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P S I C O L O G I A D A S A Ú D E
Uma Abordagem Biopsicossocial
Richard O. Straub
University of Michigan, Dearborn
versão impressa
desta obra: 2014
Tradução:
Ronaldo Cataldo Costa
2014
Q
Vida saudável
Exercícios
Sono saudável
Promovendo famílias e
comunidades saudáveis uando Sara Snodgrass encontrou um nódulo em seu seio, seus primeiros pen-
Educação para a saúde
comunitária samentos foram a tia e a mãe, que morreram após lutar contra o câncer de mama. Depois
Estruturação de de ser diagnosticada com câncer, sua tia “foi para casa, fechou todas as cortinas, recusou-
mensagens
-se a sair exceto para as quimioterapias e recebia pouquíssimas visitas. Ela esperou pela
Promovendo locais de
trabalho saudáveis morte” (Snodgrass, 1998, p. 3). A biópsia de Sara foi seguida por uma lumpectomia (re-
Psicologia positiva e moção do tumor maligno) e dois meses de radioterapia. Embora o médico e ela tivessem
florescimento esperança de que tivesse se curado, menos de um ano depois, foram encontradas metás-
Alostasia e saúde
neuroendócrina tases em seu abdome. Em suas palavras, ela havia “submergido no câncer” desde então,
Fatores psicossociais tendo passado por três cirurgias, cinco ciclos diferentes de quimioterapia, dois tipos de
e florescimento terapia hormonal, três meses de radioterapia, um transplante de medula e um transplan-
fisiológico
Aspectos do florescimento te de células-tronco. No decorrer do tratamento, ela também sofria dores imprevisíveis e
psicológico debilitantes de 10 a 14 dias por mês.
Todavia, ao contrário de sua tia, Sara continuou seu trabalho como professora uni-
versitária, enquanto fazia cirurgias, radioterapia e quimioterapia. Determinada a não
deixar o câncer interferir em sua vida, também continuou a mergulhar, esquiar e fa-
zer outras atividades que surgiam de seu otimismo, seu senso de domínio pessoal e sua
confiança naturais. E ela assumiu o controle de seu tratamento, aprendendo tudo o que
pudesse sobre ele, tomando suas próprias decisões e recusando-se a trabalhar com médi-
cos que não a tratassem com respeito e aceitassem seu desejo de manter um sentido de
controle sobre a vida.
Talvez o mais notável de tudo seja a convicção de Sara de que seu câncer levou a
uma reorganização de sua autopercepção, seus relacionamentos e sua filosofia de vida.
Essa convicção a ensinou a viver mais no presente e a não ter preocupação com o futuro.
Ela parou de se preocupar se encontraria o homem certo, se seus alunos lhe dariam boas
avaliações e se teria dinheiro suficiente para viver de forma confortável durante a aposen-
tadoria. Aprendeu também que os relacionamentos com amigos e familiares são a parte
mais importante de sua vida. Quando pensa sobre morrer, ela diz: “Não vou dizer que
queria ter escrito mais artigos. Porém, posso dizer que queria ter visto ou falado com mais
amigos ou conhecidos com quem perdi contato.” E é isso que ela está fazendo – se corres-
pondendo, telefonando e viajando para renovar velhos relacionamentos e se divertindo
em novas relações que ampliaram sua rede de apoio social por todo o país.
De uma perspectiva estatística, apenas 15% das pacientes com metástase do câncer de
mama vivem cinco anos. Ainda assim, em oito anos, o câncer de Sara não se espalhou e
cresceu de forma imperceptível. Igualmente importante, Sara acredita que está evoluindo
CAPÍTULO 6 Permanecendo saudável: prevenção primária e psicologia positiva 145
como pessoa e experimentando a vida de um modo mais positivo do que antes. Conforme
sua própria descrição, sua experiência da adversidade trouxe benefícios inesperados que
permitiram florescer psicologicamente.
A
relação entre o estilo de vida e a saúde desencadeou grande esforço de pes
quisa, visando a prevenir doenças e ferimentos. Às vezes, a doença não pode
ser prevenida, como no caso de Sara. Ainda assim, mesmo nesses casos ex-
tremos, desenvolver nossas potencialidades humanas pode nos dar a capacidade de
florescer. Iniciamos este capítulo considerando a conexão entre o comportamento e a
saúde. Depois disso, exploramos de que maneira o foco biopsicossocial da psicologia
da saúde em abordagens baseadas em potencialidades para a prevenção, primeiro, e a
psicologia positiva, em segundo lugar, podem ajudar a formar indivíduos, famílias e
comunidades saudáveis.
Saúde e comportamento
n comportamento de saúde
É
difícil imaginar uma atividade ou um comportamento que não influenciem um comportamento, ou
a saúde de alguma forma – para melhor ou pior, direta ou indiretamente, de hábito, que promove a
imediato ou a longo prazo. Os comportamentos de saúde são comportamen- saúde; também chamado
imunógeno comportamental.
tos das pessoas para melhorar ou manter sua saúde. Exercitar-se com regularidade,
usar protetor solar, seguir uma dieta com baixo teor de gordura, dormir bem, praticar
sexo seguro e usar o cinto de segurança são comportamentos que ajudam a “imuni-
zar” você contra doenças e ferimentos. Exemplos menos óbvios incluem passatempos
prazerosos, meditação, rir, férias regulares e até ter um animal de estimação. Essas
atividades ajudam muitas pessoas a lidar com o estresse e manter uma perspectiva
otimista sobre a vida.
Visto que os comportamentos de saúde ocorrem em um continuum, alguns deles
podem ter tanto um impacto positivo quanto negativo sobre a saúde (Schoenborn et
al., 2004). Por exemplo, praticar exercícios e fazer dieta podem ocasionar uma perda
de peso benéfica; se levados ao extremo, contudo, pode ser desencadeado um “efeito
sanfona” de perda e ganho de peso que pode ser prejudicial à saúde. De maneira se-
melhante, a classificação de uso “saudável” de álcool é problemática, pois, ainda que
abundem estudos sobre os benefícios à saúde do uso leve ou moderado do álcool,
exatamente o que constitui esse “leve” ou “moderado” parece depender do gênero e
de outras características da pessoa (Green et al., 2004).
