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Universidade Federal da Bahia

Instituto de Psicologia
Psicopatologia

Eletroconvulsoterapia: onde fica a autonomia do sujeito e o diálogo entre os profissionais na ala


3B?

Drielle Santos
Irani S. Silva
Marília Carneiro
Vanessa J. Santos
Vanessa P. Rocha

Salvador- BA
2014
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Psicologia
Psicopatologia

Eletroconvulsoterapia onde fica a autonomia do sujeito e o diálogo entre os profissionais na ala


3B

Trabalho apresentado à disciplina de


Psicopatologia, como requisito
avaliativo, com orientação da docente
Andréa Hortélio.

Salvador - BA
2014

1. Introdução
Na área da saúde mental existem hoje vários posicionamentos e modos de intervenção
possíveis (Bezerra e Silva; Caldas, 2008). Sabe-se, no entanto, que a Reforma Psiquiátrica se
propôs a desconstruir os paradigmas clássicos da psiquiatria, no que diz respeito, a assistência
manicomial/hospitalocêntrica, bem como a lógica que os sustenta.

A psiquiatria abriu mão de uma série de tratamentos biológicos que eram utilizados no
tratamento de doenças mentais por julgarem estes inadequados, no entanto, dentre estes
tratamentos, temos a eletroconculsoterapia (ECT), que surgiu na mesma época, e se faz presente
ainda nos dias atuais.

Este trabalho visa refletir sobre aspectos ligados a ECT, inclusive se este tipo de
tratamento se inclui na proposta de não exclusão do doente mental e da sua subjetividade, como
trazido pela reforma psiquiátrica, ainda discute a cerca das implicações que trouxe a criação de
alas psiquiátricas em hospitais gerais universitários, onde a ECT é ofertado; dos critérios,
eficácia e aprimoramentos por quais passou a técnica. Também está presente aqui a discussão a
cerca dos embates teóricos e da falta de diálogo que existe entre os profissionais afins, levando o
tema a ser tratado sempre, por apenas, uma única perspectiva. Para esta reflexão, além de
consultar a literatura, foram feitas visitas na ala psiquiátrica do Hospital Universitário Edgar
Santos, o Complexo HUPES da Universidade Federal da Bahia.

1.1 Eletrochoque ou Eletroconvulsoterapia? - Traçando uma história

A eletroconvulsoterapia ou eletrochoque, como é popularmente conhecida o uso do


termo, podendo também indicar uma posição teórica do autor (a), começou a ser aplicada,
segundo Bezerra e Silva & Caldas (2008), na década de 30 e continuou sendo utilizada
ininterruptamente até os dias de hoje.

Os mesmos autores contam que uma técnica, a malarioterapia, método de choque pela
febre proposto por Juareg (1917), foi responsável por abrir o circuito de tratamentos biológicos
em psiquiatria. Mas, foi Meduna (1933) quem deu origem a prática de provocar convulsões para
a melhora de sintomas psiquiátricos. O autor, ao perceber que era incomum que se ocorressem
convulsões em pacientes esquizofrênicos, e ao observar que estes tinham uma recuperação
facilitada após um episódio epléptico, lançou a hipótese de que a eplepsia seria capaz de
antagonizar a esquizofrenia. O que sugeriu este autor foi um antagonismo biológico entre as
convulsões da eplepsia e os delírios psicóticos, isto se apoia na ideia de que “...uma condição
psiquiátrica poderia ser alterada por uma doença sistêmica” (Fink, 2007, p. 206 apud Bezerra e
Silva; Caldas, 2008)

A partir dessa premissa, abriu-se uma série de tratamentos biológicos: a prática de


transfusão de sangue de pessoas epilépticas para esquizofrênicas, a administração de
drogas convulsivantes, a insulinoterapia, a lobotomia, e, finalmente, a
eletroconvulsoterapia. Foi em 1938, com Cerletti e Bini, que o método de ECT começou
a ser utilizado. Todavia a teoria de Meduna, que deu sustentação às práticas
convulsivantes, foi posteriormente contestada. (Bezerra e Silva; Caldas, 2008, p. 347)

Segundo Silva (2012), inúmeros pacientes, em vários países, foram tratados com
eletrochoque, uma técnica que era indicada sem muitos critérios a qualquer um que apresentasse
um quadro grave, independente do diagnóstico. A autora ainda diz que os choques elétricos eram
utilizados para controlar o paciente, quando este apresentava inquietação, agressividade ou
inquietude, ou seja, usado como forma de amendontrar e subjugar o paciente.

A autora ainda denuncia que a aplicação era feita sem anestésicos, e que após as sessões
os pacientes apresentavam perda de memória, hematomas, lesões e fraturas causadas pelos
espasmos advindos do choque, quando não era o caso de óbito. As fraturas ósseas eram os
principais efeitos graves da ECT nessas condições, sendo a mais grave a fratura de coluna.
(Almeida et al. (1988) apud Ávila, 2010)

Assim, Silva (2012) diz que o eletrochoque tem uma história de abusos que não é negada
nem pelos seus defensores. Nas décadas de 1960 e 1970, o eletrochoque tem sua popularidade
diminuída, por conta dos movimentos contrários a essa técnica, devido a inadequação e violação
de direitos humanos, e paralelo a isso, tem-se também o avanço dos psicofármacos. Porém, “no
início da década de 1980, observa-se um retorno na indicação do eletrochoque como terapia
recomendada para os casos de fracasso ou de poucos resultados no tratamento centrado na
medicação” (Silva, 2012, p. 38). Esse retorno veio marcado de avanços técnicos, em relação a
aplicação, indicações e adequação ao tratamento, “As recomendações definem alguns cuidados
antes não observados, como o uso de anestesia geral, de relaxante muscular, o monitoramento do
funcionamento cardíaco, da pressão arterial e da oxigenação do sangue durante todo o
procedimento” (Silva, 2012, p. 40)

A aplicação foi, inclusive, regulamentada tendo como orientação própria a Lei nº


10.216, de 6 de abril de 2001, norma fundante dos novos princípios de proteção dos
portadores de sofrimento mental. As disposições da Resolução nº 1.640, de 10 de julho
de 2002, que regulamenta a aplicação da chamada eletroconvulsoterapia, limitam-se,
todavia, a estabelecer os casos indicados para a aplicação, os cuidados recomendados e a
necessidade do consentimento informado. (Silva, 2012, p. 41)

No entanto, a ECT ainda apresenta contradições, os autores divergem, por exemplo,


quanto à indicação, porém Bezerra e Silva & Caldas (2008) encontram alguma concordância nos
casos de: depressão monopolar, na fase maníaca e depressiva do transtorno afetivo bipolar e em
alguns tipos de esquizofrenia e especialmente a forma catatônica. “A rapidez e a eficácia da ECT
podem fazer dela a primeira indicação para pacientes com depressões graves e grande risco de
suicídio, ou mesmo para certos casos de mania aguda que, pela gravidade dos riscos, requeira
pronta intervenção” (Del Porto, 2006, p. 18 apud Bezerra e Silva & Caldas, 2008). No entanto,
na maioria dos casos a ECT é a última alternativa, optando-se primeiramente pelo tratamento
medicamentoso, o que precisaria ser revisto segundo alguns autores que defendem que a ECT é
mais rápida, eficaz e causa menos efeitos colaterais aos pacientes. Ainda Del Porto (2006) apud
Bezerra e Silva & Caldas (2008), acrescenta que a ECT pode ser mais segura para os fisicamente
debilitados, os idosos e as gestantes.

Silva (2012) diz que os avanços consideráveis da ECT, quanto ao procedimento, não
reformularam os princípios que guiam a técnica, diz também que as perdas de memória
persistem mesmo com os avanços científicos, o que é uma experiência angustiante para os
pacientes e que o eletrochoque ainda é uma polêmica que divide os envolvidos em polos opostos.
Segundo a autora:

Saber se o eletrochoque (ou ECT) é uma maneira de cuidar do outro ou uma forma de
eliminar a diferença que esse outro traz consigo é uma indagação que, por sua própria
formulação, já demonstra que a resposta independe da opinião técnica de especialistas
ou do resultado das recentes pesquisas psiquiátricas. (Silva, 2012, p.41)
1.2 A construção de alas psiquiátricas em hospitais gerais universitários

A unidade psiquiátrica em hospital geral (UPHG) consiste num conjunto de serviços de


saúde mental situados em uma estrutura hospitalar geral. Dentre os serviços, o principal deles é
a enfermaria psiquiátrica. A criação das UPHG representa uma alternativa aos hospitais
psiquiátricos para o tratamento dos portadores de transtornos mentais severos em quadro agudo.
A denominação UPHG está sendo utilizada como sinônimo de enfermaria psiquiátrica.

