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CURSO INTUITIVO

DE CÁLCULO

Oferecimento do site

www.EnergiaEletrica.net

Tradução e Edição: Frederico Branquinho Teixeira

1ª Edição – 19 de novembro de 2015


Curso Intuitivo de Cálculo

Sumário
Apresentação............................................................................................................. 3

Prefácio: Aprendendo primeiro pela intuição............................................................... 3

1. Cálculo em 1 minuto: Use as visões de raio X e de “tempo corrido” ........................... 7

2. Pratique sua visão de raio X e de “tempo corrido”.................................................. 14

3. Expandindo nossa intuição .................................................................................. 24

4. Aprendendo os termos oficiais ............................................................................. 29

5. A Música que vem da Máquina ............................................................................ 38

6. Melhorando a Aritmética e a Álgebra .................................................................... 43

7. Vendo como as Retas Funcionam......................................................................... 50

8. Brincando com os Quadrados.............................................................................. 59

9. Trabalhando com o Infinito .................................................................................. 66

10. A Teoria das Derivadas ....................................................................................... 71

11. O Teorema Fundamental do Cálculo .................................................................. 77

12. A Aritmética Básica do Cálculo ............................................................................ 82

13. Padrões nas Regras............................................................................................ 92

14. A Aritmética Sofisticada do Cálculo...................................................................... 98

15. Descobrindo as Fórmulas de Arquimedes ........................................................ 107

Conclusão: O que vem a seguir?............................................................................. 118

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Curso Intuitivo de Cálculo

Apresentação
Em um artigo para a revista Philosophical Magazine de 1890, o matemático e
físico Peter Guthrie Tait escreveu o seguinte:

“(...) toda fórmula que nós empregamos deve, tão abertamente quanto
possível, proclamar seu significado físico”.

Em outras palavras, os métodos matemáticos para os problemas físicos (no


nosso caso específico, da Engenharia Elétrica) não devem ser os mais
compactos ou os mais elegantes, mas os mais “expressivos”.

Este Curso Intuitivo de Cálculo que você está recebendo, apesar de não
utilizar métodos diferentes daqueles encontrados em qualquer outro livro
tradicional de Cálculo, utiliza a abordagem mais expressiva que eu já vi.
Nesse sentido, intuitivo e expressivo são sinônimos para uma capacidade de
mostrar conceitos abstratos da Matemática da forma mais natural possível
(usando e abusando da Geometria).

O mérito da obra é do cientista da computação Kalid Azad, autor do


excelente site BetterExplained, onde você pode encontrar vários artigos
que facilitam nossa vida na difícil missão de compreender números
complexos, logaritmos neperianos, transformadas de Fourier, entre outras
ferramentas essenciais para os cursos de Engenharia.

Como a maioria dos estudantes brasileiros, infelizmente, ainda não domina


a língua inglesa, decidi traduzir este curso, assim como outros artigos do
BetterExplained. Basta passear pela categoria Matemática do site para
encontrá-los.

Bem, espero que você goste deste e-book e, mais importante, que ele seja
útil para aprofundar sua compreensão do Cálculo.

Frederico Branquinho Teixeira

Brasília/DF, 19 de novembro de 2015

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Curso Intuitivo de Cálculo

Prefácio: Aprendendo primeiro pela


intuição
Bem-vindo ao curso de Cálculo do site BetterExplained! Antes de
começarmos, vejamos uma pequena nota sobre o que seria um método de
aprendizagem que valoriza antes de tudo a intuição [matemática].

Do embaçado ao nítido
Qual a melhor estratégia de aprendizagem: detalhar um assunto desde o
começo até o final ou esmiuçar progressivamente um quadro geral da
matéria?

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Curso Intuitivo de Cálculo

A abordagem linear, oficial, de cima para baixo, não funciona para mim. Ver
um contorno rudimentar e melhorá-lo aos poucos mantêm nosso interesse
e nos deixa cientes de como os detalhes individuais são conectados.

Da apreciação à aplicação
Você precisa ser um músico para apreciar uma música? De forma alguma.
Existem alguns níveis na compreensão musical:

 Apreciação: ser capaz de admirar uma música;


 Descrição natural: ser capaz de cantarolar uma melodia que você ouviu
ou pensou;
 Descrição simbólica: ser capaz de ler e escrever a partitura de uma
música;
 Representação: ser capaz de tocar a música com os instrumentos
apropriados (não com sua boca);
 Teoria: ser capaz de explicar por que as harmonias funcionam ou por
que certas melodias soam sóbrias ou alegres, etc.

O mesmo ocorre com o conhecimento matemático. Comece apreciando, até


gostando da ideia. Descreva-a com suas próprias palavras, em português.
Depois, aprenda os símbolos oficiais para tornar a comunicação mais fácil
(“2 + 3 = 5” é melhor do que “dois mais três é igual a cinco”, certo?)

Quando estivermos prontos, poderemos “atuar” com a matemática fazendo


cálculos por conta própria, e nos aprofundar nos detalhes da teoria. Mas
somente se você quiser! Decida por si mesmo qual o nível de entendimento
você gostaria de alcançar.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Movendo-se ao longo da história


Muitos cursos apresentam a interpretação moderna da Matemática sem
olhar para a sua origem.

O Cálculo foi criado por Newton para trabalhar as leis da Física, certo? Não
exatamente.

Foi Arquimedes, desenhando formas na areia, quem lançou as bases do


Cálculo, imaginando como círculos e esferas estavam conectados. Ele
escolheu as formas, as transformou, as dividiu em pequenas partes e
descobriu algumas conexões, ao longo de meticulosos anos de esforço.

Nós iremos recriar a sua vida de trabalho neste curso, em horas, usando
nossa compreensão do Cálculo. Geometria é um bom ponto inicial porque
nela as ideias são mais nítidas e fáceis de visualizar. (E os sistemas físicos? Nem
tanto).

Agora, vamos começar o curso!

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Curso Intuitivo de Cálculo

1. Cálculo em 1 minuto: Use as visões


de raio X e de “tempo corrido”
Olá! Este curso é focado na intuição, não na memorização. Vamos lá!

Normalmente, nós apreendemos figuras e fórmulas pelas suas formas


superficiais, como um padrão singular. O Cálculo nos concede dois
superpoderes para irmos além:

 Visão de raio X: permite enxergar as peças escondidas dentro de um


padrão. Você não vê apenas a árvore; você sabe que ela é feita de anéis,
que estão crescendo enquanto conversamos. (fonte da imagem)

 Visão de “tempo corrido”: Você pode ver o caminho futuro de um objeto


colocado a sua frente (legal, certo?) “Ei, lá está a lua. Nos próximos dias,

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Curso Intuitivo de Cálculo

ela estará subindo e mudando para uma bela cor vermelha. Vou esperar
6 dias e então tirar a foto perfeita”. (fonte da imagem)

Então, por que o Cálculo é tão útil? Bem, imagine que você tenha a visão de
raio X e de “tempo corrido” sempre a sua disposição. Aquele objeto ali, como
ele foi montado? O que irá acontecer com ele?

(Estranhamente, minhas cartas para a Marvel sobre o Homem Cálculo têm sido
ignoradas até agora.)

Cálculo em 10 minutos: veja padrões passo


a passo
O que a visão de raio X e a de “tempo corrido” têm em comum? Elas
examinam padrões passo a passo. A visão de raio X mostra as divisões
internas e a visão de “tempo corrido” coloca estágios futuros próximos uns
aos outros.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Isso parece bem abstrato. Vamos dar uma olhada em alguns padrões
famosos:

Temos um sentimento vago de que essas fórmulas estão ligadas entre si,
certo?

Vamos ligar nossa visão de raio X e ver onde isso nos leva. Suponhamos que
saibamos a equação da circunferência (2𝜋𝑟) e queiramos descobrir a
equação da área. O que podemos fazer?

Essa é uma pergunta difícil. Quadrados são fáceis de medir, mas o que
podemos fazer com uma figura curva?

Lá vem o Cálculo para salvar o dia! Vamos usar nossa visão de raio X para
perceber que um disco é, na verdade, um punhado de anéis colocados
juntos. Similar a um tronco de árvore, aqui está a visão “passo a passo” de
um círculo preenchido:

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Curso Intuitivo de Cálculo

Por que este ponto de vista nos ajuda? Bem, vamos desenrolar esses anéis
recurvados de forma a facilitar a medição:

Wow! Temos um bocado de anéis que foram esticados, formando um


triângulo, que é muito mais fácil de medir (a Wikipédia tem uma animação).

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Curso Intuitivo de Cálculo

A altura do anel mais longo é igual à circunferência completa (2𝜋𝑟) e os


outros anéis vão ficando menores. A altura de cada anel depende da sua
distância original do centro; o anel a 3 centímetros do centro tem uma altura
de 2𝜋 × 3 centímetros. O menor anel é, mais ou menos, um ponto, sem
nenhuma altura medível.

E porque os triângulos são mais fáceis de medir do que os círculos, encontrar


a área não dá tanto trabalho. A área do “triângulo de anéis” é

1⁄ × base × altura = 1⁄ × 𝑟 × 2𝜋𝑟 = 𝜋𝑟2 ,


2 2

que é a fórmula da área do círculo!

Nossa visão de raio X revelou uma estrutura simples, fácil de medir, dentro
de uma figura curva. Descobrimos que um círculo e um conjunto de anéis
uns dentro dos outros são a mesma coisa. Por outra perspectiva, um disco
preenchido é o “tempo corrido” de um anel que ficou cada vez maior.

Lembra-se de quando você estudou Aritmética? Aprendemos algumas


operações para usar com números (e equações): somar/subtrair,
multiplicar/dividir, e usar expoentes/raízes. Não foi um mal começo.

O Cálculo nos dá duas novas opções: dividir ou juntar as partes. Uma epifania
chave do Cálculo é que os padrões conhecidos por nós podem ser vistos
como um grupo de várias peças encaixadas. É como olhar para um prédio e
saber que ele é feito tijolo por tijolo.

Então… o que eu posso fazer com o


Cálculo?
Depende. O que você pode fazer com a Aritmética?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Tecnicamente, não precisamos de números. Nossos ancestrais das cavernas


conseguiram viver bem sem eles (esse “bem” é bem relativo). Mas ter uma
ideia do que são as quantidades faz do mundo um lugar mais fácil de lidar.
Você não tem uma pilha “grande” ou “pequena” de pedras: você tem
quantidades exatas. Você não precisa descrever seu humor como “bom” ou
“excelente”, você pode defini-lo com uma nota de 1 a 10.

A Aritmética provê metáforas universais que vão além da computação e, uma


vez vistas, são difíceis de serem abandonadas.

O mesmo ocorre com o Cálculo: é uma visão passo a passo do mundo.


Precisamos da visão de raio X e de “tempo corrido” o tempo todo? Não. Mas
elas são perspectivas interessantes a serem utilizadas quando estamos em
uma situação desafiante. Quais passos nos levaram até aqui? O que
acontecerá em seguida? Onde o nosso caminho futuro nos levará?

Existem regras específicas para o Cálculo, assim como há para a Aritmética.


E elas são bastante úteis quando você está trabalhando em uma equação.
Mas não se esqueça de que existem noções gerais de “quantidade” e de
“pensamento passo a passo” que você pode levar sempre consigo.

Nosso primeiro objetivo é sentir qual é a perspectiva do Cálculo (O que


Arquimedes faria?). Com o tempo, nós mesmos trabalharemos com as regras
específicas.

Questões
Não há um “para casa” sério, somente algumas questões para nos
certificarmos de que as coisas começaram a se encaixar:

1) Como você explicaria para sua avó (ou avô, filho, amigo…) o que você
aprendeu?

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2) O que você achou da lição? Você teve algum momento Aha!? Ainda tem
alguma dúvida a ser esclarecida? Entre em contato!

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2. Pratique sua visão de raio X e de


“tempo corrido”
O Cálculo nos treina para usar as visões de raio X e de “tempo corrido”,
rearranjando, por exemplo, um círculo em um “triângulo de anéis”
(diagrama). Isso faz com que encontrar a área seja… bem, se não podemos
dizer exatamente fácil, ao menos manejável.

Mas estávamos sendo um pouco presunçosos. Todos os círculos do universo


devem ser vistos a partir de anéis?

Claro que não! Nós somos mais criativos do que isso. Aqui estão mais
algumas opções para nosso raio X:

Agora nós estamos conversando! Podemos imaginar um círculo como um


conjunto de anéis, de fatias de pizza ou de faixas verticais. Cada modelo é
uma estratégia “passo a passo” diferente que está em ação.

Imagine cada estratégia se desdobrando no tempo, usando sua visão de


“tempo corrido”. Você tem alguma ideia sobre para qual situação cada
modelo é melhor aplicado?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Análise anel por anel

Anéis são a bom e velha referência. O que há de bom na progressão anel por
anel?

 Cada estágio intermediário é um “mini círculo” inteiro, isto é, partindo do


centro, quando estamos na metade do caminho, ainda temos um círculo
com metade do raio previsto;
 Cada passo representa um acúmulo crescente de trabalho. Imagine você
capinando um campo circular, cobrindo uma área maior ao longo de
vários dias. No primeiro dia, você começa no centro do círculo e não se
move. No próximo, você dá a menor volta que conseguir. Então você
começa a dar voltas cada vez maiores, até completar a área toda no
último dia (Nota: a variação do trabalho de um anel para o outro é
constante: talvez um minuto extra a cada volta completa);
 O trabalho é razoavelmente previsível, o que ajuda no planejamento. Se
sabemos que gastamos um minuto por volta, então a vigésima volta irá
demorar 20 minutos;
 A maioria do trabalho acontece nas voltas finais. Nos primeiros 25% do
tempo total, nós praticamente não crescemos: estamos somando
pequeninos anéis. Perto do fim, estamos a todo vapor adicionando
longas fatias, cada vez mais próximas da borda.

Agora, vamos falar de algo prático: por que as árvores têm padrões de anéis
no seu interior?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Isso nos leva à primeira propriedade: uma árvore grande cresce a partir de
uma árvore menor, que já era completa. Com a estratégia “anel por anel”,
estamos sempre somando a um círculo já formado. Não estamos tentando
crescer a metade esquerda da árvore e então só depois trabalhar no outro
lado.

De fato, muitos processos naturais que envolvem crescimento (árvores,


ossos, bolhas, etc.) utilizam essa abordagem de crescer de dentro para fora.

Análise fatia por fatia

Agora, pense sobre a progressão fatia por fatia. O que você consegue
perceber?

 Contribuímos com a mesma quantidade a cada passo. E, melhor ainda,


as partes são iguais. Isso pode não importar para matemática, mas no
mundo real fazemos a mesma coisa quando cortamos fatias (cortar um
bolo), o que é conveniente;
 Como as fatias são simétricas, podemos utilizar atalhos, como cortar
através da figura, para acelerar o processo. Esses aceleradores de “linhas
de montagem” funcionam muito bem para componentes idênticos;
 É extremamente fácil medir o progresso. Se temos 10 fatias, então na
sexta fatia teremos exatamente 60% do trabalho feito (tanto na área
como na circunferência);
 Seguimos por um caminho circular, nunca retraçando nossos passos (do
ponto de vista “angular”). Quando utilizamos a abordagem de dentro
para fora, tivemos que passar por 360° a cada passo.

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Hora de pensar sobre o mundo real. O que segue este padrão fatia por fatia,
e por quê?

Bem, comida, por exemplo. Bolos, pizzas, tortas; queremos que todos
recebam a mesma quantidade. Fatias são mais fáceis de cortar, conseguimos
utilizar aceleradores (cortar através da torta) e é fácil de ver quanto ainda
está faltando para acabar (imagine cortar um bolo em fatias circulares e
tentar estimar o quanto da área ainda está sobrando).

Agora pense sobre os scanners dos radares: eles varrem sua área de atuação
em trajetórias circulares, “limpando” uma fatia do céu antes de passarem
para outro ângulo. Esta estratégia deixa um ponto cego no ângulo pelo qual
você não passou ainda, um “efeito colateral” do qual, felizmente, você está
ciente.

Compare agora o radar com o sonar utilizado por um submarino ou um


morcego, que envia um som “anelar” que se propaga em todas as direções.
Isso funciona melhor para alvos próximos (cobrindo todas as direções de
uma vez). A desvantagem é que essa propagação sem foco fica muito mais
fraca à medida que se move, pois a energia inicial se dissipa em círculos cada
vez maiores. Utilizamos megafones e antenas para focar nossos sinais em
raios (fitas bem finas) a fim de obter o maior alcance possível para nossa
energia.

Operacionalmente, se estamos construindo uma figura circular a partir de


um conjunto de fatias (como um leque), ajuda se todas as partes são
idênticas. Descubra o melhor meio de fazer uma fatia e então a produza em
massa. Ainda melhor: se uma fatia apresentar problema, as outras podem
substituí-la.

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Análise faixa por faixa

Já pegou o jeito das visões de raio X e de “tempo corrido”? Ótimo. Olhe para
a progressão abaixo e gaste alguns segundos pensando nos seus prós e
contras. Não se preocupe, eu vou esperar.

