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RESUMO
No escopo do presente trabalho a Agroecologia é consi- plinar para fazer frente à crise socioambiental vivenciada atual-
derada uma ciência que demanda e busca uma epistemologia mente no meio rural. Ao fim, aponta que a teoria do pensamen-
diferenciada das utilizadas pelas ciências convencionais para to complexo, proposta por Edgar Morin, pode se constituir em
construir suas abordagens metodológicas. Dentro desse contexto um interessante arcabouço filosófico onde a Agroecologia pode
apresenta-se o resultado de um esforço teórico no sentido de se assentar com o objetivo de estabelecer um novo paradigma
sistematizar o estado da arte dos debates sobre esse tema. Iden- para se abordar o desenvolvimento do meio rural.
tifica que a Agroecologia demanda uma abordagem transdisci-
Introdução A Agroecologia emerge em ação sobre a realidade que vai ram esse esforço (Gomes e Ro-
um contexto de crise socioam- além desse campo. senstein, 2000; Guzman Casado
Nos últimos anos, em espe- biental que tem afetado a susten- Aqui, como ponto de partida, et al., 2000; Hecht, 2002; Leff,
cial na América Latina, a tabilidade do planeta, fato que, adota-se que a Agroecologia 2002b; Norgaard e Sikor, 2002;
Agroecologia tem se consolida- por sua vez, abre espaço para o pertence também ao campo Sevilla Guzmán, 2002; Dalgaard
do como um campo científico e questionamento da racionalidade científico, não negando que ela et al., 2003; Gomes 2005; Ruiz-
acadêmico. Isso pode ser perce- econômica e tecnológica domi- possa pertencer a outros campos -Rosado, 2006; Sicard, 2009;
bido pelo aumento da oferta de nante. Esta problemática socio- (Wezel et al., 2009). Essa deci- Floriani e Floriani, 2010). Deste
cursos de graduação e pós- ambiental tem levado a socieda- são é corroborada por diferentes modo, o empenho aqui empre-
-graduação, bem como pelo de a internalizar novos valores e autores expoentes que versam endido é mais no sentido de or-
crescente número de publica- princípios epistemológicos que sobre Agroecologia, consideran- ganizar e articular essas diferen-
ções científicas que se apro- orientem a construção de uma do-a como uma ciência emer- tes contribuições.
priam desse termo. nova racionalidade produtiva, gente, ainda em processo de
Dentro desse contexto, a re- sobre bases de sustentabilidade construção e organização (Altie- A Epistemologia Dominante
flexão teórica adiante apresen- ecológica e equidade social ri, 2004; Caporal e Costabeber, Como Causa da Crise
tada justifica-se por a Agroeco- (Leff, 2002a). 2004a; Gliessman, 2005; Gomes,
logia ser um campo de estudos Sendo assim, a presente crise 2005; Caporal, 2008; Salas-Za- Para Leff (2002a) a episte-
relativamente novo, que utiliza socioambiental contribui para o pata et al., 2011). mologia, mais que um projeto
abordagens metodológicas dife- questionamento dos paradigmas Partindo do pressuposto de com a finalidade de apreender
renciadas para a conformação estabelecidos e demanda novas que a Agroecologia pertence um objeto de conhecimento, é
de seus conhecimentos. Kuhn abordagens com capacidade de também ao campo científico e um trajeto para chegar a saber
(2005) já havia diagnosticado orientar um processo de cons- vem constituindo, dentro desse, o que é a realidade que vai ser
que quando novos campos de trução de saberes que permi- um sub-campo específico que estudada.
estudo começam a aparecer, tam enfrentá-la. A Agroecolo- questiona grande parte dos para- A Agroecologia emerge no
seus pesquisadores se dedicam gia se propõe a ser uma dessas digmas dominantes, se faz fun- campo cientifico como uma res-
a teorizá-lo a fim de justificar abordagens. damental a construção de uma posta à crise socioambiental que
as suas novas abordagens. Ainda existe um debate em epistemologia sólida para esse o mundo rural vem atravessan-
Assim, esse texto se estabe- aberto se as abordagens realiza- novo sub-campo, para que o do, para a qual as disciplinas
lece no campo da Epistemolo- das pela Agroecologia devem mesmo não seja renegado e des- convencionais não conseguem
gia e busca sistematizar e evi- pertencer ao campo da ciência, truído pelo campo maior (ciên- encontrar respostas; mais do que
denciar, por meio da revisão da ou se por suas características cia) no qual está inserido. isso, se percebe que foram essas
obra dos principais pesquisado- epistemológicas distintas das Propõe-se aqui contribuir na mesmas disciplinas que contri-
res da área, o estado da arte do dominantes nesse campo, ela consolidação dessa base episte- buíram para o fomento da crise.
debate de como a Agroecologia deveria ser considerada como mológica. É importante ressaltar Deste modo, a Agroecologia in-
gera os seus conhecimentos um processo de compreensão/ que diversos autores já realiza- terroga os paradigmas científicos
PALAVRAS CHAVE / Agroecologia / Crise Socioambiental / Desenvolvimento Rural Sustentável / Epistemologia / Pensamento
Complexo / Transdisciplinaridade /
Recebido: 09/12/2011. Modificado: 06/09/2012. Aceito: 19/09/2012.