No Brasil, a discussão sobre as UPHG teve inicio na década de 1970, durante os


movimentos das reformas psiquiátrica e sanitárias. Em 2005, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o Brasil possuía 0,12 leitos psiquiátricos em hospitais gerais para cada 10 mil
habitantes (cerca de 2210 leitos), que representava 4,7% do total de leitos psiquiátricos.
Comparados aos de 180 países que disponibilizam essas informações, os dados nacionais são
inferiores à média: 0,84 leito psiquiátrico em hospitais gerais para cada 10.000 habitantes,
representando 21% do total de leitos psiquiátricos. (2009).

O hospital geral foi definido como “uma composição de várias clínicas” ou “um todo
dividido em partes” (4). A internação hospitalar é uma ação requerida por profissionais
especializados, quando se instala determinada condição do processo saúde-doença que requer
tratamento especializado, intensivo, evasivo, dentre outros, (Machado AL, Colvero LA.). No
Brasil, em 1954, na Bahia, surgiu a primeira Unidade de Internação Psiquiátrica em Hospital
Geral (UPHG). Em São Paulo, implantou-se no mesmo ano, com expansão progressiva para todo
o país.

Para o funcionamento adequado das enfermarias de Psiquiatria em Hospital Geral,


necessita-se do trabalho de vários profissionais: enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais,
psiquiatras, terapeutas ocupacionais, clínicos gerais, nutricionistas, profissionais de educação
física, dentre outros.

Há uma grande problemática na construção de alas psiquiátricas em hospitais gerais


universitários principalmente no que tange a reforma psiquiátrica, por conta do histórico de
marginalização e preconceito em relação aos considerados loucos. Isso porque ao se construir
uma ala de psiquiatria em um hospital geral e não psiquiátrico se pressupõe uma mudança na
forma de tratar um doente mental, tratar como um sujeito possuidor de direitos e não apenas um
doente que não tem autonomia. Todavia o que se percebe é muitas vezes ao contrário, muitos
hospitais gerais universitários que possuem alas psiquiátricas utilizam a eletroconvulsoterapia
para a redução do sintoma do doente mental.

A utilização desse procedimento é feita nas alas psiquiátricas desses hospitais sendo de
uma forma geral um retrocesso da reforma psiquiátrica? Em nossa visita técnica à instituição do
Hospital das Clinicas (HUPES), mas especificamente na ala psiquiátrica 3B, observou-se nas
entrevistas que a utilização do ECT não é algo que eles tentem esconder pelo contrário segundo
um de nossos entrevistados, (residente de psicologia) a aplicação do ECT é feita em ultimo caso
e que diferentemente do que ocorriam décadas passadas, hoje o ECT é feito de forma mais
segura e com a utilização da anestesia que antes não estava presente na aplicação do
eletrochoque em hospitais psiquiátricos.

O objetivo, segundo ele, em construir uma ala psiquiátrica em um hospital geral é


humanizar o paciente que possui algum transtorno mental. Assim em um local onde se atendem
diversos pacientes, com várias especialidades, faz com que este sujeito possa ser tratado como
um ser atuante em seu tratamento, todavia a discriminação de certos profissionais reproduzindo o
estigma de louco, faz com que algumas atitudes acabem por levar há graves acontecimentos,
como a negligência, por exemplo, de enfermeiros, médicos, que por não se envolverem
diretamente na saúde mental acaba por excluir a ala como algo fora do hospital, algo isolado.

Hospital geral também isola o sujeito?

Na ala 3B localizada no terceiro andar do hospital possui grades em seu entorno como
forma de segurança, segundo o entrevistado, residente de psicologia. Pois, muitos dos pacientes
que chegam até a ala vêm com ideação suicida e por questão de segurança do paciente as grades
estão presentes nesse espaço, sendo também que as portas são trancadas, tendo uma campanhia
para ter acesso à ala. Isso traz o problema do sujeito e sua autonomia.

Como pode uma ala que propõe humanizar a intervenção com os doentes mentais ter
espaços que lembram um hospital psiquiátrico, como as grades, portas trancadas e a aplicação
do ECT que parece está no descaminho do que a reforma propõe?

O que haveria de novo nesse espaço? Um hospital geral universitário como forma de
modificar o olhar e o tratamento com relação ao paciente possuidor de algum transtorno mental?
Estas são questões que serão discutidas e problematizadas com a análise das visitas e das
entrevistas aqui no relatório.

2. Objetivos

O objetivo geral deste trabalho foi observar como é realizada a aplicação da


eletroconvulsoterapia em sua dimensão prática, buscando compreender como ocorre o dialogo
entre os profissionais da enfermaria de psiquiatria localizada na ala 3B do Complexo HUPES.

Para atender a esse objetivo temos os seguintes objetivos especificos:

● Observar a aplicação do ECT


● Identificar se há um espaço para o sujeito se implicar no tratamento
● Investigar a existência do paradigma: clinica do olhar X clinica da escuta e o dialogo da
psicologia e da psicanálise.

3. Método

Os hospitais universitários são centros de formação de recursos humanos e de


desenvolvimento de tecnologia para a área de saúde. O Complexo Hospitalar Professor Edgar
Santos, Complexo HUPES é órgão estruturante da Universidade Federal da Bahia (UFBA). É
uma unidade hospitalar e ambulatorial, publica geral, de grande porte, referencia em media e alta
complexidade no Estado e integrante do Sistema Único de Saúde (SUS).

O HUPES foi inaugurado em novembro de 1948, com o objetivo de atender as demandas


acadêmicas do curso de Medicina da UFBA, que, até o momento, utilizavam outras instituições
para desenvolver seus conhecimentos teóricos.

Como não se obteve acesso a informação, através das visitas, de quando surgiu a
enfermaria e desde quando se aplica o ECT no HUPES, supomos que a mesma se instaurou com
a inauguração do hospital.

Para ter acesso à enfermaria, nós precisamos mandar um e-mail, para o responsável, já
que o mesmo se encontrava de licença, com oficio, emitido pela professora da disciplina, em
anexo. Ressaltando, que isso só aconteceu depois de duas semanas de tentativas. Na mesma
semana de envio do e-mail o responsável respondeu liberando o acesso. No meio desse processo
encontramos um residente de psicologia que foi a pessoa que nos deu todo o suporte durante as
visitas.

Foram realizadas, ao todo, três visitas, sempre em duplas para não interferir tanto na
dinâmica da enfermaria. Na primeira visita conhecemos as instalações da enfermaria. Ela está
localizada no terceiro andar do HUPES, na ala 3B, as portas são trancadas e existe uma
campainha para solicitar a entrada. Ao lado da campainha há instruções para tocar apenas uma
vez e aguardar e na porta uma instrução para dar duas voltas na chave ao trancar, além de ser a
única enfermaria gradeada em todo o hospital. Dentro, ela é composta por banheiros para
visitantes e para profissionais, e sala que funciona como estoque, uma sala de reunião onde são
discutidos os casos com toda a equipe, o refeitório, uma sala que funciona como espaço de
convivência onde são realizadas as atividades da terapia ocupacional e da psicologia. Nessa sala,
há uma televisão, algumas cadeiras, uma mesa e estantes com os trabalhos artesanais expostos.
Há um posto de enfermagem e a sala para aplicação do ECT e os corredores laterais que servem,
também, como espaço de circulação dos pacientes.

É uma enfermaria pequena e feminina, contem apenas 12 leitos e dois que funcionam
como uma espécie de apartamento, geralmente reservados para quando há necessidade de
internação de homens.

A triagem é feita exclusivamente pelos médicos psiquiatras. Segundo o residente há uma


prioridade em ouvir o paciente, mas quando não é possível se solicita o discurso do familiar além
da observação atenta para os sinais de sofrimento. Geralmente, esses pacientes que ficam
internados já estão sendo acompanhados no ambulatório do próprio hospital. Os casos mais
comuns são transtorno de personalidade, os Borderlines, e depressões.

Vale ressaltar que a síndrome de Borderline é frequentemente confundida com


esquizofrenia e transtorno bipolar, no entanto, possuem características diferentes, como a
duração e a intensidade das emoções. Esses sintomas começam a se manifestar na adolescência e
se tornam mais frequentes no inicio da vida adulta. Dessa forma, corrobora com o que o
residente colocou de receber várias adolescentes.

As sessões de ECT foi colocada para nós, tanto pela psiquiatria como pela psicologia,
como o ultimo recurso depois da falta de resposta pelo paciente a outras alternativas terapeuticas.
Com isso, essa enfermaria recebe, portanto, uma demanda de todo o Estado por ser o único
hospital publico que realiza a aplicação de ECT, ou seja, são pacientes de CAPs, ambulatórios e
hospitais de todo Estado da Bahia.

Na segunda visita já foi possível observar uma sessão de ECT, assim como, entrevistar a
paciente porque ela estava internada na enfermaria, o que não seria possível com um paciente de
fora que vem apenas para a sessão. Também foi realizada uma entrevista com o psicologo
residente.

Na terceira visita pôde-se, novamente observar a uma sessão de ECT e, também, tivemos
a oportunidade de participar de uma sessão em grupo organizada pela psicóloga da enfermaria
que estava voltando de ferias.

