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Série Encontro das Águas nº 9

Ano 2017

Clean Urban Rivers: Opportunities and Challenges


Rios Urbanos Limpos: Possibilidades e Desafios

Arminda Saconi Messias


Lílian Costa
Organizadoras

9º INTERNATIONAL MEETING OF WATERS


9º ENCONTRO INTERNACIONAL DAS ÁGUAS
Unicap - Recife - PE - Brasil
Série Encontro das Águas, n. 9

Arminda Saconi Messias


Lilian Costa
Organizadoras

RIOS URBANOS LIMPOS:


possibilidades e desafios

Fasa
1ª Edição

Recife
2017
Série Encontro das Águas, n. 9

RIOS URBANOS LIMPOS:


possibilidades e desafios

Patrocínio

Academia Pernambucana de Química

Companhia Hidroelétrica Vale do São Francisco - Chesf

Instituto Humanitas Unicap

Marinha do Brasil - Capitania dos Portos de Pernambuco

Ministério do Meio Ambiente - Secretaria de Recursos Hídricos

Universidade Católica de Pernamabuco - Unicap

Apoio

Café com Quê?


Carpool Turismo
CNPq
Facepe
Ipa
Universidade Católica de Pernambuco
Pe. Miguel Martins de Oliveira Filho, S.J.
Presidente
Prof. Dr. Pe. Pedro Rubens Ferreira Oliveira, S.J.
Reitor
Profª. Aline Maria Grego Lins
Pró-reitora Acadêmica
Prof. Luciano José Pinheiro Barros
Pró-reitor Administrativo
Pe. Lúcio Flávio Ribeiro Cirne, S.J.
Pró-reitor Comunitário

Organizadora: Arminda Saconi Messias


Editoração eletrônica: Lilian Costa
Programação Visual e capa: Lilian Costa

A CORREÇÃO ORTOGRÁFICA, GRAMATICAL E


SINTAXE É DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.
Universidade Católica de Pernambuco

Rua do Príncipe, 526 – Boa Vista


Recife – PE – CEP 50050-900
2119.4009 e 2119.4031

R586 Rios urbanos limpos : possibilidades e desafios


[recurso eletrônico] / Arminda Saconi Messias,
organizadora. -- Recife : FASA, 2017.
1 CD-Rom : il. -- (Série encontro das águas ; n.9)
1616 f. : il.

ISBN 978.857.084.332-6

1. Água - Purificação. I. Messias, Arminda


Saconi.

CDU 628.16
IMPRESSO NO BRASIL DIREITOS RESERVADOS AOS AUTORES PRINTED IN BRAZIL
9º Encontro Internacional das Águas

SUMÁRIO
ORAL - 17, 18 E 19 DE MAIO

ANÁLISE COMPARATIVA DE TRÊS VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS EM DOIS COR-


POS HÍDRICOS EM PERNAMBUCO.......................................................................................17

ANÁLISE DA QUALIDADE AMBIENTAL DA ÁGUA DE RIOS URBANOS EM IGA-


RASSU, PERNAMBUCO, BRASIL.......................................................................................................24

ANÁLISE DOS CORPOS HIDRICOS PERTENCENTES AO MUNICIPIO DE AMPARO/


PB PARA AGRICULTURA IRRIGADA...............................................................................................35

ANTEPARANDO O CAPIBARIBE: PROTEGENDO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS PARA


RECONECTAR AS PESSOAS COM O RIO.................................................................................44

APLICAÇÃO DE SOFTWARE “TecAlt” PARA AUXILIAR NA IDENTIFICAÇÃO


DE TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS DE DRENAGEM POSSÍVEIS DE SEREM IN-
TEGRADAS AO CAMPUS A. C. SIMÕES............................................................................56

MONITORAMENTO DAS ÁGUAS DO RIO TIMBÓ NO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE...67

O PLANO DIRETOR MUNICIPAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DE RIOS


URBANOS: APLICAÇÕES E LIMITES EM UMA CIDADE DO SEMIÁRIDO PER-
NAMBUCANO........................................................................................................................73

O RIO TAMANDUATEÍ COMO EIXO DE REESTRUTURAÇÃO URBANA DO CEN-


TRO DE SÃO PAULO..................................................................................................................84

OCORRÊNCIA, DETECÇÃO E REMOÇÃO DO ANTIBIÓTICO CIPROFLOXACINA EM


MATRIZES AQUÁTICAS: UMA REVISÃO.........................................................................................95

PRÁTICAS E TECNOLOGIAS PARA O USO E A CONSERVAÇÃO DA


ÁGUA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL........104

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO IPOJUCA NA CIDADE DE


CARUARU/PE...............................................................................................................114

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA DO RIO GRAMAME EM JOÃO PESSOA/


PARAÍBA: ANÁLISE FISÍCO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA........................................124

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO RIO TAQUARI ENTRE 2015 E 2016 PARA EN-


Universidade Católica de Pernambuco

QUADRAMENTO DE CLASSE CONFORME RESOLUÇÃO CONAMA Nº 357/2005....133

DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA DE SOLID PHASE EXTRACTION (SPE)


PARA ANÁLISE DE PENICILINA G EM ÁGUAS SUPERFICIAIS...........................143

DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO VE-


LHO QUIXERÉ ATRAVÉS DE MACRÓFITAS......................................152

RESERVATÓRIOS TROPICAIS E OS EFEITOS DA EUTROFIZAÇÃO...................................... 156

RESIDUOS SÓLIDOS EM RIOS URBANOS: UM ESTUDO DE CASO


DO RIO CUIA, JOÃO PESSOA, PARAÍBA.........................................164

RETROSPECTIVA DO SURGIMENTO DO PLANO NACIO-


NAL DE RECURSOS HÍDRICOS E SUA IMPORTÂNCIA COMO FER-
RAMENTA PARA A PRESERVAÇÃO DE RIOS URBANOS...........170

REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS: PAISAGISMO E IDENTIDADE ....................179

ROTINA PARA EXTRAÇÃO DE DADOS MORFOMÉTRICOS DE BA-


CIA HIDROGRÁFICA, EM SOFTWARES LIVRES.............................................190

DIAGNÓSTICO GEOESPACIAL DOS PASSIVOS AMBIENTAIS NA CA-


LHA URBANA DO RIO TEJIPIÓ ..............................................................200

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ............ 207

GESTÃO PARTICIPATIVA DO COMITÊ DO ALTO JAGUARIBE: AÇÕES


E DESAFIOS PRESENTES NA SUB-BACIA................................................218

INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NA QUALIDADE DAS ÁGUAS NA RE-


GIÃO DO BAIXO RIO PARAÍBA – PB..............................................................228

SÃO PAULO, METRÓPOLE FLUVIAL..........................................237

SISTEMAS DE DRENAGEM E DESENVOLVIMENTO DE BAIXO IMPACTO............249

USO DO GEOPROCESSAMENTO NO DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA REDE


DE DRENAGEM DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA - GOIÁS.........................................262

PAINEL - 17, 18 E 19 DE MAIO

A DISPONIBILIDADE DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO E SUA RELAÇÃO COM A MA-


TÉRIA ORGÂNICA E NUTRIENTES NO ESTUÁRIO DO RIO CAPIBARIBE.................272

A REVITALIZAÇÃO DE UM ESPAÇO URBANO NA MARGEM DO RIO CA-


PIBARIBE EM RECIFE-PE: O JARDIM DO BAOBÁ..............................................284
9º Encontro Internacional das Águas

ÁGUA RESIDUÁRIA TRATADA COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL NA IRRIGA-


ÇÃO DO RABANETE.......................................................................................................................294

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO TRECHO DO RIO GURJAÚ LOCALIZADO


NO REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE (RVS) MATAS DO SISTEMA GURJAÚ............305

ANÁLISE DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA DA BARRAGEM DO RIO


PIRAPAMA LOCALIZADO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE...................314

AVALIAÇÃO DA Moringa oleifera Lam. COMO ADSORVENTE DO CÁDMIO DA


ÁGUA DO RIO CAPIBARIBE, PERNAMBUCO, BRASIL.........................................325

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NO SITIO ARRAIAL


DE CIMA, MUNÍCIPIO DE MISSÃO VELHA-CE......................................................332

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES E DA TOXICIDADE DO BIOSSURFAC-


TANTE PRODUZIDO POR CANDIDA BOMBICOLA..................................342

BIORREMEDIAÇÃO DE EFLUENTE DE PISCICULTURA ATRAVÉS DA MICRO-


ALGA Chorella vulgaris EM BIORREATOR...................................................................352

CENÁRIO AMBIENTAL DO RIO IPOJUCA: UM RETRATO DOS IMPACTOS


ANTRÓPICOS NA CIDADE DE ESCADA-PE........................................................358

CHUVA INTENSA SOB DIFERENTES USOS DE SOLO EM PARCELAS NO SEMIARIDO


PERNAMBUCANO............................................................................................................................368

CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA QUAN-


TO A CONDUTIVIDADE ELÉTRICA E PERCENTUAL POTENCIAL PARA CONSUMO
ANIMAL............................................................................................................................................379

CRESCIMENTO URBANO E VEGETAÇÃO NOS CORPOS D’ÁGUA: UMA PROBLEMÁTI-


CA AMBIENTAL - ESTUDO DE CASO DA LAGOA OLHO D’ÁGUA (PE).........................388

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO AÇUDE TIMBAÚBA NO MUNICÍPIO DE JURU


- PB E PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS MITIGADORAS PARA OS IMPACTOS AM-
BIENTAIS.....................................................................................................................................398

DIAGNÓSTICOS DOS EFLUENTES SANITÁRIOS NO BAIRRO DO JANGA/PAULISTA-PE......407

DINÂMICA DO FITOPLÂNCTON EM PRAIAS DO LITORAL SUL DE PERNAMBUCO........417

ENSAIOS DE REMOÇÃO DE ÓLEO IMPREGNADO EM AREIA PADRÃO POR


BIOSSURFACTANTE PRODUZIDO POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE REGIÃO
PORTUÁRIA.............................................................................................................................427
Universidade Católica de Pernambuco

ESTRUTURA DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA EM RESERVATÓRIO PROFUN-


DO DE ALTITUDE.........................................................................................................................437

ESTUÁRIO DO CAPIBARIBE, RECIFE/PE, BRASIL: AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO


AMBIENTAL NOS MANGUEZAIS, EM AMBIENTES URBANOS................................448

ESTUDOS DE PARÂMETROS DA VELOCIDADE DE ASCEN-


SÃO DE MICROBOLHAS EM UMA CÂMARA DE FAD PARA TRA-
TAMENTO DE ÁGUA OLEOSA EM UMA TERMELÉTRICA...........459

FERTIRRIGAÇÃO: REUSO DE EFLUENTE PISCÍCOLA...............................................470

FITOPLÂNCTON EM RESERVATÓRIOS DOS BREJOS DE ALTITUDE NORDESTI-


NOS: APLICAÇÃO DO ÍNDICE ................................................................................................480

GOVERNANÇA METROPOLITANA DAS ÁGUAS.........................................................491

IMPACTOS ANTROPICOS NA PRAIA DOS CARNEROS, PE, BRASIL........................497

INDICES NDVI, NDBI E NDWI PARA REALCE DA ÁGUA, CULTURAS IRRIGA-


DAS E SOLO EXPOSTO NO ENTORNO DO RESERVATÓRIO DE ITAPARICA......507

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA E SALINIDADE NO DESENVOLVIMEN-


TO DOS EQUINODERMOS EM AREAS LITORANEAS................................................513

INFLUÊNCIA DA VARIAÇÃO DO TEOR DE ÁGUA NA VARIAÇÃO DE VOLU-


ME DE SOLOS EXPANSIVOS.............................................................................................523

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA FLORA DE MACROALGAS OCORRENTE EM


UM TRECHO DA PRAIA DE BOA VIAGEM, PERNAMBUCO, BRASIL...................535

MONITORAÇÃO AMBIENTAL DO RIO BEBERIBE EM ÁREA URBANA POR SE-


DIMENTOS EM SUSPENSÃO.................................................................................................543

MONITORAMENTO DA QUALIDADE FISICO-QUÍMICA DE ÁGUA MINERAL CO-


MERCIALIZADA EM ALGUMAS CIDADES DA REGIÃO NORDESTE E SUDESTE......551

O EFEITO DA BIOTA NA QUALIDADE DE ÁGUA..............................................560

O SER HUMANO E SUA RELAÇÃO COM O AMBIENTE MARINHO.....................570

PERFURAÇÃO DESORDENADA DE POÇOS ARTESIANOS NO CARIRI PARAIBANO.....580

PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Burkholderia cepacia COM APLICAÇÃO NA


REMOÇÃO DE ÓLEO MOTOR EM SEDIMENTO DE MANGUE...............................588

PRODUÇÃO DE CELULOSE BACTERIANA UTILIZANDO MELAÇO DE CANA E


MILHOCINA COMO SUBSTRATOS PARA USO INDUSTRIALA................................598
9º Encontro Internacional das Águas

PROPOSTA DE SISTEMA DE REAPROVEITAMENTO DE ÁGUAS CINZA DE EMPRE-


ENDIMENTO DE LAVA-JATO LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE POMBAL - PB...608

QUALIDADE DE ÁGUAS DO AUTOCLAVE: E SEUS POSSÍVEIS IMPACTOS PARA


O MEIO AMBIENTE CASO ESTEJA POLUÍDA.......................................................623

QUALIDADE DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PARA CONSUMO HUMANO EM ÁREA


ENDÊMICA DE FLUOROSE..............................................................................................................628

RECURSOS HÍDRICOS E TECNOLOGIA DE REUSO DE ÁGUAS: EXTENSÃO RU-


RAL VOLTADA PARA PROTEÇÃO DE NASCENTES NO SEMIÁRIDO DE PER-
NAMBUCO..........................................................................................................................638

REVITALIZAÇÃO DO RIACHO (CANAL) VASCO DA GAMA/PEIXINHOS, RE-


CIFE-PE, ENFRENTAMENTO DA PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL.......649

SERRA DOS CAVALOS (CARUARU/PE): MEMÓRIAS E HISTÓRIA DO CAMINHO


DAS ÁGUAS ATÉ A CIDADE...............................................................................................660

TRATAMENTO DE ÁGUA DE UM AÇUDE NA CIDADE DE SURUBIM-PE COM


SEMENTES DE Moringa oleifera..............................................................................................671

USO DE ÁGUA RESIDUÁRIA TRATADA NO CULTIVO DE TOMATE CEREJA............682

VARIABILIDADE ESPACIAL DOS ATRIBUTOS HIDRODINÂMICOS DO


SOLO EM ÁREA IRRIGADA COM ÁGUA POLUIDAS.......................................693

VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA EM CARUARU – PERNAMBUCO, BRASIL.......3

VARIAÇÃO TEMPORAL DA UMIDADE EM BACIA NO SEMIÁRIDO PER-


NAMBUCANO.................................................................................................................716

VIABILIDADE DO USO DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO: UMA AVERIGUAÇÃO


DO POÇO IBIAPINA NO MUNICÍPIO DE PRINCESA ISABEL - PB...............................724

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O PROCESSO DE REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS, UM


ESPAÇO EM CONSTRUÇÃO: O CASO RIO IPOJUCA NO MUNICÍPIO DE CARUARU-PE...736

ADSORVENTE NATURAL COMO CONTROLADOR DE CONTAMINAÇÃO PRO-


VOCADO POR ZINCO (ZN2+) E MANGANÊS (MN2+)............................................747

ÁGUA DE QUALIDADE INFERIOR E SEUS EFEITOS NA UNIFORMIDA-


DE DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO.................................752

ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ÁGUA SUBTERRÂ-


NEA EM COMUNIDADE RURAL NO CEARÁ..........................................763
Universidade Católica de Pernambuco

ANALISE FÍSICO-QUÍMICA DE ÁGUAS DO MAR DE DIFERENTES LOCALIDADES..........768

APLICAÇÃO DO BIOSSURFACTANTE PRODUZIDO POR Candida sphaerica NA


REMOÇÃO DE METAIS PESADOS EM SOLO E ÁGUA.....................................782

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DA MICROALGA Phormidium autumna-


le NO TRATAMENTO DE EFLUENTE AGROINDUSTRIAL......................................791

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA ECOTOXICIDADE DE EFLUENTE DE LAVANDERIA


DE JEANS EM REGIÃO SEMIÁRIDA, CARUARU, PERNAMBUCO.................................798

CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS E TECNOLOGIAS PERMACULTURAIS


PARA FINS DIDÁTICOS...............................................................................................805

CARACTERIZAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA DE CARUARU – PE UTILIZANDO SEN-


SORIAMENTO REMOTO..............................................................................................................816

COLIFORMES COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE DA ÁGUA DO CANAL


DE SANTA CRUZ, REGIÃO NORTE DE PERNAMBUCO..........................................826

COMPARAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO RIO CAPIBARIBE


NO PERÍODO DE 2013 A 2017.........................................................................................833

COMPOSIÇÃO DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA COMO BIOINDICA-


DOR DA QUALIDADE DA ÁGUA EM LAGO TROPICAL..........................................841

DETECÇÃO DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA E COLIFORMES NA ÁGUA DISTRI-


BUÍDA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – CAMPUS RECIFE........850

DIAGNÓSTICO DAS FONTES HIDRICAS PARA IRRIGAÇÃO NO MUNICÍ-


PIO DE SÃO SEBASTIÃO DE UMBUZEIRO................................................................859

DINÂMICA DE CIANOBACTÉRIAS EM RESERVATÓRIO DO SEMIÁRIDO


BRASILEIRO........................................................................................................................867

EFICIÊNCIA DO SISTEMA BIOÁGUA NO TRATAMENTO DE ÁGUAS CINZAS......875

ESTUDO DA VIABILIDADE DO APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA NA


UNICAP.........................................................................................................................................886

ESTUDO DAS CHUVAS INTENSAS PELO MÉTODO DAS ISOZONAS PARA A BA-
CIA HIDROGRÁFICA DO RIO GRAMAME, NO ESTADO DA PARAÍBA................894

ESTUDOS INICIAIS DA UTILIZAÇÃO DE MÓDULOS PELTIER PARA EXTRAIR


ÁGUA DA ATMOSFERA E ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA.............................904

FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA COM LUZ UV PARA TRATAMENTO DE ÁGUA......914


9º Encontro Internacional das Águas

ICTIOFAUNA EXPLORADA PELA PESCA PREDATÓRIA NO ESTUÁ-


RIO DO RIO FORMOSO – PE (BRASIL)............................................................924

ÍNDICES DE PRECIPITAÇÃO DA ÚLTIMA DÉCADA EM MUNICÍPIOS DA BA-


CIA HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO NORDESTE ORIENTAL NO ESTADO DE
PERNAMBUCO.......................................................................................................................929

INFLUÊNCIA DA CIDADE DE BEZERROS NA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO


IPOJUCA-PE.................................................................................................................................938

INOVANDO OS PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS (PSA) COM O


USO DA TECNOLOGIA ‘BLOCKCHAIN’..........................................................................948

ISOLAMENTO, DOMESTICAÇÃO E CULTIVO DE MICROALGAS DE AMBIEN-


TES LACUSTRES IMPACTADOS DE FORTALEZA-CE..............................................957

MANGUE URBANO NO ESTUÁRIO DA BACIA DO PINA................................................968

MONITORAMENTO DA ÁGUA DO MAR DA PRAIA DE BOA VIAGEM, RECIFE, PERNAM-


BUCO, BRASIL......................................................................................................................................979

O VALOR DA AGUA: PERSPECTIVAS EM RELAÇÃO À CRISE HÍDRICA NO MUNICÍ-


PIO DE PICUÍ-PB................................................................................................................................986

OBSTRUÇÃO DE EMISSORES AUTOCOMPENSANTES SOB IRRIGAÇÃO COM ÁGUA


RESIDUÁRIA TRATADA.................................................................................................................994

OCORRÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EXTREMAS EM CABACEIRAS - PB............1002

OSCILAÇÃO PLUVIOMÉTRICA EM CARUARU – PE, BRASIL....................................1011

PELO RIO: SOCIEDADE E NATUREZA, UM PANORAMA GEOGRÁFICO......1025

PESCA INTENSIVA DA FAMILIA LUTJANIDAE NO ESTUÁRIO RIO FORMOSO (PE


– BRASIL).............................................................................................................................................1036

PRECIPITAÇÃO PLUVIAL E SUA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL EM CAMA-


LAÚ – PB, BRASIL.......................................................................................................................1043

PRODUÇÃO DE MANIPUEIRA POR CASAS DE FARINHA NO AGRESTE SETEN-


TRIONAL DE PERNAMBUCO...............................................................................................1051

QUALIDADE DE MUDAS DE TOMATE CEREJA SOB DIFERENTES DOSES DE


ADUBAÇÃO NITROGENADA E ÁGUA RESIDUÁRIA...............................................1061

RACIONAMENTO HÍDRICO NO CULTIVO EXTERNO DE SPIRULINA...................1072

REMOÇÃO DE NUTRIENTES DE EFLUENTE SECUNDÁRIO ORIUNDO DE


Universidade Católica de Pernambuco

FILTRO DE AREIA, USANDO A MICROALGA CHLORELLA SP IMOBILIZA-


DA EM MATRIZ DE ALGINATO DE CÁLCIO.....................................................1079

RIO CAPIBARIBE: MONITORAMENTO FÍSICO-QUÍMICODE PONTOS DA CIDA-


DE DO RECIFE...............................................................................................................................1089

TECNOLOGIA PARA TRATAMENTO DE EFLUENTE INDUSTRIAL DE CARÁ-


TER OLEOSO ATRAVÉS DE UM FLOTADORA........................................................1100

TRATAMENTO DE ÁGUA POR PROCESSO DE OXIDAÇÃO AVAN-


ÇADA NÃO CONVENCIONAL DICTT: DEGRADAÇÃO E MINERA-
LIZAÇÃO DO FENOL DE UM EFLUENTE LÍQUIDO...................1109

TRATAMENTO ESTATÍSTICO DO ESTADO TRÓFICO DAS ÁGUAS DO RIO CAPIBA-


RIBE, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE, PERNAMBUCO – BRASIL............1122

USO RACIONAL DA ÁGUA: AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ESTUDANTES UNI-


VERSITÁRIOS.............................................................................................................................1136

UTILIZAÇÃO DE BIOSSURFACTANTES COMO COLETORES DA FLOTAÇÃO POR AR


DISSOLVIDO APLICADA AO TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAISA....1146

VARIAÇÃO DO ESTADO TRÓFICO EM RESERVATÓRIO UTILIZADO PARA


ABASTECIMENTO PÚBLICO, SEMIÁRIDO BRASILEIRO.........................................1154

VAZÕES DE ENCHENTES.........................................................................................................1162

ANÁLISE BACTERIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA CONSU-


MIDA POR ESTUDANTES DE ESCOLAS DE REFERÊNCIA EM ENSI-
NO MÉDIO DO ESTADO DE PERNAMBUCO...........................................1166

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA EM CABACEIRAS – PB......1176

ANÁLISE DO POTENCIAL DE INUNDAÇÃO DO TRECHO INICIAL-


DO CANAL DOS BULTRINS – OLINDA/PE...............................................1184

ANÁLISE FISICO-QUIMICO E MICROBIOLÓGICA DE UMA CACHO-


EIRA DO MUNICIPIO DE BONITO-PE.................................................1192

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE ARIDEZ A REGIÃO METROPOLITANA DO GRANDE RE-


CIFE-PE, BRASIL..........................................................................................................................1196

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE EMULSIFICANTE E ESTABILIDADE DE BIOSSURFAC-


TANTE EM CONDIÇÕES AMBIENTAIS DIVERSAS....................................................1208
9º Encontro Internacional das Águas

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMA-


NENTE DAS NASCENTES DO RIACHO DAS PIABAS/PB.......................................1218

BANHEIRO SECO DE ADOBE COMO ALTERNATIVA PARA O USO RACIONAL DOS


RECURSOS HÍDRICOS: UMA FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ES-
COLAS MUNICIPAIS DE MARECHAL DEODORO/AL................................................1226

CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO – ES-


TUDO DE CASO..........................................................................................................................1236

CARACTERIZAÇÃO E MONITORAMENTO AMBIENTAL DO RIO DO CABELO, AS-


SOCIADO A GESTÃO PARTICIPATIVA, JOÃO PESSOA – PB.....................................1244

CARACTERIZAÇÃO HÍDRICA E USO DO SOLO NO SERTÃO PERNAMBUCA-


NO POR ÍNDICE DE VEGETAÇÃO.................................................................................1255

COMPOSIÇÃO FITOPLANCTÔNICA COMO BASE ALIMENTAR DAS OSTRAS Crassos-


trea rhizophorae (Guilding, 1828) NO ESTUÁRIO DO RIO FORMOSO, PE – BRASIL...1264

CONCEPÇÃO E ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE UM FILTRO DOMÉSTICO.................1274

CORRELAÇÃO DO POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (pH) E DISTRIBUIÇÃO ESPA-


CIAL DA MALACOFAUNA NA PRAIA DOS CARNEIROS, PE, BRASIL.................1282

DETERMINÇÃO DE VAZÕES DE ÁGUAS PLUVIAIS COM APROVEITAMENTOS PARA


FINS NÃO POTÁVEIS NAS DEPENDÊNCIAS DO INSTITUTO FFEDERAL DE EDUCA-
ÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ CAMPUS LIMOEIRO DO NORTE-CE...1289

DIAGNÓSTICO DA QUALIDADE DA ÁGUA DESSALINIZADA NO MUNICÍ-


PIO DE PASSIRA, PERNAMBUCO, BRASIL............................................................1297

DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA CIDADE DE JURU - PB...1307

ECOSSISTEMA AQUÁTICO IMPACTADO: UM AMBIENTE PROPÍCIO À DISSEMI-


NAÇÃO DE BACTÉRIAS PATOGÊNICAS...................................................................1319

ESTUDO DO FRACIONAMENTO DO CONTEÚDO ORGÂNICO EM AMOSTRAS


DE LIXIVIADO BRUTO DE ATERRO CONTROLADO.....................................1329

ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NO PARÂME-


TRO DE TURBIDEZ NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRAPAMA, PERNAMBU-
CO, BRASIL.....................................................................................................................................1335

EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA COM BASE NA TEMPERATURA


DO AR NA BACIA DO RIO IPOJUCA – PERNAMBUCO....................................1344
Universidade Católica de Pernambuco

GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS: A EXPERIÊNCIA DE NOVA


IORQUE................................................................................................................................1355

IMAGEM ALOS/PALSAR E DELIMITAÇÃO DE ÁREAS ÚMIDAS USANDO MORFOLO-


GIA MATEMÁTICA........................................................................................................................1365

IMPACTOS AMBIENTAIS E A IMPLEMENTAÇÃO DO PROMETRÓPO-


LE NA BACIA DO RIO BEBERIBE/ PE.............................................................1375

ÍNDICES DE VEGETAÇÃO A PARTIR DE IMAGENS ORBITAIS EM BELÉM DE SÃO


FRANCISCO-PE.............................................................................................................1386

INFLUÊNCIA DA INFILTRAÇÃO NO COMPORTAMENTO GEOMECÂNICO DE UM


SOLO COLAPSÍVEL NA REGIÃO URBANA DE PETROLINA-PE.........................1397

KIT ÁGUAS NA CIDADE: INTERFACE FÍSICO-DIGITAL PARA DEMARCAÇÃO DE BA-


CIAS HIDROGRÁFICAS.............................................................................................................1408

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA FLORA DE MACROALGAS OCORRENTE EM


UM TRECHO DA PRAIA DO PINA, PERNAMBUCO, BRASIL..............................1419

MEIOBENTOS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL EM ÁREAS MEDIO-


LITORANEAS DE PERNAMBUCO........................................................................................1424

MONITORAMENTO DA PRESENÇA DO VIBRIO CHOLERAE NO CANAL DO ARRU-


DA (RECIFE-PE)............................................................................................................................1429

MONITORAMENTO DOS EFEITOS DA PISCICULTURA EM TANQUE REDE NA QUALI-


DADE DA ÁGUA DE UM LAGO NA CIDADE DE HUMAITÁ, SUL DO AMAZONAS..1437

MONITORAMENTO DOS HERBICIDAS IMAZAPIR E IMAZAPIQUE NO DESEN-


VOLVIMENTO DA LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO..........................................1447

OCORRÊNCIA E DINÂMICA DE CIANOBACTÉRIAS EM RESERVATÓRIOS DO SEMIÁ-


RIDO BRASILEIRO DURANTE PERÍODO DE ESTIAGEM PROLONGADA..............1456
PARALELO DAS OCUPAÇÕES DAS MARGENS DA CALHA DO RIO TEJI-
PIÓ E DO RIO CAPIBARIBE........................................................................................1467
PARQUE CAPIBARIBE COMO SISTEMA DE DRENAGEM E TRATAMEN-
TO DAS ÁGUAS NO RECIFE – PE ..................................................................1476
PHYTOREMEDIATION: AN URBAN LANDSCAPE STRATEGY FOR SUSTAINA-
BLE AND HEALTHY CITIESA................................................................................1486
PREPARAÇÃO E APLICAÇÃO DE UM ADSORVENTE NATURAL A BASE DE FO-
LHA AZADIRACHTA INDICA PARA REMOÇÃO DE ZINCO (II) EM SOLUÇÃO
AQUOSA.........................................................................................................1499
9º Encontro Internacional das Águas

PROJETO DE APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS PARA FINS NÃO POTÁ-


VEIS NAS DEPENDÊNCIAS DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊN-
CIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ CAMPUS LIMOEIRO DO NORTE...................1505

REUTILIZAÇÃO DE ÁGUAS EM HABITAÇÃO ECOLÓGICA....................................1512

RIOS URBANOS POLUÍDOS: RETRATO DAS EXTERNALIDADES URBANAS.........1522

SCALE-UP DE PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE PRODUZIDO POR BACILLUS SP..1532

TOXICIDADE DE BIOSSURFACTANTE PRODUZIDO POR Candida utilis..........1542

USO DA CIANOFÍCEA Spirulina platensis VIVA E FILTRADA COMO ALIMENTO


PARA ROTÍFEROS, Brachionus plicatilis, EM DIFERENTES SALINIDADES, EM CONDI-
ÇÕES LABORATORIAIS............................................................................................................1552

USO DE FUNGOS PARA BIORREMEDIAÇÃO...............................................................1562

UTILIZAÇÃO DE REDE NEURAL ARTIFICIAL PARA MONITORAMENTO DA QUA-


LIDADE DA ÁGUA DE CORPOS HÍDRICOS................................................................1569

VARIAÇÃO NICTEMERAL E VERTICAL DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNI-


CA DO AÇUDE SANTO ANASTÁCIO, FORTALEZA-CE...............................................1578

PALESTRA

Palestra - Rios urbanos poluídos - Retrato das externalidades Ur-


banas........................................................................................................................1589

MINICURSO

Minicurso - Drenagem urbana sustentável instrumento de recupe-


ração dos rios urbanos......................................................................................1595
9º Encontro Internacional das Águas

ORAL
17,18 e 19 de maio
9º Encontro Internacional das Águas

ANÁLISE COMPARATIVA DE TRÊS VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS EM


DOIS CORPOS HÍDRICOS EM PERNAMBUCO

Gabriela Virgínia Ramos da Silva¹, Geraldo José Felipe Falcão², Elaine Malosso³

¹Mestranda no Programa de Pós- Graduação em Biologia de Fungos (UFPE)


Centro de Biociências- CB, Departamento de Micologia, Universidade Federal de Pernambuco gabrielarsilva.bf@hotmail.com
² Graduando em licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Pernambuco.
Centro de Filosofia e Ciências Humanas- CFCH, Departamento de Ciências Geográficas- DCG gelfalcao@gmail.com
³ Professora Associada da Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Biociências- CB, Departamento de Micologia, Universidade Federal de Pernambuco elainemalosso@yahoo.com.br

RESUMO
A água é um recurso essencial para a vida na terra. Os rios, lagos e reservatórios de onde as
populações humanas retiram o que consomem correspondem a 0,26 % da água doce do planeta.
Este estudo teve como objetivo a avaliação de três variáveis limnológicas: temperatura, pH e
condutividade elétrica (CE) da água de dois corpos hídricos, córrego na Mata da Chuva e Lagoa
da Mata, em Pernambuco. Nestas áreas foram estabelecidos 6 pontos para coleta de água e
foram realizadas 3 coletas em cada área.. No córrego da Mata da Chuva não houve variação
significativa entre os 6 pontos nas coletas realizadas, variando, em média, de 20,3 a 21 ºC. Na
lagoa da Mata a variação também não foi significativa, variando, em média, de 29,6 a 30 ºC. As
médias do pH nos pontos do córrego da Mata da Chuva variaram significativamente. No
entanto, o pH nos pontos de coleta da Lagoa da Mata, assim como a CE entre os pontos de
coleta em ambas as áreas não apresentou diferença significativa. De maneira geral, houve pouca
variação entre os pontos para as três variáveis, mas houve diferenças entre os corpos hídricos.
Palavras-chave: Água; Temperatura; Condutividade Elétrica; pH.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso fundamental para a manutenção da vida no planeta, e, desse modo,


falar da importância dos conhecimentos sobre a água é falar da sobrevivência humana,
da dependência do ser vivo com o ambiente natural e da conservação e equilíbrio da
biodiversidade (BACCI; PATACA, 2008).
A Terra possui 1,4 milhões de quilômetros cúbicos de água, no entanto, 2,5 % desse
total correspondem à água doce. A água para consumo humano vem dos rios, lagos e
reservatórios e estes só correspondem a 0,26 % desse percentual. Portanto, é necessária
a preservação dos recursos hídricos (GOMES, 2011).

Segundo Castro (2012), as matas ciliares são importantes por apresentarem um conjunto
de funções ecológicas que são fundamentais para a conservação da diversidade de
animais e plantas nativas terrestres e aquáticas. Além disso, ainda influenciam na

17
Universidade Católica de Pernambuco

qualidade da água, na regulação do regime hídrico, na estabilização de margens do rio,


na redução do assoreamento da calha do rio e são influenciadas pelas inundações, pelo
aporte de nutrientes e pelos ecossistemas aquáticos que elas margeiam.

Conhecer as características físico-químicas da água é importante para a identificação e


quantificação de elementos e espécies iônicas presentes nesses compostos, e associação
dos efeitos de suas propriedades com as questões ambientais, permitindo a compreensão
dos processos naturais no meio ambiente (PARRON et al., 2011).

A temperatura das águas superficiais são influenciadas pela latitude, altitude, estação do
ano, circulação do ar, cobertura de nuvens, vazão e profundidade do corpo hídrica
(PERBECON et al., 2005).

Segundo Chapman e Kimstach (1996) o pH é um importante parâmetro na avaliação da


qualidade da água, influenciando muitos processos biológicos e químicos nos corpos
hídricos. A condutividade elétrica da água constitui uma das variáveis mais importantes
em limnologia, visto que pode fornecer importantes informações tanto sobre o
metabolismo do ecossistema aquático, como sobre fenômenos importantes que ocorram
na sua bacia de drenagem (ESTEVES, 1998).

Neste contexto, este artigo tem como objetivo a avaliação das seguintes variáveis
limnológicas: temperatura, pH e condutividade elétrica em dois corpos hídricos de
Pernambuco considerados áreas de preservação ambiental, mas com características
ambientais distintas.

18
9º Encontro Internacional das Águas

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A lagoa da Mata (7º 46’ 36. 04’’S e 34º 51’ 52. 73’’O), localizada na Ilha de Itamaracá,
região metropolitana do Recife, compreende uma área total de 43.842,98 m², e está
inserida em uma Unidade de Conservação de Proteção Integral Estadual – Refúgio da
Vida Silvestre (RVS) Mata de Amparo, que integra a Unidade de Conservação de Uso
Sustentável Estadual – Área da Proteção Ambiental (APA) de Santa Cruz (FADURPE,
2010). A lagoa embora integre uma APA sofre bastante com ação antrópica, pois o local
é bastante frequentado por moradores e turistas que visitam a Ilha.
A Mata da Chuva (08º 32' 20"S e 35º 43' 22"W) trata-se de uma região conhecida como
Serra dos Macacos, no município de Bonito. Localiza-se na microrregião do brejo
pernambucano e possui uma área de aproximadamente 174,42 ha e uma altitude de
750m. Em 2011, por meio da lei municipal n. 936/2011, foi criada a Reserva Biológica
Municipal Mata da Chuva (REBIOmu). No interior da Mata, localiza-se uma das
nascentes do Rio Bonito, que forma um córrego de aproximadamente dois metros de
largura que se estende pela Mata. A Mata atlântica que circunda o córrego é bastante
fechada e com pouca ação antrópica, recebendo apenas visita de pesquisadores na área.

Coleta da água
Nas áreas de coleta foram estabelecidos 6 pontos para coleta da água, e foram realizadas
3 coletas nos meses de Agosto/2016, Novembro/2016 e Janeiro/2017 em cada área.
Com um termômetro de vidro com coluna de mercúrio, deixado em contato com a água
por 2-3 minutos, a temperatura da água em cada ponto durante a coleta foi aferida e
registrada.
Amostras da água foram coletadas em garrafas plásticas de 500 ml, previamente
higienizadas, e conduzidas ao laboratório para aferição do pH e da condutividade
elétrica, em alíquotas de 30 ml, utilizando pHmetro de bancada QUIMIS® e
condutivímetro de bancada QUIMIS®. Tais análises foram realizadas no mesmo dia da
coleta.

19
Universidade Católica de Pernambuco

Dados das variáveis foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias


comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05) utilizando o software ASSISTAT versão 7.6
beta (SILVA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No córrego da Mata da Chuva (Bonito-PE) não houve significativa variação entre os 6
pontos nas coletas realizadas, variando, em média, de 20,33 a 21 ºC (Tabela 1). Na
lagoa da Mata (Ilha de Itamaracá-PE) a variação também não foi significativa, variando,
em média, de 29,66 a 30,00 ºC (Tabela 02).
Com os resultados obtidos também se pôde observar que nos pontos da Lagoa da Mata
as temperaturas estavam mais elevadas, diferente dos pontos do córrego da Mata da
Chuva que apresentaram temperaturas mais amenas. Esses resultados podem estar
relacionados com a exposição solar devido a pouca vegetação no entorno da Lagoa,
diferente do córrego que é totalmente recoberto pela mata ciliar.
Tais resultados coincidem com o trabalho realizado por Percebon et al. (2005)
que ao analisar as temperaturas dos rios Garcia, Fortaleza, Itoupava, da Velha, Itajaí-
Açú e do Testo pôde concluir que nos rios Fortaleza e Itoupava com áreas descobertas,
ou seja, com pouca mata ciliar apresentaram águas mais aquecidas. Diferente das
nascentes dos rios Garcia e da Velha que apresentavam cobertura vegetal e com isso
águas mais frescas. Desse modo, constatou-se a importância da cobertura vegetal e da
vegetação ribeirinha no controle temperaturas das águas superficiais.
As médias do pH nos pontos de coleta do córrego da Mata da Chuva variou
significativamente (Tabela 1). Nos pontos de coleta da Lagoa da Mata não houve
variação significativa do pH (Tabela 2).
Pôde-se observar após análises, que o pH do córrego da Mata da Chuva, em todos os
pontos manteve-se com um grau acidez, enquanto que na Lagoa da Mata alguns pontos
se aproximaram mais da neutralidade.
Lopes e Junior (2010), após realizar estudos na bacia do Ribeirão de Carrancas
observaram o pH com variação entre 4,5 e 6,5 e concluiu que a acidez verificada pode
ser decorrente da presença de ácidos fúlvicos e húmicos oriundos da degradação da
matéria orgânica presente nas águas. Condições encontradas em todos os pontos da
Mata da Chuva.

20
9º Encontro Internacional das Águas

A condutividade elétrica (CE) entre os pontos do córrego da Mata da Chuva não variou
significativamente (Tabela 01). E nos pontos da Lagoa da Mata a variação também não
foi significativa, variando, em média, de 98,30 a 100,20 μS/cm (Tabela 2).
Segundo Esteves (1998), A condutividade elétrica é a capacidade de uma solução de
conduzir corrente elétrica, e tal fato é função da concentração de íons presentes. Com
isso, é de se esperar que soluções que apresentam maior concentração iônica, maior será
a condutividade elétrica. Em contrapartida, águas muito puras ocorre o inverso: maior
será a resistência e menor a condutividade. Tais afirmações coincidem com o resultado
encontrado no presente estudo, onde, o córrego da Mata da Chuva, que apresenta água
pura e com pouca ação antrópica apresentou baixa condutividade elétrica, diferente da
Lagoa da Mata que apresentou maior CE e possui atividade antrópica.

Tabela 1 - Variáveis limnológicas da água coletadas em 6 pontos no córrego da Mata da


Chuva em 3 coletas
Pontos de Coleta Temperatura da pH Condutividade Elétrica
água (ºC) ((μS/cm-1)
P1 20.66 a 5.24 ab 34.14 a
P2 20.33 a 5,16 ab 33.03 a
P3 20.33 a 5.07 b 34.20 a
P4 20.33 a 5.19 ab 32.83 a
P5 20.66 a 5.47 a 35.00 a
P6 21.00 a 5.43 a 35.36 a
As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado
o Teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade.

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Universidade Católica de Pernambuco

Tabela 2 - Variáveis limnológicas da água coletadas em 6 pontos na Lagoa da Mata em


3 coletas
Pontos de Coleta Temperatura da pH Condutividade Elétrica
água (ºC) (μS/cm-1)
P1 29.66 a 6.99 a 99.96 a
P2 29.66 a 6.95 a 98.83 a
P3 30.00 a 6.56 a 100.20 a
P4 30.00 a 6.62 a 99.06 a
P5 30.00 a 6.85 a 98.90 a
P6 30.00 a 6.65 a 98.30 a
As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado
o Teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade.

CONCLUSÃO

1. No córrego da Mata da Chuva, as temperaturas apresentaram-se amenas, devido


a grande mata que recobre o córrego. O pH se apresentou ligeiramente ácido,
tendo em vista a grande produção de matéria orgânica. A condutividade elétrica
está dentro do esperado para águas puras.
2. Na lagoa da Mata, as temperaturas apresentaram-se mais elevadas, tendo em
vista da ausência de mata ciliar em alguns pontos no entorno da lagoa. O pH está
próximo da neutralidade. A condutividade elétrica apresentou valores elevados,
visto que a área sofre bastante com ação antrópica.

REFERÊNCIAS

BACCI, D.L.; PATACA, E.M. Educação para a água. Estudos avançados v.22, n.63,
2008.
CASTRO, D. Práticas para restauração da mata ciliar. / organizado por Dilton de
Castro; Ricardo Silva Pereira Mello e Gabriel Collares Poester. -- Porto Alegre : Catarse
– Coletivo de Comunicação. 60 p., 2012.

22
9º Encontro Internacional das Águas

CHAPMAN, D.; KIMSTACH, V. Selection of water quality variables. In: CHAPMAN,


D. (Ed.). Water quality assessments - a guide to use of biota, sediments and water in
environmental monitoring. 2.ed. London: UNESCO/ WHO/UNEP. p.74-133, 1996.
ESTEVES, F. de A. Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: Interciência/FINEP,
p. 575, 1998.
FADURPE - CPRH. Zoneamento ambiental da área de proteção ambiental – APA
Santa Cruz – Itapissuma, Itamaracá e Goiana, PE, 2010.
GOMES, M.A.F. Água: sem ela seremos o planeta marte de amanhã. 2011.

LOPES, F.W.A.; JUNIOR, A.P.M. Influência das condições naturais de pH sobre o


índice de qualidade das águas (IQA) na bacia do Ribeirão de Carrancas. Revista
Brasileira de Recursos Hídricos (RBRH): análise dos estudos recentes sobre recursos
hídricos. Belo Horizonte 06(2) 134-147 Julho-dezembro de 2010.

PARRON, L.M; MUNIZ, D.H. DE F; PEREIRA, C.M. Manual de procedimentos de


amostragem e análise físico-química de água [recurso eletrônico]. Dados eletrônicos.
Colombo: Embrapa Florestas (Documentos / Embrapa Florestas, ISSN 1980-3958;219),
2011.

PERCEBON, C.M.; BITTENCOURT, A.V.L.; FILHO, E.F.R. diagnóstico da


temperatura das águas dos principais rios de Blumenau, SC. Boletim Paranaense de
Geociências, n. 56, p. 7-19. Editora UFPR, 2005.

SILVA, F. DE A.S. E. ASSISTAT versão 7.6 beta. Grande-PB: Assistência Estatística,


Departamento de Engenharia Agrícola do CTRN - Universidade Federal de Campina
Grande, Campus de Campina. Disponível em: <http://www.assistat.com>. Acessado
em: 11 de março de 2014.

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Universidade Católica de Pernambuco

ANÁLISE DA QUALIDADE AMBIENTAL DA ÁGUA DE RIOS URBANOS

EM IGARASSU, PERNAMBUCO, BRASIL

Ana Paula Xavier de Gondra Bezerra¹*, Fabricio Ângelo Gabriel²,


Emmanuelle Maria Gonçalves Lorena², Ítala Gabriela Sobral dos Santos²,
Alex Souza Moraes³

¹Mestrado em Engenharia Ambiental- Bolsista FACEPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de
Medeiros, S/N, Dois Irmãos- Cep: 52171-900- recife/pe. Email: anapaula.gondra@gmail.com
²Mestrado em Engenharia Ambiental- Bolsista FACEPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de
Medeiros, S/N, Dois Irmãos- Cep: 52171-900- recife/pe.
³Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos- Cep: 52171-900-
recife/pe.

RESUMO
O crescente desenvolvimento e urbanização aumenta a exploração dos cursos d’água e,
consequentemente, aumenta a degradação e a poluição dos rios urbanos. A água, por sua vez,
desempenha papel fundamental na manutenção da vida, atividade agrícola e conservação da
diversidade biológica. Neste contexto, é imprescindível o estudo da qualidade ambiental das
águas, principalmente nos grandes centros urbanos onde é feita a captação para consumo,
atividade industrial e produção animal. O presente trabalho teve como objetivo analisar a água
de cinco rios que cortam o município de Igarassu, Pernambuco, através da avaliação pelo Índice
de Qualidade da Água (IQA), Índice de Estado Trófico (IET), além da descrição de sua
qualidade, ecotoxicidade e risco de salinidade. Os dados foram coletados por meio da
Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos (CPRH) em base de dados disponível
eletronicamente, as coletas foram realizadas em setembro de 2016 em pontos do rio no
município de Igarassu. Constatou-se que os rios estudados não estão tóxicos e possuem baixo
risco de salinidade. Por outro lado, a qualidade dos rios Pitanga, Utinga e Tabatinga se
encontram moderadamente comprometida, e os rios Igarassu e Conga estão poluídos. O IQA
dos rios é considerado bom, enquanto o IET no rio Igarassu está em mesotrófico.
Palavras-chave: Poluição; Recurso hídrico; Degradação; Meio-ambiente.

INTRODUÇÃO
Os ecossistemas aquáticos vêm ao longo de décadas perdendo a qualidade efeitos do
crescimento desordenados. Essa situação é mais visível, principalmente, nos centros
urbanos onde os cursos de água recebem uma grande quantidade de esgoto doméstico e
industrial, como também sedimentos e resíduos sólidos urbanos (FIA et al., 2015).
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão ligado ao
Ministério do Meio Ambiente, é o responsável pela classificação dos corpos hídricos e
diretrizes ambientais para seu enquadramento, além de estabelecer as condições e
padrões de lançamentos de efluentes (SAAD et al., 2007).
A Política Nacional do Meio Ambiente, n. 6.938 de 31 de agosto de 1981, estabelece
em seu Art. 3°, inciso III, o que significa à poluição (BRASIL, 1981).

24
9º Encontro Internacional das Águas

“III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de


atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos”
Os rios urbanos interagem com um complexo sistema, com representações na dinâmica
socioambiental da cidade, desempenhando a função de controle da temperatura e de
regulação dos efeitos das chuvas, além de possibilitar a drenagem ou escoamento
superficial das águas pluviais (ROSSI et al., 2012). Nesse sentido, a qualidade dos
corpos hídricos é aspecto indispensável, pelos diversos usos, em especial, para fins
como o abastecimento humano (SOUZA et al., 2014).
E a Politica Nacional dos Recursos Hídricos, n. 9.433/1997, tem como objetivo
“assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”. (BRASIL, 1997). Por isso que o
estado de Pernambuco segue um Decreto Estadual, n. 7.269/1981, que determina os
parâmetros de qualidade ambiental e a classificação das águas interiores.
Deste modo, índices são desenvolvidos para caracterizar o estado dos cursos d’água. O
IQA, por exemplo, criado em 1970, é utilizado para avaliar os efeitos da poluição nos
cursos d’água (SOUZA; LIBÂNIO, 2009). Enquanto que o IET tem por objetivo
classificar corpos d’água em relação ao enriquecimento por nutrientes e seus efeitos,
decorrente ao crescimento excessivo das algas ou ao aumento de infestação de
macrófitas aquáticas.
O objetivo desse trabalho é caracterizar a qualidade ambiental das águas baseadas em
monitoramentos de rios urbanos na cidade de Igarassu – PE, com base em dados
públicos da Agência Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - CPRH.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
Este trabalho se deteve ao município de Igarassu, localizado na região metropolitana do
Recife no estado de Pernambuco (Figura 1).

25
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 1 – Localização do município de Igarassu, Pernambuco

Fonte: Autoria própria (2017).

