Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 2 .
PROPOSTA PEDAGÓGICA
1. Conceituação e justificativa
Eentre os diversos níveis do sistema de ensino no Brasil, o Ensino Médio é o que sempre teve
maiores dificuldades para se definir e encontrar mecanismos de superação das próprias
limitações. Premido entre os níveis fundamental e superior, sofre de “crise de identidade”, das
indefinições relacionadas ao currículo e, principalmente, da falta de recursos compatíveis com
as necessidades que lhe são próprias. Foi a partir do final dos anos 1990 que se intensificaram
as ações para tirar o Ensino Médio deste emaranhado de indefinições. Até os dias atuais as
buscas não param, porque os problemas continuam. Foi no intuito de participar, de alguma
forma, destes esforços de superação que um grupo de professores, convocado pelo
Departamento de Políticas do Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do MEC,
iniciou, em 2004, reuniões e debates para refletir sobre a organização curricular do Ensino
Médio. Dos debates participaram muitos professores e gestores de escolas de todo o país,
organizados em seminários regionais e nacional, com vistas a elaborar um documento que
auxilie os professores do Ensino Médio em sua labuta diária. Surgiu deste trabalho o
documento “Orientações Curriculares para o Ensino Médio”, publicado e distribuído aos
professores no final de 2006.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 3 .
Esta série de programas do Salto para o Futuro tem como referencial o documento
“Orientações Curriculares para o Ensino Médio” e visa: a) subsidiar professores e gestores
em sua atuação no cotidiano da escola; b) aprofundar e discutir aspectos relacionados ao
processo de ensino e aprendizagem no Ensino Médio; c) oferecer elementos que viabilizem as
discussões com os professores e gestores sobre a organização do trabalho pedagógico; d)
fortalecer a compreensão do material, como fonte de discussão sobre a ação educativa e não
como instrumento normativo e/ou prescritivo do trabalho docente.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 4 .
central que ocupam as disciplinas científicas e sua importância na busca da realização dos
objetivos propostos para o Ensino Médio pela Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação - LDB, retomando o significado e a importância dos mesmos princípios.
Por outro lado, embora a organização dos volumes se paute por áreas de conhecimento e pelas
respectivas disciplinas, procura-se superar a pura e simples disciplinarização do
conhecimento, em que cada uma delas permaneceria fechada em si mesma. Parte-se da
convicção de que o diálogo entre elas se processa nos aspectos metodológicos aplicados à
educação, nos princípios epistemológicos do conhecimento científico que embasam as
disciplinas, e na concepção e elaboração do plano político-pedagógico de cada escola.
Para dar concreticidade às orientações propostas, em cada um dos cinco programas desta série
do Salto para o Futuro estão envolvidos 3 debatedores: dois professores que participaram das
discussões e da elaboração das “Orientações” em suas respectivas disciplinas, e um professor
da rede pública. Para isso, foram convidados professores de escolas de Ensino Médio que
desenvolvem, com êxito, práticas pedagógicas em suas respectivas disciplinas, procurando
heroicamente superar as dificuldades inerentes ao nosso atual sistema de ensino. Pretende-se,
dessa forma, chamar a atenção dos professores para possibilidades concretas de trabalho
pedagógico, que apontam para um futuro mais promissor.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 5 .
O Ensino Médio está composto por 14 disciplinas. Nos textos da coletânea referentes aos
cinco programas desta série, nem todas essas disciplinas estarão presentes de forma explícita,
mas elas serão contempladas no decorrer dos debates dos programas ao vivo.
2. Fundamentação teórica
Assim, entende-se como fundamentação teórica a discussão sobre os eixos basilares que se
sobressaem nos documentos educacionais recentes: a) objetivos e finalidades da educação
básica; b) princípios pedagógicos e compromissos organizacionais; c) conteúdos disciplinares
e possíveis releituras das competências; d) princípio pedagógico da interdisciplinaridade; e)
contextualização.
Orientando-se pela concepção de que a oferta de disciplinas se situa no âmbito dos princípios
que regem o Ensino Médio no país, lembrados acima, cada programa terá como foco questões
centrais que caracterizam a dinâmica desta etapa de ensino, e que servirão como fio condutor
para os debates.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 6 .
Temas em debate nos programas da série Orientações curriculares
para o Ensino Médio, que será apresentada no Salto para o
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 7 .
PGM 3 – Conteúdos disciplinares e competências
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 8 .
conhecimentos socialmente relevantes em cada disciplina aos problemas concretos que
circundam os alunos das diversas escolas e aos ambientes sociais nos quais se inserem os
sistemas escolares. Este é o tema em foco no quinto programa.
Bibliografia
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 9 .
SECRETARIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Ciências Humanas e suas tecnologias.
São Paulo: Secretaria do Estado da Educação/CENP, 2004.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília: Unesco, 2002.
OLIVEIRA, Marcus A. Taborda de; RANZI, Serlei M. Fischer (orgs.). História das
disciplinas escolares no Brasil. Bragança Paulista: Edusf, 2003.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 10 .
SACRISTÁN, J. Gimeno; GÓMEZ, A. I. Péres. Compreender e transformar o ensino.
Porto Alegre: Artmed, 1988.
O Estado de S. Paulo
Matérias que podem ser acessadas nos sites do jornal O Estado de S. Paulo
“Museus, praças e igrejas viram salas de aula – Escola integrada estimula interação com
o ambiente em que alunos vivem”.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 11 .
“Por conta própria, a sociedade civil vai à luta – iniciativa privada, ONGs e fundações
lançam movimentos para melhorar a educação”.
“Educação é uma das poucas saídas da pobreza” (Artigo de Naércio Menezes Filho).
“Gestão tem mais impacto que verba – Investir mais dinheiro no sistema não leva
necessariamente à melhoria do rendimento dos alunos, dizem estudos”.
“As públicas que se destacam não fazem parte da rede - Ilhas de excelência são ligadas
a universidades, centros tecnológicos ou a militares”.
Nota:
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 12 .
PROGRAMA 1
1
Maria de Lourdes Meirelles Matencio (texto sobre Língua Portuguesa)
Maria Zélia Versiani Machado (texto sobre Literatura) 2
A LDBEN n. 9.394/96 significou, sem dúvida, um grande avanço no que diz respeito às
finalidades do Ensino Médio. Merece ser destacado, do artigo 35, o seguinte excerto, que
apresenta objetivos da formação oferecida nessa etapa da Educação Básica:
Conforme a LDBEN, como etapa final da Educação Básica, o Ensino Médio deve, a um só
tempo, criar condições para que o estudante dê prosseguimento aos estudos e/ou possa se
inserir no mundo do trabalho, exercendo plenamente sua cidadania.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 13 .
Compreender o alcance dos objetivos formulados nessas bases legais que orientam o Ensino
Médio é, também, considerar os princípios que lhes são subjacentes. A esse respeito, dois
aspectos merecem ser destacados.