A sala para aplicação do ECT é pequena. A sessão é realizada por uma equipe composta
por um psiquiatra, um anestesista e duas enfermeiras. O paciente é colocado na maca, são
colocados dispositivos que medem a pressão arterial e os batimentos cardiacos, é colocado um
acesso para a aplicação da anestesia e é utilizada uma bomba de oxigenio. Após observado,
pressão, batimentos e oxigenação é que a anestesia é aplicada. Somente, depois de confirmado o
efeito eficaz da anestesia a/o psiquiatra entra com o choque, em seguida se observa o tempo de
duração das convulsões e então a sessão é finalizada. Com menos de uma hora depois do
procedimento o paciente é liberado e sai andando normalmente.

4. Resultados e Discussão

Como se posicionam frente à Reforma Psiquiátrica?


Atualmente o campo da saúde mental pode ser analisado sob duas perspectivas, isto
porque coexistem dois paradigmas vigentes na área. De um lado os pressupostos da Reforma
Psiquiátrica visam a desinstitucionalização do louco, buscando a garantia de seus direitos
jurídicos e políticos, discutindo novas tecnologias de assistência a loucura, propondo um olhar
sociocultural desse fenômeno. Criticam a forma centralizada que saberes médicos tratou a
doença mental, como se esta fosse apenas um mau funcionamento da máquina (corpo) humana.

Tais pressupostos ganharam espaço nas atuações e planejamentos de ações no que diz
respeito à loucura. Era de esperar, portanto que o paradigma biologicista estivesse obsoleto e não
recebesse mais incentivo nem por parte da máquina estatal, quanto da sociedade. Todavia a
realidade observada através do HUPES, hospital universitário da UFBA, mostra que a força do
modelo médico-biológico ainda tem grande aceitação dentro de nossa sociedade.

Pela análise da observação feita do ambiente da Enfermaria 3B, o segundo paradigma


citado vigora. Não pleno, como é de se esperar depois de um movimento social como o da
Reforma Psiquiátrica. A fala do psicólogo da 3B entrevistado a respeito da Reforma traz
questionamentos interessantes:

Eles vêem numa perspectiva psicossocial como se a variável biológica não fosse
importante. Por outro lado pessoas que trabalham em hospitais tem um reducionismo
biologicista também, como se a variável psicossocial não fosse importante. A gente precisa fazer
um exercício para tentar organizar isso, eu acho que eu, por exemplo, por ter uma formação de
psicólogo sou adepto as ideologias da reforma, percebo como isso é importante e necessário.
Mas por estar trabalhando dentro de um hospital uma perspectiva biológica prática então eu
não posso de forma nenhuma ficar tomando lado, eu tenho que tentar fazer uma ponte, até
porque o que se entende por “ser biopsicossocial”, onde está o bio, no psicossocial, e onde está
o social no biopsíquico? A gente tem que fazer essa ponte, eu acho que na UFBA temos uma
visão psicossocial principalmente, da reforma e do adoecimento do corpo.
Será que o psicólogo está interessado em saber que a esquizofrenia tem relação com a
dopamina e o caso de depressão tem a ver com a serotonina?
Interessados em saber que a psicoterapia tem efeitos biológicos. Não é uma intervenção
medicamentosa, mas que tem efeito no cérebro. Assim como um tratamento medicamentoso que
torna um paciente mais funcional possível de construir relações.
Este mesmo psicólogo também afirma que hoje “...a tendência da política em saúde
mental é que as internações aconteçam em hospitais gerais (...) a tendência é que o HG da
Bahia e do Brasil tenham enfermaria de psiquiatria e ai você abre espaços para novos
desafios.”
Quando sabemos que abrir leitos psiquiátricos em hospitais gerais é uma tendência atual
na saúde publica, há uma compressão de retrocesso frente à Reforma, mas de acordo com o
psicólogo entrevistado há uma mudança significante e que faz toda diferença para ele: (...)
internação em hospital psiquiátrico é uma coisa que choca, vai contra ao principio da reforma,
a internação em enfermaria é diferente por varias razões, o paciente aqui vai estar num centro
de saúde tratando o problema de saúde como qualquer outro paciente com problemas cardíaco,
ele não está isolado num hospital psiquiátrico, ele está num hospital como qualquer outro, outro
fato é que se ele tiver algum outro problema que não seja somente o transtorno metal , há a
possibilidade de tratá-lo aqui também, através da solicitação de interconsultas com outras
enfermarias, o que num hospital psiquiátrico era negligenciado.
A partir desta fala percebemos que não se colocam opostos aos pressupostos da Reforma
Psiquiátrica, criticam também o modelo de institucionalização dos Hospitais Psiquiátricos,
colocam o paciente como possuidor de direitos à saúde geral, não apenas como portador de um
transtorno mental. Este é um resultado ambíguo, pois, suas estratégias de intervenção são
voltadas para o tratamento biológico, com pouca ou nenhuma referencia ao pressuposto chave da
Reforma que é o sociocultural. Postura que nos coloca diante do seguinte questionamento: Quais
as brechas que a Reforma Psiquiátrica possui que fazem surgir tais interpretações como a
encontrada na Enfermaria 3B do HUPES?
Uma pista pode ser dada ao observarmos uma crítica existente à proposta de
desistitucionalização;

(...) por se limitar a transformações mais ou menos superficiais,


administrativas, organizativas e modernizantes do aparato prático–
discursivo da Psiquiatria, sem superar o paradigma fundante, nem
tampouco questionar o arcabouço teórico a partir do qual a Psiquiatria
tradicional apreende o fenômeno da loucura. (GODOY; BOSI, 2007 p.
292)
Desta forma entende-se melhor porque ainda há um poder grande do olhar biológico e
suas tecnologias sobre o fenômeno da loucura. Sobre esse embate biológico – sociocultural o
psicólogo da 3B diz que “O problema quando a gente separa o paradigma da reforma e o
paradigma biológico, a gente corre o risco de ser reducionista para os dois lados.” Mostrando
que essa não é uma questão resolvida dentro do espaço da saúde mental.

Diálogo entre o Serviço de Psicologia do HUPES e a Ala Psiquiátrica

Uma das coisas que nos foi revelada pelo psicólogo residente entrevistado é que entre o
Serviço de Psicologia e a Ala 3B há um corte de relacionamento, devido a questões pessoais.
Ficou subtendido em sua fala que era relacionada a abordagens teóricas, pois, segundo este ele e
a outra psicóloga que trabalha na 3B trabalham com a TCC (Teoria Cognitivo Comportamental)
e as demais psicólogas do Serviço do HUPES são psicanalistas e ele por ser residente é o único
que faz essa “ponte”.

Porem mais tarde quando foi feita a pergunta se entre a 3B e o Serviço de Psicologia em
relação a esses pacientes que fazem ECT se o Serviço também há acompanhamento conjunto dos
casos?
Ele respondeu que se a pessoa que faz ECT estiver internado sim. “Tem a residência (em
psicologia) aqui, com psicólogos residentes e tem a psicóloga , todos os pacientes são
acompanhados, já os pacientes que vem só para o ECT, a gente não tem como dá suporte
porque o serviço de psicologia daqui só atende pacientes que estão hospitalizados.”
Quando foi perguntado sobre como é feita a triagem ele revelou um pouco mais sobre
como é o funcionamento do trabalho (diálogo) dos psicólogos dentro do HUPES:
É solicitado uma interconsulta, todos os profissionais aqui do hospital pode solicitar
interconsulta com o serviço de psicologia , daí a gente vai avaliar o paciente e se identificarmos
que há uma necessidade a gente acompanha, vai depender muito de cada caso.
Existem desmembramento do serviço de psicologia lá na parte pediátrica do serviço,
ambulatório de saúde mental infanto-juvenil são totalmente a parte, não há interação também
por problemas interpessoais, então existem ilhas aqui no hospital e não existe um acesso muitas
vezes. A psicóloga que trabalha aqui na 3B não está mais vinculada ao serviço de psicologia,
ela trabalha aqui, eu como residente de psicologia estou vinculado ao serviço então eu faço esta
ponte , estou aqui e lá , mas o pessoal que está no serviço não está aqui, e o pessoal da 3B não
está lá.
Este tipo de conduta pode ser prejudicial para além dos pacientes que demandam os
serviços de psicologia do HUPES, lembrando que este é um espaço universitário que visa a
construção de conhecimentos, como atingir este objetivo se não há diálogo?