Pronto? OK. Aqui estão algumas das minhas observações:

 Este é um padrão muito robótico, movendo da esquerda para a direita e


nunca retornando para uma posição horizontal anterior;
 A contribuição a cada passo começa pequena, aumenta aos poucos,
maximiza no centro e então começa a diminuir novamente;
 Nosso programa é, de certa forma, imprevisível. Claro, à meia marca
cobrimos metade do círculo, mas o padrão aumenta e diminui, o que
torna a análise difícil. Por contraste, o padrão anel por anel mudava a
mesma quantidade a cada vez, sempre aumentando. É claro que anéis
maiores adicionariam a maior parte do trabalho. Aqui, é a seção central
que parece estar fazendo o trabalho pesado.

OK, tempo de pensar em onde este padrão aparece no mundo real.

Decks e estruturas de madeira, por exemplo. Quando estamos fixando


pranchas de madeira, não desejamos refazer nossos passos ou retornar à
posição anterior (especialmente se há outros passos envolvidos, como
pintar). Assim como uma árvore precisa de um círculo plenamente formado
a cada passo, um deck “pede” que sejam usados componentes encontrados
na loja de material de construção (peças retangulares, em essência).

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De fato, qualquer processo com uma linha de condução linear pode usar
essa abordagem: termine uma seção e passe para a próxima. Pense em uma
impressora que espalha a tinta num padrão de cima para baixo à medida
que a folha passa por ela (ou, nos dias de hoje, impressoras 3D). Ninguém
pensa na loucura de utilizar a abordagem anel por anel ou fatia por fatia
nesse caso. Vale muito mais à pena passar por uma posição horizontal
somente uma vez.

De uma perspectiva de motivação humana, pode ser conveniente começar


pequeno, crescer como necessário e então diminuir novamente. Uma
abordagem por fatias de pizza poderia ser tolerável (progressos idênticos a
cada dia), mas anéis não dariam certo: cada passo requer mais do que o
anterior, sem outra opção.

Organizando-se
Até agora, temos usado descrições naturais para explicar nosso processo
mental. “Pegue um punhado de anéis” ou “Corte o círculo em fatias de pizza”.
Isso transmite uma noção geral, mas é um pouco como descrever uma
canção como “Dum-de-dum-dum” – você é o único que realmente sabe o que
está acontecendo. Um pouco de organização pode tornar perfeitamente
claro o que almejamos.

A primeira coisa a fazer é controlar como estamos dando nossos passos. Eu


gosto de imaginar uma pequena seta na direção em que nos movemos
enquanto dividimos as figuras:

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Na minha cabeça, estou me movendo ao longo da linha laranja, anunciando


novos passos do mesmo jeito que a Oprah distribui carros para seus
telespectadores (você ganhou um anel, você ganhou um anel, você ganhou um
anel…). (Veja bem, é a minha analogia, não me olhe desse jeito!)

A seta é conveniente, mas ainda é um pouco complicado ver a exata


progressão das fatias. Por que nós não “alinhamos” explicitamente as
mudanças? Como vimos anteriormente, podemos desenrolar os passos (os
anéis) e colocá-los lado a lado, facilitado a comparação:

A seta escura mostra a tendência. Muito legal, certo? Podemos dizer, de


imediato, que as fatias estão crescendo e na mesma medida a cada tempo
(já que a linha de tendência é uma reta).

Fãs da matemática e neuróticos do tipo adoram esses planos organizados;


há algo reconfortante nisso, eu acho. E uma vez que você está aqui, nós
podemos também organizar os outros padrões:

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Agora é muito mais fácil comparar cada estratégia da visão de raio X:

 Com anéis, os passos crescem de forma constante (linha inclinada


crescente);
 Com fatias, os passos se mantêm (linha plana);
 Com faixas, os passos crescem, alcançam um pico, depois diminuem
(para cima e para baixo; veja, a curva parece alongada porque as fatias
individuais foram alinhadas na base).

Os quadros tornaram nossa comparação mais fácil, você não diria? Claro.
Mas, espere, a linha de tendência não está parecendo um daqueles
pavorosos gráficos x-y?

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Sim. Lembre-se, um gráfico é uma explicação visual que deve nos ajudar. Se
ele nos confunde, é preciso acertar alguma coisa.

Muitos professores apresentam gráficos separados dos fenômenos que os


geraram, e esperam que você veja a sequência invisível de passos que está
implícita neles. É a receita para uma dor de cabeça – então, sempre
explicitem o que um gráfico representa!

Arquimedes fez um excelente trabalho sem gráficos x-y, encontrando a área


de um círculo usando o método do “triângulo de anéis”. Neste começo,
vamos limitar nossa habilidade de fazer gráficos ao que você vê acima (os
detalhes de cada gráfico formarão um bom acompanhamento, quando
nossa intuição estiver construída).

Então, as coisas estão começando a fazer sentindo? Você já consegue fazer


um bom uso das visões de raio X e de “tempo corrido”?

PS. Pode lhe aborrecer o fato de nossos passos criarem figuras quase
circulares, mas não círculos reais, redondinhos. Chegaremos lá. Mas para ser
honesto, também pode lhe aborrecer o fato dos pixels do seu monitor
criarem figuras como letras, mas não letras reais, redondinhas. E de alguma
forma, os pixels que “se parecem letras” transmitem o mesmo significado da
coisa real!

Questões
1) Qual a versão “para sua avó entender” do que você aprendeu?

2) Vamos expandir nosso pensamento na direção da terceira dimensão. Você


consegue pensar em algumas maneiras de se construir uma esfera? (Sem
fórmulas, só descrições).

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3) Teve algum click? Alguma dúvida?

Compartilharemos novas abordagens com você na próxima lição.

Happy math.

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3. Expandindo nossa intuição


Espero que você tenha pensado sobre a questão da última lição: como
levamos nossas estratégias da visão de raio X para a terceira dimensão?

Aqui vai a minha sugestão:

 Anéis se tornam cascas, como a cobertura de chocolate de um Nescau


Ball. Cada camada é um pouco maior do que a anterior.
 Fatias se tornam cunhas esféricas, seções idênticas como gomos de uma
mexerica.
 Faixas se tornam discos (ou pratos), placas grossas que podem ser
empilhadas juntos. (Algumas vezes eu sonho acordado em abrir uma
pousada que servirá apenas pilhas esféricas de panquecas no café da
manhã. E eles dizem que a matemática não tem uso no mundo real!)

Os passos 3D podem ser vistos como suas versões 2D movimentadas de


maneiras diferentes. Por exemplo, rode um anel individual (como uma
moeda) para criar uma casca. Imagine fatias sendo pressionadas em um

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molde para formar cunhas. Por fim, imaginemos o giro das faixas formando
pratos, assim como o esculpir de uma esfera de madeira com um torno
mecânico (vídeo).

As aplicações são similares às versões 2D:

 Processos orgânicos crescem em camadas (pérolas nas ostras);


 Divisões justas requerem cunhas (cortar uma maça entre amigos);

 A abordagem robótica das placas parece fácil para a manufatura.

Uma laranja é um híbrido interessante: por fora, ela parece ser feita de
camadas, que aumentam com o tempo. Por dentro, ela forma uma estrutura
simétrica – uma forma melhor de distribuir sementes, certo? Podemos
analisá-la de ambos os modos.

Explorando a perspectiva 3D
Na primeira lição, tivemos a vaga noção de que as fórmulas do círculo e da
esfera são relacionadas:

Bem, agora temos uma ideia de como isso acontece:

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 Circunferência: comece com um único anel;


 Área: crie um círculo utilizando a visão de “tempo corrido” anel por anel.
 Volume: transforme o círculo em um disco e use a visão de “tempo
corrido”, disco por disco, para formar uma esfera.
 Área da superfície: use a visão de raio X na esfera para quebrá-la em
várias camadas. A camada mais externa é a área superficial.

Wow! Essas descrições são bem detalhadas. Sabemos agora, intuitivamente,


como mudar formas em versões alternativas pensando em função das visões
de raio X e de “tempo corrido”. Podemos ir para trás, de uma esfera de volta
para uma circunferência, ou tentar diferentes estratégias: talvez queiramos
dividir o círculo em faixas, não anéis.

A necessidade da notação matemática


Você deve ter percebido que está ficando complicado explicar suas ideias.
Estamos buscando analogias físicas (anéis, faixas, cunhas) para explicar
nossos planos: “OK, pegue essa área circular e tente fazer alguns discos a
partir dela. Sim, desse jeito. Agora as alinhe na forma de uma esfera…”.

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Eu amo diagramas e analogias, mas elas são exigências para explicar uma
ideia? Provavelmente não.

Dê uma olhada em como os números se desenvolveram na história.


Primeiro, utilizávamos símbolos muito literais para contagem: I, II, III e assim
vai. Finalmente, descobrimos que um símbolo como V poderia tomar o lugar
de IIII e, ainda melhor, que cada dígito poderia ter seu próprio símbolo
(mantemos nossa história metafórica com o número 1).

Essa abstração matemática ajudou de algumas formas:

 É mais curta: “2 + 3 = 5” não é melhor do que “dois mais três é igual a


cinco”? Fato divertido: em 1557, Robert Recorde inventou o símbolo de
igual, escrito com duas linhas paralelas (=), porque “nenhum outro par
poderia ser mais igual”.
 As regras fazem o trabalho por nós: com numerais romanos, estamos
essencialmente recriando números à mão (por que VIII deveria dar tanto
trabalho para escrever se comparado com o I? Porque o número 8 é
maior do que o número 1? Isso não é uma boa razão!) Os decimais nos
ajudam a “fazer o trabalho” de expressar os números e os tornam mais
fáceis de manipular. Até aqui, temos feito o trabalho do Cálculo por nós
mesmos, cortando um círculo em anéis, descobrindo que podemos
desenrolá-los, procurando uma equação para a área e medindo o
triângulo resultante. Será que as regras não podem nos ajudar? Pode
apostar. Só precisamos descobrir como.
 Generalizamos nosso pensamento: “2 + 3 = 5” é, realmente, o
conceito de duas coisas mais o conceito de três coisas sendo igual ao
conceito de cinco coisas, abstratamente. Pode soar estranho, mas temos
uma quantidade abstrata (não pessoas ou dinheiro ou vacas… só duas
coisas) e vemos como ela está relacionada a outras quantidades. As
regras da Aritmética são abstratas e nossa missão é aplicá-las a um
cenário específico.

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A multiplicação nasceu como um meio de contar grupos e medir áreas


retangulares. Mas quando você escreve “R$15/hora x 2,5 horas = R$ 37,50”,
você provavelmente não está pensando em grupos de horas ou em uma área
de “homem-hora” retangular. Você está apenas aplicando Aritmética aos
conceitos.

Nas próximas lições, vamos aprender a linguagem oficial para que ela nos
ajude a comunicar nossas ideias e descobrir as regras por nós mesmos. E
uma vez que nós tenhamos internalizado as regras do Cálculo, poderemos
explorar padrões, sejam de figuras geométricas, de planos de negócios ou
de teorias científicas.

Questões
1) Qual a versão “para sua avó entender” do que você aprendeu acima?

2) Algum momento Aha! ou áreas a clarear?

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4. Aprendendo os termos oficiais


Temos sido capazes de descrever nosso processo, passo a passo, utilizando
analogias (raio X, “tempo corrido”, anéis) e diagramas:

Entretanto, esse é um meio muito complicado de comunicação. Aqui estão


os termos oficiais da Matemática®:

Conceito
Nome Formal Símbolo
Intuitivo

Raio X (Separa d
Derivar
em partes) d𝑡
Visão de "tempo
Integrar ∫
corrido"

Integrar ou derivar com d𝑟 implica se mover


Direção da seta
respeito a uma variável ao longo de 𝑟

𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙
Início e final da Limites ou intervalo de
seta integração

𝑖𝑛í𝑐𝑖𝑜

Integrando (peça que está


Fatia Equação como 2𝜋𝑟
sendo ajuntada)

Vamos examinar esses nomes sofisticados.

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A Derivada
A derivada é a divisão de uma forma em seções à medida que nos movemos
ao longo de um caminho (por exemplo, usando o raio X). Aqui está o truque:
embora a derivada gere a sequência completa de seções (seta negra), nós
podemos extrair apenas uma delas.

Imagine uma função como 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 . Ela é uma curva que descreve uma
lista gigante de possibilidades (1, 4, 9, 16, 25, etc.) Podemos traçar a curva
completa ou examinar o valor de 𝑓 (𝑥 ) em um valor específico, como 𝑥 = 3.

A derivada é similar. Oficialmente, ela designa toda a amostra de seções, mas


podemos focar em uma seção específica perguntando pela derivada em um
certo valor. (A derivada é uma função, assim como 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 ; se não for
especificada de outra forma, estaremos descrevendo a função completa).

O que precisamos para encontrar a derivada? A figura a ser dividida e o


caminho a ser seguido enquanto a cortamos (seta laranja na figura acima).
Por exemplo:

 A derivada de um círculo com respeito ao raio cria anéis;


 A derivada de um círculo com respeito ao perímetro cria fatias;
 A derivada de um círculo com respeito ao eixo x cria faixas.

Eu concordo que “com respeito à” soa formal: Honorável raio, é com respeito
a você que nós derivamos. A matemática é um jogo de gentlemen, eu suponho.

Tomar a derivada também é chamado de “diferenciação” porque estamos


encontrando a diferença entre posições sucessivas à medida que avançamos
pela figura. (Enquanto aumentamos o raio de um círculo, a diferença entre o
círculo atual e o próximo é justamente o anel mais externo).

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Integral, Setas e Fatias


A integral se refere a colar (“tempo corrido”) um grupo de seções e medir o
resultado final. Por exemplo, colamos os anéis (em um “triângulo de anéis”)
e vimos como a acumulação resultou em 𝜋𝑟 2 , a área de um círculo.
Para encontrar a integral precisamos do seguinte:

 Em qual direção estamos colando cada passo? Ao longo da linha


laranja (o raio, neste caso);
 Onde começamos e onde paramos? No começo e no fim da seta
(começamos no zero, sem raio e movemos para 𝑟, raio máximo);
 Quão grande é cada passo? Bem… cada item é um “anel”. Isso não é
suficiente?

Não! Precisamos ser específicos. Temos dito que somos capazes de cortar
um círculo em “anéis” ou “fatias de pizza” ou “faixas”. Mas isso não é
específico o suficiente; é como uma receita de churrasco que dissesse:
“tempere a carne a gosto e depois coloque na churrasqueira”.

Talvez um expert saiba o que fazer, mas nós precisamos de mais detalhes.
Quão largo, exatamente, é cada passo (tecnicamente chamado
“integrando”)?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Ah, algumas notas sobre as variáveis:

 Se estamos nos movendo ao longo do raio 𝑟, então d𝑟 é o pequeno


pedaço de raio no passo atual;
 A altura do anel é a circunferência, ou 2𝜋𝑟.

Temos que prestar atenção em várias pegadinhas.

Primeiro, d𝑟 é uma única variável, e não “d vezes 𝑟“. Ela representa a


minúscula seção do raio presente no passo atual. Este símbolo (d𝑟, d𝑥 , etc.)
é comumente separado do integrando por um espaço, e assume-se que ele
vai multiplicado (escrito como 2𝜋𝑟 d𝑟).

Próximo, se 𝑟 é a única variável utilizada na integral, então d𝑟 pode ficar


implícita. Então, se você ver ∫ 2𝜋𝑟 , é certo que estamos tratando na verdade
de ∫ 2𝜋𝑟 d𝑟. (Novamente, se há duas variáveis envolvidas, como o raio e o
perímetro, você precisa clarificar qual passo está usando: 𝑑𝑟 ou d𝑝?)

Por último, lembre-se de que 𝑟 (o raio) muda enquanto aplicamos o “tempo


corrido”, começando de 0 até alcançar seu valor final. Quando vemos 𝑟 no
contexto de um passo, ele significa “o tamanho do raio no passo atual” e não
o valor final que ele pode chegar a ter.

Essas questões são extremamente confusas. Eu acharia melhor usar 𝑟𝑑𝑟 para
indicar um “𝑟 intermediário na etapa atual” em vez de um “𝑟 para todo
propósito” que é facilmente confundido com o valor máximo do raio. Mas
não posso mudar os símbolos neste momento, infelizmente.

Praticando o “Dialeto”
Então vamos aprender a falar como “nativos” do Cálculo. Aqui está uma lista
de como podemos descrever nossas estratégias do raio X:

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Visualização
Descrição Formal Símbolo
intuitiva

derivar a área de um círculo com


respeito ao raio
d
Área
d𝑟

derivar a área de um círculo com


d
respeito ao perímetro Área
d𝑝

derivar a área de um círculo com


respeito ao eixo x
d
Área
d𝑥

 A derivada diz: “Ok, eu divido a figura para você. Ela vai se parecer com
um monte de peças de altura 2𝜋𝑟 e largura d𝑟“;
 A integral responde: “Ok, esses pedaços lembram um triângulo – Eu
posso medi-lo! A sua área total é igual a 1⁄2 × base × altura, que neste
caso será 𝜋𝑟 2 “.