O Plano Estadual de Recursos Hídricos de Pernambuco, em 1998, dividiu o Estado em


29 Unidades de Planejamento (UP), caracterizando assim, a Divisão Hidrográfica
Estadual, composta de 13 Bacias Hidrográficas, 06 Grupos de Bacias de Pequenos Rios
Litorâneos (GL1 a GL6), 09 Grupos de Bacias de Pequenos Rios Interiores (GI1 a GI9)
e uma bacia de pequenos rios que compõem a rede de drenagem do arquipélago de
Fernando de Noronha (APAC, 2017).
O município de Igarassu localiza-se na microrregião de Itamaracá e da mesorregião do
Recife, sendo um dos municípios da Região Metropolitana, dista 30 km da capital do
Estado, situando nas coordenadas 7º50’00’’ Latitude Sul e 34º54’30’’ Longitude Oeste
(PEREIRA, 2013), com área territorial de 305, 560 km2 e a população estimada em
20016 de 113. 956 habitantes (IBGE, 2010). Pereira (2013) ainda deixa explicito que,
de acordo com a classificação climática de Koppen, o clima de Igarassu é do tipo
tropical quente e úmido, com chuvas de outono/inverno. Além de determinar a
temperatura média anual de 25 ºC e a pluviosidade média anual em torno de 2000 mm e
com a vegetação predominante mata atlântica.
O município situa-se nos domínios do Grupo de Bacias de Pequenos Rios Costeiros e
tem, como principais tributários, os rios Igarassu, Palmeira, Jarapiá, Cumbé, Catucá,

26
9º Encontro Internacional das Águas

Botafogo, Itapicuru, Tabatinga, das Pacas, Paripe, Conga, Bonança (conhecido como
Rio Pitanga), Utinga, Monjope e Maniquara, além dos riachos Jardim, Sto. Antônio, do
Acio, do Paulo, Arrombado e o Arroio Desterro, todos de regime perene
(PREFEITURA DE IGARASSU, 2016).

Levantamento de Dados
O trabalho foi elaborado com base em dados levantados nos arquivos da Agência
Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH). Inicialmente, foram
selecionados fatores que incidem na qualidade da água no último ano de monitoramento
dos rios Pitanga, Utinga, Igarassu, Conga e Tabatinga situados no município de
Igarassu, Pernambuco. A escolha dessa localidade foi devido ao quantitativo de rios
monitorados pela agência no município e por se localizarem em áreas urbanas. Os dados
foram obtidos pela CPRH durante o mês de setembro em 2016 que estão disponíveis no
bando de dados do site da agência.

Parâmetros da qualidade da água


Para realizar um comparativo dos rios estudados nessa pesquisa foram considerados a
análise do Índice da Qualidade da Água - IQA que utilizam os parâmetros de poluição
como Oxigênio Dissolvido (OD), Coliformes Termotolerantes, Demanda Biológica de
Oxigênio (DBO) entre outros aspectos relevantes para a determinação da qualidade da
água. Os valores obtidos dos dados foram analisados e enquadrados nas condições e
padrões do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA que é o órgão
responsável pela classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais. A informação
que estabelece o IQA, nível trófico e avaliação da qualidade da água estão apresentados
respectivamente nas tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1 - Classificação do Índice da Qualidade da Água


Qualidade Escala
Ótima 79 < IQA <= 100
Boa 51 < IQA <= 79
Aceitável 36 < IQA <= 51
Ruim 19 < IQA <= 36
Péssima IQA <= 19
Fonte: CETESB (2013).

27
Universidade Católica de Pernambuco

Tabela 2 - Classificação do Índice de Estado Trófico da Água


Nível Trófico Escala
Ultraoligotrófico IET ≤ 47
Oligotrófico 47 < IET ≤ 52
Mesotrófico 52 < IET ≤ 59
Eutrófico 59 < IET ≤ 63
Supereutrófico 63 < IET ≤ 67
Hipereutrófico IET > 67
Fonte: CETESB (2013).

Tabela 3 - Padrões que estabelecem a qualidade da água


Classificação Descrição
Não Comprometida Corpos d’água que apresentam qualidade da água no
estado ótimo, com níveis desprezíveis de poluição.
Pouco Comprometida Corpos d’água que apresentam qualidade da água boa,
com níveis baixos de poluição.
Moderadamente Corpos d’água que apresentam qualidade da água
Comprometida regular, com níveis aceitáveis de poluição.
Poluída Corpos d’água que apresentam qualidade da água ruim,
com poluição acima dos limites aceitáveis.
Muito Poluída Corpos d’água que apresentam qualidade da água
péssima, com poluição muito elevada.
Fonte: CETESB (2013).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na aplicação do IQA, os rios Pitanga, Utinga, Igarassu, Conga e Tabatinga
apresentaram valores 66, 67, 60, 56 e 63, respectivamente, sendo considerados de
qualidade boa. Por outro lado, observou-se elevados valores de IET, chegando a ser
mesotrófico no rio Igarassu (59). Um estudo realizado por Leão et al. (2008) já
detectava problemas na contaminação orgânica e eutrofização ao longo do estuário do

28
9º Encontro Internacional das Águas

rio Igarassu. No relatório da qualidade ambiental, em 2013, revelou que o rio Igarassu
foi caracterizado como de alta ação antrópica (CPRH, 2013). Os rios Pitanga e
Tabatinga são considerados oligotróficos com valor de 49, e Utinga e Conga
apresentaram valor igual a 45, considerados ultraoligotróficos (Figura 3).

Figura 3 - Índices de qualidade da água dos rios urbanos Pitanga, Utinga, Igarassu,
Conga e Tabatinga, município de Igarassu, Pernambuco
80 66 67
60 59 63
56
60 49 49
45 45
40 IQA
20 IET
0
Rio Pitanga Rio Utinga Rio Igarassu Rio Conga Rio
Tabatinga

De acordo com a CETESB (2013), o nível trófico denominado ultraoligotrófico,


encontrado para os rios Utinga e Conga, determina que os corpos de água são limpos,
com produtividade muito baixa e concentrações insignificantes de nutrientes que não
tem risco prejudicial nas várias formas de uso da água. Esse ainda ressalta que o nível
oligotrófico pressupõe que os corpos de água são limpos e, mesmo com presença de
nutrientes, não ocorrem interferências indesejáveis sobre os usos da água. Do mesmo
modo, salienta que os considerados mesotróficos possui produtividade intermediária,
com possíveis implicações no uso da água, mas com níveis aceitáveis, na maioria dos
casos.

Para Toledo e Nicolella (2002), a utilização de índices de qualidade de água


proporciona o acompanhamento de possíveis deteriorações dos recursos hídricos em
determinado local ou ao longo do tempo, isso através de informações resumidas e por
meios de programas de monitoramento. As deteriorações se devem ao fato da alteração
do homem nas variáveis do ambiente e pelas análises destas, pode-se inferir sobre a
qualidade ambiental (KÖNIG et al., 2008)

29
Universidade Católica de Pernambuco

O que pode observar que as condições ambientais desse rio vêm sendo critica há alguns
anos e que propostas para melhorar essa situação não foram colocadas em práticas o que
condena a dinâmica do rio e suas relações com ambiente.
Santos et al. (2000), afirmam que o município de Igarassu se trata de uma zona de alta
vulnerabilidade e risco de poluição muito elevado, pois em parte desta zona encontram-
se instaladas várias atividades potencialmente poluidoras (indústrias, lixões, postos de
combustíveis e cemitérios).
Tabela 1 - Controle da qualidade ambiental de água dos rios urbanos Pitanga, Utinga,
Igarassu, Conga e Tabatinga, município de Igarassu, Pernambuco
Qualidade Ecotoxicidade Risco Salinidade
Rio Pitanga Moderadamente Comprometida Não Tóxica Baixo
Rio Utinga Moderadamente Comprometida Não Tóxica Baixo
Rio Igarassu Poluída Não Tóxica Baixo
Rio Conga Poluída Não Tóxica Baixo
Rio Tabatinga Moderadamente Comprometida Não Tóxica Baixo

O rio Igarassu, segundo Leão et al. (2008), tem grande pressão antrópica quando cruza o
perímetro urbano, recebendo lançamento de resíduos de industrias do ramo têxtil,
metalúrgica, alimentícia, química, sucroalcooleira, de bebidas e de essências e de
origem doméstica, principalmente.
Corroborando com o presente trabalho, König et al. (2008) destacam em seu estudo
realizado na Bacia Hidrográfica do Rio Tigre que esta estando exposta às atividades
urbanas e aos poluentes advindos da cidade, apresenta altas concentrações de nutrientes,
o que afeta na riqueza da biodiversidade aquática. O mesmo é encontrado por Toledo e
Nicolella (2002) na microbacia do Ribeirão Jardim, esta possui influência urbana e com
o acréscimo de efluente sem tratamento dos dejetos e deságua, o que proporciona o
enriquecimento do rio com nutrientes e sais que reforçam as relações entre as variáveis
Oxigênio Dissolvido (OD), Fósforo Total (PTOT) e Nitrogênio Amoniacal (NH4),
gerando um IQA médio e, em contrapartida, confirma a alteração da qualidade da água.
Em estudos realizados pelo IBAMA (2009) relatou denuncia que o rio Igarassu tem, ao
longo do tempo, recebido despejos domésticos e industriais que causam impactos
ambientais e poluição. E como exemplo dessas fontes de poluição, citamos a destilaria
de álcool da Usina São José e a Companhia Agroindustrial de Igarassu que, àquela
época, já lançavam cloro e mercúrio no Rio Botafogo.

30
9º Encontro Internacional das Águas

Mesmo com muitos estudos discriminando que o rio Igarassu possui condições
ambientais ruins, mas seus afluentes ainda possuem a qualidade ambiental considerada
moderada. Isso demostra que ainda há tempo para colocar em pratica tecnologias
adequada para a preservação desses rios. Assim como foi recomendado no estudo de
Araújo e Oliveira (2013) no riacho do Cavouco, um afluente do rio Capibaribe a fim de
controlar a poluição.
Nesta pesquisa, pelos rios estudados serem urbanos, evidencia que a qualidade da água
pode ser influenciada negativamente pelo lançamento de esgotos domésticos, resíduos
sólidos e rejeitos de indústrias. Esses aspectos discutidos são semelhantes aos apontados
por Zanini et al. (2010), que analisaram os índices de qualidade da água e de estado
trófico. Estes verificaram que a qualidade da água microbacia do córrego Rico é
influenciada pelas atividades agropecuárias e aos resíduos gerados pela população
urbana, que é representado pelas fontes pontuais e difusas de poluição. O mesmo é
relatado por Piasentin et al. (2009) ao analisar a relação entre a qualidade da água e o
uso e ocupação do solo do reservatório Tanque Grande, Guarulhos (SP)

CONCLUSÃO

1. Os valores de IQA para os rios estudados (Pitanga, Utinga, Igarassu, Conga e


Tabatinga, obtidos por meio de dados do CPRH, mostraram valores que
relacionam com a condição boa. Quanto aos valores de IET para o rio Igarassu,
mostrou-se em estado mesotrófico, enquanto que para os rios Pitanga e
Tabatinga como oligotrófico, e para os rios Utinga e Conga como
ultraoligotrófico.
2. Quanto aos padrões de qualidade da água, o rio Ipojuca e Conga se diferem
dentre os rios estudados por estarem caracterizados como poluídos, enquanto os
rios Pitanga, Utinga e Tabatinga se encontram em padrão de moderadamente
comprometida.
3. Em relação as análises ecotoxicológicas, os dados demonstraram que as águas
dos rios urbanos que cortam a cidade de Igarassu não estão tóxicas, o mesmo é
observado para o risco de salinidade, sendo baixo para todos os rios.
4. Sugere-se que o monitoramento das águas dos rios estudados assim como para
todos os que se localizam no Estado de Pernambuco sejam perenes, sem

31
Universidade Católica de Pernambuco

interrupções, por ser um meio que está intimamente ligada a sobrevivência da


população e economia do local.

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34
9º Encontro Internacional das Águas

ANÁLISE DOS CORPOS HIDRICOS PERTENCENTES AO MUNICIPIO


DE AMPARO/PB PARA AGRICULTURA IRRIGADA1

Rafaela Felix Basílio Guimarães2 *, Viviane Farias Silva3, Aline Costa Ferreira4,
Daniele Ferreira de Melo2, Josinaldo Xavier de Medeiros5
1
Trabalho retirado de parte da Tese de Josinaldo Xavier de Medeiros
2
Mestranda em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande; e-mail: *rafaellafelix_@hotmail.com (autor
correspondente); danimelo.ufcg@hotmail.com;
3
Doutoranda em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande e-mail: flordeformosur@hotmail.com;
4
Professora da Universidade Federal de Campina Grande/Campus Pombal; e-mail: alinecfx@yahoo.com.br;
5
Pesquisador; e-mail:josinaldoxm@bol.com.br

RESUMO
Na agricultura irrigada a qualidade da água é essencial para aplicar o manejo adequado, tanto
para o sistema de irrigação como para a planta e o solo, evitando perdas e danos ambientais.
Desse modo, a presente pesquisa foi realizada objetivando-se analisar as águas dos corpos
hídricos pertencentes ao município de Amparo/PB para a agricultura irrigada. Foram coletadas
11 amostras de água de fontes naturais e encaminhada para o laboratório de irrigação e
salinidade da Universidade Federal de Campina Grande, foram caracterizadas físico-
quimicamente, determinando-se a condutividade elétrica, pH, cálcio, magnésio, sódio; potássio,
carbonato, bicarbonato, cloreto e sulfato. A relação de adsorção de sódio (RAS) foi determinada
a partir dos resultados obtidos de cálcio, magnésio e sódio A classificação foi baseada no
Comitê dos Consultores da Universidade da Califórnia/UCCC (1974) e conforme Ayers e
Westcot (1999). Das 11 amostras de água coletadas, 6 é considerada sem nenhuma restrição e 5
amostras com restrição de ligeira a moderada, com maior condutividade de 2,68 dS/m e SDT de
1715,20 mg/L. A partir dos dados obtidos é recomendado verificar a sensibilidade da cultura a
ser irrigada e medidas de precauções para não ocorrer salinização nem sodificação do solo.
Palavras-chave: Salinidade; Restrição de uso; Qualidade da água.

INTRODUÇÃO
A água é um recurso natural renovável bastante importante para a manutenção da vida
na Terra e seu processo cíclico de renovação está comprometido pela poluição e
degradação ambiental. Nora e Garcia Netto (2012) afirmam que a água é um dos
recursos essenciais em relação a sua relevância e qualidade e precisa que seja
conservada e preservada, decorrente a diminuição das reservas hídricas de água doce ou
que suas qualidades para consumo estejam comprometidas.
Na região semiárida os recursos hídricos são limitantes, tanto em qualidade como
quantidade, restringindo sua utilização para diversos fins. Caracterizado pelas
precipitações irregulares e altas taxas de evapotranspiração as áreas semiáridas do
Nordeste, constituído por aproximadamente 196,7 milhões de brasileiros, considerado o
semiárido mais populoso do mundo (IBGE, 2010).

1
35
Universidade Católica de Pernambuco

Os reservatórios hídricos no semiárido brasileiro incluem lagos rasos (MALTCHIK et


al., 1999), reservatórios artificiais (BARBOSA, 2002) e intermitentes, córregos e rios,
com exceção o rio perene denominado São Francisco e os rios artificialmente regulados
(MALTCHIK; MEDEIROS, 2006), estes sistemas são diferentes na paisagem semiárida
e abrange diversos sistemas de funcionamento associado, sempre em mudança, ou seja,
períodos secos e úmidos (BARBOSA et al., 2012). A seca nestas regiões influência nos
parâmetros diminuindo a disponibilidade de água, aumentando a concentrando sais e
poluentes, tornando a água impropria até para a produção agrícola, afetando diretamente
nas atividades fisiológicas da planta resultando em perda substancial da produção e da
cultura. Segundo Cirilo (2008) os aspectos climáticos e socioeconômicos destas regiões
necessitam de tecnologias específicas de utilização e conservação dos recursos hídricos,
em que é preciso analisar as alternativas de obtenção de água para usos diversos.
Na agricultura irrigada, a qualidade da água utilizada deve ser analisada para verificar as
limitações de uso, tipos de culturas que podem ser irrigadas, manejo adequado da água e
do solo para não haver salinização do solo, nem perdas de nutrientes. Assim através das
análises físico químicas da água e do solo, planeja-se os métodos de irrigação aplicado e
avalia-se a suscetibilidade ou a resistência das plantas que serão irrigados, conforme
Carneiro (2012).
Nesse contexto, a presente pesquisa foi realizada objetivando analisar as águas dos
corpos hídricos pertencentes ao município de Amparo/PB para a agricultura irrigada.

MATERIAL E MÉTODOS
O município de Amparo está localizado na Microrregião do Cariri Oriental e na
Mesorregião Borborema do Estado da Paraíba (Figura 1), a 635 m de altitude, com área
de 122 km², constituindo 0,21 % do Estado, 0,008 % da região Nordeste e 0,001 % do
território brasileiro. O acesso é através das rodovias BR230, BR412, PB110 e PB249.
Está inserido nas Folhas SUDENE de Prata e Sumé (IBGE, 2006).

2
36
9º Encontro Internacional das Águas

Figura 1 - Localização do Município de Amparo/PB

Conforme Brasil (2005), Amparo está inserido na unidade geoambiental do planalto da


Borborema, com paisagem típica do semiárido nordestino, relevo isolado revela os
ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte da região, com precipitação média
anual de 431,8 mm.
As águas superficiais são encontradas na Bacia Hidrográfica do rio Paraíba, Região do
Alto Paraíba. Seus principais tributários são os riachos: da Jureminha, Cariri, dos
Caboclos, do Boi, Soberba, Olho d’ Água, do Açude Novo e da Barroca. Os principais
corpos d’água são os açudes Escurinho e Pilões (13.000.000 m3). O principal corpo de
acumulação de água é a Lagoa do Meio. Os cursos d’água têm regime de escoamento
intermitente e padrão de drenagem dendrítico.
Os pontos de coleta de água das 11 amostras de fontes naturais foram georreferenciados,
conforme observa-se a localização na Figura 2.

3
37
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 2 - Mapa da localização de coleta de amostras das fontes hídricas do Município


de Amparo/PB
- 7 .5

- 7 .5 4
Latitude

- 7 .5 8

- 7 .6 2

- 3 7 .0 8 - 3 7 .0 4 -3 7

L o n g it u d e

As garrafas com as amostras de água foram encaminhadas ao Laboratório de Irrigação e


Salinidade da UFCG (LIS), onde foram caracterizadas físico-quimicamente,
determinando-se a condutividade elétrica, pH, cálcio, magnésio, sódio; potássio,
carbonato, bicarbonato, cloreto e sulfato. A relação de adsorção de sódio (RAS) foi
determinada a partir dos resultados obtidos de cálcio, magnésio e sódio, utilizando as
metodologias propostas pela Embrapa (2011).
A metodologia de classificação da qualidade de água para fins de irrigação, baseou-se
nos parâmetros do Comitê dos Consultores da Universidade da Califórnia/UCCC (1974)
e conforme Ayers e Westcot (1999), que para a Condutividade elétrica da água
estabelece que a condição de CE menor que 0,7 dS/m não apresenta restrição para uso;
entre 0,7e 3,0 dS/m, o grau de restrição é baixo a moderado e acima de 3,0 dS/m, é de
severa restrição. Para a Relação de adsorção de sódio (RAS) utiliza este parâmetro
numa combinação de intervalos de valores de RAS com CE da água, sendo dado o grau
de restrição de uso da água para irrigação, quanto ao risco de sodificação do solo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com dados na Tabela 1 e conforme as diretrizes para a interpretação da
qualidade da água para a irrigação (AYRES; WESCOT, 1999), relacionadas com
infiltração da água no solo, os valores de RAS e CE encontrados em 3 fontes hídricas
(27 %) não apresentaram restrições para uso na agricultura. No entanto, cinco fontes

4
38
9º Encontro Internacional das Águas

(45,5 %) apresentaram grau de restrição de baixo a moderado e outras 3 fontes (açudes:


sítio lagoa do meio, boa vista e jatobá) indicam grau severo de restrição de uso para a
irrigação.
Quanto à dureza total (DT), verificou-se que 6 fontes (54,5 %) foram classificadas como
muito duras (DT > 200 mgL-1), motivo pelo qual provoca incrustações em tubulações de
sistemas de irrigação por aspersão localizados e com relação ao uso humano
retardamento no cozimento de alimentos, implicando em maior gasto de gás, carvão,
lenha.

Tabela 1 - Índices de Qualidade das Águas no Município de Amparo/PB

FONTES RAS (mmolcL-1)1/2 DT (mgL-1) CE (dSm-1) SDT (mgL-1)


1 1,93 151,00 0,49 310,40
2 2,57 292,50 0,93 595,20
3 0,43 80,50 0,16 103,68
4 5,96 181,00 1,14 729,60
5 2,06 240,00 0,61 390,40
6 11,64 488,50 2,68 1.715,20
7 0,59 50,50 0,11 72,32
8 2,52 266,00 0,82 524,80
9 0,42 35,00 0,08 49,28
10 5,27 278,00 1,32 844,80
11 2,27 216,00 0,67 428,80

Na Tabela 1 verifica-se que os parâmetros analisados comparadas com os padrões


estabelecidos pela UCC, estão dentro dos valores recomendados para águas
consideradas normais, os valores recomendados para condutividade elétrica variam de 0
-3,0 dS/m, e a RAS de 0 -15, estando assim todos nesta faixa de valores.
Quando se classifica a água considerando a condutividade elétrica e a variável sólidos
totais dissolvidos, observa-se que das 11 amostras de água coletada, 6 é considerada
sem nenhuma restrição e 5 amostras com restrição de ligeira a moderada, com maior
condutividade de 2,68 dS/m e SDT de 1715,20 mg/L.

5
39
Universidade Católica de Pernambuco

De acordo com Nakayama e Bucks (1986), o problema associado a qualidade da água e


a dureza total é a precipitação dos carbonatos de cálcio e magnésio, que pode ocorrer,
principalmente, se a água apresentar elevada dureza e valores de pH acima de 7,5.
A qualidade da água foi analisada em 11 fontes (açudes e poços), no município de
Amparo. Observa-se que as fontes hídricas estudadas, a maioria é do tipo açude,
conforme observa-se na Figura 3.

Figura 3 - Diferentes corpos hídricos analisados no Município de Amparo/PB

Segundo Silva et al. (2008) o problema da salinidade em áreas irrigadas se agrava


quando há maior adição de sais através da água de irrigação, promovendo acréscimo da
concentração salina na área considerada, condições em que a água de irrigação, além de
contribuir para o aumento da concentração salina pode, também, provocar a elevação do
lençol freático que, através de ascensão capilar, passa a fornecer água e sais à zona
radicular.
Verificou-se um total de seis fontes sem problemas de salinidade (CE < 0,7 dSm-1),
podendo ser utilizadas para diversos fins, sem qualquer grau de restrição, Figura 4 e
Tabela 1. Nos demais pontos de coleta das amostras a água apresentou salinidade entre
0,7 e 3,0 dSm-1, indicando grau de restrição de uso de baixo a moderado para a
irrigação, porém com qualidade de excelente a muito satisfatória para o consumo
animal.
Na Figura 4 tem-se o mapa da condutividade elétrica da água em relação às coordenadas
geográficas, latitude e longitude no município de Amparo. Como verifica-se nas cores
do mapa, a condutividade elétrica não ultrapassou o limite de 3,0 dSm-1, ficando o
intervalo de CE entre 1,5 e 3,0 dSm-1 restrito a uma pequena área enquanto na área

6
40
9º Encontro Internacional das Águas

maior a salinidade da água ficou abaixo de 1,5 dSm-1, constatando que pode utilizar
nessas áreas culturas diversas sem haver nenhum problema em relação à salinidade da
água.

Figura 4 - Mapa de condutividade elétrica do município de Amparo


-7 .5

-7 .5 4
Latitude

-7 .5 8

-7 .6 2

-3 7 .0 8 -3 7 .0 4 -3 7

L o n g itu d e
E S C A L A : 1 :9 7 .0 0 0

C o n d u t i v i d a d e E l é t r i c a d a Á g u a ( d S m - 1)

-5 0 0 0 0 700 1500 3000 5000 8000 11000 16000 20000 80000

Para a agricultura irrigada a qualidade da água aplicada, em especial em áreas


semiáridas, deve se ter cuidado no manejo, podendo haver acumulo de sais, degradando
os solos e resultando em perdas na produção agrícola, como explica pessoa et al. (2012).
Como também afirmam Ayres e Westcot (1999) que o excesso de sais na água para
irrigação, quando ocorre a evaporação da água ou consumo pelas culturas (AYERS;
WESTCOT, 1999), há perda de água e acumulo de sais resultando em salinização do
solo.
Quando ocorre o acréscimo de sais no solo, ou seja, a salinidade do solo a níveis
prejudiciais pode ocorrer diminuição da produção das plantas, em culturas sensíveis
provoca a morte e perda de áreas agrícolas (WATER RESEARCH COUNCIL, 1989).
Dantas Neto et al. (2009) ao estudar a água da sub bacia hidrográfica do rio
Taperoá/Paraíba para fins de irrigação perceberam que apenas 11 % das águas possuíam
severo grau de restrição para uso na irrigação, resultado diferente do obtido nesta
pesquisa.

7
41
Universidade Católica de Pernambuco

CONCLUSÃO
1. As águas das fontes hídricas avaliadas podem ser aplicadas na irrigação com
alguma restrição para uso, contudo, na maioria dos casos, não comprometendo a
sua utilização, sendo necessário analisar a sensibilidade da cultura a ser utilizada
quanto ao nível de salinidade e sodicidade da água.
2. Deve haver manejo adequado do sistema de irrigação para não haver
entupimento e má distribuição da água nos gotejadores, podendo afetar o
suprimento de água para a planta influenciando diretamente em seu rendimento.

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ANTEPARANDO O CAPIBARIBE: PROTEGENDO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


PARA RECONECTAR AS PESSOAS COM O RIO¹

Gustavo Caldas B.L.², Gabriel Verçoza M.³, S.F.Teixeira⁴

¹Parte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor.


²Graduado em ciências biológicas pela Universidade de Pernambuco-UPE. Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais da
Universidade de Pernambuco (LEPT/UPE). E-mail: gustavocaldas_@hotmail.com
³Graduando em ciências biológicas pela Universidade de Pernambuco-UPE
Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais da Universidade de Pernambuco (LEPT/UPE). E-mail:
gabriel.vercoza@hotmail.com

⁴ Doutorado em oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco


Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais da Universidade de Pernambuco (LEPT/UPE). E-mail:
teixeirasf.upe@gmail.com

RESUMO
A cidade do Recife desenvolveu-se as margens do estuário do rio Capibaribe e a proximidade de uma
metrópole a um ecossistema importante submete este ambiente a processos de degradação ambiental.
O descarte incorreto dos resíduos sólidos afeta os mais diversos ecossistemas presentes na região,
aonde o fluxo hidrodinâmico do estuário e a morfologia da vegetação ciliar conduzem o material a
uma armadilha natural. O acumulo destes resíduos está diretamente associado ao impacto ambiental e
à degradação do ecossistema manguezal, tão essencial na manutenção e conservação da
biodiversidade. Considerando a importância e a necessidade de mais estudos científicos sobre tal
cenário, este estudo avaliou as características dos resíduos sólidos com as diferentes áreas presentes no
baixo rio Capibaribe e a relação com as estruturas físicas que cercam a vegetação, visando gerar
subsídios para a tomada de medidas mitigadoras necessárias para diminuir a pressão antrópica.
Palavras-chave: Impacto ambiental; Resíduos sólidos; Rio Capibaribe.

INTRODUÇÃO
Os estuários em zona tropical possuem mata ciliar composta em grande parte por vegetação
tipo mangue (OLIVEIRA-FILHO, 1994), que desempenha função considerável na ecologia e
hidrologia de uma bacia hidrográfica, na manutenção da qualidade da água, estabilidade dos
solos, manutenção do microclima local e da biodiversidade (CAMERON; PITCHARD,
1963).

O dinamismo entre o continente e o oceano nesta área está relacionado com a massa de água
doce e as oscilações da maré compreendendo um processo de transporte que geram fluxos
(SCHAEFFER-NOVELLI, 2005). Este movimento hidrodinâmico quando associado a uma
malha densamente povoada, propicia uma condução de materiais sólidos residuais descartados
inadequadamente e que se acumulam na vegetação ciliar caracterizando um impacto
ambiental negativo para o ecossistema e para o rio.

44
9º Encontro Internacional das Águas

O baixo curso do rio Capibaribe, localizado em Recife - PE, atravessa uma malha urbana de
alta densidade populacional, apresentando suas margens inseridas em um ambiente estuarino,
aonde o curso do rio e movimento das correntes propiciam a convergência de materiais
alóctones, como resíduos residencial/comercial quanto o hospitalar descartados de modo
inapropriado. Nesta área, o ecossistema manguezal presente é composto principalmente, de
vegetação do tipo arbórea, arbustiva e aquática que retém esse material alóctone, ficando o
represado e acumulado nas margens e pelas raízes do mangue, durante as variações da maré.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004) define o lixo como, os restos das
atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis.
O termo anteparo segundo dicionário Aurélio define como resguardar, defender (FERREIRA,
2010) e sua estrutura física presente nas margens do manguezal ao longo da cidade do Recife
definiu um padrão de proteção contra o lixo.

Considerando que as margens do estuário do rio Capibaribe apresentam vários tipos de


resíduos sólidos e locais de deposição, o presente trabalho analisou os impactos ambientais
decorrentes do acúmulo destes resíduos lançados e represados nas margens do baixo curso
deste rio com as estruturas presentes nas proximidades da vegetação, com o intuito subsidiar
politicas públicas capazes de minimizar os impactos gerados por estes resíduos sobre os
recursos hídricos urbanos.

MATERIAL E MÉTODOS
O rio Capibaribe nasce na Serra do Jacarará no município de Poção, e tem uma extensão de
253,5 km até a sua foz, compreendendo uma área de 7.716 km² (CPRH, 2010). Sua bacia está
totalmente inserida no estado de Pernambuco, entre as coordenadas 07°41’20” e 08°19’30” S,
e 34°51’00” O (BIONE et al., 2009).

O baixo curso do rio Capibaribe, localizado em Recife, está presente em uma malha urbana de
alta densidade populacional, apresentando suas margens inseridas em um ambiente estuarino,
aonde o curso do rio e movimento das correntes propiciam a convergência de materiais
alóctones, como resíduos residencial/comercial quanto o hospitalar descartados de modo
inapropriado. Nesta área, o ecossistema manguezal está presente ao longo de um trecho de 13
km a partir da foz, composto principalmente, de vegetação do tipo arbórea, arbustiva e
aquática que retém material alóctone, ficando represado e acumulado nas margens e raízes do
mangue, na região de franja, durante as variações da maré.
8

45
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 1 - Área de estudo e localização dos pontos de coleta no estuário do rio Capibaribe,
Recife PE

Fonte: Autoria própria (2016).

A área foi escolhida por apresentar três tipos diferentes de ocupações urbanas mais evidentes:
residencial, hospitalar e comercial e os tipos de estruturas presentes ou ausentes nestes pontos.
As coletas foram efetuadas de dezembro de 2015 a abril de 2016, em um percurso de 6,44
Km, a partir do ponto da Praça da Jaqueira, no bairro de Casa Forte, até a proximidade da
Casa da Cultura, no bairro de Santo Antônio. Dentro deste trecho foram definidos sete pontos
de coleta, com espaço aproximado de 1 km entre cada ponto devido às condições dos acessos,
sendo amostradas ambas as margens, enumerados da montante para a jusante, de 1 a 7, e
como margem esquerda (ME) e margem direita (MD) (Figura 1).

46
9º Encontro Internacional das Águas

Para a coleta dos resíduos sólidos foram utilizados quadrats e o box corer (Figura 2).

Figura 2 – (a) Ferramenta quadrat e as 16 interseções utilizadas para contabilizar os resíduos


capturados, (b) Ferramenta box corer sobreposto ao quadrat para marcação do material a ser
recolhido nas margens do rio Capibaribe.

a b
Fonte: Autoria própria (2016).

O lançamento do quadrat (25x25 cm; quadrículas de 5 cm com 16 pontos de intercessão) foi


aleatório no sentido da margem do rio (lançamentos LA1 e LA2) até a região da franja (LA3 e
LA4) e inversamente, para avaliar a cobertura de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos
observados no quadrat foram anotados in situ em uma planilha de checklist, de acordo com o
tipo de material.

O box corer, de 25x25 cm, foi posicionado no mesmo local de cobertura do quadrat, e os
resíduos sólidos encontrados superficialmente no interior do box corer, foram removidos para
posterior análise em laboratório.

Todas as coletas foram em marés de baixa-mar diurnas (maré 0,3), a medição da declividade
foi feita, em cada ponto, a partir do método de Emery (EMERY, 1961), iniciando da linha da
água até o final da margem.

Os materiais removidos no interior do box corer foram analisados no Laboratório de


Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais (LEPT). A amostra foi contabilizada, pesada
(0,01 g) e registrada em planilha de checklist.

10

47
Universidade Católica de Pernambuco

Nos pontos de coleta onde estavam presentes os resíduos sólidos a presença ou ausência de
estruturas físicas que atuam como barreira entre a via local e a vegetação foram anotadas e
estabelecida a relação com a quantidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As áreas residenciais/comerciais que não possuem uma estrutura que separe a vegetação da
via indicam uma maior concentração de RS nas margens (Figura 3), mesmo em áreas
predominantemente comerciais, com vegetação próxima, mas com presença de estruturas de
proteção (Tabela 3) apresentando uma quantidade menor de RS entre a vegetação.

Nos pontos observados as margens, quando não estão pressionadas pelas estruturas viárias,
apresentam um tamanho maior e uma declividade menos acentuada (Figura 3), e a
distribuição vegetal apresenta um padrão de concentração maior nestas margens. A
quantidade de unidades vegetais também demonstrou estar relacionada com o aporte de
sedimentos acumulados nas margens, onde a velocidade da correnteza sendo menor permite o
acumulo gradual.

A relação na quantidade de resíduos sólidos (RS) registrada nos pontos de coleta (Tabela 4)
estabeleceu uma conexão com o fluxo de pessoas nas áreas, a proximidade da vegetação e a
presença de estruturas e anteparos físicos que limitam ou protegem o acesso direto de pessoas.

11

48
9º Encontro Internacional das Águas

Tabela 3 – Características dos pontos de coleta quanto as estruturas presentes nas margens,
esquerda (E) e direita (D) do baixo rio Capibaribe
CARACTERISTICAS DA ÁREA DE ESTUDO
Ponto de Coleta Proximidade de Moradias Proximidade Estrutura Física
de Comércio entre a Margem e a
Via

01 E Não Não Não


D Não Não Sim

02 E Sim Sim Não


D Sim Sim Não

03 E Sim Sim Não


D Sim Sim Não

04 E Não Não Não


D Não Sim Sim

05 E Não Não Não


D Sim Sim Não

06 E Sim Sim Sim


D Não Sim Sim

07 E Sim Sim Sim


D Sim Não Sim
Fonte: Autoria própria (2016).

12

49
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 3 – Indicações dos locais de coleta e quantidade de residuos coletados em cada


margem

Fonte: Autoria própria (2016).

13

50
9º Encontro Internacional das Águas

Tabela 4 – Frequência absoluta (total) de resíduos sólidos capturados nos lançamentos


aleatórios afastados da margem do rio (LA1 e LA2) e na região da franja (LA3 e LA4), nas
margens esquerda (E) e direita (D) do baixo rio Capibaribe

Ponto de Lançamentos Aleatórios (LA)


Margem
coleta
LA1 LA2 LA3 LA4 TOTAL
E 1 0 0 0 1
1
D 0 1 0 0 1
Total 2
E 5 2 1 1 9
2
D 1 1 1 1 4
Total 13
3 E 1 1 3 2 7
D 1 1 2 1 5
Total 12
4 E 0 0 0 1 1
D 0 0 1 1 2
Total 3
5 E 0 0 1 1 2
D 1 0 1 1 3
Total 5
6 E 0 0 0 0 0
D 0 0 3 1 4
Total 4
7 E 0 0 2 3 5
D 0 0 0 0 0
Total 5
TOTAL 44
Fonte: Autoria própria (2016).

14

51
Universidade Católica de Pernambuco

A utilização do checklist para as informações in situ, estabeleceu os tipos de impactos


significativos (Figura 5), o plástico e o isopor foram capturados em maior quantidade
correspondendo a mais da metade dos RS presentes nas margens.

Figura 5 – Frequência relativa dos resíduos sólidos capturados nas margens do baixo rio
Capibaribe

2%
2% 5% Plástico Isopor
2%
3%
5% Vidro Papel
3%
Acrilico Aluminio

Ferro Tecido
24%
54% Borracha

Fonte: Autoria própria (2016).

Pelo tempo de degradação dos materiais na natureza, a relação dos materiais encontrados e
tempo de decomposição demonstra preocupação no que se refere ao plástico face ao crescente
volume de utilização e as implicações ambientais inerentes ao descarte não racional pós-
consumo (FORLIN, 2002), não só pelo tempo de degradação, mas pela quantidade presente
nos encalhes registrados nas margens.

Nos últimos dois séculos, o adensamento urbano e a explosão populacional nas localidades
próximas à costa vêm pressionando os sistemas biológicos naturais. Um dos grandes
problemas observados com crescimento urbano nos ambientes costeiros é o acúmulo de
resíduos, que contribui para a degradação da fauna e flora locais (VIEIRA, 2010).

Pouco ainda se sabe sobre a dinâmica de encalhes de resíduos sólidos urbanos nos
manguezais, contudo é de conhecimento comum que este ecossistema sofre impactos
diferenciados em cada região (VIEIRA, 2010).

A morfologia vegetal é um fator importante no encalhe de resíduos. Vegetações mais densas


nas bordas funcionam como uma malha que impede a entrada de muitos resíduos na floresta
do manguezal.
15

52
9º Encontro Internacional das Águas

CONCLUSÕES
1. O estuário do baixo rio Capibaribe, em Recife, é caracterizado pela presença de
manguezal, que é um ecossistema extremamente dinâmico, sendo a poluição urbana,
proveniente das atividades antrópicas, uma das principais causas para a destruição
desse ecossistema.
2. Nas margens do baixo rio Capibaribe foi observado que nos pontos mais próximos de
comércios, residências e com maior fluxo de pessoas houve maior quantidade dos
resíduos, entretanto, esses locais quando associados a uma estrutura física delimitando
o acesso ou margeando a vegetação, apresentaram uma diminuição de resíduos
sólidos.
3. No comparativo, entre os resíduos sólidos mais próximos a via de acesso e vegetação
com aqueles mais próximos da área de franja do rio, houve uma associação direta com
o peso do resíduo solido, sendo observado que os materiais mais pesados e enterrados
estavam na borda da vegetação e os mais leves e de fácil condução estavam na parte
mais superior. Em pontos mais próximos a manilhas pluviais também existiu um
maior registro de resíduos sólidos.
4. Os locais com anteparos possuem menos resíduos sólidos, pois servem como barreira,
as manilhas pluviais atuam como condutoras de resíduos e há o descarte direto de
resíduos pelos transeuntes, tanto na via quanto diretamente no rio, principalmente o
plástico que leva cerca de 100 anos para se degradar.
5. Em virtude disso e considerando a capacidade de resiliência do ecossistema
manguezal, sugere-se que as politicas públicas municipais devem ser voltadas para a
ampliação de estruturas de anteparos ao longo da margem do rio Capibaribe, visto a
efetividade das mesmas em apreender os resíduos sólidos; que são necessários , na
saída das manilhas pluviais que desaguam no rio, uma estrutura de apreensão de
resíduos sólidos, como grades por exemplo; e deve haver um programa de educação
ambiental voltado ao descarte inapropriado de resíduos sólidos para a população, a fim
de que não tratem mais a cidade e o rio como local de descarte.
6. Os pulsos e fluxos de energia criam uma assinatura energética de um ecossistema
determinando assim um desenvolvimento estrutural a partir de um aproveitamento de
energias subsidiárias (ODUM, 1985), que servem para tonificar as estruturas
presentes. Fazendo parte deste sistema estão os tensores, que realizam uma perda
energética natural em um sistema equilibrado, e quando presente em uma área urbana
densamente povoada sem tratamentos adequados estes tensores são potencializados.
16

53
Universidade Católica de Pernambuco

Contando ainda com a adição de mais tensores, agora artificiais, como resíduos
sólidos a energia resultante tem sua capacidade diminuída. Em um ecossistema tipo
manguezal os tensores retiram parte da energia que usada para a recuperação do
ambiente. Com o aumento destes tensores e as energias subsidiarias sendo constantes
o resultado deste sistema acarreta no déficit de energia para o desenvolvimento
podendo leva-lo ao colapso.
7. Manguezais são, geralmente, sistemas jovens em função da dinâmica das áreas
costeiras onde se localizam é um ambiente que apresenta uma alta plasticidade e
resiliência, uma rápida intervenção para diminuição destes tensores poderá permitir
meios de recuperação do ambiente e dos meios associados tão importantes.
8. Nos pontos mais próximos de comércios, residências e com maior fluxo de pessoas
houve maior quantidade dos resíduos. Entretanto, esses locais quando associados a
uma estrutura física delimitando o acesso ou margeando a vegetação, apresentaram
uma diminuição de resíduos sólidos tanto na quantidade quanto no tamanho.
9. No comparativo entre os resíduos mais próximos à via de acesso e vegetação com os
resíduos mais próximos da área de franja do rio houve uma associação direta com o
peso do resíduo sólido, onde os materiais mais pesados e enterrados estavam na borda
da vegetação e os mais leves e de fácil condução estavam na parte mais superior. Em
pontos mais próximos a manilhas pluviais também existiu um maior registro de
resíduos mais leves.
10. Os dados observados permitem concluir que locais com anteparos na via são melhores
do que os que não têm, que as manilhas pluviais servem como condutoras de resíduos
sólidos e que há o descarte direto de resíduos sólidos pelos transeuntes. Em virtude
disso, as políticas públicas municipais devem ampliar as estruturas de anteparos ao
longo da margem do rio Capibaribe, que são necessários, na porção das manilhas
pluviais que desaguam no rio, uma estrutura de apreensão de RS, e, por fim, mas não
menos importante, que deve haver um programa de Educação Ambiental voltado ao
descarte inapropriado de RS para a população, à fim de que não tratem mais a cidade e
o rio como local de descarte.

17

54
9º Encontro Internacional das Águas

REFERÊNCIAS

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas; Amostragem de Resíduos, NBR–10004,


Rio de Janeiro, 2004.

PERNAMBUCO. Secretaria de Recursos Hídricos e Energéticos. Plano Hidroambiental da


Bacia Hidrográfica do rio Capibaribe (PHA – Capibaribe). Recife, 2010.

EMERY, K.O. A simple method of mesuring beach profiles. Limnology and Oceanography.
v. 6, n. 1, p. 90 - 93, 1961.

PRITCHARD, Donald W. Estuarine hydrography. Advances in geophysics, v. 1, p. 243-280,


1963.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. 5. ed.


Curitiba: Positivo, 2010. 2272 p. ISBN 978-85-385-419-81.

FORLIN, F. E.; FARIAS, J.A. Considerações sobre a Reciclagem de Embalagens Plásticas.


Polímeros: Rio de Janeiro, Ciência e Tecnologia, v. 12, n.1, p. 1-10, 2002.

ODUM, Eugene P. Trends expected in stressed ecosystems. Bioscience, v. 35, n. 7, p. 419-


422, 1985.

OLIVEIRA-FILHO, A.T. de, et al. Estrutura fitossociológica e variáveis ambientais em um


trecho da mata ciliar do córrego dos Vilas Boas, Reserva Biológica do Poço Bonito, Lavras
(MG). Revista Brasileira de Botânica, v. 17, n. 1, p. 67-85, 1994.

SCHAEFFER- NOVELLI, Y. (coord.). Manguezal: Ecossistema entre a Terra e o Mar. São


Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995.

VIEIRA, Bianca Pinto; DIAS Dayse; HANAZAKI Natália. Homogeneidade de Encalhe de


Resíduos Sólidos em um Manguezal. Revista da Gestão Costeira Integrada. n.8, 2010.

18

55
Universidade Católica de Pernambuco
1

APLICAÇÃO DE SOFTWARE "TecAlt" PARA AUXILIAR NA


IDENTIFICAÇÃO DE TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS DE
DRENAGEM POSSÍVEIS DE SEREM INTEGRADAS
AO CAMPUS A. C. SIMÕES

Jhersyka Barros Barreto1

1
Arquiteta e Urbanista em pós-graduação em educação e meio ambiente - IFAL.

RESUMO
O software TecAlt auxilia à decisão na escolha de tecnologias de drenagem urbana. Facilita a
identificação das técnicas compensatórias de drenagem possíveis de serem integradas ao projeto
e planejamento urbano de uma determinada área de estudo. O objetivo deste trabalho é
identificar viabilidade de técnicas compensatórias de drenagem possíveis de serem integradas ao
projeto e planejamento de uso e ocupação do solo no Campus A. C. Simões. Para isso foi
necessário fornecer os dados e características de drenagem da área para que o software gerasse
os dados sobre as técnicas compensatórias viáveis de serem aplicadas. Em relação ao Campus,
nota-se que existe a possibilidade real de aplicação de determinadas técnicas compensatórias ao
projeto e planejamento de uso e ocupação do solo.
Palavras-chave: Campus Sustentável; Drenagem Compensatória; Recursos Hídricos.

INTRODUÇÃO
O Campus A. C. Simões começou a ser construído no início em 1967, em um terreno de
210 hectares, situado em uma área que pertencia ao bairro Tabuleiro do Martins, mas,
atualmente, é conhecido como Cidade Universitária (UNIVERSIDADE FEDERAL DE
ALAGOAS, 2011). As obras realizadas para a construção dos edifícios do Campus A.
C. Simões não incluíam a implantação de sistemas de drenagem integrados aos edifícios
e ao planejamento urbano dessa área. Mas os transtornos em períodos de chuvas
intensas e os prejuízos patrimoniais com alagamentos que afetam determinados blocos
do Campus, mostravam a necessidade de implantação de sistemas de drenagem.
Em 2004, o Campus teve um dos maiores prejuízos causados pelas chuvas: quase todos
os prédios do Campus tiveram os telhados danificados por não suportarem o volume de
águas; dois transformadores de energias foram comprometidos, e toda a rede elétrica
precisou de reparos. Além disso, parte do muro do Campus próximo ao presídio
desabou; com isso um grande volume de águas invadiu o Campus e afetou algumas
unidades acadêmicas, que tiveram, entre outros prejuízos, equipamentos eletrônicos
danificados (GAZETAWEB, 2004).

56
9º Encontro Internacional das Águas
2

Na tentativa de solucionar os problemas de alagamentos foi implantado, em 2005, o


sistema de drenagem do Campus A. C Simões (Figura 1). Esse sistema de drenagem é
do tipo convencional, constituído por ruas pavimentadas, rede de tubulações e sistema
de captação situados nas laterais das principais vias do Campus. A vala superficial que
foi aberta liga diretamente o Campus a rede de macrodrenagem da bacia endorreica do
Tabuleiro do Martins. No entanto, o sistema de drenagem convencional não solucionou
tais problemas.

Figura 1 - Projeto de Drenagem do Campus A.C. Simões (Nélia Callado, 2004)

Fonte: SINFRA – UFAL (2014).

Com a adesão ao Reuni, em 2008, o Campus A. C. Simões "virou um verdadeiro


canteiro de obras" (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2008). Alguns dos
novos edifícios já foram construídos, algumas obras encontram-se paradas e outras
estavam em andamento em 2014. O aumento das construções no Campus (Figura 2)
refletem em mais áreas impermeabilizadas e aumento do volume excedente de
escoamento, com a diminuição de áreas de infiltração. Isso pode sobrecarregar os
sistemas de drenagem e favorecer os problemas causados pelas chuvas nessa área. Se
esses novos projetos fossem executados com medidas compensatórias de drenagem os

57
Universidade Católica de Pernambuco
3

impactos sobre os sistemas de drenagem seriam minimizados. No entanto, não é o que


acontece. Estão sendo impermeabilizadas novas áreas, mas o sistema de drenagem
continua o mesmo, nem as vias pavimentadas recentemente contam com sistema de
drenagem integrado.

Figura 2 - Densidade construtiva do Campus A. C. Simões antes e depois de 2008

Fonte: planta do Campus disponibilizada pela SINFRA, adaptada por Jhersyka


Barreto (2014).

MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi a aplicação de
software TecAlt para a identificação de técnicas compensatórias de drenagem possíveis
de ser integradas ao sistema de drenagem do Campus A. C. Simões -UFAL.

Software TecAlt
O software TecAlt auxilia à decisão na escolha de tecnologias em drenagem urbana.
Desenvolvido em 2002 pelos brasileiros Márcio B. Baptista e Wilson S. Fernandes,

58
9º Encontro Internacional das Águas
4

encontra-se disponível para download no site do Departamento de Engenharia


Hidráulica e Recursos Hídricos (http://www.ehr.ufmg.br/downloads/) da Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para que o software identifique as técnicas compensatórias de drenagem possíveis de
serem aplicadas ao Campus A. C. Simões, foi necessário fornecer os dados da área
(Figura 3). As informações, selecionadas em meio a algumas alternativas, são:
i) grande área urbana (maior que 30ha);
ii) empreendimento existente para o qual será feito estritamente a drenagem;
iii) procurar por todas as técnicas possíveis;
iv) disponibilidade de área para a implantação de técnicas com uso
compartilhado;
v) percentual significativo de área passível de utilização;
vi) exutório possível;
vii) lençol freático profundo (abaixo de 10 m);
viii) e permeabilidade do solo compatível com solo arenoso.

Figura 3 - Dados fornecidos

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

A partir dos dados fornecidos sobre as características da área em estudo, o software,


gera as informações sobre as técnicas compensatórias possíveis de serem implantadas.

59
Universidade Católica de Pernambuco
5

Indicação de Técnicas
O software identifica as técnicas compensatórias possíveis de serem aplicadas ao caso
em estudo (ver FIGURA 4). As técnicas são classificadas como: bacia de detenção ou
obras centralizadas, estruturas localizadas ou obras pontuais, e obras lineares. Ao
selecionar uma das técnicas no quadro "geral", aparecem, no quadro "detalhes", as
tipologias possíveis de serem utilizadas para a área de acordo com os dados que foram
fornecidos.

Figura 4 - Técnicas possíveis para os dados do problema

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

No caso da bacia de detenção, existem as seguintes possibilidades (Figura 5): i) de


infiltração, seca e integrada; ii) de infiltração, úmida e integrada; iii) de
infiltração/retenção, seca e integrada; iv) de infiltração/retenção, úmida e integrada; v)
de retenção, aberta, com água e integrada; vi) retenção, aberta, seca e integrada; vii)
retenção, aberta, úmida e integrada; viii) e de retenção, fechada e integrada.