Diálogo da equipe da 3B com os pacientes


O residente coloca que:
“Na 3B o diálogo funciona melhor do que em outras enfermarias, há uma preocupação com o
que o paciente precisa mesmo.”
Eles discutem um caso a cada 15 dias, o que podem fazer com o paciente e na reunião
seguinte o que foi feito e o que podem fazer a mais. “Tentamos não só apresentar o caso clínico
como também problematizar.” A partir dessa discussão se propõe o manejo clínico: “Não olhar
apenas o comportamento do paciente, mas sim os sinais do sujeito e as conseqüências destes
comportamentos para a intervenção no tratamento. Muitas vezes alguns pacientes se comportam
de uma maneira e dependendo da maneira como será tratado pelos profissionais, estes podem
até reforçar esses comportamentos.” Esse tipo de clínica remete à clinica do olhar, onde o
profissional é o sujeito que conhece e reconhece os sinais e sintomas.

Não resta dúvida que eles falam sobre os pacientes, mas será que eles falam com os
pacientes? Por isso foi questionado como era o diálogo dos psiquiatras de lá com os pacientes,
nisto O psicólogo entrevistado foi sincero em responder que não passa muito de um “oi tudo
bem, como está? Bem? Bem!” Deixando assim explicito que se a fala é pouca, então a escuta é
provavelmente limitada.

Diálogo da 3B com os pacientes provenientes dos CAPS, Ambulatórios e outros


serviços

Em relação aos pacientes que são fora do HUPES e vão somente para a ECT a maioria
deles são acompanhados em CAPS ou ambulatórios, vão para o tratamento específico, um ou
dois dias na semana a depender do caso, ou eles são acompanhados nos ambulatórios Magalhães
Neto, do laboratório de psiquiatria, de psiquiatria geral. Segundo o entrevistado “Existe alguma
relação, mas não dá pra acompanhar de forma muito sistemática todos os dias o paciente que
está funcional, que está trabalhando, estudando e fazendo acompanhamento no CAPS, agora,
infelizmente ainda é falha comunicação entre o CAPS e a equipe daqui (HUPES) e vice versa,
seria por uma resistência da equipe de lá ou daqui, mas o fato é que a comunicação não se dá
de forma muito efetiva ainda . Temos um exemplo próximo que é o CAPS 2 UFBA que é aqui
muito próximo no território, tem muitas vezes paciente que vem de lá que vem pra cá e o
processo que referência e contra-referência não é muito adequado, então o paciente volta sem
haver uma diálogo , não existe um contato muito direto, isso ocorre também devido ao fatores de
relacionamento interpessoal, mas isso acontece em muitos lugares e infelizmente quem fica
prejudicado é o paciente.”
Esse é um dado muito significante, pois evidencia não só a falha de diálogo do HUPES,
ou de algum CAPS, mas a falha de toda rede de apoio territorial de saúde mental, um
pressuposto técnico-assistencial da Reforma Psiquiátrica.

Um caso de tratamento com ECT mais de perto.

Durante a oportunidade de visitas à 3B podemos observar duas sessões de ECT, a primeira delas
foi com uma paciente que estava na sua penúltima sessão. Antes desta a paciente estava em pé no
corredor, e aparentemente calma. Depois da sessão conversamos com o psiquiatra residente que
estava presente, ele nos tirou dúvidas do procedimento, seus efeitos colaterais e respectivos
benefícios. Confiante em seu discurso ele disse-nos que se quiséssemos podíamos até falar com a
paciente mais tarde quando ela acordasse.

A curiosidade era saber como ficava o estado de nervos, fala, capacidade de raciocínio de
uma pessoa logo após um procedimento como esse. Aguardamos o tempo necessário de um
breve descanso dela, então pedimos o psicólogo residente para falar com ela, ele ficou um pouco
receoso, disse que ela não estava respondendo bem ao tratamento, perguntou o que
perguntaríamos a ela, nós respondemos que apenas observar como uma pessoa fica e se sente
depois de um procedimento como esse.
Antes é necessário descrever um pouco sobre RS. Ela era técnica de enfermagem do
Roberto Santos, tem 50 anos, é casada, tem filhos, possui um histórico de hepatite que não
respondeu ao tratamento.

Quando RS chegou fizemos algumas perguntas que surgiram espontaneamente a partir da


fala de RS. Para começar jogamos uma pergunta simples, para ver se comprometia tanto a
cognição e a memória, perguntamos qual era a sua idade, ela respondeu normalmente, sem
nenhum impedimento, somente com uma voz muito baixa acreditamos que por causa do seu
estado depressivo. Em seguida como é a experiência do ECT? Ao que ela respondeu também
sem embaraço, dizendo que é tranqüilo, não dói, nem machuca. Perguntou-se então como ela se
sente logo após a ECT? Ela respondeu também em termos quase técnicos.
Ao ser perguntado como ela se sente antes do ECT, ela relatou quais os objetivos que ela
tinha com o tratamento, que era ficar boa, não sentir mais o que sentia. Que era sentir vontade de
morrer, não ter vontade de fazer nada. Neste momento perguntamos desde quando ela apresenta
os sintomas que ela descreveu. Ao que ela demora a responder, depois explica que esse é um dos
efeitos da ECT, não consegue lembrar coisas simples, mas que ela sabia sim, e que o que se
lembrava era que já tinha quatro anos que estava encostada pelo INSS.
Depois perguntamos se a família vem visitá-la? Ela diz que sim, mas pouco, porque tanto
o marido como as filhas trabalham e é difícil concederem licença no trabalho para virem visitá-
la. A próxima pergunta foi com referencia aos objetivos que ela disse que tinha com a ECT, se
ela está atingindo os objetivos? Aí ela revela sua frustração porque ela pensa e avalia que
continua sentindo o que não era certo sentir, que continuava pensando o que não era certo pensar.
Que tinha vontade de gritar, gritar alto, e correr pela enfermaria, mas aí não fazia. Algo dentro
dela também dizia que era errado, a segurava. Perguntamos então porque não faz o que sente
vontade? Lucidamente ela respondeu que aí a considerariam pior do que ela estava. Perguntamos
a RS por que ela acha que é errado sentir o que sente? Ela diz que algo dentro dela também dizia
que era errado, a segurava. Ela então começou a falar um pouco mais como se sentia, que esses
sentimentos lhe causavam ódio. Ódio? Perguntamos. Ela disse que não conseguia ver melhora,
tinha vontade que desistissem dela.
Nesse momento o psicólogo residente também fez uma intervenção com ela. Perguntou-a
se era ela achava que não estava conseguindo melhorar ou era a doença que a impedia de ver seu
avanço? Ela respondeu cabisbaixa: A doença! Ele também falou que não era errado sentir o que
senti e ressaltou a importância dela estar falando aquilo pra ele.
Após RS sair, nós falamos mais sobre o caso dela com residente onde perguntou-se:
Por que ele fez aquela pergunta daquela forma? Ele respondeu que é preciso algumas vezes que
ajudem a pessoa a enxergar sua melhora. Perguntamos ainda se nestes casos de falha do ECT,
existe um plano B para conduzir o tratamento da paciente? Ele respondeu que a ECT é eficiente
para sensibilizar o paciente para outras terapêuticas, mas nos casos onde não se responde de
imediato tem a ECT de manutenção para manter uma continuidade no tratamento.
Numa ousadia impensada perguntamos se eles cogitam recorrer a psicanálise como
auxílio neste caso? O psicólogo rebateu perguntando porque achávamos que esse era um caso
psicanálise ajudaria? Respondemos que por ser a abordagem do Serviço de Psicologia do
hospital. Ele respondeu que lá com TCC eles tinham eficácia, mas que não adiantava vaidade
teórica, sabia que as pessoas respondiam melhor aquilo que elas tinham mais afinidade. Se fosse
o caso não teria problema.
No terceiro dia de observação RS já havia passado pela ultima sessão e no grupo
realizado com algumas pacientes da Ala, alguns profissionais RS pode falar da experiência com
a ECT novamente ela se mostrou um pouco insatisfeita por não ter perguntado logo de início
mais sobre o ECT, ela diz que isso aconteceu porque logo quando soube que passaria por esse
tratamento, ela viu como algo benéfico para ela, então teve uma aceitação muito positiva. A
paciente apresenta depressão grave. Queixou-se por conta das perdas de memória, segundo ela
coisas simples que ela não deveria esquecer, e ela acaba esquecendo, isso por conta do ECT.
RS ainda disse que estava muito ansiosa para a última sessão, e que refletia sobre qual a
melhora que o ECT a havia trazido. O que parece e também foi discutido depois com o psicólogo
residente e a psicóloga é que ela havia depositado todas as expectativas dela no ECT. O
psicólogo voltou a ressaltar que o ECT as vezes é uma porta de entrada para que outros
tratamentos possam dar certo, ou seja, não é porque foi a última sessão que o tratamento acabou.
A paciente ela também vem de um histórico de insucesso no tratamento de Hepatite C que ela
possui. No grupo a paciente, se mostrando preocupada, ainda perguntou aos profissionais qual a
melhora que eles viram no tratamento dela, a psicóloga falou sobre, contou que a situação dela
antes era bem grave, ela nem saia do quarto, o psicólogo residente também falou sobre isso. A
psicóloga também colocou para o grupo (os outros pacientes), e dois ressaltaram a melhora que
viram nela.
Então, segundo os relatos os sintomas que a paciente apresentava realmente foram
amenizados, mas ainda precisa ser trabalhado com ela, até por conta do seu histórico, porque ela
ainda não consegue enxergar essa melhora no seu tratamento, ou o tratamento ainda não supriu
tudo o que ela esperava. Este caso evidencia o funcionamento da clinica do olhar em
detrimento da clinica da escuta, pois a fala de RS coloca-a implicada em seu sofrimento, com
ela entretanto o que há é constatemente alguém lhe dizendo o que ela demostra uma melhora,
mesmo ela afirmando não enxergar nenhuma alteração em seu quadro.