Nessa perspectiva, cabe à escola a construção de projetos de intervenção didática, nos quais se
delimitem os conteúdos a serem transformados em objetos de ensino, bem como as ações,
atividades e procedimentos que levem aos processos de aprendizagem. Uma tarefa dessa
natureza envolve, é claro, o engajamento do corpo docente, já que representa a formulação de
um projeto pedagógico de longo alcance, o qual, muito além de assumir determinadas
concepções do que seja ensinar e aprender, ou produzir e socializar conhecimentos, definirá
os papéis a serem assumidos por alunos e professores. Levar essa tarefa a cabo, por outro
lado, exige que se tenham condições para a formação continuada dos professores e, mais do
que isso, para a implantação efetiva do que se projetou.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 14 .
Ensino Médio, apontando questões que levam à reflexão sobre as práticas docentes,
imprescindíveis para a compreensão da produção de conhecimento no campo da linguagem.
Nesse sentido, representam proposta de parametrização do ensino voltada à construção de
uma escola com efetivas oportunidades de integração dos diferentes grupos sociais às
instâncias de produção e socialização de conhecimentos. Em síntese, como assinalam as
Orientações Curriculares, a identidade dessas disciplinas está vinculada à centralidade da
linguagem nos processos sociais.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 15 .
2. Conhecimentos de Língua Portuguesa
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 16 .
funções sócio-comunicativas desses gêneros; práticas de linguagem em que emergem;
comunidades que os produzem.
Tais recortes e os respectivos agrupamentos de textos a serem estudados devem, por sua vez,
ao longo da formação oferecida pela escola, considerar o grau de complexidade na
configuração, no funcionamento e/ou na circulação social dos textos e no(s) recorte(s) de
conteúdos de ensino e de aprendizagem.
3. Conhecimentos de Literatura
“Uma de suas marcas é sua condição limítrofe, que outros denominam transgressão, que
garante ao participante do jogo da leitura literária o exercício da liberdade, e que pode levar
a limites extremos as possibilidades da língua: E nisso reside sua função maior no quadro
do ensino médio: pensada (a literatura) dessa forma, ela pode ser um grande agenciador
do amadurecimento sensível do aluno, proporcionando-lhe um convívio com um domínio
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 17 .
cuja principal característica é o exercício da liberdade. Daí, favorecer-lhe o
desenvolvimento de um comportamento mais crítico e menos preconceituoso diante do
mundo (OSAKABE, 2004).”
Notas:
2
Professora Doutora na Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais - UFMG.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 18 .
PROGRAMA 2
Quando nos preparávamos para escrever o texto sobre as Orientações Curriculares para o
Ensino Médio, uma das questões que se fazia presente nos seminários que realizamos com
professores e técnicos educacionais era sobre como ensinar, quais seriam os métodos de
ensino a serem recomendados no documento. Tal preocupação não era uma novidade para o
grupo responsável pelas discussões nos seminários. Trata-se de uma preocupação freqüente
em todos os encontros dos quais participamos, quando o assunto é orientação curricular ou
elaboração de documentos oficiais sobre práticas pedagógicas. Embora concordemos que se
trata de uma preocupação relevante, o documento produzido e apresentado à comunidade
escolar do Ensino Médio não é uma fórmula ou receita de como deve ser realizada a prática
pedagógica de cada um dos professores das diversas áreas de conhecimento em milhares de
escolas de diversos cantos do Brasil. É um documento que carrega consigo a responsabilidade
de orientar a comunidade escolar que lida com o Ensino Médio, no sentido de perceber alguns
elementos importantes que podem facilitar a percepção, a compreensão do mundo escolar
desse nível de ensino, em busca de uma prática pedagógica que lhe dê significado. Portanto,
estamos colocando em pauta alguns desses elementos, para que tenhamos a possibilidade de
uma discussão prévia sobre o documento, no que se refere à temática da metodologia.
A contextualização
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 19 .
ensino, é necessário que compreendamos qual é o contexto em que está inserida a comunidade
escolar em que vamos atuar; qual é o significado da escola no lugar em que está instalada; o
que significa, para a comunidade escolar, a existência do Ensino Médio; quais são as
características culturais, econômicas e sociais do entorno que movimenta e sustenta a
existência da escola e quais são as perspectivas e expectativas da comunidade escolar no
campo da ciência, da cultura e do trabalho.
Nas propostas das Orientações Curriculares para o Ensino Médio, o enfoque metodológico
cede a centralidade que usufruiu na educação por tanto tempo a um conjunto de requisitos que
poderá possibilitar ao ensino ganhar uma perspectiva educacional mais crítica, mais política e
mais significativa na escola. Entendemos que a preocupação restrita às metodologias
corresponde às políticas educacionais que atualmente se encontram sob revisão,
considerando-se que corroboram a manutenção de um ensino convencional, no qual o
professor é visto como o portador do conhecimento, aquele que sabe explicar, que formula os
juízos de realidade, sem que para isso estimule juízos de valor ou críticas em seus alunos (e
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 20 .
em si mesmo, muitas vezes), numa concepção de ensino que valoriza a clareza da explanação
e uma metodologia para o alcance desse objetivo. Assim, diferentemente da perspectiva de
que a solução para a realização de uma prática educativa mais eficaz se encontra na
metodologia, apresentamos, nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio, uma
proposta que inclui a metodologia, porém integrando-a dentro de um espectro mais amplo,
que requer a compreensão sobre a interação entre filosofia da educação, pedagogia de ensino
e prática de sala de aula. Essa interação visa proporcionar um re-planejamento desse ensino,
de maneira a incluí-lo num projeto político-pedagógico de educação voltado para o ensino
crítico e significativo nas escolas.
O brasileiro, durante sua escolarização básica, recebe pelo menos 11 anos de aulas de várias
disciplinas, entre elas, a Educação Física. É de se esperar que, ao final de todos esses anos de
escola, o concluinte do Ensino Médio tenha se apropriado de uma série de conhecimentos
relativos aos movimentos e práticas corporais produzidos historicamente pela humanidade. É
de se esperar que o egresso da educação básica, no auge da juventude ou iniciando a idade
adulta, seja capaz de dominar algumas práticas, de planejar momentos de lazer, de organizar
individualmente ou em grupos práticas cotidianas de esportes, ginásticas, danças e lutas, em
espaços comunitários, privados, ou mesmo no interior da escola. É também de se esperar que
cidadãos que freqüentaram a escola básica e tiveram aulas de Educação Física tenham noções
sobre seus próprios corpos: suas capacidades, suas limitações, seus direitos, suas integridades
e inviolabilidades. Precisamos entender como tudo isso seria possível a partir da escola e
como o professor poderia lidar com alunos do Ensino Médio, numa idade desafiadora, bem
como com os espaços e os tempos da escola que ainda precisam de adequações para dialogar
melhor com o mundo da juventude.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 21 .