Aqui está como escreveríamos as integrais para medir os passos que


construímos anteriormente:

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Descrição Formal Símbolo Medição total

integrar 2 * pi
𝑟
* r * dr de r=0
até r=r ∫ 2𝜋𝑟 d𝑟
0

integrar [uma fa
tia de pizza] de
𝑝=𝑚𝑎𝑥
[p = perímetro m
ín.] até [p = pe ∫ (fatia de pizza) d𝑝
rímetro máx.] 𝑝=𝑚𝑖𝑛

integrar [uma fa
ixa] de [x = val 𝑥=𝑚𝑎𝑥
or mín.] to [x = ∫ faixa d𝑥
valor máx.] 𝑥=𝑚𝑖𝑛

Algumas notas:

 Frequentemente, escrevemos um integrando como uma “fatia de pizza”


ou “faixa” não especificada (use um nome que soe formal como 𝑠(𝑝) ou
𝑏(𝑥), se lhe agradar). Primeiro, nós preparamos a integral, e então nos
preocupamos com a fórmula exata da faixa ou fatia;
 Como cada integral representa fatias do nosso círculo original, sabemos
que elas darão o mesmo resultado. Colar de volta qualquer conjunto de
fatias sempre retorna a área total, certo?
 A integral é comumente descrita como “a área abaixo da curva”. Isso é
exato, porém restritivo. Sim, estamos colando faixas retangulares abaixo
da curva. Mas isso ignora completamente os pensamentos precedentes
sobre o raio X e o “tempo corrido”. Em primeiro lugar, por que estamos

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Curso Intuitivo de Cálculo

lidando com um conjunto de fatias versus uma curva? Provavelmente,


porque essas fatias são mais fáceis de analisar do que a figura completa
(como você mede “diretamente” um círculo?).

Questões
1) Você consegue pensar em outra atividade que se torna mais simples
utilizando atalhos e notações do que o português por extenso?

2) Interessado em desempenho? Vamos dirigir o “carro do Cálculo”, ainda


que você não consiga construí-lo ainda.

Questão 1: Como você escreveria as integrais que cobrem metade de um


círculo?

Cada uma seria similar a:

integrar [tamanho do passo] de [começo] até [final] com respeito


a [variável do caminho]

(Resposta para a primeira e segunda metade. Esses links levam para o


Wolfram Alpha, uma calculadora online; vamos aprender a utilizá-la mais
tarde).

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Curso Intuitivo de Cálculo

Questão 2: Você consegue encontrar o modo completo de descrever nossa


abordagem por “fatias de pizza”?

O comando matemático seria algo do tipo:

integrar [tamanho do passo] de [começo] até [final] com respeito


a [variável do caminho]

Lembre-se de que cada fatia é um triângulo, basicamente (então qual é a


área?). As fatias movem-se ao redor do perímetro (onde começa e onde
termina?). Tem alguma ideia para o comando? Aqui está a descrição fatia por
fatia.

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Questão 3: Você consegue descobrir como se mover do volume para a área


da superfície?

Assuma que nós saibamos que o volume da esfera é 43πr3. Pense sobre as
instruções para separar esse volume em uma sequência de cascas. Por qual
variável estaríamos nos movendo?

derivar [equação] com respeito a [variável do caminho]

Tem um palpite? Ótimo. Confira com o comando para transformar o volume


na área da superfície.

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5. A Música que vem da Máquina


Nas lições anteriores, aguçamos progressivamente nossa intuição:

 Apreciação: Eu acho que é possível dividir um círculo para medir sua


área;
 Descrição natural: Dividir o círculo em anéis do centro para fora, desta
forma:

 Descrição formal: integrar 2 * pi * r * dr de r=0 até r=r;


 Resolução: (Gulp!) Eu acho que terei de começar a medir a área…

Espere! Nossa descrição formal é tão precisa que um computador pode fazer
o nosso trabalho:

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Curso Intuitivo de Cálculo

Whoa! Descrevemos nossos pensamentos tão bem que um computador foi


capaz de fazer a parte pesada.

Não foi preciso desenrolar os anéis manualmente, desenhar o triângulo e


achar a área (o que não é muito difícil neste caso, mas poderia ser). Vimos
quais deveriam ser as etapas do cálculo, as escrevemos, e alimentamos um
computador com elas: boomshakala, temos o resultado. (Não se preocupe
ainda com a parte da “integral definida” (definite integral).

E as derivadas, que são a aplicação da visão de raio X em padrões,


quebrando-os em passos? Bem, podemos perguntar por isso também:

Similarmente ao que foi visto para a integral, o computador aplicou a visão


de raio X na fórmula da área do círculo e a dividiu passo a passo, enquanto
se movia ao longo do raio. O resultado é 2𝜋𝑟, a altura do anel em cada
posição.

Vendo a linguagem em ação


O Wolfram Alpha é uma ferramenta muito fácil de usar. O formato geral
para as questões de cálculos é:

 integrate [equação] from [variável=início] to [variável=final]


 derive [equação] with respect to [variável]

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Curso Intuitivo de Cálculo

Existem algumas abreviações. Estes atalhos são mais próximos aos


símbolos matemáticos:

 int [equação] dr – integrar a equação (por padrão, assumimos que vamos


de 𝑟 = 0 para 𝑟 = 𝑟, o valor máximo);
 d/dr [equação] – derivar equação com respeito a 𝑟;
 Há atalhos para expoentes ( 3^2 = 9 ), multiplicação ( 3 * r ) e raízes
( sqrt(9) = 3 ).

Agora que temos a máquina à mão, vamos tentar replicar alguns dos
resultados vistos até o momento:

Descrição
Notação Matemática Noção Intuitiva
Computacional

𝑟
integrate 2 * pi * r
* dr from r=0 to r=r ∫ 2𝜋𝑟 d𝑟
0

integrate 1/2 * r * d 2𝜋𝑟


1
p from p=0 to p=2*pi* ∫ 𝑟 d𝑝
r 0 2

integrate 2 * sqrt(r^ 𝑟
2-x^2) from x=-r to x ∫ 2√𝑟 2 − 𝑥 2 d𝑥
=r −𝑟

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Clique nas descrições formais para ver o computador “triturar” os números.


Como você já deve ter esperado, todas elas resultam na familiar equação
para a área. Algumas notas:

 O tamanho da cunha é 1⁄2 × base × altura. A base é d𝑝 (a minúscula


seção do perímetro) e a altura é 𝑟, a distância do perímetro de volta ao
centro;
 O tamanho das faixas é complicado de calcular. Em termos das
coordenadas 𝑥 e 𝑦, temos 𝑥 2 + 𝑦 2 = 𝑟 2 . Pelo teorema de Pitágoras:

Obtemos a altura resolvendo 𝑦 = √𝑟 2 − 𝑥 2 . Precisamos, na verdade, de


duas cópias da altura porque y é a distância positiva acima do eixo, e a
faixa se estende para cima e para baixo. As faixas são mais difíceis de se
trabalhar, e não só para você: o Wolfram Alpha demora mais para calcular
essa integral do que as outras.

A abordagem até aqui tem sido mergulhar você no pensamento do Cálculo


e introduzir gradualmente as notações matemáticas. Algumas pessoas
podem achar isso um “redemoinho” – o que é completamente esperado.
Você está sentado em um café, escutando uma conversa alheia em outra
língua.

Agora que você tem o “som” na sua cabeça, vamos começar a explorar os
detalhes peça por peça.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Questões
1) Você começou a ter uma noção de como solucionar problemas de Cálculo?
O que faz com que uma abordagem seja “mais fácil” de resolver do que
outra?

2) Como sempre, algum momento Aha! ou alguma dúvida?

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6. Melhorando a Aritmética e a
Álgebra
Intuitivamente, vimos como o Cálculo disseca problemas de um ponto de
vista “passo a passo”. Agora que temos os símbolos oficiais, vamos ver como
levar a Aritmética e a Álgebra para o próximo nível.

Multiplicações e divisões melhores


A multiplicação torna as adições mais fáceis. Em vez de nos torturarmos com
questões como

2+2+2+2+2+2+2+2+2+2+2+2+2

podemos reescrevê-la como

2 × 13

Boomshakala! Se você queria 13 cópias de um número, escreva desse jeito!

A multiplicação torna as adições repetidas mais fáceis (da mesma forma para
a divisão e subtração) [^1]. Mas há uma grande limitação: temos que usar
pedaços idênticos e de tamanho padrão.

 O que é 2 × 13? São 13 cópias do mesmo elemento.


 O que é 100 / 5? É 100 dividido em 5 partes iguais.

Partes idênticas são legais para situações de livros-texto (dirija a 60 km/h


durante 3 horas, inabalavelmente). O mundo real não é tão certinho. O
Cálculo nos permite acumular ou separar formas de acordo com sua
quantidade ou tamanho atual, não com médias ou padrões:

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Curso Intuitivo de Cálculo

 Derivadas são divisões melhores que dividem uma forma ao longo de


um caminho (possivelmente em fatias de tamanhos diferentes);
 Integrais são multiplicações melhores que acumulam uma sequência
de passos (que podem ter tamanhos diferentes).

Operação Exemplo Notas

𝑥
Divisão Dividir o todo em partes iguais
𝑦
d Dividir o todo em partes (possivelmente
Diferenciação 𝑦
d𝑥 diferentes)

Multiplicação 𝑦⋅𝑥 Acumular passos idênticos

Integração ∫ 𝑦 d𝑥 Acumular passos (possivelmente diferentes)

Vamos analisar novamente nosso exemplo “círculo para anéis”. Como a


Aritmética/Álgebra se compara ao Cálculo?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Operação Fórmula Diagrama

Área 𝜋𝑟 2
Divisão passo médio = = = 𝜋𝑟
raio 𝑟

𝑑
Diferenciação passo atual = 𝜋𝑟 2 = 2𝜋𝑟
𝑑𝑟

área = passo médio


Multiplicação ⋅ quantidade = 𝜋𝑟 ⋅ 𝑟
= 𝜋𝑟 2

área = ∫ passo atual = ∫ 2𝜋𝑟


Integração
= 𝜋𝑟 2

A divisão cospe de volta o anel de tamanho médio no nosso padrão. A


derivada dá uma fórmula (2𝜋𝑟) que descreve cada anel (basta se ligar no 𝑟).
De forma similar, a multiplicação nos permite escalar o elemento médio
(uma vez que nós o encontrarmos) na quantidade total. A integral nos
permite somar diretamente o padrão.

Algumas vezes queremos usar o item médio, e não as extravagantes etapas


do Cálculo, porque ele é uma representação mais simples do todo (“qual o
tamanho médio da transação? Eu não preciso da lista completa.”) Isso é bom,
contanto que seja uma escolha consciente.

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Fórmulas melhores
Se o Cálculo fornece uma versão melhor e mais específica da multiplicação e
da divisão, não deveríamos reescrever fórmulas com ela? Pode apostar.

Álgebra Cálculo

distância = velocidade ⋅ tempo distância = ∫ velocidade dt


distância d
velocidade = velocidade = distância
tempo d𝑡
área = altura ⋅ largura área = ∫ altura d𝑤

peso = densidade
⋅ comprimento peso = ∭ densidade d𝑥 d𝑦 d𝑧
⋅ largura ⋅ altura

Uma equação como distância = velocidade ⋅ tempo explica como


encontrar a distância total assumindo uma velocidade média. Uma equação
como distância = ∫ velocidade d𝑡 nos diz como encontrar a distância
total pela quebra do tempo em instantes (divididos ao longo do eixo “t”) e
pela acumulação da distância (potencialmente única) viajada a cada instante
(velocidade ⋅ d𝑡).

d
Do mesmo modo, velocidade = distância explica como podemos
d𝑡
quebrar nossa trajetória em segmentos de tempo, sendo a velocidade o valor
(potencialmente único) com o qual nos movemos em certa fatia de tempo.

A explicação sobrevalorizada de que “integrais são a área sob a curva” torna-


se mais clara. A multiplicação, por tratar com quantidades estáticas, pode
somente medir a área de retângulos. Integrais fazem as medições se
curvarem e ondularem à medida que são realizadas: iremos somar todas as
contribuições, independentemente dos seus formatos.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Uma sequência de multiplicações se torna uma sequência de integrais


(chamada de integral dupla ou tripla). Ela está além dessa introdução, mas
sua suspeita estava correta: podemos imitar a multiplicação, integrando
várias vezes consecutivamente.

A Matemática, especificamente o Cálculo, é a linguagem da ciência porque


ela descreve relações extremamente bem. Quando eu vejo uma fórmula com
uma integral ou derivada, eu a converto mentalmente para uma
multiplicação ou uma divisão (com a compreensão que ela irá dar um
elemento “médio”, não o atual).

Álgebra melhor
A Álgebra nos permite começar com um fato e, agindo sistematicamente,
descobrir outros. Imagine que eu queira saber a área de um quadrado
desconhecido. Eu não posso medir a área, mas ouvi alguém falando que o
quadrado tem 13,3 cm em um lado.

Álgebra Processo de pensamento

área do quadrado =? A área deste quadrado é desconhecida...

√área = 13,3 ... mas eu conheço a raiz quadrada.

(Çrea)2 = (13,3)2 Elevo ao quadrado em ambos os lados...

área = 176,89 ... e posso recriar a área original.

Lembre-se de quando você aprendeu que junto com a


soma/subtração/multiplicação/divisão, aprendeu também que podemos
tomar potências e raízes? Adicionamos dois novos meios de transformar
uma equação.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Bem, o Cálculo estende a Álgebra com mais duas operações: integrais e


derivadas. Agora podemos descobrir a área de um círculo, no estilo da
Álgebra[^2]:

Álgebra+Cálculo Processo de pensamento

área do círculo =? A área do círculo é desconhecida...

d ... mas eu sei que ela [a área] se divide em anéis


área = 2𝜋𝑟 (ao longo do raio)
d𝑟
d
∫ área = ∫ 2𝜋𝑟 Integro em ambos os lados...
d𝑟
área = 𝜋𝑟 2 ... e posso recriar a área original.

A notação abreviada ajuda a ver o quadro maior. Se o integrando usa


somente uma única variável (como em 2𝜋𝑟), podemos assumir que estamos
usando d𝑟 de 𝑟 = 0 a 𝑟 = 𝑟. Isso ajuda a pensar nas integrais e derivadas
como potências e raízes: operações que se cancelam!

É muito simples: “juntar as partes” e “separar as partes” deveriam se


comportar como opostos, certo?

d
Com nossa notação mais simples, podemos escrever ∫ Área = Área, em
d𝑟
𝑟 d
vez do exagerado ∫ ( Área) d𝑟 = Área.
0 d𝑟

Aprendendo as regras
Com a Aritmética, aprendemos técnicas especiais para combinar números
naturais, decimais, frações e raízes/potências. Apesar de 3 + 9 = 12, não
podemos assumir que √3 + √9 = √12.

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Curso Intuitivo de Cálculo

De forma similar, temos que aprender as regras de como integrais/derivadas


funcionam quando somadas, multiplicadas e assim vai. Sim, existem regras
sofisticadas para categorias especiais (o que fazer com 𝑒 𝑥, log naturais,
senos, cossenos, etc.), mas eu não estou preocupado com isso. Vamos ficar
extremamente confortáveis com o básico. As coisas sofisticadas podem
esperar.

[^1]: Além de somas repetidas, a multiplicação pode representar uma


tomada de escala, uma rotação ou mais.

[^2]: As equações diferenciais são, essencialmente, equações algébricas com


comandos de cálculo. Interações complexas requerem técnicas especiais,
assim como 𝑥 3 + 3𝑥 = 5 é mais complicado do que 𝑥 + 3 = 2.

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7. Vendo como as Retas Funcionam


Vamos começar analisando um padrão bastante simples, uma reta:

𝑓(𝑥) = 4𝑥

Em termos do dia-a-dia, colocamos uma entrada (input), 𝑥, e obtemos uma


saída (output), 𝑓(𝑥). Neste caso, a saída é igual a 4 vezes a entrada.
Suponhamos que estejamos comprando uma cerca. A cada metro de cerca
que pedimos (a entrada, 𝑥), ela nos custa R$ 4,00 (a saída, 𝑓(𝑥)). 3 metros
de cerca custariam R$ 12,00. Justo.

Note que a fórmula abstrata 𝑓(𝑥) = 4𝑥 só considera quantidades, não


unidades [reais, no caso]. Nós poderíamos ter escrito que um metro de cerca
custa 400 centavos, 𝑓(𝑥) = 400𝑥, e caberia a nós lembrar que são reais na
primeira fórmula e centavos na segunda. Nossas equações usam
quantidades abstratas sem unidades; então devemos trazer os resultados de
volta para o mundo real.

Encontrando a derivada de uma reta


d
A derivada de um padrão, 𝑓(𝑥), é uma sequência de passos gerados
d𝑥
enquanto fatiamos pouco a pouco uma variável de entrada (𝑥 é a escolha
natural aqui). Como descobrimos a sequência de passos?

Bem, imagine-se indo a uma loja de material de construção e importunando


o vendedor:

Você: Eu gostaria de comprar um pouco de madeira, por favor.


Quanto custa?
Vendedor: Quanto você quer? Você: Um… 1 metro, eu acho.
Vendedor: Então são R$ 4,00. Mais alguma coisa?

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Você: Na verdade, acho que preciso de 2 metros.


Vendedor: Então são R$ 8,00. Mais alguma coisa?
Você: Vou levar 3 metros.
Vendedor: *(sigh)* São R$ 12,00. Mais alguma coisa?
Você: Que tal 4 metros?