Considerações finais

O que destacou de mais relevante neste trabalho, não foi somente a questão da aplicação
do ECT em plena vigência da Reforma e em sentimento de pertença a essa, na coexistência dos
paradigmas sociocultural e biológico sobre a saúde mental, mas que essa coexistência não é
pacífica como era de esperar, considerando que seus pressupostos as vezes são opostos. Mas o
que se espera principalmente dentro do espaço de um ambiente acadêmico é que desse embate
teórico surjam conhecimento, crescimento, possibilidades.

A falta de diálogo entre o Serviço de Psicologia do HUPES e a Enfermaria Psiquiátrica,


que deveriam ser em tese campos afins encontram-se apartados, como uma mesma nação
separada em dois países. Falta de diálogo que se estende à rede de apoio a saúde mental.

Uma crítica bem fundamentada é o que precisamos, tanto para quem defende a Reforma sem
ECT, quanto para quem defende a Reforma que conversa com o biológico, a fala do psicólogo
residente ilustra adequadamente tal necessidade: “Um centro fechado possibilita a isolação de
direitos humanos, o que é importante também verificar, o que parece também é que o pessoal do
instituto (de psicologia) parece estar alheio ao que acontece aqui dentro (na 3B). Então há uma
critica externa a nível de reforma, mas há também um critica interna , então é necessário você
se aproximar conhecer para daí você fazer criticas bem fundamentadas.”

Esta é uma realidade que engessa o atendimento a quem necessita. Onde estão as
pesquisas de ambas as partes na UFBA para defender seu ponto de vista? Aqui não conhecemos,
lá também não, prova disto é uma breve pesquisa pelo sistema de biblioteca da universidade
sobre o tema “Eletroconvulsoterapia” ou “Eletrochoque”, sendo que a depender o termo
colocado já se carrega um juízo de valor. Mas ciência não se faz com julgamentos infundados, e
sim com evidencias. Precisamos delas de ambos os lados para que possamos atender bem a
quem precisa.

Referências bibliográficas

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conclusão, Curso de enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
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Anexos

Primeira visita a enfermaria 3B-HUPES-27/01/14

Sala de atendimento, banheiro dos pacientes e visitantes, sala de terapia ocupacional (atividade,
oficinas, artesanato, festa de aniversário de paciente), Sala dos leitos, Área gradeada, refeitório /
área de socialização.
Por que as grades?
Por questões de segurança, alguns pacientes começam a subir pela grade e se não tivesse as
grade deixaria o espaço livre, e se acontecesse um acidente o hospital seria o responsável e como
seus profissionais.
As demandas:
Normalmente vem paciente com ideia ou tentativa de suicídio , mais a maior demanda é
pacientes com transtornos de personalidade, além de estado depressivo, transtorno de ansiedade.
A paciente que esteve mais tempo aqui desde que estou aqui é de duração de seis meses.
E os pacientes chegam de onde?
Chega do Magalhães neto, dos ambulatórios, dos CAPS. Dos mais diversos lugares.
A capacidade da enfermaria?
Ao todo são 12, os leitos são apenas de mulheres. Tendo internações especiais em uma sala para
homens. Que vem de outras instituições nos hospitais dias. O paciente fica internado de dia e sai
de noite para voltar para casa.
Como é feito o atendimento aos pacientes internados na enfermaria?
O Atendimento não ocorre apenas nos leitos, pode ocorrer nos momentos em que os pacientes
estão no refeitório, aonde os pacientes estão circulando pela ala. Pela noite só ficam os técnicos
e enfermeiros.
* Os pacientes fumam muito, muitos deles começam a fumar com a entrada deles na ala de
enfermaria.

Como é feita a triagem?


Sala de acolhimento (prescrição médica);
De inicio é feito o acolhimento, o paciente passa pela anamnese (entrevista do psiquiatra).
O paradigma da clinica da escuta e do olhar
De inicio damos a fala do paciente que tem condição de falar e quando este não tem perguntamos
aos familiares sobre a situação deste paciente, quais os sintomas apresentados, mas muitas vezes
os próprios familiares não sabem dizer o certo da situação do paciente. Em paralelo a fala do
paciente, está à observação do médico em relação ao paciente.
Sessão de ECT
A aplicação do ECT ocorre na enfermaria dias de segunda, quarta e sexta. Vêm pacientes de
outras cidades para recebem apenas o ECT. Para aplicar o ECT o paciente tem que está em uma
situação que não mais nenhum medicamento tenha funcionado. Nenhum tratamento
medicamentoso e farmacológico, acompanhamento terapêutico foi suficiente para melhorar a
situação do paciente, e nesse caso se aplica o ECT.
Existem critérios para aplicar o ECT: O paciente em estado de depressão grave, (não havendo
melhora), não havendo melhoras na psicoterapia, transtorno bipolar, esquizofrenia. ECT contam
com 24 sessões (o limite), as três vezes por semana, uma vez por semana, ou a três vezes a cada
cinze dias.
Está comprovado há melhoras nos resultados com aplicação do ECT. Diminui a convulsão, tendo
evidências de melhoras, mais ainda não se sabe como isso ocorre. Sabe-se que é efetivo, mas
não sabe o porquê. Antigamente se utilizava o ECT sem a anestesia de uma forma violenta e sem
critérios de quem deve ou não passar pelo ECT e quantidade de carga elétrica necessária. Através
da utilização da anestesia ocorre o relaxamento muscular. É um recursos terapêutico quando os
outros não dão resultados esperados.
É necessário chegar até as 24 sessões para aplicação do ECT mesmo quando há melhora ou não?
Tem que chegar até as 24 sessões, pois muitas vezes o paciente melhora com as primeiras
sessões, mas depois o quadro piora ou pode piorar por isso devem-se terminar todas as 24
sessões.
Caso clínico como funciona?
A apresentação e discussão do caso clínico. Em uma sala específica os profissionais do hospital
discutem um caso a cada 15 dias. O que pode fazer com o paciente e na reunião seguinte o que
foi feito e o que podemos fazer a mais. Tentamos não só apresentar o caso clinico como também
problematizar.
No Rio de janeiro há a colônia Juliano Moreira que é um hospital psiquiátrico aonde há paciente
que já estão lá a mais de 30 e 40 anos. Nesse espaço a proposta da desinstitucionalização dos
hospitais psiquiátricos.
*Manejo clínico: Não olhar apenas o comportamento do paciente, mas sim os sinais do sujeito e
as conseqüências destes comportamentos para a intervenção no tratamento. Muitas vezes alguns
pacientes se comportam de uma maneira e dependo da maneira como será tratado pelo
profissionais estes podem até reforçar esses comportamentos.
Qual a abordagem teórica utilizada pelos profissionais na enfermaria 3B?
No serviço de psicologia o domínio é da psicanálise e no serviço de psiquiatria a teoria
dominante é a TCC (teoria cognitivista comportamental). A relação é difícil, pois muitas vezes é
como se trabalhasse em duas instituições diferentes. A TCC começou a entrar na saúde mental
com as intervenções da depressão e depois se aproximando da saúde mental.
A questão da reforma psiquiátrica a destitucionalização dos hospitais psiquiátricos
Na história da psiquiatria houve a utilização da lubotomia, que não se utiliza mais nos hospitais
psiquiátricos. Antes dos anos 50, muitos psiquiatras em muitos hospitais não utilizavam muitos
critérios para a aplicação de choques elétricos nos pacientes que eram colocados nesses hospitais
aonde muitos deles nem possuíam problemas mentais, eram apenas a minoria que tinha de fato
distúrbios mentais. Muitos foram mortos nesses locais pela absorverão de medicamentos,
eletrochoque, e antes deste a lubotomia. No livro Holocausto brasileiro conta que no hospital de
minas gerais cerca de 60 mil pacientes morreram nesse hospital. Sendo daí o preconceito com o
eletrochoque. Antes dos anos 50 ultilizava-se a lubotomia como aplicação aos pacientes e depois
veio o eletrochoque.
O CAPS com a ideia de fechar os leitos psiquiátricos, mas o problema é a forma como o
programa da saúde pública está instalado e não o programa em si.
Como se dá a atividade do residente?
A residência de saúde mental passa pela psiquiatria e outros enfermeiros. O residente em saúde
mental passa de inicio por um treinamento aonde vai lidar com pacientes que além de possuir um
distúrbio mental possui problemas clínicos que muitas vezes mesmo sendo um hospital geral
alguns profissionais e até enfermeiros não aceitam tratar desses doentes mentais que tem por
exemplo, problemas de pressão alta, coração, Diabete e outros. Isso é uma situação complicada e
de Negligência de muitos profissionais que por “preconceito e estereótipos de doentes mentais
não aceitam fazer um tratamento deixando nas mãos apenas do psiquiatra como se o problema
fosse apenas mental”.
Atividades que visam a socialização do paciente com os familiares e a enfermaria 3B
Há também as reuniões familiares que ocorrem uma vez por semana e ocorrem muitas vezes com
grupos familiares de diversos pacientes todos juntos. Mas há caso em que a reunião ocorre
apenas com os familiares de determinado paciente. São reuniões que ajudam na socialização dos
pacientes com os familiares e o ambiente no qual estão no momento inseridos. Ocorre nessas
reuniões atividades de psico-educação, mostrarem como anda o andamento da internação desses
pacientes, suas melhoras, o que tem feito desde que foi trazido para a enfermaria.
Essas reuniões são coordenadas pelos profissionais de psicologia, serviço social, enfermagem,
farmácia, e até residentes de psiquiatria. Tratando não só os pacientes como os familiares e o
local que os pacientes estão inseridos como um local humanizável.
As atividades de grupos presentes no período em que estão nas enfermarias são decidias pelos
próprios pacientes. Se a equipe percebe que, por exemplo, o paciente está triste, ou muito
agressivo pela quebra dos vínculos familiares, rotinas esta faz diversas atividades como
produções artísticas na qual os pacientes produzem o que estão a fim de produzir naquele
momento, valorizando assim a fala e o sujeito, sua autonomia.
Segunda visita 31/01/14