O sujeito que freqüenta o Ensino Médio possui algumas particularidades sobre as quais
devemos ampliar e aprofundar nosso olhar. Em fase final de adolescência, já passou pelas
grandes transformações corporais, já experimentou muitas práticas no campo dos esportes,
das ginásticas, das lutas e das danças. Na própria escola, nas ruas, nos parques e em clubes, a
vivência com os jogos, brincadeiras e com alguma forma de lazer é uma constante em todos
os níveis sociais, cada um com suas peculiaridades e condições. Então, no Ensino Médio,
gozando da possibilidade de atingir, em alguns setores que freqüenta, certo grau de autonomia
e emancipação, os alunos dessa etapa da educação básica esperam da Educação Física um
tratamento que os considere como jovens ou adultos. Nesse sentido, o professor deverá se
posicionar pedagogicamente de forma bastante diferenciada daquela que exerce na educação
fundamental.
No Ensino Médio já não será possível repetir determinados modelos de aulas, que visam
simplesmente ensinar um gesto esportivo ou determinar um movimento ginástico. Será
preciso dialogar com os alunos e perceber que os interesses deles, nesta etapa de ensino, é a
mola propulsora da prática pedagógica. Se os alunos desejam autonomia e emancipação, o
conhecimento será socializado com o grupo, de forma que todos eles possam se apropriar de
elementos que lhes permitam realizar práticas corporais naquele e em outros momentos de sua
vida adulta, na escola ou fora dela.
É necessário que o professor perceba que alunos jovens e adultos que freqüentam a escola
básica não são obrigados, pela legislação, a tal prática. Freqüentam a escola porque desejam
algo mais do que uma educação obrigatória. Alguns buscam qualificação e preparação para o
trabalho e outros buscam preparação para ter acesso a algum curso universitário. Nessas duas
trajetórias desejadas pelos alunos, a Educação Física não possui uma interferência direta. Sua
participação na qualificação para o trabalho é uma preparação crítica sobre a exploração do
corpo no mundo da produção. Discutir as limitações e capacidades do corpo é uma tarefa
pedagógica de grande valor humano. Além disso, ensinar a lógica do funcionamento do corpo
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 22 .
nos momentos de esforços físicos é uma possibilidade de dotar o aluno de uma capacidade
crítica sobre os usos de seu corpo com autonomia e emancipação. Qualificar-se para o mundo
do trabalho é também se preparar para a manutenção da integridade corporal, muito cara aos
trabalhadores.
Sobre a preparação para o acesso à universidade, a Educação Física também não possui
qualquer interferência direta. No entanto, as práticas corporais que envolvem danças, lutas,
esportes, ginásticas e jogos populares trazem em seu interior uma bagagem cultural de grande
valor. Na verdade, as práticas corporais produzidas historicamente pela humanidade são bens
culturais importantes que traduzem o modo de vida dos povos e o contexto sociocultural da
comunidade escolar. E a Educação Física, nesse contexto, deverá contribuir para a ampliação
do arco cultural dos alunos em qualquer espaço de convivência; na escola, na roda de amigos
ou na comunidade universitária.
Considerar o aluno do Ensino Médio como sujeito sociocultural nos remete ao compromisso
de transformar a Educação Física dentro da escola. Romper com a velha forma de ensinar
esportes sob a lógica esportivizante de massa significa ampliar os espaços e tempos da escola,
ampliar o tempo de diálogo com os alunos e fazer um planejamento que considere o corpo
discente como capaz e responsável por entender e planejar suas práticas.
A tradicional quadra poliesportiva já não é mais o espaço exclusivo e único das aulas de
Educação Física. O Ensino Médio exige outras movimentações espaciais. O entorno da escola
pode e deve ser explorado e adequado, ampliando o entrosamento entre a cultura escolar e o
modo de vida da comunidade próxima. Praias, rios, montanhas, ruas, etc. são alguns espaços
provocadores de temas sobre as práticas corporais como: lazer, prática esportiva,
condicionamento físico, saúde e planejamento coletivo.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 23 .
Contudo, essa tentativa de transformação não se faz com a forma tradicional de organização
do tempo escolar. Não se trata de reivindicar mais tempo de aulas. Seria, em princípio, apenas
uma modificação significativa da organização do tempo em que se colocam as disciplinas e
outros acontecimentos escolares. Lembremos as alunas que chegam à escola, principalmente
no ensino noturno, maquiadas, de salto alto, perfumadas. Lembremos que as escolas, em sua
maioria, não possuem estrutura física que permita aos alunos os cuidados com sua aparência e
com a higiene após as aulas, como a idade deles exige. Além disso, é importante salientar que
a grade de horário tradicional da escola, de uma aula diferente a cada 50 minutos, e a divisão
do conhecimento em disciplinas dificulta a transformação necessária.
Nesse sentido, vislumbramos uma Educação Física que trabalhe com grandes temas, de
interesse da escola, dos alunos e da comunidade. Temas como saúde, exercício físico, direito
ao lazer, direito ao esporte, cultura popular, integridade corporal, etc. são boas oportunidades
para que a escola e os professores possam romper com os horários rígidos e organizem
tempos escolares de acordo com os temas e interesses escolares. A Educação Física, que em
princípio não está diretamente envolvida com os interesses tradicionais, como trabalho e
vestibular, pode assumir a responsabilidade de, através do projeto político-pedagógico, propor
uma escola de tempos e espaços diferentes, transformando os conteúdos escolares em bens
culturais e de direito do aluno.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 24 .
muitas questões que explicam o sentimento de insatisfação descrito pelos investigados. Além
desse sentimento, a presença dessa crença no meio escolar também consolidou os referidos
cursos de idiomas como o modelo a ser trazido para dentro das salas de aula das escolas
regulares. Essa prática requereria, portanto, condições semelhantes às dos cursos externos,
como metodologia atual e reconhecida e o respectivo material didático, número reduzido de
alunos, preparação de professores para a utilização da metodologia e, dependendo do método,
equipamentos para a viabilização das aulas. Além da frustração causada pela ausência dessas
condições, observou-se que, no intuito de procurar acertar, como os cursos externos
demonstravam/aparentavam acertar, a escola regular acabou por importar objetivos que
merecem maior reflexão e avaliação quando a própria escola é o contexto.
Nessa adoção de objetivos, a escola passa a seguir uma concepção de língua e linguagem que
se restringe ao ensino de gramática, ou de vocabulário e gramática, ou ao ensino instrumental
da língua estrangeira, esquecendo-se do papel educacional desse ensino. Na proposta contida
nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Línguas Estrangeiras, busca-se resgatar
essa função educacional para o ensino de línguas estrangeiras na escola. Na revisão de
objetivos, levam-se em consideração as mudanças ocorridas na sociedade, nas pessoas que
constroem essa sociedade, nas concepções de língua e linguagem, nas novas concepções de
cidadania e de trabalho, percebendo que a escola de hoje deveria concentrar-se na formação
de indivíduos / cidadãos com mente aberta para conhecimentos novos, possibilitando
mudanças na maneira de pensar e ver o mundo. E esse desenvolvimento pode ser alcançado
por meio das várias disciplinas do currículo escolar, logo, por meio do ensino de línguas
estrangeiras também.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 25 .