60
9º Encontro Internacional das Águas
6

Figura 5 - Bacia de detenção

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

No caso das estruturas localizadas, foram apontadas as seguintes possibilidades (Figura


6): i) poços de infiltração; ii) reservatórios domiciliares abertos de detenção; iii)
reservatórios domiciliares enterrados de detenção; iv) e reservatórios superficiais de
detenção/infiltração.

Figura 6 - Estrutura localizada

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

Em obras lineares, as possibilidades apontadas foram (Figura 7): i) trincheiras de


infiltração; ii) valas de detenção; iii) e valas de detenção/infiltração.

61
Universidade Católica de Pernambuco
7

Figura 7 - Obras lineares

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

Além de auxiliar na escolha das técnicas possíveis de serem implantadas, o software


possui informações sobre como funcionam cada uma das técnicas e apresenta fotos para
exemplificar cada tipologia (FIGURAS 8, 9, 10).

Figura 8 - Informações gerais sobre bacia de detenção

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

62
9º Encontro Internacional das Águas
8

Desta forma, temos que as bacias de detenção possuem a função de estocar


temporariamente as águas pluviais, determinando o rearranjo temporal, com a redução
das vazões de pico. Além dessa função, podem contar com um projeto paisagístico e ter
outros usos e funções integradas. A depender da sua tipologia, podem favorecer a
infiltração e diminuir o volume de águas pluviais escoados.
O Campus A. C. Simões possui grandes áreas livres, onde não há construções, e pode
ser feito o estudo de viabilidade para a utilização dessa técnica compensatória de
drenagem. Já que, como foi visto no capítulo anterior, existe uma área crítica quanto à
ocorrência de alagamentos, que recebe um grande volume de águas pluviais através do
escoamento superficial.

Figura 9 - Informações gerais sobre estruturas localizadas

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

As estruturas localizadas possibilitam que as águas pluviais sejam estocadas


temporariamente para controlar a vazão de pico e, além disso, possibilitam que sejam
utilizadas para determinados usos, como irrigação e limpeza, por exemplo, ou para a
infiltração e recarga do lençol freático. As técnicas, como poços de infiltração e
reservatórios, não necessitam de grandes áreas para serem implantadas. No Campus,
seria necessário um estudo de viabilidade para saber quais as melhores áreas para a

63
Universidade Católica de Pernambuco
9

implantação dos reservatórios e se há a possibilidade de serem integrados aos pátios e


edifícios existentes.
Já as obras lineares possibilitam estocar temporariamente e/ou infiltrar as águas pluviais
através de técnicas longitudinais implantadas em áreas integradas ao sistema viário.
Além das valas e trincheiras, o uso de pavimentos permeáveis ou de detenção
contribuem para a diminuição do volume excedente de escoamento superficial. Tais
técnicas podem ser aproveitadas nas vias e nos estacionamentos do Campus, já que um
volume significativo de águas pluviais fica acumuladas nessas áreas em dias de fortes
chuvas, dificultando o acesso aos edifícios. Dessa forma, possibilitaria a infiltração para
a recarga do aquífero em áreas que atualmente encontram-se impermeabilizadas.

Figura 10 - Informações gerais sobre obras lineares

Fonte: produzido com o auxílio do software TecAlt (2014).

CONCLUSÃO

1. O software TecAlt facilita o estudo de viabilidade das técnicas para uma


determinada área, pois, ao indicar apenas as que são possíveis de serem
aplicadas de acordo com os dados fornecidos, elimina as demais. No entanto,

64
9º Encontro Internacional das Águas
10

não elimina a necessidade do estudo de viabilidade que deve ser realizado para
evitar que as técnicas sejam aplicadas de forma indevida ou em áreas que não
são apropriadas. Um projeto com técnicas de drenagem compensatórias
integradas envolve um conhecimento técnico multidisciplinar (SILVEIRA,
2002, p. 08), o que reforça a necessidade de estudos e levantamentos que
antecedam o projeto.
2. Em relação ao Campus, nota-se que existe a possibilidade real de aplicação de
determinadas técnicas compensatórias ao projeto e planejamento de uso e
ocupação do solo. Porém, mesmo com o histórico de alagamentos em sua área
crítica, o Campus, teve o aumento de áreas construídas e consequentemente da
impermeabilização do solo, resultante do processo de expansão universitária
iniciado em 2008. Em contrapartida a isso, pouco se foi feito em relação ao
sistema de drenagem.
3. Dessa forma, observa-se que a mesma instituição que realiza diversas pesquisas
sobre a gestão dos recursos hídricos e suas problemáticas, e que deveria ajudar a
solucionar o problema de alagamentos dentro e fora do Campus, contribui para
gerar volume excedente de águas pluviais e agravar a situação da bacia
endorreica do Tabuleiro do Martins. Sendo que a necessidade de gestão de águas
pluviais ultrapassa os limites do Campus, tendo toda a bacia como uma unidade
de gestão. Porém, as medidas locais, tanto positivas quanto negativas, tendem a
interferir globalmente na bacia do Tabuleiro do Martins.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, M. B.; FERNANDES, W. D. S.. TecAlt, 2002. Disponivel em:


<http://www.ehr.ufmg.br/downloads/>.

GAZETAWEB. Ufal tem prejuízos de R$ 1,8 milhão com chuva: MEC anuncia
liberação de R$ 828 mil para redução de danos. Gazetaweb, 16 junho 2004. Disponivel
em: <http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/acervo.php?c=53424>. Acesso em:
02 setembro 2014.

65
Universidade Católica de Pernambuco
11

SILVEIRA, A. L. Drenagem Urbana: Aspectos de Gestão. Universidade Federal do


Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2002, p. 70.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. Campus Maceió é um canteiro de


obras, 31 dezembro 2008. Disponivel em: <http://www.ufal.edu.br/noticias
/2008/12/campus-maceio-e-um-canteiro-de-obras>. Acesso em: 10 outubro 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. Uma fisionomia em permanente


transformação, 03 janeiro 2011. Disponivel em: <http://www.ufal.edu.br/ufal
/noticias/2011/01/uma-fisionomia-em-permanente-transformacao>. Acesso em: 05
outubro 2014.

66
9º Encontro Internacional das Águas

MONITORAMENTO DAS ÁGUAS DO RIO TIMBÓ NO


MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE1

Evelly Alves Correia dos Santos 2, Luiz Carlos da Silva Moreira3, Luísa Souza
Almeida4, Shirley de Oliveira Pinto5, Silvana Carvalho de Souza Calado6
1
Trabalho de Conclusão de Curso
2
Graduada de Química Industrial da UFPE [Laboratório de Controle de Qualidade do Departamento de Engenharia Química –
UFPE. evellyalves@hotmail.com]
3
Graduado de Química Industrial da UFPE [Laboratório de Controle de Qualidade do Departamento de Engenharia Química –
UFPE. carlos33moreira@hotmail.com]
4
Graduanda de Farmácia da UFPE [Laboratório de Controle de Qualidade do Departamento de Engenharia Química – UFPE.
luisasouza.almeida1@gmail.com]
5
Graduanda de Química Industrial da UFPE [Laboratório de Controle de Qualidade do Departamento de Engenharia Química –
UFPE. shirleydeoliveirapinto@gmail.com]
6
Professora do Departamento de Engenharia Química – DEQ da UFPE [Laboratório de Controle de Qualidade do Departamento de
Engenharia Química – UFPE. silcalado@yahoo.com.br]

RESUMO
Os rios brasileiros sofrem com a poluição e a contaminação devido à ação das indústrias ou pela
falta de educação e consciência ambiental da sociedade. A maior parte da água que é retirada
para consumo humano ou industrial retorna ao seu curso com alterações significativas na
qualidade. Produtos residuais transportados são frequentemente tóxicos, e sua presença pode
degradar, seriamente o ambiente do rio, lago ou riacho receptor. Devido a esse problema, a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Paulista/PE idealizou este projeto a fim de constatar
o ponto de maior impacto no rio Timbó. Foram avaliadas as concentrações de Fósforo,
Nitrogênio Amoniacal, Nitrato e Nitrito em amostras coletadas na nascente, na saída da estação
de tratamento e na foz do rio citado. Constatou-se que na nascente todas as concentrações
estavam dentro dos padrões, na saída da estação de tratamento as concentrações de fósforo
foram quase treze vezes superiores ao Valor Máximo Permitido (VMP) estabelecido pela RDC
n. 357/2005 da CONAMA e na foz o grau de eutrofização foi ainda maior, influenciada
negativamente pelas marinas, cuja a concentração de fósforo foi 36 % superior ao VMP e
para nitrato, o valor foi dez vezes superior ao máximo tolerável.
Palavras-chave: Curso hídrico; Poluição; Eutrofização.

INTRODUÇÃO
Os rios brasileiros sofrem com a poluição e a contaminação devido à falta de
informação acerca desses dois inimigos que acarretam passivos ambientais muitas vezes
incalculáveis: ação das indústrias ou pela falta de educação e consciência ambiental da
sociedade.
A maior parte da água que é retirada para uso de consumo humano ou industrial retorna
ao seu curso na maioria das vezes com alterações significativas na qualidade,
infelizmente, os produtos residuais transportados são frequentemente tóxicos, e sua
presença pode degradar, seriamente o ambiente do rio, lago ou riacho receptor.
O acúmulo dos resíduos diminui a quantidade de oxigênio no corpo de água, e induzem
a eutrofização. Quando o nível de eutrofização da água aumenta em intervalos grandes

1
67
Universidade Católica de Pernambuco

de tempo, é considerado um processo natural. Mas quando ocorre em um período


curto, segundo Moraes (2002), se trata de uma causa antrópica, ocorrida por influência
humana.
A bacia hidrográfica do Rio Timbó compreende os municípios de Abre e Lima, Paulista
e Igarassu. Seus constituintes principais são o Rio Barro Branco, Arroio Caetés e Arroio
Desterro pela margem esquerda e pela margem direita, um pequeno riacho próximo de
sua nascente. Passa ainda nas áreas de proteção da Mata de Congaçari, Mata de
Jaguarana e Mata de São Bento e além disso, no seu percurso ocorre ocupação urbana e
industrial. O principal uso do curso é a recepção de efluente doméstico e industrial. E as
atividades industriais mais comuns na bica são: têxtil, metalúrgica, minerais não-
metálicos, produtos alimentares, matéria plástica, perfumes, sabões, velas e editora
gráfica.
Levando em consideração o que foi exposto, este trabalho foi idealizado pela Secretaria
de Meio Ambiente de Paulista/PE em parceria com o Laboratório de Controle de
Qualidade do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da UFPE para avaliar a
situação do Rio Timbó, grande curso d’água que percorre, praticamente, o município de
Oeste a Leste. O principal objetivo foi analisar a concentração de Nitrato, Nitrito,
Nitrogênio Amoniacal e Fósforo para verificar o grau de eutrofização causado por esses
parâmetros. Foi realizada coletas na nascente, nas proximidades da Estação de
Tratamento de Efluente – ETE, e na foz. Além disso foi vistoriado todo o percurso para
identificação de outros possíveis pontos de contaminação.

MATERIAL E MÉTODOS
Inicialmente foram vistoriados todos os trechos urbano percorridos pelo Rio Timbó,
foram observados os pontos de maior impacto pelo lançamento de poluentes, tais como
efluentes industriais não tratados e efluentes sanitários in natura, para identificar os
melhores pontos de coleta da água para análise. A fim de mensurar qualitativamente o
grau de eutrofização do curso d´água na sua totalidade, foram escolhidos como pontos
de coleta: nascente, riacho na saída da estação de tratamento de efluente e na foz.
A coleta foi realizada no dia 20/11/2016 a partir das nove horas utilizando técnicas
apropriadas para minimizar erros associados bem como contaminação externa. Foram

2
68
9º Encontro Internacional das Águas

usados recipientes plásticos esterilizados e luvas. Os recipientes foram mantidos sob


refrigeração. Todas as análises foram realizadas em 24 horas.
Os experimentos foram realizados no Laboratório de Controle de Qualidade do
Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
de acordo com a metodologia descrita no Standard Methods for the Examination of
Water and Wastewater (2012) e os laudos foram confrontados com a Resolução do
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) n. 357/05. Todas as amostras
foram analisadas em triplicata e foi calculada a média entre os valores para obter valor
real das concentrações de cada parâmetro estabelecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias aritméticas dos resultados obtidos das análises em triplicata de Nitrogênio
Amoniacal, Nitrato, Nitrito e Fósforo Total constam resumidas na Tabela 1 de acordo
com cada local analisado.

Tabela 1 - Média aritmética dos resultados em triplicata das amostras de água


Parâmetros/Local de Nascente ETE Foz VMP
coleta CONAMA N. 357/2005
Doce Salobra

N.Amoniacal (mg.L-1) 1,77 1,34 0,18 3,70 0,7

Nitrito (mg.L-1) 0,00 0,00 0,01 1,00 0,2

Nitrato (mg.L-1) 0,30 1,60 1,93 10,00 0,7


-1
Fósforo (mg.L ) 0,03 1,25 0,25 0,10 0,186

Como a classificação do rio, segundo a CPRH, é classe II a conceituação do tipo quanto


à salinidade seguiu a definição contida na Resolução CONAMA n. 274/2000 de acordo
com a localização do ponto de coleta (Tabela 2).

3
69
Universidade Católica de Pernambuco

Tabela 2 - Classificação das águas de acordo com os pontos coletados conforme


Resolução CONAMA n. 274/2000 e 357/2005
PONTO DE COLETA CLASSE SALINIDADE
Nascente II Doce
ETE II Doce
Foz II Salobra

Na Nascente, os valores obtidos nas análises estão abaixo do VMP, que


fatidicamente pode ser justificado pela ausência de residências e/ou indústrias no local
(Figura 1). Trata-se, bas i cam ent e , de uma área pouco habitada e de difícil acesso.

Figura 1 - Visualização gráfica dos resultados das análises realizadas para amostra
coletada na nascente

Na saída da ETE, apesar das características indicativas de alta poluição, os valores das
concentrações de nitrogênio em suas formas, apresentaram-se abaixo do VMP
estabelecido (Figura 2), entretanto, para fósforo os resultados apresentaram-se quase
treze vezes superiores ao VMP estabelecido pela Resolução CONAMA n. 357/2005
com que tange aos padrões para lançamento de efluentes em afluente de classe II.

4
70
9º Encontro Internacional das Águas

Figura 2 - Visualização gráfica dos resultados das análises realizadas para amostra
coletada na saída da ETE

Na Foz, devido à localização deste ponto de coleta, vale frisar que neste trecho o
afluente é classificado como salobro, apresentou as concentrações dos seus parâmetros
variadas como exposto na Figura 3.

Figura 3 - Visualização gráfica dos resultados das análises realizadas para amostra
coletada na foz

5
71
Universidade Católica de Pernambuco

Em situação muito semelhante à saída da ETE, vê-se um aumento considerável na


concentração de fósforo, 36 % superior ao VMP estabelecido. E para nitrato, última
etapa da nitrificação, o valor foi dez vezes superior ao máximo tolerável e
estabelecido na resolução já citada.

CONCLUSÃO
1. Verificou-se uma nascente com o mínimo de impacto poluente possível a fim de
encaminhar a outros órgãos de policiamento ambiental solicitação de apoio na
fiscalização para garantir essas qualidades o máximo possível, e impedir que o
desordenamento urbano o transforme em mais uma fonte de contaminação de
saúde pública.
2. No município de paulista, o lançamento de maior impacto, constatado por meio
das análises realizadas neste estudo, foi o da estação de tratamento de efluentes
do Janga, e a interferência negativa quanto a eutrofização chega na foz, berço
aquático.
3. Obteve-se o entendimento técnico sobre o grau de poluição causado
principalmente pelo lançamento de efluentes do sistema de tratamento de
efluentes e industriais e urbanos, da estação de tratamento de efluentes existente
no município. Sugere-se fiscalização intensificada nas marinas existentes no
local, controle na urbanização desordenada e o possível lançamento de efluentes
sanitários no rio Timbó e principalmente controle no cumprimento dos padrões
para a estação de tratamento de esgotos do Janga.

REFERÊNCIAS
AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater. 22. Ed., 2012.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA. Resolução CONAMA n. 357, de 17 de março de 2005.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente-
CONAMA. Resolução CONAMA n. 274, de 29 de novembro de 2000.
MORAES, D. S. L.; JORDÃO, B. Q. Degradação de recursos hídricos e seus efeitos
sobre a saúde humana. Rev. Saúde Pública, v.36, n..3, São Paulo, 2002

6
72
9º Encontro Internacional das Águas
1

O PLANO DIRETOR MUNICIPAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DE


RIOS URBANOS: APLICAÇÕES E LIMITES EM UMA CIDADE DO
SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO1

Wagner José de Aguiar1, Ricardo Augusto Pessoa Braga2


1
Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Pernambuco. Grupo de Estudo e Pesquisa em
Educação e Sustentabilidade (Gepes/CNPq/UFRPE). E-mail: wagner.wja@gmail.com.
2
Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento e Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, Universidade Federal de Pernambuco. Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Sustentabilidade
(Gepes/CNPq/UFRPE). E-mail: rbraga@hotlink.com.

RESUMO
A conservação das águas urbanas representa um desafio ao planejamento ambiental das cidades
brasileiras, sobretudo daquelas pertencentes a regiões econômica e demograficamente dinâmicas
que atestam precariedades no acesso ao saneamento básico. Nesse contexto, o presente artigo
aborda aplicações e limites do Plano Diretor Municipal como instrumento de gestão de rios
urbanos em uma cidade inserida no Semiárido pernambucano. Através de uma pesquisa
bibliográfica e documental, foram inicialmente sistematizados aspectos conceituais, legais e
metodológicos inerentes ao instrumento e, na sequência, analisadas as prioridades e diretrizes do
Plano Diretor de Santa Cruz do Capibaribe, em relação às ações governamentais materializadas
em leis e convênios implementados de 2007 a 2016. Os resultados apresentados demonstram
que, na elaboração do Plano, prioridades foram identificadas nas pautas de habitação,
saneamento e meio ambiente, subsidiando a definição de objetivos e ações em duas das cinco
diretrizes principais. Embora tais ações venham ganhando concretude em intervenções do
Legislativo e do Executivo municipais, a integração das políticas econômicas e ambientais,
implementadas no território municipal, não constitui um objetivo alcançado, dado o
esvaziamento do componente hidroambiental de atividades que demandam elevado uso da água,
escassa na região, como a indústria e agropecuária.
Palavras-chave: Estatuto da Cidade; Planejamento territorial; Rio Capibaribe.

INTRODUÇÃO
A limpeza de rios urbanos representa um grande desafio ao planejamento ambiental das
cidades brasileiras, onde o acesso ao saneamento básico não se encontra universalizado.
Dados da Agência Nacional de Águas (2012) apontam que aproximadamente 85 % dos
brasileiros habitam áreas urbanas, e dessa população somente 42,6 % e 30,5 % acessam
serviços de coleta e de tratamento de esgoto, respectivamente. Na região Atlântico
Nordeste Oriental, correspondente à segunda região hidrográfica com maior densidade
populacional (84 hab./km²), à terceira com maior população habitante (24,1 milhões de
habitantes, destes 80 % residentes em áreas urbanas) e à quarta com maior participação

1
Artigo resultante da pesquisa de mestrado “O papel dos conselhos gestores municipais na
implementação de políticas e práticas ambientais: o caso do Alto Capibaribe, Pernambuco – Brasil”,
realizada entre 2015 e 2016 e apresentada em fevereiro de 2017.

73
Universidade Católica de Pernambuco
2

no Produto Interno Bruto Nacional (6,1 %), os percentuais correspondem a 24,1 % e


22,2 % (Ibid.). Dessa forma, a conservação dos rios urbanos e o desenvolvimento
socioeconômico das cidades precisam estar integrados por uma perspectiva de
planejamento territorial orientada para a sustentabilidade. Nesse contexto, insere-se o
Plano Diretor Municipal (PDM).
O PDM é o instrumento básico da política de desenvolvimento urbano, previsto para
municípios que atendam alguns requisitos, tais como possuir uma população superior a
20 mil habitantes, integrar aglomerações urbanas e/ou estar inseridos em área de
influência de atividade com significativo impacto ambiental (BRASIL, 2001, Art. 41).
Dessa forma, deve estabelecer diretrizes voltadas ao crescimento econômico e ao
atendimento das demandas sociais, em condições ambientalmente viáveis, abrangendo a
interrelação das políticas implementadas no âmbito municipal (BRAGA, 2009). Nessa
perspectiva, corrobora a Política Nacional de Recursos Hídricos ao incumbir o
Executivo Municipal da “integração das políticas locais de saneamento básico, de uso,
ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federal e estaduais
de recursos hídricos”. (BRASIL, 1997, Art. 31).
Concomitantemente à fragilidade do saneamento básico, outro fator agravante na
degradação dos rios urbanos é o crescimento populacional, o que reflete
consequentemente no adensamento dos assentamentos humanos e na quantidade de
resíduos e esgoto produzidos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(s.d.), entre 2013 e 2014, as maiores taxas geométricas de crescimento foram atribuídas
aos municípios com população situada entre 100 e 500 mil habitantes, o que sublinha o
fato de 55 % da população brasileira habitar os municípios com mais de 100 mil
habitantes. Do ponto de vista da gestão de rios urbanos em cidades da região semiárida,
o desafio tende a ser ampliado em virtude da predominância das estiagens e da ausência
de políticas públicas efetivas de saneamento, o que favorece um quadro de baixa
disponibilidade hídrica e a instalação de conflitos entre os diferentes usuários. Nesse
panorama, está inserido o município pernambucano de Santa Cruz do Capibaribe.
Situado a 187,8 km de Recife e com uma extensão de 335, 309 km2, Santa Cruz do
Capibaribe é a terceira maior cidade do Agreste pernambucano e o quarto maior
município integrante da bacia hidrográfica do Capibaribe. Possui uma população de
101.485 habitantes, tendo apresentado em 2010 a maior taxa geométrica de crescimento

74
9º Encontro Internacional das Águas
3

populacional dentre os 42 municípios da bacia (4,04 % aa), com densidade demográfica


de 261,20 hab./km2, e sendo o terceiro com maior número de habitantes residentes na
zona urbana (97,73 % da população) (BRAGA et al., 2015). Na condição de integrante
do Agreste Setentrional, região de desenvolvimento (RD) que registra os percentuais
mais reduzidos de acesso à água e de atendimento por coleta de lixo dentre as cinco RD
inseridas na bacia do Capibaribe, o município é um grande gerador de resíduos sólidos e
sedia um dos maiores pólos de confecção do país, cuja atividade industrial demanda um
elevado consumo de água, concorrendo assim com outras demandas de uso.
Nesse horizonte, o presente artigo visa discutir aplicações e limites do PDM como
instrumento de gestão de rios urbanos, tomando como caso a implementação do Plano
Diretor de Santa Cruz do Capibaribe. Além de estar inserido em uma região econômica
e demograficamente dinâmica, marcada pela fragilidade de infraestrutura de saneamento
básico, o município é o primeiro da bacia (após a primeira nascente) que possui sua área
urbana situada às margens do rio Capibaribe, sendo um dos mais afetados pela estiagem
instalada no alto trecho da bacia desde 2012. No ano em que muitos municípios terão
seus PDM revisados, espera-se que este trabalho ofereça contribuições àqueles inseridos
na região semiárida, no sentido de fomentar uma perspectiva de desenvolvimento
urbano compatível com a sustentabilidade hídrica.

MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho é fruto de uma pesquisa exploratória que, em virtude das técnicas
empregadas, pode ser subdividida em dois tipos: bibliográfica e documental. Segundo
Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica (ou de fontes secundárias)
representa uma fonte essencial de informações, possibilitando o contato com dados
atuais e relevantes sobre determinado tema. Nessa condição, foram pesquisadas
publicações relacionadas ao PDM como instrumento de gestão, incluindo a localização
e a consulta de livros, artigos de revista, etc., no intuito de sistematizar aspectos
conceituais, legais e metodológicos inerentes ao instrumento. No caso específico dos
artigos, a busca foi feita em sites especializados (Google Acadêmico, Scielo etc.).
Do ponto de vista da pesquisa documental (ou de fontes primárias), que abrange a coleta
de dados restrita a documentos, foram levantados e consultados escritos de arquivos
públicos, como o Plano Diretor e sua respectiva lei de aprovação, assim como as leis

75
Universidade Católica de Pernambuco
4

municipais produzidas ao longo do prazo de implementação do PDM, relacionadas à


conservação das águas urbanas – de modo complementar, também foram consultados,
no Portal da Transparência, recursos transferidos por meio de convênios. O acesso ao
PDM foi realizado através de solicitação à Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Econômico, Agricultura e Meio Ambiente, enquanto que as leis foram consultadas na
página da Câmara Municipal2. A partir dessas fontes, buscou-se correlacionar as
prioridades e diretrizes estabelecidas no PDM e as ações governamentais materializadas
nas leis e nos convênios implementados de 2007 a 2016.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O PDM como instrumento de gestão: aspectos conceituais, legais e metodológicos

O PDM foi inicialmente previsto pelo artigo 182 da Constituição Federal de 1988, no
qual o único requisito para a sua adoção obrigatória pelo município consistia no
tamanho populacional de 20 mil habitantes. A partir do Estatuto da Cidade, outros
aspectos passaram a ser considerados quanto à sua obrigatoriedade, como a existência
de atividades geradoras de impactos ambientais. O fato é que muitos municípios
brasileiros tiveram seus PDM elaborados à luz das disposições constitucionais,
enquanto outros foram construídos conforme a norma vigente, sendo este um fator que
explica a diferença temporal de execução e revisão dos PDM. Com adoção do Estatuto,
os municípios que não dispunham de PDM deveriam aprová-lo no prazo de cinco anos,
contados da data de vigência da Lei (11 de outubro de 2001) e rever a lei de criação, no
mínimo a cada dez anos (BRASIL, 2001, Art. 40, § 3o e Art. 50).
De acordo com Lacerda (2005), o PDM pode ser qualificado a partir de duas dimensões,
a estratégica e a normativa. Quando estratégico, o Plano tem suas propostas
fundamentadas no conhecimento situacional do município, indicando meios
(instrumentos e ações) que possam, dentro de um determinado prazo, viabilizar a
materialidade dos objetivos e das diretrizes nele estabelecidos, com vistas a um
determinado cenário esperado. Quando normativo, o PDM assume a configuração de
uma lei que disciplina o ordenamento territorial do município, regulamentando o uso do

2
Acesso em: http://www.camarasantacruzdocapibaribe.pe.gov.br/Leis%20Aprovadas/leis_geral.htm.

76
9º Encontro Internacional das Águas
5

solo e impondo limitações ao direito de propriedade e de construir. Nessa condição,


deve ter suas diretrizes e prioridades contidas no plano plurianual, nas diretrizes
orçamentárias e no orçamento anual do município (BRASIL, 2001, Art. 40, § 1o).
Em termos de composição, o PDM requer um conteúdo mínimo, consistente nos
seguintes itens: objetivo, metodologia, diagnóstico da realidade (social, econômica,
ambiental, urbanística, fundiária, administrativa), diretrizes, zoneamento do território e
recomendações. Do ponto de vista de sua elaboração, os procedimentos são estruturados
em quatro etapas principais: a primeira etapa abrange o levantamento e sistematização
de dados, a caracterização do município e a mobilização social para a participação; a
segunda etapa inclui oficina de diagnóstico participativo, seguida da consolidação do
diagnóstico e de oficina sobre os eixos temáticos do PDM; a terceira etapa prevê a
elaboração da proposta do PDM, a redação de minuta do Projeto de Lei e audiência
pública; e, por fim, a quarta etapa corresponde à consolidação do PDM e do Projeto de
Lei, a ser aprovado pela Câmara Municipal (BRAGA, 2009).
Outra característica do PDM tange à participação das associações representativas da
sociedade civil na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e
projetos de desenvolvimento urbano (BRASIL, 2001, Art. 2, II). Orientada pelos artigos
40 e 43 do Estatuto da Cidade, a gestão democrática da política urbana pode ser
viabilizada por meio de diferentes instrumentos (colegiados gestores, consultas
públicas, conferências, etc.), incluindo-se o direito de acesso a informações produzidas
e a participação contínua na implementação do PDM, assegurados pelo Legislativo e
Executivo municipais por meio da promoção de audiências públicas, debates com a
participação popular e publicidade de documentos.
Segundo Machado e Lücke (2014), muitos PDM foram elaborados em gabinetes, sem
levar em consideração a realidade dos municípios e sem apresentar qualquer resposta
consistente aos problemas urbanos. Em contraponto a essa lógica, deve-se buscar uma
perspectiva que conceba o planejamento urbano como uma atividade técnico-política.
Nesse sentido, Lacerda et al. (2005) reconhecem a combinação das dimensões técnica e
política como uma condição essencial à gestão democrática do PDM, ainda que sejam
visíveis dificuldades quanto à legitimidade e à efetividade da participação frente à
incipiência de experiências participativas exitosas, sobretudo em municípios onde as
condições institucionais e culturais não são favoráveis.

77
Universidade Católica de Pernambuco
6

O PDM de Santa Cruz do Capibaribe: prioridades, diretrizes e limites para a


gestão das águas urbanas

O Plano Diretor de Santa Cruz do Capibaribe foi aprovado pela Câmara Municipal
através da Lei n. 1.635, de 16 de maio de 2007, ainda que a versão consolidada do
documento tenha sido publicada em novembro de 2006. O PDM foi elaborado a partir
de um processo licitatório entre a UFC Engenharia Ltda. e a Agência Estadual de
Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem), sendo subdivido em cinco
partes: (i) processo de mobilização e sensibilização da comunidade; (ii) cenários
socioeconômicos, físico-ambientais e urbanos; (iii) diretrizes e projeto estruturador; (iv)
minuta da Lei do Plano Diretor e; (v) anexo (CONDEPE/FIDEM, 2006). Sem a
intenção de fazer uma análise esgotada do documento, deu-se a preferência aos aspectos
concernentes às águas urbanas.
Na parte de mobilização e sensibilização da comunidade, foram adotadas pela equipe
técnica entrevistas com lideranças representantes de diferentes setores (Meio Ambiente,
Educação, Saúde, Infraestrutura, Serviços urbanos, Abastecimento alimentar, Cultura,
Agricultura e pecuária), abrangendo perguntas estratégicas em torno de aspectos
positivos e negativos, assim como de sugestões dentro de cada tema. Em função das
informações levantadas, foram planejadas e realizadas reuniões com comunidades dos
três distritos da cidade (Santa Cruz do Capibaribe, Poço Fundo e Pará), a fim de discutir
oportunidades, problemas e proposições locais, sendo feita uma hierarquização das
medidas apontadas. A partir das informações colhidas nas reuniões, foram promovidas
oficinas temáticas na sede municipal, com representantes de todas as localidades
escolhidos previamente. Dentre os resultados das oficinas, agrupados em “aspectos
físico-ambientais”, alguns problemas e encaminhamentos foram atribuídos direta ou
indiretamente mente à conservação das águas urbanas (Quadro 1).

78
9º Encontro Internacional das Águas
7

Quadro 1 - Prioridades do PDM de Santa Cruz do Capibaribe relativos à conservação


das águas urbanas

Tema Problemas Proposições Priorização

Maior fiscalização na lei do saneamento 3


Estrutura física irregular
da rede existente Implantar rede de esgoto em bairros
Drenagem 2
periféricos de Santa Cruz
Ausência de tratamento Implantar sistema de tratamento de esgoto
1
na rede existente com ETE próxima ao barreiro do Caçu (Pará)
Serviço irregular em Promover campanha educativa em Poço
Limpeza
áreas periféricas e Fundo/ Elaborar plano de limpeza urbana em 2
urbana
terrenos baldios Santa Cruz
Domicílios sem
Criar mecanismos de controle da
unidades sanitárias nos 1
implantação dos loteamentos em Santa Cruz
povoados
Habitação Crescimento
Criar mecanismos para conter especulação
desordenado da sede
imobiliária em Santa Cruz (IPTU 1
municipal e déficit
Progressivo, etc.)
habitacional
Meio Poluição do rio Promover despoluição e recomposição da
1
ambiente Capibaribe mata ciliar do rio Capibaribe
Fonte: Condepe/Fidem (2006).

As principais prioridades atinentes à conservação das águas urbanas foram vinculadas a


três pautas setoriais: saneamento básico, habitação e meio ambiente. Problemas
identificados, como o crescimento desordenado e a ausência de tratamento de esgoto,
reforçam a relevância do planejamento urbano para a conservação das águas urbanas no
município em questão, ainda que tais problemas e respectivas proposições demonstrem
ter baixa inserção nas prioridades legitimadas pelos participantes do processo. Nesse
quesito, a fiscalização da implementação do saneamento sobressaiu-se dentre as 7
consideradas, seguido da implantação da rede de esgoto em bairros periféricos e da
elaboração de um plano de limpeza urbana, considerando que o PDM deve abranger
todo território municipal (BRASIL, 2001, Art. Art. 40, § 2o).
Do ponto de vista das diretrizes e projeto estruturador, o PDM foi organizado em cinco
diretrizes principais, todas elas abrangendo eixos de desenvolvimento municipal,
objetivos e ações: (i) Patrimônio histórico e cultural; (ii) Agricultura e pecuária; (iii)
Infraestrutura e serviços urbanos; (iv) Turismo; e, (v) Indústria de confecções e
agroindústria. Dentre essas, as únicas que vislumbraram objetivos e ações relacionadas

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Universidade Católica de Pernambuco
8

às águas urbanas foram a primeira e terceira diretrizes (Quadro 2), sendo a preservação
e recuperação de Áreas de Proteção Permanente (APP) uma ação prevista para as quatro
macrozonas do município (Santa Cruz do Capibaribe, Poço Fundo, Pará e
Carrapicho/Magana/Cacimba de Baixo) (CONDEPE/FIDEM, 2006).

Quadro 2 – Diretrizes do PDM de Santa Cruz do Capibaribe aplicados à conservação


das águas urbanas
Eixo de
Diretriz Objetivos Ações
desenvolvimento
Promover a conservação e a  Preservar e recuperar APP
recuperação de mananciais e (rios, riachos, açudes, lagoas,
elementos naturais de serras, etc.);
relevância ambiental e  Promover PRAD,
Patrimônio Corredor
histórica, especialmente especialmente para
histórico e ecológico e
corpos hídricos, serras, reflorestamento de margens do rio
cultural arqueológico
afloramentos rochosos, sítios Capibaribe e seus afluentes, tais
arqueológicos, fragmentos de como: Riacho Tapera, Riacho do
mata e construções e marcos Pará, Riacho da Onça, Riacho
visuais de valor histórico. Doce ou Mulungu, entre outros.
Centro de  Implementar melhorias
Infraestrutura serviços urbanos Promover a integração (física urbanas e habitacionais;
e serviços de relevância na e funcional) com São  Implementar projetos especiais
urbanos rede regional de Domingos. de estruturação e qualificação
cidades urbana e ambiental.
Fonte: Condepe/Fidem (2006).

As ações propostas na diretriz “Patrimônio histórico e cultural” foram voltadas à


preservação e recuperação das áreas de mata ciliar do rio Capibaribe e afluentes. No
âmbito legislativo, duas leis foram instituídas, a Lei nº 1.927/2011, que “Autoriza ao
Poder executivo Implantar o Programa S.O.S. Rios e Riachos de Santa Cruz do
Capibaribe-PE. Despoluição e Revitalização”; e a Lei n. 2.199/2013, que “Dispõe sobre
a declaração de interesse público, social e estratégico, o trecho do Rio Capibaribe e seus
afluentes situados nos limites do município e dá outras providências”. Nenhum
convênio com o Governo Federal foi identificado para as ações propostas; entretanto,
em janeiro de 2016 o município noticiou a obtenção de financiamento estadual para dois
parques urbanos ambientais3 em áreas degradadas nas margens do rio Capibaribe.
Na diretriz “Infraestrutura e serviços urbanos”, as ações focaram melhorias
habitacionais e urbanas. Nenhuma lei municipal foi voltada à matéria, excetuando-se a

3
Acesso da notícia em: http://www.santacruzdocapibaribe.pe.gov.br/noticias.php?id=1168.

80
9º Encontro Internacional das Águas
9

Lei n. 2.479/2016, que “Dispõe sobre a criação de Cadastro Municipal das Associações
de Moradores de Bairros, Vilas e Núcleos Habitacionais e afins”, aproximando-se da
proposição de mecanismos de controle de implantação de loteamento, sugerida em
oficina. Em termos de convênios firmados com o Governo Federal, foram identificados
o convênio n. 00145/2014, voltado à “Implantação de Melhorias Sanitárias Domiciliares
na zona rural do município”, implementado entre 31/12/2014 a 31/12/2016; e o
convênio nº 56000957200700006, voltado à “Implantação das Obras do Sistema de
Esgotamento Sanitário”, implementado entre 28/12/2007 a 27/04/2010.
No ano de 2010 o município possuía 25.933 domicílios particulares permanentes e,
destes, 72,82 % apresentavam saneamento adequado (CONDEPE/FIDEM, 2016). Não
obstante, as prioridades elencadas nas reuniões denunciaram fragilidades nas condições
sanitárias domiciliares, sobretudo nas áreas periféricas, da mesma forma que apontaram
a necessidade de implantação do tratamento de esgoto no distrito do Pará, inexistente
não apenas nessa macrozona, mas em toda a cidade de Santa Cruz do Capibaribe. Nesse
ponto, é fundamental que o entendimento de “saneamento adequado” seja criticamente
revisto posto que, conforme a Lei Federal n. 11.445/2007, o esgotamento sanitário
abrange não apenas a coleta e a disposição final do esgoto, como também inclui o
tratamento deste, imprescindível para a conservação das águas urbanas.
Outro fator limitante que merece ser considerado na revisão do PDM é o fato de
atividades associadas às segunda e quinta diretrizes (“Agricultura e pecuária” e
“Indústria de confecções e agroindústria”) não apresentarem qualquer tipo de inserção
na questão levantada neste trabalho. Diante de um esvaziamento institucionalizado do
componente hidroambiental da intervenção desses empreendimentos, evidencia-se um
isolamento das dimensões socioeconômica e ambiental e, nesse contexto, cabe a
reflexão: o PDM “deve ser um plano de desenvolvimento geral, abordando os diversos
aspectos do desenvolvimento (econômico, social, político, cultural e físico-territorial),
ou se restringir ao aspecto físico-territorial (LACERDA et al., 2005, p. 62-63)? Seria o
agrupamento das prioridades em “aspectos físico-ambientais” uma condição favorável a
tal fragmentação, ou trata-se de um fator que extrapola a dimensão técnica?

81
Universidade Católica de Pernambuco
10

CONCLUSÕES

1. O PDM é um instrumento de planejamento territorial de natureza estratégica e


normativa capaz de subsidiar a integração das políticas municipais com vistas à
gestão das águas urbanas. Na construção do PDM Santa Cruz do Capibaribe,
prioridades foram elencadas nas pautas de habitação, saneamento e meio
ambiente.

2. No PDM de Santa Cruz do Capibaribe, ações foram propostas nas diretrizes de


Patrimônio histórico e cultural e de Infraestrutura e serviços urbanos, ganhando
concretude em intervenções do Legislativo e do Executivo municipais. Todavia,
fatores limitantes são evidenciados, a exemplo do esvaziamento do componente
hidroambiental de atividades que demandam elevado uso da água, escassa na
região.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à


Associação Águas do Nordeste (ANE), pelo apoio na realização da pesquisa; e à
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Meio Ambiente de Santa
Cruz do Capibaribe, pela viabilidade do acesso ao Plano Diretor Municipal.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Panorama da qualidade das águas


superficiais do Brasil. Brasília: ANA, 2012

BRAGA, R. A. P. Instrumentos para a gestão ambiental e de recursos hídricos.


Recife: Universitária da UFPE, 2009.

BRAGA, R. A. P. et al. Gestão e educação socioambiental na Bacia do Capibaribe.


Recife: Clã, 2015.

82
9º Encontro Internacional das Águas
11

BRASIL. Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos


Hídricos e dá outras resoluções. Diário Oficial da União, Brasília, 8 jan. 1997.

______. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Estabelece diretrizes gerais da política


urbana e institui o Estatuto da Cidade. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jul. 2001.

CONDEPE/FIDEM. Plano Diretor Municipal de Santa Cruz do Capibaribe. Recife:


Condepe/Fidem, 2006.

______. Perfil municipal de Santa Cruz do Capibaribe. 2016. Disponível em:


<http://www.bde.pe.gov.br/ArquivosPerfilMunicipal/Santa%20Cruz%20do%20Capibar
ibe.pdf >. Acesso em: 20 ago. 2016.

IBGE. Nota técnica: estimativas da população dos municípios brasileiros com data de
referência em 1º de julho de 2014. S.d. Disponível
em:<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/analise_estimativas_2014.p
df>. Acesso em: 4 mar. 2017.

LACERDA, N. et al. Planos diretores municipais: aspectos legais e conceituais. Revista


Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v.7, n.1, p. 55-72, 2005.

MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed.


São Paulo: Atlas, 2003.

MACHADO, N. G.; LÜCKE, S.A. Estatuto da cidade e Plano Diretor em Venâncio


Aires/RS. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, v. 10,
n. 4, p. 152-170, 2014.

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Universidade Católica de Pernambuco

O RIO TAMANDUATEÍ COMO EIXO DE REESTRUTURAÇÃO


URBANA DO CENTRO DE SÃO PAULO

Oliver Paes de Barros De Luccia1


1
Mestrando em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo e pesquisador do Grupo Metrópole Fluvial (GMF- FAU
USP). Graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Email: oliver.luccia@usp.br

RESUMO
O atual cenário das infraestruturas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) apresenta
graves falhas em relação aos recursos hídricos, saneamento e mobilidade urbana, que são
reveladas nos congestionamentos de veículos, nas inundações e na péssima qualidade da água
de rios e córregos. Para enfrentar estes desafios fazem-se necessários projetos que articulem
diversos sistemas de infraestrutura e diferentes jurisdições territoriais, com a aplicação de
medidas de engenharia nas diversas escalas da bacia hidrográfica em conjunto com medidas de
cunho social e administrativo. O projeto para o Hidroanel Metropolitano de São Paulo (GMF,
2011) é um exemplo desta visão integrada, e serve de ponto de partida para o presente trabalho,
que aborda os desafios para a implantação do canal Billings-Tamanduateí, hidrovia que faria a
ligação entre a represa Billings e o rio Tietê através dos rios Tamanduateí, Meninos e Couros, e
que poderia servir como eixo para uma possível reestruturação urbana dos bairros em sua
planície fluvial. Também é analisado o potencial de conexão desta hidrovia à Plataforma
Logística Urbana que seria instalada na região, parte integrante do novo sistema logístico de
transporte de cargas gerais para o estado de São Paulo em desenvolvimento pela Secretaria de
Logística e Transportes do Governo do Estado de São Paulo (EMPLASA, 2014).
Palavras-chave: Orla fluvial; Infraestrutura fluvial; Navegação fluvial; Revitalização de rios
urbanos; Gestão integrada de águas urbanas.

O sítio de São Paulo e seus rios


São Paulo está situado na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, numa região de cabeceira,
próxima à inúmeras nascentes. A configuração natural de seus cursos d’água é de rios
de planície, com leitos menores com seções e vazões relativamente reduzidas, com
meandros que se modificam ao longo do tempo, e leitos maiores bastante largos, as
áreas de várzea, que recebem as águas das vazões de cheia. Segundo Silva (2015),
apesar da pouca disponibilidade hídrica a região conta com um alto índice
pluviométrico, na faixa de 1.400 mm por ano, o que faz com que haja uma dupla
vulnerabilidade de escassez e cheias, típica das áreas de montante das bacias
hidrográficas.
Delijaicov (1999) ressalta que em apenas cem anos, durante o processo acelerado e
descontrolado de industrialização e expansão urbana, os leitos maiores dos rios foram
aterrados e ocupados pela cidade. Em sua visão, argumentos sanitaristas e hidráulicos

84
9º Encontro Internacional das Águas

fundamentaram o verdadeiro objetivo que era lotear e vender as áreas de várzea, e o


imenso logradouro público, espaço ideal para o parque linear fluvial, foi privatizado e
os rios canalizados, desprezando-se a navegação fluvial. Do conjunto de propostas
contidas nos vários projetos de canalização, embelezamento, melhoramento e
urbanização dos rios Tamanduateí e Tietê prevaleceram as propostas de canalização
para escoamento dos esgotos e controle das inundações e as propostas de avenidas
marginais aos canais para circulação expressa de automóveis.
Este modelo de implantação das avenidas de fundo de vale pretendia ampliar benefícios
do investimento público em drenagem e sistema viário, e visavam o aumento da
condutividade hidráulica dos rios e canais para drenar mais rapidamente as águas
pluviais, atendendo assim o novo hidrograma da bacia que, pelo aumento da
impermeabilização do solo, tem seu pico de cheia acentuado e antecipado. O rápido
escoamento de grandes quantidades de água pelos canais, porém, tem como
consequência o surgimento de pontos de inundação à jusante, uma vez que o espaço da
várzea dos rios que receberia as águas das cheias está ocupado. Começou-se então nas
últimas décadas a pensar em alternativas de reservação do excedente das águas, com a
construção de reservatórios à jusante das bacias menores, conhecidos como piscinões
(TRAVASSOS; SCHULT, 2013).
Pellegrino, Moura e Martins (2014) afirmam que, quanto ao controle pluvial, o emprego
dos piscinões tem mostrado ser uma solução eficaz no combate às enchentes em bacias
hidrográficas urbanizadas na RMSP, e por conta disso o Departamento de Águas e
Energia Elétrica (DAEE) prevê a implementação de mais 134 piscinões até 2020.
Contudo, ao analisarem o ciclo hidrológico e os processos naturais, além dos altos
custos, impactos sociais e urbanos, os autores consideram que essa estratégia tem se
demonstrado ineficiente. Toda a poluição da bacia hidrográfica é escoada para os
reservatórios, que detêm assim lixo e assoreamento. Ocorrem então inúmeros
inconvenientes, como obstrução de grades e bombas, aspecto desagradável e mau
cheiro, que resultam na rejeição deste tipo de estrutura pela população e vizinhança
imediata. Silva e Porto (2003) ressaltam também que espaço, terrenos e imóveis são
bens valorizados nas áreas urbanas, e remover a ocupação das várzeas ou criar espaços
para os piscinões são soluções extremamente custosas.

85
Universidade Católica de Pernambuco

Em relação à qualidade do ambiente urbano, percebe-se que todas essas intervenções ao


longo dos rios, canalizações, avenidas e piscinões, aliadas à péssima qualidade das
águas, acabam por impedir qualquer aproximação dos cidadãos com as rios e córregos
da cidade, e também desfavorecem a navegação fluvial, antigamente muito presente em
São Paulo. Os rios perdem assim seu potencial como local de lazer e encontro, deixando
de ser marcos na paisagem, elementos com importante papel de orientar as pessoas no
meio urbano ao permitirem a compreensão da geomorfologia local.

Gestão integrada das águas urbanas


Nas últimas décadas observa-se um crescimento da preocupação com o meio ambiente,
transformando a natureza em assunto indissociável do desenvolvimento humano. Dentre
as novas diretrizes para as águas urbanas é destacada a importância de medidas de
contenção de cheias e poluição na fonte, de maneira sistêmica, com ações distribuídas
sobre a paisagem urbana no âmbito da bacia hidrográfica como um todo, a fim de
atenuar e retardar o pico de cheia e permitindo a recarga das águas subterrâneas pelo
favorecimento da infiltração, procurando assim reestabelecer, o quanto possível, as
condições naturais de escoamento pré-urbanização (MIGUEZ et al., 2016). Para tanto,
faz-se necessária uma gestão integrada das águas urbanas, para o planejamento,
implementação e manutenção destas infraestruturas na cidade.
Percebe-se no Brasil movimentos recentes que indicam uma mudança no âmbito do
gerenciamento dos sistemas de drenagem urbana. Como exemplo, o Manual de
Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (FCTH; SMDU, 2012), parte integrante do
Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais de São Paulo – PMAPSP,
apresenta técnicas de retenção das águas pluviais na fonte, e as define como uma nova
visão de convivência com as cheias urbanas, com dispositivos que atuam na redução
dos volumes escoados e que se integram harmoniosamente com a paisagem,
considerando também o tratamento da poluição difusa. Assinala que ao planejar a
drenagem é necessário considerar a integração entre os dispositivos tradicionais de
drenagem com as medidas estruturais de controle na fonte, através da elaboração de
Planos de Drenagem Urbana.
Na escala metropolitana, os estudos desenvolvidos pela FAU USP para o projeto do
Hidroanel Metropolitano de São Paulo, coordenados pelo Prof. Alexandre Delijaicov

86
9º Encontro Internacional das Águas

(GMF, 2011), também abrem caminhos para uma visão integrada das águas urbanas, ao
articularem três importantes Políticas Nacionais (Recursos Hídricos, Mobilidade Urbana
e Resíduos Sólidos) tendo os rios como os principais eixos estruturadores da cidade. Na
esfera municipal, observa-se a incorporação desta visão nas diretrizes da prefeitura para
o planejamento da cidade, a partir da recente revisão do Plano Diretor Estratégico de
São Paulo (PDE), que abre novas oportunidades para políticas integradas ao estabelecer
eixos de estruturação da transformação urbana ao longo dos principais rios da cidade.
A adoção de medidas nas mais variadas escalas da bacia hidrográfica, desde pequenos
córregos até rios de maior porte, pode contribuir para uma maior estabilidade na vazão
dos rios e córregos da cidade, possibilitando tanto a navegação fluvial quanto o
desenvolvimento de um novo desenho arquitetônico para as orlas fluviais.