Olá meninas!
Hoje nossa visita foi muito proveitosa, nós ficamos lá das 8:00 h té por volta das 11:30 h, além
de assistir a sessão, nós conversamos com o residente de psiquiatria que estava na equipe que
aplicava ECT e com a paciente que recebeu o eletrochoque. Ela é diagnosticada com depressão
profunda e não estava respondendo bem ao tratamento. Depois disso nós conversamos com
Diego sobre o caso dela.
Não me lembro de todas as perguntas que fizemos, pois foram inúmeras entre elas:
-capacidade da enfermaria
-tempo de internação dos pacientes
-quanto tempo a 3B faz ECT
-limite de idade para se aplicar o ECT
-se existem outra forma de tratamento aliada ao ECT
-as consequencias da terapia para o paciente(efeitos colaterais)
-as consequencias da terapia para o paciente (benefícios)
-quais as patologias(quadros) que são indicados ECT
-intervalo entre as sessões
-quando se sabe que o ECT foi efetivo e se não foi qual o procedimento
-se é feito o acompanhamento dos pacientes encaminhados
-se existem pesquisas no hospital, já que é universitário, referente ao ECT, com o objetivo de
comprovar a eficácia da tecnica
-opinião a respeito da reforma psiquiátrica
-comunicação com o serviço de psicologia do hospital
-comunicação dos médicos psiquiatras com os pacientes

Com a paciente nós perguntamos:


(essas perguntas surgiram espontaneamente a partir da fala de Rosimere)
-idade
-como é a experiencia do ECT
-como ela se sente logo após ao ECT
-como ela se sente antes do ECT
-desde quando ela apresenta os sintomas
-se a família vem visitá-la
-se ela está atingindo os objetivos
-porque não faz o que sente vontade
-porque acha que é errado sentir o que sente
Nesse momento Diego também fez uma intervenção com ela.
Após RS sair, nós falamos mais sobre o caso dela com Diego onde perguntou-se:
-nestes casos de falha do ECT, existe um plano B para conduzir o tratamento da paciente?
-vocês cogitam recorrer a psicanálise (serviço de psicologia) como auxílio neste caso?
Inicio das gravações. (8:20h )Já estávamos conversando acerca de dois minutos, daí o residente
Dhiego permitiu a gravação da visita, ao mostrar o ambiente ele relata que algumas portas ficam
fechadas devido a necessidade de preservação dos pacientes e do ambiente físico, “... aqui temos
um espaço aberto porém com grades, pois se este material é de vidro os pacientes podem se
machucar, em seguida temos essa salinha aqui, onde os pacientes vem ficam o dia e depois vão
embora, na verdade não sei nem por que aqui tem esse hospital dia (ao se referir aos dois
ambientes vazios), pois os pacientes que tem condições de decidir, poderiam muito bem estar
num caps e tendo o acompanhamento, esse tipo de ambiente não é mais uma política do hupes e
ninguém mais investe, mas aqui tem e permanece desse jeito.
Somos levadas a um outro ambiente, também um corredor com vista livre e iluminação natural,
também com grades.

Pergunta: Tem algum tipo de pesquisa aqui relacionada ao ECT? Pesquisas de


acompanhamento de caso, que comprove a evolução do quadro, que promova esse controle
de pesquisa cientifica, por ser um hospital universitário.

Dhiego: Realmente eu não conheço se o pessoal da psiquiatria do mestrado ou doutorado em


saúde fazem algum tipo de pesquisa , não conheço. Mas o que a gente percebe, é que tem
pacientes que ficaram internados aqui ou que só vem para o ECT.

Como é o vinculo dessas pessoas que só vem para a sessão de ECT com a equipe?
Dhiego: Bem, acho que o que primeiro deve se discutir é os critérios para se fazer ECT,não é
todo paciente que vem pra vá que vai fazer ECT, não é o tratamento de primeira escolha, por
assim dizer, ele ( o paciente) vai ser acompanhado pelos profissionais e terá tratamento
farmacológico , terapia ocupacional, são os tratamentos que a maioria dos paciente passam, e na
maioria das vezes surte o efeito com eles, daí eles vão ser encaminhado para outros serviços
Caps ou os ambulatórios aqui , onde eles podem ser acompanhados, a maioria deles saem daqui
fazendo acompanhamento no ambulatório, a ECT só é indicada em casos em que o paciente não
respondem a esses tratamentos tradicionais, por exemplo em paciente com transtorno bipolar
grave que não responde a outro tipo de tratamento , em casos de depressão muito grave,
depressão com sintomas psicóticos , situação de casos em que é difícil trabalhar, na linguagem
medica seria os pacientes chamados refratários , onde utiliza-se ECT como um alternativa, e
muitas vezes ao passar pelo ECT, o paciente passa a responder ao tratamento , então isso tem
uma relação que não está muito bem estabelecida em dados científicos, mas o que acontece é que
muitas vezes o paciente que está esquizofrênico, catatônico , não responsivo, totalmente alheio
ao mundo , após o tratamento ele pode se desenvolver ai você pode entrar com psicoterapia, até o
tratamento farmacologico passa surtir algum efeito. Então é uma aposta , não quer dizer que
todos os paciente que passam por ECT saem melhores .

Vanessa: Fiquei achando que aqui a gente encontraria pesquisas com percentuais de
melhoras

Dhiego; eu não vou dizer que não exista pesquisa, eu não sei pode ser que existe mas eu não sei.
Mas basicamente acompanhamos o critério clinico de melhoras, observamos se o paciente
melhorou. O paciente que esta acamado alheio seja por uma depressão muito grave, seja por
sintomas psicóticos graves, eles está não responsivo a nada, a qualquer tipo de estimulação e
passa o ECT e começa responder, então a gente percebe que tem o critério clinico de melhora
pois há um acompanhamento dos pacientes, em relação os paciente que fora daqui e vem para o
ECT a maioria deles é acompanhados em caps ou ambulatórios, eles vem pra com a tratamento
especifico vem um ou dois dias na semana a depender do caso, há uma vinculo com a equipe
pois a maioria já passou por internação anterior ou por que eles são acompanhados nos
ambulatórios Magalhaes Neto, do laboratório de psiquiatria, de psiquiatria geral , existe alguma
relação, mas não dá pra acompanhar de forma muito sistemática todos os dias o paciente que está
funcional, que está trabalhando, estudando e fazendo acompanhamento no caps , agora,
infelizmente ainda é falha comunicação entre o caps e a equipe daqui (HUPES) e vice versa,
seria por uma resistência da equipe de lá ou daqui, mas o fato é que a comunicação não se dá de
forma muito efetiva ainda . Temos um exemplo próximo que é o Caps 2 ufba que é aqui muito
próximo no território, tem muitas vezes paciente que vem de lá que vem pra cá e o processo que
referencia e e contrareferencia não é muito adequado , então o paciente volta sem haver uma
dialogo , não existe um contato muito direto, isso ocorre também devido ao fatores de
relacionamento interpessoal , mas isso acontece em muitos lugares e infelizmente que fica
prejudicado é o paciente.

Pergunta: E entre a 3B e o serviço de psicologia em relação a esses pacientes do ECT são


também acompanhados?