Temos uma relação (𝑓(𝑥) = 4𝑥) e a investigamos por uma pequena


mudança na entrada. Vemos se há alguma mudança na saída (sim, há!),
então mudamos a entrada novamente. E assim vai.

Nesse caso, é claro que uma adição de 1 metro de cerca aumenta o custo em
R$ 4,00. Então nós acabamos de determinar a derivada como uma constante
de valor 4, certo?

Não tão rápido. Claro, pensamos sobre o processo e o realizamos, mas


sejamos um pouco mais organizados (nem todos os padrões são assim tão
simples). Podemos descrever o que fizemos?

 1: Pegue a saída atual, 𝑓(𝑥). No nosso caso, 𝑓(1) = 4;


 2: Dê um passo além, de d𝑥 (1 metro, por exemplo);
 3: Encontre a nova quantidade, 𝑓(𝑥 + d𝑥). No nosso caso, é
𝑓 (1 + 1) = 𝑓(2) = 8;
 4: Calcule a diferença: 𝑓(𝑥 + d𝑥) − 𝑓(𝑥), ou 8 − 4 = 4.

Ah! A diferença entre o próximo passo e o passo atual é o tamanho da nossa


fatia. Para 𝑓(𝑥) = 4 temos:

𝑓(𝑥 + d𝑥) − 𝑓(𝑥) = 4(𝑥 + d𝑥) − 4(𝑥) = 4 ⋅ d𝑥

Aumentar o comprimento em d𝑥 aumenta o custo em 4 ⋅ 𝑥 .

A afirmação é verdadeira, mas um pouco estranha: ela fala sobre a mudança


total. Não seria melhor ter uma razão, do tipo “custo por metro”?

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Podemos extrair uma razão com alguns atalhos:

 d𝑥 = mudança na entrada;
 d𝑓 = mudança resultante na saída, 𝑓(𝑥 + d𝑥) − 𝑓(𝑥);
d𝑓
 = razão entre a mudança na saída para a mudança na entrada.
d𝑥

No nosso caso, temos

d𝑓 4 ⋅ d𝑥
= =4
d𝑥 d𝑥
d𝑓 d
Note como expressamos a derivada como em vez de 𝑓(𝑥). A que isso
d𝑥 d𝑥
leva? Que temos diferentes versões [de expressão da derivada] para
usarmos.

Pense sobre as diferentes maneiras para expressar a multiplicação:

 Símbolo de vezes: 3 × 4 (usado no primeiro grau);


 Ponto: 3 ⋅ 4 (usado no segundo grau);
 Multiplicação implícita com parênteses: (𝑥+ 4)(𝑥 + 3);
 Multiplicação implícita com espaços: 2𝜋𝑟 d𝑟.

Quanto mais sutil o símbolo, mais nos focamos nas relações entre as
quantidades; quanto mais visível o símbolo, mais nos focamos no cálculo.

A notação para as derivadas é similar:

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Algumas versões, como 𝑓′(𝑥), nos lembram que a sequência de passos é


d𝑓
uma variação do padrão original. Notações como nos colocam no modo
d𝑥
orientado para os detalhes, pensando sobre a mudança na saída relativa à
mudança na entrada (“qual o custo por metro adicional?”).

Lembre-se, a derivada é uma descrição completa de todos os passos, mas


ela pode ser resolvida em certo ponto para encontrar o passo atual lá: qual
o custo por metro adicional quando 𝑥 = 3? No nosso caso, a resposta é 4.

Vamos conferir nossas descobertas com a ajuda do computador:

Legal! Relações lineares são tão simples que não precisamos visualizar os
passos [^1]; podemos trabalhar com os símbolos diretamente.

Encontrando a integral de uma constante


Vamos trabalhar na outra direção: dada uma sequência de passos, como
podemos encontrar o tamanho do padrão original?

No nosso cenário da construção da cerca, é bem simples. Resolver

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d𝑓
=4
d𝑥
significa responder “qual padrão tem uma mudança na saída de 4 vezes uma
mudança na entrada”?

Bem, acabamos de ver que 𝑓(𝑥) = 4𝑥 resulta em 𝑓′(𝑥) = 4. Então, se


temos 𝑓′(𝑥) = 4, podemos supor que a função original deveria ser 𝑓(𝑥) =
4𝑥.

Estou bem seguro de que estamos certos (o que mais poderia ser a integral
de 4?), mas vamos conferir com o computador:

Wow — temos duas respostas diferentes (definida e indefinida). Por quê?


Bem, existem muitas funções que podem aumentar o custo em
R$ 4,00/metro. Aqui estão alguns exemplos:

 Custo = R$ 4,00 por metro, ou 𝑓(𝑥) = 4𝑥;

 Custo = R$4,00 + R$ 4,00 por metro, 𝑓(𝑥) = 4 + 4𝑥;

 Custo = $10,00 + R$ 4,00 por metro, 𝑓(𝑥) = 10 + 4𝑥.

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Poderia haver uma taxa fixa por pedido, com o custo da cerca agregado.
Tudo que a equação 𝑓′(𝑥) = 4 diz é que cada metro adicional de cerca custa
R$ 4,00, mas não sabemos as condições iniciais.

 A integral definida rastreia a acumulação de uma quantidade definida


de fatias. O intervalo [a ser integrado] pode conter números, como em
13
∫0 4, que mede as fatias de 𝑥=0 até 𝑥 = 13 (13 ⋅ 4 = 52). Se o

intervalo conter uma variável (0 até x), então a acumulação será uma
equação (4𝑥 , como no exemplo acima).
 A integral indefinida encontra a fórmula atual que criou o padrão de
passos, não somente a acumulação naquele intervalo. Ela é escrita
somente com um símbolo da integral [sem o intervalo numérico]:
∫ 𝑓(𝑥). E como vimos, as possibilidades para a função original poderiam
permitir a presença de uma condição inicial igual a 𝐶 .

A notação para integrais pode ter algo de relaxada e imprecisa, e isso nos
confunde. Estamos procurando uma acumulação ou a função original?
Estamos deixando d𝑥 de fora? Esses detalhes são geralmente omitidos,
então é importante perceber o que está acontecendo.

O Segredo: podemos trabalhar de trás


para frente
O pequeno segredo das integrais é que nós não precisamos resolvê-las
diretamente. Em vez de tentar colar fatias para encontrar uma área,
podemos apenas aprender a reconhecer as derivadas de funções que já
vimos antes.

Se você sabe que a derivada de 4𝑥 é 4, então se alguém lhe perguntar pela


integral de 4, você pode responder com “4𝑥 ” (mais 𝐶, é claro). É como
memorizar o quadrado dos números, não as raízes quadradas. Quando

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Curso Intuitivo de Cálculo

alguém pergunta pela raiz quadrada de 121, escave sua mente para
lembrar-se de que 11 × 11 = 121.

Uma analogia: imagine um vendedor de um antiquário que é capaz de


reconstruir mentalmente e reconhecer um vaso apenas vendo uma pilha de
cacos.

Como ele faz isso? Bem, ele pega uma réplica no estoque, a joga no chão e
olha para o padrão dos pedaços. Então ele se aproxima da sua pilha e diz:
“Oh, eu acho que esse deve ser um vaso da Dinastia Ming da época do
3º imperador”.

Ele não tenta remontar o vaso colando os cacos — ele já viu o vaso certo se
quebrar antes e a sua pilha de cacos se parece exatamente com ele!

Agora, deve haver pilhas que ele nunca viu, que são difíceis ou impossíveis
de reconhecer. Nesse caso, o melhor que nós podemos fazer é simplesmente
juntar as peças (com um computador, provavelmente). Podemos determinar
que o vaso original pesava 6,25 kg. É uma informação, legal, mas não é tão
legal quanto saber como era o vaso antes de ele se quebrar.

Este insight nunca foi explicado para mim: é doloroso somar os passos
(possivelmente variáveis) diretamente, especialmente quando o padrão se
torna complicado. Então, apenas aprenda a reconhecer o padrão de
derivadas que nós já vimos antes.

Obtendo uma multiplicação melhor


Colar passos do mesmo tamanho parece uma multiplicação comum, certo?
Pode apostar. Se nós queríamos 3 passos (0 até 1, 1 até 2, 2 até 3) de
tamanho 2, poderíamos escrever:

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3
∫ 2 d𝑥 = 6
0

Novamente, esta é uma forma sofisticada de dizer “acumule 3 passos de


tamanho 2: o que você tem no total?”. Estamos usando a visão de “tempo
corrido” em uma sequência de mudanças idênticas.

Agora, suponha que alguém peça a você para somar 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2


+ 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2. Você poderia dizer: Putz, não posso escrever isso de uma
forma mais simples? Você sabe, do tipo:

13
∫ 2 d𝑥 = 26
0

Criando regras abstratas


Você já tem uma ideia de como funções lineares se comportam? Ótimo.
Podemos criar algumas regras abstratas — como obter as regras da álgebra
por nós mesmos.

Se sabemos que nossa saída é uma versão escalada da nossa estrada


(𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥 ), então
d
𝑎⋅𝑥 = 𝑎
d𝑥
e

∫ 𝑎 = 𝑎𝑥 + 𝐶

Isto é, a razão entre cada passo na saída para cada passo na entrada é uma
constante de valor a (4, nos nossos exemplos acima). E agora que nós
“quebramos o vaso”, podemos trabalhar de trás para frente: se acumularmos
passos de tamanho a, eles devem ter vindo de um padrão similar a 𝑎⋅𝑥
(mais 𝐶 , é claro).

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Curso Intuitivo de Cálculo

Note como eu escrevi ∫ 𝑎 e não ∫ 𝑎 d𝑥 — eu queria focar em 𝑎, e não nos


detalhes como a largura do passo (d𝑥). Parte do [estudo do] Cálculo consiste
em aprender a expor a quantidade certa de detalhes.

Uma última nota: se nossa saída não reage de forma alguma com a entrada
(iremos cobrá-lo R$ 2,00 independentemente da quantidade que você
comprar… incluído nenhuma compra!), então os “passos” são uma constante
igual a 0:

dx
𝑎=0
d𝑥

Em outras palavras, não há diferença entre a medição antes e depois. Agora,


um padrão pode ter uma fatia igual a zero ocasionalmente, se ele se manter
por um momento. Tudo bem. Mas se todas as fatias são iguais a zero, isso
significa que nosso padrão nunca muda.

Existem algumas sutilezas pela estrada, mas vamos aprender primeiro a falar
“mim tem fome” para só depois dizer “verdadeiramente estou faminto”.

[^1]: Se você imaginar uma linha sendo dividida, lembre-se de que ela é
unidimensional e se separa em segmentos (– – –). Embora as retas sejam
normalmente representadas em gráficos 2D x-y, elas têm uma dimensão
apenas.

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Curso Intuitivo de Cálculo

8. Brincando com os Quadrados


Vimos como as retas funcionam. Agora, vamos afiar nossas habilidades com
uma função mais completa do tipo 𝑓(𝑥) = 𝑥2.

Este cenário é mais complexo, mas vamos visualizá-lo e andar através das
suas propriedades.

Imagine que você está construindo um jardim na forma de um quadrado,


para plantar vegetais e apreciar alguns pepinos em alguns meses. Você não
está certo do seu tamanho. Se muito pequeno, não haverá comida suficiente;
se grande demais, outras pessoas vão importuná-lo para comprar seus
vegetais.

Você poderá construir seu jardim de forma incremental, metro por metro,
até ele ter o tamanho certo. Vamos dizer que você o constrói lentamente,
começando do zero e fazendo com que ele cresça até uma área de 10 × 10:

O que nós temos? Para um olho destreinado, construímos um jardim de


10 × 10, que usa 40 metros de cerca para o perímetro (10 × 4) e
100 metros quadrados de terra vegetal (10 × 10); (suponhamos que a terra
vegetal é vendida por metro quadrado, assumindo uma espessura padrão).

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Curso Intuitivo de Cálculo

Trazendo o Cálculo para o jardim


É só isso? A análise é só sobre o perímetro atual e a metragem quadrada? De
jeito nenhum.

Neste momento, você poderia estar clamando para usar a visão de raio X e a
de “tempo corrido” para ver o que acontece nos bastidores. Por que
pararmos em uma descrição estática quando podemos observar também a
descrição passo a passo?

Podemos analisar o comportamento do perímetro facilmente:

Perímetro= 4 ⋅ 𝑥
d
Perímetro = 4
d𝑥
d𝑃
A mudança no perímetro ( ) é uma constante igual a 4. Para cada aumento
d𝑥
de 1 metro em x, temos um salto de 4 metros no perímetro.

Podemos visualizar este processo. À medida que o quadrado cresce,


puxamos para fora os lados existentes e adicionamos quatro pedaços nas
pontas (em laranja):

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Curso Intuitivo de Cálculo

O visual é legal, mas não é necessário. Após nossa exposição às retas,


devemos vislumbrar em 𝑝 = 4𝑥 que 𝑝 pula 4 vezes quando 𝑥 pula 1 vez.

Mudando a área
Agora, como a área muda? Uma vez que os quadrados são relativamente
novos para nós, vamos usar a visão de raio X nesta forma à medida que ela
cresce:

Podemos escrever o tamanho de cada salto, deste modo:

𝒙 𝒙𝟐 Salto para o próximo quadrado

0 0 1

1 1 3

2 4 5

3 9 7

4 16 9

5 25 11

6 36 13

7 49 15

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Curso Intuitivo de Cálculo

Isso é interessante. O intervalo (gap) entre 0² e 1² é igual a 1. O gap entre 1²


e 2² é 3. O gap entre 2² e 3² é 5. E assim vai — os números ímpares são
“sanduichados” entre os quadrados. O que está acontecendo:

Ah! Crescer para o próximo metro quadrado significa adicionar uma faixa na
vertical e outra na horizontal (𝑥 + 𝑥) mais um pedaço na ponta (1). Se
temos atualmente um quadrado de lado igual a 𝑥, o salto para o próximo
quadrado é igual a 2𝑥 + 1 (se temos um quadrado de 5 × 5, para conseguir
um quadrado de 6 × 6, temos um salto de 2 ⋅ 5 + 1 = 11. E também,
36– 25 = 11).

Novamente, a visualização é legal, mas ela dá trabalho. A Álgebra pode


simplificar o processo.

Nessa configuração, se definirmos nossa mudança para d𝑥 = 1, teremos

d𝑓 = 𝑓(𝑥 + 1) − 𝑓(𝑥) = (𝑥 + 1)2 − 𝑥 2 = (𝑥 2 + 2𝑥 + 1) − 𝑥 2 = 2𝑥 + 1

Á Álgebra previu o tamanho da fatia sem dificuldade.

Integrais e a Máfia dos Vegetais


A derivada pega uma determinada forma e a fatia. Podemos trabalhar de
trás para frente, das fatias para a forma? Vamos ver.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Suponhamos que alguns vizinhos loucos por vegetais comecem a espionar


os seus pedidos de compra de terra vegetal e de cercas. Eles não podem ver
o seu jardim diretamente, mas o que eles podem deduzir das suas compras?

Vamos dizer que eles observam a entrega de certa quantidade fixa de cerca
(4, 4, 4, 4, …), mas pedidos crescentes de terra vegetal (1, 3, 5, 6, 9, 11, …). O
que eles podem descobrir?

Um garotinho da família vizinha pode decidir por somar a quantidade total


acumulada (a integral definida): “oi, pai, parece que eles construíram um
jardim com perímetro total de 40 metros e uma área total de 100 metros”.

Mas isso não é suficiente para esses invejosos! O garoto não sabe o formato
do jardim que você está tentando construir. Ele vê entregas e mais entregas
chegarem sem notar o padrão mais profundo.

Bem, existem muitas formas que podem crescer sua área de 2𝑥 + 1. Mas,
combinando com um aumento de perímetro constante de 4, a família
suspeita, após algumas entregas, que você está fazendo um jardim
quadrado.

Como o pai sabe isso? Novamente, por ele saber trabalhar de trás para
frente. Como ele já cortou em pedaços uma quantidade suficiente de formas
(triângulos, quadros, retângulos, etc.), agora ele tem uma boa noção do
antes-e-depois para elas, assim como o vendedor do antiquário.

Quando ele vê uma mudança de 2𝑥 + 1, um quadrado (𝑥 2 ) é um forte


candidato. Outra opção pode ser um triângulo retângulo com lados 𝑥 e 2𝑥 .
A equação da sua área é 1⁄2 ⋅ 𝑥 ⋅ 2𝑥 = 𝑥2, então a área mudaria como no
quadrado.

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Curso Intuitivo de Cálculo

E quando ele vê uma mudança de 4 no perímetro, ele sabe que o perímetro


deve ser 4𝑥. Ah! Não há muitas formas com ambas propriedades: um
quadrado é a sua opção. Parte de aprender o Cálculo é se tornar familiar com
as origens típicas dos padrões que você vê, para fazer rapidamente com eles
a engenharia reversa.

Suponha que eles vejam suas compras mudarem: suas entregas de cerca
caem para (2, 2, 2, 2, …) e suas entregas de terra vegetal mudam para (20, 20,
20, 20, …). O que está acontecendo? Dê um palpite, se você quiser.