noções como inclusão e exclusão social, do global e do local. Propõe-se, ainda, que a
concepção filosófico-pedagógica desse ensino se realize por meio de renovada visão de
letramento, visão essa que se preocupa em rever a construção convencional da linguagem do
aprender a ler e escrever, em vista das inegáveis influências das novas tecnologias na
sociedade.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 26 .
convenção-página (a leitura é feita da esquerda para a direita, de cima para baixo), com as
formas padronizadas e oficiais da língua nacional (ou língua-alvo) e restringe-se a uma forma
de linguagem formalizada, monolíngüe, monocultural e centrada em regra (Cope & Kalantzi,
2000). Segundo Soares, a sociedade tecnologizada contribuiu para a mudança do significado
de leitura e para o acesso à leitura. Se antes o alfabetizado era aquele capaz de ler um simples
bilhete e de codificar o próprio nome, atualmente é o indivíduo capaz de usar a leitura e a
escrita para uma prática social. Verifica-se que hoje os jovens exercitam novas práticas de
letramentos, como jogos e videogames (que pedem compreensão auditiva, escrita, visual,
interação não verbal), leitura de páginas ‘web’ (que contam com novas linguagens visuais e
auditivas), leitura de hipertexto, além de construir blogs e flogs, exercitando, ao mesmo
tempo, leitura, escrita, oralidade.
Essas ponderações lançam o desafio de um ensino de línguas estrangeiras que não se encontra
“pronto para uso”, mas que já oferece muita experiência sobre o que deve ser reconstruído.
Certamente o aluno continuará a estudar um idioma estrangeiro, contudo, segundo
perspectivas que podem aproximar o que ele aprende com a sua vivência social. Essa talvez
possa ser uma alternativa para que se desfaça a impressão de que a Língua Inglesa está
deslocada no currículo escolar. E a confiança de que a escola pode realizar uma proposta
significativa desse ensino.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 27 .
Referências bibliográficas
COPE, B.; KALANTZIS, M. Multiliteracies: literacy learning and the design of social
futures. London: Routledge, 2000.
Notas:
2
Professora no Departamento de Letras Modernas da Universidade de São
Paulo – USP. Co-autora das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio: Línguas Estrangeiras e das Orientações Curriculares para o Ensino
Médio: Línguas Estrangeiras para o Estado de São Paulo.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 28 .
PROGRAMA 3
História e Matemática
Por algum tempo, entendeu-se que haveria uma oposição. Passou-se, inclusive, a achar que os
conteúdos das disciplinas seriam dispensáveis, bastando insistir e investir na educação
segundo princípios didático-padagógicos, considerados formadores por si sós. O discurso
pedagógico se sobrepôs ao discurso das metodologias dos conhecimentos científicos
requeridos pelas chamadas “disciplinas”. Estas seriam apenas “muletas” para se atingirem
objetivos superiores.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 29 .
Na elaboração das Orientações curriculares para o Ensino Médio (DCEM) procurou-se
superar este falso dilema. Considera-se de fundamental importância ter como meta e
horizonte, em todo o Ensino Médio, o conceito de educação permanente, que tem em vista o
desenvolvimento não apenas de competências cognitivas, mas também das socioafetivas,
psicomotoras e das que incentivam uma intervenção consciente e ativa na realidade social em
que vive o aluno. As DCEM as enumeram: a autonomia intelectual e o pensamento crítico; a
capacidade de aprender e continuar aprendendo, de saber se adequar de forma consciente às
novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento, de constituir significados sobre a realidade
social e política, de compreender o processo de transformação da sociedade e da cultura; o
domínio dos princípios e dos fundamentos científico-tecnológicos para a produção de bens,
serviços e conhecimentos.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 30 .
Contribuições da disciplina História
1. Introdução
a) A grande questão é: como compor os conteúdos que serviriam de arcabouço para que o
ensino de História colabore para a formação do cidadão? A variedade de formas de organizar
os conteúdos de História é enorme. Em vista disso, optou-se por apresentar como
“orientações” os conceitos básicos que sustentam o conhecimento histórico e que podem
articular as práticas dos professores em sala de aula. Não foram dadas sugestões de
organização de currículo, mas sim aquilo que deverá estar presente em qualquer forma de
apresentação possível. Os conceitos básicos do conhecimento histórico fazem parte do
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 31 .
arcabouço constituído, ao longo dos tempos, pela prática dos historiadores. Dessa prática
foram se construindo procedimentos e conceitos, em torno dos quais giram as preocupações
dos historiadores, independentemente de posicionamentos ideológicos, de concepções de
mundo, ou de proposições de ordem metodológica. Qualquer elaboração feita por
historiadores ou por professores de História deverá levar em consideração esses conceitos
básicos historicamente constituídos. O que diferencia as diferentes concepções ou
organizações curriculares é a forma como esses conceitos e procedimentos são entendidos e
trabalhados. Propostas pedagógicas, assim como a elaboração do conhecimento escolar, têm
necessariamente compromissos com essas práticas historiográficas.
Antes de tudo, é necessário levar em conta a historicidade dos conceitos, isto é, os conceitos
criados para explicar certas realidades históricas têm o significado voltado apenas para essas
realidades, sendo equivocado empregá-los para toda e qualquer situação semelhante.
b) Quais são esses conceitos básicos, além de sua historicidade? O conceito de história como
conhecimento supõe o exercício dos procedimentos que são próprios desse conhecimento
como, por exemplo, problematização, delimitação do objeto, levantamento e tratamento
adequado das fontes, organização dos dados, etc. Já o processo histórico supõe que o passado
humano constitui um conjunto de comportamentos intimamente interligados, que tem uma
razão de ser. O tempo, como uma das categorias centrais do conhecimento histórico,
entendido como um produto cultural, representa um conjunto complexo de realizações
humanas. É necessário considerar que os sujeitos históricos, todas as pessoas, são os
construtores da história e não apenas os “grandes personagens”. O trabalho, entendido como
um modo de sustentação e autopreservação do gênero humano, é conceito fundamental para
se compreender a formação e o fazer histórico da humanidade. O poder é esta trama de
relações presentes em todos os níveis da vida humana, que impulsiona as atitudes das pessoas,
das menores às mais complexas. A cultura está presente na organização do trabalho, da casa,
da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiões, das festas, nas diversidades
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 32 .
étnicas, sexuais, religiosas, representações duradouras que influenciam todos os aspectos da
vida social. A memória, entendida em seus aspectos múltiplos, como preservação da
lembrança de vidas sociais, que poderá servir tanto como estímulo às lutas em prol do bem
público quanto para perpetuar ideologias dos dominantes. E, por fim, o conceito de cidadania
nos alerta para a necessidade do aprimoramento de atitudes e valores imprescindíveis ao
exercício da cidadania.
a) Seleção e organização dos conteúdos. A escola tem por obrigação proporcionar aos
alunos a aquisição crítica e ativa do conjunto de conhecimentos socialmente elaborados. É
por meio deste exercício constante de aquisição crítica e ativa de conhecimentos e do
convívio salutar na comunidade escolar que se torna possível a construção das competências
necessárias ao pleno desenvolvimento do aluno, em busca de sua formação para a cidadania.
