Sei sulla pagina 1di 4

2 A PESSOA HUMANA E A SOCIEDADE

O homem ultrapassa infinitamente o homem


Pascal

Jacques Maritain fundamenta sua concepção política temporal, profana e cristã num
Estado com caráter personalista, comunitário, pluralista, tendo um modo de proceder na vida
política de acordo com a racionalização moral democrática cristã. Para isso, Maritain procura
alicerçar a sua concepção política estabelecendo as bases da pessoa humana.
O homem é uma pessoa. A pessoa humana é composta de uma realidade material que
é o corpo – o que concede a individualidade ao homem –, e é formado de uma realidade
espiritual que é a alma – que concede a personalidade ao homem. Dessa maneira, a pessoa é
um todo que se abre ao outro e a Deus e não só uma mera parte de um outro todo. Com isso,
busca-se viver em sociedade, procurando sempre o bem comum do individual e comunitário.
Neste trabalho, iremos explicitar inicialmente os fundamentos da concepção da Pessoa
humana. Em seguida, vamos refletir sobre a relação da pessoa humana com a sociedade.

2.1 Os fundamentos da concepção da Pessoa humana

A Pessoa humana, segundo Maritain, é um todo aberto e independente. Composto de


matéria e forma, corpo e alma, individualidade e personalidade – por isso um todo. Esse todo
é aberto, pois precisa relacionar-se (cf. FERRARA, 2017). Mostra-se como ser independente
por causa da sua existência de maneira autônoma com inteligência e liberdade, e pelo fato de
existir e ter vontade. Também, sua existência transcende a materialidade e nada tem mais
valor do que a pessoa. Por isso possui dignidade, mais ainda por estar em relação com o
Absoluto, no qual encontra sua plena realização. Pela sua abertura e independência é capaz de
relacionar-se com as pessoas humanas e com as pessoas divinas, esse contato ajuda a
desenvolver-se como pessoa (cf. MARITAIN, 1962).
Vamos entender a constituição da pessoa parte por parte1. Iniciemos com que se
mostra mais evidente que é a individualidade do homem. A individualidade2 é o que
particulariza os seres e que só existe nas realidades fora do espírito, nas realidades individuais
que tornam o ser como existente e distinto dos outros seres, ou seja, eu existo, não sou uma
ideia, e minha existência é diferente dos outros seres, logo ninguém é igual a mim (cf.
MARITAIN, 1962). Portanto, a individualidade é um “estado concreto de unidade ou de
indivisão que é requerido pela existência e graças ao qual toda a natureza existente ou capaz
de existir se pode pôr na existência como distinta dos outros seres” (MARITAIN, 1962, p. 36
- 37).
Na pessoa humana, o princípio que o individualiza e distingue a pessoa dos outros
seres é a matéria. A matéria é uma potência receptiva, passível de forma. Ou seja, não está
determinada, mas está ávida em ser, por estar abaixo do ser, por isso só possui existência3 de