Pronto?

O chefe dos vegans percebe que você mudou seu jardim para um formato
retangular, com um lado determinado por x e o outro com 20 metros fixos.
Esse palpite funciona?
𝑓(𝑥) = 20𝑥

Perímetro = 20 + 20 + 𝑥 + 𝑥 = 40 + 2𝑥

Área = 20𝑥
d
Perímetro = 2
d𝑥
d
Área = 20
d𝑥

Wow, confere. Não é à toa que ele é o chefe.

Por fim, o que teríamos se o chefe visse pedidos de terra vegetal de (5, 7, 9,
11, 13)? Ele assumiria que você ainda está construindo um quadrado (padrão
2𝑥 + 1), mas que você começou com um quadrado de 2 × 2 já pronto. Seu
primeiro salto foi de 5, o que aconteceria se 𝑥 fosse igual a 2 (2𝑥 + 1 = 5).

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Curso Intuitivo de Cálculo

O pai da família é um vendedor de antiquário nível mestre: ele vê os padrões


de cacos que você está trazendo para casa e determina rapidamente a forma
original (integral indefinida). O filho só consegue lhe dizer os totais em
execução até o momento (integral definida).

Colocando tudo junto


Parece que estamos prontos para outra regra, que explica como os
quadrados mudam. Se deixarmos d𝑥 como está, podemos escrever:

d 2 𝑓(𝑥 + 𝑑𝑥) − 𝑓(𝑥) (𝑥 + d𝑥)2 − (𝑥)2


𝑥 = =
d𝑥 d𝑥 d𝑥
𝑥 2 + 2𝑥 ⋅ d𝑥 + (𝑑𝑥)2 − 𝑥 2 2𝑥 ⋅ d𝑥 + (d𝑥)2
= =
d𝑥 d𝑥
= 2𝑥 + d𝑥
Ok! Este é o modo abreviado de dizer “crescer por dois lados e pelo canto”.
Vamos levar isso para um computador e conferir:

Opa! Calculamos manualmente a derivada de 𝑥2 como


2𝑥 + 𝑑𝑥 (que
normalmente é 2𝑥 + 1), mas o computador diz que ela é só 2𝑥 .

Mas não é a diferença de 4² para 5² exatamente 25 – 16 = 9, e não 8? O


que aconteceu com o pedaço da ponta? O mistério continua no próximo
episódio.

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Curso Intuitivo de Cálculo

9. Trabalhando com o Infinito


Na última lição, trabalhamos manualmente na derivada de 𝑥 2 como 2𝑥 + 1.
Mas a derivada oficial, de acordo com a calculadora, é 2𝑥. Por que a
diferença?

A resposta baseia-se no conceito de “precisão do infinito”. O infinito é um


conceito ao mesmo tempo fascinante e assustador — existe um campo
exclusivo da Matemática para ela (a Análise). Evitaremos aprender as
nuances de cada teoria: nosso objetivo é obter uma compreensão prática de
como o infinito pode nos ajudar a elaborar as regras do Cálculo.

Insight: algumas vezes o infinito pode ser


medido
Aqui vai um desafio rápido para você. Dois amigos estão distantes de 10
quilômetros, movendo um na direção do outro a 5 km/h. Um mosquito voa
rapidamente entre eles, tocando um depois o outro, até os amigos
conseguirem matar juntos o mosquito com um tapa.

Vamos dizer que o mosquito viaja a 20 km/h por hora. Você consegue
descobrir quantos quilômetros ele voou antes da sua morte?

Caramba. Este problema é complicado: uma vez que o mosquito deixa o


primeiro amigo, toca o segundo e se vira… e o primeiro amigo se aproximou!
Temos um número infinito de distâncias cada vez menores que se somam.
Esta questão parece dolorosamente difícil de resolver, certo?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Bem, que tal este raciocínio: da perspectiva dos amigos andando, eles irão
andar por uma hora no total. Afinal, eles começam 10 km distantes e a
diferença diminui a 10 km por hora (5 km/h + 5 km/h). Portanto, o mosquito
deve voar por uma hora, e vai por 20 km.

Whoa! Acabamos de encontrar o resultado de um processo com um número


infinito de passos? Eu acho que sim!

Dividindo um todo em infinitas partes


Está na hora de levar a nossa forma de pensar passo a passo ao extremo.
Conseguimos imaginar uma forma finita sendo dividida em infinitas partes?

 No início do curso, vimos que um círculo pode ser dividido em anéis.


Quantos? Bem, um número infinito!
 Uma reta numérica pode ser dividida em um número infinito de pontos
vizinhos. Quantos decimais você diria que existem entre 1,0 e 2,0?
 O caminho do mosquito pode ser visto como um todo ou uma jornada
subdividida em um número infinito de segmentos.

Quando temos dois pontos de vista (o do mosquito e o dos amigos),


podemos escolher aquele que é mais fácil de trabalhar. Com o círculo, é mais
fácil pensar nos anéis. É muito bom ter ambas as opções disponíveis.

Aqui vai outro exemplo: você consegue dividir uma torta em três partes
iguais somente cortando-a em quartos?

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Curso Intuitivo de Cálculo

É uma questão estranha..., mas possível! Corte toda a torta em quartos.


Divida 3 pedaços e separe 1. Corte a parte remanescente em quartos
novamente. Divida 3 pedaços e separe 1. Continue repetindo o processo: a
cada passo, todos recebem uma parcela igual e a torta que sobrar será
dividida da mesma forma. Esse plano não manteria uma divisão igualitária
entre 3 pessoas?

Estamos vendo a intuição por trás de infinitos usos das visões de raio X e de
“tempo corrido”: dar um zoom in para tornar o todo em uma sequência
infinita. A princípio, podemos pensar que ao dividir algo em infinitas partes,
em algum momento as partes serão igual a nada. Mas isso não é certo: a reta
numérica pode ser dividida infinitamente, mas sempre existirá um intervalo
finito entre 1,0 e 2,0.

Dois dedos apontando para a mesma Lua


Por que conseguimos entender variações da letra A, mesmo quando
pixeladas?

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Curso Intuitivo de Cálculo

Embora a representação [renderização] seja diferente, vemos a ideia que


está sendo apontada. Todas as três versões, desde aquela com traço suave
até a serrilhada, criam a mesma letra A em nossas cabeças (ou você é incapaz
de ler textos quando escritos com pixels retangulares?). Uma sequência
infinita pode apontar para o mesmo resultado que seria descoberto por nós
se levássemos o todo em consideração de uma vez.

No Cálculo, existem regras detalhadas sobre como encontrar o resultado


para o qual uma sequência infinita está apontando. E existem certas
sequências que não podem ser resolvidas. Mas, a princípio, iremos lidar com
funções que se comportam bem.

Estamos acostumados a saltar entre representações finitas da mesma ideia


(5 = V = |||||). Agora estamos vendo como podemos converter uma
representação finita de uma ideia em outra infinita, similar a

1⁄ = 0,333 ⋯ = 0,3 + 0,03 + 0,003 + ⋯.


3

Quando transformamos um círculo em um “triângulo de anéis”, dissemos


que “o número infinitamente grande de anéis em nosso círculo pode ser
transformado em um número infinitamente grande de faixas, que podem
formar um triângulo. E o triângulo resultante é fácil de medir”.

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Curso Intuitivo de Cálculo

O objetivo de hoje não é se tornar um expert em infinito, mas sim apreciar


intuitivamente uma conclusão prática: uma sequência de infinitas partes
pode ainda ser medida e as conclusões serão as mesmas da análise do todo.
São apenas duas descrições da mesma ideia.

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Curso Intuitivo de Cálculo

10. A Teoria das Derivadas


A última lição mostrou que uma sequência infinita de passos pode levar a
uma conclusão finita. Vamos colocar isso em prática e ver como quebrar uma
mudança em uma função em partes infinitamente pequenas pode apontar
para a quantidade verdadeira.

Analogia: Medindo a frequência cardíaca


Imagine que você é um médico tentando medir a frequência cardíaca de um
paciente enquanto ele se exercita. Você coloca o sujeito na esteira, liga os
eletrodos e o coloca para correr. A máquina cospe 180 batimentos por
minutos. Essa deve ser a sua frequência cardíaca, certo?

Nope. Essa é a sua frequência cardíaca quando observada por médicos e


coberto por eletrodos. Esse cenário não seria estressante? E se os seus
eletrodos do século passado se embolarem todos e prenderem a perna do
paciente enquanto ele corre?

Ah. Nós precisamos que os eletrodos obtenham algumas medições. Mas,


logo após, precisamos remover o efeito dos eletrodos. Por exemplo, se
medimos 180 bpm e sabemos que os eletrodos podem adicionar 5 bpm
como efeito do estresse, saberemos que a frequência cardíaca real era
175 bpm.

A chave é fazer a medição, cientes dos erros presentes, obter a leitura e


corrigi-la como se o instrumento não estivesse ali.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Medindo a derivada
Medir a derivada é como colocar eletrodos em uma função e colocá-la para
correr. Para 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 , prendemos um eletrodo de +1 nela e vemos como
ela reage:

A listra horizontal é o resultado da nossa mudança aplicada ao longo do topo


da figura. A listra vertical é a nossa mudança se movendo pelo lado. E o que
é o canto?

É parte da mudança horizontal interagindo com a mudança vertical! Isto


é um eletrodo se enrolando com seus próprios fios, um artefato de medição
que precisa ser descartado.

Jogando fora os resultados artificiais


Os criadores do Cálculo reconheceram intuitivamente quais componentes da
mudança eram “artificiais” e simplesmente os jogaram fora. Eles viram que o
pedaço na quina era o resultado da nossa medição de teste interagindo com
ela mesma, não podendo ser incluída.

Nos tempos modernos, criamos teorias oficiais sobre como isso é feito:

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Curso Intuitivo de Cálculo

 Limites: fazemos com que o os artefatos de medição fiquem cada vez


menores até que o seu efeito desapareça (não possa ser distinguido de
zero).
 Infinitesimais: criamos um novo tipo de número que nos permite fazer
mudanças infinitamente pequenas em um minúsculo e separado sistema
numérico. Quando trazemos o resultado de volta para nosso sistema
numérico regular, os elementos artificiais são removidos.

Existem matérias inteiras dedicadas a explorar essas teorias. O resultado


prático é perceber como tomar uma medida e jogar fora as partes que não
são mais necessárias.

Aqui está a configuração, descrita com limites:

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Passo Exemplo

Pré-requisito: Escolher uma função


para estudar
𝑓(𝑥) = 𝑥 2

1. Mudar a entrada em d𝑥 , nossa 𝑓(𝑥 + 𝑑𝑥) = (𝑥 + d𝑥)2


mudança de teste = 𝑥 2 + 2𝑥 ⋅ d𝑥
+ (d𝑥)2
2. Encontrar a mudança resultante 𝑓(𝑥 + d𝑥) − 𝑓(𝑥)
na saída, d𝑓 = 2𝑥 ⋅ d𝑥 + (d𝑥)2

3. Encontrar
d𝑓 2𝑥 ⋅ d𝑥 + (d𝑥)
d𝑥 = 2𝑥 + d𝑥
d𝑥
4. Jogar fora os artefatos de d𝑥=0
medição 2𝑥 + d𝑥 ⇒ 2𝑥

d
Wow! Encontramos a derivada oficial para 𝑥 2 por nossa conta:
d𝑥

Agora, algumas notas:

d𝑓
 Por que medimos , e não a mudança atual d𝑓 ? Pense em d𝑓 como
d𝑥
a mudança bruta que aconteceu enquanto dávamos um passo. A razão é
útil porque normaliza comparações, mostrando a nós o quanto a saída
reage com a entrada. Agora, algumas vezes pode ser útil isolar a mudança

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Curso Intuitivo de Cálculo

d𝑓
atual que aconteceu em um intervalo e reescrever = 2𝑥 como
d𝑥
d𝑓 = 2𝑥 ⋅ d𝑥.
 Como definimos d𝑥 como 0? Eu vejo d𝑥 como o tamanho do
instrumento usado para medir a mudança em uma função. Após
realizarmos a medição com o instrumento real (2𝑥 + d𝑥), nós
calculamos qual seria a medição se o instrumento não estivesse lá para
interferir (2𝑥 ).
 Mas 2𝑥 + 1 não é o padrão correto? Os inteiros têm os quadrados 0, 1,
4, 9, 16, 25 que tem o padrão de diferença 1, 3, 5, 7, 9. Uma vez que os
inteiros devem usar um intervalo fixo de 1, usar d𝑥 = 1 e mantê-lo por
aí é uma forma perfeitamente precisa de medir como eles [os quadros
inteiros] mudam. Entretanto, os decimais não têm intervalos fixos, então
2𝑥 é o melhor resultado para o quão rápido está acontecendo a mudança
entre 22 e (2,0000001)2 (exceto substituir (2,0000001) pelo número
imediatamente após 2, seja lá qual ele for).
 Se não há nenhum “+1”, quando o canto fica preenchido? O diagrama
mostra como a área cresce na presença de um instrumento imperfeito,
d𝑥. Não existe nada definido sobre quanta área é adicionada no canto. A
mudança atual de 2𝑥 são as listras na horizontal e vertical. O canto
representa a mudança da listra vertical interferindo com a mudança da
horizontal. É uma área, claro, mas não deve ser adicionada neste passo.

Eu imagino um quadrado que cresce por duas listras, se funde para absorver
a área (formando um quadrado maior), então cresce novamente, então se
funde, e assim vai. O quadrado não se “mantém” tempo suficiente para que
haja interações entre as extensões horizontas e verticais.

Conclusão prática: podemos começar com uma medição sabidamente falha


(𝑓′(𝑥) ∼ 2𝑥 + d𝑥) e deduzir o resultado para o qual ela aponta
(𝑓′(𝑥) = 2𝑥 ). Não precisamos dominar hoje as teorias sobre como jogar
fora d𝑥 . A chave é perceber que há artefatos de medição que podem ser
removidos quando se modela como os padrões mudam.

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Curso Intuitivo de Cálculo

(Você continua confuso com como d𝑥 pode aparecer e desaparecer? Bom. Os


matemáticos demoraram décadas para descobrir como fazer isso. Aqui está uma
discussão aprofundada de como a teoria funciona, mas lembre-se: quando
medir, ignore o efeito do instrumento.)

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11. O Teorema Fundamental do


Cálculo
O Teorema Fundamental do Cálculo é o grande momento do Aha!; é algo que
você já deve ter notado ao longo do curso:

 As visões de raio X e de “tempo corrido” nos permitem ver um padrão


existente como uma sequência acumulada de mudanças;
 Os dois pontos de vistas são opostos: o raio X quebre as coisas em partes
e o “tempo corrido” junta as partes num todo.

Isso pode parecer “óbvio”, mas só é assim porque exploramos vários


exemplos. É realmente óbvio que podemos separar um círculo em anéis para
encontrar a área? O Teorema Fundamental do Cálculo nos relembra
gentilmente que temos algumas maneiras de olhar um padrão (“posso sugerir
o ponto de vista anel por anel? Ele torna as medições mais fáceis, eu acho“).

Parte 1: Atalhos para as integrais definidas


Se derivadas e integrais são opostas, podemos tomar um “atalho” no
processo de acumulação manual envolvido nas integrais definidas.

Por exemplo, o que dá 1 + 3 + 5 + 7 + 9? (Vamos acumular passos


discretos porque eles são mais simples de visualizar).

O modo difícil, usando a integral definida, é dar partida no processo através


da adição. O modo fácil é perceber que o padrão vem de um quadrado
crescente. Sabemos que a última mudança (+9) acontece em 𝑥 = 4, então
construímos um quadrado de 5 × 5. Sendo assim, a soma da sequência
completa é 25:

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Curso Intuitivo de Cálculo

Legal! Se temos o padrão original, temos um atalho para medir o tamanho


dos passos.

O que dizer de uma sequência parcial como 5 + 7 + 9? Bem, basta pegar a


acumulação total e subtrair as partes que estão faltando (neste caso, a parte
faltante 1 + 3 representa um quadrado de 2 × 2).

E, sim, a soma da sequência parcial é: 5 × 5– 2 × 2 = 25– 4 = 21.

Eu espero que essa estratégia tenha dado um click na sua cabeça: nós
evitamos calcular manualmente a integral definida encontrando o padrão
original.

Aqui está a primeira parte do TFC em linguagem sofisticada. Se temos um


padrão de passos e o padrão original, o atalho para a integral definida é:

𝑏
∫ passos(𝑥) d𝑥 = Original(𝑏)– Original(𝑎)
𝑎

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Intuitivamente, eu leio isso como “Somar todas as mudanças de 𝑎 até 𝑏 é o


mesmo que pegar a diferença entre 𝑎 e 𝑏. Formalmente, você verá
𝑓(𝑥) = passos(𝑥) e 𝐹(𝑥) = Original(𝑥), o que eu acho confuso.
Nomeie os passos como passos e o padrão original como o padrão original.

Por que isso é legal? A integral definida é um cálculo mecânico e penoso; já


a integral indefinida é uma fórmula clara, mais fácil de trabalhar. Tome
somente a diferença entre os pontos extremos para saber o resultado
líquido do que acontece no meio! (Isso faz sentido, certo?)