Pode-se dizer que o currículo da escola e de cada disciplina toma corpo e ocupa lugar
estrategicamente central no processo educativo por meio dos conteúdos tratados de forma
científica, atualizada e significativa para fins escolares. Pretende-se atingir os objetivos do
Ensino Médio e o desenvolvimento das competências por meio do trabalho com os
conteúdos. São as estratégias didático-pedagógicas que garantem o sucesso dos enfoques
educacionais: a prática pedagógica planejada e interdisciplinar.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 33 .
b) Diversidade na apresentação dos conteúdos. A organização dos conteúdos, como parte
integrante do currículo, está relacionada à concepção de ensino que preside o projeto político-
pedagógico da escola e à concepção de História explícita ou implicitamente presente na
prática pedagógica da disciplina. Daí a variedade que se constata nas propostas curriculares
das escolas. A título de exemplo, podem ser lembrados: organização linear; história integrada;
eixos temáticos; seqüencialidade e exercícios de prática do conhecimento histórico;
seqüencialidade informada por eixos temáticos; espontaneidade assumida pelo professor;
orientações específicas das Secretarias de Educação. Essa diversidade de possibilidades pode
também ser estudada tomando como referência o “Catálogo do Programa Nacional do Livro
para o Ensino Médio: PNLEM/2008”, recentemente lançado pelo MEC, como resultado da
avaliação de Livros Didáticos para o Ensino Médio. Você pode encontrar esta publicação no
site do MEC/Secretaria do Ensino Básico.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 34 .
1. Introdução
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 35 .
enfrentadas pela humanidade ao longo de sua história, e que percebam sua importância no
desenvolvimento científico e tecnológico. Para tanto, deve-se sempre agregar um valor
formativo ao desenvolvimento do pensamento matemático, de forma que os alunos possam
compartilhar responsabilidades sobre o processo de ensino e aprendizagem, valorizando o
raciocínio matemático, formulando questões, perguntando-se sobre a existência de solução,
levantando hipóteses, apresentando conclusões, considerando exemplos e contra-exemplos,
generalizando situações, percebendo e abstraindo regularidades, criando modelos,
argumentando com fundamentação lógico-dedutiva.
b) Quais são esses conceitos matemáticos essenciais para o Ensino Médio? O estudo dos
Números e Operações deve proporcionar aos alunos uma diversidade de situações, de forma a
capacitá-los para resolver problemas do quotidiano, bem como científicos, os quais envolvam
números naturais, racionais, irracionais e complexos. Destaca-se a importância da estimativa e
do cálculo mental frente ao uso da tecnologia. Ao se abordar o tema Funções, deve-se iniciar
pela exploração qualitativa de relações entre duas grandezas, em diferentes situações. Vale
um destaque ao estudo das funções trigonométricas, que devem ser entendidas como
extensões das razões trigonométricas, priorizando-se o estudo das funções seno, co-seno e
tangente. A Matemática Financeira deve ocupar um lugar especial no currículo como um
assunto a ser tratado quando do estudo da função exponencial, e não se recomenda um estudo
exaustivo dos logaritmos. O estudo da Geometria deve possibilitar aos alunos desenvolverem
a capacidade para resolver problemas práticos do quotidiano, permitindo-lhes orientar-se no
espaço, ler mapas, estimar e comparar distâncias percorridas, reconhecer propriedades de
formas geométricas básicas, saber usar diferentes unidades de medida. O trabalho com a
Geometria Analítica deve permite a articulação entre Geometria e Álgebra. Assim como o
estudo de sistemas de equações deve colocar a Álgebra sob o olhar da Geometria. O bloco
Análise de Dados e Probabilidade justifica-se pela necessidade de os alunos ampliarem e
formalizarem seus conhecimentos sobre o raciocínio combinatório, probabilístico e estatístico.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 36 .
3. Perspectivas de ação pedagógica
a) Seleção e organização dos conteúdos. A escola precisa organizar seu trabalho pedagógico
de acordo com seus alunos, considerando o projeto político-pedagógico como um processo
constante de reflexão e discussão sobre os problemas escolares, tendo como intenção a busca
de soluções através de ações colaborativas entre os membros que constituem a escola. É
necessário que o corpo docente assuma o trabalho colaborativo como sustentação para a
formação de estudantes capacitados para o exercício crítico da cidadania e coloque em ação
um currículo no qual se busque a integração dos conhecimentos, especialmente por meio do
trabalho interdisciplinar. Esta forma de trabalho requer a cooperação e o compartilhamento de
tarefas, e o desenvolvimento destas atitudes é, sem dúvida, um desafio para educadores.
Como resultado, vai propiciar aos alunos adquirir habilidades em contextualizar e integrar os
saberes, permitindo-lhes o acesso ao saber cultural e a aquisição de ferramentas para
entendimento da sociedade em que vivemos.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 37 .
matemático, pode aparecer como um importante elemento de contextualização dos objetos de
conhecimento que vão entrar na relação didática.
Notas:
2
Professor Doutor no Departamento de História da Universidade Federal de
Goiás - UFG. Consultor desta série.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 38 .
PROGRAMA 4
Filosofia e Sociologia
Por mais paradoxal que pareça, a interdisciplinaridade tem sido um princípio no qual se
depositam praticamente muitas das esperanças da educação e que, ao mesmo tempo, tem
oferecido muitas dificuldades de operacionalização. Talvez por ser idealizada em demasia,
pois se espera que pelo simples uso da palavra “interdisciplinaridade” e da boa vontade de
todos facilmente se efetive a sua prática e se obtenham seus resultados – a educação de
qualidade, uma regeneração em vista do que encontramos no dia-a-dia das escolas. No
entanto, o que parece acontecer é justamente uma dificuldade quanto à sua definição e, além
disso, quanto à identificação de estratégias, atividades, em suma, a metodologia apropriada
para que a interdisciplinaridade deixe de ser uma utopia educacional.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 39 .
efetivar um trabalho interdisciplinar, elegem “temas geradores”, para que todas as disciplinas
do currículo apresentem sua contribuição, o que acaba quase sempre produzindo situações
forçadas, quando não constrangedoras.
Todo problema, ao que parece, está em uma falta de reflexão mais profunda sobre o conceito
de interdisciplinaridade, por exemplo, se é algo possível de se fazer em qualquer etapa de
ensino, ou se é algo só atingível em um nível bastante elevado de pesquisa. A adesão ao
princípio foi feita acriticamente, apenas por ser identificado como algo progressista... Por
outro lado, a formação bastante deficiente dos professores nos cursos de licenciatura – na
maioria dos casos, um conjunto de disciplinas “pedagógicas” acrescidas ao bacharelado –
também tem contribuído muito para que os professores da educação básica circunscrevam o
seu ensino à sua disciplina e aos conteúdos convencionais desta, não transitando para outras
áreas, não buscando um diálogo com outros saberes.