O Hidroanel Metropolitano de São Paulo


O projeto do Hidroanel Metropolitano de São Paulo (GMF, 2011) prevê uma rede de
vias navegáveis composta pelos rios Tietê e Pinheiros, represas Billings e Taiaçupeba,
além de um canal artificial ligando essas represas, totalizando 170 km de hidrovias
urbanas. Atualmente já existem 45 km de vias navegáveis no rio Tietê, entre a barragem
de Edgar de Souza e a barragem da Penha, passando pela Eclusa do Cebolão,
inaugurada em 2004. Já está em obras a Eclusa da Penha, que permitirá navegar por
mais 14 km rio acima, e que trará também significativas contribuições para a
macrodrenagem da cidade através do desassoreamento de canais e lagos da região.
Os estudos desenvolvidos pela FAU USP se baseiam no conceito de uso múltiplo das
águas, estabelecido na Política Nacional de Recursos Hídricos, que prevê o transporte
hidroviário na utilização integrada dos recursos hídricos, visando um desenvolvimento
urbano sustentável. Dessa forma, o Hidroanel teria o potencial de organizar a relação
entre as águas e a cidade, sendo o eixo estruturador urbano primordial articulando as
infraestruturas existentes, os equipamentos públicos e habitações na orla.
Os resíduos sólidos urbanos seriam as cinco cargas públicas prioritárias que circulariam
no Hidroanel: sedimentos da dragagem dos próprios rios, lodo das estações de
tratamento de água e esgotos, o entulho e a terra movimentados por obras da construção
civil e o lixo produzido pela população. Estas cargas entrariam no sistema hidroviário
por um dos 160 portos ao longo dos canais, e teriam como destino um dos três

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Universidade Católica de Pernambuco

Triportos, localizados em regiões estratégicas no cruzamento do Hidroanel com o


Rodoanel, e que abrigariam plantas industriais de processamento onde os resíduos
seriam tratados – reciclados, biodigeridos e, em última instância, incinerados. Também
seria possível o uso do Hidroanel para a reinserção dos produtos gerados nos Triportos,
resultantes de reciclagem e biodigestão, em indústrias que poderiam utilizá-los como
matéria-prima. Em relação ao transporte de passageiros, este seria possível em
travessias lacustres nas represas e para fins turísticos nos demais canais.
Além desses usos, existe o interesse na utlização das hidrovias metropolitanas para o
transporte de cargas gerais, dentro de um novo sistema logístico que ligaria rodovias,
ferrovias e hidrovias à um sistema de plataformas logísticas, para abastecimento do
varejo da cidade, como consta no Plano de Ação da Macrometrópole Paulista - PAM
(EMPLASA, 2014). Segundo Silva (2015), o PAM representa um avanço importante no
âmbito do planejamento urbano e regional, ao reconhecer a complexidade de escala que
extrapolou a das regiões metropolitanas isoladamente. Desta forma, abrem-se caminhos
para movimentos mais abrangentes de compartilhamento e integração de diferentes
modos de infraestrutura.

88
9º Encontro Internacional das Águas

Figura 1 - Hidroanel Metropolitano de São Paulo: (1) Canal do rio Tietê; (2) Canal do
rio Pinheiros; (3) Canal Billings-Tamanduateí / Bairros Fluviais do Tamanduateí; (4)
Canal Billings-Taiaçupeba; (5) Represa Guarapiranga; (6) Represa Billings; (7) Represa
Taiaçupeba. Fonte: Grupo Metrópole Fluvial – FAU USP

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Universidade Católica de Pernambuco

Canal Billings-Tamanduateí
Em estudo realizado no primeiro semestre de 2016, ao longo da disciplina1 da pós-
graduação da FAU USP ministrada pelo Prof. Alexandre Delijaicov, verificaram-se as
intervenções necessárias para a implantação do canal Billings-Tamanduateí, bem como
as relações desta hidrovia com uma possível reestruturação dos bairros da planície
fluvial do Tamanduateí e com a Plataforma Logística Urbana a ser instalada na região.
O canal Billings-Tamanduateí, com 30 km de extensão, faria a ligação entre a represa
Billings e o rio Tietê, cruzando o espaço urbano pelo centro do município de São Paulo
através dos rios Tamanduateí, Meninos, Couros e do canal de ligação Alvarenga-
Couros. Parte integrante do Hidroanel Metropolitano de São Paulo, este canal
configuraria o Pequeno Hidroanel, e permitiria o aumento significativo da área de
influência do sistema hidroviário no tecido urbano, reduzindo as distâncias percorridas
por terra até os diferentes portos fluviais.
O canal Billings-Tamanduateí representa a possibilidade de recuperar a importância
histórica do rio Tamanduateí na constituição e estruturação da cidade de São Paulo. A
implantação de infraestruturas rodoviárias nas várzeas do rio Tamanduateí, tais como a
Avenida do Estado e, mais recentemente, o Expresso Tiradentes, contribuiu para o seu
isolamento da vida cotidiana da cidade, e a ocupação descontrolada e predatória da orla
fluvial em descompasso com a provisão de serviços de captação e tratamento dos
esgotos domésticos e industriais favoreceu sua transformação em um canal de esgoto a
céu aberto. Desta forma, a implantação do canal tem o potencial de organizar a relação
entre as águas e a cidade, reforçando polos estruturadores da vida urbana e articulando
as diversas localizações notáveis na escala metropolitana que existem ao longo do eixo
do rio Tamanduateí, como o Parque Dom Pedro, o Pátio do Pari e a região do Ipiranga e
Mooca. Assim como no grande anel hidroviário, o Canal Billings-Tamanduateí serviria
de eixo estruturador urbano primordial, articulando as infraestruturas existentes, os
equipamentos públicos e habitações na orla.
Para garantir a navegabilidade neste trecho foram verificadas as intervenções que
seriam necessárias empreender, sobretudo: reformar pontes que impeçam a passagem
das embarcações, reformar trechos problemáticos do canal, construir canais de
1
A disciplina AUP 5897 – Projeto de Arquitetura de Infraestruturas Urbanas Fluviais – foi ministrada pelo Prof.
Alexandre Delijaicov no primeiro semestre de 2016, dentro do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU USP. A equipe de trabalho que desenvolveu alguns
dos conceitos apresentados neste trabalho foi composta por Oliver De Luccia, Caio Chamma e Adriana Inigo.

90
9º Encontro Internacional das Águas

derivação, eclusas, barragens móveis e solucionar a ligação do ribeirão dos Couros com
o braço Alvarenga da represa Billings, através da construção de um canal artificial.
Estudaram-se também outras alternativas de traçado para a conexão com a represa
Billings, através da ligação do ribeirão dos couros com o braço Grota Funda, ou através
da continuidade da hidrovia pelo rio Tamanduateí e da ligação com o braço de Ribeirão
Pires. Porém, após análise da altimetria e da ocupação urbana, optou-se pela ligação
com o braço Alvarenga.
As eclusas seriam implantadas no eixo do canal existente, e teriam ao seu lado
barragens móveis para controlar o nível d’água à montante, o que que exigiria uma
ampliação da largura do canal. As barragens móveis permitiriam a formação de lagos
navegáveis e canais de derivação, que poderiam funcionar como reservatórios de
retenção, amortizando o aumento de vazão durante chuvas intensas através da variação
de até 50 centímetros em seu nível d’água. Desta forma, como contribuição para a
macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, procurou-se localizar as eclusas e
barragens móveis imediatamente à jusante da foz dos afluentes, onde os picos de vazão
são mais intensos. Em uma escala ampliada, este sistema de lagoas e barragens móveis
possibilitaria um maior controle de vazão na foz do Tamanduateí com o rio Tietê.
Outra contribuição para a macrodrenagem seria a possibilidade de reversão das águas do
ribeirão dos Couros para a represa Billings, através do canal artificial de ligação com o
braço Alvarenga. Propõe-se esta reversão como alternativa de menor impacto à
reversão, hoje existente, do rio Pinheiros, visando diminuir a carga de poluição
bombeada para o compartimento Pedreira da Billings.

Bairros fluviais do Tamanduateí


A Prefeitura Municipal de São Paulo, a partir do novo Plano Diretor de 2014, definiu a
Macroárea de Estruturação Metropolitana, com o objetivo de renovar e diversificar as
formas de uso e ocupação do solo buscando reequilibrar a oferta de moradias e
empregos. É interessante observar que esta área corresponde em grande parte às
planícies fluviais dos rios da cidade, o que demostra o enorme potencial das hidrovias
na estruturação desses novos bairros em direção à um ambiente com maior qualidade
ambiental urbana.

91
Universidade Católica de Pernambuco

Ao longo do rio Tamanduateí, entre a foz do córrego Anhangabaú e a foz do rio


Meninos, está definida no plano diretor a área da Operação Urbana Consorciada Bairros
do Tamanduateí (OUCBT), que corresponde em grande parte à planície fluvial do rio
Tamanduateí. Nesta região foi instalado desde meados do século XIX o primeiro parque
industrial de São Paulo, servido pela ferrovia Santos-Jundiaí, inaugurada em 1867, que
conectava a região ao Porto de Santos e ao interior do estado. Após a Segunda Guerra,
reduzida a prioridade originalmente atribuída ao transporte ferroviário, a rede de ônibus
ampliou-se possibilitando o acesso da mão-de-obra às novas unidades de produção
implantadas junto às rodovias (NIGRIELLO, 2013). Desta forma, muitas das indústrias
que ali existiam se mudaram para regiões mais periféricas, e atualmente grande parte
dos galpões estão vazios ou são utilizados para fins logísticos.
Aliada à operação urbana, a implantação do Canal Billings-Tamanduateí permite
pensarmos na reconfiguração desta área a partir do desenho dos lagos e canais de
derivação que estruturariam as áreas de várzea. Teríamos, assim, os Bairros Fluviais do
Tamanduateí, com quarteirões de uso misto cujos edifícios estariam voltados para os
lagos e bulevares fluviais. Pela hidrovia seriam transportados prioritariamente os
resíduos sólidos destes novos bairros, e para além destas cargas públicas seria possível
imaginar uma relação direta entre o comércio, indústrias e galpões logísticos com a
hidrovia, para o recebimento e envio de mercadorias e matéria-prima através dos Barcos
Urbanos de Carga, os BUCs. Para tanto, haveria a conexão entre a hidrovia e a
Plataforma Logística Urbana que será instalada no bairro Vila Carioca, e que receberá
cargas gerais para abastecer o varejo da cidade (EMPLASA, 2014). O sistema
hidroviário seria, assim, o eixo para a estruturação do ambiente urbano da metrópole,
onde o transporte fluvial de cargas organiza o desenvolvimento econômico, social e
urbano ao longo dos vales dos rios (DELIJAICOV, 1999).

Conclusão
1. Para que um novo horizonte seja possível para a cidade, fica claro como é
preciso cada vez mais integrarmos escopos na busca de soluções para a
metrópole. Com a retomada da implantação de ferrovias e hidrovias para
transporte de passageiros e de cargas é possível imaginarmos uma consequente
diminuição na circulação de caminhões e automóveis, que possibilitaria novos

92
9º Encontro Internacional das Águas

usos para as áreas atualmente ocupadas por vias expressas. Isso aliado às
operações urbanas planejadas para as planícies pluviais, e à adoção de uma
gestão integrada das águas urbanas, torna possível vislumbrarmos um redesenho
da orla fluvial, com habitações beira-rio, lojas que recebam mercadorias
diretamente de barcos, e parques fluviais intercalados por portos. As águas da
cidade voltariam, assim, a serem aproveitadas em suas múltiplas
potencialidades.

REFERÊNCIAS
DELIJAICOV, Alexandre. Os Rios e o Desenho da Cidade - Proposta de Projeto para
a Orla Fluvial da Grande São Paulo. São Paulo: dissertação de mestrado, FAUUSP,
1999.

EMPLASA. Empresa de Planejamento Metropolitano do Estado de São Paulo. PAM -


Plano de Ação da Macrometrópole Paulista 2013-2040, 4 vols. São Paulo:
EMPLASA, 2014.

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94
9º Encontro Internacional das Águas

OCORRÊNCIA, DETECÇÃO E REMOÇÃO DO ANTIBIÓTICO


CIPROFLOXACINA EM MATRIZES AQUÁTICAS: UMA REVISÃO

Fernando José Malmann Kuffel1, Cassiano Ricardo Brandt2, Henrique Pretto Etgeton3,
Lucélia Hoehne4, Clarice Steffens5

1 Graduando em Engenharia Química pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do CNPq -
Nível A. fernando.kuffel@univates.br.
2 Graduando em Engenharia Química pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do CNPq -
Nível A. cassiano.brandt@univates.br.
3 Graduando em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do CNPq -
Nível A. henrique.etgeton@univates.br
4 Doutora em Química pela UFSM. Professora adjunta pelo Centro Universitário UNIVATES. luceliah@univates.br.
5 Doutora em Biotecnologia pela UFSCAR. Professora pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões.
claristeffens@yahoo.com.br.

RESUMO
Com a crescente preocupação com a qualidade da água, novos contaminantes são descobertos
recorrentemente. Um dos que mais tem chamado a atenção da comunidade científica são os
micropoluentes, compostos de difícil degradação provenientes de resíduos de antibióticos, inseticidas
e hormônios. O aumento gradativo no consumo de antibióticos, como a ciprofloxacina, acaba por
gerar preocupação quanto ao seu possível despejo irregular em matrizes ambientais. Sendo assim, o
objetivo deste trabalho foi realizar um breve levantamento bibliográfico de possíveis meios de
contaminação por este tipo de poluente, além de métodos para sua detecção e posteriores técnicas de
remoção. Encontrou-se diversas pesquisas de contaminação, principalmente em rios e lagos. Também
se definiu como extremamente necessário utilizar o método de preparo de amostra Solid Phase
Extraction (SPE) para a pré-concentração das substâncias em estudo, facilitando assim a posterior
análise pelo método de cromatografia a líquido acoplado à espectrometria de massas (LC/MS). Para a
remoção, os processos oxidativos avançados (POAs) são os mais indicados, com destaque para a
metodologia combinada de luz UV/H2O2.

INTRODUÇÃO
A água é um dos recursos naturais mais utilizado pelas civilizações humanas. Ela é
empregada para diversas finalidades, como para consumo, indústria, agricultura, navegação,
geração de energia, entre outros (BRANCO, 2010). Com o gradativo crescimento da
população mundial e a constante manipulação da água pelas sociedades, a poluição das
matrizes aquáticas mostra-se como uma das maiores preocupações na área dos estudos
ambientais.
Os produtos farmacêuticos são substâncias que apresentam potencial poluidor e, por isso, têm
sido objeto de interesse de muitos pesquisadores, fazendo parte da classe de micropoluentes.
Resíduos de diferentes tipos de fármacos já foram detectados em ambientes naturais,
incluindo antibióticos, analgésicos, anti-inflamatórios, agentes reguladores de lipídios, β-
bloqueadores, anti-epilépticos, contraceptivos, esteróides e outros hormônios. Mesmo em

95
Universidade Católica de Pernambuco

baixíssimas concentrações, estes compostos podem provocar efeitos tóxicos no ecossistema


onde se encontram (HERNANDO et al., 2006).
A atenção com qual é tratado este tópico deve-se ao fato de os compostos em questão serem
desenvolvidos com a intenção de provocar efeitos biológicos no organismo de quem os
consome. Com isso, os produtos farmacêuticos possuem algumas das propriedades
necessárias para bioacumularem-se e provocar resultados inesperados em espécies habitantes
de ecossistemas aquáticos e terrestres (HALLING-SØRENSEN et al., 1998).
Os antibióticos apresentam grande importância neste grupo devido ao seu extenso uso no
tratamento de infecções humanas, na medicina veterinária e na pecuária. O seu impacto
ambiental deve-se ao fato de que entre 30 % e 90 % destes compostos não são metabolizados
pelo organismo e acabam por ser excretados para os sistemas de esgotos ainda em sua forma
ativa. Assim, os antibióticos tornam-se potenciais poluidores de diferentes tipos de corpos
d’água, podendo interferir em vários ciclos da ecologia aquática. A maior preocupação,
porém, é a capacidade de promover resistência bacteriana a este tipo de composto, o que
pode, futuramente, dificultar o tratamento de doenças (WATKINSON; MURBY;
COSTANZO, 2007; XU et al., 2007; COSTANZO; MURBY; BATES, 2005; HIRSCH et al.,
1999).
Estudos indicam que, entre os anos de 2000 e 2010, o consumo global médio de antibióticos
cresceu mais de 30 %, contabilizando um aumento de 50 bilhões de unidades para 70 bilhões.
Entre os medicamentos mais usados, encontram-se as penicilinas e as cefalosporinas,
somando aproximadamente 60 % do total comercializado (VAN BOECKEL et al., 2014). Em
2013, o antibiótico mais receitado pelos médicos nos Estados Unidos foi a azitromicina, com
6,3 milhões de prescrições. O segundo mais recomendado foi a ciprofloxacina, com 5,8
milhões de prescrições (GELBAND et al., 2015).
A ciprofloxacina (CIP) é uma das fluoroquinolonas de amplo espectro, atuando em bactérias
gram-positivas e gram-negativas. Este fármaco é citado como um dos medicamentos
essenciais para um sistema básico de saúde com maior eficiência, segurança e custo-benefício
na WHO Model List of Essential Medicines (CHOI et al., 2017). Este medicamento é
utilizado no tratamento de diversas infecções bacterianas, como no trato urinário, trato
respiratório, febre tifóide, infecções na pele, ossos e juntas, entre outras (MASADEH et al.,
2014).
Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma breve revisão da ocorrência
de ciprofloxacina em ambientes aquáticos. Além disso, serão citadas algumas das principais
formas de detecção do fármaco e possíveis técnicas para a sua remoção.

96
9º Encontro Internacional das Águas

DESENVOLVIMENTO
Ocorrências
Devido ao elevado consumo de antibióticos, há evidências de que tais substâncias podem
estar presentes em matrizes ambientais, principalmente em rios e lagos. Os antibióticos são
absorvidos pelo organismo humano através de reações metabólicas. Entretanto, boa parcela
da substância original pode acabar deixando o organismo através da urina e das fezes sem
nenhum tipo de alteração. (FORTH et al., 1992). Além de estações de tratamento de
efluentes, também é importante monitorar a presença destas substâncias em locais próximos
de onde há despejo de resíduos de fábricas e hospitais com alto manejo de fármacos.
Conforme um levantamento realizado por Rodrigues-Silva et al. (2014), é possível perceber a
ocorrência de ciprofloxacina ao redor do mundo, verificada por diversos autores. China,
França, Espanha e Estados Unidos são alguns dos países onde este fármaco foi detectado em
águas superficiais. Ainda na China, onde há grande preocupação quanto à contaminação do
ambiente por fármacos, devido ao grande número de publicações sobre o assunto,
concentrações de ciprofloxacina também foram detectadas em águas subterrâneas de regiões
pecuárias, para abastecimento público e em efluentes pecuários. Outra fonte onde é
encontrado este antibiótico são os efluentes hospitalares, sendo alguns dos registros na
Austrália e nos Estados Unidos. O número mais alarmante, porém, foi detectado no Vietnã:
de 1.100 a 44.000 ng/L do fármaco.
Sabe-se que a metabolização incompleta dos antibióticos pelos organismos é o que inicia o
processo de contaminação das matrizes aquáticas por esta classe de substâncias. Guerra et al.
(2014) analisaram a presença de 62 produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal, incluindo a
ciprofloxacina, em seis estações de tratamento de efluentes no Canadá. A maior concentração
encontrada nos afluentes das estações, locais onde entram os resíduos domésticos, foi de
2.500 ng/L de CIP (média de 600 ng/L). Após passar pelos tratamentos convencionais, que
não propiciam remoção completa destes compostos, entende-se que estes ainda assim
chegarão aos ambientes aquáticos.
Paíga, Santos e Delerue-Matos (2017) analisaram 33 tipos de antibióticos de aplicação
humana e animal. As matrizes em estudo foram: água de abastecimento, águas superficiais,
efluentes e água do mar. Todas foram coletadas na região de Leiria, em Portugal. Devido à
baixa concentração de antibiótico, utilizou-se a técnica de preparo de amostra Solid Phase
Extraction (SPE), muito empregada com o intuito de pré-concentrar analitos em baixíssimas
quantidades. Isso acaba facilitando a análise por equipamentos de cromatografia líquida

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Universidade Católica de Pernambuco

acoplados a espectrômetros de massas (LC/MS). Os pesquisadores não detectaram a presença


de ciprofloxacina em águas de abastecimento, águas do rio e do mar. Contudo, encontrou-se
concentrações de até 118,9 ng/L em efluentes de estações de tratamento localizadas no centro
da cidade de Leiria.
Ngumba, Gachanja e Tuhkanen (2016) investigaram a ocorrência de ciprofloxacina e outros
medicamentos em 40 pontos da Bacia do rio Nairobi, no Quênia. Utilizando de SPE junto a
um LC/MS, a maior concentração de CIP encontrada nas águas de rio foi de 509 ng/L, e a
média dos locais foi de 129 ng/L. Os pesquisadores encontraram maiores quantidades dos
fármacos em regiões mais populosas, principalmente em assentamentos informais. Em geral,
as concentrações máximas dos rios foram maiores do que as de estações de tratamento de
efluentes. Isto indica que os rios sofrem contaminação dos efluentes domésticos, aumentando
os riscos ambientais e efeitos negativos que aqueles ecossistemas podem vir a sofrer.
Wei et al. (2012) verificaram a presença de CIP em outra possível fonte poluidora. Os autores
investigaram a presença deste e de outros fármacos em efluentes de animais provenientes de
fazendas, além de água de rio e de lagoa. O estudo, realizado em Jiangsu, no leste da China,
revelou uma concentração máxima de 7,49 μg/L de ciprofloxacina em efluentes animais. Nas
águas do rio e de lagoa, foram detectadas 5,93 μg/L e 2,10 μg/L, respectivamente.
Locais onde há intensa fabricação de produtos farmacêuticos e antibióticos também são
suscetíveis a contaminações ambientais por este tipo de resíduo. Fick et al. (2009) realizaram
análises nas águas de lagos, poços e estações de tratamento de efluentes em uma região onde
estão estabelecidos 90 fabricantes de medicamentos, em Hyderabad, na Índia. As análises
foram realizadas por LC/MS. Encontrou-se concentrações alarmantes de ciprofloxacina
nestas áreas: mais de 1 μg/L em alguns poços, 14 mg/L no efluente da estação de tratamento
e 6,5 mg/L nos lagos. Isto expõe a pobre gestão de efluentes industriais existente em muitos
lugares do mundo, que acaba por contaminar constantemente os recursos hídricos.
Futuramente, estas práticas podem acarretar em sérios problemas ambientais e de saúde
pública.

Métodos de detecção
Dados estes fatos, torna-se importante aprimorar métodos analíticos qualitativos e
quantitativos para a detecção destas substâncias em meio aquoso. Considerando as baixas
concentrações de fármacos encontradas no ambiente, métodos utilizando instrumentos
sensíveis e de alta precisão são necessários. Muitos autores têm utilizado equipamentos de
cromatografia a líquido acoplados à espectrometria de massas, obtendo resultados

98
9º Encontro Internacional das Águas

satisfatórios no desenvolvimento de metodologias e atingindo baixos limites de detecção, na


ordem de μg/L e ng/L (PAÍGA et al., 2017; SZERKUS et al., 2017; JINDAL et al., 2015;
WAGIL et al., 2014; GROS et al., 2013). Os espectrômetros podem variar quanto ao detector,
sendo eles: Ion Trap, Triplo quadrupolo (QqQ) ou Time of Flight (TOF).
Apesar da alta sensibilidade dos equipamentos citados, é de grande importância a aplicação
de técnicas de preparo de amostra antes das análises. Uma das metodologias mais utilizadas é
a de Extração em Fase Sólida (EFS), do inglês Solid Phase Extraction (SPE). Esta objetiva a
pré-concentração das amostras através da interação entre uma fase estacionária (sorvente)
com o analito em estudo. Posteriormente, é feita a eluição desta amostra com uma fase móvel
(solvente), que é capaz de interagir com o analito. Tal procedimento é aplicado com o intuito
de facilitar as leituras feitas pelo LC/MS (GURKE et al., 2015; JARDIM, 2010).

Métodos de remoção
O tratamento convencional oferecido pelos centros de tratamento de água de abastecimento
pode não ser eficientes na remoção de determinadas substâncias, por exemplo, os antibióticos
(WOLS; HOFMAN-CARIS, 2012). Por tal motivo, é necessário o uso de tratamentos mais
agressivos para tratar estes compostos. Um dos métodos mais estudados atualmente são os
Processos Oxidativos Avançado (POAs) (WANG; JIANG; LIU, 2008). Estes consistem na
oxidação da matéria alvo, tornando possível a obtenção de grandes taxas de degradação.
Existem diversas metodologias de POAs que podem ser empregadas. Dentre elas, estão os
processos de Fenton, Foto-fenton, fotocatálise, peróxido de hidrogênio com luz ultravioleta
(H2O2/UV), entre outros. Cada um possui sua particularidade, e o processo ideal pode variar
dependendo da aplicação e efeito desejado (COMNINELLIS et al., 2008).
Em um estudo de desempenho sobre a ciprofloxacina, Pereira et al. (2007) encontraram a
maior taxa de absorção de luz UV, e consequente maior degradação, em um comprimento de
onda de 250-290 nm, com um pico em 270 nm. Contudo, a luz UV por si só pode não ser tão
eficiente. A adição de peróxido de hidrogênio (H2O2) pode auxiliar na degradação de
substâncias. O peróxido de hidrogênio fornecerá radicais hidroxila, que irão promover a
oxidação do composto alvo.
Roma, Weller e Wentzell (2011) utilizaram H2O2 5 M em um tempo de irradiação de 30
minutos com uma lâmpada UV de comprimento de onda de 254 nm, alcançando valores de
degradação de CIP de 98,74 % (pH 3,0), 84,35 % (pH 7,0) e 86,61 % (pH 10,0).

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Universidade Católica de Pernambuco

CONCLUSÃO
1. Os micropoluentes e antibióticos, como a ciprofloxacina, vêm recebendo atenção da
comunidade científica nas últimas décadas. Como pode ser visto, já existe a presença
deste fármaco em águas de efluentes e afluentes, havendo a necessidade de
tratamentos eficazes para sua redução ou eliminação. Estudos mais detalhados sobre
seu ciclo na natureza fazem-se necessários para entender seus reais efeitos ao
ambiente e à saúde humana.
2. Dessa forma, podem ser estabelecidos parâmetros de controle e desenvolvimento de
novas legislações para controle. A demanda crescente pela sustentabilidade abre um
amplo campo de estudos também para tratamentos alternativos, que possam não ter
sido citados neste presente trabalho, mas que visem aprimorar procedimentos e
técnicas já existentes.

AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi desenvolvido com o aporte da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), como parte do
projeto aprovado através do Edital n. 01.14.0104.00. Os autores também agradecem ao
Centro Universitário UNIVATES.

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103
Universidade Católica de Pernambuco
1

PRÁTICAS E TECNOLOGIAS PARA O USO E A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA


COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Jhersyka Barros Barreto1, Neuma Gomes de Oliveira2, Vicente Rodolfo Santos Cezar³,
Gustavo David Olmos Gonzalez4
1
Discente do curso de especialização em educação e meio ambiente - IFAL. Bolsista do Projeto Água do IFAL. e-mail:
jhersykab.barretto@gmail.com;
2
Discente do curso de especialização em educação e meio ambiente - IFAL. Bolsista do Projeto Água do IFAL. e-mail:
neumagomes.if@gmail.com;
3
Professor do curso de especialização em educação e meio ambiente- IFAL. e-mail: vrscezar@gmail.com;
4Discente do curso de gestão ambiental- IFAL. e-mail: gustavo239@gmail.com

RESUMO
Diante dos impactos causados pelo crescimento urbano acelerado, é necessário que sejam
incentivadas práticas que possibilitem mitigar os efeitos das atividades antrópicas e os seus
conflitos em ambientes urbanos. A conservação e o uso adequado dos recursos naturais são de
extrema importância para o desenvolvimento ambiental, social e urbano. A metodologia que se
aplica a esse trabalho é a de revisão bibliográfica, além disso, utilizou-se, como método, o
desenvolvimento de ferramentas educacionais para favorecer a aplicação das teorias
pesquisadas. Esse trabalho aborda a experiência teórica e prática voltada para à educação
ambiental em Marechal Deodoro, Alagoas, através do Projeto Água, vinculado ao Instituto
Federal de Alagoas (IFAL). Esse projeto, objetivou a disseminação de conhecimentos teórico-
práticos, sobre o uso e a conservação da água em ambientes escolares e residenciais. Os
resultados e discussões envolvem desde o desenvolvimento e a aplicação de técnicas ambientais
voltadas para a conservação da água até a percepção da comunidade em relação a aplicação
dessas técnicas. Nota-se que Marechal Deodoro é um município carente por projetos e
iniciativas de capacitação e educação ambiental, principalmente, no que diz respeito ao
desenvolvimento de habilidades práticas para o uso adequado e a conservação da água.
Palavras-chave: Tecnologias Ambientais; Conservação da Água; Educação Ambiental.

INTRODUÇÃO
A degradação ambiental causada pelo processo de urbanização, além de prejudicar os
recursos naturais de forma qualitativa e quantitativa, afeta a qualidade de vida das
pessoas, interfere no equilíbrio dos ecossistemas e atinge toda a biodiversidade. A
poluição e escassez da água potável é um dos principais problemas causados pelas ações
antrópricas.
Diante da atual crise ambiental que o mundo tem vivenciado, é necessário que sejam
incentivadas práticas que possibilitem a conservação e o uso adequado dos recursos
naturais. A educação ambiental pode desempenhar um papel importante para a mudança
de hábitos e do estilo de vida das pessoas. Uma vez que pode contribuir para a formação
humana, de forma teórica e prática, e deve ser disseminada constantemente, em todos os

104
9º Encontro Internacional das Águas
2

espaços de convivência, principalmente, naqueles voltados para a educação


(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2007, p.18).
O uso do espaço da escola como forma de criar um ambiente favorável à educação
ambiental é importante. Por isso, segundo Legan (2009, p.13), muitas escolas estão
dando maior ênfase ao aprendizado ativo e ao engajamento prático, estão também
buscando melhorar a qualidade ambiental dos seus espaços, criando o "Habitat na
Escola", que é um laboratório de aprendizagem a céu aberto. Assim, criam-se
possibilidades de que a ciência alcance a comunidade de forma inovadora,
transformando os conteúdos teóricos em experiências e conteúdos práticos
desenvolvidos no próprio ambiente escolar.
É possível, e é preciso, desenvolver projetos de educação ambiental com criatividade
para incentivar novos hábitos e trazer mudanças para o estilo de vida da população
brasileira.
O objetivo geral da educação ambiental é formar cidadãos ativos que
saibam identificar os problemas e participar efetivamente de sua
solução e prevenção. Que ajudem a conservar o nosso patrimônio
comum, natural e cultural; que ajam, organizem-se e lutem por
melhorias que favoreçam a sobrevivência das gerações presentes e
futuras da espécie humana e de todas as espécies do planeta, em um
mundo mais justo, saudável e agradável que o atual (MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE, 2007, p.14).

Esse artigo pretende abordar a experiência de percepção da comunidade de Marechal


Deodoro sobre as técnicas ambientais de uso e conservação da água apresentadas pelo
Projeto Água. Além de discutir a educação ambiental como uma estratégia para a
concepção de novos hábitos, que possibilitem a conservação dos recursos naturais, com
ênfase nos recursos hídricos.

O Projeto Água teve como objetivo geral promover a educação ambiental e a


disseminação de conhecimentos sobre técnicas de uso e conservação da água em
ambientes escolares e residenciais na cidade de Marechal Deodoro, Alagoas. Dentre as
atividades realizadas, está a capacitação da comunidade escolar para a aplicação dessas
técnicas; o desenvolvimento de oficinas teóricas-práticas para a aplicação de algumas
técnicas de conservação dos recursos hídricos, como a criação de sistemas de
aproveitamento de água e de sistema de tratamento de águas cinzas. Além de verificar a

105
Universidade Católica de Pernambuco
3

percepção dos indivíduos sobre a aplicação de técnicas que possibilitam o uso e a


conservação da água em ambientes escolares e residenciais.

MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse trabalho foi à busca por
referências bibliográficas relacionadas à teoria e prática sobre técnicas de conservação
da água e ferramentas de educação ambiental. Além disso, foram realizadas atividades
durante o Projeto Água, com a aplicação de uma metodologia de desenvolvimento do
conhecimento teórico-prático, através de palestras, oficinas, criação de sistemas de
aproveitamento de águas e análise da percepção dos alunos sobre o uso dessas técnicas
ambientais de conservação da água.
Uma das etapas metodológicas desse projeto foi a realização das oficinas e palestras na
Escola Municipal Silvério Jorge e na Escola Municipal Adelina de Carvalho Melo, do
município de Marechal Deodoro – Alagoas. Foram realizadas discussões com o intuito
de identificar a percepção dos alunos sobre as técnicas demonstradas nas oficinas e
palestras, usadas como ferramenta de educação ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As instituições de ensino, de forma geral, podem contribuir para a educação ambiental


da comunidade local onde estão inseridas. O conhecimento não deve ficar restrito às
salas de aula, a educação ambiental precisa ocorrer em todos os ambientes escolares e
ultrapassar os limites da escola. Pois,

(...) é no cotidiano escolar e no contexto da residência, da rua, do


bairro onde mora o aluno que existem muitas possibilidades
interessantes para a Educação Ambiental que podem e devem ser
exploradas no jardim ou no quintal de casa e em torno da escola,
pode-se começar a observar e a estudar a sua rica ou pobre
biodiversidade. Na cozinha os hábitos alimentares, o problema dos
agrotóxicos, o desperdício de uns e a falta de alimentos para outros e
as possibilidades de mudanças. Nas imediações da escola, do bairro ou
da cidade, observar quais das indústrias existentes e atividades
comerciais são fontes de poluição ambiental, analisar as condições dos
rios, córregos e fontes que abastecem a cidade de água; e ainda o
movimento do trânsito, a poluição sonora e visual, a destinação do
lixo, o crescimento da população, a rede de saneamento básico, as
áreas de lazer, atividades culturais praticadas e muitos outros

106
9º Encontro Internacional das Águas
4

indicadores da situação urbana ou rural que determinam a qualidade


de vida da população e sempre que possível, referenciar a legislação
que regula todas essas práticas. Em síntese, o professor deve procurar
capacitar-se para educar ambientalmente em qualquer lugar
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2007, p.19).

O Ministério do Meio Ambiente (2007) destaca a importância de enfatizar o estudo do


ambiente onde vive o aluno, procurando identificar os principais problemas da
comunidade, além das contribuições da ciência e os conhecimentos necessários para a
solução destes problemas.

A educação ambiental, mesmo com ênfase no contexto local, deve possibilitar uma
visão crítica e integrada do mundo, do meio ambiente e das relações sociais. Deve, além
disso, possibilitar que o indivíduo desenvolva potencialidades que lhe permitam
contribuir para a formação de uma sociedade melhor, tanto do ponto de vista ambiental
como social.

Segundo o Ministério de Meio Ambiente (2007), as ações de educação ambiental devem


contribuir para que o indivíduo seja capaz de:

• Conhecer e compreender, de modo integrado e sistêmico, as noções


básicas relacionadas ao meio ambiente.
• Adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os
levem a interações construtivas justas e ambientalmente sustentáveis.
• Observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de
modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar
de modo reativo e propositivo para garantir um meio ambiente
saudável e a boa qualidade de vida.
• Perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações
de causa-efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no
tempo (histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se
criticamente diante das condições ambientais de seu meio.
• Compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de
conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem,
aplicando-os no dia-a-dia.
• Perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural,
adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do
patrimônio natural, étnico e cultural.
• Identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo os
processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação
criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2007, p.22).

107
Universidade Católica de Pernambuco
5

Diante dessa perspectiva, o Projeto Água foi desenvolvido com o objetivo de contribuir
para a educação ambiental de forma teórica e prática, através da transmissão de
conhecimentos e informações para a capacitação de indivíduos que queiram adotar
práticas mais saudáveis em relação ao uso e a conservação dos recursos hídricos.
A primeira oficina realizada contou com a participação de estudantes e professores da
Escola Municipal Silvério Jorge. Nessa oficina, foram discutidos temas ambientais
como a aplicação de técnicas para o uso e conservação da água em ambientes
residenciais e escolares, como reservatório de água da chuva e uso do banheiro seco, por
exemplo.
Os participantes puderam conhecer algumas técnicas, como o armazenamento de águas
da chuva e a criação de peixes (Figura 1); o aproveitamento e tratamento de águas
cinzas por sistemas de baixo custo e fácil aplicação; a compostagem.

Figura 1 - Reservatório de água da chuva e criação de peixes

Além disso, puderam vivenciar de forma prática a concepção de tijolos de terra crua
(adobe), que podem ser utilizados na bioconstrução para fazer o banheiro seco, o forno a
lenha etc. (Figura 2). A percepção dos envolvidos sobre as técnicas ambientais foi
identificada através dos questionamentos e depois no feed back, através da interação
com a terra crua na prática de fabricação do tijolo, da comunicação e participação da
comunidade escolar nas atividades desenvolvidas.

108
9º Encontro Internacional das Águas
6

Figura 2 - Oficina prática de tijolo de terra crua (adobe)

Além dessa oficina, o projeto desenvolveu outras atividades e foram realizadas mais
palestras com a participação de outras escolas. Dentre as atividades realizadas, houve a
bioconstrução de canteiro verde com design (Figura 3) criado durante o projeto para ser
utilizado no aproveitamento de águas em sistema de irrigação de plantas, e para servir
de exemplo nas oficinas sobre conservação da água e bioconstrução.

Figura 3 - Design de bioconstrução para o tratamento de águas cinzas

Esse sistema de aproveitamento de águas cinzas foi construído em uma residência


em Marechal Deodoro (Figura 4).

Figura 4: Bioconstrução de canteiro para o aproveitamento de águas.

109
Universidade Católica de Pernambuco
7

Além desse sistema, foi construído outro que pode ser instalado em residências ou
escolas. Nesse caso, foi preciso criar uma forma com terra revestida por cimento para
depois fazer a estrutura de ferro e cobrir com cimento, utilizando a técnica de
bioconstrução chamada ferrocimento (Figura 5).

Figura 5 - Estrutura de ferrocimento para tratamento de águas cinzas

Após a secagem da estrutura de ferrocimento, foram feitos os acabamentos e a


finalização da parte estrutural dos sistemas que foi criado para ser utilizado em palestra,
realizada em 2016, na Escola Municipal Adelina de Carvalho Melo, onde foi instalado e
permanece em funcionamento. O sistema de aproveitamento de águas cinzas é
composto por cascalho e britas, que ajudam a melhorar a qualidade da água, areia e
vegetação para realizar a evapotranspiração dessas águas (Figura 6).

Figura 6 - Montagem do sistema na Escola Municipal Adelina de Carvalho Melo

110
9º Encontro Internacional das Águas
8

O sistema de aproveitamento de águas cinzas foi instalado no bebedouro da Escola,


onde foi observado que havia um grande desperdício de água, devido a lavagem das
canecas e ao vazamento que havia no próprio bebedouro (Figura 7).

Figura 7 - Sistema de aproveitamento de água instalado no bebedouro da Escola

A comunidade escolar acompanhou a instalação do sistema e depois participou de uma


discussão sobre as problemáticas ambientais relacionadas à água e sobre a importância
do desenvolvimento de técnicas de baixo custo e fácil aplicação, que possam diminuir
os impactos negativos sobre a água, e o meio ambiente, de forma geral (Figura 8).

Figura 8 - Discussão sobre as problemáticas ambientais

111
Universidade Católica de Pernambuco
9

Esse sistema desenvolvido pode ser aproveitado pelos professores para uso didático
como laboratório vivo para as aulas práticas de ciência. Além de ser um sistema que
pode ser instalado em qualquer lugar para o aproveitamento de águas cinzas, por
exemplo. Pretende-se, através da disseminação dessas ideias e práticas de uso e
conservação da água, estimular o desenvolvimento de habilidades sociais, aprendizado
por prática de projeto, a cooperação e criatividade dos estudantes.
A urgência de tornar tais conhecimentos acessíveis à comunidade de Marechal Deodoro
está na necessidade de percepção e apropriação dessas técnicas pela população. Para
que saibam que é possível desenvolver mecanismos que auxiliem na conservação da
água e do meio ambiente de forma simples e com baixo custo. Já que todos sabem a
importância dos recursos naturais para o desenvolvimento local, a preservação da
biodiversidade e o equilíbrio ambiental.

CONCLUSÕES

1. Dentre as percepções, nota-se que a cidade de Marechal Deodoro tem uma


demanda social em relação a necessidade da capacitação da comunidade para o
desenvolvimento de habilidades técnicas voltadas para a prática de projetos
ambientais de fácil aplicação e baixo custo. É um município carente por projetos
e iniciativas de educação ambiental, principalmente, no que diz respeito ao
desenvolvimento de habilidades práticas.
2. Destaca-se aqui a importância da cooperação para o desenvolvimento de
trabalhos em grupo, da criatividade e da proatividade para a aplicação e
desenvolvimento de novas técnicas que possibilitem a conservação da água e
dos recursos naturais.
3. É necessário que seja incentivado o desenvolvimento e a disseminação dessas
técnicas como ferramentas de educação ambiental. Uma vez que a educação
ambiental, quando une o discurso e a prática, com a participação de uma equipe
multidisciplinar, onde cada um tem suas habilidades e potencialidades,
possibilita o aprendizado e o ensino em um intercâmbio constante de
conhecimento.

112
9º Encontro Internacional das Águas
10

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 9.795 de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação


Ambiental, Brasília.

LEGAN, L. Criando habitats na escola sustentável: livro de Educador. Pirenópolis,


GO: Ecocentro IPEC, 2009. 96p.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE: Superintendência do Ibama-PB. Noções


práticas de Educação Ambientalpara professores e outros agentes multiplicadores.
2007. 60p.

113
Universidade Católica de Pernambuco

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO IPOJUCA


NA CIDADE DE CARUARU/PE

Joelithon de Lima Costa1, Thais Tainan Santos da Silva2, Alanna Maria do Nascimento
Bezerra3, Igor Fellipe Batista Vieira4, Miguel Antônio Pires Kelm5, Sávia Gavazza6,
Luiza Feitosa Cordeiro de Souza7
1
Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco, Campus Acadêmico do Agreste, Bolsista CNPq,
Laboratório de Engenharia Ambiental, Caruaru/PE. E-mail: joelithon_eto@hotmail.com
2
Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco, Campus Acadêmico do Agreste, Laboratório de
Engenharia Ambiental, Caruaru/PE. E-mail: thaistainan@hotmail.com
3
Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco, Campus Acadêmico do Agreste, Laboratório de
Engenharia Ambiental, Caruaru/PE. E-mail: alannamaria18@hotmail.com
4
Mestrando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Bolsista CAPES, Engenheiro Ambiental. E-
mail: ig-01@hotmail.com
5
Mestrando em Geotecnia pela Universidade Federal de Pernambuco, Bolsista CAPES, Engenheiro Ambiental. Email:
Miguel.kelm@outlook.com
6
Docente na Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Tecnologia e Geociência, Departamento de Engenharia Civil,
Laboratório de Saneamento Ambiental, Recife/PE.
E-mail: savia@ufpe.br
7
Docente no Centro Universitário Tabosa de Almeida – ASCES, Doutorado em Engenharia Civil, área Tecnologia Ambiental e
Recursos Hídricos, Caruaru/PE. E-mail: luizas@gmail.com

RESUMO
O desequilíbrio ambiental de ecossistemas aquáticos é uma situação enfrentada por diversos rios
do território brasileiro. O Rio Ipojuca, que corta o estado de Pernambuco, é um exemplo desta
deplorável realidade. O objetivo principal deste trabalho é avaliar a qualidade da água do rio
citado no território da cidade de Caruaru/PE para assim avaliar seu nível trófico. Para isso,
determinou-se cinco pontos de coletas que abrangeram áreas rurais e urbanas, incluindo-se
região industrial e também de rodovias movimentadas. Foram realizadas coletas e análises de
DQO, OD, fósforo e nitrogênio amoniacal das amostras das águas do rio nos meses de Julho,
Agosto e Setembro de 2015 e 2016. Com os resultados obtidos observou-se que os cinco pontos
foram classificados como hipereutróficos. Ao longo do rio a poluição aumenta, mas reduz ao se
afastar dos centros urbanos e este comportamento se repete ao longo do tempo, mas o grave
período de estiagem aumentou a poluição em 2016. Concluiu-se que a atual situação do Rio
Ipojuca é altamente poluído, tanto na região interna como na externa ao centro urbano. Todavia,
o rio apresenta capacidade de autodepuração com a melhora na qualidade da água no último
ponto de coleta.
Palavras-chave: Poluição aquática; Águas fluviais; Nível trófico;

INTRODUÇÃO
A água é o elemento indispensável à qualidade da vida humana. Seus vários usos
contribuem para o desenvolvimento populacional o que implica em um incremento dos
vários setores da economia. Todavia, neste aspecto de crescimento, há uma demanda
maior do consumo de água, bem como o consequente comprometimento das águas dos
rios, lagos e reservatórios. Segundo Von Sperling (1996), a interferência do homem de
forma concentrada, seja como despejos domésticos ou industriais, influencia à

114
9º Encontro Internacional das Águas

introdução de compostos na água, afetando sua qualidade. A influência antropogênica


afeta os recursos hídricos pois o consumo humano, em sua maioria, retorna à água aos
mananciais sob a forma de efluentes líquidos e sólidos altamente contaminados,
gerando desequilíbrio ambiental. Deste modo, a qualidade da água é comprometida,
trazendo riscos à saúde humana e dos ecossistemas, impedindo o uso do rio para
recreação e exigindo um tratamento de água mais caro.
Um exemplo de rio que está em estado de desequilíbrio ambiental, o Rio Ipojuca está
localizado é uma região classificada como BSh na escala de classificação de Köppen,
com temperaturas que variam entre 17 °C no inverno e 30 °C no verão e uma
precipitação anual acumulada média de 764 mm (APAC, 2016). Entre as cidades
banhadas pelo Rio Ipojuca, a cidade de Caruaru se destaca por suas dimensões
(aproximadamente 921 km²) e população (aproximadamente 314 mil habitantes). Esta
cidade também se destaca das demais da mesma região pois está inserida no Arranjo
Produtivo Local Têxtil do Agreste de Pernambuco, evidenciando que em seu território
há um grande número de unidades produtivas e lavanderias do setor têxtil (IBGE,
2016). Diante da problemática a qual envolve falhas de manuseio quanto aos usos do
recurso hídrico, torna-se necessário o monitoramento da sua qualidade. Assim, o
presente estudo tem como objetivo avaliar a qualidade da água do Rio Ipojuca durante o
seu curso pela cidade de Caruaru/PE, mensurando o nível de poluição ao longo do rio, a
contribuição da cidade para a situação atual do mesmo e a capacidade de autodepuração
do rio ao longo do percurso e dos anos.

MATERIAL E MÉTODOS
Para a avaliação da qualidade da água do Rio Ipojuca definiu-se 5 pontos de coleta (P1,
P2, P3, P4 e P5) ao longo do curso do rio no município de Caruaru, como está
representado na Figura 1.

115
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 1 - Localização do município de Caruaru/PE e dos pontos de coleta

Fonte: adaptado do SIG Caburé – CPRH e Google Maps (2017).

Esses pontos foram selecionados para avaliar a qualidade da água do rio que entra (P1)
e sai (P5) da cidade de Caruaru, a contribuição de alguns pontos críticos da cidade (P2 –
parque industrial, P3 – rodovia de grande fluxo de carros e transeuntes e P4 – centro
comercial e residencial) e a capacidade de suportar e autodepurar do mesmo. Na Tabela
1 são disponibilizados a localização geográfica dos pontos e uma breve descrição.

Tabela 1 - Descrição dos pontos de coleta


Ponto de Coordenadas
Descrição da Localização
Coleta Geográficas
Á montante da cidade (aproximadamente 10 Long.: -036° 05’ 44.4’’
P1
km da região urbana) Lat.: -08°19’15.0’’
Long.: -036° 00’ 38.4’’
P2 Localizado em área industrial
Lat.: -08° 18’ 09.8’’
Localizado no início de uma área com Long.: -035° 59’ 05.5’’
P3
grande concentração populacional Lat.: -08° 17’ 27.2’’
Localizado no final de uma área com grande Long.: -035° 56’ 22.8’’
P4
concentração populacional Lat.: -08° 16’ 49.2’’
À jusante da cidade (aproximadamente 3,5 Long.: -035° 54’ 24.7’’
P5
km da região urbana) Lat.: -08° 15’ 57.2’’

116
9º Encontro Internacional das Águas

Nesses pontos foram feitas coletas mensais nos meses de Julho, Agosto e Setembro em
2015 e 2016. No ano de 2015 as coletas no ponto P1 foram realizadas normalmente,
porém em 2016, por causa do grande período de estiagem que a região passou, o rio
secou nesse ponto, não havendo condições de realização de coletas ou qualquer tipo de
análise da qualidade da água. Nos demais pontos, apesar de ter sido observado uma
grande diminuição no volume de água, as coletas puderam ser realizadas normalmente.
Os parâmetros de qualidade de água analisados nas amostras da água do Rio Ipojuca
foram: DQO, OD, fósforo (fosfato) e nitrogênio amoniacal (APHA, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através de avaliações de campo pôde-se observar condições rurais em P1 em 2015, com
mata ciliar e sem moradores próximos ao leito (Figura 2a). Em 2016, os aspectos
mudaram, pôde-se observar erosão nas margens causadas por moradores rurais a
procura de água subterrânea (Figura 2b). O ponto P2, apesar de possuir mata ciliar em
suas margens, era rodeado de indústrias e ficava próximo a uma rodovia com grande
fluxo de carros pesados, como caminhões. Além disso, as águas desse ponto eram
cobertas por macrófitas (Figura 2c-2d). O ponto P3 se caracterizava por ser um local
urbano, onde as construções chegavam até muito próximo do leito (Figura 2e-2f),
também podia-se observar encanações despejando efluentes no rio. No ponto P4 havia
uma ponte, de um lado podia-se observar o espelho d’água (Figura 2g), enquanto do
outro lado o rio estava coberto por macrófitas e resíduos sólidos depositados pelos
moradores locais (Figura 2h). Do mesmo modo que no ponto P3, no ponto P4 também
podia ser observado encanações despejando efluentes. O ponto P5 estava inserido numa
região rural, assim observou-se mata ciliar nas suas margens com poucos moradores nas
proximidades. O espelho d’água nesse ponto estava completamente coberto por
macrófitas, havendo apenas uma parte onde podia-se ver a água do rio, pois os
moradores fizeram uma limpeza para conseguir transitar de uma margem para a outra
(Figura 2i-2j).