O abuso de álcool é exemplo de comportamento de risco para a saúde que tem
impacto negativo direto sobre a saúde física. Outras atitudes influenciam a saúde di-
retamente por meio de sua associação com comportamentos que tenham impacto
direto sobre a saúde. Beber muito café, por exemplo, pode aumentar o risco de doen
ças cardíacas, pois muitas pessoas que tomam café em excesso também fumam e pra-
ticam outros comportamentos de risco que podem aumentar a ameaça de cardiopatia
(Cornelis et al., 2006).
Como parte de seu projeto Youth Risk Behavior Surveillance,* o Centers for Di-
sease Control and Prevention (2010) identificou os seguintes comportamentos de ris-
co à saúde – em geral com início na juventude – que colocam as pessoas em situação
de risco de morte prematura, deficiência e doenças crônicas:
Figura 6.1
Imunógenos
100
comportamentais e taxa
de mortalidade. Nove anos 90 As linhas representam a
e meio depois do famoso mortalidade de cada grupo
Alameda Health Study começar, em relação ao número de
80 comportamentos de saúde.
a mortalidade dos homens
PORCENTAGEM DOS QUE MORRERAM
70
hábitos saudáveis regularmente
(dormir de 7 a 8 horas por 60
dia, nunca fumar, estar perto
do peso ideal, beber com 50 Mais de 75 anos
moderação, exercitar-se com
regularidade, comer desjejum e 40
evitar comer entre as refeições)
30 65-74 anos
era de 28% da mortalidade
daqueles que haviam
praticado três ou menos dos 20
comportamentos saudáveis. 55-64 anos
10
Fonte: Breslow, L. e Breslow, N.
(1993). Health practices and disabi- 45-54 anos
lity: Some evidence from Alameda 0
County, Preventive Medicine, 22, p. 0-3 4 5 6 7
86–95. NÚMERO DE COMPORTAMENTOS DE SAÚDE
CAPÍTULO 6 Permanecendo saudável: prevenção primária e psicologia positiva 147
Em resumo, o modelo de crença de saúde é uma teoria lógica a qual propõe que
as pessoas irão agir para afastar ou controlar condições que induzem doenças:
Figura 6.2
• Idade, gênero Benefícios percebidos da O modelo de crença de
• Etnicidade, raça ação preventiva menos saúde. Essa teoria em estágios
• Conhecimento barreiras percebidas à
ação preventiva enfatiza os fatores que
• Personalidade
influenciam as tomadas de
decisão relacionadas com o
comportamento de saúde. Se
Suscetibilidade percebida/ acreditarmos que uma linha de
Ameaça percebida de Probabilidade de mudança
gravidade da doença ou ação disponível irá reduzir nossa
doença ou condição de comportamento
condição suscetibilidade ou a gravidade
da condição, adotaremos esse
comportamento de saúde.
Fonte: Strecher, V. J. e Rosenstock I.
Dicas para ação: W. (1997). The health belief model.
• Conselhos de terceiros Em A. Baum, S. Newman, J. Weinman,
• Doença familiar R. West e C. McManus (Eds.), Cam-
• Sintomas bridge handbook of psychology health
• Informações na mídia and medicine, (p. 115). Cambridge,
UK: Cambridge University Press.
148 PA R T E 3 Comportamento e saúde
Figura 6.3
Atitude em relação ao
comportamento Teoria do comportamento
(“Tomar bebedeiras é perigoso.”)
planejado.
Essa teoria prevê que a decisão
de um indivíduo de realizar
determinado comportamento
Norma subjetiva Intenção (“Quando Comportamento saudável baseia-se em três
(“Todos fazem isso.”) for aceito no grupo, (inalterado) fatores: a atitude pessoal para
paro de beber.”)
com o comportamento; a
norma subjetiva em relação ao
comportamento; e o grau de
Percepção de controle do percepção de controle sobre
comportamento (“Tenho que
ele.
acompanhar os outros
se quiser que gostem de mim.”) Fonte: Sutton, S. (1997). The theory
of planned behavior. Em A. Baum,
S. Newman, J. Weinman, R. West
e C. McManus (Eds.), Cambridge
mento em questão. Por exemplo, podemos ter dificuldade de mudar para uma dieta handbook of psychology, health, and
medicine (p. 178). Cambridge, UK:
com pouca gordura se essa modificação não estiver de acordo com o comportamento Cambridge University Press.
de nossos amigos e parentes. Temos fortes intenções para agir quando nossas atitudes
em relação ao comportamento em questão são positivas e acreditamos que as pessoas
também o consideram apropriado.
O terceiro componente das intenções comportamentais é a percepção de controle
do comportamento, que se refere a nossa expectativa de sucesso em realizar o com-
portamento de saúde esperado. Quanto mais recursos e oportunidades para efetuar
uma mudança comportamental acreditarmos ter, maior nossa crença de que possa-
mos de fato mudar o comportamento. Se, ao mudar para uma dieta com baixo teor de
gordura, tivermos confiança de que seremos capazes de encontrar receitas saudáveis,
comprar os ingredientes, ter tempo para preparar as refeições e ainda gostar do sabor
mesmo com uma dieta mais restrita, teremos uma intenção comportamental mais
forte do que alguém que esteja em dúvida.
As atitudes e intenções autorrelatadas pelas pessoas preveem uma variedade de
ações que promovem a saúde, incluindo fazer testes genéticos para doenças, tomar
medicamento (Golndring et al., 2002), perder peso (Schifter e Ajzen, 1985), fazer
exercícios (Godin et al., 1993), comer alimentos saudáveis (Conner et al., 2002), usar
preservativo (Bogart e Delahanty, 2004), não fumar (Fishbein, 1982), fazer autoexame
dos seios ou dos testículos (Lierman et al., 1991), realizar mamografias (Brubaker e
Wickersham, 1990), fazer acompanhamento pré-natal (Michie et al., 1992), exames
de câncer (Conner e Sparks, 1996), consultas de acompanhamento para resultados
anormais em exames de saúde (Orbell e Hagger, 2006) e dispor-se a doar sangue (Ba-
gozzi, 1981).