Dhiego: Se ele está internado sim. Tem a residência ( em psicologia) aqui, com psicólogos
residentes e tem a psicóloga , todos os pacientes são acompanhados , já os pacientes que vem só
para o ECT, a gente não tem como dá suporte porque o serviço de psicologia daqui só atende
pacientes que estão hospitalizados , internados , então se o paciente tem uma demanda de
acompanhamento a gente encaminha, um serviço como nosso que é pequeno ainda pela questão
de mudança de prefeitura , alguns profissionais que estavam a locados no hospital voltaram a seu
local de origem , forma trabalhar em outras unidades de saúde e temos um serviço agora com
poucos profissionais , e não tem como darmos conta de todas as interconsultas do hospital .

Pergunta: Essa triagem no caso, como é feita?

Dhiego: É solicitado uma interconsulta , todos os profissionais aqui do hospital pode solicitar
interconsulta com o serviço de psicologia , daí a gente vai avaliar o paciente e se identificarmos
que há uma necessidade a gente acompanha, vai depender muito de cada caso .
Existem desmembramento do serviço de psicologia la no cppho parte pediátrica do serviço,
ambulatório. de saúde mental infanto-juvenil são totalmente aparte , não há interação também
por problemas interpessoais, então existem ilhas aqui no hospital e não existe um acesso muitas
vezes. A psicóloga que trabalha aqui na 3B não está mais vinculada ao serviço de psicologia, ela
trabalha aqui , eu como residente de psicologia estou vinculado ao serviço então eu faço esta
ponte , estou aqui e lá , mas o pessoal que está no serviço não está aqui, e o pessoal da 3B não
está lá

Pergunta: Tem limite de idade para a aplicação da ECT?:

Dhiego: Nunca vi fazendo com crianças não , até por que o paciente que tem que dá autorização ,
ele vai dizer se quer fazer ou não, ou a família em caso de o paciente não tá em condições de
responder naquele momento, a família é quem decide , não é obrigatório fazer o ECT, há uma
proposta .

Pergunta: Esse tratamento é feito com crianças?

Dhiego: não saberia dizer, aqui não fazemos por que não há crianças internadas, no maximo
adolescentes, o mais comum é termos paciente adultos , mas zás vezes acontece de termos um
menor aqui embora não seja o mais adequado e o mais comum.
Em relção ao numero de sessões existem protocolos de ECT, então supondo que seja transtorno
de humor temos uma media de 8 a 10 sessões , o Maximo normalmente chega a 20 sessões , o
paciente não fica fazendo para sempre , excetuando se no tratamento dele exija que para ele estar
bem precise fazer ECT de forma continuada.

Pergunta: Intervalo entre as sessões?


Dhiego: Isso vai depender de cada caso, o paciente faz duas vezes na semana , tem pacientes que
faz uma vez, ai vai ser analise caso a caso.
O procedimento de ECT é um procedimento indolor, por que tem anestesia , a voltagem tem um
medida controlada e baixa, o objetivo é induzir convulsões , daí o paciente vai ter alguns
espasmos , é dado também um relaxante muscular para diminuir o impacto desses espasmos ,o
objetivo é que essas convulsões reduza os sintomas, porém o porque que reduz não está muito
claro ainda , existem hipótese, no sentido que interfere na parte na neurotransmissão, o que
acontece é que existem ensaios clínicos e revisões sistemáticas com metanalise no nível maximo
de evidencia cientifica que indicam que os pacientes respondem bem ao tratamento , então é um
procedimento já estabelecido. O porquê da melhora não está claro, mas se você se propõe a
buscar uma terapêutica você tem que se preocupar se não em obter respostas já, mas um caminho
para buscar essas respostas. Aqui pode até não ter, mas no Brasil no mundo há estudos sobre essa
serviço daí os profissionais sentem-se confortável em faze-lo .

Pergunta: A partir de quanto esse tratamento começou a ser utilizado aqui no Hupes?
Dhiego: Data, período não sei dizer.
(uma enfermeira que trabalha a 30 anos no Hupes, afirma que desde que ela entrou já se aplicava
este tratamento)
Havia antes também a insulinoterapia, tem a ver com o nível de insulina no organismo deixou
de ser feito pois alguns pacientes entravam no chamado coma insulínico, que foi um tratamento
experimental que não havia comprovação cientifica , assim como a lobotomia.
O ECT funciona de uma forma completamente diferente do que um dia foi chamado de
eletrochoque. Existe todo um estigma do eletrochoque por que foi usado como punição, utilizado
de forma inadequada , o paciente que não queria “obedecer” e até em pessoas que eram
internadas indevidamente , pessoas ditas indesejáveis, que não possuíam nenhum tipo de doença
mental , eram gays , mulheres adulteras, desafetos políticos , então é natural que as pessoas se
revoltassem contra certas coisas, mas uma coisa que devemos ponderar também é que os
primeiro antipsicoticos vieram na década de 50 , e antes deles não se sabia o que fazer, então
colocavam as pessoas em grandes hospitais , por que estas precisavam ser afastadas da sociedade
e serem “tratadas”, fazendo uma higiene social . Mas ao mesmo tempo a ideia original que
produziu o afastamento dos loucos foi uma proposta de Phillip Pinel, que foi um dos pais da
psiquiatria, a ideia era que o paciente de doença mental estão doentes pela relação doentia com a
família, se este é o principio, eu o afastando da família eu consigo tratar,dando origem ao que foi
quando de tratamento moral, esse tratamento que as pessoas fazem tentando restaurar o louco,
para que ele funcione, possa trabalhar e produzir , para continuar girando as engrenagens do
capitalismo , onde você só existe se você produzir, se você é um louco é improdutivo você não é
nada , então o correto é te isolar. Então os desdobramentos da ideia de Pinel foi o que provou
todas essas criticas históricas, mas a ideia dele não era maltratar e punir, isso foi um
desdobramento. Então a gente não pode culpar o cara que criou a ideia pelo desdobramento
dela, ele nãop tem controle sobre isso .
Outro problema é que quando você isola um paciente em um hospital psiquiátrico não é possível
identificar problemas outros que o paciente venha ter, existe uma priori que o paciente tem
transtornos mentais. apenas . Um centro fechado possibilita a isolação de direitos humanos , o
que é importante também verificar, o que parece também é que o pessoal do instituto ( de
psicologia) parece estar alheio ao que acontece aqui dentro (na 3b). Então há uma critica externa
e nível de reforma, mas há também um critica interna , então é necessário você se aproximar
conhecer para daí você fazer criticas bem fundamentadas . As pessoas acham que internação é
sempre internação e isso não é verdade, internação em hospital psiquiátrico é uma coisa que
choca, vai contra ao principio da reforma, a internação em enfermaria é diferente por varias
razões, o paciente aqui vai estar num centro de saúde tratando o problema de saúde como
qualquer outro paciente com problemas cardíaco, ele não está isolado num hospital psiquiátrico,
ele está num hospital como qualquer outro, outro fato é que se ele tiver algum outro problema
que não seja somente o transtorno metal , há a possibilidade de trata-lo aqui também, através da
solicitação de interconsultas com outras enfermarias, o que num hospital psiquiátrico era
negligenciado. O fato de estar num hospital geral não significa que o paciente seja isento de
preconceito e discriminação, isso acontece muito, por isso nos do serviço de psicologia
precisamos estar perto para poder ajudar a desconstruir essas coisas, infelizmente se a gente não
estiver aqui a possibilidade de esse paciente sofrer praticas abusivas é muito grande.
Eu prefiro colocar a frente a saúde do paciente do que a defesa de uma ideologia qualquer.
Acho que limitar a atuação do profissional de psicologia dizendo que ele deve estar num
programa de proteção básica e não num hospital para mim isso é burrice.
A tendência da política em saúde mental é que as internações aconteçam em hospitais gerais,
infelizmente nós temos uma quantidade muito pequena de vagas em instituições que oferecem
esse tratamento e internação, então os pacientes ou ficam sem internação ou são encaminhados a
hospitais psiquiátricos como o Juliano Moreira ,as a tendência é que o HG da Bahia e do Brasil
tenham enfermaria de psiquiatria e ai você abre espaços para novos desafios, que é trabalhar
essas pessoas, esses profissionais que atuam aqui para lidarem com esses paciente, lidarem com
problemas que inevitavelmente acontecem no manejo desses pacientes.
Mudar um pouco dessa realidade que temos que realmente o psicólogo não está no SUS.

9:05 inicio da sessão – paciente RS=

Pergunta: Há limites de idade para o tratamento de ECT?