Parte 2: Encontrando a integral indefinida


Ok. A Parte 1 disse que se temos a função original, podemos saltar o cálculo
manual dos passos. Mas como encontramos a função original?

TFC Parte 2 ao resgate!

Vamos considerar que existe alguma função original (desconhecida no


momento) que rastreia a acumulação:

𝑏
Acumulação(𝑥) = ∫ passos(𝑥) d𝑥
𝑎

O TFC diz que a derivada dessa função mágica será os passos que teremos:

Acumulação′(𝑥) = passos(𝑥)

Agora podemos trabalhar de trás para frente. Se podemos achar alguma


função aleatória, tomar sua derivada e notar que ela bate com os passos que
nós temos, então podemos usar essa função como nossa função original!

Ignore o processo doloroso de pensar sobre qual função poderia substituir


os passos que temos. Pegue um monte delas, quebre-as (com raio X) e veja

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Curso Intuitivo de Cálculo

quais batem com o padrão. É a nossa analogia do vaso, lembra-se? A TFC nos
dá “permissão oficial” para trabalhar de trás para frente. Na minha cabeça,
eu penso: “O próximo passo na acumulação total é a nossa quantidade atual!
Por isso a derivada da acumulação coincide com os passos que temos”.

Tecnicamente, a função cuja derivada é igual ao passo atual é chamada a


antiderivada (uma antiderivada de 2 é 2𝑥 ; outra é 2𝑥
+ 10). A TFC nos disse
que qualquer antiderivada será o padrão original (+𝐶, claro).

Isto é surpreendente — é como dizer que todo mundo irá se comportar como
Bill Cosby é Bill Cosby. Mas no Cálculo, se uma função tem passos que
coincidem com os passos que estamos procurando, ela é a fonte original.

A conclusão prática é que integração e diferenciação são operações


opostas. Você tem um padrão de passos? Integre para obter a função
original. Tem a função original? Derive para obter o padrão de passos. Vá
para trás e para frente quantas vezes for preciso.

Próximos Passos
Fiu! Esta foi uma lição de teoria pesada. Espero que tenha sido o suficiente
para fazer as conexões darem um clique. Estou mais interessado em
desenvolver a compreensão metafórica e deixar as provas detalhadas para
outro momento. Não é preciso recitar a receita antes de provar a comida.

Os insights chave de:

 Infinito: um resultado finito pode ser visto como uma sequência de


infinitos passos;
 Derivadas: Podemos tomar uma medida sabidamente falha e
transformá-la no resultado ideal;

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Curso Intuitivo de Cálculo

 Teorema Fundamental do Cálculo: podemos usar a função original


como um atalho para rastrear os passos intermediários.

Nas lições a seguir, iremos trabalhar em algumas regras e aplicações


famosas do Cálculo. O objetivo último será descobrir, nós mesmos, como
fazer isto acontecer:

Temos uma compreensão intuitiva de que a sequência acima é possível. No


final, você será capaz de tocar a música por conta própria.

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Curso Intuitivo de Cálculo

12. A Aritmética Básica do Cálculo


Você se lembra de quando estudou Aritmética? Após ter visto como
multiplicar números pequenos, aprendemos como multiplicar números com
vários dígitos:

13 × 15 = (10 + 3)(10 + 5) = 100 + 30 + 50 + 15

Não podemos simplesmente combinar os primeiros dígitos (10 × 10) e os


segundos (3 × 5) e falar que está tudo certo. Temos que caminhar através
da multiplicação cruzada.

O Cálculo é similar. Se nós temos a função toda, podemos dizer, bem


animados, que 𝑓(𝑥) tem a derivada 𝑓′(𝑥). Mas isso não ajuda muito ou
explica o que acontece nos bastidores.

Se conseguirmos descrever nossa função em termos de um bloco


construtivo 𝑥 (como em 𝑓(𝑥) = 3𝑥 2 + 𝑥), então seremos capazes de
encontrar a derivada, o padrão de mudanças, em termos do mesmo bloco
construtivo. Se temos dois tipos de blocos construtivos (𝑓 = 𝑎 ⋅ 𝑏),
obteremos a derivada em termos desses dois blocos.

Aqui está a estratégia geral:

 Imagine um cenário com poucos blocos construtivos


(área = comprimento ⋅ largura);
 Deixe cada componente variar;
 Meça a mudança no sistema como um todo;
 Remova os artefatos de medição (nossos instrumentos interferindo um
nos outros).

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Curso Intuitivo de Cálculo

Uma vez que nós saibamos como os sistemas se dividem, poderemos utilizar
a engenharia reversa para obter a integral (graças ao TFC!).

Adição
Vamos começar pelo mais fácil: como se comporta um sistema com dois
componentes somados?

No mundo real, isso equivaleria a pedir a dois amigos (Francisco e o Gustavo)


para construir uma cerca. Vamos dizer que o Francisco irá pagar pela
madeira e o Gustavo pela tinta. Qual o gasto total?

total = gasto do Francisco + gasto do Gustavo

𝑡(𝑥) = 𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥)

d𝑡
A derivada do sistema completo, , é o custo de um metro adicional de
d𝑥
cerca. Intuitivamente, suspeitamos que o aumento total é igual à soma do
aumento nas partes:
d𝑡 d𝑓 d𝑔
= +
d𝑥 d𝑥 d𝑥

Essa relação faz sentindo, certo? Vamos dizer que os gastos de Francisco são
de R$ 3,00/metro de madeira e os de Gustavo de R$ 0,50/metro para a tinta.
Se pedirmos um metro adicional, o custo total aumentará em R$ 3,50.

Aqui vai a matemática para o resultado:

 Original: 𝑓
+ 𝑔;
 Novo: (𝑓 + d𝑓) + (𝑔 + d𝑔);
 Mudança: (𝑓 + d𝑓) + (𝑔 + d𝑔) − (𝑓 + 𝑔) = d𝑓 + d𝑔.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Na minha cabeça, eu imagino 𝑥 , a quantidade que você solicitou, mudando


silenciosamente em um canto. Isto cria uma mudança visível em 𝑓 (tamanho
d𝑓) e em 𝑔 (tamanho d𝑔), e vemos a mudança total como d𝑓 + d𝑔.

Parece que devemos apenas combinar o total de uma vez, escrevendo


total = 3,5𝑥 e não total = 𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) = 3𝑥 + 0,5𝑥. Normalmente,
nós simplificaríamos uma equação, mas algumas vezes é útil listar cada
contribuição (total = produto + entrega + taxas). No nosso caso, vemos que a
maioria do aumento nos gastos está sob responsabilidade de Francisco
(custo da madeira).

Lembrando que a derivada é a taxa “por d𝑥 “, escrevemos:

d d𝑓 d𝑔
[𝑓 (𝑥) + 𝑔(𝑥)] = +
d𝑥 d𝑥 d𝑥

Mas olhe essa notação gigante! Vamos fazer uns cortes:

 Escreva 𝑓 em vez de 𝑓(𝑥). Iremos assumir que uma única letra


representa a função completa e que pelo “Terceiro Decreto dos Grandes
Mitos da Matemática”, nossas funções irão usar um parâmetro 𝑥 ;
 Expressaremos a derivada usando uma notação simples (𝑓′), e não a
d𝑓⁄
razão (
d𝑥). Estamos mais interessados na relação entre as partes

(adição), não nos detalhes complicados de cada parte.

Então agora a regra para a adição se torna:

(𝑓 + 𝑔)′ = 𝑓′ + 𝑔′

Muito melhor! Eu leio essa regra assim: divida um sistema em diversas


partes: (𝑓 + 𝑔). A mudança no sistema como um todo (𝑓 + 𝑔)′ pode ser
encontrada somando a mudança em cada parte.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Multiplicação
Vamos tentar um cenário mais desafiador. Em vez de somar as entradas
(praticamente alheias umas às outras), o que acontece quando as entradas
são multiplicadas?

Suponhamos que Francisco e Gustavo estão preparando um jardim


retangular para você. Francisco é responsável pela largura e Gustavo pela
altura do jardim. Toda vez que você dá uma ordem, eles se movem..., mas
em quantidades diferentes!

O trator de Francisco se move 3 metros a cada ordem sua, mas o de Gustavo


apenas 2 metros. Como podemos descrever o sistema?

área = largura ⋅ altura = 𝑓(𝑥) ⋅ 𝑔(𝑥)

𝑓(𝑥) = 3𝑥

𝑔(𝑥) = 2𝑥

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Curso Intuitivo de Cálculo

Temos partes lineares, então as derivadas são simples: 𝑓′(𝑥) = 3 e


𝑔′(𝑥) = 2. O que acontece na próxima ordem sua?

Parece familiar! Temos uma listra horizontal, outra vertical e um pedaço na


ponta. Podemos calcular as áreas com Álgebra:

 Original: 𝑓 ⋅ 𝑔;
 Nova: (𝑓 + d𝑓) ⋅ (𝑔 + d𝑔) = (𝑓 ⋅ 𝑔) + (𝑓 ⋅ d𝑔) + (𝑔 ⋅ d𝑓) + (d𝑓 ⋅ d𝑔);
 Mudança: 𝑓 ⋅ 𝑔 + 𝑔 ⋅ d𝑓 + d𝑓 ⋅ d𝑔.

Vamos olhar essa mudança mais de perto:

 A listra horizontal apareceu quando 𝑓 mudou (de d𝑓) e 𝑔 tinha o mesmo


valor;
 A listra vertical foi feita quando 𝑔 mudou (de 𝑑𝑔 ) e 𝑓 manteve o mesmo
valor;
 O pedaço da ponta (d𝑓 ⋅ d𝑔) aparece quando a mudança em uma
componente (d𝑓 ) interagiu com a outra (d𝑔).

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Curso Intuitivo de Cálculo

O pedaço da ponta é a nossa amostra de medição se embolando com ela


mesma; ela deve ser removida (se fossemos forçados a nos mover em
valores inteiros, então essa quina seria válida. Mas a maioria dos sistemas
do mundo real podem mudar continuamente, de qualquer valor decimal, e
nós queremos remover os artefatos de medição).

Para encontrar a mudança total, deixamos de lado o termo d𝑓 ⋅ d𝑔


(interferência entre as mudanças) e obtemos:

𝑓 ⋅ d𝑔 + 𝑔 ⋅ d𝑓

Eu não vou deixar você se esquecer que a derivada se constrói sobre uma
base “por d𝑥 “, então escrevemos:

mudança total d𝑔 d𝑓𝑥


=𝑓 +𝑔
d𝑥 d𝑥 d𝑥

(𝑓 ⋅ 𝑔)′ = 𝑓 ⋅ 𝑔′ + 𝑔 ⋅ 𝑓′

Existe um “𝑥 ” implícito mudando com a distância, e que move 𝑓 e 𝑔.


Omitimos esses detalhes para tornar a notação mais simples.

Em português: tome um cenário com partes multiplicadas. À medida que elas


mudam, e continuam a ser multiplicadas, some as novas listras horizontais e
verticais que são formadas.

Vamos testar a regra: se temos um jardim de 12 × 8 e incrementamos um


passo completo, qual mudança iremos ver?

Neste caso, iremos utilizar a versão discreta da regra, uma vez que fomos
forçados a nos mover um passo inteiro:

 Listra vertical: 𝑓 ⋅ d𝑔 = 12 ⋅ 2 = 24;

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 Listra horizontal: 𝑔
⋅ d𝑓 = 8 ⋅ 3 = 24;
 Pedaço na ponta: d𝑓 ⋅ d𝑔 = 3 ⋅ 2 = 6;
 Mudança total: 24 + 24 + 6 = 54.

Vamos testar. Vamos de um jardim de 12 × 8 (96 metros quadrados) para


15 × 10 (150 metros quadrados). E sim, o aumento da área foi de
150 – 96 = 54 metros quadrados!

Divisão Simples (Inversão)


Inversos podem ser difíceis de visualizar: à medida que 𝑥 cresce, 1⁄
𝑥
diminui. Vamos devagar.

Suponhamos que você está dividindo uma torta com o Francisco. Você
acabou de cortar a torta na metade e está pronto para dar uma mordida
quando… Gustavo dá as caras. Ele parece chateado, e você não está disposto
a mencionar o que você e Francisco estavam quase fazendo.

Mas se você acabou de cortar a torta pela metade, o que você pode fazer?

Cortá-la de novo. Você e Francisco podem cortar as suas partes em terços e


dar a Gustavo um pedaço cada um:

Legal! Agora cada um tem 1/3 do total. Você abriu mão de 1/3 da sua
quantidade original (que era 1/2), isso é, você deu a Gustavo 1/6 do total.

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Hora de comer! Mas quando você estava a ponto de dar uma mordida… o
seu vizinho aparece. Ah, com certeza ele vai querer um pedaço. O que você
vai fazer?

Cortá-la de novo. Todo mundo divide suas partes, cortando em quatros e


entregam um pedaço para o pai vegano. A torta é cortada igualmente de
novo.

Esse é o pensamento passo a passo aplicado à divisão:

 Sua parcela original é 1⁄𝑥 (quando 𝑥 = 2, você tem 1⁄2);


 Alguém entra na cozinha;
Sua nova parcela se torna 1⁄

𝑥 + 1.

De quanto muda sua quantidade de torta? Bem, você pegou a sua parcela
original (1⁄𝑥 ), a cortou no número novo de pedaços (1⁄
𝑥 + 1) e deu um

deles para outra pessoa (a mudança é negativa):

1 −1 −1
⋅ =

𝑥 ⏟
𝑥+1 𝑥(𝑥 + 1)

original fatia da nova divisão mudança

Podemos supor, provavelmente, que o +1 é um artefato de medição porque


forçamos uma mudança inteira em 𝑥. Se chamarmos a mudança de teste
d𝑥, podemos encontrar a diferença entre a quantidade nova (1⁄𝑥 + 1) e a
original (1⁄𝑥 ):

1 1 𝑥 𝑥 + d𝑥 −d𝑥
− = − =
𝑥 + d𝑥 𝑥 𝑥(𝑥 + d𝑥) 𝑥(𝑥 + d𝑥) 𝑥(𝑥 + d𝑥)

Após encontrar a mudança total (e sua Álgebra chata), podemos dividir por
d𝑥 para obter a mudança na base “por d𝑥 “:

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Curso Intuitivo de Cálculo

−1
𝑥(𝑥 + d𝑥)

Agora removemos a sobra d𝑥 , o artefato de medição:

1 −1
= 2
𝑥(𝑥 + 0) 𝑥

Fiu! Encontramos como uma divisão por 1x muda quando mais pessoas são
acrescentadas.

Vamos tentar essa função: Você está dividindo uma conta de R$ 1.000,00
entre 5 pessoas. Uma sexta pessoa entra na divisão; quanto dinheiro você
irá economizar?

Você irá economizar 1/5 · 1/6 = 1/30 do custo total (divida sua parcela
em 6 pedaços, dê ao novo envolvido uma parte para pagar). Isso
corresponde a 3%, ou R$ 30,00. Nada mal para um cálculo rápido!

Vamos trabalhar de trás para frente: quão grande é o seu grupo quando você
está economizando R$ 100,00 por pessoa? Bem, R$ 100,00 é igual a 1/10 do
total. Uma vez que 1⁄ 2 ∼ 1⁄10, chegaremos a taxa de economia desejada
3
aproximadamente em 𝑥 = 3 pessoas.

E, sim, ir de 3 para 4 pessoas significa que a parcela de cada um vai de


R$ 333,33 para R$ 250,00 — aproximadamente R$ 100,00. Nada mal! (Se
fosse possível somar pessoas em frações, poderíamos alcançar o número
exato).

Questões
Não conversamos explicitamente sobre escalar uma função por uma
constante, como encontrar a derivada de 𝑓(𝑥) = 3𝑥. Você consegue utilizar

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a regra do produto para descobrir como ela se aplica nesse caso?


(Dica: imagine um retângulo com um lado fixo de 3 metros e outro de 𝑥
metros).

Agora, e a regra da adição? Como 𝑓(𝑥) = 𝑥 + 𝑥 + 𝑥 se comporta?

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13. Padrões nas Regras


Revelamos algumas das primeiras regras do Cálculo:

(𝑓 + 𝑔)′ = 𝑓′ + 𝑔′

(𝑓 ⋅ 𝑔)′ = 𝑓 ⋅ 𝑔′ + 𝑔 ⋅ 𝑓′

1 −1
( )′ = 2
𝑥 𝑥

Em vez de metralhar mais regras, vamos dar um passo para trás. Tem algum
padrão aí?

Combinando perspectivas
Imagine uma função como um negócio com departamentos que interagem
entre si ou uma máquina com partes interconectadas. O que acontece
quando fazemos uma mudança?

Se nosso negócio tem 4 departamentos, existem 4 perspectivas para se levar


em conta. Soa extremamente simples quando escrito: considere as
mudanças vindas de cada parte!

Independentemente da interação específica entre as partes F e G (adição,


subtração, multiplicação, expoentes…), só temos duas perspectivas a serem
consideradas:

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Curso Intuitivo de Cálculo

Aha! É por isso que as regras para (𝑓 + 𝑔)′ e (𝑓 ⋅ 𝑔)′ são duas perspectivas
somadas separadamente. A derivada de 1x tem uma perspectiva porque só
existe uma “parte móvel”, 𝑥 . (Se você preferir, existe uma contribuição de “1”
sobre a mudança que a variável sofre, isto é, nenhuma contribuição. Não
importa o quanto você grite, 1 continua sendo 1).