Devido a sua ênfase no planejamento, não é de surpreender que o modelo do
comportamento planejado seja mais preciso para prever comportamentos intencio-
nais orientados para objetivos e encaixe-se em um modelo racional (Gibbons et al.,
1998). Em alguns casos, como no consumo de substâncias tóxicas (Morojele e Ste-
phenson, 1994), no comportamento sexual pré-conjugal (Cha et al., 2007) e ao dirigir
alcoolizado (Stacy et al., 1994), o modelo obteve menos sucesso. Talvez isso se deva
em parte ao fato de que, para muitas pessoas, especialmente adolescentes e adultos
jovens, esses comportamentos de saúde costumam ser reações a situações sociais. Por
exemplo, jovens indo a festas em que outras pessoas fumem maconha ou bebam em
excesso ou cedam às demandas de um(a) namorado(a) que queira sexo. Conforme
n disposição
observou Frederick Gibbons (1998), em tais cenários, a pergunta: “O que você está comportamental em
disposto a fazer?” provavelmente descreva o apuro em que se encontra o jovem (e teorias de comportamento
prevê seu comportamento subsequente) de forma mais precisa do que: “O que você de saúde, é a motivação
planeja fazer?”. reativa e não planejada
envolvida na decisão de
Disposição comportamental refere-se à motivação de uma pessoa em dado realizar um comportamento
momento para envolver-se em comportamento de risco. Assim como a intenção de risco.
150 PA R T E 3 Comportamento e saúde
O modelo transteórico
Um tio obeso que tenho continuava a fumar e seguir uma dieta com alto conteúdo de
gordura apesar da recomendação de seu médico para modificar esses comportamen-
tos que comprometem a saúde. Quando o pressionaram para explicar por que não
estava mudando seus maus hábitos de saúde, respondeu que estava ciente dos riscos
e acreditava que devia melhorar seu estilo de vida – mas que não estava “pronto”.
Alguns meses mais tarde, depois de um ataque cardíaco quase fatal, ele declarou que
estava pronto para largar o cigarro. E assim o fez. Infelizmente, também “desistiu” seis
meses depois. Ele lutou para alcançar esse objetivo até o final de sua vida. Será que
meu tio não lembra alguém que você conheça?
As teorias do comportamento de saúde que consideramos até aqui tentam iden-
tificar variáveis que influenciem atitudes e comportamentos relacionados com a saú-
de e combiná-los em uma fórmula que preveja a probabilidade de que determinado
indivíduo aja de certa maneira em determinada situação. Por exemplo, a teoria do
comportamento planejado poderia prever que meu tio continuaria a fumar porque
tinha uma atitude positiva em relação ao cigarro, já que fumar era esperado entre
n modelo transteórico teoria seus amigos e dava um sentimento de controle sobre a vida. O modelo transteórico
de estágios muito utilizada (também denominado modelo de estágios da mudança), entretanto, sustenta que o
que afirma a passagem comportamento muda sistematicamente ao longo de cinco estágios distintos (Pro-
das pessoas por cinco
estágios quando tentam chaska, 1994; Prochaska et al., 1992).
mudar comportamentos Esse modelo afirma que as pessoas progridem por meio de cinco estágios ao
relacionados com a alterar comportamentos relacionados com a saúde. Os estágios são definidos em ter-
saúde: pré-contemplação; mos de comportamentos passados e intenções de ações futuras.
contemplação; preparação;
ação; e manutenção.
Estágio 1: Pré-contemplação. Durante este estágio, as pessoas não estão pensando
seriamente sobre mudar seu comportamento; podem até evitar reconhecer que o
comportamento deva ser mudado.
Estágio 2: Contemplação. Neste estágio, as pessoas reconhecem a existência de um
problema (como o hábito de fumar) e estão considerando seriamente a possibili-
dade de mudarem seu comportamento (parar de fumar) em um futuro próximo
(em geral, em seis meses).
CAPÍTULO 6 Permanecendo saudável: prevenção primária e psicologia positiva 151
uma pessoa que esteja “presa” em determinado estágio (Perz et al., 1996). O modelo
também reconhece que diferentes processos comportamentais, cognitivos e sociais
podem assumir a dianteira quando tentamos alcançar nossos objetivos básicos de
saúde. Entre eles, estão a conscientização (p. ex., procurar mais informações sobre um
comportamento que compromete a saúde), contracondicionamento (substituir com-
portamentos alternativos pelo comportamento-alvo) e uso de reforço (recompensar-
-se ou ser recompensado pelo sucesso).
Vejamos um exemplo. É provável que tentar convencer uma pessoa obesa que
esteja no estágio de pré-contemplação a perder peso fracasse, pois as pessoas que se
encontram nesse estágio não acreditam que estejam com um problema de saúde. A
intervenção mais efetiva nesse momento seria incentivá-la a considerar mudar seu
comportamento, talvez fornecendo informações sobre os riscos da obesidade para a
saúde. No entanto, uma pessoa no estágio de preparação ou ação não precisa de mais
persuasão para mudar seu comportamento. Todavia, ela pode precisar de dicas espe-
cíficas sobre como implementar um plano de ação efetivo.
esses resultados sugerem que os jovens, de fato, ponderam os prós e contras de seus
comportamentos. Mensagens mais efetivas sobre a saúde poderiam se concentrar em
como os adolescentes podem obter os benefícios percebidos de comportamentos de
risco à saúde de formas mais seguras. Por exemplo, as mensagens poderiam identificar
outras maneiras de se sentir mais maduro e ser mais sociável em festas do que por
meio da bebida.