Ravel: Sim, com certeza, e em outros países é a primeira opção para gestantes , por que é mais
segura para a mãe e para o bebe .Em idosos e crianças é mais seguro esses tratamento do que
outro, claro que passa por uma avaliação primeiro, tem todo um cuidado,b é solicitado vários
exames, vê se tem alguma alergia a ao sedativo , para vê se é possível o ECT como tratamento .
Pergunta: Existem patologias especificas para a indicação de ECT?
Ravel: Geralmente me casos de depressão crônica que não melhora com nenhum tipo de
medicação ou pacientes que tem um alto potencial de suicídio que não possivelmente não der
tempo para que as medicações façam efeito, deixar esse tipo de paciente so com medicação é um
risco muito grande , então utilizamos o ECT para promover um melhora mais rápida.
Pergunta: Quais são as consequências desse tratamento?
Ravel: Logo após o ECT quando o paciente se recupera da sedação ele pode ter uma amnésia
sobre o que aconteceu naquela manhã , o que normalmente passa depois de sete dias, pode
apresentar um pouco de dificuldade de lembrar coisas a curto prazo mas logo se recupera
Pergunta: Qual o intervalo entre as sessões?
Ravel: normalmente são duas sessões por semana, ao todo o paciente faz de 8 a 12 sessões
durante o tratamento , havendo a necessidade é feito o chamado ECT de manutenção que ocorre
a cada quinze dias ou uma vez no mês, o que via depender da resposta do paciente.

Pergunta: O que vocês pensam sobre os pressupostos da reforma psiquiátrica?


Dhiego: A gente não tem nada contra a reforma, é necessário que haja.
Raver: O fato de no passado ter sido usado de forma inadequado não significa que não possamos
usar hoje.
É um procedimento seguro, que traz uma melhora rápida. Após o tratamento com ECT o
paciente se torna mais sensível a medicação.
Dhiedo:algumas vezes a introdução da psicoterapia só é possível depois da aplicação de ECT,
como por exemplo em um paciente catatônico ou depressivo grave, quando não há via de acesso
a ele. Então muitas veezs para você poder trabalhar tem que passar por isso, infelizmente se isso
é agressivo simbolicamente, se vocÊ pesnar numa perspectiva simbólica , mas isso é o critério
clinico principalmente.
Raver: O paciente ele passa por uma anestesiam, ele é sedado, para ele é como se fosse um
exame, como em qualquer outro procediemtno , assim como numa endoscopia. Ele não vai
encarar como algo agressivo, o profisional que acha isso, mais do que o paciente. Para o paciente
é apenas um exame.
Pergunta: Quais são as outras formas de terapias?
Dhiego:Quando o paciente não responde a nenhum tipo de abordagem, nenhum tipo de
tratamento , seja medicamentosa , seja psicoterápica, depois do ECT ele passa a ficar mais
sensível ao tratamento. Para o paciente a gent não só recomenda o ECT, ele é uma ferramenta a
mais.
Os psiquiatra pode ser psicoterapeutas mas nem todos querem ser

Pergunta: Como é a interação com a equipe aqui na 3B?


Há discussão de caso, discutimos sobre quais são as visões, o período da licença, se seria bacana
agora ou não.
Na 3B o dialogo funciona melhor do que em outras enfermarias, há uma preocupação com o que
o paciente precisa mesmo.
O problema quando a gente separa o paradigma da reforma e o paradigma biológico, a gente
corre o risco de ser reducionista para os dois lados.
Eles veem numa perspectiva psicossocial como se a variável biológica não fosse importante. Por
outro lado pessoas que trabalham em hospitais tem um reducionismo biologicista também, como
se a variável psicossocial não fosse importante. A gente precisa fazer um exercício para tentar
organizar isso, eu acho que eu, por exemplo, por ter uma formação de psicólogo sou adepto as
ideologias da reforma, percebo como isso é importante e necessário. Mas por estar trabalhando
dentro de um hospital uma perspectiva biológica pratica, então eu não posso de forma nenhuma
ficar tomando lado , eu tenho que tentar fazer uma ponte, até porque o que se entende por ser
biopsicossocial, onde está o bio,no psicossocial, e onde está o social no biopsiquico?A gente tem
que fazer essa ponte, eu acho que UFBA temos uma visão psicossocial principalmente, da
reforma e do adoecimento do corpo.
Será que o psicólogo está interessado em saber que a esquizofrenia tem relação com a dopamina
e o caso de depressão tem a ver com a serotonina?
Interessados em saber que a psicoterapia tem efeitos biológicos .Nao é uma intervenção
mediamentosa mas que tem efeito no cérebro. Assim como um tratamento medicamentoso que
torna um paciente mais funcional possível de construir relações. As coisas estão muito ligadas
mesmo.

Terceira visita em 03/02/14

Nessa visita começamos pela sessão de ECT. Logo quando cheguei vi uma paciente saindo da
sala, então Diego pediu para esperarmos para assistir a próxima. na sala tinha uma psiquiatra, um
anestesista e duas enfermeiras. Todos, aparentemente, muito calmos. Quando entramos na sala a
paciente já estava deitada na maca (ela entrou e deitou-se sem a ajuda de ninguém) e com acesso
para aplicação da anestesia. Uma enfermeira colocou um balão de oxigênio na boca da paciente,
eles estavam controlando pressão e batimento cardíaco. A anestesia foi aplicada, ele apresentou
alguns espasmos por conta da medicação e quando ela parou foi controlada a oxigenação para
depois de todo esse processo a psiquiatra aplicar o choque. O procedimento foi muito rápido e a
convulsão durou dois minutos.
Acabado a sessão tiramos algumas duvidas com a psiquiatra. Ela explicou que após 25 segundos
de convulsão o efeito já é confirmado. Os espasmos foi efeito da anestesia e que em uma hora ela
já estaria de pé e liberada.
O quadro da paciente é de depressão profundo, importante, é acompanhada pelo Ambulatório do
Magalhães Neto. Ela já realizou ECT outras vezes, mas quando parava com as sessões ela
retornava ao quadro depressão profunda, por esse motivo ela vai fazer semanalmente sem
periodo determinado para suspender.
Depois que acabou a sessão de ECT Diego nos convidou para participar de um grupo organizado
pela psicologa da enfermaria, que estava voltando de ferias naquele dia. Achei o grupo muito
rico e proveitoso para nossa visita. Participaram cinco pacientes, dois visitantes, Diego, Iri, Eu,
Lene(psicologa) e uma enfermeira que entrou no meio do grupo.
A psicologa foi conduzindo e cada uma falou um poco de sua historia.

….
O grupo foi realmente muito rico, para mim mais rico do que acompanhar a sessão de
eletrochoque, porque a gente ver o que acontece e nos dizem que de alguma forma aquilo será
eficaz, mas e depois como fica o paciente? No grupo, havia uma paciente que estava passando
por tratamento com ECT e como a psicóloga sabia que esse era nosso interesse explorou o caso.
Ela pediu que a paciente explicasse o que era ECT para os outros pacientes que não estavam
sendo tratados com esse mesmo procedimento, ela explicou, achei boa a explicação. Mas depois,
ela se mostrou um pouco insatisfeita por não ter perguntado logo de início mais sobre o ECT, ela
diz que isso aconteceu porque logo quando soube que passaria por esse tratamento, ela viu como
algo benéfico para ela, então teve uma aceitação muito positiva. A paciente apresenta depressão
grave. O interessante é que ela já hiva passado pela última sessão de eletrochoque. Queixou-se
por conta das perdas de memória, segundo ela coisas simples que ela não deveria esquecer, e ela
acaba esquecendo, isso por conta do ECT. Achei legal a intervenção de Diego que disse que
onde a paciente estava havia um bloco que ela sempre podia utilizar para anotar as coisas que ela
não queria esquecer, o que parece que não estava sendo feito. Ela ainda disse que estava muito
ansiosa para a última sessão, e que ela refletia sobre qual a melhora que o ECT havia trazido para
ela. O que me parece e também a gente discutiu depois com Diego e a psicóloga é que ela havia
depositado todas as expectativas dela no ECT. E como Diego mesmo falou, o ECT as vezes é
uma porta de entrada para que outros tramentos possam dar certo, ou seja, não é porque foi a
última sessão que o tratamento acabou. A paciente ela também vem de um histórico de insucesso
no tratamento de Hepatite C que ela possui. No grupo a paciente, se mostrando preocupada,
ainda perguntou aos profissionais qual a melhora que eles viram no tratamento dela, a psicóloga
falou sobre, contou que a situação dela antes era bem grave, ela nem saia do quarto, Diego
também falou sobre isso. A psicóloga também colocou para o grupo (os outros pacientes), e dois
ressaltaram a melhora que viram nela.
Então, segundo os relatos os sintomas que a paciente apresentava realmente foram amenizados,
mas ainda precisa ser trabalhado com ela, até por conta do seu histórico, porque ela ainda não
consegue enxergar essa melhora no seu tratamento, ou o tratamento ainda não supriu tudo o que
ela esperava, mas como foi falado o tratamento não acabou porque acabaram as sessões de ECT.
Outra coisa é que a psicóloga que retornou das férias disse que a mesma paciente já havia
passado por tratamento com ECT antes, e que havia tido uma melhora muito boa, só que parece
que a paciente não se lembrava, Diego não sabia disso.

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