 riseo de encolher-se sobre si mesmo & tanto mais forte quanto a ruptura com a coletividade de trabalho ¢ também ruptura com os mecanismos coletivos de defesa que este sustentava, Sem divida ele no tem mais de se defender dos efeitos Roce: Campinas, 3:9-35, 1997 i

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