Prevenção
G
eralmente, pensamos na prevenção apenas em relação aos esforços para mo-
dificar o risco da pessoa antes que a doença a atinja. De fato, pesquisadores
diferenciaram três tipos de prevenção, que são realizados antes, durante e de-
pois de uma doença atacar.
Prevenção primária refere-se a ações que promovem a saúde, que são realizadas n prevenção primária
esforços para melhorar a
para prevenir que uma doença ou lesão ocorra. Exemplos de prevenção primária são saúde, prevenindo que
usar cinto de segurança, seguir uma boa nutrição, fazer exercícios, não fumar, manter ocorram doenças ou lesões.
padrões saudáveis de sono e fazer exames de saúde regularmente.
n prevenção secundária
Prevenção secundária envolve ações para identificar e tratar uma doença no ações para identificar e tratar
começo de seu curso. No caso de uma pessoa com pressão alta, por exemplo, a pre- uma doença ou deficiência
venção secundária envolveria exames regulares para monitorar sintomas, o uso de no começo de seu curso.
medicamentos para a pressão e alterações na dieta. n prevenção terciária
Prevenção terciária envolve ações para conter ou retardar danos uma vez que ações para conter danos
a doença já tenha avançado além de seus estágios iniciais. Um exemplo de prevenção depois que uma doença ou
terciária é o uso de radioterapia ou quimioterapia para destruir um tumor. A preven- deficiência avançaram além
de seus estágios iniciais.
ção terciária também busca reabilitar as pessoas ao maior nível possível.
Embora menos efetiva em termos de custos e menos benéfica do que as preven-
ções primária ou secundária, a prevenção terciária é, de longe, a forma mais comum
de cuidado de saúde. O cuidado terciário é muito mais fácil de implementar, pois os
grupos-alvo adequados (pessoas com doenças ou lesões) são facilmente identificados.
Além disso, pacientes em tratamento terciário em geral têm mais motivação para ade-
rir ao tratamento e a outros comportamentos que promovam a saúde.
Apesar disso, neste capítulo, enfocaremos as iniciativas de prevenção primária
dos psicólogos da saúde. Esses profissionais incentivam os médicos e outros traba-
lhadores na área da saúde a aconselharem seus pacientes. Por mais que essa atenção
personalizada possa parecer efetiva, muitos médicos têm dificuldade em usar medidas
preventivas. Uma razão para essa dificuldade é que as faculdades de medicina tradi-
cionalmente colocam pouca ênfase em medidas preventivas. Outra é a falta de tempo,
devido ao número de pessoas que os médicos precisam atender a cada dia.
Os psicólogos também promovem a saúde incentivando a ação legislativa e rea
lizando campanhas educativas na mídia. Esses esforços focalizam muitos níveis, do
individual à comunidade e à sociedade como um todo. A Tabela 6.1 ilustra um pro-
grama amplo de prevenção primária, secundária e terciária para aids com base nos
objetivos de saúde nacionais estabelecidos pelo U.S. Department of Health, Education
and Welfare como parte da sua Healthy People Campaign. Conforme discutido no
Capítulo 1, esses objetivos devem aumentar o tempo de vida saudável, diminuir as
disparidades em saúde entre diferentes segmentos da população e proporcionar aces-
so universal a serviços preventivos.
Às vezes, somos nossos piores inimigos na batalha pela saúde. Na adolescência
e no começo da idade adulta, quando estamos desenvolvendo hábitos relacionados
com a saúde, normalmente somos bastante saudáveis. Fumar cigarros, comer muita
gordura e não fazer exercícios nessa época são coisas que não parecem ter efeito algum
sobre a saúde. Desse modo, os jovens têm poucos incentivos imediatos para praticar
bons comportamentos e corrigir mais hábitos relacionados com a saúde.
154 PA R T E 3 Comportamento e saúde
Pesquisas mostram que Muitos comportamentos que promovem a saúde, como fazer exercícios vigo-
muitas das doenças mais rosos e seguir uma dieta com baixo teor de gordura, são menos prazerosos ou mais
fatais do mundo são baratas
para prevenir. Por exemplo
difíceis do que alternativas menos saudáveis. Se um comportamento (como comer
(Neergaard, 1999): quando está deprimido) causar alívio ou gratificação imediata, ou se não apresentá-lo
n Medicamentos que tratam proporciona desconforto imediato, será difícil eliminar tal comportamento.
a aids podem ser caros Os comportamentos sexuais de alto risco que podem resultar em infecção por
demais para muitos países HIV e aids são um exemplo trágico desse princípio. No período de 3 a 6 semana após a
em desenvolvimento, mas, primeira exposição, algumas pessoas soropositivas desenvolvem irritação na gargan-
em princípio, apenas 14
dólares por um ano de
ta, febre e um rash parecido com sarampo. Essa forma precoce de infecção por HIV
preservativos já poderiam geralmente desaparece e às vezes é tão leve que nem sequer é lembrada. Podem passar
prevenir a infecção. meses ou anos sem outros sintomas explícitos. No decorrer desse período, o HIV está
n Um mosquiteiro banhado sendo produzido ativamente e enfraquecendo o sistema imune. Não se sabe o tempo
em inseticida para exato necessário antes que a aids se desenvolva em determinado indivíduo. Alguns
proteger pessoas de pesquisadores acreditam que o período de incubação – o tempo entre a exposição ao
mosquitos portadores de
malária custa 10 dólares.
vírus e a primeira aparição de sintomas da doença – pode ser de até 20 anos. Quando
a aids completa aparece, a morte (se não prevenida por novos tratamentos) costuma
n Uma dose de vacina para
sarampo custa 26 centavos ocorrer nos próximos dois anos. As consequências negativas remotas e potenciais do
de dólar. comportamento de risco muitas vezes são diminuídas pelos prazeres imediatos do
n Cinco dias de antibióticos momento.
para pneumonia custam
27 centavos de dólar.