1
Maritain na sua elucidação sobre a pessoa humana, toma como fundamento da constituição da pessoa humana a
filosofia de Tomás de Aquino. Por isso, neste trabalho seguiremos o pensamento autor, inclusive na articulação
conceitual com Tomás de Aquino
2
A doutrina sobre a individualidade das coisas materiais, que Maritain propõe, foi elaborada por Santo Tomás
de Aquino.
3
Existência é o ato, fato de existir, aquilo que existe (cf. MARITAIN, 1996).
fato devido à forma4. Por isso, é o princípio multiplicador dos indivíduos da mesma espécie,
ou seja, é o princípio que faz com que existam diversos indivíduos apesar de possuírem a
mesma essência5 (cf. MARITAIN, 1962). Também, a matéria é a raiz ontológica da
individualidade, para o homem, como para “o átomo, a molécula, para a planta, para o
animal” (MARITAIN,1962, p. 38). Tal individualidade, segundo Maritain, reside na matéria
signata quantitate6. O homem enquanto indivíduo material, possuindo apenas uma parte, é
influenciado pelas forças “cósmicas, étnicas e históricas, de que suporta as leis, submetido ao
determinismo do mundo físico” (MARITAIN, 1962, p. 39 - 40).
Outro componente da pessoa humana é a personalidade. A personalidade, para
Maritain, tem por princípio a alma, que é uma realidade espiritual 7 (cf. MARITAIN, 1962). A
alma é a forma que apodera e informa a matéria, tornando-se uma só substância determinada e
sendo fonte da dinâmica do ser (cf. MARITAIN, 1962).
Na pessoa humana, a alma, por ela mesma, é o princípio da vida e da personalidade. A
partir dessa realidade, a pessoa mostra-se como um todo, pela sua composição e pela sua
transcendência, pois mostra-se capaz ir além de si mesma, de amar, de doar-se e dialogar com
outras pessoas humanas e divinas, além de inteligir, conhecer e entender a realidade e a Deus
(cf. MARITAIN, 1962). Também a pessoa humana possui independência e vontade, pois a
pessoa existe, “subsiste e exerce por si mesma a existência” (MARITAIN, 1962, p. 41), não
uma existência dada, mas um ser que tem consciência de sua existência e possui domínio
sobre ela. Tudo isso ocorrendo graças à sua personalidade (cf. MARITAIN, 1962) .
Com isso, o homem se mostra superior às plantas e os animais, pois sua personalidade
o faz ultrapassar um simples vivente, ao ser independente e interior [?] a subjetividade que diz
respeito à realidade mais profunda do homem, quer dizer, a sua interioridade. Que não é
egoísta ou fechada, mas aberta aos outros, porque exige que se comunique com os outros no
conhecimento e no amor, assim nossa vida espiritual e nossas capacidades. Isto nos torna
semelhantes a Deus (cf. MARITAIN, 1962).
Ao observar a individualidade e a personalidade, percebemos que o homem é integral
e não apenas individualidade, como pensavam os materialistas, nem apenas personalidade,
como afirmavam os espiritualistas. Por isso, para o nosso filósofo, o homem é totalmente
indivíduo devido a sua materialidade e inteiramente pessoa devido à alma. A integração
dessas duas realidades compõe a pessoa humana. Com essa composição, assemelha-se pela
sua materialidade e necessidades corporais aos animais e plantas, e pela sua personalidade
assemelha-se aos anjos e a Deus. Tal integração da pessoa se realiza na personalidade (cf.
MARITAIN, 1962).
Diante da integralidade da pessoa, entende-se a sua dignidade, pois todo seu ser advém
do Criador, pela sua semelhança que participam do ser de Deus, mas também “assemelha-se-
lhe com propriedade, é à imagem de Deus” [?] (MARITAIN, 1962, p. 44). Porque Deus é
espírito e dele advém tudo que existe, procede Dele: a vida, a alma espiritual e sua capacidade

