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como autonomia e cidadania (Landim 1993). Viriam a contribuir, de forma efetiva, para a
constituição de vários movimentos sociais, tanto no campo quanto nos meios sociais
urbanos.
Por desenvolverem atividades de cunho social sem conotações lucrativas, as ONGs não
geravam recursos financeiros próprios. A continuidade e execução dos trabalhos
necessitavam de financiamento para a viabilidade material de sua efetivação. O acesso aos
fundos públicos no país não estava disponível para estas instituições devido ao caráter de
suas ações num regime marcadamente ditatorial.
O fim do Regime Militar, na década de 80, a volta dos exilados políticos e as mudanças
sociais mais profundas de uma sociedade envolta em graves crises, apresentaram no campo
das ONGs uma série de conseqüências: o aumento significativo do número das instituições
que se denominavam no campo da luta por melhores condições de vida e por acesso à
cidadania; transformações nas relações com o Estado e com os movimentos sociais e;
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alterações nas temáticas e prioridades sociais de seus trabalhos. Nesse sentido, Sarah
Timpson, do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), no I Encontro
Internacional de ONGs e o Sistema de Agência das Nações Unidas, em 1990, observou:
Nos anos 80, percebe-se a proliferação de instituições que desenvolviam trabalhos voltados
para novas temáticas: meio ambiente, crianças e adolescentes, discriminação de minorias
étnicas e sexuais, entre outras. Concomitantemente, a questão sindical e da organização dos
movimentos populares de bairros ganhavam novos contornos com a livre organização dos
sindicatos e a maior expressividade do movimento de bairro. As ONGs aos poucos foram
abandonando estas temáticas, principalmente o trabalho com os movimentos sindicais,
devido a uma nova conjuntura mais propícia às reivindicações sociais e a formação de
sindicatos livres e de associação de moradores, fundando novos espaços de atuação. A
relação com o Estado também passa por transformações, mas havia ainda, uma distância
bastante marcante.
Durante o Regime Militar e ainda no período de transição da Nova República (1), a relação
das ONGs com o governo era muito tensa e as parcerias eram praticamente inexistentes.
Havia o reconhecimento da impossibilidade de diálogo ou parceria com os governos
autoritários pela violação dos direitos humanos e pela falta de espaços de participação.
Além disso, no caso do período ditatorial, o trabalho destas instituições, como já foi
discutido, era semiclandestino. Mesmo no governo da Nova República, salvo raríssimas
exceções, não se processaram parcerias entre tais agentes. As principais razões seriam: a)
nesta conjuntura, era marcadamente significativo nas ONGs um ideário pautado na auto-
organização popular e na autogestão social, referências de modelos de sociedade; b) o
Estado era a organização política antagônica de tais princípios norteadores.
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Neste sentido, as ONGs têm formado e contado com um quadro técnico de alta
qualidade, preparado para a discussão em fóruns variados. Tais quadros tenderam,
muitas vezes, a tornar-se uma espécie de “militantes” destas entidades, representando-as
onde são solicitados. É interessante observarmos aqui, as peculiaridades do trabalho dos
técnicos de ONGs na conjuntura da década de 70 e neste período.
que se dedicaram ao tema . Por exemplo, como a Aietti e Cedla na Espanha, IDS na
Holanda, Cespi na Itália e o Instituto Alemão de Políticas para o Desenvolvimento de
Berlim.
área social. Uma das graves conseqüências deste novo panorama é a subcontratação de
pessoas para fins determinados, muitas vezes sem garantias legais. Nesses sentido, muitas
ONGs acabam adotando medidas que não garantem os direitos dos trabalhadores, numa
atitude contraditória às suas práticas históricas.
As relações das ONGs com os movimentos sociais também sofrem mutações. Apesar de se
constituírem grandes parceiros, a participação de instituições não governamentais como
representantes da sociedade civil é bastante criticada pelos movimentos sociais, pois as
ONGs não representam nenhuma parcela da sociedade, embora haja o reconhecimento da
importância dos trabalhos desenvolvidos. Em algumas áreas como a dos direitos de
crianças e adolescentes, defesa do meio ambiente e do direito da mulher, a atuação das
ONGs tornaram-se mais significativas e detentoras de maior visibilidade do que os
movimentos sociais.
Camurça (1994) observa como na área da defesa dos direitos de crianças e adolescentes
existem tensões entre representantes dos movimentos sociais e das instituições não
governamentais, quanto à representatividade social destas instituições:
O campo das ONGs brasileiras sofre, nos anos 90, o efeito de mudanças ocorridas nas
conjunturas nacional e internacional. As mais antigas, fundadas antes da década de 80, aos
poucos foram se profissionalizando, e as surgidas após este período, praticamente já
nasceram com esta perspectiva.
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Estas mudanças imprimiram ao campo uma tensão e, muitas vezes, precipitações na ação
de atores. A necessidade de sobrevivência destas entidades, aliada à sua vocação de
trabalho sem fins lucrativos e à energia desprendida por seus diretores e técnicos na defesa
da qualidade e da especificidade do trabalho - que apesar da sua progressiva
profissionalização e institucionalização, é movido por uma intensa paixão -, apressam
processos de decisão.
Em trabalho recente desenvolvido sob nossa coordenação sobre as políticas sociais para
jovens no Rio de Janeiro (Minayo, Fraga et all. 1999), observamos que das 105 instituições
investigadas que desenvolviam trabalhos com a população juvenil, 74% se denominavam
ONGs e apenas 26% eram vinculadas à instâncias governamentais, mas quase todas as
denominadas ONGs possuíam apoio em suas atividades de recursos públicos. Todavia o
estudo apontou uma série de problemas no tocante ao desenvolvimento das atividades e na
relação público-privado: os objetivos das ações mostravam-se imprecisos e ambiciosos e
freqüentemente incoerentes com as atividades desenvolvidas; não havia acompanhamento
nem avaliação das instâncias públicas que financiavam os projetos das ONGs; muitos
projetos possuíam vida efêmera e muitas instituições possuíam o tempo de vida do projeto.
Ao se extinguir o projeto, terminava a instituição; entre outros problemas.
De outro modo, não concordamos com o papel assumido por determinados setores do
campo de reivindicar, de forma cada vez mais freqüente, a condição de ator social. Não
concordamos com esta posição (Fraga 1995). Por mais que reconheçamos mudanças
significativas no papel exercido pelas ONGs na esfera pública, reafirmamos a noção de
campo. Se o ator existe, ele está ainda em gestação, haja vista que não é capaz de defender
interesses próprios. As noções de mediação e de articulação são mais adequadas para
caracterizar estas entidades.
NOTAS
1. Nova República foi como ficou conhecido o período de transição do último governo
militar para o primeiro Governo eleito pelo voto direto em 1989, após quase 21 anos de
ditadura militar.
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Bibliografia
MINAYO, M. C., FRAGA, P. C. et all. 1999. “Políticas Sociais Para Jovens no Rio de
Janeiro: Cadastro e Análise de Casos.”. Rio de Janeiro, Ed. FIOCRUZ..