Vida saudável
O mito da “fonte da juventude” está presente nas histórias de quase todas as culturas
e encontra sua expressão atual nos elixires, cremes e dispositivos supostamente reju-
venescedores que são alardeados em comerciais, em websites de medicina alternativa e
em vitrines de farmácias. Afirmações de que as pessoas logo chegarão a viver 200 anos
devido a megadoses de antioxidantes, vitaminas, ervas ou alguma outra “bala mágica”
resultam em confusão a respeito da longevidade. Por décadas, os cientistas investiga-
ram de forma sistemática as alegações de pessoas que excederam muito o tempo de
vida normal e, em cada caso, essas explicações não puderam ser verificadas.
Tabela 6.1
Níveis e momento da prevenção para HIV/aids
Mesmo sem uma “bala mágica”, as pessoas na atualidade podem esperar viver
muito mais do que coortes anteriores. As principais doenças dos nossos ancestrais,
como a pólio, a catapora, o tétano, a difteria e a febre reumática, foram quase total-
mente erradicadas.
Quando se concentram na expectativa de vida saudável, os psicólogos da saúde
buscam reduzir a quantidade de tempo que os idosos passam em morbidade (defi-
cientes, doentes ou com dor). Para ilustrar isso, considere dois irmãos gêmeos que,
mesmo geneticamente idênticos e expostos aos mesmos riscos de saúde enquanto
cresciam, tiveram experiências muito diferentes em relação à saúde desde a adoles-
cência. O primeiro irmão fuma duas carteiras de cigarros por dia, é obeso, jamais faz
exercício, tem uma visão exasperada e pessimista em relação à vida e come alimentos
com quantidades excessivas de gordura animal e açúcar. O outro irmão busca um
estilo de vida muito mais saudável, evitando o tabaco e o estresse excessivo, fazendo
exercícios regularmente, observando sua dieta e desfrutando do apoio social de um
círculo íntimo de familiares e amigos. Conforme mostra a Figura 6.5, embora os dois Figura 6.5
irmãos tenham as mesmas vulnerabilidades genéticas a doenças pulmonares, circula-
Compressão da morbidade
tórias e cardiovasculares, o estilo de vida insalubre do primeiro o condena a um longo Ao focalizarem os anos de vida
período de morbidade na vida adulta, começando por volta dos 45 anos de idade. Em dos indivíduos ajustados pela
comparação, o estilo de vida mais saudável do segundo irmão posterga a doença até qualidade, os psicólogos da
muito mais adiante em sua vida. Se ele contrair alguma das doenças, é provável que saúde buscam limitar o tempo
seja menos grave, e a recuperação será mais rápida. Em alguns casos, como o câncer que a pessoa passa doente ou
enferma, conforme ilustra este
de pulmão, pode ser “postergado” para além do fim de sua vida. diagrama das doenças e mortes
de irmãos gêmeos idênticos.
Exercícios Embora os irmãos tivessem
as mesmas vulnerabilidades a
doenças e relógios genéticos
Praticar exercícios é o mais perto que podemos chegar de uma fonte da juventude. que limitassem seu tempo de
Isso torna-se ainda mais importante à medida que as pessoas envelhecem, pois pro- vida, o estilo de vida saudável
move o bem-estar físico e psicológico e pode ajudar a desacelerar ou até reverter mui- de um (b) mantém a doença e
tos dos efeitos do envelhecimento. A prática regular de exercícios pode reduzir o risco a deficiência sob controle até
que o envelhecimento primário
de doenças cardiovasculares, diabetes, muitos tipos de câncer e outras condições rela-
se encontre bastante avançado.
cionadas com o estresse. Pessoas fisicamente ativas também têm níveis mais baixos de Em comparação, o estilo de vida
ansiedade e menos depressão. O mais importante para manter a vitalidade é o exercí- insalubre de seu irmão (a) cobra
cio aeróbico, no qual o coração acelera para bombear quantidades maiores de sangue, seu preço muito antes na vida.
a respiração é mais profunda e mais frequente, e as células do corpo desenvolvem a Fonte: Fries, J. F. (2001). Living well:
Taking care of your health in the midd-
capacidade de extrair quantidades crescentes de oxigênio do sangue. Além disso, exer- le and later years. New York: Perseus
Publishing.
cícios aeróbicos com uso de pesos, como caminhar, correr e jogar com raquetes, aju-
dam a preservar a flexibilidade dos músculos, bem como
manter a densidade óssea. (a) Irmão 1
uma vez aos 50 (Greendale et al., 1995). Tanto homens quanto mulheres com níveis
maiores de atividade apresentaram densidade bem maior de minerais ósseos do que
seus correlatos sedentários.
Além de aumentar a força física e manter a densidade óssea, a prática regular de
exercícios reduz o risco da pessoa idosa de duas das condições crônicas mais comuns
na idade adulta: doença cardiovascular e câncer. Em um estudo, pesquisadores inves-
tigaram fatores de risco coronariano em homens idosos, de 65 a 84 anos (Caspersen et
al., 1991). Mesmo exercícios moderados, como jardinagem e caminhadas, resultaram
em aumentos significativos nas lipoproteínas de alta densidade (colesterol HDL) – o
chamado “bom colesterol” – e reduziram o colesterol sérico total. A prática regular de
exercícios está ligada a níveis mais baixos de triglicerídeos, que foram implicados na
formação de placas ateroscleróticas (Lakka e Salonen, 1992), assim como em níveis
mais baixos de lipoproteínas de baixa densidade (colesterol LDL), o colesterol “ruim”,
e níveis maiores de HDL (Szapary, Bloedon e Foster, 2003). Como veremos no Ca-
pítulo 9, os exercícios também são uma arma valiosa no controle do diabetes tipo I
(Conn et al., 2008).