4
Forma é aquilo que determina o que a coisa é (cf. NICOLAS, 2001)
5
Essência é “aquilo que é” (MARITAIN, 1996, p. 71)
6
Isso significa em termos gerais, a individualização não ocorre na forma, mas na matéria que possui dimensões
determinadas, limitada, finita e circunscrever de acordo com a forma, ou seja, dotada de quantidade determinada.
7
Segundo Paulo Cesar da Silva (2005) “compreende-se por espiritual o elemento imaterial que intrinsecamente,
não pode ser reduzido à matéria”
de amar, de conhecer e de transcender a materialidade, revelando que sua existência
ultrapassa a matéria e o universo tendo uma existência mais alta, que é a realidade espiritual.
Enfim, assemelha-se a Ele, na sua espiritualidade e transcendência, e nas suas perfeições que
se aproximam dos atributos divinos (cf. MARITAIN, 1962).
A pessoa se mostra por ser imagem de Deus, e está ordenada para Ele, no qual
encontra a sua realização plena, a felicidade. “A pessoa humana é ordenada diretamente para
Deus como para o seu fim último absoluto e esta ordenação directa para Deus transcendente
todo o bem comum criado, bem comum da sociedade política e bem comum intrínseco do
universo” (MARITAIN, 1962, p. 15). A vida do homem tem um sentido, um destino, no qual
expressa em todas as suas ações e pensamentos, em todo seu ser. Toda pessoa manifesta
querer algo, a busca de um fim em seus atos “seja inconsciente - a satisfação de algum
impulso mórbido por longo tempo reprimido -, seja consciente - provar a si mesmo a própria
liberdade” (MARITAIN, 1977, p. 92). Logo procura algo que é um fim, que é aquilo em que
termina o seu apetite, no qual termina no bem8 (cf. AQUINO, 2017). Para realização do fim
almejado se alcança através dos meios que levam a realização do fim. Os meios são aquilo
que se tem para levar ao fim almejado (cf. NICOLAS, 2001). Pois seguindo toda cadeia dos
fins, existirá um último porquê, um fim último e derradeiro da pessoa, que orienta todo
dinamismo da vida da pessoa (cf. MARITAIN, 1977).
O fim último da pessoa implica dois elementos: no desejo pela felicidade de maneira
indeterminada e na busca do bem por ele mesmo, o que já está certo na a natureza humana.
Guiado mais pelos apetites9 do que a intelecto que visa o bem total de todo ser da pessoa no
seu querer, deseja a realização de suas capacidades e de seu amor. Então naturalmente
desejamos a felicidade (cf. MARITAIN, 1977). Outro elemento é o desejo de tal bem de
maneira determinada, concreta, quando o ser humano na sua liberdade se decide a buscar a
felicidade (cf. MARITAIN, 1977). Tal bem total deve se configurar com o Bem, “o Bem é o
bem absoluto, e o bem absoluto é o bem subsistente, é Deus” (MARITAIN, 1977, p. 112).
O homem, na busca pela felicidade, procura se configurar de forma voluntária ao Bem
com pequenos atos de mudanças, disposições para o aperfeiçoamento para o bem o levará a
virtude [?]. Com isso, visam o aperfeiçoamento das potências humanas para que se proceda
bem, e assim chegar à felicidade, ao Sumo Bem. A posse do fim último absoluto se dá pela
visão beatífica, que é conhecer e amar a Deus, “conhecendo Deus sicuti est10 [...] entra no
próprio gozo de Deus e vive do Bem incriado” (MARITAIN, 1962, p. 22).
Assim, a pessoa humana é um todo aberto e independente composto de
individualidade material, o que distingue a pessoa dos outros seres, e personalidade, que tem
por princípio a alma que informa a matéria, tornando uma só substância determinada, além de
ser fonte das capacidades e transcendência do ser. Com isso, entendemos que a pessoa é um
ser integral, e pela sua íntima relação com Deus e por ser imagem de Deus com suas
propriedades, possui dignidade humana, que supera todo bem criado do universo. Diante

8
“O bem é aquilo que todos desejam” (AQUINO, 2017, p. 355)
9
Os apetites faz parte da potência apetitiva, a inclinação para o que se conhecem por meio da percepção
sensível, podendo ser a potência apetitiva sensitiva concupiscível, que busca o que convém e foge do que
desagrada;e potência apetitiva sensitiva irascível, que resiste ao danoso e a outra é a potência apetitiva
intelectiva, seu objeto é apreendido pelo intelecto, a vontade é um apetite racional que busca o bem.
10
Conhecendo Deus como Ele é [tradução livre].
disso, a pessoa está predeterminada a buscar o seu fim último, o bem total da pessoa. Ao se
mover e determinar para o bem total, tal bem deve se conformar ao Bem, que é Deus, no qual
encontra sua plena realização. Obtendo o gozo da visão beatífica. Ao se relacionar com o
Absoluto, o ser humano, por ser aberto, tende a relacionar-se e fazer comunhão com as
pessoas humanas (cf. MARITAIN, 1947), pois é um animal social e aprende a ser pessoa ao
se relacionar com outras pessoas.

Potrebbero piacerti anche