A contribuição exata de uma perspectiva depende da interação:

 Na adição, cada parte soma uma mudança direta (d𝑓 + d𝑔);


 Na multiplicação, cada parte acha que irá adicionar uma listra retangular
(𝑓 ⋅ d𝑔 + 𝑔 ⋅ d𝑓). (Estou usando d𝑓 em vez de 𝑓′ para nos ajudar a
pensar sobre a fatia sendo adicionada.)

Você pode até esquecer a forma exata da regra da multiplicação. Mas você
pode pensar “a derivada de 𝑓 ⋅ 𝑔 deve ser algo com d𝑓 mais alguma coisa
com d𝑔”.

Vamos além: o que dizer da derivada de 𝑎 ⋅ 𝑏 + 𝑐? Você está certo,


3 perspectivas devem ser consideradas: alguma coisa envolvendo d𝑎 mais
alguma coisa envolvendo d𝑏 mais alguma coisa envolvendo d𝑐.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Podemos prever o formato das derivadas para equações retorcidas. Qual a


derivada de:

𝑥 𝑦 ⋅ 𝑢𝑣

Wow. Eu não consigo dar a resposta certa de bate pronto, mas ela será
alguma coisa envolvendo 4 adições d𝑥, d𝑦, d𝑢 e d𝑣). Tente adivinhar o
formato de uma derivada, mesmo se você não souber a descrição exata.

Por que isso funciona? Bem, suponhamos que tivemos uma mudança que
foi influenciada tanto por d𝑎 quanto por d𝑏, como em 15 ⋅ d𝑎 ⋅ d𝑏 — isso
seria nosso instrumento interferindo com ele mesmo!

Somente mudanças diretas em uma única variável são consideradas (como


3d𝑎 ou 12d𝑏); “mudanças nas mudanças” como 15 ⋅ d𝑎 ⋅ d𝑏 são
ignoradas.

Intuição dimensional
Lembre-se de que as derivadas são uma forma mais sofisticada de divisão.
O que acontece quando fazemos uma divisão como 𝑥 3⁄ ? Dividimos o
𝑥
volume pelo comprimento e obtemos a área (uma dimensão a menos).

d
O que acontece quando fazemos 𝑥 3? Você pode não saber ainda, mas
d𝑥
pode apostar que iremos dispensar uma dimensão.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Dimensões Exemplo Descrição

3 𝑥3 Volume (crescimento cúbico)

2 𝑥2 Área (crescimento quadrático)

1 𝑥 Comprimento (crescimento linear)

0 𝑐 Constante (sem mudança)

1
-1 Comprimento inverso ("por comprimento")
𝑥
1
-2 Área inversa ("por área")
𝑥2
1
-3 Volume inverso ("por volume")
𝑥3

Quando dividimos ou tomamos a derivada, dispensamos uma dimensão e a


jogamos debaixo do tapete. O volume é construído da área (fatias de
espessura d𝑥 ), a área é construída do comprimento (d𝑥 de extensão).

Um valor constante, como 3, não tem dimensão no seguinte senso: ele nunca
produz um conjunto de fatias. Nunca haverá um salto para o próximo valor.
Uma vez que tenhamos um valor constante, ficamos “presos” na mesa
porque o padrão 0 sempre produzirá outro padrão 0 (volume para área para
retas para constante para zero para zero…)

Podemos ter dimensões negativas também: “por comprimento”, “por área”,


“por volume”, etc. As derivadas continuam a diminuir a dimensão, então
quando vemos 1⁄𝑥 , sabemos que a derivada se assemelhará a 1⁄ 2 , pois a
𝑥
dimensão cai um nível.

Uma advertência importante: o Cálculo se preocupa apenas com as


quantidades, não com as dimensões. As equações irão combinar
alegremente 𝑥 e 𝑥 2, embora saibamos que não podemos misturar

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Curso Intuitivo de Cálculo

comprimento com área. As unidades adicionam um nível de sentido que vem


de fora da equação, ajudando a manter as coisas organizadas e nos avisando
se fizermos algo errado (se você diferenciar a área e obter um volume, você
sabe que algo correu mal).

Pensando com dimensões


Você pode pensar sobre a dimensão de uma derivada sem se aprofundar em
uma fórmula específica. No anúncio do curso, tínhamos o seguinte cenário:

 Pegue um barbante e o enrole firmemente ao redor de uma moeda.


Pegue outro barbante e o enrole firmemente ao redor do planeta Terra;
 Alongue ambos os barbantes, acrescentando mais nas suas pontas, de
forma que haja um espaço vazio de uma polegada ao redor da moeda e
da Terra (como ter um anel flutuando ao redor de Saturno);
 Quiz: em qual cenário foi preciso criar mais barbante? É preciso de mais
barbante para colocar uma polegada ao redor de uma moeda ou ao
redor da Terra?

Podemos mastigar uma fórmula, mas pense em um nível superior. Porque a


circunferência é uma linha 1-d, sua reação à mudança será uma constante.
Independentemente do tamanho atual, a circunferência irá mudar da
mesma quantidade a cada impulso. Então, a quantidade extra de barbante
será a mesma em ambos os casos (aproximadamente 6,28 polegadas por
aumento de uma polegada no raio).

Agora, suponhamos estar pintando uma esfera em vez de colocar um


barbante ao redor dela. Ah, bem, a área é quadrática, portanto, a derivada
tem uma dimensão a menos (linear). Se temos uma esfera de 50 polegadas
e outra de 100 polegadas e as fazemos 1 polegada maior, a esfera maior irá
requerer aproximadamente o dobro de tinta extra.

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Questões
Vamos pensar sobre a derivada de 𝑥 3 , um cubo crescente.

1) Qual dimensão deve ter a derivada de 𝑥 3 ?

2) Quantos pontos de vista deve envolver 𝑥 3 = 𝑥 ∙ 𝑥 ∙ 𝑥?

3) Você tem um palpite para a derivada? Ele se encaixa com o modo como
você imagina o cubo crescendo?

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14. A Aritmética Sofisticada do


Cálculo
As regras que temos até o momento são:

(𝑓 + 𝑔)′ = 𝑓′ + 𝑔′

(𝑓 ⋅ 𝑔)′ = 𝑓 ⋅ 𝑔′ + 𝑔 ⋅ 𝑓′

1 ′ 1
( ) =− 2
𝑥 𝑥

Vamos somar mais algumas a nossa coleção.

Regra da Potência
d
Nós calculamos que 𝑥 2 = 2𝑥:
d𝑥

Podemos visualizar a mudança e ignorar o pedaço artificial do canto. Mas,


como visualizar 𝑥 3 ?

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Curso Intuitivo de Cálculo

O processo é similar. Podemos colar uma placa em cada lado para expandir
o cubo. As “calhas” que está faltando representam os artefatos, onde nossas
novas placas iriam interagir umas com as outras.

Eu tenho que me lembrar sempre: as “calhas” não são reais! Elas


representam o crescimento que não acontece neste passo. Após o nosso
crescimento, “derretemos” o cubo na sua nova área total e crescemos de
novo. Considerar as “calhas” iria sobrestimar o crescimento que ocorreu
neste passo. (Agora, se somos forçados a crescer de quantidades inteiras,
então as “calhas” são necessárias — mas com decimais infinitamente
divisíveis, podemos mudar suavemente).

Do diagrama, podemos supor:

d 3
𝑥 = 3𝑥 2
d𝑥

E está certo! Tínhamos que visualizar o resultado. Abstrações como a Álgebra


nos permitem ligar com cenários os quais não podemos visualizar, como
uma forma de 10 dimensões. Figuras geométricas são legais, um ponto de
partida visual, mas temos que nos mover além delas.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Podemos começar analisando um cubo usando Álgebra como esta:

(𝑥 + d𝑥)3 = (𝑥 + d𝑥)(𝑥 + d𝑥)(𝑥 + d𝑥)


= [𝑥 2 + 2𝑥 ⋅ d𝑥 + (d𝑥)2 ](𝑥 + d𝑥) = ⋯

Eca. O número de termos está se tornando pavoroso, rápido. E se


quiséssemos a décima potência? Claro, existem atalhos na Álgebra, mas
vamos pensar sobre problema holisticamente.

Nosso cubo 𝑥 3 = 𝑥 ⋅ 𝑥 ⋅ 𝑥 tem 3 componentes: os lados. Chame-os de 𝑎, 𝑏


e 𝑐 para mantê-los em ordem. Intuitivamente, sabemos que a mudança total
tem uma contribuição advinda de cada lado:

Agora, com qual mudança cada lado pensa que está contribuindo?

 𝑎 pensa: Minha mudança (d𝑎) é combinada com os outros lados, imóveis,


(𝑏 ⋅ 𝑐) para obter d𝑎 ⋅ 𝑏 ⋅ 𝑐 ;
 𝑏 pensa: Minha mudança (d𝑏) é combinada com os outros lados para
obter d𝑏 ⋅ 𝑎 ⋅ 𝑐 ;
 𝑐 pensa: Minha mudança (d𝑐) é combinada com os outros lados para
obter d𝑐 ⋅ 𝑎 ⋅ 𝑏.

Cada lado pensa separadamente, e não há uma “conversa casual” entre d𝑎,
d𝑏 e d𝑐 (tal conversa resulta nas “calhas”, que queremos ignorar). A
mudança total é:

Mudanças de A + Mudanças de B + Mudanças de C


= (d𝑎 ⋅ 𝑏 ⋅ 𝑐) + (d𝑏 ⋅ 𝑎 ⋅ 𝑐) + (d𝑐 ⋅ 𝑎 ⋅ 𝑏)

Vamos escrever em termos de 𝑥, a variável original. Cada lado é idêntico,


(𝑎 = 𝑏 = 𝑐 = 𝑥) e as mudanças são as mesmas (d𝑎 = d𝑏 = d𝑐 = d𝑥),
então obtemos:

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Curso Intuitivo de Cálculo

(d𝑥 ⋅ 𝑥 ⋅ 𝑥) + (d𝑥 ⋅ 𝑥 ⋅ 𝑥) + (d𝑥 ⋅ 𝑥 ⋅ 𝑥) = 𝑥 2 ⋅ 𝑑𝑥 + 𝑥 2 ⋅ d𝑥 + 𝑥 2 ⋅ d𝑥


= 3𝑥 2 ⋅ 𝑖𝑥

Convertendo isso para uma razão “por d𝑥 “, temos:

d 3
𝑥 = 3𝑥 2
d𝑥

Legal! Agora, a estratégia de memorização “zumbi” é pensar: “jogue o


expoente original para frente da variável e diminua o expoente em um”. Isso
não é aprender!

Pense assim:

 𝑥 3 tem três perspectivas idênticas;


 Quando o sistema muda, todas as 3 perspectivas contribuem igualmente.
Portanto, a derivada será 3 ⋅ algumacoisa;
 O “alguma coisa” é a mudança em um lado (d𝑥 ) multiplicada pelos lados
remanescentes (𝑥 ⋅ 𝑥 ). O lado que muda vai de 𝑥 para d𝑥 e o expoente
diminui de um.

Podemos raciocinar através da regra! Por exemplo, qual a derivada de 𝑥 5 ?

Bem, são 5 perspectivas idênticas. (5 ⋅ alguma coisa). Cada perspectiva


pensa: “sou eu mudando (d𝑥 ) e os outros 4 caras ficando na mesma”
(𝑥 ⋅ 𝑥 ⋅ 𝑥 ⋅ 𝑥 = 𝑥 4 ). Então, a perspectiva combinada é 5𝑥 4 .

A regra geral da potência:

d
𝑥𝑛 = 𝑛𝑥 𝑛−1
d𝑥

Podemos agora memorizar o atalho: “traga o expoente para baixo e


subtraia”, do mesmo modo como sabemos que colocar um 0 após um

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Curso Intuitivo de Cálculo

número o multiplica por 10. Atalhos são legais quando você sabe por que
eles funcionam!

Integral de Potências
Vamos tentar integrar uma potência, fazendo a engenharia reversa em um
conjunto de mudanças no modelo original.

Imagine um canteiro de obras. Dia 1, eles compram três tábuas de madeira


de 1 × 1. Próximo dia, eles compram três tábuas de madeiras de 2 × 2.
Depois três de 3 × 3. E então três de 4 × 4. O que eles estão construindo?

Meu palpite é um cubo. Eles estão construindo uma casca, camada por
camada, e talvez estão usando cola de madeira entre as “calhas” para juntá-
las.

De forma similar, se vemos uma série de mudanças como 3𝑥 2 , podemos


visualizar as placas sendo montadas para construir um cubo:

∫ 3𝑥 2 = 𝑥 3

Ok — pegamos o resultado anterior e trabalhamos de trás para frente. Mas


o que dizer sobre a integral da função mais simples: x2? Bem, basta imaginar
que a mudança chegando é dividida em 3 partes:

2
𝑥2 𝑥2 𝑥2 1 2
𝑥 = + + = 3𝑥
3 3 3 3

Ah! Agora temos 3 pratos (cada um com 1/3 do tamanho original) e podemos
integrar um cubo menor. Imagine o “material” chegando ao canteiro de obras
para construir os lados está sendo divido em três pilhas:

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Curso Intuitivo de Cálculo

1 1 1
∫ 𝑥 2 = ∫ 3𝑥 2 = ∫ 3𝑥 2 = 𝑥 3
3 3 3

Se temos três pilhas de tamanho 𝑥 2 , podemos fazer um cubo de tamanho


completo. Caso contrário, construímos cubos com 1/3 do tamanho completo.

A regra geral da integração é:

1
∫ 𝑥𝑛 = 𝑥 𝑛+1
𝑛+1

Após alguma prática, você irá fazer a divisão automaticamente. Mas agora
você sabe por que ela foi necessária: temos que cortar o “material de
mudança” entre vários lados (vamos construir um quadrado? Divida a
mudança entre 2 lados. Construir um cubo? Divida entre 3 lados. Construir
um hipercubo 4D? Me convide.)

A Regra do Quociente
Vimos que a derivada de um inverso (uma “divisão simples”) é:

d 1 1
=− 2
d𝑥 𝑥 𝑥

Você se lembra da metáfora da torta? Cortamos uma porção existente (1⁄𝑥 )


em 𝑥 fatias, e demos uma delas.

𝑓⁄
Como podemos agora encontrar a derivada de 𝑔? Uma componente do
sistema está tentando crescer, enquanto a outra divide. Quem ganha?

Abstração para o resgate. Quando encontramos a derivada de 𝑥3,


imaginamos a função como 𝑥 3 = 𝑎 ⋅ 𝑏 ⋅ 𝑐, o que ajudou a simplificar as
interações. Em vez de considerarmos uma confusão de xis sendo
multiplicados, optamos por lidar apenas com 3 três perspectivas distintas.

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Curso Intuitivo de Cálculo

𝑓⁄
De forma similar, podemos reescrever 𝑔 como duas perspectivas:

𝑓⁄
𝑔 =𝑎⋅𝑏

Sabemos que 𝑎=𝑓 e 𝑏 = 1⁄𝑔. Dessa visão do lado de fora, a função se


parece com um cenário padrão, retangular para a regra do produto:

(𝑎 ⋅ 𝑏)′ = d𝑎 ⋅ 𝑏 + d𝑏 ⋅ 𝑎

É nosso pequeno segredo que 𝑏 é na verdade 1⁄𝑔, que se comporta como

uma divisão. Mas nós queremos somente pensar sobre a figura geral de
como o retângulo muda.

Agora, já que 𝑎 é somente um outro nome para 𝑓, podemos mudar


d𝑎 = d𝑓. Mas como mudar 𝑏? Bem, temos:

1
𝑏=
𝑔

d𝑏 1
=− 2
d𝑔 𝑔

1
d𝑏 = − d𝑔
𝑔2

Ah! Esse é o nosso corte na torta. À medida que 𝑔 cresce, perdemos


𝑑𝑏 = − 1⁄𝑔2 d𝑔 do lado 𝑏. O impacto total é:

1 −1
(𝑎 ⋅ 𝑏)′ = (d𝑎 ⋅ 𝑏) + (d𝑏 ⋅ 𝑎) = (d𝑓 ⋅ ) + ( 2 d𝑔 ⋅ 𝑓)
𝑔 𝑔

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Curso Intuitivo de Cálculo

Essa fórmula começou com a regra do produto e depois as ligamos aos seus
valores reais. Poderíamos também colocar 𝑓 e 𝑔 de volta em (𝑎 ⋅ 𝑏)′, para
obter a regra do quociente (ou regra da divisão):

𝑓 1 −1
( )′ = (d𝑓 ⋅ ) + ( 2 d𝑔 ⋅ 𝑓)
𝑔 𝑔 𝑔

Muitos livros-texto rearranjam essa relação desta forma:

1 −1 𝑔 ⋅ d𝑓 𝑓 ⋅ d𝑔 𝑔 ⋅ d𝑓 − 𝑓 ⋅ d𝑔
(d𝑓 ⋅ ) + ( 2 d𝑔 ⋅ 𝑓) = − =
𝑔 𝑔 𝑔2 𝑔2 𝑔2

E eu não gosto dela, de jeito nenhum! Essa versão de forma alguma lembra
o seu antepassado, a regra do produto.