Vários estudos amplos relatam que a atividade física também oferece proteção
contra cânceres de colo e reto, mama, endométrio, próstata e pulmão (Miles, 2008;
Thune e Furberg, 2001). Enfocando as práticas de caminhar, andar de bicicleta,
correr, nadar, jogar tênis e golfe, Goya Wannamethee e colaboradores (1993) en-
contraram uma relação inversa entre o nível de atividade física e mortes por todos
os tipos de câncer. A atividade física regular pode reduzir o risco de câncer, influen-
ciando citocinas proinflamatórias (Stewart et al., 2007), que, por sua vez, têm efeitos
benéficos sobre o desenvolvimento e crescimento de células tumorais (Rogers et al.,
2008). Além disso, a atividade física promove o funcionamento das células imuno-
lógicas, retardando alguns declínios relacionados com a idade nos glóbulos brancos
do sangue. Por exemplo, atletas que fazem treinamento de resistência preservam
o cumprimento dos telômeros em seus glóbulos brancos – que, de outro modo,
diminui sistematicamente em adultos sedentários que envelhecem (LaRocca, Seals
e Pierce, 2010).
Os benefícios de fazer exercícios estendem-se ao nosso bem-estar psicológico,
embora as evidências científicas sobre isso sejam menos conclusivas (Larun et al.,
2006). Mesmo assim, parece claro que a prática regular de exercícios está associa-
da a melhoras no humor e no bem-estar após a mesma (Moti et al., 2005). Estudos
mostram que, com o tempo, os exercícios atuam como uma proteção efetiva contra
o estresse (Trivedi et al., 2006), aumentam a autoestima e a autoeficácia (McAuley et
al., 2003) e oferecem proteção contra depressão (Daley, 2008) e ansiedade (Wipfli,
Rethorst e Landers, 2008).
A boa forma física em homens e mulheres retarda a mortalidade e pode estender
a vida em dois anos ou mais. Em última análise, as pessoas podem “lucrar” com os
benefícios dos exercícios, com uma maior longevidade como seus dividendos (Paffen-
barger et al., 1986). Todavia, durante a velhice, a intensidade dos exercícios deve ser
ajustada para refletir declínios no funcionamento cardiovascular e respiratório. Para
alguns adultos, isso significa que uma caminhada substitui a corrida; para outros,
como o ex-maratonista Bill Rodgers, agora com mais de 60 anos, isso significa treinar
uma corrida de seis minutos por milha, em vez de cinco.
Como diretriz, o relatório Healthy People 2000 recomenda 150 minutos de exer-
cícios totais a cada semana, dos quais pelo menos 60 minutos envolvem atividades
aeróbicas rítmicas e contínuas. Para muitos adultos, desligar a televisão serve como
trampolim para a prática de exercícios e uma saúde melhor. O Family Heart Study
mostrou que pessoas que assistiam uma hora de televisão por dia se exercitavam mais
e tinham índices de massa corporal (e outros fatores de risco coronariano) signifi-
cativamente menores do que pessoas que assistiam três horas de televisão por dia
(Kronenberg et al., 2000).
CAPÍTULO 6 Permanecendo saudável: prevenção primária e psicologia positiva 157
Sono saudável
Se o exercício é a “fonte da juventude”, os hábitos saudáveis relacionados com o sono
podem ser o “elixir da saúde” (Grayling, 2009). Infelizmente, por volta de 1 em cada
5 adultos não dorme o suficiente e experimenta privação do sono (AASM, 2010) (Tab.
6.2; ver também dicas de especialistas para higiene do sono, p. 159). Para cerca de 70
milhões de norte-americanos, um transtorno do sono, como a insônia, a narcolepsia,
o sonambulismo ou a apneia, é a causa. Para outros, o estresse ou um horário pesado
de trabalho ou estudo contribuem para seus maus hábitos de sono. Os adolescentes,
que precisam de 8,5 a 9,5 horas de sono por noite, hoje dormem uma média abaixo de
sete horas – duas horas a menos do que seus avós quando eram adolescentes. Quase
um terço dos estudantes do ensino médio que responderam a uma pesquisa recente
admitiu pegar no sono rotineiramente na classe (Sleep Foundation, 2010).
O sono deficiente cobra um preço do bem-estar físico e psicológico. Considere
alguns dos resultados de estudos sobre a privação crônica do sono:
Especialistas têm algumas dicas para promover hábitos saudáveis para o sono,
muitas vezes chamados de higiene do sono:
n Evite qualquer forma de cafeína antes de dormir. (Isso inclui café, chá, refrigeran-
tes, chocolate e nicotina.)
n Evite o álcool, que pode perturbar o sono.
n Faça exercícios regularmente, mas termine sua ginástica no mínimo três horas
antes de deitar.
n Estabeleça um horário consistente e uma rotina relaxante para deitar (p. ex., tomar
um banho ou ler um bom livro).
n Crie um ambiente que conduza ao sono, que seja escuro, silencioso e preferencial-
mente fresco e confortável.
Se você tiver problemas com sono ou sonolência durante o dia, considere man-
ter um diário do sono, como o publicado pela National Sleep Foundation. Nesse diá
rio, registre seus padrões de sono e o quanto dorme. O diário ajudará a examinar
Tabela 6.2
Você tem privação do sono?
alguns de seus hábitos de saúde e sono para que você e seu médico possam identificar
possíveis causas de problemas com o sono (Sleep Foundation, 2010).
Barreiras familiares
Os hábitos de saúde costumam ser adquiridos dos pais e de outras pessoas que fun-
cionam como modelos para comportamentos de saúde. Pais que fumam, por exem-
plo, têm uma probabilidade significativamente maior de ter filhos que fumam (Schu-
lenberg et al., 1994). De maneira semelhante, pais obesos têm mais chance de ter
filhos obesos, e os filhos de alcoolistas apresentam um risco maior de abusar do álcool
(Schuckit e Smith, 1996).
Embora possa haver uma base genética para esses comportamentos, as crianças
também podem adquirir expectativas sobre comportamentos de risco observando
seus familiares. Em um estudo, Elizabeth D’Amico e Kim Fromme (1997) demons-
traram, de maneira convincente, o impacto de irmãos maiores sobre o comportamen-
to e as atitudes de irmãos adolescentes mais jovens. Seus resultados sugerem que a
aprendizagem vicária com um irmão mais velho seja um dos mecanismos pelos quais
os adolescentes podem formar expectativas sobre comportamentos de risco à saúde.