117
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 2 - Pontos de Coleta


P1 P2 P3 P4 P5

a) c) e) g) i)

b) d) f) h) j)
Fonte: Autoria própria (2017).

Com a análise da água verificou-se alterações significantes entre os pontos de coleta e


entre os anos. Para a análise do nível trófico, isto é, para a análise da situação do rio
quanto a presença de nutrientes e seu favorecimento ao aparecimento de algas, calculou-
se o Índice de Estado Trófico (IET) nos pontos de coleta através da metodologia de
Lamparelli (2014), e para tal utilizou-se a concentração média de fósforo. Os resultados
obtidos estão apresentados na Figura 3a e segundo a metodologia do CETESB (2007)
todos os pontos, em ambos os anos de coletas, foram classificados como
hipereutróficos, sendo esse o mais alto nível de eutrofização. Os resultados obtidos na
análise de fósforo em 2015 foram de 2±1, 4±2, 3±2 e 2±1 mg PO4.L-1 nos pontos P2,
P3, P4 e P5, respectivamente. No ano de 2016, as concentrações de fósforo aumentaram
para 5±1, 12±4, 8.1±0.7 e 5.5±0.3 mg PO4.L-1 nos pontos P2, P3, P4 e P5,
respectivamente, representando um aumento de 150 %, 200 %, 170 % e 175 %,
respectivamente (Figura 3b). A concentração deste elemento foi mais elevada nos
pontos internos da cidade, e diminui significativamente em P5 (saída da cidade).
Outro parâmetro importante é a matéria orgânica, sendo avaliada através da análise de
DQO. Os resultados, apresentados na Figura 3c, apresentaram comportamento
semelhante ao apresentado pela análise de fósforo. Foi observado um aumento
considerável quando comparados os anos de 2015 e 2016 para a maioria dos pontos,
com exceção do ponto P5. As concentrações médias no ano de 2015 foram as seguintes:
P2 186±102, P3 382±147, P4 279±107 e P5 147±100 mg O2.L-1. No ano de 2016 as

118
9º Encontro Internacional das Águas

concentrações médias foram: 526±485, 573±237, 361±79 e 128±7 mg O2.L-1 para os


mesmos pontos, respectivamente. Com exceção de P5, os aumentos foram de cerca de
183 %, 50 % e 29 % para os pontos P2, P3 e P4, respectivamente.
A análise da DQO avaliou a quantidade de oxigênio necessária para que toda a matéria
orgânica presente na fase líquida fosse oxidada, isto é, transformada em uma substância
estável e inerte (APHA, 2012). Logo, a medição direta da quantidade de oxigênio
disponível na água foi realizada. Os valores de oxigênio dissolvido encontrados nos
pontos P2, P3, P4 e P5 em 2015 foram 0.7±0.4, 0.5±0.4, 0.4±0.4 e 0.8±0.7 mg O2.L-1 e
em 2016 foram 2 ± 2, 0.5±0.4, 1±1 e 1±1 mg O2.L-1, respectivamente (Figura 3d). A
concentração deste elemento na água está vinculada ao equilíbrio entre a oxigenação e o
consumo. Os resultados muito baixos encontrados ocorreram pelo fato de que os
processos de oxigenação como fotossíntese ou turbulência estavam prejudicados pelo
assoreamento e eutrofização, confirmado pela análise de fósforo.
Outro elemento importante na eutrofização é o nitrogênio. No entanto, este pode ser
encontrado em diferentes compostos químicos. Cada composto de nitrogênio representa
uma fase do ciclo do nitrogênio e indica o tipo de contaminação. O nitrogênio
amoniacal representa o lançamento de efluentes recentes ou é o resultado da digestão
anaeróbia da matéria orgânica. Os resultados encontrados para esta análise diferem dos
outros parâmetros, pois enquanto os pontos mais extremos (P2 e P5) praticamente não
mudaram de 2015 para 2016, os pontos centrais (P3 e P4) apresentaram um notório
crescimento. Esse comportamento dos resultados está apresentado na Figura 3e. Os
valores médios encontrados em 2015 e 2016, respectivamente foram 4±2 e 2±1 mg N-
NH3.L-1 em P2, 34±15 e 69±8 mg N-NH3.L-1 em P3, 35±9 e 55±8 mg N-NH3.L-1 em P4
e 48±18 e 51±7 mg N-NH3.L-1 em P5.

119
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 3 - Média dos resultados das análises realizadas


110 14
2015 2015
100 2016 2016
12

Concentração de Fósforo (mg PO 4/L)


90
Índice de Estado Trófico (IET)

80 10

70
8
60

50
6
40

30 4

20
2
10

0 0
P2 P3 P4 P5 P2 P3 P4 P5

a) Pontos de Coleta b) Pontos de Coleta

600 1,8

2015 2015

Concentração de Oxigênio Dissolvido (mg O2/L)


2016 1,6 2016
500
1,4

400 1,2
DQO (mg O2/L)

1,0
300
0,8

200 0,6

0,4
100
0,2

0 0,0
P2 P3 P4 P5 P2 P3 P4 P5

c) Pontos de Coleta d) Pontos de Coleta

80
2015
70 2016
Concentração de Nitrogênio Amoniacal

60

50
(mg N-NH3/L)

40

30

20

10

0
P2 P3 P4 P5

e) Pontos de Coleta

Foi notório as diferenças significativas entre os resultados obtidos nos anos de 2015 e
2016 para todos os parâmetros avaliados. O principal motivo foi o grande período de
estiagem. A precipitação acumulada total no período de coleta, julho, agosto e setembro,
do ano de 2015 foi de 107,8 mm, enquanto no mesmo período do ano de 2016 a
precipitação acumulada total foi de 52,9 mm (APAC, 2016). Essa drástica diminuição
na quantidade de chuvas resultou na diminuição do volume e vazão do rio e elevação da
concentração dos esgotos domésticos. Com a redução das chuvas, houve uma redução
do volume da barragem, formando períodos de racionamento de água. Esta não deixou

120
9º Encontro Internacional das Águas

de ser consumida, apenas houve uma redução no volume de redução. Com isso, os
esgotos ficaram mais concentrados e não havia água no rio para promover a diluição dos
efluentes lançados deixando assim as amostras com concentração mais elevada de cada
composto.
Outro comportamento evidenciado nos gráficos de fósforo e DQO foi a elevação
significativa da concentração de todos os elementos analisados entre os pontos de coleta
P2 e P3. Do ponto P3 para o P4 houve um leve decaimento dos valores encontrados e
esse decaimento continua do ponto P4 para o P5. Esse comportamento evidencia que o
rio no ponto P3, por estar inserido numa região de grande densidade demográfica,
provavelmente recebe uma grande descarga de esgoto de origem doméstica não tratado
ou com um tratamento de baixa eficiência, elevando a concentração dos compostos. Os
decaimentos subsequentes evidenciam que apesar da poluição do Rio Ipojuca, ele ainda
consegue, mesmo que parcialmente, se autodepurar.
A avaliação dos resultados obtidos com a avaliação do parâmetro nitrogênio amoniacal
mostrou dois comportamentos diferentes em cada ano. Em ambos os anos, 2015 e 2016,
observou-se um aumento do nitrogênio amoniacal entre os pontos P2 e P3. Este
aumento foi provocado pelo lançamento de esgoto. Em 2015, outro aumento
significativo foi observado, entre os pontos P4 e P5. Neste caso, este fato ocorreu pela
digestão anaeróbia da matéria orgânica lançada pela cidade. Esta afirmação pode ser
confirmada observando os valores de DQO que reduziram entre os pontos P4 e P5 e
pelas baixíssimas concentrações de oxigênio dissolvido, descaracterizando a digestão
aeróbia. Em 2016, não foi observado aumento na concentração de amoniacal tão
expressiva como em 2015, entre os pontos P4 e P5 apesar da redução muito semelhante
da DQO nos mesmos pontos em ambos os anos. Em 2016, as concentrações de oxigênio
dissolvido estavam mais elevadas, em comparação a 2015, desta forma, este oxigênio
pode ter sido utilizado para degradar aerobiamente a matéria orgânica ou pode ter
oxidado a amônia a nitrito ou nitrato.
Após o cálculo do Índice de Estado Trófico (IET) das amostras do Rio Ipojuca,
constatou-se que todos os pontos do rio, em ambos os anos de coleta, foram
classificados como hipereutrófico, havendo um ligeiro aumento no valor do IET do ano
de 2015 para 2016. Essa classificação caracteriza o rio como um corpo de água com
elevada concentração de nutrientes como fósforo e nitrogênio, como foi comprovado

121
Universidade Católica de Pernambuco

com os resultados encontrados. O excesso de nutrientes impulsiona o desenvolvimento


de algas e macrófitas, que cobrem o espelho d’água e impedem a passagem de luz, além
de aumentarem consideravelmente a concentração de matéria orgânica no meio. No
caso do Rio Ipojuca, os elevados resultados de DQO encontrados nos pontos de coleta
mostram a situação problemática de eutrofização do seu ecossistema. Outra
característica de um corpo de água hipereutrofizado são as baixas concentrações de
oxigênio dissolvido. Observou-se que as baixas concentrações de Oxigênio Dissolvido
no Rio Ipojuca é outro grave problema enfrentado pelo mesmo. Essa condição é causada
pela elevada quantidade de matéria orgânica lançada no rio, o que ocasiona uma grande
demanda do oxigênio, e pela falta de processos de aeração provocada pelo assoreamento
e pela eutrofização. Ambos prejudicam o processo de autodepuração. Além disso, o
recobrimento do espelho d’água por algas e macrófitas impede a passagem de luz
dificultando a produção de oxigênio pelos organismos fotossintetizantes que se
encontram no fundo do leito do rio (ESTEVES, 1998).

CONCLUSÕES
1. O nível trófico do ecossistema do Rio Ipojuca na cidade de Caruaru/PE está
muito elevado e, apesar das concentrações, todos os pontos analisados foram
classificados como hipereutrófico.
2. Ao longo do rio, a concentração do fósforo, DQO e amoniacal aumentou,
voltando a reduzir no último ponto (P5). O único parâmetro dentre os três
citados a não reduzir no último ponto foi o nitrogênio amoniacal. Os parâmetros
de oxigênio dissolvido se comportaram diferente, eles reduzem ao longo do
percurso e voltam a aumentar no último ponto.
3. Em 2016, o comportamento ao longo do rio foi a mesma que em 2015, mas as
condições de poluição do rio estavam piores, justificado pelo agravamento no
período de estiagem.
4. Com esta avaliação, verificou-se a existência de capacidade de autodepuração do
rio Ipojuca a partir do momento que se afasta dos centros urbanos. Logo, a
redução do lançamento de resíduos e a preservação das matas ciliares
corroboram para a saúde do rio.

122
9º Encontro Internacional das Águas

REFERÊNCIAS
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Geoambientais de Pernambuco – SIG Caburé. Disponível em: <
http://sigcabure.cprh.pe.gov.br/>. Acesso em: 10 de Novembro de 2016.

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http://www.apac.pe.gov.br/>. Acesso em: 01 de Dezembro de 2016.

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Examination of Water and Wastewater. 22. ed. Washington, 2012.

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ESTEVES, F. A. Fundamentos da Limnologia. Rio de Janeiro: Intercicência. 2. ed.


1998.

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em: 10 de Novembro de 2016.

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< http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 01 de Dezembro de 2016.

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Federal de São Paulo, São Paulo.

VON SPERLING, M. Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias:


Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: UFMG.
2. ed. 1996.

123
Universidade Católica de Pernambuco
1

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA DO RIO GRAMAME EM JOÃO


PESSOA/PARAÍBA: ANÁLISE FISÍCO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA

Rivaildo Miranda de Andrade¹, Daniel Araújo de Macedo¹, Ricardo Peixoto Suassuna


Dutra¹, Liszandra Fernanda Araújo Campos

¹ Programa de pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais Universidade Federal da Paraíba – UFPB, 58051-900, João
Pessoa/PB, Brasil. rivaildomiranda@hotmail.com

RESUMO
A água é um elemento fundamental da natureza que sofre com a escassez causada
especificamente pelo elevado padrão do consumo humano e a grande poluição ambiental de
suas fontes. No atual cenário brasileiro um dos principais problemas hídricos é a poluição dos
rios, que muitas vezes são fontes de abastecimento d’água de vários estados e munícipios. O Rio
Gramame localizado no município de João Pessoa/PB é um grande exemplo quando se fala em
a poluição de rios urbanos. Atualmente é principal fonte de abastecimento de água da região
metropolitana da capital paraibana. Por se localizar em uma região urbana, é uma bacia que tem
sofrido com as ações antrópicas, sendo, portanto, a qualidade da água claramente discutida.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade da água bruta do Rio
Gramame através dos parâmetros físico-químicos de pH, cor, turbidez e quanto a presença de
ferro, manganês e alumínio e de análise microbiológica. A partir dos resultados comparativos
foi possível classificar a água bruta na classe 3, podendo ser aplicada ao abastecimento para
consumo humano após tratamento convencional ou avançado.
Palavras-chave: Rios urbanos; Avaliação físico-química; Avaliação microbiológica.

INTRODUÇÃO

Essencial para a vida em nosso planeta, a água tem se tornado uma preocupação em
todas as partes do mundo. Segundo Grassi (2011, p. 31),

Nosso planeta está inundado d’água, um volume de aproximadamente


1,4 bilhão de km³ cobre cerca de 71% da superfície da terra [...], A
água é, certamente, a espécie química mais abundante na Terra.

Embora abundante, cerca de 97,5 % do volume total de água disponível está presente
nos oceanos e mares na forma de água salgada, sendo, portanto, impropria para o
consumo humano. Mesmo cobrindo mais de 3/4 do planeta, apenas 2,5 % do volume
total é constituída de água doce, que em sua grande maioria está presente nas geleiras e
nas calotas polares. Dentro dos 2,5 % de água doce disponível no mundo cerca de 68,9
% está presente na forma de gelo, restando apenas 31,1 % na forma líquida e, portanto,
acessível ao consumo humano, podendo ser encontradas em rios, lagos, aquíferos,
atmosfera, entre outras fontes. Isto significa que apenas 0,3 % de toda água da Terra

124
9º Encontro Internacional das Águas
2

está acessível e pode ser consumida direto da natureza (GRASSI, 2001; DETONI,
2007).

Um dos principais problemas hídricos no atual cenário brasileiro é a poluição dos rios,
que muitas vezes são fontes de abastecimento d’água de vários estados e munícipios.
Um grande exemplo de poluição hídrica no Brasil é o Rio Gramame. Localizado no
estado da Paraíba, ele tem 54,3 km de extensão e nasce na região Pedras de Fogo,
desaguando na Barra de Gramame (Oceano Atlântico), limite entre os municípios de
João Pessoa e Conde. A sua bacia drena aproximadamente 589 km² e banha seis
municípios paraibanos além da capital João Pessoa, sendo eles: Alhandra, Conde, Cruz
do Espírito Santo, Santa Rita, São Miguel de Taipu e Pedras de Fogo (GARCIA, 2008;
AESA, 2015).

Figura 1 - Representação esquemática da bacia do Rio Gramame

Fonte: Cordeiro (2014).


A bacia do rio Gramame tem importância estratégica, já que é a principal reserva de
água para o abastecimento da Grande João Pessoa, através da barragem de Gramame-
Mamuaba (ponto 7, Figura 1), que detém a capacidade de 56,4 milhões de metros
cúbicos de água (AESA, 2015). Mesmo sendo um dos rios mais importantes para o
estado da Paraíba, por ser responsável pelo abastecimento de água da região
metropolitana de João Pessoa, é objeto de várias denúncias no tocante a poluição tanto
da sua nascente quando no curso do rio.

Merten e Minella (2002) relatam que a qualidade da água destinada a consumo pode ser
afetada por efluentes domésticos sendo caracterizado por contaminantes orgânicos e

125
Universidade Católica de Pernambuco
3

patogênicos, efluentes industriais que pode ser complexa de acordo com sua natureza e
grau de concentração.

Tendo em vista que as águas do Rio Gramame são destinadas ao consumo humano e
para produção agropecuária, elas devem passar por uma classificação baseada na
resolução do CONAMA n.357, de 17 de março de 2005. Nesse contexto, o presente
trabalho tem como objetivo analisar a qualidade da água bruta do Rio Gramame através
dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos, além de desenvolver uma análise
comparativa entre a água bruta e a água de poço artesiano coletada na Universidade
Federal da Paraíba/UFPB.

MATERIAL E MÉTODOS

Coleta da água bruta

A coleta foi realizada no mês de novembro de 2016, obedecendo aos procedimentos


descritos pela Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos (EPA) para
áreas de baixa probabilidade de risco. As amostras foram coletadas a 30 cm da
superfície e armazenadas em recipientes de polietileno lavados e enxaguados
previamente com água corrente. Na Figura 2 é mostrada a localização da coleta e a
estação de tratamento de gramame - ETA Gramame.

126
9º Encontro Internacional das Águas
4

Figura 2 - (A) Ponto de coleta da água bruta e (B) ETA Gramame

A B

Fonte: Google Earth (acesso em 20/11/2016).

Parâmetros analisados

Os parâmetros físico-químicos analisados foram: pH, cor (mg Pt/L), turbidez (NTU) e
através do método colorimétrico foi identificado a presença de ferro, manganês e
alumínio (mg/L). Os ensaios foram realizados na Estação de Tratamento de Água da
Companhia Pernambucana de Saneamento – ETA COMPESA/PE. Foi utilizada a
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (1999) como
metodologia para a realização das análises.

Os parâmetros microbiológicos analisados foram: coliformes totais (NMP/100ml),


coliformes termotolerantes (NMP/100mL), Escherichia coli (NMP/100mL) e bactérias
heterotróficas (UFC/mL). A análise foi realizada no laboratório de tecnologia de
alimentos da Universidade Federal de Paraíba – UFPB utilizando instrução normativa
interna n. 62.26 de agosto de 2013. Os resultados foram analisados de acordo com a
portaria n. 2914 do Ministério da Saúde.

127
Universidade Católica de Pernambuco
5

As descrições e análise crítica dos parâmetros estudados seguiram com base as


recomendações do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) na resolução n.
357 e do Ministério da Saúde segundo a portaria n. 2914.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando o aspecto visual da água bruta do Rio Gramame/PB não foi identificado
materiais flutuantes (incluindo espumas não naturais), óleos, graxas e resíduos sólidos
na região de coleta da amostra.

Aspectos físico-químicos

A Figura 3 apresenta os resultados comparativos de cor (mg Pt/L) para água bruta
coletada no Rio Gramame e a água da torneira da Universidade Federal da Paraíba
(poço artesiano), utilizada nesse trabalho como controle para análise dos parâmetros
físico-químicos e microbiológicos. A água bruta apresentou uma coloração mais escura
(característica de águas de mananciais), sendo sua cor de aproximadamente 51 mg Pt/L.
Para a água da torneira foi constatada cor de aproximadamente 9.6 mg Pt/L. Foi
possível observar uma redução de real de aproximadamente 81 % entre a água bruta e a
água da torneira, redução associada ao tratamento realizado na ETA de Gramame
Mamuaba.

Figura 3 - Gráfico comparativo de cor entre a água bruta e água da torneira

Fonte: Autoria própria (2017).

128
9º Encontro Internacional das Águas
6

Os resultados de turbidez e pH para água bruta e água da torneira podem ser


visualizados na Figura 4. A água bruta apresentou uma aparência turva, sendo a sua
turbidez de 7.1 NTU. A turbidez observada para água tratada da torneira foi de 0.37
NTU, uma redução de aproximadamente 94,8 % em relação a água bruta.

Figura 4 - Gráfico comparativo de turbidez (NTU) e pH entre a água bruta e água da


torneira

Fonte: Autoria própria (2017).

Analisando os resultados de pH, é possível observar que a água bruta do Rio Gramame
apresentou característica neutra com tendência básica (pH = 7,95). Foi verificado uma
redução de aproximadamente 14,4 % no pH entre a água bruta e a água da torneira da
Universidade Federal da Paraíba. Foi constatada a presença de alumínio (0.1 mg/L),
ferro (0.1 mg/L) e manganês (0.03 mg/L) em concentrações mínimas aferidas pelo
método colorimétrico utilizado.

De acordo com a resolução n. 430 do CONAMA a água bruta do Rio Gramame pode
ser classificada como de classe 3 quanto aos aspectos de cor, turbidez e pH. A presença
de alumínio, ferro e manganês não afeta a utilização da água bruta nas aplicações de
água de classe 3.

129
Universidade Católica de Pernambuco
7

Aspectos microbiológicos

Os resultados das análises microbiológicas podem ser observados na Tabela 1. A água


bruta do Rio Gramame apresentou grandes quantidades de coliformes totais e
termotolerantes e bactérias heterotróficas. Não foi constatada a presença de E. Coli na
água analisada. De acordo com portaria n. 2914 do Ministério da Saúde a água bruta
não satisfaz o padrão de qualidade (Tabela 1) para consumo humano, sem tratamento
prévio.

De acordo com a resolução do CONAMA n.357 a água bruta pode ser classificada
como de classe 3, para o uso de recreação de contato secundário, tendo em vista não
ultrapassar o limite de 2500 coliformes termotolerantes por 100 mililitro de água.
Entretanto, não pode ser utilizada para dessedentação de animais criados confinados por
ultrapassar 1000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros.

Tabela 1 - Laudo de análise microbiológica para água bruta do Rio Gramame/PB

ANÁLISES RESULTADOS PADRÃO*

Coliformes Totais (NMP/100mL) 2.4 x 10² Ausência em 100 mL

Coliformes Termotolerantes
2.4 x 10² Ausência em 100 mL
(NMP/100mL)

Escherichia Coli (NMP/100mL) 0,0 Ausência em 100 mL

Bactérias Heterotróficas
3.0 x 105 Max. 5 x 10²/mL
(UFC/mL)
(*) Padrão do Ministério da Saúde para potabilidade – ANVISA – Portaria n. 2914, de
12 de dezembro de 2011.

CONCLUSÃO

1. Quanto ao aspecto visual da água bruta do Rio Gramame/PB não foi identificado
materiais, óleos, graxas e resíduos sólidos na região de coleta da amostra;
2. A água bruta apresentou uma coloração mais escura e aspecto turvo;
3. Foi constatado uma redução de aproximadamente 81 % no padrão de cor entre a
água bruta e a água da torneira;
4. Houve uma redução de aproximadamente 94,8 % na turbidez entre a água bruta
e a água da torneira;

130
9º Encontro Internacional das Águas
8

5. Não houve variação significativa do potencial hidrogeniônico (pH) entre a água


bruta e a água da torneira;
6. Foi constatada a presença de alumínio, ferro e manganês em concentrações
mínimas aferidas pelo método colorimétrico utilizado.
7. A água bruta do Rio Gramame apresentou grandes quantidades de coliformes
totais e termotolerantes e bactérias heterotróficas;
8. Não foi constatada a presença de E. Coli na água analisada;
9. De acordo com a resolução do CONAMA n.357 a água bruta pode ser
classificada como de classe 3;
10. A água bruta pode ser destinada ao abastecimento para consumo humano, após
tratamento convencional ou avançado;
11. Pode ser destinada à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras,
recreação de contato secundário e pesca amadora.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA EXECUTIVA DE GESTÃO DAS ÁGUAS DO ESTADO DA PARAÍBA,


AESA. Comitê Das Bacias Hidrográficas Do Litoral Sul. Disponível em:
http://www.aesa.pb.gov.br/comites/litoral_sul/proposta.pdf. Acesso em: 08/11/2016.

BARBIOTI, E. M; CAMPOS, R.B. Poluição dos rios. Faculdade de Ciências Sociais e


Agrárias de Itapeva. 2012. CORDEIRO, A. T. O que você precisa saber sobre a água
de João Pessoa. João Pessoa, 2014.

CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE. Classificação dos corpos de água


e diretrizes ambientais para o seu enquadramento [...] condições e padrões de
lançamento de efluentes. Resolução n. 357. Maio, 2005.

COMPANHIA MUNICIPAL DE SANEAMENTO, COMUSA. Tratamento de água.


Disponível em: http://www.comusa.rs.gov.br/index.php/saneamento/tratamentoagua.
Acesso em: 08/11/2016.

DETONI, T. L; DONDONI, P. C; PADILHA, E. A. A escassez da água: um olhar


global sobre a sustentabilidade e a consciência acadêmica. In: Anais do Encontro
Nacional de Engenharia de Produção, 27. Outubro, 2007.

131
Universidade Católica de Pernambuco
9

FERREIRA FILHO, Sidney Seckler; MARCHETTO, Margarida. Otimização multi-


objetivo de estações de tratamento de águas de abastecimento: remoção de turbidez,
carbono orgânico total e gosto e odor. Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 715, mar. 2006.

GARCIA, L.G et al. A poluição industrial na bacia do Rio Gramame: Mumbaba e


seus efeitos sobre os ecossistemas e as comunidades de Engenho Velho, Gramame e
Mituaçu. Novembro, 2008.

GRASSI, M. T. As águas do planeta terra. Cadernos Temáticos de Química Nova na


Escola. Maio, 2001.

MOURA, J. A. A crise hídrica no brasil: A água como elemento raro e caro. Revista
científica eletrônica. Julho, 2015.

OLIVEIRA, T. F. Tratamento de água para abastecimento público por sistema de


separação por membrana de ultrafiltração: estudo de caso na ETA Alto da Boa
Vista. São Paulo, SP. 2010.

PEREIRA, R. S. Poluição hídrica: causas e consequências. Revista eletrônica de


recursos hídricos. v.1, n.1. p. 20 – 36. 2004.

POSSAS, M. Distribuição da água na Terra. Fonte hídrica blogspot. Disponível em:


http://fontehidrica.blogspot.com.br/2011/11/distribuicao-da-agua-na-terra.html. Acesso
em: 08/08/2016 as 01:30.

132
1
9º Encontro Internacional das Águas

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO RIO TAQUARI ENTRE 2015 E


2016 PARA ENQUADRAMENTO DE CLASSE CONFORME RESOLUÇÃO
CONAMA Nº 357/2005

Cassiano Ricardo Brandt1, Daniel Kuhn2, Fernando José Malmann Kuffel3,


Henrique Pretto Etgeton4, Rafael Rodrigo Eckhardt5

1 Graduando de Engenharia Química pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do
CNPq - Nível A. cassiano.brandt@univates.br.
2 Químico Industrial pelo Centro Universitário UNIVATES. danielkuhn@univates.br.
3 Graduando de Engenharia Química pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do
CNPq - Nível A. fernando.kuffel@univates.br.
4 Graduando de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do
CNPq - Nível A. henrique.etgeton@univates.br.
5 Mestre em Sensoriamento Remoto pelo CEPSRM-UFRGS. Coordenador do curso de Engenharia Ambiental pelo Centro
Universitário UNIVATES. rafare@univates.br.

RESUMO
A água é uma substância única e essencial para a vida. Apesar de ser abundante na superfície
terrestre, apenas 0,0082 % da mesma é de fácil acesso e potável ao ser humano. Dado este fato,
torna-se importante monitorar e analisar a qualidade da água em rios e lagos. O objetivo deste
trabalho é avaliar a qualidade da água do rio Taquari junto à cidade de Lajeado, no Rio Grande
do Sul, pois esse é um dos principais meios de dessedentação humana e animal e um importante
meio de navegação na região onde ele se encontra. Para tal, foram realizadas coletas mensais em
três diferentes pontos do rio durante um ano. As amostras de água foram submetidas às
seguintes análises físico-químicas: pH, cor, turbidez, oxigênio dissolvido, dureza total, demanda
biológica de oxigênio e análises microbiológicas, seguindo as metodologias citadas no Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater. Como resultado, destaca-se que as
amostras estão de acordo com o estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), podendo assim serem utilizadas para consumo após um tratamento convencional.
Palavras-chave: Água potável; Legislação; Análises de qualidade; Taquari-Antas.

INTRODUÇÃO
A necessidade do uso contínuo da água para consumo e atividades como a agricultura e
pecuária fez com que as populações se estabelecessem em locais que apresentassem
abundantes recursos hídricos, como bacias hidrográficas. Atualmente, os corpos d’água
também podem serem utilizados na indústria e para transporte, favorecendo o
desempenho comercial e interligando diferentes comunidades (OLIVEIRA, 2010).
A Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, localizada no estado do Rio Grande do Sul, possui
características físicas e antrópicas diferenciadas devido à sua magnitude, como áreas de
alto índice de industrialização, áreas com predomínio de produção primária, zonas
intensamente urbanizadas e riscos de ocorrência de enchentes, entre outras. Uma das
regiões mais desenvolvidas do estado gaúcho, o Aglomerado Urbano do Nordeste
encontra-se nesta bacia hidrográfica (FERRI, 2012). A Bacia Hidrográfica Taquari-
Antas está situada na região nordeste do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas
geográficas de 28°10’ a 29°57’ de latitude Sul e 49°56’ a 52°38’ de longitude Oeste.

133
2
Universidade Católica de Pernambuco

Esta bacia abrange as províncias geomorfológicas do Planalto Meridional e Depressão


Central, possuindo uma área de 26.491,82 km² (Figura 1). O rio Taquari tem suas
nascentes na cidade de São José dos Ausentes e desemboca no Rio Jacuí (RIO
GRANDE DO SUL, 2015).

Figura 1 - Mapa Hidrológico da Bacia Taquari-Antas

Os municípios integrantes desta bacia concentram 20 % do Produto Interno Bruto (PIB)


estadual, caracterizando-se por possuírem a base econômica voltada para um setor
industrial em crescimento. Além disso, cerca de 16 % da população do estado habitam
nesta localidade, que também conta com elevado grau de urbanização e uma densidade
demográfica de 40 hab/km2. A área ocupada por uma variedade de cultivos agrícolas é
maior do que um milhão de hectares, gerando problemas relativos à utilização de
agrotóxicos e adubos químicos, aos processos erosivos e ao assoreamento. Quanto às
características hidrológicas, a região apresenta regimes torrenciais, escoamentos
superficiais rápidos e bruscas variações de descargas. Isto se deve aos seguintes fatores:
declividade média elevada, rede de drenagem densa com tendência radial, pouca
cobertura vegetal, pouca profundidade e baixa permeabilidade dos solos (OLIVEIRA,
2010).
Em relação aos usos da água da Bacia Taquari-Antas, destacam-se o abastecimento
público e industrial, a irrigação, a dessedentação de animais, a navegação comercial, a
recreação, a pesca comercial e a geração de energia elétrica. Os principais usos

134
3
9º Encontro Internacional das Águas

consuntivos são, por ordem de importância: irrigação (concentrada no primeiro


trimestre do ano), abastecimento público doméstico (a partir de águas superficiais e
subterrâneas) e dessedentação animal. Os rios e arroios da bacia servem como corpos
receptores e vias de transporte de efluentes das mais variadas origens. Dentre estes,
incluem-se os despejos domésticos (sem tratamento, na maioria dos casos), os despejos
industriais, as águas pluviais de drenagem urbana, as lixívias de depósitos de resíduos
sólidos e as águas de drenagem rural, incluindo lavouras, plantios diversos e criação de
animais (RIO GRANDE DO SUL, 2016). Considerando o variado e extenso uso dos
recursos hídricos da região, a realização de análises físico-químicas e microbiológicas
mostra-se de grande importância para caracterizar a qualidade da água, mostrando suas
propriedades e avaliando o seu grau de pureza. (LIBÂNIO, 2008; RICHTER; NETTO,
2007).
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) dispõe na Resolução n.
357, de 17 de março de 2005, a legislação pertinente à classificação dos corpos de água
e diretrizes ambientais para o seu enquadramento e as condições e padrões de
lançamento de efluentes. A resolução utiliza parâmetros como óleos e graxas, demanda
biológica de oxigênio (DBO), oxigênio dissolvido (OD), turbidez, cor, pH,
desenvolvimento de cianobactérias, clorofila a, sólidos dissolvidos totais e parâmetros
orgânicos e inorgânicos listados com seus valores máximos permitidos, enquadrando os
mananciais em classes, conforme os valores fixados. A Resolução CONAMA n.
357/2005 classifica as águas superficiais em cinco classes, sendo elas: especial, I, II, III
e IV. As águas classificadas entre as quatro primeiras podem ser destinadas ao consumo
humano após tratamento adequado, à pesca, agricultura, recreação, irrigação,
dessedentação animal, preservação dos ambientes aquáticos e manutenção do equilíbrio
natural das comunidades aquáticas. Já os ambientes cujas águas são classificadas como
de classe IV tem sua utilização restrita à harmonia paisagística e à navegação.
Ciente das preocupações ambientais e legislativas citadas, o objetivo do presente estudo
foi avaliar a qualidade da água de um trecho do rio Taquari, na cidade de Lajeado/RS, e
verificar seu enquadramento de classe de acordo com os parâmetros descritos na
Resolução CONAMA n. 357/2005. Para tal, realizou-se análises físico-químicas, como
demanda biológica de oxigênio, pH, dureza total, cor, oxigênio dissolvido e turbidez,
bem como análises microbiológicas (coliformes termotolerantes).

135
4
Universidade Católica de Pernambuco

MATERIAL E MÉTODOS
As coletas foram realizadas mensalmente entre o período de junho de 2015 até abril de
2016, em 3 pontos previamente elencados no rio Taquari, na cidade de Lajeado. Os
pontos de coleta foram denominados P1, P2 e P3. P1 é o ponto de coleta junto ao
sistema de captação de água para tratamento; P2 localiza-se no centro do rio; e P3 situa-
se junto ao Arroio Saraquá, afluente do rio Taquari. Este localiza-se em zona urbana e
recebe efluentes industriais e domésticos, sendo assim um manancial com potencial
poluidor. As coordenadas geográficas dos pontos de coleta são: P1: 29º 27’53.63”S,
51°56’53.14”O; P2: 29º 28’02.84”S, 51º 56’56.65”O; P3: 29º 28’20.73”S, 51º
58’13.56”O (Figura 2).
Figura 2 - Pontos de coleta no Rio Taquari, em Lajeado/RS

Fonte: Google Earth (2017).

Realizou-se coletas superficiais e nas profundidades de 2 metros e 4 metros, com


auxílio de uma garrafa de Van Dorn de acrílico horizontal. As amostras foram
armazenadas em frascos âmbar e as análises físico-químicas foram realizadas logo após
as coletas. Para as análises microbiológicas, frascos schott devidamente esterilizados
foram utilizados.

136
5
9º Encontro Internacional das Águas

Análises físico-químicas
Para caracterização físico-química, realizou-se análises de cor, pH, turbidez, oxigênio
dissolvido, demanda biológica de oxigênio e dureza total. Para análise de cor, utilizou-
se um colorímetro da marca Digimed, modelo DM-COR. Para análise de pH, foi
utilizado um pHmetro da marca Metrohm, modelo 827 pH lab. Para turbidez, utilizou-se
turbidímetro da marca Digimed, modelo DM-TU. Para analisar oxigênio dissolvido,
utilizou-se oxímetro da marca Digimed, modelo DM-4P. E para análise de DBO, foi
utilizado um equipamento de modelo Oxitop IS6WTW. A análise de dureza total seguiu
o método complexométrico do ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA), descrito no
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (2012).

Análises microbiológicas

As análises de coliformes termotolerantes foram realizadas seguindo metodologia


descrita no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (2012),
onde verificou-se o Número Mais Provável (NMP) de acordo com a tabela
correspondente no Bacteriological Analytical Manual (BAM), de 2001. Expressou-se o
valor obtido em NMP/100 mL.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Resolução n. 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente,


“dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de
efluentes, e dá outras providências”.(BRASIL, 2005). Os padrões de qualidade das
águas determinados nesta resolução estabelecem limites individuais para cada
substância em cada classe. Esta resolução classifica as águas doces para consumo
humano em 5 classes distintas de acordo com diversos padrões analisados, tais como
cor, turbidez, DBO, OD e pH. Os valores determinantes para a classificação das águas
encontram-se na Tabela 1.

137
6
Universidade Católica de Pernambuco

Tabela 1 - Classificação de águas doces para abastecimento populacional

Unidade CLASSE I CLASSE II CLASSE III CLASSE IV

Cor Verdadeira mg Pt-Co/L Natural ≤75 ≤75 Não definido

Turbidez UNT ≤40 ≤100 ≤100 Não definido

Coliformes NMP/100
≤200 ≤1000 ≤4000 Não definido
Termotolerantes mL

DBO mg/L ≤3 ≤5 ≤10 Não definido

OD mg/L ≥6 ≥5 ≥4 >2

pH - Entre 6 e 9 Não definido entre 6 e 9 entre 6 e 9

Fonte: Brasil (2005).

Os resultados obtidos após as análises estão apresentados no Figura 3.

Figura 3 - Resultados físico-químicos e microbiológicos dos parâmetros analisados em


relação aos padrões estipulados pela resolução n. 357/2005 do CONAMA.

Fonte: Autoria própria (2017).

138
7
9º Encontro Internacional das Águas

Com base na legislação vigente, através da análise dos resultados obtidos, pode-se
caracterizar as águas do ponto de coleta P1, que corresponde ao local onde é realizada a
captação da água para abastecimento do município de Lajeado, como de classe I para os
parâmetros de pH, oxigênio dissolvido, demanda biológica de oxigênio e coliformes
termotolerantes; e como classe II para os parâmetros de cor verdadeira e turbidez.

O ponto de coleta P2, que corresponde ao ponto central do rio Taquari, pode ser
caracterizado como de classe I para os parâmetros de pH, OD, DBO e coliformes
termotolerantes; e como classe II para os parâmetros de cor verdadeira e turbidez.
Já as águas do ponto de coleta P3, que corresponde ao ponto em que as águas do Arroio
Saraquá encontram as águas do rio Taquari, podem ser classificadas como de classe I
para os parâmetros de pH e OD; como de classe II para os parâmetros de coliformes
termotolerantes, cor verdadeira e turbidez; e como de classe III para DBO.
Os testes de pH em todos os pontos de coletas e durante todos os meses de estudo não
tiveram variação considerável, oscilando entre uma faixa de 6,9 e 7,5, o que mantém as
águas do Taquari como classe I neste quesito. Os dados de cor e turbidez mantiveram-se
próximos durante grande parte do ano de 2015, mas percebe-se uma taxa de elevação
significativa nos meses de agosto até outubro, onde os valores atingidos foram os mais
altos do ano. Destaca-se a cor no mês de outubro 2015, que passou de 77 mg Pt-Co/L.
Para o parâmetro de dureza total, os três pontos podem ser considerados como água
mole. De acordo com Von Sperling (2005), águas moles apresentam dureza não
superior a 50 mg CaCO3/L. Este autor ainda argumenta que em determinadas
concentrações, a dureza pode causar sabor desagradável e efeitos laxativos.
Pode-se observar também que no mês de outubro de 2015 houve uma diminuição
considerável no número de coliformes termotolerantes em relação aos outros meses de
estudo, e um aumento nas análises de oxigênio dissolvido no mês seguinte.
Provavelmente, isso ocorreu devido aos elevados níveis de precipitação pluviométrica
que ocorreram neste período do ano na região. Tais precipitações causaram cheias e,
consequentemente, aumentaram as correntezas no rio. Com isso, a oxigenação do rio
aumenta, o que explicaria tais valores de OD.
O aumento do índice de chuva, cheias e inundações faz com que muitos dejetos e
matéria orgânica sejam arrastados e incorporados ao rio. A elevação dos resultados de
cor obtidos pode ser explicada por um aumento de matéria orgânica presente na água. Já
a diminuição no número de coliformes se deve ao fato do aumento de volume de água,

139
8
Universidade Católica de Pernambuco

que acaba por diluí-los. Segundo Cotta (2006), há a possibilidade do aumento dos
padrões físico-químicos devido a condições climáticas, tais como as chuvas, que trazem
sedimentos e matéria orgânica para os leitos dos rios.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM), em um
acompanhamento trimestral de coleta de amostras desde o ano 1993, relata uma
qualidade de água regular, utilizando o Índice de Qualidade da Água (IQA) adotado
pela National Sanitation Foundation (NSF), avaliando um ponto de coleta a jusante dos
municípios de Estrela e Lajeado. Quanto ao parâmetro de OD, o rio Taquari apresenta
boas condições de oxigenação, com predominância de classe I; para demanda biológica
de oxigênio, o mesmo é classificado predominantemente também como classe I, exceto
em anos de forte estiagem. As condições de oxigenação observadas favorecem a
depuração da matéria orgânica. O rio Taquari, porém, contando com pouca declividade
e poucas corredeiras, apresenta uma baixa velocidade de suas águas e um leito arenoso,
o que reduz sua capacidade de autodepuração (RIO GRANDE DO SUL, 2016).
Izarias et al. (2014) verificaram a qualidade das águas do rio Taquari em áreas urbanas
nas cidades de Estrela e Lajeado, e concluíram que este apresenta boa qualidade de água
conforme qualificação da Resolução CONAMA n. 357/2005.

CONCLUSÃO

1. Ao fim do trabalho, pode-se concluir que, através dos resultados obtidos para os
parâmetros analisados, o trecho do rio Taquari estudado está próprio para
consumo após passar por tratamento adequado e está em conformidade com a
Resolução CONAMA n. 357, de 17 de março de 2005.
2. Também é importante destacar que, mesmo havendo oscilações de chuvas e
cheias durante os períodos de análise, os resultados verificados nas análises
físico-químicas não se alteram a ponto de descaracterizar o rio para o propósito
de abastecimento público.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi desenvolvido com o aporte da Financiadora de Estudos e Projetos


(FINEP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), como parte do projeto aprovado através do Edital n. 01.14.0104.00. Os autores

140
9
9º Encontro Internacional das Águas

também agradecem ao Centro Universitário UNIVATES e à Brigada Militar – 2º Grupo


de Polícia Ambiental de Estrela.

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2003.

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10
Universidade Católica de Pernambuco

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142
9º Encontro Internacional das Águas

DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA DE SOLID PHASE EXTRACTION


(SPE) PARA ANÁLISE DE PENICILINA G EM ÁGUAS SUPERFICIAIS

Henrique Pretto Etgeton1, Daniel Kuhn2, Cassiano Ricardo Brandt3, Fernando José
Malmann Kuffel4, Maria Cristina Dallazen5

1 Graduando em Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do
CNPq - Nível A. enrique.etgeton@univates.br.
2 Químico Industrial pelo Centro Universitário UNIVATES. danielkuhn@univates.br.
3 Graduando em Engenharia Química pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do
CNPq - Nível A. cassiano.brandt@univates.br.
4 Graduando em Engenharia Química pelo Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do
CNPq - Nível A. fernando.kuffel@univates.br.
5 Química Industrial pelo Centro Universitário UNIVATES. crisdallazen@yahoo.com.br.

RESUMO
A contaminação de recursos hídricos com substâncias mais complexas e resistentes aos
tratamentos convencionais de águas de abastecimento é um dos assuntos em foco na
comunidade científica. Dentro da classe dos micropoluentes, a Penicilina G é um dos
antibióticos mais utilizados devido ao seu amplo espectro de atuação e preço acessível. Através
da técnica de Extração em Fase Sólida (EFS) ou Solid Phase Extraction (SPE), o trabalho tem o
objetivo de pré-concentrar uma amostra do fármaco em faixas de μg/L e ng/L, facilitando assim
a detecção e quantificação através de equipamentos sensíveis, como um cromatógrafo a líquido
acoplado a um espectrômetro de massas (LC/MS). Para isso, cartuchos do modelo Strata™-X
foram utilizados. A partir de 25 mL de amostra com 30 μg/L do fármaco, usando diferentes
condições de pH e solventes, foi possível alcançar uma recuperação de até 75,7 %. Obteve-se a
melhor condição de recuperação de Penicilina G em pH 6,0 utilizando metanol como solvente.
Pôde-se concluir que foi possível pré-concentrar o analito. Posteriormente, testes serão
realizados para detecção do fármaco em amostras reais de água.
Palavras-chave: Extração em fase sólida; Penicilina G; Águas superficiais.

INTRODUÇÃO

A relação das civilizações com o ambiente terrestre é um dos aspectos mais presentes na
história da humanidade. O elevado crescimento da população mundial, como nunca
antes visto, demanda da indústria e do mercado um enorme volume de produtos para
satisfazer as necessidades básicas dos cidadãos de todo o planeta. Entre estas, o
tratamento clínico de diversos tipos de patologias mostra-se como um dos maiores
desafios para as comunidades médica e científica (BROOKS; HUGGETT, 2012;
KOLPIN et al., 2002).

O uso de fármacos em larga escala para a remediação de doenças que afetam os seres
humanos e os animais tem sido um importante fator para a poluição dos corpos d’água
de todo o mundo. Quando consumidos, estes compostos não são totalmente absorvidos
pelo organismo. Com isso, boa parte destas substâncias é excretada pelo corpo humano

143
Universidade Católica de Pernambuco

sem sofrer alterações, chegando à esgotos e efluentes em sua forma ativa, o que acaba
por contaminar rios e lagos (ROSSMANN et al., 2014).

Os antibióticos e os fármacos em geral fazem parte de uma nova classe de


contaminantes emergentes presentes nos corpos hídricos que têm chamado a atenção
dos pesquisadores: os micropoluentes. Além dos já citados, estão entre eles inseticidas,
hormônios e demais desreguladores endócrinos (LIU et al., 2014; PAL et al., 2010;
BARCELÓ; PETROVIC, 2008).

A Penicilina G (PEN G), descoberta em 1928, foi o primeiro antibiótico a ser usado
para tratar doenças bacterianas. Ela é amplamente utilizada pela população mundial
devido à sua baixa toxicidade e custo. Suas maiores aplicações são via intravenosa e
intramuscular para o combate de bactérias gram-positivas e gram-negativas (CANZANI
et al., 2017; LI et al., 2008; YOCUM; RASMUSSEN; STROMINGER, 1980).

Os antibióticos beta lactâmicos, dentre eles a Penicilina G, caracterizam-se por


possuírem um anel beta lactâmico em sua molécula. A fusão deste com o anel
tiazolidina pode explicar sua atividade antibacteriana. Esta característica deve-se à
propriedade deste fármaco de ligar-se às enzimas que produzem as proteínas da parede
celular bacteriana, inibindo sua síntese e reprodução. A molécula de penicilina, porém, é
muito instável e suscetível a degradação em diversas condições. Em contato com ácidos,
bases, luz ultravioleta (UV), nucleófilos, calor e algumas enzimas, o anel beta lactâmico
pode sofrer uma abertura hidrolítica, gerando diversos metabólitos. Acredita-se que
traços destes compostos possam ocasionar reações alérgicas que ameacem as vidas de
inúmeros indivíduos, além de produzir bactérias resistentes à penicilina (CANZANI et
al., 2017; LIU et al., 2011; LI et al., 2008; DESHPANDE; BAHETI; CHATTERJEE,
2004).

Em decorrência destas preocupações ambientais e de saúde, é de suma importância a


busca por maneiras de minimizar os impactos causados pelas substâncias já citadas.
Entretanto, esta área de pesquisa é relativamente recente e suas diversas facetas
apresentam considerável complexidade. Por causa disto, as legislações ambientais atuais
não estabelecem padrões de presença de fármacos ou antibióticos em ambientes
aquáticos e efluentes. No Brasil, a potabilidade da água para consumo humano pode ser
avaliada por meio dos valores limites para diferentes propriedades impostos na Portaria
n. 2.914 do Ministério da Saúde, de 12 de dezembro de 2011. Em seu escopo, porém,
esta insere apenas alguns dos contaminantes emergentes. Sendo assim, os demais

144
9º Encontro Internacional das Águas

micropoluentes não são monitorados.

Para detectar e quantificar tais compostos em corpos d’água e diretrizes ambientais,


torna-se necessário desenvolver métodos analíticos de alta seletividade e sensitividade.
Alguns dos equipamentos mais utilizados para este tipo de procedimento são os
cromatógrafos a líquido acoplados a espectrômetros de massas (LC/MS). Apesar destas
ferramentas serem extremamente sensíveis, elas não são capazes de detectar as
baixíssimas concentrações de micropoluentes presentes na natureza (TLILI et al., 2016).

Dados estes fatos, torna-se importante aprimorar técnicas de preparo de amostra que
possibilitem o manuseio e o estudo de substâncias em concentrações de μg/L e ng/L.
Um dos métodos mais utilizados para pré-concentração de amostra é a técnica de
Extração em Fase Sólida (EFS) ou Solid Phase Extraction (SPE) (GURKE et al., 2015).

Introduzida inicialmente em 1976 como complemento para a extração líquido-líquido, a


técnica de Extração em Fase Sólida tornou-se nos últimos anos um dos métodos mais
utilizados para o preparo de amostras em diversas áreas, como ambiental, farmacêutica,
clínica e alimentícia. O mecanismo de funcionamento da técnica é semelhante àqueles
empregados em cromatografia líquida em coluna. Basicamente, os analitos de interesse
são particionados entre uma fase sólida (sorvente) e uma fase líquida (solvente). As
vantagens oferecidas pelo uso de SPE são a concentração, a limpeza de interferentes da
matriz e o isolamento dos analitos. Além disso, é possível obter altas porcentagens de
recuperação (JARDIM, 2010; FONTANALS; MARCÉ; BORRULL, 2005; POOLE,
2003).

Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver uma metodologia para a
pré-concentração de Penicilina G por Extração em Fase Sólida, testando diferentes
condições iniciais de pH e solventes de eluição. Posteriormente, análises por LC/MS
poderão informar as taxas de recuperação do fármaco para cada condição performada.
Estes testes serão necessários para posteriores análises deste fármaco em amostras reais
de águas de abastecimento.