Ricardo Serra Borsatto. Doutor (UNICAMP), Brasil. Professor, CEP: 18205-600. e-mail: ricar- cas. Professora, Universidade
em Planejamento e Desenvolvi- FATEC-Itapetininga. Endereço: do.borsatto@fatec.sp.gov.br Estadual Paulista e UNICAMP,
mento Rural Sustentável, Uni- Rua Dr. João Vieira de Camar- Maristela Simões do Carmo. Brasil. e-mail: stella@feagri.
versidade Estadual de Campinas go, 104 - Itapetininga - SP - Doutora em Ciências Econômi- unicamp.br
LA AGROECOLOGÍA Y SU EPISTEMOLOGÍA
Ricardo Serra Borsatto y Maristela Simões Do Carmo
RESUMEN
En el ámbito de este trabajo se considera a la Agroecología la Agroecología requiere un abordaje transdisciplinario para ha-
como una ciencia que exige y busca una epistemología diferente cer frente a la crisis socio-ambiental actual del medio rural. Al
a las utilizadas por las ciencias convencionales para construir final, se indica que la teoría del pensamiento complejo, propuesta
sus enfoques metodológicos. Dentro de este contexto se presenta por Edgar Morin, puede constituir un interesante marco filosófi-
el resultado de un esfuerzo teórico con el fin de sistematizar el co donde la Agroecología puede basarse con el objetivo de esta-
estado del arte de los debates sobre este tema. Se establece que blecer un nuevo paradigma para abordar el medio rural.
em que se apoiam as ciências tornaram-se o paradigma da nhecimento tivesse valor e acei- vada desse processo de ‘Agroe-
convencionais, requerendo um ciência. Sendo assim, um co- tação científica, ele teria que cologia Dura’ (Dalgaard et al.,
questionamento epistemológico. nhecimento passou a ser consi- possuir uma explicação matemá- 2003), enquanto outros de
Discutir sua base epistemoló- derado científico, quando se tica e ser reproduzível (Leff, ‘Agroecologia Fraca’ (Guzmán
gica e as consequências das utilizava métodos rigorosos, o 2002a). Casado et al., 2000).
pesquisas derivadas desta ma- que permitiu que se atingisse As ciências agrárias absorve- Nessa primeira fase, a Agro-
neira de abordar o universo é um tipo de conhecimento siste- ram em seu âmago essa forma ecologia emerge como um enfo-
fundamental para que a Agroe- mático, preciso e considerado de enxergar o mundo, a qual, se que pluridisciplinar ainda restri-
cologia, enquanto ciência emer- objetivo. por um lado contribuiu significa- to, que buscou na Ecologia suas
gente, consiga atender ao seu Essa abordagem científica tivamente para o aumento da abordagens metodológicas para
objetivo de gerar conhecimentos teve sua base filosófica e meto- produtividade agrícola, por outro fazer frente aos problemas vi-
destinados “a apoiar e dar sus- dológica elaborada por Descar- fomentou a crise socioambiental venciados no campo das ciên-
tentação à transição dos atuais tes (1596-1650), no seu livro vivenciada no meio rural, o que cias agrárias, principalmente no
modelos de desenvolvimento Discurso do Método: Para Bem demonstra a insustentabilidade referente à sua abordagem sistê-
rural e de agricultura conven- Conduzir a Própria Razão e do modelo de desenvolvimento mica do meio ambiente.
cionais para estilos de desenvol- Procurar a Verdade nas Ciên- oriundo dela. Ao incorporar a abordagem
vimento rural e de agriculturas cias. Este livro converteu-se no Observa-se então, que as solu- sistêmica aos estudos das cultu-
sustentáveis.” (Caporal e Costa- libelo revolucionário de liberta- ções para a crise devem partir ras agrícolas, surge o conceito
beber, 2004b, p. 95). ção da escolástica, principal- de uma revisão epistemológica. de agroecossistema, considerado
Evita-se assim, que na busca mente por sua proposta de se- A questão que se coloca é: qual como a unidade fundamental de
de saídas para a crise socioam- parar o sujeito pensante (ego epistemologia pode substituir a análise pela Agroecologia
biental presente no rural, se cogitans) e a coisa extensa (res anterior para a construção de (Gliessman, 2005).
utilize das mesmas ferramentas extensa), isto é, separou a filo- novos paradigmas para abordar Porém, alguns pesquisadores
responsáveis por esta crise (Go- sofia da ciência, e colocou as questões agrárias? identificaram os limites dessa
mes, 2005). como verdade as ideias ‘claras abordagem, que apesar de tentar
Guzmán Casado et al. (2000) e distintas’ (Descartes, 2002). O Caminho Epistemológico superar alguns paradigmas da
e Norgaard e Sikor (2002) ex- Como consequência dessa da Agroecologia ciência convencional, tal qual o
planam que a base epistemológi- epistemologia, o método experi- reducionismo cartesiano, por
ca da ciência convencional está mental surgiu como a ponte de A Agroecologia, desde a sua outro lado se mantinha ainda
assentada no atomismo, meca- união dos diferentes níveis de emergência no campo científico, dominada pelo positivismo e
nismo, universalismo, objetivis- conhecimento e como legitima- tem buscado uma resposta para pelo empirismo.
mo e monismo. ção de todo o conhecimento essa questão. Já era uma evolução, mas não
A epistemologia dominante para um fim prático. A ciência As primeiras respostas se ca- ainda a demandada para enfren-
no campo científico tem a sua fundiu-se com a tecnologia, re- racterizaram ainda por não rom- tar a crise socioambiental. “Há
gestação durante o Renasci- duzindo o conhecimento real a per radicalmente com a episte- um interesse geral em reintegrar
mento, onde a observação ins- simplesmente o saber de como mologia dominante nas ciências uma racionalidade ecológica à
trumentalizada da natureza e a transformar, dominar e controlar convencionais. Alguns autores produção agrícola, e em fazer
experimentação de hipóteses objetos reais. Para que um co- qualificam a Agroecologia deri- ajustes mais abrangentes na agri-