Outras variáveis familiares relacionadas com esses comportamentos entre adolescen-
tes são conflitos parentais, inconsistências e rejeição, ausência de supervisão parental,
ausência do pai, falta de moradia, relacionamentos familiares difusos, relacionamen-
* N. de R.T.: No sistema de ensino norte-americano, os 7o ao 12o anos correspondem aos 7o ao 9o do ensino funda-
tos coercitivos entre pais e filhos e uso de álcool e outras substâncias pelos pais (Bra-
cizewski, 2010; Metzler et al., 1994).
2000). Não é de admirar que as mulheres serem seguro tenham uma probabilidade
40% maior de ser diagnosticadas com câncer de mama em estágios iniciais e 40 a 50%
maior de morrer de câncer de mama que as mulheres que têm seguro?
Para piorar, as empresas de seguro de saúde, ao longo da história, têm usado
a gestão de saúde para reduzir os benefícios à saúde comportamental em um nível
substancialmente maior que outros benefícios. De modo geral, o cuidado de saúde
comportamental como uma porcentagem dos benefícios totais – com sua ênfase na
prevenção primária – tem caído de modo gradual desde 1990 (Kaiser Foundation,
2000). Chama atenção que um estudo patrocinado pela Kaiser Foundation (2004)
tenha estimado que os Estados Unidos poderiam proporcionar cuidado médico para
cada norte-americano sem seguro com cerca de 48 bilhões de dólares em 2005 – um
aumento de apenas 3% nos gastos nacionais com saúde.
Barreiras da comunidade
A comunidade é uma força poderosa para promover ou desencorajar uma vida saudá-
vel. As pessoas têm mais probabilidade de adotar comportamentos que promovam a
saúde quando eles são defendidos por organizações comunitárias, como escolas, agên-
cias governamentais e o sistema de saúde. Como exemplo, várias escolas em Minnesota
mudaram o horário de início para mais tarde em resposta a estudos que demonstram
que os adolescentes precisam dormir mais. Citando evidências de que a privação do
sono em adolescentes está associada a deficiências no processamento cognitivo, ansie-
dade, depressão e acidentes de trânsito, os novos horários de início das aulas entraram
em vigor durante o ano escolar de 1997 a 1998. Três anos de dados mostraram que
os novos horários de início resultaram em maior possibilidade de que os estudantes
fazerem o desjejum, melhoraram a frequência, reduziram os atrasos, aumentaram a
atenção na classe, levaram a uma atmosfera escolar mais calma e demonstraram me-
nos encaminhamentos ao diretor por indisciplina e menos idas dos alunos à orientação
educacional e à enfermaria da escola por problemas relacionados com o estresse e ou-
tros problemas de saúde (National Sleep Foundation, 2010). Nos últimos anos, também
tivemos um progresso significativo em mudar atitudes em relação a prática de exercícios
e nutrição correta. Estamos muito mais informados sobre a importância de reduzir fa-
tores de risco para o câncer, doenças cardiovasculares e outras condições crônicas gra-
ves. Todavia, ainda existem fortes pressões sociais que levam as pessoas a se envolverem
em comportamentos que comprometem a saúde.
Considere o uso de álcool. Pesquisas nacionais indicam que o uso de álcool é mais
prevalente entre universitários norte-americanos do que entre seus pares que não fre-
quentam a faculdade (Adelson, 2006; Quigley e Marlatt, 1996). Outras pesquisas reve-
lam que tomar bebedeiras entre universitários está associado a vários fatores de risco
sociais, incluindo morar em certos dormitórios “festeiros”. Para alguns estudantes, a
empolgação por estarem juntos em um ambiente pouco supervisionado pode desenca-
dear esses comportamentos de risco (Dreer et al., 2004).
Felizmente, a maior parte dos comportamentos de risco inspirados pelos co-
legas representa um experimento efêmero que é abandonado antes de haver conse-
quências irreversíveis e a longo prazo. Embora a frequência do consumo de álcool
aumente significativamente na transição do ensino médio para o primeiro ano da
faculdade, o consumo pesado diminui à medida que os estudantes ficam mais velhos,
assumem mais responsabilidades e apresentam um padrão chamado de maturing out
(Bartholowet al., 2003).
Estruturação de mensagens
Um fator importante na eficácia da educação para a saúde é a forma como as infor-
mações são transmitidas ou estruturadas. As mensagens relacionadas com a saúde
costumam ser estruturadas em termos dos benefícios associados à determinada ação
preventiva ou aos custos de não realizar essa ação (Salovey, 2011).
A mensagem estruturada na forma de ganhos concentra-se no resultado posi- n mensagem estruturada
na forma de ganhos
tivo obtido ao se adotar um comportamento favorável à saúde (“Se você fizer exercí- mensagem relacionada com
cios regularmente, é provável que venha a parecer e se sentir melhor”) ou evitar um a saúde concentrada em
resultado indesejável (“Se você fizer exercícios regularmente, diminuirão o risco de obter resultados positivos
obesidade e diversas doenças crônicas”). Já a mensagem estruturada na forma de ou evitar resultados
perdas enfatiza o resultado negativo de não adotar uma ação preventiva (“Se você indesejáveis, adotando
um comportamento que
não fizer exercícios com regularidade, aumentará o risco de uma doença potencial- promova a saúde.
mente fatal não detectada”). Esta mensagem também destaca a falta de um resultado
desejável (“Se você não fizer exercícios regularmente, não terá a energia extra que a n mensagem estruturada
na forma de perdas
boa forma física traz”). mensagem relacionada com
a saúde concentrada no
resultado negativo causado
Mensagens sob medida por não ser adotado um
comportamento que
Um crescente corpo de literatura atesta a importância de preparar as mensagens e promova a saúde.
intervenções sob medida para as características individuais dos participantes, em vez
de dar informações estruturadas de maneira idêntica a todos. Por exemplo, a efetivi-
dade das mensagens estruturadas na forma de ganho ou de perda parece variar com o
fato de se a pessoa tende a ser orientada para evitação ou orientada para aproximação.