Quando um pesquisador recorre a várias fontes, mobiliza vários saberes a fim de dar uma
explicação a mais completa possível de um fenômeno, aí podemos encontrar exemplo de
interdisciplinaridade. Mas, quando um aluno do Ensino Fundamental ou Médio assiste a
várias aulas em várias disciplinas sobre o mesmo tema, será que podemos chamar a isso de
interdisciplinaridade? Ao fim e ao cabo, quem deveria fazer o trabalho de “costura
interdisciplinar” acabaria sendo o aluno, mas o que ele não aprendeu foi justamente uma
concepção ou perspectiva interdisciplinar, aliás, o que falta a tantas propostas pedagógicas
que se dizem assim.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 40 .
para desenvolver temas caros à Epistemologia, aí também estão presentes aspectos de
interdisciplinaridade. Ou, ainda, quando a História usa filmes “históricos” ou não para debater
temas seus, como fontes, documentos, fato histórico etc., aí, embora de modo diverso, pode-se
encontrar exemplos de interdisciplinaridade. Observe-se que não é necessário percorrer o
conjunto das ciências ou disciplinas escolares para se ter instalado um processo
interdisciplinar, no entanto, fica também claro que um mesmo professor pode “ultrapassar” as
fronteiras de sua especialidade e caminhar ao encontro de outros saberes necessários para
entender, com mais profundidade ou abrangência, um fenômeno. Mas é importante que se
perceba que esse profissional deve “saber mais” que sua especialidade, e isso não se produz
apenas com boa intenção – há por trás disso uma formação que não se encontra nos processos
normais institucionalizados pelos cursos de graduação. De um modo geral, isso tem sido
produto singular de voluntarismos ou de espontaneísmos bastante casuais...
Filosofia e Sociologia – esta entendida por nós como disciplina que no Ensino Médio
representa o campo das Ciências Sociais – talvez sejam em si mesmas um convite à
interdisciplinaridade, motivo pelo qual muitas vezes se quis “dissolvê-las” no currículo, ao
dar-lhes “tratamento interdisciplinar”. São, por exemplo, disciplinas que podem tomar o
próprio currículo como objeto de análise; podem transitar para fora do campo científico, por
exemplo, indo até as Artes e tomando-as também como objeto de interpretação; ou, ainda,
investigar os produtos mais prosaicos da mídia, bem como o próprio processo de
“midiatização” contemporâneo. Esses são exemplos do que se pode entender por
interdisciplinaridade, sem cair em imediatismos, ilusões fáceis que, no melhor dos casos,
poderiam ser chamados de multidisciplinares.
A Filosofia costuma dialogar com os diversos saberes, embora não se confunda com eles. O
que lhe é próprio e lhe dá uma matriz disciplinar resulta de um modo específico de elaborar as
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 41 .
questões, indagando por seus fundamentos, ou por seu sentido. Além disso, como uma
referência de nossa civilização, caracteriza a Filosofia um acervo de problemas, de modo que
não se pode dialogar com os saberes sem remontar à sua história.
Pontos inspiradores das atuais Orientações Curriculares reforçam essa dupla referência aos
outros saberes e à história da Filosofia. Por outro lado, as Orientações supõem uma
continuidade entre o Ensino Médio e o atual estágio de formação de professores e de
pesquisadores em Filosofia. É claro que o Ensino Médio não deve reproduzir meramente o
ensino universitário, do qual seria uma caricatura e uma simplificação. Por outro lado,
provavelmente geraria dano, não resultasse de uma formação haurida em contato com as
melhores referências e, em especial, com o trabalho rigoroso com os textos clássicos.
Além dessa referência à história da Filosofia, cumpre lembrar que temos muito a ganhar pelo
diálogo com outras disciplinas na formação de específicos projetos pedagógicos. Assim, por
exemplo, noções centrais de lógica bem podem ser enriquecidas pela experiência de
demonstração matemática. Questões relativas à finalidade na natureza, à existência de ordem
imanente ou transcendente, podem resultar de um diálogo com temas próprios da seleção
natural. Reflexões de natureza ética ou as relativas à Filosofia política tanto podem ter como
ponto de partida a série de escândalos da vida pública, quanto podem, com grandes vantagens,
tematizar conteúdos propostos pela História. Em todos esses casos, conteúdos oriundos das
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 42 .
outras disciplinas são reavaliados à luz de textos ou de tramas conceituais próprias da reflexão
filosófica.
Quando é virtuosa uma ação ou em que importa ser demonstrável uma verdade:
“considerandos” assim, entre tantos outros possíveis, deslocam a reflexão para o fundamento
ou para o sentido. Nesse plano conceitual, no momento em que nos afirmamos com
autonomia ante nosso saber, sempre estaremos filosofando, mesmo para eventualmente negar
que o devamos fazer. Por isso, em certa medida, à diferença de outros saberes, a pergunta pelo
sentido da Filosofia (não importando aqui qual a resposta) é ela mesma uma questão
filosófica, enquanto, por exemplo, ao contrário, não é objeto propriamente químico a ciência
da química. Além disso, a reflexão filosófica corresponde a demandas profundas da
humanidade e, em especial, a uma nossa demanda de formação. Com a reflexão filosófica,
podemos escolher conformar nossa identidade em diálogo com a mais elevada tradição
intelectual do Ocidente. E não podemos julgar desprezível (sobretudo em tempos de tanto
esgarçamento, de tanta inconsistência) um refinamento advindo do contato com os maiores
pensadores.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 43 .
Além disso, a indagação filosófica, desde a mais técnica até a mais prática, é hoje amplamente
demandada por nossa sociedade que, com grande insistência, nos desafia a pensar dimensões
próprias da ética, como na reflexão sobre os limites do conhecimento científico ou ainda, de
modo mais deletério, sobre a ação de nossos homens públicos. Exercício de rigor, o filósofo
cobra argumentos, procura a seu modo a exatidão. Ou seja, trabalha o conceito de tal forma
que sua posição específica, sua singular aventura de pensamento, não nos recusa a
possibilidade de exame, de crítica, apresentando-se como um caminho de interrogação que,
com boas razões, pode ser repetido ou, também com grande proveito, pode ser negado.
Um exercício de rigor (que é, em essência, um trabalho conceitual) não pode ser reduzido a
uma soma de datas, nomes e idéias soltas. Não pode confundir-se com a memorização de
posições reduzidas à simplificação em frases mortas, deslocadas do contexto das obras em
que têm vida e sentido. Por isso mesmo, é ainda maior o desafio para a Filosofia no Ensino
Médio, sendo grande o risco de que, ao deslocar-se para esse contexto particular, sem as
melhores condições de trabalho e, com freqüência, contando com poucas horas de aula, o
mais refinado trabalho intelectual do Ocidente se degenere em falsa sabedoria, em senso
comum empavonado ou em um somatório enigmático de frases vazias.
Enfim, filosofar significa viver ainda mais intensamente. A precisão, a exatidão, nesse caso,
nunca é renúncia à aventura. É antes aventura que se sabe profunda e comedida, uma vez que,
nela, o pensamento não se furta ao caminho laborioso do conceito. Com isso, ao longo da
história da Filosofia, renova-se o desafio singular de uma navegação que se pretende exata,
sem deixar, contudo, de alimentar-se da inexatidão mesma da vida.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 44 .