MATERIAL E MÉTODOS

Para os testes, utilizou-se um padrão de Penicilina G Benzatina da marca Sigma


Aldrich®, com >99 % de pureza. Preparou-se um padrão de Penicilina G de
concentração 500 mg/L dissolvido em acetonitrila/água (50/50, v/v), conforme descrito
por Gros et al. (2013), e armazenado em freezer a -18 °C. A partir do padrão inicial,

145
Universidade Católica de Pernambuco

foram preparadas amostras de 30 μg/L de Penicilina G para a realização do


experimento.

Os cartuchos utilizados são do modelo Strata™-X 33 μm (500 mg/6 mL) de fase reversa
polimérica, da marca Phenomenex. Para o procedimento, utilizou-se um manifold de 12
posições acoplado a uma bomba de vácuo.

O equipamento utilizado para análise foi um cromatógrafo a líquido da marca


Shimadzu® acoplado a um espectrômetro de massas Amazon Speed ETD, com
analisador Ion Trap, da marca Bruker Daltonics®.

O procedimento de extração em fase sólida consiste em etapas que devem ser seguidas
para atingir um bom desempenho. As etapas são: condicionamento do cartucho,
aplicação da amostra, lavagem e, por último, a eluição dos analitos.

Seguindo os passos básicos de um processo de SPE, foi realizado o condicionamento


dos cartuchos com metanol para permitir a interação da fase estacionária com o analito.
No cartucho acoplado ao manifold, adicionou-se 6 mL de metanol, seguidos por 6 mL
de água ultrapura, com uma vazão de aproximadamente 6 mL/min, conforme
recomendado pelo fabricante.

Posteriormente, aplicou-se 25 mL de amostra. Adicionou-se então 6 mL de água para


fazer a limpeza das impurezas. Por fim, 6 mL do solvente determinado foram
adicionados para remover o analito retido no cartucho. Os extratos finais foram
coletados em tubos de ensaio.

Os testes realizados visaram analisar a recuperação do fármaco frente a diferentes


valores de pH iniciais, seguindo as condições apresentadas na Tabela 1. As amostras
foram preparadas com água ultrapura (Milli Q) e para ajuste de pH utilizou-se ácido
fórmico (CH2O2) 1M e hidróxido de sódio (NaOH) 0,1M. Após a aplicação das
amostras pelos cartuchos, as mesmas foram eluídas com metanol (CH3OH) ou metanol
acidificado com 2% de ácido fórmico, conforme recomendações do fabricante.

146
9º Encontro Internacional das Águas

Tabela 1 - Condições iniciais de pH e de eluição

1 2 3 4 5

pH inicial 2,5 2,5 4,0 4,0 6,0

Solvente Metanol Metanol


Metanol Metanol Metanol
eluição acidificado acidificado

Após a concentração, o metanol e o analito extraído contidos nos tubos de ensaio foram
secos sob fluxo constante de gás nitrogênio (N2), e, posteriormente, reconstituídos com
5 mL de água Milli Q de mesmo pH utilizado inicialmente. Esta etapa é realizada
devido ao fato da curva de calibração do LC/MS ter sido preparada em água, em
concentrações de 5 μg/L até 300 μg/L. Logo, a amostra deve estar nas mesmas
condições utilizadas no desenvolvimento da metodologia. Essa etapa deve ser
observada, pois o pH do meio pode interferir na ionização das moléculas no
procedimento instrumental.

As amostras foram então transferidas para frascos vials e inseridas no equipamento


LC/MS para realização da análise. Todas as etapas da metodologia foram realizadas em
triplicata, bem como a leitura no equipamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a otimização do método de SPE para Penicilina G, pôde-se observar que o pH do


meio exerce grande influência no resultado final. Tal fato pode estar associado à
instabilidade da molécula de penicilina, que se degrada em diferentes condições, como
em meio ácido. Gros et al. (2013) recomenda acidificar a amostra imediatamente antes
da extração, para evitar perdas referentes à degradação, mesmo que o protocolo
recomendado para análise de penicilinas seja o pH neutro. No mesmo trabalho, foram
obtidas boas recuperações ajustando o pH da amostra a condições mais ácidas.

Após a análise dos dados obtidos no LC/MS, esperava-se encontrar uma concentração
aproximadamente 5 vezes maior do que a original (30 μg/L), uma vez que as amostras
foram preparadas em 25 mL e reconstituídas com 5 mL de água. Pôde-se verificar que a
concentração de Penicilina G alcançou valores de cerca de 3,8 vezes do número inicial.

147
Universidade Católica de Pernambuco

Se encontrada em amostras ambientais reais, é muito provável que a Penicilina G esteja


em concentrações na ordem de μg/L e ng/L. Por isso, a técnica de SPE facilitaria a
detecção do equipamento para amostras com baixas concentrações deste composto,
como em ambientes de águas superficiais.

Verificou-se também que o pH é um fator crucial na análise deste fármaco. Com pH


ácido (2,5), o equipamento aponta uma presença muito pequena do antibiótico ao
realizar a leitura. No Gráfico 1, estão expostos os resultados de recuperação obtidos
para cada condição testada.

Gráfico 1 - Recuperação (%) de PEN G obtida para as diferentes condições de SPE

Fonte: Autoria própria (2017).

Nas demais faixas de pH (4,0 e 6,0), o composto pôde ser analisado. Contudo, as
maiores taxas de recuperação foram obtidas com um pH mais próximo do neutro,
atingindo uma recuperação de aproximadamente 75,7 %. Em pH 4,0, a recuperação foi
de aproximadamente 65,8 %. Os resultados encontrados para a recuperação do fármaco
são superiores aos citados na literatura. Gros et al. (2013) obteviveram recuperações de
50 %. Apesar de o autor utilizar um cartucho de SPE diferente, as características do

148
9º Encontro Internacional das Águas

procedimento são muito similares àquelas empregadas no presente estudo.

Outro fator que se deve ressaltar é quanto ao efeito do metanol acidificado. A presença
do solvente acidificado diminuiu significativamente a taxa de recuperação da Penicilina
G. Ainda que a amostra de pH 2,5 tenha apresentado uma baixa recuperação na primeira
condição testada, a adição deste metanol reduz ainda mais essa taxa. A amostra em pH
4,0 eluída apenas com metanol obteve uma recuperação considerável. Porém,
novamente na presença do metanol acidificado, a amostra seguinte teve sua recuperação
reduzida em cerca de 50 %.

CONCLUSÃO

1. Pode-se concluir que a melhor metodologia utilizando o cartucho de fase


polimérica para a pré-concentração de Penicilina-G foi em pH 6,0, usando
metanol sem acidificação para eluição. Futuramente, esta condição poderá ser
aperfeiçoada para analisar amostras de águas superficiais.
2. A técnica de SPE é eficaz para a pré-concentração e limpeza de amostras
complexas, sendo amplamente utilizada em diversos tipos de matrizes.
Aplicando esta metodologia, pode-se isolar o composto de interesse, o que acaba
por facilitar a aquisição de dados por equipamentos analíticos.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi desenvolvido com o aporte da Financiadora de Estudos e Projetos


(FINEP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), como parte do projeto aprovado através do Edital n. 01.14.0104.00. Os autores
também agradecem ao Centro Universitário UNIVATES.

REFERÊNCIAS

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151
Universidade Católica de Pernambuco

DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO


RIO VELHO QUIXERÉ ATRAVÉS DE MACRÓFITAS

Andreza Maria Vidal do Nascimento(1), Patrícia Raquel Vidal do


Nascimento(2), Jéssica Roberta Pereira Martins(3),
Jardeson Júlio Pereira Martins(4), Luis Filipe Freitas(5)

¹Graduanda em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo IFCE campus Limoeiro do Norte: andreza--
maria@hotmail.com;
²Graduada em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo IFCE campus Limoeiro Norte: patriciaifce@hotmail.com ;
3
Graduanda em Técnico em Meio Ambiente pelo IFCE campus Limoeiro Norte: jessica.r160@gmail.com;
4
Graduando em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo IFCE campus Limoeiro do Norte: jardesonjulio@hotmail.com;
5
Graduando em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo IFCE campus Limoeiro do Norte: luisffreitas@live.com

RESUMO
O rio Quixeré popularmente conhecido como rio Velho, ao longo de sua historia vem sofrendo
impactos tanto de caráter natural, como antrópico. O rio velho recebe constantemente
contribuições de efluentes não tratados que ocasionam poluição do ambiente aquático. Com o
objetivo verificar a qualidade da água do rio foi utilizado como indicador de poluição a presença
de algas. Dessa forma foi coletada uma amostra da água e analisada de forma qualitativa quanto
à presença de macrófitas.
Observou-se que o rio está passando por um processo de eutrofização que é um fenômeno
causado pelo excesso de nutrientes como nitrogênio e fósforo, o que provoca à proliferação
excessiva de algas, que ao entrarem em decomposição, levam ao aumento do número de
microrganismos e à consequente deterioração da qualidade do corpo hídrico, vindo a causar
mortandade de peixes e intensificar a poluição do corpo aquático. Obteve-se que o rio se
mostrou com excessiva presença de macrófitas das espécies Pistia stratiotes e Eichhornia
crassipes, o corpo hídrico apresentou pouca variação de espécie de algas, mas caracterizou-se
como causadoras de poluição do ambiente.
Palavras-chave: Macrófitas; Eutrofização; Qualidade da água.

INTRODUÇÃO

Em todos os ecossistemas, tem-se verificado que os recursos hídricos superficiais e


subterrâneos deterioram-se devido às múltiplas atividades humanas que se desenvolvem
com grande intensidade nas bacias hidrográficas do planeta observando-se que uma das
causas fundamentais desta rápida deteriorização é o aumento populacional da espécie
humana, acompanhado da expansão das atividades industriais e agrícolas, que
compromete a disponibilidade de água para usos múltiplos.

Lagos, rios, reservatórios e outras coleções d’água, possuem importantes componentes


que são as macrófitas aquáticas e estas constituem significativa parcela do estoque de
energia e matéria do primeiro nível trófico da rede alimentar, além de proporcionar
abrigo para desova e proteção das fases jovens de organismos aquáticos. As

152
9º Encontro Internacional das Águas

conseqüências da alteração no ambiente aquático promovida pela ação antrópica,


algumas espécies passam a desenvolver densas infestações, sendo consideradas plantas
daninhas, ocorrendo na concentração de oxigênio dissolvido na água, que altera
significativamente o seu balanço, provocando fatores irreversíveis ao ecossistema local.
Portanto, causam a quebra do equilíbrio ecológico, pois ocorre mais produção de
matéria orgânica do que o sistema é capaz de se decompor.

MATERIAL E MÉTODOS

Foi coletada uma amostra da água e analisada de forma qualitativa quanto à presença de
macrófitas, a amostra primeiramente foi limpa com água destilada, após seca e em
seguida foi feito uma identificação das algas encontradas quanto à família, nome
popular e nome científico.

Figura 1 – Visão aérea do rio velho (Quixeré)

153
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 2 – Vista da Ponte do Rio Velho Quixeré

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O rio está passando por um processo de eutrofização que é um fenômeno causado pelo
excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio,
normalmente causado pela descarga de efluentes agrícolas, urbanos ou industriais) num
corpo de água mais ou menos fechado, o que leva à proliferação excessiva de algas, que,
ao entrarem em decomposição, levam ao aumento do número de microrganismos e à
consequente deterioração da qualidade do corpo d’água (rios, lagos, reservatórios e
outras coleções d’água) vindo a causar mortandade de peixes e intensificando a poluição
do corpo aquático.

Tabela 1 – Resultados da analise realizada com a amostra

Variáveis Investigadas Macrófita 1 Macrófita 2


Nomes científicos Pistia stratiotes Eichhomia crassipes
Nome popular Alface d' água Aguapé
Família Pontederiaceae Araceae

154
9º Encontro Internacional das Águas

Figura 3 – Resultado das espécies identificadas

CONCLUSÕES
1. O rio mostrou-se com excessiva presença de macrófitas das espécies Pistia
stratiotes e Eichhornia crassipes, essa pouca variedade de espécies demonstra
indícios de desequilíbrio no corpo d'água, as macrófitas encontradas são
indicadoras de estado eutrófico já elevado.
2. Sugere-se que estudos mais detalhados devem ser procedidos para que de fato se
possa concluir o grau de eutrofização em termos quantitativos.

REFERÊNCIAS
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dezembro de 2010

155
Universidade Católica de Pernambuco

RESERVATÓRIOS TROPICAIS E OS EFEITOS DA EUTROFIZAÇÃO

Patrícia Silva Cruz1*, Leandro Gomes Viana2, Beatriz Susana Ovrsuki de Ceballos3
1
Doutoranda em Engenharia Sanitária e Ambiental/Universidade Estadual da Paraíba- UEPB. Bolsista CAPES.
Endereço: Rua: Santa Cecília, 347. Santo Antônio. Campina Grande – PB. CEP: 58406-015 – Brasil. E-mail:
patriciacruz_biologa@hotmail.com
2
Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental / Universidades Estadual da Paraíba. E-mail: leandrogomesbiologo@gmail.com
3
Professor Adjunto /Universidade Estadual da Paraíba/Departamento de Biologia/CCBS. E-mail: bia.ceballos@gmail.com

RESUMO
O presente estudo objetivou a elaboração de uma revisão bibliográfica sobre a relevância dos
reservatórios e as consequências da eutrofização (florações de cianobactérias). Foi realizada
uma pesquisa bibliográfica sobre cianobactérias e cianotoxinas e suas implicações para saúde
pública. Para tanto, foram utilizados artigos científicos publicados em bases de dados on-line:
Scientific Eletronic Library On-line (Scielo), Literatura Latino Americana do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e Web of Science, além de livros e dissertações que abordam os
temas em estudo. Os estudos em reservatórios do semiárido demonstram que estes sistemas, em
virtude à escassez de água, apresentam vazões reduzidas e consequentemente um elevado tempo
de retenção da água, além de um balanço hídrico negativo durante a maior parte do ano,
contribuindo assim, para o acúmulo e concentração de sais e nutrientes, tornando esses
ambientes mais vulneráveis à eutrofização e susceptíveis ao aparecimento de florações de
cianobactérias, tornando-se um problema preocupante, em virtude de vários gêneros serem
capazes de formar florações e produzirem toxinas que afetam a microbiota, os animais e o
homem.
Palavras - chave: Lagos Tropicais; Nutrientes; Cianobactérias.

INTRODUÇÃO
O processo de eutrofização artificial, resultado da entrada excessiva de nutrientes como
nitrogênio e o fósforo, tem sido considerado o mais difundido problema de qualidade da
água no mundo, principalmente em bacias hidrográficas urbanizadas (PAERL, 2009;
SCHINDLER, 2012).
No Brasil, os reservatórios com usos múltiplos apresentam o processo de eutrofização
acelerado, degradando a qualidade das águas pela elevada entrada de nutrientes e,
consequentemente, pela formação de florações de cianobactérias (BECKER et al., 2009;
SOARES et al., 2009).
Em estados avançados de eutrofização pode ocorrer a proliferação de cianobactérias em
detrimento de outras espécies aquáticas. Muitos gêneros desses microrganismos, quando
submetidos a determinadas condições ambientais, podem produzir toxinas que têm
efeitos diretos sobre a saúde humana e provocam aumento nos custos para o tratamento
da água.

156
9º Encontro Internacional das Águas

O registro de florações vem aumentando em intensidade e frequência, com dominância


de cianobactérias durante grande parte do ano, sobretudo em reservatórios (SOARES et
al., 2009; 2012).
Vários estudos têm reportado a dominância desses organismos em mananciais de
abastecimento público. As florações tóxicas de cianobactérias são consideradas como
um dos maiores problemas em ecossistemas de água doce, pois estão associadas a
alterações nos aspectos organolépticos da água, como má aparência e odor
desagradável, causando também danos ecológicos, tais como alterações nas cadeias
alimentares, com potenciais efeitos na ciclagem de nutrientes e na biodiversidade, além
de danos à saúde humana (FERNANDES et al., 2009; PAERL et al., 2011). Diante do
exposto, o presente objetivou a elaboração de uma revisão bibliográfica sobre a
relevância dos reservatórios e as consequências da eutrofização (florações de
cianobactérias).

MATERIAL E MÉTODOS
No presente estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre cianobactérias e
cianotoxinas e suas implicações para saúde pública. Para tanto, foram utilizados artigos
científicos publicados em bases de dados on-line: Scientific Eletronic Library On-line
(Scielo), Literatura Latino Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e
Web of Science, além de livros e dissertações que abordam os temas em estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Brasil, as represas e açudes são formados principalmente pelo represamento de rios,
para atender os seguintes objetivos: abastecimento de águas, regularização de cursos,
obtenção de energia elétrica, irrigação, navegação, recreação, entre outros. Estes
recebem diferentes denominações, tais como: represas, reservatórios, açudes etc., que
nada mais são que sinônimos, uma vez que esses ecossistemas têm a mesma origem e
finalidade (ESTEVES, 2011).
A maior rede de açudes do mundo está no Brasil, sendo que a grande maioria encontra-
se na região nordeste do país, com quase 70.000 reservatórios e com um volume
armazenado de cerca de 37 bilhões de m³ de água (VIANA, 2012). A forma encontrada
para regularizar o regime hidrológico dos rios intermitentes do Nordeste foi à

157
Universidade Católica de Pernambuco

construção de açudes, que desempenham importante papel para o desenvolvimento da


região, sendo utilizados para múltiplas finalidades, como o abastecimento doméstico e
industrial, a irrigação, a dessedentação animal, a pesca, a aquicultura e o lazer
(PAULINO; TEXEIRA, 2012).
De forma geral, esses ambientes são "atratores" de desenvolvimento econômico,
estimulam a migração e promovem uma reorganização geral dos sistemas locais e
regionais, isso, porém, tem uma consequência sobre a qualidade da água e os usos
múltiplos do reservatório (TUNDISI, 2008). Segundo Freitas, Righetto e Attayde (2011)
os reservatórios consistem em ecossistemas de grande valor socioeconômico e cultural.
Os recursos hídricos disponíveis para o abastecimento humano, na atualidade, além de
escassos, estão cada vez mais com sua qualidade deteriorada. Segundo Moraes (2009), a
qualidade dos ecossistemas de água doce, depende de fatores e processos bióticos,
abióticos e antrópicos.
Os usos múltiplos do reservatório e de bacias hidrográficas baseados em atividades
humanas trazem mudanças nas entradas de nutrientes que são provavelmente a principal
razão para induzir modificações no estado trófico do reservatório, nas assembleias de
fitoplâncton e nas condições físicas e químicas (MOLISANI et al., 2010).
Devido à escassez de água, os reservatórios no semiárido apresentam vazões reduzidas e
consequentemente um elevado tempo de retenção da água, além de um balanço hídrico
negativo durante a maior parte do ano devido às altas taxas de evapotranspiração,
contribuindo assim, para o acúmulo e concentração de sais e nutrientes, tornando esses
ambientes mais vulneráveis à eutrofização (BARBOSA; FRANÇA, 2011).
Embora a construção de reservatórios seja uma solução para os problemas associados à
necessidade de água, assegurando a disponibilidade na época da seca, esses ambientes
são influenciados por fatores como tempo de residência da água, altas temperaturas e
evapotranspiração que, juntamente com o despejo crescente de esgoto doméstico e
industrial dos centros urbanos, têm infligido problemas ambientais como a eutrofização
cultural (DANTAS et al., 2008). Para Esteves (2011), o fenômeno da eutrofização
cultural pode ser principalmente observado em regiões com grande crescimento de
indústrias, agricultura e urbanização.
Em condição natural, sem que haja interferência das atividades humanas, a eutrofização
é gradual e muito lenta, demora muitas décadas até estabelecer-se. Diferentemente, a

158
9º Encontro Internacional das Águas

eutrofização, artificial ocorre de forma brusca e muito rápida, trazendo diversos


prejuízos às populações aquáticas e humanas.
Um dos problemas mais difundidos decorrente da eutrofização artificial é a proliferação
de algas e macrófitas aquáticas. Como o meio é incapaz de decompor, dissipar ou
assimilar a carga de esgotos excessiva, ele entra em desequilíbrio, com oscilações
bruscas entre crescimento e mortandade de algas e macrófitas (MORAES, 2009), onde o
desenvolvimento exagerado dos produtores só ocorre porque existe, por um lado,
grande quantidade de nutrientes disponíveis na água, e por outro lado, porque as
populações de consumidores não são suficientemente numerosas para conseguirem, por
herbivoria, eliminar o excesso de algas.
Estudos realizados por Dellamano-Oliveira et al. (2008) e Soares et al. (2009)
demonstram que nas últimas décadas alguns destes sistemas têm sofrido com uma
eutrofização intensa, resultando em perda de qualidade da água e aumento na
ocorrência de florações de cianobactéria, que é um problema crescente em todo o
mundo como consequência dos processos de eutrofização artificial, que favorece a
rápida proliferação de cianobactérias no ambiente aquático, conhecida como “floração”
ou “bloom” (CARNEIRO; LEITE, 2008). Este crescimento excessivo de cianobactérias
planctônicas está entre as principais ameaças que põem em perigo o uso da água em
lagos rasos (BONILA et al., 2012).
Dados da literatura reportam que os futuros cenários de mudanças climáticas incluem o
aumento de temperaturas, maior estratificação vertical dos ecossistemas aquáticos, e
alterações nos padrões climáticos sazonais e interanuais (incluindo secas, tempestades,
inundações). Essas alterações contribuem para a formação de florações de
cianobactérias nocivas em águas eutrofizadas (PAERL; HUISMAN, 2009). As
implicações das mudanças climáticas remetem a um clima mais quente, onde as
concentrações de nutrientes precisam ser reduzidas substancialmente em muitos lagos
para que a dominância de cianobactérias seja controlada (KOSTÉN et al., 2012).
Frente a essas mudanças climáticas, estudos recentes na região semiárida do Nordeste
brasileiro, evidenciam que uma redução do nível de água causada por uma seca pode
aumentar ou diminuir a biomassa de fitoplâncton e dominância de cianobactérias em
lagos rasos tropicais dependendo da profundidade do lago e da concentração de
sedimentos inorgânicos em suspensão (COSTA; ATTAYDE; BECKER, 2015).

159
Universidade Católica de Pernambuco

Em estudos realizados por Medeiros et al. (2015) os resultados indicaram que a


qualidade da água e a composição do fitoplâncton foram impulsionadas por eventos
extremos, chuvas torrenciais e secas severas, que são características do regime
hidrológico da região semiárida, mudando a variação do volume dos reservatórios.
A ocorrência de cianobactérias tem sido dominante em períodos de florações do
fitoplâncton quer em ambientes de reservatórios, lagoas costeiras, rios, lagos de
inundação quer em outros lagos naturais (FERREIRA, 2009). Essas florações têm sido
relatadas principalmente em reservatórios de abastecimento público nos estados do
Sudeste e Nordeste (AGUIAR et al., 1993; COSTA; AZEVEDO, 1993; COSTA et al.,
2006; SOTERO-SANTOS et al., 2006), assumindo, deste modo, importância do ponto
de vista de saúde pública.

CONCLUSÃO
1. Os estudos em reservatórios do semiárido demonstram que estes sistemas, em
virtude à escassez de água, apresentam vazões reduzidas e consequentemente
um elevado tempo de retenção da água, além de um balanço hídrico negativo
durante a maior parte do ano, contribuindo assim, para o acúmulo e
concentração de sais e nutrientes, tornando esses ambientes mais vulneráveis à
eutrofização e susceptíveis ao aparecimento de florações de cianobactérias.
2. As cianobactérias têm apresentado dominância em mananciais de abastecimento
e frente aos futuros cenários de mudanças climáticas tendem a persistirem nesses
ambientes, tornando-se um problema preocupante, em virtude de vários gêneros
serem capazes de formar florações e produzirem toxinas que afetam a
microbiota, os animais e o homem.
3. Sugere-se, portanto, a realização de estudos sobre dinâmica das cianobactérias
frente às condições climáticas peliculiares da região semiárida.

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163
Universidade Católica de Pernambuco

RESIDUOS SÓLIDOS EM RIOS URBANOS: UM ESTUDO DE CASO DO RIO


CUIA, JOÃO PESSOA, PARAÍBA1

Jobson Targino Dias2, Raissa Borges Oliveira3, Eliamin Eldan Queiroz Rosendo4,
Aline de Sousa Silva5, Taysa Tamara Viana Machado6
2
Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental – Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-mail: jobsontargino@yahoo.com.br
Endereço: Cidade Universitária, s/n - Castelo Branco, João Pessoa - PB. CEP: 58051-900.
3
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-mail:
raissa_borges3@hotmail.com Endereço: Cidade Universitária, s/n - Castelo Branco, João Pessoa - PB. CEP: 58051-900.
4
Doutorando em Engenharia Civil e Ambiental – Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-mail: eliamimeldan@hotmail.com
Endereço: Cidade Universitária, s/n - Castelo Branco, João Pessoa - PB. CEP: 58051-900.
5
Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental – Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-mail: alinny_bio@hotmail.com
Endereço: Cidade Universitária, s/n - Castelo Branco, João Pessoa - PB. CEP: 58051-900.
3
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-mail: taysatamara@gmail.com
Endereço: Cidade Universitária, s/n - Castelo Branco, João Pessoa - PB. CEP: 58051-900

RESUMO
A presença de resíduos sólidos em rios urbanos afeta irreversivelmente as características
abióticas e bióticas do ambiente. A medida que cidades crescem, geralmente próximo as
margens ou em direção as fontes hídricas, a modificação desses ambientes altera bastante esses
ambientes naturais, ocorrendo em sua grande maioria a destruição da mata ciliar, mudanças do
curso dos rios, lançamento de efluentes, disposição de resíduos sólidos, entre outros danos. O
presente trabalho teve por objetivo apresentar os impactos causados pela deposição de resíduos
sólidos na bacia hidrográfica do rio Cuiá, João Pessoa-PB. Quanto a metodologia utilizada foi
utilizada os métodos Ad-Hoc e Checklist. Portanto, observou-se que impactos ambientais
causados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos na bacia hidrográfica do rio Cuiá,
agrava a poluição dos recursos hídricos, como resultado do uso incorreto que o homem faz da
mesma e das atividades que desenvolve em suas margens e na bacia hidrográfica como um todo.
Necessitando realizar a implantação de medidas controle e um planejamento adequado para
evitar prejuízos ao homem, aos organismos e meio ambiente aquático, pois essa bacia
hidrográfica apresenta inúmeros benefícios para o meio ambiente da cidade de João Pessoa.
Palavras-chave: Resíduos sólidos; Poluição hídrica; Rio cuia; Rio urbano; Eutrofização.

INTRODUÇÃO
Problemas advindos dos resíduos sólidos gerados em ambientes urbanos e rurais têm
nas últimas décadas atingidos efeitos gravíssimos, em especial a saúde humana e ao
meio ambiente, podendo ser explicado principalmente pela ausência de soluções
adequadas para a destinação e disposição final.
Diversas atividades antrópicas apresentam potencial de causar impacto ambiental
negativo, dentre elas, aquelas relacionadas aos serviços inadequados ou deficitários de
destinação e disposição final dos resíduos sólidos.
A Lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, define resíduos
sólido como: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está

164
9º Encontro Internacional das Águas

obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (MMA, 2017).
Quanto aos rios urbanos, à medida que as cidades crescem, muitas vezes as margens ou
próximo aos rios, estes sofrem diretamente com a pressão da exploração antrópica, a
ocupação de forma inconsequente do solo, afetando dessa maneira irreversivelmente as
características naturais do ambiente. Comumente ocorrem lançamento de efluentes,
disposição de resíduos sólidos, destruição da mata ciliar, mudanças do curso dos rios,
entre outros danos.

Um exemplo característico quanto ao fato citado acima, pode-se citar a Bacia


Hidrográfica do Rio Cuiá, localizada no município de João Pessoa. Esta Bacia apresenta
características ambientais e paisagísticas diversificadas, associadas à presença de vários
geoambientes naturais que resultam das diversas combinações e arranjos dos elementos
do meio físico biótico e abiótico. Por se encontrar inserida integralmente na malha
urbana, a bacia teve seu espaço físico adensado rapidamente, sofrendo diversos tipos de
impactos ambientais, estando bastante degrada e com diversos problemas ambientais.
No entanto, a mesma já se encontra bastante modificada, devido à expansão urbana, em
particular relacionada à construção de diversos conjuntos habitacionais após os anos
1970, que se intensificaram nas décadas de 80 e 90. Na última década, a aprovação de
inúmeros loteamentos e ocupações subnormais, consolidou este quadro de alterações da
fitofisionomia original de área (SEMAM, 2011).

Um fator agravante foi a ocupação de áreas próximo as nascentes, a destruição da mata


ciliar, o lançamento de efluentes líquidos, e lançamentos de diversos tipos de resíduos
sólidos.

Assim, tendo em vista essa situação, ocorrem diversas alterações na dinâmica dos
elementos do meio biótico e abiótico, alterando a drenagem natural e a afetando a vida
das populações residentes próximo ao seu percurso natural, o presente trabalho teve por
objetivo apresentar os impactos causados pela deposição de resíduos sólidos na bacia
hidrográfica do rio Cuiá, João Pessoa-PB.

165
Universidade Católica de Pernambuco

MATERIAL E MÉTODOS
Descrição da área de estudo

A Bacia Hidrográfica do rio Cuiá localiza-se na mesorregião do Litoral Paraibano e na


Microrregião de João Pessoa, na parte sul do Litoral Paraibano, compreende uma área
de aproximada de 41 km2 e uma extensão linear de aproximadamente 10 km.
Compreendendo os conjuntos habitacionais: Grotão, Ernesto Geisel, José Américo,
Valentina de Figueiredo I e II, Colinas do Sul, Planalto Boa Esperança, Água Fria,
Loteamento Nova Mangabeira, Condomínio Amizade e Mangabeira (REIS, 2010).

Apresenta um percurso no sentido Oeste/Leste, até desaguar no Oceano Atlântico, mais


especificamente na Praia do Sol, onde forma um ecossistema de manguezal
representativo do Litoral Sul do Estado (SEMAM, 2011). O rio Cuiá nasce nas encostas
dos rebordos dos tabuleiros sedimentares costeiros na Zona sul de João Pessoa-PB
(Figura 1).

Figura 1 - Localização geográfica da bacia hidrográfica de rio Cuiá, João Pessoa,


Paraíba

Fonte: Autoria própria (2017).

166
9º Encontro Internacional das Águas

Identificação dos principais impactos ambientais


A identificação dos principais impactos ambientais causados pela disposição
inadequada dos resíduos sólidos na bacia hidrográfica do rio Cuiá foi realizada por meio
da utilização dos métodos Ad-Hoc e Checklist, conforme as metodologias apontadas
por Fogliatti, Filippo e Goudard (2004) e Sánchez (2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O lançamento dos resíduos sólidos é o principal aspecto ambiental observado em vários
pontos do rio Cuiá, sendo em sua maioria localizados próximos as áreas residenciais.
Observa-se a presença de resíduos plásticos, vidros, papel, eletrodomésticos,
medicamentos, tintas, embalagens de inseticidas, restos de demolição da construção
civil, entre outros (Figura 2a, 2b, 2c e 2d).
Figura 2 - Resíduos sólidos presentes nas margens do rio Cuiá
a b

c d

Fonte: Autoria própria (2017).

167
Universidade Católica de Pernambuco

Sendo assim, conforme pode ser observada essa disposição tem ocasionado diversos
impactos ambientais negativos de caráter sanitário, ecológico, social e econômico,
como:
 Alterações nos parâmetros da qualidade da água;
 Produção de chorume;
 Assoreamento dos recursos hídricos,
 Redução da vazão de escoamento e de volume de armazenamento;
 Contaminação hídrica;
 Aumento de matéria orgânica;
 Maus odores;
 Fonte de microrganismos patógenos;
 Prejuízos ao abastecimento humano;
 Prejuízos a outros usos da água;
 Elevação do custo de tratamento da água;
 Desvalorização das propriedades marginais;
 Desequilíbrio na fauna aquática;
 Eutrofização;
 Degradação da paisagem;
 Redução da qualidade de vida da população.

CONCLUSÃO
1. A poluição dos recursos hídricos provoca muitos problemas, os quais tendem a
se agravar, como resultado do uso incorreto que o homem faz da mesma e das
atividades que desenvolve em suas margens e na bacia hidrográfica como um
todo.

2. Portanto, o estudo do uso e ocupação do solo da bacia, a determinação das fontes


e cargas poluidoras, o conhecimento dos efeitos no rio, a especificação e
implantação de medidas controle e um planejamento adequado são muito
importantes para evitar prejuízos ao homem, aos organismos e meio ambiente
aquático.

3. E, diante das análises, pode-se concluir que, a bacia do Rio Cuiá estando
inserida em uma área de urbanização, por isso denominada como uma bacia

168
9º Encontro Internacional das Águas

urbana, e com grande importância no contexto de expansão e desenvolvimento


da cidade de João Pessoa, é susceptível a sofrer as influências das ações
antrópicas, uma vez que, a área é ocupada por conjuntos habitacionais ainda de
forma desordenada e sem infraestrutura adequada.

4. Por se tratar de uma área de preservação permanente protegida por lei, a


ocupação deve se dar de formar a se adequar as necessidades da bacia
hidrográfica, pois, sendo ela tomada como uma unidade de planejamento, os
impactos causados em uma área específica têm repercussão em toda bacia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 12.305. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em: 14 mar
2017.

FOGLIATTI, C. M.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliação de impactos


ambientais: aplicação aos sistemas de transporte. Rio de Janeiro: Interciência, 2004.

SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo:


Oficina de Textos, 2008.

SEMAM. Secretaria de Meio Ambiente/Prefeitura de Joao Pessoa. Estudo de


viabilidade ambiental (EVA) da área de implantação do parque cuia, João Pessoa
– PB. 2011.

REIS, André Luiz Queiroga. Índice de sustentabilidade aplicado à Bacia do Rio


Cuiá-João Pessoa(PB). 2010. 137 f. Dissertação (Mestrado em Gerenciamento
Ambiental) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.

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Universidade Católica de Pernambuco

RETROSPECTIVA DO SURGIMENTO DO PLANO NACIONAL DE RECURSOS


HÍDRICOS E SUA IMPORTÂNCIA COMO FERRAMENTA PARA A PRESERVAÇÃO
DE RIOS URBANOS

Marcos Vinícius Pires Spinelli1, Priscylla Santos da Silva²


1
Mestre em Gestão Ambiental (MPGA) – IFPE, Recife-PE. spinelli@outlook.com;
² Discente do Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Gestão Ambiental (MPGA) – IFPE, Recife-PE.
priscysantos@gmail.com

RESUMO
O Brasil é um país de dimensões continentais, detentor de um grande conjunto de bacias hidrográficas
que formam um sistema hídrico extremamente capilarizado e complexo. Desde o último século, muito foi
trabalhado na questão legislativa para que as políticas públicas se tornassem efetiva, dando subsídios
legais e regulatórios para a gestão e gerenciamento dos recursos hídricos, tendo muitos marcos atingidos
até a criação do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Este artigo busca, por meio de levantamento de
dados bibliográficos, expor a importância deste plano para a gestão eficiente dos recursos hídricos
fluviais, como forma de preservação dos rios urbanos.
Palavras-chave: Políticas Públicas; Gestão das Águas; Águas Fluviais.

INTRODUÇÃO

A crise hídrica é um problema global e a escassez de água potável é um dos principais desafios
para o futuro da humanidade. Neste contexto, o Brasil encontra-se em posição privilegiada,
possuindo 13 % do total da água doce disponível do planeta, distribuída em seus mais de 12 mil
rios e córregos, sobretudo no Estado do Amazonas, que possui 81 % das águas fluviais do país.
Desta forma, apresenta uma má distribuição hidrográfica, estando a maioria da água disponível,
justamente na região onde há o menor contingente populacional, que representa apenas 5 % da
demanda hídrica (TRIGUEIRO, 2012; ANA, 2015).
Agrava-se a situação, ao considerar que nem sempre estes rios encontram-se em situação de
potabilidade, devido a poluição antrópica unida a uma gestão deficitária dos seus recursos.
Desta forma, é possível mensurar-se o tamanho do desafio que a gestão pública no país deve ter
para o gerenciamento e preservação das bacias aqui presentes.
Com o tempo houveram desenvolvimentos e reformulações nas políticas públicas ambientais
neste sentido. No entanto, ainda pode-se detectar alguns hiatos nas práticas de monitoramento,
controle e avaliação da implementação destas políticas, gerando obstáculos que impactam
negativamente no alcance dos objetivos (PHILIPPI et al., 2012).

170
9º Encontro Internacional das Águas

MATERIAL E MÉTODOS

Marcos Do Gerenciamento De Recursos Hídricos

Devido a complexa demanda de gestão dos seus recursos hídricos, durante os anos, o Brasil vem
trabalhando na criação de ministérios, órgãos, normas, diretrizes e programas a fim de atender as
necessidades ambientais e hídricas do país (Figura 1).
É datado de 1920 a criação da primeira comissão para assuntos hídricos, intitulada Comissão de
Estudos e Forças Hidráulicas (CEFH). Através do Serviço Geológico e Mineralógico do
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio e Comissão de Estudos de Forças Hidráulicas,
esta comissão foi criada com objetivo de atuar na hidrologia, baseada exclusivamente na
pluviometria e no estudo dos desníveis hidráulicos para a geração de energia elétrica, sem entrar
na competência normativa, ou de outorga de concessões. Esta comissão deu origem aos futuros
órgãos nacionais dedicados à hidrométrica. (ANA, 2007)
Treze anos após, foi criada a Diretoria Nacional de Produção Mineral (DNPM), através do
Decreto n. 23.979 de 8 de março de 1934, responsável, entre outros fatores, ao aproveitamento
das águas superficiais e subterrâneas para atividades como irrigação, navegabilidade e produção
energética (BRASIL, 1934).
Através do Decreto n. 24.647 de 10 de junho do mesmo ano, foi criado o Código de Águas,
marco para a Política Nacional de Recursos Hídricos, definindo o conceito de águas públicas,
águas comuns, águas particulares, álveo e margens e acessão, assim como taxação pelo uso das
águas e multas por sua poluição (BRASIL, 1934).
Em 28 de outubro de 1940 através o Decreto n. 6.402 se reestrutura a Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM), que absorve a Comissão de Estudos e Forças e transforma o Serviço
de Águas em Divisão de Águas, dando mais importância a este recurso passando a estudá-la
mais profundamente (BRASIL, 1940).

171
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 1 – Marcos do Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil

Fonte: Autoria própria (2017).

Vinte anos após, é criado por força da Lei 3.782 de 22 de julho de 1960 o Ministério de Minas e
Energia (MME), incorporando o Conselho de Águas e Energia Elétrica e outros departamentos
como: Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), Conselho Nacional de Minas e
Metalurgia (CNMM), Conselho Nacional de Petróleo (CNP) e Comissão de Exportação de
Materiais Estratégicos (CEME) (BRASIL, 1960).
Em 1965, através da Lei n. 4.904 de 17 de dezembro de 1965, a Divisão de Águas passa a se
chamar Departamento Nacional de Águas e Energia (DNAE), devido a reorganização do MME,
que três anos mais tarde por meio do Decreto n. 63.951 de 31 de dezembro de 1968 altera o
nome do DNAE para Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), que apesar
de continuar com as mesmas atribuições anteriores, foi aprovado o seu regimento interno e
conquista de autonomia financeira somente em 1977, através da Portaria n. 234 do ministro das
Minas e Energia. (BRASIL, 1965)
Através do Decreto n. 73.030 de 30 de outubro de 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio
Ambiente (SEMA). Responsável pela articulação política e gestão relacionada ao meio ambiente,
teve papel fundamental na elaboração da Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981, criadora da Política
Nacional do Meio Ambiente, em vigor até os dias atuais. Com esta política foi constituído o
Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), responsável pela articulação coordenada dos
órgãos e entidades que lhe fazem parte, através do gerenciamento de informações relativas a
agressões ao meio ambiente e sua proteção. Em conjunto, foi criado o Conselho Nacional do
3

172
9º Encontro Internacional das Águas

Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e deliberativo, integrante do SISNAMA,


responsável por criar normas e critérios de licenciamento ambiental, assim como estabelecer
padrões relativos à manutenção da qualidade do meio ambiente, através de seu colegiado,
constituído por membros do setor público, privado e sociedade civil, além de integrantes de
órgãos federais, estaduais e municipais (BRASIL, 1974).
Quatro anos mais tarde, por meio do Decreto n. 91.145 de 15 de março de 1985, é criado o
Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (MDU), incorporando a SEMA e o
CONAMA (BRASIL, 1985).
A Lei n. 7.735 de março de 1989 extingue a SEMA e cria o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que tem como principais atribuições a
execução de ações políticas ambientais federais, monitoramento, licenciamento, controle de
qualidade e fiscalização ambiental, exercendo ainda o poder de polícia ambiental (BRASIL,
1989).
No ano posterior, por meio da Lei n. 8.028 de 12 de abril de 1990, é criada a Secretaria de Meio
Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR), incorporando o IBAMA ao seu corpo. É
também neste ano, através da mesma lei, que é instituído o Programa Nacional de Meio
Ambiente (PNMA), com a finalidade de fortalecer o SISNAMA e seus órgãos executores, como
as secretarias de meio ambiente, as agências ambientais estaduais e municipais, e o próprio
IBAMA (BRASIL, 1990).
Após dois anos de funcionamento, através da lei n. 8.490 de 19 de novembro de 1992, a
SEMAM/PR é transformada no Ministério do Meio Ambiente (MMA), que sofre duas
reestruturações: a primeira em 1993, quando passa a ser chamado de Ministério do Meio
Ambiente e da Amazônia Legal, pela lei n. 8.746 de 9 de dezembro, e a segunda, dois anos mais
tarde, quando passa a ser chamado de Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da
Amazônia Legal, nome que permanece até hoje (BRASIL, 1992).
Mais do que uma simples mudança de nome do ministério, a incorporação dos Recursos Hídricos
na esfera mais alta do governo, quando se trata de meio ambiente, demonstra a importância
estratégica, econômica e natural que estes recursos representam ao país. Importância esta,
concretizada com a criação da conhecida “lei das águas”, oriunda da Lei n. 9.433 de 8 de janeiro
de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de
Recursos Hídricos (SINGREH) (BRASIL, 1997).
O SINGREH passa a ser responsável por estabelecer diretrizes para a gestão dos recursos
hídricos de forma descentralizada e participativa, envolvendo agentes do poder públicos,
usuários dos recursos hídricos, e as comunidades que sofrem influência destes recursos. É
composta pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), Agência Nacional de Águas
4

173
Universidade Católica de Pernambuco

(ANA), além dos conselhos de Recursos Hídricos Estaduais, Comitês de Bacia Hidrográfica e
Agências de Águas Estaduais.
Um ano antes, foi criada através da Lei n. 9.427 de 26 de dezembro de 1996 a Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL), autarquia de regime especial, vinculada ao Ministério das Minas e
Energia, responsável pela produção, transmissão e comercialização da energia elétrica produzida
no país (BRASIL, 1996). Em 1997, ao ser aprovado o seu regimento interno, extingue a
DNAEE.
Em 1998, ainda apoiada na lei das águas, é instituído o Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(CNRH), que passa a ser a instância mais alta na hierarquia do SINGREH, desenvolvendo
normas entre os usuários de águas, articulando a integração das políticas públicas nacionais e
orientando a gestão pública para a tomada de decisões no campo legislativo dos recursos
hídricos.
No ano de 2000, é aprovado o Programa Nacional de Meio Ambiente II (PNMA II), acordado
entre o Governo Brasileiro e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
(BIRD) através de empréstimo para o desenvolvimento e fortalecimento institucional e a gestão
integrada de ativos ambientais (BRASIL, 2004).

Os recursos são destinados ao MMA, para serem utilizados pelos ministérios da


Fazenda, Minas e Energia, Desenvolvimento Agrário, Integração Nacional,
Cidades e Turismo, além do próprio MMA, com vistas ao cumprimento de
metas ambientais. [...] destaca-se, ainda, a ação — Apoio a Projetos de Gestão
Integrada do Meio Ambiente (Programa Nacional do Meio Ambiente - PNMA
II) — destinada a financiar iniciativas nos estados e no Distrito Federal que
busquem a melhoria dos instrumentos estratégicos da Política Nacional de Meio
Ambiente: o Sistema de Licenciamento Ambiental, o Sistema de
Monitoramento de Qualidade da Água e o Ordenamento Territorial da Zona
Costeira (BRASIL, 2005, p. 966).

Através destes recursos, o MMA através do PNMA II visa buscar progresso à Política Nacional
de Meio Ambiente, através de melhorias no sistema de licenciamento ambiental, sistema de
monitoramento de qualidade de água e ordenamento territorial de zonas costeiras.
Através do SINGREH foi criado o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), aprovado em
2006 por meio da Resolução n. 058 de 30 de janeiro de 2006, caracterizando-se como
instrumento norteador da Política Nacional de Recursos Hídricos, criada para orientar a gestão
das águas no Brasil através de um conjunto de diretrizes, programas e metas traçadas e
sedimentadas em conjunto com a sociedade (BRASIL, 2006).

174
9º Encontro Internacional das Águas

A IMPORTÂNCIA DO PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS PARA A


PRESERVAÇÃO DE RIOS URBANOS
O Plano Nacional de Recursos Hídricos, tem sua grande importância no cenário nacional atual,
justamente por ser um instrumento de gestão da política de recursos hídricos que busca
minimizar os problemas enfrentados pelo gerenciamento inadequado desses recursos. Tendo
como foco central “estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas
públicas voltadas para a melhoria da oferta de água, em quantidade e qualidade” (CTPNRH,
2006, p. 5), atua no gerenciamento das demandas ao considerar a água como sendo elemento
estruturante à implementações das políticas setoriais, seguindo os preceitos do desenvolvimento
sustentável que inclui a interação entre a preservação do meio ambiente à inclusão social, tendo
como meta prioritária estabelecer direcionamentos para um uso adequado e sustentável dos
recursos hídricos.
O plano ainda é pautado com os seguintes objetivos específicos: melhorar a disponibilidade
hídrica e subterrâneas, tanto em qualidade quanto em quantidade; reduzir conflitos reais e
potenciais de uso da água, bem como dos eventos hidrológicos críticos e estabelecer a percepção
da conservação da água como valor socioambiental relevante.
Apesar do PNRH apresentar uma visão macro, focando nas bacias hidrográficas como foco
das tomadas de decisão das políticas públicas de acordo com sua base territorial, não deixa de
contemplar uma visão mais abrangente, considerando as águas subterrâneas, águas
transfronteiriças e, sobretudo, as águas político-administrativas das macro e micro regiões, nos
eixos de desenvolvimento econômico. Contemplando, assim, os rios urbanos.
Ao fornecer as diretrizes contempladas em seu plano, além de reunir entidades voltadas a sua
elaboração e aplicação de ações, como a Agencia Nacional das Águas (ANA), responsável pelo
cumprimento das diretrizes do plano; Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),
responsável pela execução e determinação de providências necessárias para o cumprimento do
plano; Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos (CTPNRH), responsável pelo
acompanhamento e análise do PNRH, além da elaboração de pareceres técnicos; Secretaria de
Recursos Hídricos (SRH), incumbida de coordenar e elaborar melhorias do plano, além de
prestar auxílio ao cumprimento de sua implementação e submissão à aprovação pelo CNRH.
Além do Grupo Técnico de Coordenação e Elaboração do PNRH (GTCE), que procura agregar a
capacidade técnica dos demais órgãos, harmonizando os interesses setoriais para a elaboração de
políticas públicas de recursos hídricos.
De forma integrada, a gestão pública, usuários de água e sociedade civil organizada, por meio
dos comitês de bacias, são responsáveis pela elaboração planos, ilustrado no fluxograma da
Figura 2.
6

175
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 2 - Etapas para Elaboração do PNRH

Fonte: adaptado de Figueiredo (2002).

Seguindo o modelo proposto pelo PNRH, a tomada de decisões pela gestão pública, balizadas
pelos órgãos competentes, resultará em maior eficiência das intervenções nos rios urbanos, de
maneira integrada com a sociedade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Plano Nacional de Recursos Hídricos, configura-se hoje como um importante instrumento de


gestão ambiental, contendo em seu arcabouço o planejamento para enfrentar uma crescente
preocupação social e governamental sobre o uso sustentável dos recursos hídricos, cabendo ao
Ministério do Meio Ambiente (MMA) com acompanhamento da Câmara Técnica do Plano
Nacional de Recursos Hídricos (CTPNRH/CNRH), a sua coordenação.
A gestão dos recursos hídricos deve ser composta pela junção do governo federal com os
governos municipais. O primeiro através da legislação e diretrizes, os subsequentes através da
governança conjunta, uma vez que uma bacia hidrográfica pode ocupar territórios que
ultrapassam as fronteiras municipais. Através desta parceria, o processo decisório referente à
proteção da bacia hidrográfica, como investimento em estações de tratamento de água, políticas,
investimentos em saneamento, reflorestamento de matas ciliares e políticas visando a qualidade e
potabilidade da água, tornam-se mais fáceis efetivas, passando pelo aprove conjunto dos comitês
de bacias. Em comum acordo, pode-se então decidir pela concessão dos serviços públicos de
seus territórios, cobrança pelo uso da água e punições à poluidores, previstos na Lei dos
Recursos Hídricos.

176
9º Encontro Internacional das Águas

Através de uma gestão integrada dos recursos hídricos, balizada pela Política Nacional de
Recursos Hídricos, e seus instrumentos de gestão, o país impetra as condições básicas para
adentrar em uma nova fase do gerenciamento dos recursos hídricos, onde os governos em
conjunto com a sociedade organizada e os usuários, decidem pelo melhor uso da água, os
investimentos necessários e a gestão de seus rios e bacias.

CONCLUSÃO

1. Atualmente, um gerenciamento eficaz de recursos hídricos, não apenas caracteriza-se


como uma necessidade emergente, mas como fator decisório para a sobrevivência das
atividades econômicas e sociais.
2. Daí a importância e a responsabilidade de todos os envolvidos em projetos que envolvem
o manejo destes recursos para com a sociedade presente e futura.
3. Cabendo às políticas públicas, apoiadas na legislação vigente, resguardar esses recursos
através de ações preservativas afim de evitar que haja poluição de um recurso cada vez
mais escasso e essencial à sobrevivência humana, daí a importância imperativa de
políticas públicas para a gestão dos recursos hídricos, em especial dos rios urbanos,
sujeitos a maiores intervenções antrópicas e maior carga poluidora.