Os indivíduos orientados para aproximação são bastante responsivos a recompensas
e incentivos, enquanto os orientados para evitação são bastante responsivos a pu-
nições ou ameaças. Em um estudo recente, Traci Mann e colaboradores, na UCLA
166 PA R T E 3 Comportamento e saúde
CULTURA DE SEGURANÇA
Figura 6.6
A tríade da segurança. Uma
cultura de trabalho saudável
exige atenção a três fatores:
a pessoa, o ambiente e o
comportamento. Pessoa Ambiente Comportamento
Fonte: Cantor, D. W., Boyce, T. E. e
Repetti, R. L. (2004). Ensuring healthy Desempenho individual e de
Biologia, cognição e grupol (uso de equipamento
working lives. Em R. H. Rozensky, N. Equipamento, ferramentas,
experiência (conhecimento, de proteção, erguer objetos
G. Jonhson, C. D. Goodheart e W. R. máquinas, sistemas de gestão,
habilidades, capacidades, corretamente, informar
Hammond (Eds.), Psychology builds condições de trabalho, projeto
treinamento, educação, atitude, riscos, instruir colegas, seguir
a healthy world (p. 277). Washing- do local de trabalho
personalidade, motivação) procedimentos)
ton, DC: American Psychology
Association.
CAPÍTULO 6 Permanecendo saudável: prevenção primária e psicologia positiva 169
custos tem sido transferida para os patrões que pagam os prêmios do seguro de saúde
de seus empregados. Segundo um estudo realizado em 2006 por William B. Mercer,
97% dos custos de benefícios de saúde cooperativos são gastos para tratar condições
evitáveis, como doenças cardiovasculares, problemas com a coluna lombar, hiperten-
são, acidente vascular encefálico (AVE), câncer de bexiga e abuso de álcool. Os patrões
compreenderam que mesmo programas com resultados modestos em melhorar a
saúde dos empregados podem resultar em economias substanciais.
Esses programas são eficazes? Vários estudos minuciosos revelam que sim. O
custo dos programas é mais que compensado pelas reduções em ferimentos relacio-
nados com trabalho, absenteísmo e rotatividade de funcionários. Por exemplo, em-
pregados da Union Pacific Railroad que participavam de um programa de bem-estar
reduziram o risco de pressão alta (45%) e colesterol alto (34%), saíram da faixa de ris-
co para obesidade (30%) e pararam de fumar (21%), gerando uma economia líquida
para a empresa de 1,26 milhão de dólares (Scott, 1999).
Estudos demonstraram que, para ter sucesso, os programas de bem-estar no
local de trabalho devem:
n Ser voluntários.
n Incluir exames de triagem de saúde, que têm o maior impacto sobre os custos de
saúde no local de trabalho.
n Estar relacionados com comportamentos de saúde de interesse para os emprega-
dos.
n Garantir a confidencialidade das informações de saúde.
n Ser convenientes e ter apoio da empresa.
n Oferecer outros incentivos, como descontos em planos de saúde, bônus monetá-
rios ou outros prêmios pelo sucesso.
E
m 2001, a American Psychological Association (APA) modificou sua decla-
ração de missão, que já durava 60 anos, para incluir a palavra saúde pela
primeira vez. Mais de 95% dos membros da organização endossaram a mu-
dança no regimento, enfatizando sua percepção de que, embora existam elementos
físicos e psicológicos que contribuem para doença e deficiência em cada pessoa,
existem outros que cooperam para saúde, bem-estar e florescimento. A mudança
no regimento foi parte da Healthy World Initiative da APA, que se alinhou com o
novo movimento da psicologia positiva, descrito no Capítulo 1, para promover n psicologia positiva o
uma abordagem preventiva baseada em potencialidades para pesquisa e intervenções, estudo do funcionamento
em vez do tratamento mais tradicional da psicologia de atacar problemas depois humano adequado e da
inter-relação saudável entre
que ocorreram (Seligman, 2002). Conforme afirmou a presidente da APA, Norine as pessoas e seus ambientes.
Johnson (2004), “Devemos trazer a construção de potencialidades para o primeiro
plano no tratamento e na prevenção de doenças, para a promoção do bem-estar e
da saúde” (p. 317).
Um tema central do movimento da psicologia positiva é que a experiência da
adversidade, seja de natureza física ou psicológica, às vezes pode trazer benefícios,
como fez para Sara Snodgrass, que conhecemos no começo do capítulo. Conforme
observou Charles Carver (Carver et al., 2005), quando temos uma adversidade física
ou psicológica, ocorrem pelo menos quatro resultados possíveis:
Síntese
Saúde e comportamento de saúde irá ocorrer é medir a decisão de uma pes-
soa de se envolver nesse comportamento (intenção
1. A maioria dos comportamentos afeta a saúde de
comportamental). A decisão de envolver-se em um
alguma forma: para melhor (comportamentos sau-
comportamento de saúde é moldada por nossa ati-
dáveis) ou para pior (comportamentos de risco à
tude para com ele, nossa motivação para aderir às
saúde), de forma direta ou indireta, imediatamente
visões de outras pessoas sobre ele (norma subjetiva)
ou a longo prazo.
e nossa expectativa de sucesso em realizá-lo (percep-
2. O modelo de crença de saúde pressupõe que as de-
ção de controle comportamental).
cisões relacionadas com o comportamento de saú-
4. O modelo transteórico propõe cinco estágios pe-
de tenham por base quatro fatores que interagem:
los quais as pessoas avançam na mudança de seus
percepção de suscetibilidade a uma ameaça à saúde;
comportamentos relacionados com a saúde: pré-
percepção de gravidade da ameaça; percepção de
-contemplação; contemplação; preparação; ação; e
benefícios e barreiras do tratamento; e dicas de ação.
manutenção.
3. A teoria do comportamento planejado sustenta que
a melhor maneira de prever se um comportamento
176 PA R T E 3 Comportamento e saúde