A presença da Sociologia no currículo do Ensino Médio – entendida sempre como espaço
disciplinar que representa o campo das Ciências Sociais – tem provocado muita discussão.
Além dessa justificativa que se tornou slogan ou chavão – “formar o cidadão crítico” –,
entendemos que haja outras mais objetivas decorrentes da concretude com que a Sociologia
pode contribuir para a formação do jovem brasileiro. Quer contribuindo com a aproximação
desse jovem de uma linguagem especial que a Sociologia oferece, quer sistematizando os
debates em torno de temas de importância dados pela tradição ou pela contemporaneidade, a
Sociologia pode oferecer ao aluno também “modos de pensar”, ou reconstrução e
desconstrução de modos de pensar. É possível, observando as teorias sociológicas,
compreender os elementos da argumentação – lógicos e empíricos – que justificam um modo
de ser de uma sociedade, classe, grupo social e mesmo comunidade.
Outro papel que a Sociologia realiza, mas não exclusivamente ela, e que está ligado aos
objetivos da Filosofia e das Ciências, humanas ou naturais é o estranhamento. No caso da
Sociologia, está em causa observar que os fenômenos sociais que nos rodeiam e dos quais
participamos não são de imediato conhecidos, pois aparecem como ordinários, triviais,
corriqueiros, normais, sem necessidade de explicação, aos quais estamos acostumados e nem
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 45 .
os vemos na verdade. Assim como a chuva é um fenômeno que tem uma explicação
científica, ou uma doença também tem explicações; ou do mesmo modo que as guerras,
mudanças de governos podem ser estudadas pela História, ou cataclismos naturais estudados
pela Geografia, os fenômenos sociais merecem ser compreendidos ou explicados pela
Sociologia. Mas só é possível tomar certos fenômenos como objeto da Sociologia na medida
em que os submetermos a um processo de estranhamento, que os coloquemos em questão,
problematizando-os.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 46 .
Ciências Naturais muitos chamam de alfabetização científica. Trabalhar com conceitos requer
inicialmente que se conheça cada um deles em suas conexões com as teorias, mas que se
cuide de articulá-los com casos concretos (temas). Ao tomarmos um conceito – recorte
conceitual –, este tanto faz parte da aplicação de um tema quanto tem uma significação
específica, de acordo com uma teoria, do contrário, os conceitos sociológicos seriam apenas
um glossário sem sentido, pelo menos para alunos do Ensino Médio. Os conceitos possuem
história e é necessário que isso seja levado em conta ao trabalhar com eles. É necessário que
se contextualize o conceito para que sua história e seu sentido próprio possam ser entendidos
pelos alunos, não como uma palavra mágica que explica tudo, mas como um elemento do
conhecimento racional que permite melhor explicar ou compreender a realidade social. A
importância de se trabalhar com conceitos é que podemos desenvolver nos alunos o domínio
de uma linguagem específica, a linguagem científica, no caso a sociológica no tratamento das
questões sociais.
b) Temas: Pode-se trabalhar com muitos temas e, dependendo do interesse do professor, dos
alunos e também da própria escola, há a possibilidade de se adequar as escolhas a esta
realidade. Quando propomos o recorte dos temas para o ensino da Sociologia, não o fazemos
pensando em se analisar os chamados “problemas sociais emergentes” de forma aligeirada e
imediatista. Assim, temas que podem ser escolhidos pelo professor e pelos alunos, como
globalização, menor abandonado, gravidez na adolescência, violência e criminalidade,
desemprego etc. são importantes no cotidiano e não podem ser tratados de modo
desconectado da realidade em que são produzidos, mas também não podem ser apresentados
sem uma articulação com os conceitos e teorias que podem explicá-los. A idéia de recorte
aqui não significa “colcha de retalhos” nem fragmentos, mas uma perspectiva de abordagem:
há costura e há composição, dadas pela intervenção do professor, com o auxílio das teorias e
dos conceitos. Um tema não pode ser tratado sem o recurso a conceitos e a teorias
sociológicas, senão se banaliza, vira senso comum, conversa de botequim.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 47 .
c) Teorias: É muito comum encontrarem-se programas de secretarias estaduais de educação,
ou de programas de escolas isoladas onde constam conteúdos de teorias clássicas: análise
dialética (Marx) análise funcionalista (Durkheim) e análise compreensiva (Weber). Trabalhar
com as teorias, clássicas ou contemporâneas, impõe a necessidade de se compreender cada
uma delas no contexto de seu aparecimento e posterior desenvolvimento – apropriação e
crítica. É possível entender as teorias sociológicas como “modelos explicativos” e, enquanto
tal, uma teoria “reconstrói” a realidade, tentando dar conta dos fatores que a produziram e dos
possíveis desdobramentos seus. Optando por tomar esse recorte, o professor poderia partir da
apresentação da teoria do autor, reconstruindo-a numa linguagem acessível, mas rigorosa,
tendo como referências principais alguns temas e alguns conceitos que poderiam ser
destacados e discutidos com os alunos, de modo a garantir a compreensão do papel de uma
teoria científica, sua linguagem, seus objetos e métodos de pesquisa e suas relações com a
realidade. As teorias são compostas por conceitos e ganham concretude quando aplicadas a
um tema ou objeto da Sociologia, mas a teoria a seco só produz, para esses alunos,
desinteresse.
Notas:
2
Professor Doutor no Departamento de Filosofia da Universidade Federal da
Bahia - UFBA.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 48 .
PROGRAMA 5
A CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO
Toda professora e todo professor desejam que os conteúdos que ensinam e as habilidades que
desenvolvem com os alunos ultrapassem os limites da sala de aula e sejam, de fato, aplicados
por eles em sua vida pessoal e social, adquiram significado permanente. Para tanto, tais
professores geralmente buscam meios de tornar o aprendizado mais eficiente e significativo.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio, OCEM (Brasil, 2006), propõem a
contextualização e a interdisciplinaridade como práticas possíveis de serem executadas no
ensino das diferentes disciplinas. Essas práticas possibilitam, também, o diálogo entre as
disciplinas, interatividade de professores e alunos e interação destes com os assuntos.
Convém recordar que essa não é uma idéia recente: já os Parâmetros Curriculares Nacionais
de 2002, PCN+ (Brasil, 2002), recomendam a contextualização por meio de temas na parte
comum das Ciências Naturais. Para explicar a contextualização, o documento dá o exemplo
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 49 .
do estudo da energia em uma abordagem sociocultural. Dessa maneira, o tema Energia deixa
de ser do domínio exclusivo desta ou daquela disciplina e passa a ser ensinado - e
compreendido – com o auxílio de informações de todas elas: Biologia, Química, Física,
Geografia, História, Ciências Sociais. O mesmo documento sublinha que:
Lá, como aqui nas OCEM, a contextualização busca, portanto, a valorização do papel da
educação básica na preparação de cidadãos que possam participar da sociedade científica e
tecnológica em que estão inseridos, de modo que saibam decidir, usando seus conhecimentos
científicos, por valores e atitudes, sobretudo nos assuntos referentes à ciência e à tecnologia.