REFERÊNCIAS

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______. Evolução da Rede Hidrometeorológica Nacional. Superintendência de Administração
da Rede Hidrometeorológica, Brasília: ANA, 2007.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Nº 58. Brasília: CNRH. 2006. Disponível
em: < http://www.cnrh.gov.br/index.php? option=com_ docman&task=doc_details&gid=33&Ite
mid= resolucao_58--.pdf> Acesso em: 11 Mar. 2017.
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em: <http://antigo.planejamento.gov.br/
secretarias/upload/Arquivos/spi/plano_plurianual/avaliacao_PPA/relatorio_2005/05_PPA_Aval_
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Ambiente II. Brasília: MMA, 2004. Disponível em:
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177
Universidade Católica de Pernambuco

______. Presidência da República. Decreto n.Nº 23.979. Brasília: D.O.U. 1934. Disponível em
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TRIGUEIRO, André. Mundo Sustentável 2: Novos Rumos para um Planeta em Crise. São
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178
1
9º Encontro Internacional das Águas

REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS: PAISAGISMO E IDENTIDADE 1

Bruna Murbach de Oliveira2, Ana Carolina Carmona Ribeiro3

1. Trabalho desenvolvido junto à pesquisa de Iniciação Científica “Rios urbanos: experiências de revitalização ao redor do
mundo”, financiada pelo programa PIBIFSP do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP),
Câmpus São Paulo.
2. Bolsista PIBIFSP e graduanda em Arquitetura e Urbanismo no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Rua Pedro Vicente, 625,
São Paulo/SP, brunamurbachdeoliveira@gmail.com
3. Arquiteta e professora no curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Rua Pedro Vicente, 625,
São Paulo/SP, ana.carmona@ifsp.edu.br

RESUMO
O artigo faz uma reflexão acerca da identidade no paisagismo contemporâneo – questão
relacionada ao projeto de cidade que se deseja construir e às possibilidades de interação entre
cidadãos e o espaço urbano – por meio do estudo de dois casos emblemáticos de requalificação
de rios urbanos: o do rio Manzanares, em Madri (2007-2011), e o do rio Los Angeles (2007-
atual). Embora as duas proposições tenham em comum o entendimento da recuperação do rio
como eixo central de requalificação urbanística, percebe-se que os dois projetos apresentam
partidos bastante diferentes, o que acarreta também em soluções espaciais e paisagísticas
diversas; enquanto Madri centra-se na idéia de cidade global, Los Angeles procura investir na
ação participativa e no projeto a longo prazo. O estudo, baseado em revisões bibliográficas e
análise de imagens, nos permite debater os caminhos possíveis para os projetos de recuperação
dos rios urbanos, tendo no horizonte, inclusive, a situação das cidades brasileiras.
Palavras-chave: Paisagismo; Identidade; Madrid Río; Rio Los Angeles.

ABSTRACT
The present article reflects upon the question of identity in contemporary landscape architecture
– relevant to shaping a city and its interaction with its inhabitants– through a study of two
emblematic cases of requalification of urban rivers: the Manzanares, in Madrid (2007-2011),
and the Los Angeles (2007-present). Although for both, the revitalization of the river is taken as
the central design axis, they also have contrastingly different partis, leading to diverse solutions
concerning space and landscape; while Madri is centred in the idea of a global city, LA delves
into participatory processes and long term projects. Hence, this study, based upon
bibliographical revisions and the analysis of images, allows us to debate the possible pathways
for future projects.
Keywords: Landscape architecture; Identity; Madrid Río; Los Angeles River.

INTRODUÇÃO
Atualmente, nas grandes cidades em todo o mundo, proliferam-se os vazios urbanos,
terrenos abandonados em antigas áreas industriais, nas imediações de rodovias e
ferrovias, e às margens dos principais rios. Com as mudanças de usos trazidas pela
economia e pela tecnologia, os espaços urbanos vêm constantemente sendo
reconfigurados, e essas grandes áreas, muitas vezes em localizações centrais das cidades
e próximas a bairros estruturados e adensados, abrem a possibilidade de projetos de
requalificação urbana de grande escala; no entanto, parte desses projetos têm implicado
na perda da singularidade da paisagem e da população existente, buscando se conformar

179
2
Universidade Católica de Pernambuco

a um padrão urbano global, marcado por espaços públicos permeados de elementos


icônicos, grandes edifícios comerciais, e espaços verdes que, acima de tudo, servem
para construir a imagem da cidade sustentável e moderna. Nesse contexto, o projeto
paisagístico passa a exercer um importante papel na criação de novas identidades:

No mundo que se globaliza, ainda são as paisagens, com suas diversas


características fisionômicas, que atribuem identidade específica aos
lugares. Mas essa particularidade, essa diversidade local, está em
rápida dissolução; conservar a originalidade dos sítios, dando-lhes
uma identidade contemporânea, construir o genius loci da cidade do
futuro é o grande desafio (PANZINI, 2013, p. 659-60).

Os projetos de revitalização de rios urbanos, em especial, por seu impacto na cidade –


devido à escala de intervenção quilométrica e pela possibilidade de proposição de novos
modelos de uso dos espaços – têm contribuído decisivamente para essas mudanças
urbanísticas. Nesse sentido, o presente trabalho propõe-se a estudar dois casos
emblemáticos: o projeto para o rio Manzanares, em Madri (2007-2011) e para o rio Los
Angeles (2007-), assim como as suas estratégias e implicações espaciais, políticas e
socioeconômicas. Os dois projetos configuram concepções em grande parte antagônicas
de cidade, cidadania e, portanto, identidade – ainda que ambos apresentem um mesmo
objetivo geral, de reintegração do rio à paisagem urbana.
Historicamente, em todo o mundo, os rios foram elementos importantes na formação
dos conglomerados urbanos, essenciais para a sobrevivência e convivência das
populações e determinantes para a conformação da ocupação espacial. No entanto, ao
longo do século XX, essa relação de proximidade com o rio foi se perdendo; com o
chamado rodoviarismo, a prioridade dada aos veículos automotivos foi sufocando os
rios, e implicando na criação de vias expressas, canalizações, retificações e outras
grandes obras de controle e modificação dos processos fluviais. Os rios são degradados,
e também do ponto de vista cultural, passam a ser desprezados pela população.
Nos anos 1960 começam a surgir movimentos ambientalistas que culminam, na década
de 1980, nos primeiros projetos de revitalização de rios urbanos na Europa e nos
Estados Unidos; estes procuram recuperar a qualidade das águas, reintroduzir a fauna e
a flora, entre outras ações, reintegrando rios e cidades. Desde então, esses projetos vêm
se apresentando nas mais variadas escalas e locais (GORSKI, 2010, p. 106). No Brasil,
também, a recuperação de rios vem sendo cada vez mais debatida, com iniciativas pela

180
3
9º Encontro Internacional das Águas

valorização dos rios urbanos, implementação de projetos de pequena escala, até


proposições de grandes projetos em escala urbanística, mostrando como estes projetos
vem ganhando cada vez mais importância na configuração das cidades do século XXI.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa baseia-se fundamentalmente na revisão bibliográfica relacionada ao tema da
requalificação de rios urbanos: livros, artigos, teses acadêmicas e especialmente notícias
de jornais e revistas, que tendo em vista a sua implantação recente, fornecem uma noção
atualizada do andamento das obras e discussões em curso. Especial atenção foi dada ao
estudo de imagens (fotografias, desenhos, mapas) dos projetos, objetivando
complementar as informações pesquisadas; foram também produzidos novos materiais,
como tabelas e diagramas para auxiliar na comparação entre os projetos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 1 – Comparativo dos projetos


Los Angeles Revitalização do rio Los Madri Madrid Río
Angeles
25-50 anos (2007-2057) 5 anos (2007-2011) Execução
Mia Lehrer + Associates, Civitas e MRIO Arquitectos (Burgos e Autoria
Wenk Associates (escritórios locais) Garrido, Porras e La Casta, Rúbio- do
/River LA, Gehry and Partners, Álvarez-Sala – escritórios locais – e projeto
Geosyntec e OLIN (escritórios locais) West8 – escritório holandês)
Comitê de Revitalização do Rio Los Ruiz-Gallardón (prefeito de Madri) Promotor
Angeles (prefeitura de Los Angeles) e do
ONGs locais projeto
Público e privado Público e privado Financia
mento
LA River Authority (governamental), Companhia pública Madrid (1ª fase); Gestão
LA River Revitalization Corporation Companhia público-privada Madrid
(empresarial) e LA River Foundation – (2ª fase)
River LA (filantrópica)

181
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Universidade Católica de Pernambuco

Parques estações de biorretenção, pocket Parques temáticos, estacionamento Espaços


parks, sala de aula ao ar livre, subterrâneo, miniparques, campos de propostos
terraceamentos vegetados, trilhas de futebol, escalada, pistas de corrida e
caminhada e corrida, espaços de caminhada, pistas para patins e skate,
exposição de arte ao ar livre, espaços ciclovias, playgrounds, jardins com
gramados multiuso, campos de futebol, fontes, praia urbana, mirantes, deck,
anéis de caminhada e equestres, pontes. pontes.
Quiosques, restaurantes, lojas Museu, restaurantes, estufas culturais Equipam
entos e
serviços
Ônibus e metrô, ciclovias, pistas para Ônibus, plano integrado de ciclovias Mobilida
automóveis próximas às áreas de várzea, em toda a cidade, túneis subterrâneos de
passeios peatonais lindeiros ao rio e nos para automóveis, passeios peatonais Urbana
bairros próximos contínuos ao longo do rio.
Sim: está prevista a conexão de todos os Parcial: há corredores verdes com Conector
ecossistemas ripários através do eixo do vegetação autóctone, mas também biótico
rio, com possibilidade de migração por trechos sem conexão entre rio e
todo o eixo renaturalizado. vegetação, ou com vegetação apenas
ornamental (sem função
ecossistêmica)
Direta, através do contato com a água do Indireta, com o uso ornamental da Relação
rio pelos terraceamentos vegetados, para água em fontes e espelhos d’água, com a
nado, banho e canoagem. relação direta com fontes de água – água
como a praia urbana – não oriundas
do rio e direta com o rio em
atividades como canoagem, em
trechos determinados.
Fonte: Bruna Murbach de Oliveira (2017).

O projeto Madrid Río, implantado entre 2007 e 2011, é composto por uma série de
espaços abertos de usufruto público, como grandes parques temáticos, quadras, pistas de

182
5
9º Encontro Internacional das Águas

ciclismo e corrida em aproximadamente 6 km às margens do rio Manzanares,


conectando os espaços da cidade em ambas as margens do rio por meio de pontes.
A revitalização do rio associa-se à busca pelo reconhecimento de Madri como uma
cidade global, conceito fortemente ligado aos negócios empresariais e ao turismo e
conectado à ideia da imagem que a cidade vende ao mundo. Nesse contexto, a paisagem
adquire um sentido de mercadoria, característico do planejamento urbano neoliberal:

O planejamento do espaço tem cada vez mais se tornado uma


narrativa a serviço de interesses econômicos, objetivando atrair tipos
específicos de usuários (turistas, compradores, residentes influentes) e
gerar retorno econômico” (SAVAROT; TURNER, 2002, apud
CALDERON, 2013, p. 63).

O movimento para esse desenvolvimento de cidade como negócio, em Madri, é iniciado


no período tido como de maior desenvolvimento urbanístico espanhol, entre 1997 e
2007, quando diversos recursos oriundos da União Europeia (UE) passaram a ser
direcionados para reformas no espaço da cidade, antes caracterizada pela degradação do
centro, que passou, assim, a receber massivas intervenções, dentre as quais, em 2005, o
enterramento da avenida M30 – parte de um grande sistema de avenidas que margeava o
rio, fragmentando o tecido urbano. Com essa obra, foi lançado um concurso, que elegeu
o projeto Madrid Río para a criação de um grande parque linear para a cidade, sob o
discurso da criação de espaços públicos que elevariam a qualidade de vida da população
madrilena. Mas o projeto, mais do que qualquer outro, acabou por promover a imagem
de uma cidade cujo centro passa a ser espaço privilegiado do ócio e do negócio de um
novo grupo de agentes (turistas, empresários, investidores, bancários, classe alta).
Franco Panzini aponta uma importante tendência nos projetos paisagísticos
desenvolvidos a partir das últimas décadas do século XX: o embelissement, definido
como um “intenso desenho projetual como meio para construir uma nova identidade de
contextos urbanos que demandam requalificação”. (PANZINI, 2013, p. 628). Esses
projetos – dentre os quais o autor inclui o Parc Diagonal Mar (1996-2001) em
Barcelona – mostravam uma grande preocupação com os aspectos formais e de desenho
como dados fundamentais do embelezamento urbano, e não raras vezes foram
denunciados por seu caráter excludente, gentrificador e higienista. Frequentemente
tomam como inspiração projetos de embelezamento realizados no passado – como os do

183
6
Universidade Católica de Pernambuco

período barroco, ou as reformas de Haussmann na Paris do século XIX1.


O projeto Madrid Río aproxima-se dessa tendência; a ligação com o barroco – e a carga
de significados a ele associada, como a demonstração da grandiosidade e do poder do
Estado – é desdobrada em vários aspectos projetuais, com setores do parque
apresentando espécies vegetais dispostas de forma a criar desenhos bem definidos, por
meio da topiaria, em clara referência aos jardins barrocos (os quais deixavam claro o
poder humano de subjugar a paisagem na composição da forma) como nos Jardines de
Puente del Toledo. O desenho das novas pontes (como a Arganzuela) – é pensado
como um recurso de criação de novos marcos urbanos, logotechtures2, que assumem o
papel de cartões postais, impulsionando o turismo e comodificando a paisagem. Outro
aspecto a se notar é que a requalificação do rio não atingiu de fato o corpo hídrico, mas
apenas seu entorno, uma vez que a população é separada deste por meio de muros de
concreto em grande parte do percurso, não tendo contato com a água3. Percebe-se que
os aspectos funcionais e programáticos foram, de certa forma, colocados em segundo
plano em relação à essa forte carga formalista, conferindo à paisagem um caráter de
obra de arte, agregando valor aos espaços requalificados.
Com isso, foi impulsionada a especulação imobiliária, proporcionando uma elevação
dos preços dos imóveis nas proximidades; ao mesmo tempo, houve um aumento do
desemprego (passando de 6,8 % em 2005 para 18,99 % em 2012, segundo Fernández-
Guell (2014). Embora seja indiscutível que a implantação do projeto levou a um
aumento na qualidade de vida da população no entorno, contraditoriamente, parte das
camadas populares que habitavam a área acabou tendo que partir dos bairros em que
habitavam há anos, com o aumentou do custo de vida e das atividades turísticas, da
hotelaria, recreação e moda, que passam a ocupar os espaços centrais da cidade.

1
Nos projetos do paisagismo barroco do século XVIII, os grandes jardins e as paisagens altamente
modeladas, com eixos e perspectivas monumentais, realçavam a noção do poder absoluto do monarca. Já
as reformas de Haussmann (1809-1891), entre 1853 e 1870, foram responsáveis pela criação dos grandes
boulevards e por um sistema de parques e espaços verdes, destruindo estreitas ruas e casas modestas e
expulsando a classe trabalhadora das áreas centrais da cidade (PANZINI, 2013).
2
O termo é derivado da combinação entre logo (logotipo) e architecture (arquitetura), originado pelo
cartunista Will Eisner (1917-2005). Hoje, o termo foi apropriado pela crítica arquitetônica para significar
a criação de edifícios concebidos como marcas, símbolos que expressam, uma imagem publicitária.
3
A água do rio passa a ser apenas decorativa, com um limitado contato com a água, em elementos como a
“praia urbana”, constituída por fontes de água que em nada se relacionam com a do rio. Em relação ao seu
uso, destaca-se o surgimento de movimentos pela naturalização do Manzanares, como o Ecologistas en
Acción, responsável por uma campanha que pede pelo retorno das condições do rio como ecossistema
animal e vegetal e de seu uso e aproximação de fato pela população, através da canoagem, por exemplo.

184
7
9º Encontro Internacional das Águas

O sucesso do projeto, logo nos primeiros meses após sua inauguração, foi bastante
alardeado pelos jornais espanhóis e internacionais, transformando-se em atração
turística obrigatória. Entretanto, ao mesmo tempo em que, no plano da qualidade
espacial, a população aprovou as transformações, surgiram questionamentos acerca de
sua sustentabilidade socioeconômica. Quando o projeto foi iniciado a crise econômica já
começava a ruir os cofres nacionais. Mesmo assim, foi dado prosseguimento ao projeto,
em ritmo acelerado, a mando do então prefeito Alberto Ruíz-Gallardón, para que fosse
concluído antes do término de seu mandato, implicando no uso de recursos do
município, pacotes emergenciais e empréstimos da UE.
A questão econômica traz à tona questões políticas, ligadas à implantação do projeto e
sua gestão. A aceleração e continuidade das obras, o uso de recursos privados sem evitar
o endividamento dos cofres públicos permitem vislumbrar o autoritarismo por parte do
prefeito que assume, junto com financiadores do setor privado da construção, o controle
de importantes decisões de projeto, acelerando processos decisórios sem a participação
da sociedade.4 Com isso, o governante, ao mesmo tempo em que passou a ser visto
como “benfeitor” que implantou um dos mais vistosos projetos de espaços públicos do
urbanismo contemporâneo, é apontado como o grande responsável de uma dívida que
deverá ser paga por gerações de madrilenos e pelo aumento da desigualdade sócio
espacial da capital espanhola.
A redução dos cofres públicos levou ao congelamento de planos de mobilidade e
moradias, deixando inacabadas, também, outras obras de menor porte pelas empreiteiras
locais. (FERNÁNDEZ-GUELL, 2014) e fragilizando serviços de saúde, saneamento e
energia, devido aos processos de privatização. Assim, embora haja aspectos notáveis no
projeto – dentre os quais a recuperação de espécies vegetais endógenas, a criação de
parques para o lazer ativo, além do incentivo aos percursos peatonais pela cidade – é
possível questionar a quem a identidade de cidade global realmente serve, e até que
ponto, no projeto, o rio urbano volta a unificar Madri, na medida em que mais do que
um eixo vivo, realmente voltado a todos os cidadãos, o Manzanares é utilizado como
um estruturador de grandes negócios.

4
Nesse contexto é interessante destacar que em 2011 ocorreu em Madri o movimento 15M, no qual,
segundo Fernández-Guell (2014), milhares de madrilenos protestaram em importantes locais da cidade
demandando por “um sistema democrático mais participativo para prevenir a corrupção pública e
irregularidades políticas” (p. 13, tradução do inglês pela autora).

185
8
Universidade Católica de Pernambuco

Na cidade de Los Angeles, é trabalhada uma noção diferente de identidade, até certo
ponto contrária à do caso espanhol: a proposta é a de criar espaços de convívio e lazer
ao longo dos 51,5 km das margens do rio através da recuperação dos ecossistemas
originais, criação de ambientes multiuso e espaços para eventos ao ar livre, ligando as
comunidades ao longo do Los Angeles tanto por pontes e pistas de corrida quanto pelas
novas linhas de metrô e trem que devem ter o rio como eixo central.
A recuperação do rio veio como resposta a um longo processo de degradação;
canalizado pela Corporação de Engenheiros do Exército, em 1936, devido às
devastadoras enchentes ocorridas entre as décadas de 1910 e 30 (GORSKI, 2010), o rio
foi sendo gradualmente esquecido pela população, considerado um canal de rápido
escoamento de água e não mais como elemento vivo, até que movimentos ativistas na
década de 1980 começam a apontar a sua importância, promovendo eventos para a
limpeza e atividades no Los Angeles; estas foram progressivamente crescendo, até
chamarem a atenção de mais organizações, comunidades e do próprio governo
municipal, que, em 2005, criou o Comitê de Revitalização do Rio Los Angeles,
responsável pelo Plano Diretor de revitalização do rio, criado em 2007.
Pelas características do projeto, é possível aproximar o caso de Los Angeles à tendência
paisagística de projetos de ecogênese, também enunciada por Panzini (2013, p. 639)
como a “recriação de uma paisagem natural em ambientes transformados pelas
atividades humanas”5. As escolhas formais e de desenho são guiadas pela meta de
transformar o rio e suas margens em um corredor biótico, eixo central que se conecta às
demais áreas verdes da cidade, permitindo a expansão da fauna e da flora e a mobilidade
urbana. Tem como ponto central a proposta de um planejamento de longo prazo aliado à
implantação das chamadas infraestruturas verdes em todos os segmentos do rio (e
também nos bairros próximos, criando o conceito de “bairros verdes”). Essas
infraestruturas, segundo Herzog (2013), são multifuncionais, integrando natureza e meio
urbano para a criação de um ecossistema urbano saudável, em substituição às
tradicionais infraestruturas cinzas. No caso de Los Angeles, estão sendo empregadas
para reter as águas das chuvas no período de cheia nas chamadas wetlands (áreas

5
O conceito de ecogênese foi cunhado pelo paisagista brasileiro Fernando Magalhães Chacel (1931-
2011), como a regeneração ecológica em conjunto com o meio urbano e cultural da paisagem e aplicada
em seus projetos pioneiros no Rio de Janeiro, como o parque da Gleba E (1986-1990), onde o paisagista
propôs, integrada aos jardins, a re-criação das zonas de manguezal e restinga.

186
9
9º Encontro Internacional das Águas

alagáveis) ao longo das margens, que podem ser utilizadas pela população para lazer na
estiagem; além disso, planejam-se, ao longo do rio, e nos bairros próximos, estruturas
de bio-infiltração das águas das chuvas, com o uso de biovaletas – estruturas permeáveis
nas calçadas, que se utilizam da vegetação e de estratégias construtivas simples para
conter o transbordo e limpar a água que chegará ao rio (LOS ANGELES, 2007).
O projeto prevê a recuperação plena e gradual dos ecossistemas, com a reinserção da
fauna e flora autóctones e o retorno de suas condições de crescimento natural; é
utilizada vegetação rasteira e arbustiva nas margens do rio, e árvores de grande porte
nas áreas de parque e nos passeios e ruas. Quanto às águas, há a preocupação com a sua
despoluição, além de espaços desenhados em consonância com as especificidades dos
regimes de chuvas, procurando associar o uso de lazer pela população à revitalização do
rio e à busca de soluções para o problema da seca na região (com a perspectiva futura de
voltar a utilizar o rio como fonte de abastecimento).
A revitalização do Los Angeles é tida como uma ação integradora entre humano e
natureza, levando à ideia de uma nova identidade urbana – a cidade rodoviarista,
industrial e cinzenta, quer passa a ser vista como uma cidade verde, do contato com a
natureza, e do contato humano a partir da integração das comunidades existentes ao
longo do rio. Nesse sentido, a identidade proposta para Los Angeles aparenta aliar-se
mais à busca da geração de espaços públicos mais democráticos e menos gentrificadores
do que em Madri ao voltar-se para uma reconexão com o passado da cidade e com seus
cidadãos presentes, mais do que com o impulsionamento econômico que prefigura a
requalificação de espaços globais. Para isso, defende-se que seja disseminado um
“senso de pertencimento” dentre os seus habitantes (LOS ANGELES, 2007), por meio
de um processo participativo que considere, em cada etapa de implantação e em cada
região afetada pelas intervenções, as decisões dos diversos agentes envolvidos – os
profissionais do paisagismo e urbanismo, agentes governamentais, ativistas, a
população em geral e investidores6. É interessante ressaltar que o prazo total de
implantação do projeto é bastante estendido, ao longo de 25 a 50 anos, reforçando a
importância da implantação gradual, em etapas que variam de pequeno a longo prazo –
o que, aliado à participação da população nas etapas de planejamento, segundo Haffner

6
Segundo Calderon (2013) há uma crescente tendência de realização de experiências participativas no
paisagismo e no urbanismo, que podem envolver diferentes graus de participação. Há a participação
consultiva e há processos de participação efetiva em que todos têm igual poder decisório.

187
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Universidade Católica de Pernambuco

(2015), diminui as chances dos projetos de “esverdeamento” urbano se tornarem ímãs


para a especulação imobiliária e a consequente gentrificação, pois equilibram as
transformações nas esferas econômica, social e ambiental. O Plano Diretor não previa
projetos já totalmente definidos, mas sim diversas recomendações, tipologias de projeto
e medidas gerais a serem formuladas mais detalhadamente de acordo com os recursos
capitaneados em cada local e fase, considerando as decisões enunciadas nas centenas de
reuniões entre todos os agentes. Com a implantação gradual do projeto, além de não
haver o comprometimento excessivo de recursos financeiros, é possível que novas
medidas sejam propostas, de acordo com os resultados até o momento obtidos, além de
ser possível conseguir a disponibilização de novos recursos7.
É importante destacar que, em Los Angeles, a requalificação do rio vem sendo
acompanhada de uma série de planos governamentais ligados a projetos urbanísticos e
sociais diversos, como aqueles de melhoramento das áreas verdes, do estimulo ao lazer
e à cultura junto ao rio (muitas comunidades foram envolvidas em ações pela
recuperação do rio e em atividades educativas e esportivas) ou de transportes públicos,
concebendo o rio como um eixo central de mobilidade para a cidade; esses planos ligam
a disponibilização de recursos de longo prazo, assim, à própria revitalização.

CONCLUSÕES
A comparação entre os dois projetos de requalificação de rios urbanos nos permite
refletir quanto aos possíveis efeitos gerados pela busca da identidade para a cidade, seus
cidadãos e seus ecossistemas:
1. Os projetos de revitalização de rios urbanos são fundamentais para a recuperação da
qualidade das águas e da conexão dos rios com as cidades e de seus cidadãos com a
natureza; porém, há que se levar em conta qual é a identidade a eles associada, e
quais serão as consequências sócio-espaciais de sua implementação. Os projetos
aqui debatidos apresentam identidades em certa medida contrárias, um associado a
um formalismo que reforça os preceitos da cidade global, e outro priorizando a

7
É importante notar que, embora o projeto de Los Angeles apresente princípios bastante interessantes, no
que se refere à criação de uma identidade mais democrática, o projeto não está isento de contradições. Em
2015, a River LA – organização sem fins lucrativos que gerencia os projetos – contratou, sem consulta
previa aos envolvidos, o starchitect Frank Gehry para a realização de um grande projeto de revitalização
de todo o rio, gerando incertezas quanto à continuidade dos projetos previstos no Plano Diretor e o risco
de aumento da influência da especulação nas intervenções.

188
11
9º Encontro Internacional das Águas

regeneração ecológica e comunitária do rio, ainda que ambos se aproximem no


sentido da reestruturação do tecido urbano a partir dos rios revitalizados.
2. Os casos estudados demonstram que as possibilidades de processo participativo no
paisagismo, e o seu sucesso, estão diretamente ligadas à condução do projeto e de
sua implementação, devendo ser consideradas nos projetos de recuperação dos rios e
para a estruturação do tecido urbano.
3. As diferenças entre os processos rápidos de implementação, em oposição a
processos mais graduais e de longo prazo, ficam explícitas a partir da comparação
entre os dois projetos, e são fatores que contribuem para estimular (ou controlar)
processos de gentrificação e desigualdade sócio-espacial.
4. Com a reflexão sobre os projetos é possível pensar que caminho se quer estabelecer
para as futuras intervenções, já que mostram que há, à disposição dos projetistas, e
governantes e população, diferentes possibilidades de intervenção, participação e
decisões a serem tomadas e que estas culminam na definição do tipo de cidade que
se deseja criar, e para quem essa cidade efetivamente será transformada.

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Universidade Católica de Pernambuco

ROTINA PARA EXTRAÇÃO DE DADOS MORFOMÉTRICOS DE BACIA


HIDROGRÁFICA, EM SOFTWARES LIVRES

Iug Lopes1, Juliana Maria Medrado de Melo1, Clovis Manoel Carvalho Ramos²
Brauliro Gonçalves Leal2
1
Doutorando(a) em Engenharia Agrícola, Manejo de Água e Solo. UFRPE-Recife. e-mail: iuglopes@hotmail.com;
medrado.juliana@gmail.com
²Professor, UNIVASF-Juazeiro-BA, e-mail: clovis.ramos@univasf.edu.br; brauliro.leal@univasf.edu.br

RESUMO
Os procedimentos para caracterização morfofisiográfica de uma bacia inicia-se com a utilização
de informações de relevo. Em um tempo mais remoto era em formato analógico, como os mapas
e cartas, comprometendo a confiabilidade. Nos dias já predomina o uso digital imagens em
Sistemas de Informações Geográficas. O objetivo deste estudo foi elaborar uma rotina para
extração de dados morfométricos de bacia hidrográfica, em softwares livres. Foi descrito todos
os passos para a obtenção dos resultados, podendo observar os respectivos mapas gerados. Os
softwares livres Quantum GIS (QGIS) 2.8 e Terrain Análise Ucantar Digital Elevation Modelos
(TauDEM) V.5 se mostraram uma ferramenta eficiente no que diz respeito à obtenção das
características morfométricas da bacia.
Palavras-chave: QGIS; TauDEM; Relevo.

ROUTINE FOR THE EXTRACTION OF MORPHOMETRIC DATA FROM


HYDROGRAPHIC BOWL, IN FREE SOFTWARE

ABSTRACT
The procedure for the morphological characterization of a company's database use of relevant
information. At a later time it was in analog format, like maps and charts, compromising
reliability. In the days already the predominance of the use of digital images in Geographic
Information Systems. The objective of this study is to elaborate a routine for the extraction of
morphological data from the river basin, in free software. All the steps were elaborated to obtain
results, being able to observe the respective maps generated. The free softwares Quantum GIS
(QGIS) 2.8 and Terrain Analysis Ucantar Digital Elevation Models (TauDEM) V.5 have proved
to be an efficient tool that does not respect the obtaining of the morphometric characteristics of
the basin.
Key words: QGIS; TauDEM; Relief.

INTRODUÇÃO
Para Tucci (2004), a compreensão de bacia hidrográfica é de uma porção de área
topograficamente drenada por corpos d’água dinâmicos, de tal forma que todo o fluxo
seja descarregado por uma única saída. Complementando as definições, Word Vision
(2004), trata como um espaço tridimensional. Esta estrutura é caracterizada pela
interação entre a cobertura e as profundidades do solo e as áreas circundantes das linhas
divisórias das águas.

190
9º Encontro Internacional das Águas

Procedimentos para caracterização morfofisiográfica de uma bacia inicia-se com a


utilização de informações de relevo. Em um tempo mais remoto era em formato
analógico, como os mapas e cartas, comprometendo a confiabilidade. Nos dias já
predomina o uso digital de cartas cartográficas em Sistemas de Informações
Geográficas (SIG’s), gerando as formas digitais de representação do relevo, os Modelos
Digitais de Elevação (MDE’s) (CARDOSO et al., 2006).
As principais características físicas das sub-bacias hidrográficas são obtidas por meio de
uso de programas de SIG’s: área de drenagem (A) e perímetro da bacia (P), coeficiente
de compacidade (Kc), fator de forma (Kf), hierarquização dos cursos d’água, densidade
de drenagem (Dd), densidade de confluências (Dc) e declividade média da bacia (s).
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi elaborar uma rotina para extração de dados
morfométricos de bacia hidrográfica, em softwares livres, que permita caracterizar uma bacia.
Sendo aplicada a uma imagem SRTM quem abrange a Bacia Hidrográfica do Rio Pontal.

MATERIAL E MÉTODOS
A área estudada, a exemplo de modelo, foi a que compreende a Bacia Hidrográfica do
Rio Pontal. Obteve-se os dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) junto à
United States Geological Survey (USGS), com informações originais disponíveis para a
América do Sul referentes a banda C do equipamento InSAR, apresentando resolução
espacial de 30 m. As cartas utilizadas foram a SC-24-V-A e a SC-24-V-B de dados da
SRTM (Figura 1), que corresponde a um mosaico para área estudada.

Figura 1 - Mapa de dados SRTM da área do estudo

191
Universidade Católica de Pernambuco

Para a extração das redes de drenagem o Modelo Digital de Elevação (MDE) passou
pelos tratamentos descritos abaixo com o auxílio dos Softwares livres Quantum GIS
(QGIS) 2.8 e Terrain Análise Ucantar Digital Elevation Modelos (TauDEM) V.5, que é
composta pelas ferramentas para a extração e análise de informações hidrológicas de
topografia.
Inicialmente para eliminar os pixels sem valores de elevação foi utilizado a ferramenta
"Pit Remove", originando um novo MDE. A partir de então, com o auxílio das
ferramentas "D8 Flow Directions" foi possível gerar os mapas no formato GRID
contendo as informações de direções de fluxo e declividade (slope).
Para a composição do mapa da área de contribuição de fluxo utilizou-se da ferramenta
"D8 Contributing Area" e do mapa de fluxo de direção. Com o auxílio do ponto
exutório permite as primeiras caracterizações da bacia.
A definição dos corpos hídricos passou por um reajuste do limiar que se refere ao
número mínimo de células do terreno necessárias para gerar pixels da drenagem, através
da ferramenta "Stream Definition by Threshold", assim permitiu a extração do fluxo e
das drenagens. Rennó et al. (2008) estudando a variação do limiar observou que índice
para verificação hidrológica acima do limiar de 300 foi o mais indicado. Assim para
este estudo foi adotado também o valor de limiar indicado por Rennó et al. (2008) na
extração do fluxo de drenagem.
Diante do reajuste do limar, obteve-se a hierarquia dos rios, as sub-bacias e a rede de
drenagem com o auxílio da ferramenta "Stream Reach and Watershed". O método
utilizado para demarcação automática dos limites da Bacia Hidrográfica do Rio do
Pontal foi de acordo com classificação da hierarquização fluvial proposta por Strahler
(1957). Assim finalizou a etapa de geração de mapas e iniciou a caracterização da bacia
e sub-bacias, que ocorreu utilizando recursos do SIG e as Equações da Tabela 1.
A caracterização foi realizada através de cálculos dos parâmetros físicos que relacionam
as principais medidas da bacia por área de drenagem, perímetro da bacia, coeficiente de
compacidade, fator de forma, razão de elongação e índice de circularidade.
Para as características da hidrografia, que relacionam as principais medidas da rede
hidrográfica da bacia, foi determinado o ordenamento dos canais por hierarquia segundo
Strahler (1957), a densidade de drenagem, a densidade hidrográfica, a sinuosidade do

192
9º Encontro Internacional das Águas

curso principal, o índice de sinuosidade, o perfil longitudinal e a declividade de álveo


(S1, S2, S3 e S4).

Parâmetro Descrição Equação Fonte

Fator de formaF (Kf) Relação entre a área da Kf = A/L² Horton


bacia (A) e o (m²/m) (1945)
comprimento do eixo da
bacia (L).

Coeficiente de Relação entre o Kc=0,28(P/√A) Lima (1969)


F
compacidade (Kc) perímetro (P) da bacia e a (m/m²)
área da bacia (A).

Índice de Relação entre a área da IC = 12,57 Miller


circularidadeF (IC) bacia (A) e o perímetro (A/P2) (1953)
(P) da bacia.

Densidade de Relação entre o Dd = Cr /A Horton


drenagemF (Dd) comprimento da rede de (km/km²) (1945)
drenagem (Cr) e a área
da bacia (A).

Razão de elongaçãoF Relação entre índices pré Re = Schumm


(Re) determinados, a área da 1,128[(A0,2)/L)] (1963)
bacia (A) e o
comprimento do eixo da
bacia (L).

Densidade Relação entre o número Dh = Nt/A Christofoletti


hidrográficaH (Dh) de segmentos de rios (Nt) (km-²) (1969)
e a área da bacia (A).

Razão de texturaH Relação entre o número T = Nt/P França


(T) de segmentos de rios (Nt) (km-1) (1968)
e o perímetro da bacia Smith (1950)
(P).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente para a obtenção de parâmetros que caracterizem as bacias hidrográficas
através do SRTM, realizou-se a remoção de pixels que não possuíam valores através da

193
Universidade Católica de Pernambuco

ferramenta Pit Remove. Dessa forma obteve-se um outro arquivo do Modelo Digital de
Elevação (MDE), em raster, que pode ser visualizado na Figura 2.

Figura 2 - Mapa Digital de Elevação (MDE)

Com a ferramenta Pit Remove certifica-se de que não ocorrerá nenhum erro por
incoerência de valores de altimetria. Dessa forma, com a ferramenta D8 Flow
Directions, obteve-se informações de direções de fluxo em cada pixel e permitiu a
construção do mapa digital de declividade (MDD) para a imagem (Figura 3).

Figura 3 - Mapa Digital de Declividade (MDD)

194
9º Encontro Internacional das Águas

Com a obtenção dessas duas figuras como resultado, permite a observação do


comportamento espacial da altitude, através do modelo digital de elevação (MDE), e da
declividade, pelo modelo digital de declividades (MDD).
A partir do MDD, obteve-se a composição do mapa da área de contribuição de fluxo.
Essa etapa é obtida para a totalidade da imagem inicial, não específica para bacia
hidrográfica. É nessa etapa que se inicia a delimitação topográfica de bacias e sub-
bacias como pode ser observado na Figura 4.

Figura 4 - Mapa da área de contribuição de fluxo

Com a origem deste mapa de contribuição de fluxo e de um ponto exutório (incluído em


um shape do tipo ponto) da bacia obteve-se a área de contribuição através da ferramenta
D8 Contributing Area, corresponde aos limites da bacia hidrográfica, permitindo a
primeira visualização da rede de drenagem (Figura 5).

195
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 5 - Mapa da delimitação da bacia e primeira obtenção dos corpos hídricos

Com todos os mapas apresentados acima e a ferramenta Stream Reach and Watershed
obteve-se o mapa final (Figura 6) e os valores dos componentes.
Figura 6 - Delimitação e representação dos corpos hídricos da Bacia Hidrográfica do
Rio Pontal

Os índices originários da caracterização geométrica da bacia são apresentados na Tabela


2. Segundo Tucci (2009) uma característica de fundamental importância na definição da
sua potencialidade hídrica e hidrológica é a área da bacia, sendo que quanto maior a

196
9º Encontro Internacional das Águas

área, menor a tendência de ocorrer picos de enchentes, devido ao tempo de escoamento


para toda a bacia.

Tabela 2 - Índices morfométricos de classificação geométrica da Bacia Hidrográfica do


Rio da Pontal, em Pernambuco
Características geométricas Valor
Área de drenagem (A) 6046,23 km²
Perímetro (P) 484,82 km
Comprimento do eixo (L) 121,08 km
Coeficiente de compacidade (Kc) 1,74 m/m²
Fator de forma (Kf) 0,41 m/m
Razão de elongação (Re) 0,72
Densidade de drenagem (Dd) 0,42 km km-²
Densidade Hidrográfica (Dh) 0,22 und km-²
Índice de circularidade (IC) 0,32
Razão de textura (T) 2,76 km-1

Os índices Kc, Ic, Kf e Dd calculados indicam que a área da bacia possui uma baixa
tendência a enchentes. Abaixa diferença entre os valores de altimetria, possibilita o
favorecimento do escoamento mais lento.

CONCLUSÃO
1. Os softwares livres Quantum GIS (QGIS) 2.8 e Terrain Análise Ucantar Digital
Elevation Modelos (TauDEM) V.5 se mostraram uma ferramenta eficiente no
que diz respeito à obtenção das características morfométricas da bacia, de uma
forma simples e automatizada, podendo auxiliar na gestão e no gerenciamento
dos recursos hídricos. A razão pela qual se mostra uma alternativa prática e
viável é minimização custos e tempo, usando apenas dados SRTM e softwares
livres.

197
Universidade Católica de Pernambuco

2. A bacia utilizada como exemplo possui uma baixa tendência a enchentes devido
a pequena amplitude nos valores de altimetria e reduzidos valores de declividade
que possibilita o favorecimento do escoamento mais lento.

AGRADECIMENTOS

À CAPES pela concessão da bolsa ao primeiro autor.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, C. A. Caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do rio Debossan,


Nova Friburgo, RJ. Revista Árvore, v. 30, n. 2, p. 241-248, 2006.

CHRISTOFOLETTI, A. Análise morfométrica das bacias hidrográficas. Notícia


Geomorfologia, v.18, n.9, p.35-64, 1969.

FRANÇA, G. V. Interpretação fotográfica de bacias e de redes de drenagem


aplicadas a solos da região de Piracicaba. 1968, 15lp. Tese (Doutorado) – Escola
Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo.

HORTON R. E. Erosional development of streams and their drainage basins:


hydrophysical approach to quantitative morphology. Bull Geol Soc Amer, v. 5 p. 275–
370, 1945.

LIMA, W. P. Manejo de Bacias Hidrográficas. Piracicaba: ESALQ. 1969. 242 p.

MILLER, V. C. A quatitative geomorphic study of drainage basins characteristic in the


Clinch Mountain area. Dept. Geology, Columbia University. Technical Report, n.3,
1953.

RENNÓ, C. D.; NOBRE, A. D.; CUARTAS, L. A.; SOARES, J. V.; HODNETT, M.


G.; TOMASELLA, J.; WATERLOO, M. J. H. A new terrain descriptor using SRTM-
DEM: Mapping terra-firme rainforest environments in Amazonia. Remote Sensing of
Environment, v.112, p.3469-3481, 2008.

198
9º Encontro Internacional das Águas

STRAHLER, A. N. Quantitative analysis of watershed geomorphology. American


Geophysical Union v. 38, n. 6, p. 913-920, 1957.

SCHMUM, S.A. Sinuosity of alluvial rivers on the great plains. Geological Society of
America Bulletin. v. 74, n. 9, p. 1089-1100, 1963.

TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. 4.ed. Porto Alegre: UFRGS/ABRH,


2009. 943p.

WORD VISION. Manual de Manejo de Cuencas. 2. ed. Coordinador General:


Ing.Carlos Gómez. Visión Mundial El Salvador. San Salvador. 2004. 154p.

199
Universidade Católica de Pernambuco

DIAGNÓSTICO GEOESPACIAL DOS PASSIVOS AMBIENTAIS


NA CALHA URBANA DO RIO TEJIPIÓ

Otávio Wesley Faustino da Silva1, Marina Gomes Gabriel1,


Wamberto Raimundo da Silva Júnior1, Inaldo José Minervino da Silva1
1
Departamento Acadêmico de Infraestrutura e Construção Civil – Instituto Federal de Pernambuco – Campus Recife. Av. Prof. Luís
Freire, 500 - Cidade Universitária, Recife - PE, 50740-540. E-mail: wambertojunior@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo, georreferenciar, localizar e analisar pontos de passivos
ambientais recentes em áreas de vegetação de mangue no baixo curso do rio Tejipió, além de
apresentar as principais estações de tratamento de efluentes, próximas à bacia do rio Tejipió.
Através do desenvolvimento deste trabalho foi possível identificar de forma espacial, os
principais passivos ambientais na bacia do rio Tejipió. A calha urbana do rio apresenta elevadas
concentrações de resíduos sólidos e ocupações irregulares de comunidade, bem como baixa
cobertura de sistema de esgotamento sanitário na área de influência da bacia. Adicionalmente,
foi possível fornecer informações ambientais que subsidie o poder público na tomada de decisão
tencionado a adoção de ações corretivas, investimentos em pesquisa e mudanças no padrão de
uso e ocupação do solo na área de influência do rio Tejipió.
Palavras-chave: Rio Tejipió; Diagnóstico; Georeferenciamento.

INTRODUÇÃO
A origem do Recife remonta à terceira década do Século XVI, quando era uma estreita
faixa de areia protegida por uma linha de arrecifes que formava um ancoradouro. Por se
tratar de região portuária, a atividade comercial desenvolveu-se rapidamente
impulsionando o crescimento do povoado. E, em 1537, a constituição da Vila do Recife
é registrada. No século XVII, com o desenvolvimento econômico da colônia, o porto
prosperou favorecendo a expansão da vila que toma forma de cidade. A atividade
açucareira também cresceu e as margens dos cursos d´água passaram a serem ocupadas
por engenhos e casebres, enquanto os rios tornaram-se caminhos navegáveis para
transporte dos produtos (IBGE, 2014). A cidade do Recife é conhecida como “Veneza
Brasileira” devido à grande quantidade de Rios que existe na cidade. O Recife é a
capital e o núcleo metropolitano do Estado de Pernambuco, situada na costa Oriental da
América do Sul, na Região Nordeste Brasileiro.
Por muito tempo, a sociedade ficou alheia ao uso indiscriminado de recursos e à
degradação do ambiente, decorrente dos mecanismos de produção que vêm ao longo do
tempo comprometendo a qualidade de vida e à exaustão dos recursos naturais.

200
9º Encontro Internacional das Águas

Apesar de a aparente responsabilidade ser exclusivamente do meio empresarial, tais


questões vão muito além de um segmento específico. A sociedade civil organizada,
entidades filantrópicas, ONGs, consumidores e a população em geral, têm um
importante papel na proteção do ambiente, atuando como agentes ativos na fiscalização
e atuação. Por outro lado, o Estado, em suas diversas esferas de poder, exerce papel
fundamental mediante a elaboração de leis e políticas governamentais voltadas para a
preservação e conservação do meio-ambiente e da implantação de instrumentos
coercitivos e fiscalizadores.
Considerando a premissa de fornecer subsídios técnicos para os tomadores de decisão
no contexto da revitalização urbana, este trabalho tem como objetivo, georreferenciar,
localizar e analisar pontos de passivos ambientais recente em áreas de vegetação de
mangue no baixo curso do rio Tejipió, além de apresentar as principais estações de
tratamento de efluentes, próximas à sua bacia. Outrossim, os manguezais (Vegetação
predominante à margem do rio Tejipió) são ecossistemas de suma importância
ecológica, recicla o nitrogênio, as substâncias poluidoras retêm os nutrientes (CPRH,
1999), e sedimentos, protegendo a linha de costa da erosão. Tais funções são
prejudicadas pelo desmatamento e ocupação desordenada e predatória sobre este
ecossistema.

METODOLOGIA

1 Área de Estudo
O rio Tejipió em conjunto com as áreas de drenagem dos rios Jordão/Setúbal e Jiquiá,
drenam uma área de 93, 2 km² (FEITOSA, 1988), e está localizada na Região
Metropolitana do Recife. Drena parte dos municípios de Jaboatão dos Guararapes e São
Lourenço da Mata. Banha cerca de 67,6 km² do município do Recife (Figura 1).

201
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 1 – Bacia do Rio Tejipió

Fonte: CPRH (2010).

O rio Tejipió possui uma extensão de 20 km e têm como principal afluente o rio Jiquiá,
localizado totalmente na cidade do Recife; juntos drenam quase toda zona urbanizada
situada no setor oeste da cidade do Recife (NASCIMENTO, 2001). E compreende 24
bairros, entre eles, Afogados, Imbiribeira, Jardim Brasil, Caçote, Jiquiá, Estância,
Tejipió. Os rios Tejipió, Jiquiá, Jordão, Pina e braço Sul do rio Capibaribe, em suas
confluências formam a Bacia do Pina, ou “Estuário Comum do Recife” (PCR, 2000).
O ambiente geológico do Recife é constituído por domínios de rochas cristalinas de
Idade Pré-cambriana, domínio de rochas sedimentares de Idade do Cretáceo e domínio
dos sedimentos de cobertura. Os sedimentos de coberturas, recobrem as rochas
cristalinas e sedimentares, e fazem parte grupo da Formação Barreiras, que constituem,
a maioria dos morros da cidade do Recife, de Idade do Terciário; e os sedimentos
inconsolidados de idade do Quaternário, que formam à planície da cidade (PCR, 2000).

202
9º Encontro Internacional das Águas

2 Levantamento dos Passivos Ambientais

Para o estudo foram distribuídos 10 pontos nas margens do baixo curso dos rios Tejipió
e Jiquiá, a partir da ponte da Av. Recife, subindo o rio Tejipió, até as imediações da
Lagoa do Araçá, atravessando os Bairros da Imbiribeira/Vila Pinheiros.
Na Figura 2 é possível observar que em seu baixo curso, a bacia do rio Tejipió é
formada por uma planície costeira, constituída por depósitos recentes de aluviões e
mangue. Outrossim, nos últimos anos o rio apresenta vários passivos ambientais dentre
os quais pode-se citar, uma ocupação irregular de suas margens, grande quantidade de
lixo em seu leito, lançamento de efluentes industriais e domésticos sem o devido
tratamento e a devastação da mata ciliar do rio.

Figura 2 - Georreferenciamento do baixo curso do Rio Tejipió

Fonte: Próprio Autor (2017).

Para o levantamento dos passivos ambientais na calha urbana do rio Tejipió foram
utilizadas imagens de satélite e documentos técnicos. Adicionalmente, foi realizada
visita in loco onde os pontos foram georreferenciados com auxílio de um rastreador
GPS modelo 76CSX Garmim de alguns pontos de interesse da pesquisa e ainda

203
Universidade Católica de Pernambuco

registradas imagens fotográficas dos passivos ambientais durante o mês de março de


2017. Após a coleta foi utilizado o software Qgis desktop – 2012, para a geração dos
mapas, utilizando o Datum SIRGAS 2000. Também foram realizados o levantamento
das estações de tratamento de efluentes próximas ao rio, com o intuito de saber quais
áreas ainda não tem os esgotos coletados e tratados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 3 apresenta uma síntese do levantamento dos passivos ambientais


identificados na pesquisa. O despejo de resíduos sólidos na área de influência da bacia
hidrográfica é um grande problema de saúde pública; além disso provoca assoreamento
da calha principal (potencializando as inundações urbanas) e poluição hídrica pela
geração de chorume através da decomposição anaeróbia do resíduo. Também observa-
se a presença de ocupações irregulares (comunidade “EMLURB”, Dance Days, e Vila
de São Miguel) e lançamentos de esgotos in natura.

Figura 3 - Principais passivos ambientais encontrados no rio Tejipió

Fonte: Próprio Autor (2017).