Na prática, a regra do quociente é uma tortura projetada para testar sua


capacidade de memorização; eu raramente me lembro dela. Só penso em
𝑓⁄ 1
𝑔 como 𝑓 ⋅ ⁄𝑔 e uso a regra do produto como fizemos antes.

Questões
Vamos fazer algum aquecimento para testar nossas habilidades. Você
consegue resolver essas encrencas?

d 4
𝑥 =?
d𝑥

d
3𝑥 5 =?
d𝑥

(Você pode conferir as respostas com o Wolfram Alpha, como em d/dx x^4.)

Novamente, não se perca nos símbolos. Pense: “eu tenho 𝑥 4 — qual padrão
de mudanças irei ver se eu aumentar o valor de 𝑥 ?”

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Curso Intuitivo de Cálculo

Ok! Que tal trabalhar de trás para frente, resolvendo algumas integrais?

∫ 2𝑥 2 =?

∫ 𝑥 3 =?

Pergunte-se: “qual modelo original criaria passos com o padrão 2𝑥 2 ?”

Tentativa e erro está ok! Tente uma fórmula, teste-a, e faça os ajustes
necessários. Pessoalmente, eu gosto de colocar o 2 de lado e só me
preocupar com a integral de 𝑥 2 :

∫ 2𝑥 2 = 2 ∫ 𝑥 2 =?

Como você saberá se está certo? Tome a derivada — você é o vendedor do


antiquário! Eu lhe trago um padrão de cacos (2𝑥 2 ) e você precisa me dizer
de qual vaso eles vieram. Uma vez que você tiver o seu palpite, quebre o vaso
na sala dos fundos e se assegure que você conseguiu 2𝑥 2 de volta. Então
você ficará confiante com sua resposta.

Estamos nos preparando para trabalhar nós mesmos nas equações do


círculo e recriar os resultados encontrados por Arquimedes, um dos maiores
matemáticos de todos os tempos.

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Curso Intuitivo de Cálculo

15. Descobrindo as Fórmulas de


Arquimedes
Nas lições precedentes, revelamos algumas relações do Cálculo, a
“aritmética” de como os sistemas mudam:

Como essas regras nos ajudam?

 Se temos uma equação, as regras são um atalho para encontrarmos o


padrão passo a passo. Em vez de visualizar um quadrado ou cubo
crescente, a regra da potência nos permite acelerar os cálculos das
derivadas de 𝑥2 e 𝑥3. Se 𝑥2 vem mesmo de um quadrado ou de
elementos multiplicados, não importa — vamos conseguir obter o padrão
de mudanças.
 Se temos um conjunto de mudanças, as regras nos ajudam a fazer a
engenharia reversa para encontrar o padrão original. Obter mudanças
como 2𝑥 ou 14𝑥 é uma dica que alguma coisa ⋅ 𝑥 2 era o modelo
original.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Aprender a “pensar com o Cálculo” significa fazer uso das visões de raio X e
de “tempo corrido” para imaginar mudanças ocorrendo e usar as regras para
calcular as especificidades. Ao final, podemos acabar não visualizando nada
e só trabalhar com os símbolos diretamente (como você provavelmente faz
com a Aritmética atualmente).

No começo do curso, transformamos um anel em um círculo, então em uma


esfera e depois em uma casca:

Com as regras oficiais em mãos, podemos passar de vento em popa pelos


cálculos e encontrar as fórmulas do círculo/esfera por nossa própria conta.
Pode soar estranho, mas as fórmulas parecem diferentes para mim — quase
vivas — quando você as vê transformando-se na sua frente. Vamos em
frente.

Mudando de circunferência para área


Nosso primeiro exemplo do pensamento “passo a passo” foi colar uma
sequência de anéis para formar um círculo:

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Curso Intuitivo de Cálculo

Quando começamos foi preciso muita visualização. Tivemos que desenrolar


os anéis e alinhá-los, descobrir que eles formavam um triângulo, então usar
1⁄ × base × altura para obter a área. Visual, entediante… e necessário.
2
Precisamos sentir o que está acontecendo antes de trabalhar com as
fórmulas brutas.
Aqui está a abordagem simbólica:

Vamos caminhar por cada etapa. A noção de “passagem anel por anel” se
refina em “integração dos anéis, de nada até o raio completo” e por fim em:

3
área = ∫ 2𝜋𝑟 d𝑟
0

Cada anel tem altura 2𝜋𝑟 e comprimento d𝑟, e queremos acumular a área
para fazer nosso disco.

Como podemos resolver essa equação? Trabalhando de trás para frente.


Podemos colocar a parte 2𝜋 para fora da integral (você se lembra da
propriedade escalar?) e focar na integral de 𝑟:

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Curso Intuitivo de Cálculo

𝑟
2𝜋 ∫ 𝑟 d𝑟 =?
0

Qual padrão/modelo cria passos de tamanho 𝑟? Bem, sabemos que 𝑟 2 cria


passos de tamanho 2𝑟, que é o dobro do que precisamos. A metade então
deve nos atender perfeitamente. Vamos testar:

d 1 2 1 d 2 1
𝑟 = 𝑟 = 2𝑟 = 𝑟
d𝑟 2 2 d𝑟 2

Sim, 1⁄ 𝑟 2 nos dá os passos que precisamos! Agora podemos inserir o


2
resultado no lugar da integral:

𝑟
1
área = 2𝜋 ∫ 𝑟 𝑑𝑟 = 2𝜋 ⋅ 𝑟 2 = 𝜋𝑟 2
0 2

Esse é o mesmo resultado do “triângulo-anel” da primeira lição, mas


manipulamos equações, não diagramas. Nada mal! Isso irá ajudar ainda mais
quando chegarmos no 3D…

Mudando de área para volume


Vamos sofisticar. Podemos pegar nossos círculos, engrossá-los (formando
discos) e construir uma esfera:

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Curso Intuitivo de Cálculo

Vamos andar vagarosamente. Temos diversos discos, cada um em uma


“coordenada x” diferente. Qual o tamanho de um único disco?

O disco tem espessura (d𝑥 ) e um raio próprio. Esse raio do disco é algo fora
do eixo x, o que podemos chamar de 𝑦.

É um pouco confuso a princípio: 𝑟 é o raio da esfera completa, mas 𝑦 é o raio


(normalmente menor) do disco individual sob exame. De fato, somente o
disco do centro (𝑥 = 0) terá um raio igual ao da esfera completa. Os “discos
das pontas” não tem altura alguma.

E pelo teorema de Pitágoras, temos uma conexão entre a posição 𝑥 do disco


e sua altura (𝑦):

𝑥 2 + 𝑦2 = 𝑟 2

Ok. Temos o tamanho de cada disco e podemos integrá-lo para encontrar o


volume, certo?

Não tão rápido. Em vez de começar pelo lado esquerdo, que teria uma
coordenada x negativa, se mover até 0 e então aumentar até o máximo,
vamos pensar na esfera como duas metades:

Para encontrar o volume total, pegue o volume de uma metade e dobre o


valor. Esse é um truque comum: se a forma é simétrica, pegue o tamanho de
uma parte e escale (multiplique). Às vezes, é mais fácil trabalhar de “0 até o

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Curso Intuitivo de Cálculo

máximo” do que do “mínimo até o máximo”, especialmente quando o


“mínimo” é negativo.

Ok. Vamos resolver esta conta:

Whoa! Que baita equação temos aqui. Parece muita coisa a fazer, mas vamos
resolvê-la passo a passo:

Primeiro: não vale a pena lidar com 3 variáveis. Iremos reescrever a altura de
cada disco (𝑦) em função das outras variáveis:

altura = 𝑦 = √𝑟 2 − 𝑥 2

A raiz quadrada intimida num primeiro olhar, mas ela está relacionada com
𝑦2, então o exponente irá cancelá-la. Após substituir a altura, temos uma
equação mais simpática:

𝑟
Volume = 2𝜋 ∫ 𝑟 2 − 𝑥 2 d𝑥
0

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Curso Intuitivo de Cálculo

Os parênteses entre 𝑟 2 − 𝑥2 às vezes são omitidos porque “é sabido” que


𝑖𝑥 é multiplicado pelo tamanho completo do passo. Sabemos que o
integrando é (𝑟 2 − 𝑥 2 ) ⋅ d𝑥 e não 𝑟 2 − (𝑥 2 ⋅ 𝑑𝑥).

Vamos conversar sobre 𝑟 e 𝑥 por um minuto. 𝑟 é o raio da esfera completa,


como, por exemplo, “15 centímetros”. Você consegue se imaginar pedindo:
“eu quero o volume de uma esfera com raio de 15 centímetros”. Beleza.

Para descobrir isso, iremos criar discos a cada coordenada x, de 𝑥 = 0 até


𝑥 = 15 (e então dobrar o resultado). 𝑥 é o controle que registra onde fica
cada disco. Poderíamos descobrir o volume para 𝑥 = 0 até 𝑥 = 7,5, vamos
dizer, e construiríamos uma esfera parcial (talvez útil, talvez não). Mas nós
queremos encontrar o resultado para qualquer raio da esfera, então vamos
deixar 𝑥 ir de 0 até 𝑟 mesmo.

Hora de resolver esse bad boy. Qual a equação que tem passos como
𝑟2 − 𝑥2?

Primeiro, vamos usar a regra da adição: passos como 𝑎−𝑏 são feitos de
dois padrões (um fazendo 𝑎 e outro fazendo 𝑏).

Vamos dar uma olhada no primeiro padrão, os passos de tamanho 𝑟 2.


Estamos nos movendo ao longo do eixo x, e 𝑟 é um número que nunca muda:
são 15 centímetros, o tamanho da nossa esfera. Esse raio máximo nunca
depende de 𝑥 , a posição do disco atual.

Quando um fator de escala não muda durante a integral (𝑟, 𝜋, etc.), ele pode
ser movido para fora e escalado só no final dos cálculos. Então temos:

∫ 𝑟 2 d𝑥 = 𝑟 2 ∫ d𝑥 = 𝑟 2 𝑥

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Curso Intuitivo de Cálculo

Em outras palavras, 𝑟2 ⋅ 𝑥 é uma trajetória linear que contribui com uma


constante 𝑟 2 a cada passo.

Legal. O que dizer da integral de −𝑥 2 ? Primeiro, podemos mover o sinal de


negativo para fora e calcular a integral de 𝑥 2 :

− ∫ 𝑥 2 d𝑥 =?

Já vimos isso antes. Uma vez que 𝑥3 tem passos 3𝑥 2 , tomar 1⁄ dessa
3
3
quantidade (𝑥 ⁄3) deve ser o certo. E podemos conferir se nossa integral

está correta:
d 1 1 d 3 1
(− 𝑥 3 ) = − 𝑥 = − 3𝑥 2 = −𝑥 2
d𝑥 3 3 d𝑥 3

Funciona! Com o passar do tempo, você aprenderá a confiar nos resultados


das integrais nas quais você aplica engenharia reversa, mas no começo é
bom conferir com a derivada. Com as integrais resolvidas, podemos
substituir os resultados:

1
2𝜋 ∫ 𝑟 2 − 𝑥 2 𝑑𝑥 = 2𝜋 (𝑟 2 𝑥 − 𝑥3)
3

O que falta? Bem, nossa fórmula ainda considera x, que mede o volume de 0
até algum valor final de 𝑥. Neste caso, queremos o raio completo, então
fazemos 𝑥 = 𝑟:

1 1 1 2 4
2𝜋 (𝑟 2𝑥 − 𝑥3) → 2𝜋 [(𝑟 2 )𝑟– 𝑟 3 ] = 2𝜋 (𝑟 3 – 𝑟 3 ) = 2𝜋 𝑟 3 = 𝜋𝑟 3
3 fazer 𝑥=𝑟 3 3 3 3

Tã dã! Você encontrou o volume da esfera (ou outra porção da esfera, se você
usar uma extensão diferente para 𝑥 ).

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Curso Intuitivo de Cálculo

Foi um trabalho pesado? Você não tem ideia. Esse cálculo de uma linha foi
um tremendo esforço para Arquimedes, um dos maiores gênios de todos os
tempos. Ele teve de imaginar algumas esferas e um cilindro, e alguns cones,
e um fulcro, e imaginá-los balançando e… vamos só dizer que quando ele
encontrou a fórmula, ele a colocou na sua sepultura. As intuições que você
tem hoje do Cálculo teriam evitado todo esse esforço de Arquimedes (veja
este vídeo).

Mudando de volume para área da


superfície
Agora que temos o volume, encontrar a área da superfície é muito mais fácil.
Podemos descascar a esfera usando a visão de raio X:

Eu imagino a casca completa como se fosse “pó” sobre a superfície da esfera.


Quanto pó há? d𝑉 , a mudança no volume. Ok, qual é a área que o pó cobre?
Hum. Pense em uma questão similar: quanto de área um saco de terra
vegetal cobre? Pegue o volume, divida pela espessura desejada e você terá a
área de cobertura. Se eu lhe der 5 metros cúbicos de adubo, espalhados em
um “tapete” de 0,05 metros de espessura, o tapete ocupará uma área de 100
metros quadrados. Afinal de contas, se área ⋅ espessura = volume, então
volume
área = .
espessura

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Curso Intuitivo de Cálculo

No nosso caso, d𝑉 é o volume da casca e d𝑟 a sua espessura. Podemos


espalhar d𝑉 sobre a espessura que estamos considerando (d𝑟) e vermos
quanta área adicionamos: d𝑉⁄
d𝑟, a derivada.

Agora é a hora quando a notação certa vem à tona. Podemos pensar na


derivada como uma abstração, uma taxa instantânea de mudança (𝑉′), ou
como uma razão específica (d𝑉⁄
d𝑟). Neste caso, queremos considerar os

elementos individuais e como eles interagem (volume da casca / espessura


da casca).

Então, dada a relação,

volume da casca d𝑉
área da casca = =
profundidade da casca d𝑟

descobrimos que:

d d 4 3 4 d 3 4
Volume = 𝜋𝑟 = 𝜋 𝑟 = 𝜋(3𝑟 2 ) = 4𝜋𝑟 2
d𝑟 d𝑟 3 3 d𝑟 3

Wow, essa foi rápida! A ordem da nossa transformação (circunferência / área


/ volume / área da superfície) tornou o último passo simples. Poderíamos
tentar girar uma circunferência para obter a área da superfície diretamente,
mas isso é mais complexo.

À medida que aceleramos nesta fórmula, “baixamos o expoente” em 𝑟 3 para


obter 3𝑟 2. Lembre-se que essa mudança vem de 3 perspectivas (dimensões)
que contribuíram com parcelas iguais.

2000 anos de Matemática em uma tarde


Os passos pelos quais passamos foram o resultado de 2000 anos de
pensamento dos maiores gênios da área. O Cálculo é um ponto de vista tão

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amplo (daqueles de tirar o fôlego) que é difícil pensar onde ele não se aplica.
Tudo se resume a usar a visão de raio X e de “tempo corrido”:

 Quebra as coisas em partes. No ponto atual, o que irá acontecer a seguir?


E depois disso? Existe um padrão aí? (crescer, diminuir, ficar na mesma).
Esse conhecimento é útil para você?
 Encontre a fonte. Você está vendo um punhado de mudanças — o que as
causa? Se você conhece a fonte, você pode prever o resultado final de
todas as mudanças? Essa previsão é útil?

Estamos acostumados a analisar equações, mas eu espero que isso não pare
por aqui. Números podem descrever o humor, o grau de ardência de uma
pimenta ou a satisfação de um grupo de clientes; o pensamento passo a
passo pode descrever planos de batalha e tratamentos psicológicos.
Equações e a geometria são pontos iniciais interessantes para se analisar. A
Matemática não se resume a equações assim como a música não se resume
a partituras — elas apontam para uma ideia “dentro” da notação.

Enquanto existem mais detalhes sobre outras técnicas para derivadas e


integrais e como o infinito funciona, você não precisa deles para começar a
pensar com o Cálculo. O que você descobriu hoje teria feito Arquimedes
chorar até secar os olhos, e isso é um começo suficientemente bom para
mim.

Happy math.

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Curso Intuitivo de Cálculo

Conclusão: O que vem a seguir?


Nas artes marciais, uma faixa preta não indica maestria, mas significa apenas
que você é um iniciante com competência suficiente para começar agora a
aprender.

Temos uma pegada descente no Cálculo: ela explora padrões com os pontos
de vista do raio X e do “tempo corrido”. Existem alguns caminhos para afinar
nosso entendimento:

 Ler um livro gratuito de Cálculo baseado em infinitesimais (e entrar no


mundo das derivadas mais sofisticadas, funções trigonométricas, etc.);
 Assistir as aulas do MIT Open Courseware;
 Ler meus outros posts sobre Cálculo;
 Fazer exercício na Khan Academy;

O mais importante, contudo, é aprofundar sua intuição. Tente pegar seu Aha!
favorito e explicá-lo com suas próprias palavras (você irá reconhecer o seu
favorito porque você fica animado ao falar sobre ele).

Happy math.

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