Cidadãos que possam, enfim, exercer plenamente sua cidadania. É sobre um pouco de tudo
isso que este debate trata.
O ensino de Biologia
“Como ensinar Biologia?”, “Como motivar meus alunos a aprender tantas informações e
conteúdos?”. Qual professora ou professor de Biologia nunca teve estas dúvidas ao abrir a
porta da sala de aula? Existem respostas? As Orientações Curriculares para o Ensino Médio
discutem algumas dessas questões. Não se trata, é claro, de fornecer protocolos ou listas de
procedimentos a serem seguidos. Todo professor sabe que cada sala de aula, cada turma é
única e que o aprendizado será sempre mais efetivo na medida em que os alunos despertarem
para essa realidade. É sobre isso que as Orientações tratam: sobre a realidade do professor e
sobre suas expectativas, fornecendo reflexões e apontando possibilidades de percurso. Nesse
contexto, a Biologia tem muito a colaborar.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 50 .
Vivemos, estamos inseridos em um mundo biológico. Essa constatação tão óbvia e, ao mesmo
tempo, tão natural, por si, já serviria como ponto de partida para o aprendizado da Biologia. A
realidade, no entanto, é bem distinta: o que se verifica é um distanciamento entre a Biologia
do livro didático ou do conteúdo programático e a Biologia do cotidiano, aquela vivenciada
nos fenômenos e acontecimentos naturais.
Somos organismos vivos, estamos sujeitos aos mesmos fenômenos que os demais
organismos. Em contrapartida, mais do que estarmos sujeitos, somos sujeitos, atores, de
grande parte das mudanças que afetam os demais seres vivos. Se os nossos alunos
conseguirem compreender essas duas faces da mesma realidade, o aprendizado terá
acontecido.
Para que a contextualização aconteça, o primeiro movimento deve ser do professor. É ele ou
ela quem reconhece situações em seu entorno que facilitam e tornam possível o aprendizado.
Da parte do professor, não se trata de adquirir novos conhecimentos ou conteúdos, mas de
reorganizar as informações já existentes. Uma escola em área rural vivencia problemas e
realidades diferentes de outra situada no centro de uma grande cidade. Entretanto, ambas
poderão trabalhar conceitos de ecologia, de botânica, de zoologia, de genética, por exemplo,
usando elementos e situações que lhes são próprias.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 51 .
O aluno deve perceber que o conhecimento de biologia o ajuda a solucionar e a explicar
problemas reais, de seu dia-a-dia. Mais do que isso: deve constatar que todos aqueles
fenômenos, processos, elementos, que estão presentes durante as aulas de Biologia acontecem
ali, com ele, nele, sob sua pele.
Esse é um momento de vida em que o aluno está se firmando como indivíduo, como ser
independente. Portanto, considerar o protagonismo desse jovem, suas culturas e seus
contextos será um eficiente ponto de partida para o trabalho pedagógico da professora, do
professor de Biologia. As Orientações Curriculares abordam também tais questões.
O mundo, hoje, está repleto de situações nas quais o conhecimento biológico é necessário
para que as pessoas possam decidir entre uma ou outra posição. O uso e o consumo de
transgênicos são ou não recomendáveis? A derrubada do cerrado para plantio de mamona
deve ou não ser feita? A função do professor, nesse contexto, não será advogar a favor ou
contra uma posição, mas dar subsídios para que o aluno, ele próprio, decida. Para tanto, esse
aluno deve considerar seus conhecimentos biológicos, seus valores éticos, morais e pessoais.
O aprendizado da Biologia deve propiciar, em síntese, que o estudante desenvolva uma nova
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 52 .
perspectiva de olhar: observe a realidade (próxima ou mais distante), compreenda suas
características e seus condicionantes e, o principal, que enxergue, nessa realidade, as
possibilidades de mudança. Dessa forma, estaremos colaborando para a construção de
personalidades críticas e criativas. Estaremos, assim, construindo cidadãos.
O ensino de Química
Para muitos, a simples menção do cotidiano já significa inovação. Mas será que a simples
identificação de processos químicos do cotidiano torna o ensino de Química mais relevante
para o aluno? Será que o aluno aprenderá Química mais facilmente com tal ensino? Na
verdade, muitas vezes, essa aparente contextualização aparece apenas como um pano de
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 53 .
fundo para encobrir a abstração excessiva de um ensino puramente conceitual, enciclopédico,
de cultura de almanaque. Nessa visão, são adicionados cada vez mais conteúdos ao currículo,
como se o conhecimento isolado por si só fosse a condição de preparar os estudantes para a
vida social.
O que seria, então, uma contextualização no ensino de Química? Essa pode ser vista com os
seguintes objetivos: 1) auxiliar na aprendizagem de conceitos científicos e de aspectos
relativos à natureza da ciência; 2) desenvolver atitudes e valores em uma perspectiva
humanística diante das questões sociais relativas à ciência e à tecnologia; e 3) encorajar os
alunos a relacionar suas experiências escolares em ciências com problemas do cotidiano.
Com esses objetivos a contextualização pedagógica da Química é vista nas OCEM com o
papel da concretização dos conteúdos curriculares pela inter-relação entre teoria e prática,
conceitos cotidianos e científicos; não na perspectiva da conversão de um no outro, nem da
substituição de um pelo outro, mas, sim, do diálogo capaz de ajudar no estabelecimento de
relações entre conhecimentos diversificados, pela constituição de um conhecimento plural
capaz de potencializar a melhoria da vida.
Defende-se nas OCEM uma abordagem de temas sociais (do cotidiano) e uma
experimentação que, não dissociadas da teoria, não sejam pretensos ou meros elementos de
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 54 .
motivação ou de ilustração, mas efetivas possibilidades de contextualização dos
conhecimentos científicos, tornando-os socialmente mais relevantes. Para isso, é necessária a
articulação na condição de proposta pedagógica na qual as situações reais tenham um papel
essencial na interação com os alunos (suas vivências, saberes, concepções), sendo o
conhecimento, entre os sujeitos envolvidos, meio ou ferramenta metodológica capaz de
dinamizar os processos de construção e negociação de significados. Sugerem-se, assim, que
os temas sejam selecionados de acordo com as condições e os interesses dos sujeitos no
âmbito da comunidade escolar.
Não se procura uma ligação artificial entre conhecimento científico e cotidiano, restringindo-
se a exemplos apresentados apenas como ilustração ao final de algum conteúdo; ao contrário,
o que se propõe é partir de situações problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário
para entendê-las e procurar solucioná-las. Assim se busca o desenvolvimento de atitudes e
valores e da capacidade de tomada de decisão.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 55 .
comum e à ordem democrática.
Notas:
2
Professor Doutor no Instituto de Química da Universidade de Brasília.
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 56 .
Presidente da República
Luís Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Supervisora Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Sandra Maciel
Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TVE Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
Email: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvebrasil.com.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar - Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Setembro 2007
…..........................................................................................................................
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO 57 .