204
9º Encontro Internacional das Águas

Em estudo realizado por Freitas Filho (2011) foi constatado que a bacia hidrográfica do
rio Tejipió predomina um alto grau de urbanização (67,4 %), o que corresponde a 63,11
km², seguido da ocupação da mata, uma área de preservação, que corresponde a 22,5 %
da bacia.
Na Figura 4 é possível identificar as áreas com implantação de sistema de esgotamento
sanitário de influência direta no rio Tejipió.

Figura 4 – Sistemas de esgotamento sanitários próximos ao Rio Tejipió

SES – Cabanga
SES – Magueira
SES- Cardeal

Baixo Curso – Rio Tejipió


Fonte: Próprio Autor (2017).

CONCLUSÃO

1. Através do desenvolvimento deste trabalho foi possível identificar de forma


espacial, os principais passivos ambientais na bacia do rio Tejipió.
2. A calha urbana do rio Tejipió apresenta elevadas concentrações de resíduos
sólidos e ocupações irregulares de comunidades.
3. Também foi possível identificar bem como baixa cobertura de sistema de
esgotamento sanitário na área de influência da bacia.

205
Universidade Católica de Pernambuco

4. Adicionalmente, foi possível fornecer informações ambientais que subsidie o


poder público na tomada de decisão tencionado a adoção de ações corretivas,
investimentos em pesquisa e mudanças no padrão de uso e ocupação do solo na
área de influência do rio Tejipió.

REFERÊNCIAS
COMPESA. Companhia Pernambucana de Saneamento do Estado de Pernambuco.
Governo do Estado de Pernambuco. Plano Diretor de Recursos Hídricos da Região
Metropolitana do Recife. Recife, 1982.
CPRH. Companhia Pernambucana de Controle da Poluição Ambiental e Administração
de Recursos Hídricos; Governo do Estado de Pernambuco; SEMAC, Secretaria de Meio
Ambiente e Defesa do Consumidor. Alternativas de uso e proteção dos manguezais
do Nordeste. Recife, 1999.
FREITAS FILHO, J. S. Análise de problemas de drenagem da bacia do rio Tejipió
com o uso de modelos computacionais. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil) – Universidade Federal de Pernambuco, 2011.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Geografia do Brasil – Região
Nordeste. Recife, 2014.
NASCIMENTO, F. C. R. Aspectos ecológicos da comunidade fitoplanctônica da
bacia do Pina associados com alguns parâmetros abióticos (climatológicos e
hidrológicos). Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Tecnologia e
Geociências, Departamento de Oceanografia. (Dissertação de Mestrado), Recife, 2001.
PCR. Prefeitura de Cidade do Recife. Atlas ambiental da cidade do Recife. Secretaria
de Planejamento Urbanismo e Meio Ambiente. Recife, 2000. 151p.

206
9º Encontro Internacional das Águas

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ1

Junior Ruiz Garcia2, Bruno César Brito Miyamoto3, Alexandre Gori Maia4
1
Desenvolvido no Projeto “Abordagem simultânea e inter-relacionada das dimensões de sustentabilidade para a melhoria da gestão
de recursos hídricos: o caso da bacia do Rio Jundiaí”, 2016-2021, financiado pelo Programa de Apoio à Pós-graduação e à Pesquisa
Científica e Tecnológica em Desenvolvimento Socioeconômico no Brasil (PGPSE) da Capes, edital n. 42/2014.
2
Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Avenida Prefeito Lothário Meissner, 632 -
térreo - Jardim Botânico - 80210-170 - Curitiba/PR, jrgarcia1989@gmail.com, bolsista produtividade em pesquisa do CNPq, nível
2, autor correspondente.
3
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), e-mail miyamototup@gmail.com, bolsista Capes.
4
Professor do Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental (NEA) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Rua
Pitágoras, 353 – 13083-857 – Campinas/SP, e-mail gori@unicamp.br, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, nível 2.

RESUMO
As mudanças climáticas globais podem aumentar a variabilidade associada à duração, à
intensidade e ao local de ocorrência de eventos extremos de precipitação. Neste cenário, a
gestão dos recursos hídricos torna-se cada vez mais dependente da compreensão dos efeitos
locais desses fenômenos. Ao mesmo tempo em que municípios de São Paulo enfrentam
recorrentemente problemas de enchentes em áreas urbanas, em 2014 o estado passou por uma
das secas mais intensas já registradas, o que afetou a disponibilidade hídrica. Neste contexto, o
objetivo principal é avaliar como a Bacia do Rio Jundiaí, que contempla um dos principais polos
econômicos do estado de São Paulo, tem sofrido com a ocorrência de eventos extremos de
precipitação. Para cumprir este objetivo, dados de precipitação correspondente ao período 1961-
2014 foram utilizados para calcular o Standardized Precipitation Index (SPI). Os resultados
mostram: i) aumento do volume de precipitação nos últimos anos, com exceção de 2014; ii)
concentração de anos extremamente chuvosos entre 2009 e 2012; iii) tendência de aumento da
ocorrência de eventos de excesso de precipitação no longo prazo com base nas análises do SPI.
Palavras-chave: Mudanças climáticas locais; Standardized Precipitation Index; Secas;
Enchentes; Inundações.

INTRODUÇÃO
Em um contexto de agravamento da ocorrência de eventos climáticos extremos, a
discussão dos efeitos climáticos na escala local se torna fundamental para definir
políticas ambientais e a gestão dos recursos hídricos. O Relatório do IPPC –
Intergovernmental Panel on Climate Change – AR5 (2015) apresenta evidências sobre
a ocorrência de eventos extremos, especialmente nos países menos desenvolvidos de
clima tropical. O AR5 destaca que (IPCC, 2015, p. 53), “mudanças extremas no clima e
eventos climáticos extremos têm sido observados desde a década de 1950”. Segundo
Marengo (2008, p. 86), “O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais e mais
ainda às que se projetam para o futuro, especialmente quanto aos eventos climáticos
extremos”.
As áreas urbanizadas têm sofrido com as secas, o aumento da temperatura média e a
intensidade das precipitações. No estado São Paulo, que já sofre historicamente com

207
Universidade Católica de Pernambuco

inundações nos centros metropolitanos, observou uma das maiores secas em 2014.
Desse modo, a identificação da ocorrência de eventos extremos de precipitação (EEP)
em áreas urbanas pode subsidiar as ações para aprimorar a gestão ambiental. Assim, o
problema de pesquisa abordado é em que medida a Bacia do Rio Jundiaí (BRJ), que
contempla um dos principais polos econômicos do estado de São Paulo, tem sofrido
com a ocorrência de EEP? A bacia é de particular interesse por formar parte do território
do Comitê das bacias do PCJ – Piracicaba, Capivari e Jundiaí –, considerado o mais
organizado e eficiente do Brasil. Apesar disso, a disponibilidade da água continua sendo
um fator limitante para o desenvolvimento econômico local. A hipótese de trabalho é de
que os EEP estariam se intensificando na BRJ, exigindo a urgência de políticas
ambientais que levem em conta este cenário. Para verificar a validade da hipótese, foi
estimado o Standardized Precipitation Index (SPI) para a BRJ com o objetivo de
identificar a ocorrência e a intensidade dos eventos extremos de precipitação entre 1961
e 2014.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
A área de estudo é a Bacia do Rio Jundiaí (BRJ), estado de São Paulo (
Figura 1).

Figura 1 – Bacia Hidrográfica do Rio Jundiaí

Fonte: preparado pelos autores com base em DataGEO (2017) e IBGE (2017a).

208
9º Encontro Internacional das Águas

A área da BRJ foi estimada em 118 mil hectares, que inclui territórios totais ou parciais
de 11 municípios1, 1,3 milhão de pessoas em 2010, densidade demográfica de 800
hab./km2 e taxa de urbanização de 96,7 % (IBGE, 2017b)2. A BRJ é uma das regiões
econômicas mais importantes de São Paulo, com destaque para o seu parque industrial,
e que ainda apresenta um ritmo intenso de crescimento demográfico.

Standardized Precipitation Index (SPI)


O SPI foi elaborado em 1993 para auxiliar na quantificação e no monitoramento de
eventos de secas (McKee et al., 1993), mas também tem sido usado para eventos
relacionados ao excesso de precipitação (Seiler et al., 2012). Um aspecto positivo do
SPI é o uso apenas de dados de precipitação. Contudo, recomenda-se o uso de séries
históricas com valores mensais superiores a 20 ou 30 anos, se possível, que as séries
tenham 50 ou 60 anos (WMO, 2012).
As séries históricas devem ser ajustadas a uma distribuição de probabilidade. A mais
usada é a Gama. Para auxiliar na interpretação dos resultados, transforma-se a série em
uma distribuição normal, assim, o SPI para uma localidade terá média zero (Shah et al.,
2015). O cálculo da função densidade de probabilidade para a distribuição Gama é:
1 −𝑥𝑥⁄𝛽𝛽
𝑔𝑔(𝑥𝑥) =
𝛽𝛽 𝛼𝛼 𝛤𝛤(𝛼𝛼)
𝑥𝑥 𝛼𝛼−1 𝑒𝑒 (1)

Onde α > 0 é o parâmetro de forma, β > 0 o parâmetro escalar e x > 0 o volume


de precipitação.

A função Gama – Γ(α) – é dada por: 𝛤𝛤(𝛼𝛼) = ∫0 𝑦𝑦 𝛼𝛼−1 𝑒𝑒 −𝑦𝑦 𝑑𝑑𝑑𝑑 (2)
Onde os parâmetros α e β são estimados para cada uma das localidades ou
estação pluviométrica e para todos os meses do ano conforme:
1 4𝐴𝐴 ∑ 𝑙𝑙𝑙𝑙(𝑥𝑥)
𝛼𝛼 = 4𝐴𝐴 (1 + √1 + 3
) , 𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜 𝐴𝐴 = 𝑙𝑙𝑙𝑙(𝑥𝑥̅ ) − (3)
𝑛𝑛

𝑥𝑥̅
𝛽𝛽 = 𝛼𝛼 (4)

1
Os municípios com território total são: Cabreúva; Campo Limpo Paulista; Indaiatuba; Itupeva; Jundiaí;
Salto; Várzea Paulista. Os municípios com território parcial e com a sede fora da BRJ são: Itu; Mairiporã;
Atibaia; Jarinu.
2
A análise demográfica é centrada apenas nos municípios com sede na BRJ, porque a baixa população
rural em todos os municípios indica que a população dos municípios com sede fora da área d BHRJ é
pequena.

209
Universidade Católica de Pernambuco

Onde n é o número de observações.


Os parâmetros α e β são usados na integração da função de probabilidade g(x) em
relação a x, cujo resultado é a probabilidade cumulativa de precipitação G(x) para um
𝑥𝑥 1 𝑥𝑥 −𝑥𝑥⁄𝛽𝛽
determinado mês: 𝐺𝐺(𝑥𝑥) = ∫0 𝑔𝑔(𝑥𝑥)𝑑𝑑𝑑𝑑 = 𝛽𝛽𝛼𝛼 ∫ 𝑥𝑥 𝛼𝛼−1 𝑒𝑒
𝛤𝛤(𝛼𝛼) 0
𝑑𝑑𝑑𝑑 (5)

Considerando t = x/β a (5) se torna a função Gama incompleta:


1 𝑥𝑥
𝐺𝐺(𝑥𝑥) = 𝛤𝛤(𝛼𝛼) ∫0 𝑡𝑡 𝛼𝛼−1 𝑒𝑒 −𝑡𝑡 𝑑𝑑𝑑𝑑 (6)

A Função Gama não é definida para x = 0, pois os valores de precipitação podem


apresentar valores nulos. Desse modo, a função de probabilidade é redefinida para:
𝐻𝐻(𝑥𝑥) = 𝑞𝑞 + (1 − 𝑞𝑞)𝐺𝐺(𝑥𝑥) (7)
Onde q representa a probabilidade de que a precipitação tenha valor zero.
Por último, H(x) é transformada em uma variável padrão Z, a qual corresponde ao valor
do SPI:
𝑐𝑐 +𝑐𝑐 𝑡𝑡+𝑐𝑐2 𝑡𝑡 2
𝑍𝑍 = 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆 = − (𝑡𝑡 − 1+𝑑𝑑0 +𝑑𝑑1 2 +𝑑𝑑 𝑡𝑡 3
) 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 0 < 𝐻𝐻(𝑥𝑥) ≤ 0,5 (8)
1 2 𝑡𝑡 3

𝑐𝑐 +𝑐𝑐 𝑡𝑡+𝑐𝑐2 𝑡𝑡 2
𝑍𝑍 = 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆 = + (𝑡𝑡 − 1+𝑑𝑑0 +𝑑𝑑1 2 +𝑑𝑑 𝑡𝑡 3 ) 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 0,5 < 𝐻𝐻(𝑥𝑥) ≤ 1 (9)
1 2 𝑡𝑡 3

Onde:
1
𝑡𝑡 = √𝑙𝑙𝑙𝑙 (𝐻𝐻(𝑥𝑥)2 ) 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 0 < 𝐻𝐻(𝑥𝑥) ≤ 0,5 (10)

1
𝑡𝑡 = √𝑙𝑙𝑙𝑙 (1−𝐻𝐻(𝑥𝑥)2 ) 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 0,5 < 𝐻𝐻(𝑥𝑥) ≤ 1 (11)

E os valores das constantes são: c0 = 2,515517; c1 = 0,802853; c2 = 0,010328; d1 =


1,432788; d2 = 0,189269; d3 = 0,001308 (Bordi et al., 2001).
O SPI é interpretado com base no sistema de classificação (
Quadro 1).

Quadro 1 – Sistema de Classificação dos Valores do SPI


Intervalos do SPI Interpretação
De 2 ou mais Extremamente chuvoso
De 1,5 a 1,99 Muito chuvoso
De 1,0 a 1,49 Moderadamente chuvoso
De -0,99 a +0,99 Próximo ao normal
De -1,0 a -1,49 Moderadamente seco
De -1,5 a -1,99 Severamente seco
De -2 ou menos Extremamente seco

210
9º Encontro Internacional das Águas

Fonte: preparado pelos autores com base em McKee et al. (1993).

Os eventos extremos, excesso de precipitação ou seca, são verificados quando o SPI


apresentar valores iguais ou superiores 2 em módulo. O SPI também pode ser usado
para identificar EEP em diferentes escalas de tempo: de 1 a 2 meses secas
meteorológicos; de 1 a 6 meses secas agrícolas; de 6 a 24 meses secas mais severas
(WMO, 2012). Este estudo analisa o SPI 6, SPI 12 e SPI 24 para identificar eventos
extremos de média e longa duração. O cálculo do SPI usou o Pacote SCI do Software R
(Stagee et al., 2016).
Por fim, a avaliação de tendência nas séries históricas de SPI usou o teste de Mann-
Kendall modificado (GROUP, 2012). É um teste não paramétrico usado para detectar
tendências monotônicas lineares e não-lineares em séries históricas aucorrelacionadas3.

Base de dados
Os dados diários de precipitação foram obtidos da rede da Agência Nacional de Águas
(ANA), via HidroWeb, de 1961 a 2015. O tratamento envolveu a remoção de valores
discrepantes ou não condizentes com os níveis de precipitação observados no país, tais
como valores inferiores a 0 mm ou superiores a 200 mm diários. Na sequência os dados
foram interpolados para os municípios da BRJ usando o Inverso da Distância Ponderada
(IDP)1, pacote gstat do Software R (PEBESMA, 2004). Os dados estimados para os
municípios foram agregados para a escala mensal. O tratamento, interpolação e
agregação dos dados foram efetuadas com o Software R, do Suporte do Sistema de
Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD) MySQL e do pacote RMySQL (OOMS et
al., 2016). Por fim, os valores mensais foram utilizados para o cálculo do SPI.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O primeiro resultado é a curva de precipitação da média mensal da BRJ (Figura 2): o
período seco é junho a agosto – média mensal de 45 mm; o chuvoso de setembro a abril
– média mensal de 141 mm. Os meses mais chuvosos são dezembro, janeiro e fevereiro.
O volume médio anual é da ordem de 1.400 mm.

3
Shadmani et al. (2012).

211
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 2 – Amplitude de variação das precipitações mensais totais na Bacia do Rio


Jundiaí¹
250 241 208
200 183
152 144
150 127
mm

100 75 66 75
57 47
50 33
-

Fonte: preparado pelos autores com base em ANA (2017).


Nota: ¹ média de janeiro de 1961 a dezembro de 2014.

As médias anuais revelam um aumento no volume chuvas, apesar da forte queda


verificada em 2014 (Figura 3) Entre 2006 e 2012 a média alcançou 1.647 mm, mas em
2014 ocorreu uma drástica redução para 1.089 mm (271 dias sem precipitações).

Figura 3 – Variação das precipitações anuais totais na Bacia do Rio Jundiaí: 1961-2014

2.300 y = 3,4346x + 1315,2


2.000
1.700
mm

1.400
1.100
800
500
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013

Anual Linear (Anual)

Fonte: preparado pelos autores com base em ANA (2017).

Para identificar a ocorrência de anos secos e chuvosos na Bacia do Rio Jundiaí,


considerou-se como seco os anos em que a precipitação foi inferior ao percentil 10% em
toda a série histórica, e chuvoso quando a precipitação foi superior ao percentil 90% em
toda a série histórica. Os resultados revelaram que a região registrou 6 anos secos e 6
anos chuvoso no período analisado. Um aspecto interessante é que metade os anos
chuvosos foram registrados nos 2000, mais especificamente em 2009, 2011 e 2012.
Esse resultado é interessante, porque as projeções do IPCC indicam um aumento do

212
9º Encontro Internacional das Águas

volume de chuvas na região Sudeste do Brasil. Os demais anos chuvosos foram 1976,
1982 e 1983.
Os resultados do SPI6, SPI12 e SPI24 revelam a ocorrência de eventos extremos secos e
chuvosos na Bacia do Rio Jundiaí (Erro! Fonte de referência não encontrada.).

Figura 4 – Resultados do SPI 6, SPI 12 e SPI 24 para a Bacia do Rio Jundiaí: 1961-2014
4
2
SPI 6

0
-2
-4
1961
1962
1963
1965
1966
1968
1969
1970
1972
1973
1975
1976
1978
1979
1980
1982
1983
1985
1986
1987
1989
1990
1992
1993
1995
1996
1997
1999
2000
2002
2003
2004
2006
2007
2009
2010
2012
2013
2014
4
2
SPI 12

0
-2
-4
1961
1962
1963
1965
1966
1968
1969
1970
1972
1973
1975
1976
1978
1979
1980
1982
1983
1985
1986
1987
1989
1990
1992
1993
1995
1996
1997
1999
2000
2002
2003
2004
2006
2007
2009
2010
2012
2013
2014
4
2
SPI 24

0
-2
-4
1961
1962
1963
1965
1966
1968
1969
1970
1972
1973
1975
1976
1978
1979
1980
1982
1983
1985
1986
1987
1989
1990
1992
1993
1995
1996
1997
1999
2000
2002
2003
2004
2006
2007
2009
2010
2012
2013
2014
Fonte: preparado pelos autores com base nos resultados da aplicação Standardized
Precipitation Index (SPI).
Nota: registros acima da linha azul representam a ocorrência de eventos extremamente
chuvosos e abaixo da linha vermelha eventos extremamente secos.

Ao todo foram identificados 20 eventos extremamente chuvosos – concentrados em três


períodos, o primeiro período de 07/1976 a 11/1976, o segundo de 03/1983 a 11/1983 e o
último de 11/2009 a 04/2010 – e 20 extremamente secos no SPI6 – concentrados em
cinco períodos e duas ocorrências isoladas (07/1984 e 12/1999), o primeiro compreende
10/1961 e 11/1961, o segundo de 06/1963 a 10/1963, o terceiro 12/1963 e 01/1964, o
quarto de 03/1964 a 05/1964, o último de 11/1968 a 04/1969 –; 24 extremamente
chuvosos – concentrados em três períodos e uma ocorrência isolada (01/1977), o
primeiro de 08/1976 a 11/1976, o segundo de 03/1983 a 01/1984 e o último de 12/2009

213
Universidade Católica de Pernambuco

a 07/2010 – e 20 extremamente secos no SPI 12 – concentrados em dois períodos e duas


ocorrências isoladas (10/1963 e 06/2000), o primeiro de 12/1963 a 08/1964 e o segundo
de 01/1969 a 09/1969 –; 22 extremamente chuvosos – concentrados em dois períodos e
em uma ocorrência isolada (09/1984), o primeiro de 05/1983 a 05/1984 e o segundo de
01/2011 a 08/2011 – e 21 extremamente secos no SPI 24 – concentrado em quatro
períodos, o primeiro de 03/1964 a 08/1964, o segundo de 10/1964 a 02/1965, o terceiro
de 02/1969 a 04/1969, o último de 06/1969 a 12/1969. Desse modo, observa-se que a
Bacia do Rio Jundiaí vem sofrendo com a ocorrência de eventos extremos. Apesar da
sua ocorrência, existe uma tendência de aumento?
Para identificar se há ou não tendência na ocorrência de eventos extremos foi realizado
o teste Mann-Kendall modificado para SPI 6, SPI 12 e SPI 24. Os resultados revelam
uma tendência significativa de aumento do SPI 12 e SPI 24, ou seja, tendência de
aumento da ocorrência de eventos de excesso de chuva de médio/longo e de longo prazo
na Bacia do Rio Jundiaí. Apesar da grande seca registrada em 2014, os resultados
indicam que pode estar curso na região uma tendência de aumento na ocorrência de
eventos extremos relacionados com o excesso de chuvas.

CONCLUSÃO
1. A concentração dos debates sobre as mudanças climáticas na escala global tem
contribuído para colocar em segundo plano os efeitos climáticos já em curso há
séculos das alterações no uso das terras na escala local. As mudanças climáticas
lato sensu tem sua origem na escala local. O aumento da escala da ação humana
no ambiente leva ao surgimento dos problemas ambientais em escala global, não
o contrário. O desmatamento, por exemplo, contribui para a redução quase
imediata da capacidade natural de retenção do solo e da taxa de infiltração da
água, acelerando a erosão hídrica, o assoreamento dos corpos d’água e a
ocorrência de cheias e inundações.
2. Diante do elevado grau de urbanização da BRJ, que está relacionado à perda da
cobertura vegetal, aumento da impermeabilização do solo, redução da taxa de
infiltração da água, aumento do escoamento superficial em sua velocidade,
redução do escoamento sub-superficial e subterrâneo, redução da
evapotranspiração, aumento das vazões máximas e da temperatura local –

214
9º Encontro Internacional das Águas

contribui para as “ilhas de calor”, a ocorrência de EEP é algo que deve ser
melhor investigado, afim de fornecer informações mais adequadas à gestão
ambiental e das bacias hidrográficas.
3. A ocorrência de EEP exige mais investimentos em infraestrutura hídrica, como
reservatórios, canais, piscinões, entre outros, na tentativa de amenizar os efeitos
sobre a disponibilidade hídrica, seja em períodos secos, seja com excesso de
precipitação, os quais contribuem para enchentes, cheias ou inundações. Além
disso, os sistemas de abastecimento de água das áreas urbanas podem operar
com mais frequência no limite de sua capacidade. O mesmo pode ocorrer com a
produção agrícola em função da ocorrência mais frequente de secas ou de
excesso de precipitação. Por fim, em áreas urbanas ainda existe a ocorrência de
deslizamentos de encostas, que podem ser agravados com o aumento da
intensidade das precipitações.
4. Diante desse novo contexto, a sociedade precisará aprender a conviver com os
eventos extremos. Desse modo, a sociedade precisa iniciar a adaptação das
estruturas sociais existentes para esse desafio. A adoção de práticas de
conservação do solo tanto em áreas rurais quanto urbanas torna-se um requisito
obrigatório na tomada de decisão. As ações para o enfrentamento desta nova
realidade incluem a construção de bancos de dados ambientais com variáveis
hidrológicas e climáticas, ampliação dos sistemas de monitoramento, apoio à
pesquisa para melhorar os modelos de simulação e de previsão climática,
incentivos a adoção de práticas conservacionistas, otimização do uso da água,
fortalecimento do Sistema Nacional e Regional de Gerenciamento dos Recursos
Hídricos, fiscalização do uso do solo, especialmente em áreas urbanas,
promoção do zoneamento ecológico, incluindo valoração dos recursos naturais.

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<https://goo.gl/2yQgOa>. Acesso em: 20/02/2017.
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215
Universidade Católica de Pernambuco

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0.10.9. Disponível em:<https://goo.gl/rRQ6Vj> Acesso em: 20/02/2017.
PEBESMA, E. J. Multivariable geostatistics in s: the gstat package. Computers &
Geosciences, v. 30, p. 683–691, 2004.
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10

216
9º Encontro Internacional das Águas

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Response to comment on ’candidate distributions for climatological drought indices (spi
and spei). International Journal of Climatology, v. 36, p. 2132–2138, 2016
WMO. World Meteorological Organization. Standardized Precipitation Index: User
Guide, Geneva 2, Switzerland, 2012.

11

217
Universidade Católica de Pernambuco
1

GESTÃO PARTICIPATIVA DO COMITÊ DO ALTO JAGUARIBE:


AÇÕES E DESAFIOS PRESENTES NA SUB-BACIA

Francisco Éder Rodrigues de Oliveira1, George Sampaio Martins2, Aline da Silva


Alves3, Monikuelly Mourato Pereira4, Naiara Sâmia de Caldas Izídio5,
Hewelania de Sousa Uchoa6

1_ Mestre em solos e Qualidade de Ecossistemas, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB; Email_
ederigt@yahoo.com.br;
2_ Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Ceará – UFC;
3_ Doutoranda em MANEJO DE SOLO E ÁGUA NA AGRICULTURA, pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido –
UFERSA;
4_ Doutoranda em Engenharia Agrícola, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB;
5_ Mestre em Irrigação e Drenagem, pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA;
6_ Licenciada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

RESUMO
O Brasil apresenta uma elevada disponibilidade hídrica em seu território, mesmo assim há uma
discrepância quanto esta disponibilidade na forma temporal e espacial. Visto isso, o presente
trabalho teve como objetivo mostrar ações e desafios atribuídos ao comitê da sub-bacia do Alto
Jaguaribe na gestão das águas. Os dados informativos referentes à pesquisa foram adquiridos
junto ao Núcleo de Gestão Participativa da Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos
– COGERH, Gerência Iguatu-CE, além de pesquisa documental do comitê e participação em
eventos do comitê. Verificou-se com a pesquisa, uma atuação efetiva do comitê em ações
relacionadas à gestão dos recursos hídricos, tais como degradação dos recursos naturais da sub-
bacia, melhoria na distribuição das águas da sub-bacia, campanha educativas de preservação e
educação da biodiversidade. Alguns desafios ainda devem ser superados pelo comitê tais como
problemas ambientais com deposição de lixo nos reservatórios, invasão e construções dentro de
APPs. Embora a criação dos comitês de bacias tenha trazido avanços para a gestão participativa
dos recursos hídricos, desafios como descentralização das águas, preservação dos recursos
naturais (solo, água e ar), problemas relacionados ao uso dos recursos naturais da sub-bacia de
forma indevida pela população residentes próxima dos mananciais ainda serão repetitivos por
vários anos.
Palavras - chave: Recurso hídrico; Comitê de bacia; Gestão de água.

INTEGRATED WATER MANAGEMENT WITH PUBLIC PARTICIPATION FORTHE


ALTO JAGUARIBE WATER BASIN COMMITTEE: ACTIONS AND CHALLENGES
PRESENTED IN THE SUB-BASIN
ABSTRACT
Brazil has a high water resources potential available in its territory, although there is a
discrepancy regarding this availability in the temporal and spatial scale. The present work had
as objective to show actions and challenges of water management attributed to the committee of
the AltoJaguaribe sub-basin in Ceara State, Brazil. The research data were obtained from the
Center for Participation Management of the Water Resources Management Company -
COGERH, Iguatu-CE, Brazil, including documentary research of the committee and
participation in committee events. The research showed an effective action of the committee
related to the water resources management, such as combating natural resources degradation of
the sub-basin, improvements in water distributionin the sub-basin, educational campaignsfor
preservation and biodiversity. Some challenges still have to be worked out by the committee
such as environmental problems like garbage disposal in reservoirs, invasion of buildings within
the permanent preserved areas (APP). Although the creation of basin committees has led to

218
9º Encontro Internacional das Águas
2

advances in the integrated management of water resources, challenges such as decentralization


of water resources, preservation of natural resources (soil, water and air), problems related to
the improper use of natural resources in the sub-basin by residents living near water sources will
still be recurrent for several years ahead.
Keywords: Water resource; Basin Committee; Water management.

INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta uma elevada disponibilidade hídrica em seu território, mesmo assim
há uma discrepância quanto esta disponibilidade na forma temporal e espacial, pois a
maior reserva de água doce presente no País se encontra em bacias que concentra menor
taxa populacional. Entretanto, o Brasil apresenta regiões que dispõe baixa
disponibilidade hídrica e alto consumo de água, nestes locais a gestão participativa dos
comitês de bacias no planejamento e gestão dos recursos hídricos é de fundamental
importância (ANA, 2005).

Visto tamanha responsabilidade atribuída aos comitês de bacias hidrográficas na gestão


dos recursos hídricos, torna-se imprescindível aos mesmos fazerem de forma continua
reciclagem dos seus conhecimentos e aprimorarem os mecanismos da gestão das águas.
Com isso, é necessário se fazer uma gestão articulada entre a União, os Estados e
setores dos usuários, buscando um gerenciamento que preserve, conserve e integre uma
conscientização uso racional da água, solo, ar, vegetação e toda biodiversidade da bacia
(ASSIS; PEREIRA, 2009).

Conforme Braga et al. (2008), o Brasil possui um enorme desafio no gerenciamento dos
recursos hídricos, pois é necessário elevar a oferta de água em locais com maior
demanda, além de fazer uma melhor distribuição dessa água, outro desafio é melhorar a
qualidade física, química e biológica da água reduzindo a poluição nos mananciais.

Na sub-bacia do Alto Jaguaribe, diversos desafios sociais, econômicos e ambientais


dificultam o gerenciamento da sub-bacia pelo comitê de bacia, entre eles a dificuldade
de descolamentos dos membros do comitê para as atividades realizadas pelo comitê,
mesmo com algumas dificuldades encontradas pelo comitê para fazer a gestão dos
recursos hídricos, o mesmo demostra enormes êxitos em sua gestão participativa.

Contudo, desafios e dificuldades no gerenciamento dos recursos hídricos de uma bacia


hidrográfica sempre será um problema para os comitês de bacias, com isso torne-se

219
Universidade Católica de Pernambuco
3

imprescindível que tais comitês se organizem de forma articulada para fazerem a


resolução destes desafios. Visto isso, o presente trabalho teve como objetivo mostrar
ações e desafios atribuídos ao comitê da sub-bacia do Alto Jaguaribe.

METODOLOGIA
Área estudada
O Alto Jaguaribe é uma das cinco sub-bacias que compõe a Bacia do Rio Jaguaribe,
sendo a maior dentre elas, sua área drenável é de 24.636 km², e localiza-se a montante
do segundo maior açude do estado do Ceará o Açude Orós com capacidade de
acumulação em volume de água de 1.940 m³ x 106. A sub-bacia do Alto Jaguaribe é
composta por 24 municípios dentre eles: Acopiara, Aiuaba, Altaneira, Antonina do
Norte, Araripe, Arneiroz, Assaré, Carius, Campos Sales, Catarina, Farias Brito, Icó,
Iguatu, Jucás, Nova Olinda, Orós, Parambu, Potengi, Quixelô, Saboeiro, Salitre,
Santana do Cariri, Tarrafas e Tauá. E possui 18 açudes estratégicos em sua extensão,
dentre seus afluentes principais estão os rios Carrapateiras, Cariús, Condado, Jucás,
Puiu, Trici e Trussu.

Obtenção dos dados

Na realização da pesquisa foram obtidas informações junto ao Núcleo de Gestão


Participativa da Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos – COGERH,
Gerência Iguatu-CE, que disponibilizaram documentos sobre o comitê de bacias como
atas das reuniões e folhetos informativos, feitas entrevistas com os membros do Comitê
de Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe – CSBHAJ e participação em eventos
como seminários e reuniões do comitê na sub-bacia. As informações foram adquiridas
entres os meses de outubro de 2008 a junho de 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participação em eventos e capacitações dos membros CSBHAJ

Desde sua fundação no ano de 2002 até os dias atuais o comitê da sub-bacia do Alto
Jaguaribe incentiva aos seus membros a participar de eventos relacionados a bacias
hidrografias, gestão dos recursos hídricos, ações e deveres dos comitês de bacias, etc. A

220
9º Encontro Internacional das Águas
4

participação dos membros em eventos relacionados à natureza, torna-se um avanço na


atuação do comitê na gestão de toda bacia hidrográfica (CALDAS; LIMA, 2011). Entre
os eventos participados podemos destacar:

 Seminário institucional sobre Comissão Gestora, realizado na cidade de Assaré-


CE;
 Intercambio entre os usuários das sub-bacias do rio Jaguaribe no ano de 2004;
 Reuniões técnicas I, realizada na comunidade de Catolé dos Timóteo, período de
28 de setembro de 2004.
 Reunião na Agência Nacional de Água (ANA), realizada em Brasília, no período
de 27 de agosto de 2004;
 Seminário sobre meio ambiente, realizado nas escolas do município de Parambu,
período de 08 de outubro de 2004;
 Reuniões técnicas II realizada na comunidade de Catolé dos Timóteo, período de
10 de outubro de 2004;
 Seminário de avaliação das atividades de 2004 e planejamento 2005 do CSBHAJ
em Iguatu, Realizado no município de Iguatu-CE, período de 15 e 16 de dezembro de
2004;
 VII Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, no período de 16 a
20 de outubro de 2005;
 Curso de Levantamento e Classificação do Solo, realizado pela Escola
Agrotécnica Federal de Iguatu (EAFI), no período de 16 e 17 de maio de 2005;
 Palestra sobre a Irrigação, sistema econômico e manejo correto da irrigação e
economicidade de água. Realizado no município de Iguatu-CE, período de 17 de
novembro de 2005;
 Palestra sobre Poluição dos esgotos domésticos e industriais, poluentes
biodegradáveis, consumo desenfreado e consequências; doenças de Transmissão
Hídrica, processo de degradação dos corpos d’água; doenças Hídricas causadas pela
falta de saneamento; Poluição por fertilizantes agrícolas. Realizado no município de
Iguatu-CE, período de 17 de novembro de 2005;
 Reunião do grupo de articuladores do Sistema de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (SIGRH) CEARÁ, realizado em Fortaleza, período de 25 e 26 de Maio de
2006;

221
Universidade Católica de Pernambuco
5

 II Encontro Regional de discussão do processo de renovação do Comitê da Sub-


Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe realizado no município de Tauá-CE, período de
12 de julho de 2006;
 III Encontro Regional para Renovação do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do
Alto Jaguaribe (CSBHAJ), realizado no município de Araripe-CE, período de 01 de
agosto de 2006;
 8° Encontro nacional dos comitês de bacias hidrográficas, realizado em Vila
Velha-ES, no período de 07 a 10 de agosto de 2006.
 Congresso de renovação dos membros do Comitê da Sub-Bacia do Alto
Jaguaribe (CSBHAJ), realizado no município de Iguatu-CE, período de 30 de agosto de
2006;
 5ª. Reunião do grupo de articuladores dos comitês de bacias hidrográficas do
estado do Ceará, realizado em Fortaleza, período de 21 e 22 de Setembro de 2006.
 Foram Nacional de Comitês de bacias, realizado em Brasília, no período de 23 e
24 de abril de 2007;
 14º Seminário de Planejamento e Alocação das Águas dos Vales Jaguaribe e
Banabuiú, realizado no município de Nova Jaguaribara, no período de 15 de junho de
2007.
 Oficina denominada Comissões Gestora dos açudes estaduais, realizada em
Fortaleza, período de 27 e 28 de 2007.
 IX Encontro Nacional de Comitês das Bacias Hidrográficas, realizado em Foz
do Iguaçu-PR, no período de 23 a 27 de outubro de 2007;
 Capacitação “Gestão em recursos ambientais”, realizado no Cariri-oeste, no
período de 23 e 24 de novembro de 2007;
 Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (FNCBH), realizado em
Florianópolis-SC, período de 08 e 09 de maio de 2008;
 XV Seminário dos Vales Jaguaribe e Banabuiú, realizado no município de Icó,
período de 05 de junho de 2008.
 Seminário sobre o processo de eutrofização e Matriz de Impactos Ambientais
identificados nos reservatórios do Alto Jaguaribe, realizado em município de Iguatu –
CE, período de 18 de junho de 2008.

222
9º Encontro Internacional das Águas
6

 XV Reunião do Grupo de Articuladores dos Comitês de Bacias Hidrográficas-


CBH, realizado em Fortaleza, período de 04 a 05 de dezembro de 2008.
 Reunião do Pacto das águas realizada, realizado em Fortaleza, período de 27 e
28 de novembro de 2008;
 Seminário do Pacto das Águas, realizado em Tauá, período de 26 e 27 de março
De 2009;
 1ª reunião do Colegiado Coordenador de Fórum Nacional de Comitês de Bacias
Hidrográficas, realizada em Natal-RN, período de 15 de abril de 2009;
 Semana do Meio Ambiente da Sub-bacia do Alto Jaguaribe, realizado na Sub-
Bacia do Alto Jaguaribe, período de 01 a 05 de junho de 2009;
 Reunião do Grupo de Articuladores, realizada em Fortaleza, período 04 e 05
junho de 2009;
 Seminário de Formação da Comissão Gestora do açude Canoas, realizado no
município de Assaré, período de 26 de novembro de 2009;
 I Conferencia Nacional dás Águas, sediada em Brasília (DF), no período de 23 a
25 de março de 2010;
 Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em
Regiões Semiáridas (Icid 18), sediada em fortaleza no período de 16 de agosto de 2010;
 Oficina de revisão do Plano Nacional de Recursos Hídricos, realizado em João
Pessoa-PB, no período de 29 de setembro a 01 de outubro de 2010;
 XII Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (ENCOB) e I
Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas (ENECOB), realizado em
Fortaleza, no período de 22 a 26 de novembro de 2010;
 Oficina metodológica sobre demanda de água nas bacias do Jaguaribe e Piranhas
Açu, realizado na FUNCEME, Fortaleza-CE no período de 05 e 06 de maio de 2011.
 XVII Seminário de Planejamento e Alocação dos Vales Jaguaribe e
Banabuiúrealizado em Russas-CE no período e 10 de junho de 2011;
 Fórum Cearense dos Comitês de Bacias Hidrográficas, realizado no município
de Fortaleza no período de 26 e 27 de Julho de 2012;

 Semana da água 2013 realizado pela Companhia de Gestão dos Recursos


Hídricos (COGERH), na sede de Fortaleza no período de 22 a 26 de março de 2013.

223
Universidade Católica de Pernambuco
7

A participação de membros do comitê de bacia em eventos relacionados à Bacia


Hidrográfica e sua gestão de forma efetiva, deu oportunidade aos membros do Comitê
de Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe – CSBHAJ de se qualificarem e fazerem
troca de experiências com outros comitês de bacia, sobre atividades executadas dentro
da sub-bacia e compartilharem dificuldade enfrentadas pelo comitê na resolução de
problemas dentro da sub-bacia, onde terão a oportunidade de aprender com as
experiências vividas por outros comitês.

Ações realizadas pelo comitê na sub-bacia Bacia do Alto

Entre as atribuições destinadas aos comitês de Bacias Hidrográficas, estão ações de


preservação e conservação dos reservatórios (COGERH, 2009). Na sub-bacia do Alto
Jaguaribe podemos destacar algumas ações de melhoria realizadas pelo comitê nos
reservatórios e municípios.

 Construção de Adutoras, recuperação de sangradouros e construção e


recuperação de passagens molhadas para abastecimento humano e animal, estas
atividades iniciarão a ser realizadas desde a fundação do CSBHAJ (Ata 22°, 20/08/2009
e Ata 24°, 03/12/2009);
 Batimetria dos açudes estaduais da sub-bacia do Alto Jaguaribe gerenciados pela
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH), estas batimetrias são
realizadas de forma anual, ou em eventualidades (baixo volume de água do açude, anos
de chuvas atípicas, etc.) ocorridas nos açudes (Ata da 26°, 10/06/2010);
 Recuperação dos reservatórios da sub-bacia, como a parede do açude Pau Preto,
obra no acesso ao açude Valério no município de altaneira e da barragem da barrinha
realizada no ano de 2010 (Ata da 28º, 11/11/2010);
 Trabalhos de monitoramento nos açudes da sub-bacia do Alto Jaguaribe, pela
comissão de meio ambiente junto a COGERH-Iguatu realizando visitas técnicas aos
reservatórios, fiscalizando obras de construção e restauração e na elaboração de
inventário ambiental dos reservatórios (Ata da 33°, 15/02/2012);
 Reflorestamento nos reservatórios da sub-bacia e implantação de um banco de
mudas permanente para recuperação das matas ciliares dos reservatórios o projeto teve
início no ano de 2009 (Ata da 24°, 03/12/2009);

224
9º Encontro Internacional das Águas
8

 Confecção de material áudio visual, cartilha sobre o comitê do Alto Jaguaribe


que servirá como suporte de informação e divulgação do Comitê, e participação em
programa de rádio local. Elaboração de uma Carta Decenal do Comitê da Sub-Bacia
Hidrográfica do Alto Jaguaribe (CSBHAJ), relatando a primeira década do comitê, o
marketing áudio e visual do CSBHAJ teve início no ano de 2011, sendo consolidado
mais fortemente no ano de 2012 (Ata da 29º, 11/01/2011);
 Elaboração de propostas para revisão da Lei Estadual de Recursos Hídricos de n.
11.996/92 onde foi encaminhada a Secretária de Recursos Hídricos (SRH) do estado do
Ceará, as mesmas foram perpetradas através da participação dos membros em reuniões
do comitê, onde foram observadas as principais dificuldades enfrentadas pelos os
usuários da sub-bacia durante os anos e entregue no ano 2009 (Ata da 23°, 30/10/2009);
 Formação das Comissões Gestoras dos reservatórios da sub-bacia, par atuarem
de forma direta nos problemas enfrentados nos açudes e nos conflitos entre usuários, a
comissão foi criada no ano de 2009 (Ata da 23°, 30/10/2009).
Algumas ações são realizadas pelo comitê de bacias do Alto Jaguaribe para
melhoria de vida dos usuários da bacia, como a elaboração de projetos que visam
conscientizar os usuários sobre a importância de preservação e conservação dos
recursos naturais da sub-bacia. Eles são elaborados e desempenhados pelo próprio
comitê ou pelo estado, quando isto ocorre o comitê de bacia apoia estes projetos
fazendo sua divulgação e servindo de intercessor entre os usuários e os órgãos
responsáveis.
 Projeto de Revitalização do Rio Jaguaribe; projeto de recolhimento de materiais
tóxicos na Bacia do Alto Jaguaribe lançado no ano de 2009 (Ata da 22° 20/08/2009);
 Projeto denominado Mata Branca que objetiva minimizar queimadas, ressaltou
que as regiões responsáveis pelo maior índice de queimadas são Inhamuns e Centro-Sul
e plano de manejo da estação ecológica de Aiuaba disseminado no ano de 2009 (Ata da
22°, 20/08/2009);
 Projeto da Prefeitura Municipal de Iguatu para recuperação do sangradouro do
Açude Tipis (Ata da 24°, 03/12/2009);
 Projetos recolher é renovar viva sem lixo tóxico e o projeto comitê no Rádio
bacia que realizar divulgação dos trabalhos realizados pelo comitê na bacia, sendo
efetuado no ano de 2010 (Ata da 26°, 10/06/2010).

225
Universidade Católica de Pernambuco
9

A realização das ações acima citadas pelo comitê do Alto Jaguaribe em parcerias
com prefeituras municipais e Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
COGERH mostram uma participação efetiva do comitê na gestão participativa no
gerenciamento dos recursos hídricos dentro da sub-bacia, melhorando assim a qualidade
de vida dos moradores inseridos dentro da sub-bacia. Contudo, mesmo tendo feito
diversas ações sociais e ecológicas o comitê dasub-baciado Alto Jaguaribe ainda possui
diversos desafios a serem superados principalmente nos anos atípicos de seca.

Problemas enfrentados dentro da sub-bacia do Alto Jaguaribe

O comitê do Alto Jaguaribe mesmo apresentando uma ação efetiva no gerenciamento


participativo dos recursos hídricos em sua sub-bacia, ainda possui diversos desafios e
conflitos que devem ser contornados diariamente entre eles podemos citar:

 Dificuldade distribuição uniforme dos recursos hídricos pelos os órgãos


responsáveis na disponibilidade hídrica para abastecimento humano dentro dos
municípios da sub-bacia;
 Invasão e construções dentro de APPs no açude de Parambu, por antigos
proprietários e uso do açude como local para recreação ajudando na eutrofização do
reservatório;
 Eutrofização das águas da região de Currais Novos, onde se acumula parte da
água do Açude de Orós;
 Problemas ambientais com deposição de lixo nos balneários e a lavagem de
roupas no açude Canoas;
 Uso indiscriminado de agrotóxicos pelos usuários e descartes de embalagens na
bacia do Rio Jaguaribe, e poluição dos resíduos produzidos pelos lava-jatos descartados
próximos a reservatórios da sub-bacia;
 Contaminação das águas do açude Arneiroz II, pela salga do camarão pego pelos
pescadores e pesca predatória de peixes no Açude Arneiroz II com rede de arrasto e
enviando para o Maranhão por pescadores do município de Tauá;
 Desmatamento da mata ciliar nos açudes Canoas e Arneiroz II;

O surgimento de novos problemas e adversidade relacionada à gestão dos recursos


hídricos dentro da sub-bacia serão enfrentadas de forma continua pelo comitê, estes

226
9º Encontro Internacional das Águas
10

desafios estão diretamente ligados a relação do homem com o meio ambiente e com
outras pessoas que vivem ao seu redor.

CONSIDERAÇÕES

1. Embora a criação dos comitês de bacias tenha trazido avanços para a gestão
participativa dos recursos hídricos, desafios como descentralização das águas,
preservação dos recursos naturais (solo, água e ar), problemas relacionados ao
uso dos recursos naturais da sub-bacia de forma indevida pela população
residentes próxima dos mananciais ainda serão repetitivos por vários anos;
2. A efetiva participação dos membros do comitê de bacia em eventos relacionados
a recursos hídricos e áreas afins, faz que o comitê de bacia realize troca de
experiências e adquiram maior maturidade e descubra novos caminhos para a
resolução de problemas.

REFERENCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Diagnóstico de recursos hídricos.


Brasília, 2005.
ASSIS, A.C.; PEREIRA, R. S. Tutela das Águas: Acervo Regulatório no Ordenamento
Jurídico Brasileiro.Revista das águas. v,3, n.8, 2009. Disponível em
<http://revistadasaguas.pgr.hpf.gov.br/aguas/...tutela.>.

BRAGA, B. P. F.; FLECHA, R. PENA, D. S.; KELMAN, J. Pacto federativo e gestão


de águas. Revista Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 17 – 42, 2008.
CALDAS, M. S; LIMA, B. P. Avanços, fragilidades e desafios do comitê das Bacias
Metropolitanas (2003 a 2009). In: Anais do Simpósio Brasileiro de Recursos
Hídricos, 19, Maceió: ABRH, 2011.
COGERH. Companhia de gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará. Decreto
n. 26.462 de 11 de Fevereiro de 2001. Disponível em:
<http://portal.cogerh.com.br/categoria3/legislacao-estadual>. Acesso em: mar 2009.

227
Universidade Católica de Pernambuco
1

INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NA QUALIDADE DAS ÁGUAS NA


REGIÃO DO BAIXO RIO PARAÍBA – PB

Lucas Fernandes dos Santos¹, Alinne Gurjão de Oliveira², Maria Cristina Crispim³

1
Graduando em Engenharia Ambiental (UFPB), Bolsista CNPq. E-mail: lucasfernandes131@hotmail.com
2
Bióloga (UEPB), Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB), Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(UFPB), Bolsista CAPES. E-mail: alinnegurjao@gmail.com
3
Bióloga (UFPB), Doutora em Ecologia e Biossistemática (UL), Professora (UFPB/CCEN). E-mail: ccrispim@hotmail.com

RESUMO
A formação das cidades está relacionada à disponibilidade de água para atender as demandas
populacionais, entretanto, nem sempre os rios são priorizados nos planejamentos urbanos de
muitas cidades. Este trabalho objetivou caracterizar as águas do Rio Paraíba do Norte, próximo
às cidades de Santa Rita e Bayeux, Paraíba, identificando os possíveis impactos advindos do
processo de urbanização dessas cidades. Adotaram-se dois pontos de coleta, um antes (PA) e
outro no final dos centros urbanos (PB). Diante dos resultados obtidos pode-se concluir que as
cidades de Santa Rita e Bayeux exercem pressão sobre a qualidade das águas, principalmente
através do lançamento de efluentes, impactando negativamente o rio e comprometendo a
qualidade de vida da população inserida no local. Evidenciou-se a necessidade de adoção de
medidas mitigatórias para minimizar os impactos causados pela urbanização sobre a qualidade
de água do rio.
Palavras-chave: Centros urbanos; Efluentes; Recursos hídricos.

INTRODUÇÃO

A formação de uma cidade está intimamente relacionada à disponibilidade de água nas


proximidades, de modo a atender as demandas da população. Desse modo a água deve
apresentar-se em quantidade e qualidade apropriadas de acordo com as necessidades e
finalidades de usos destinados. Além disso, mesmo em áreas urbanas, os rios são
importantes construtores da paisagem, constituindo-se importantes recursos, com
valores econômicos, ambientais, estéticos e culturais, relacionados com a identidade do
local em que estão inseridos e com a história da população (CARDOSO; BAPTISTA
2011; HOLZ, 2011).
Apesar da importância dos rios para o desenvolvimento das cidades e bem-estar da
população, Holz (2011) afirmou que os corpos hídricos, em geral, têm sido
desconsiderados no planejamento de muitas cidades, sendo utilizados como estruturas
de saneamento e drenagem, transformando-se frequentemente em paisagens degradadas,
poluídas e sem tratamento.
O aumento populacional e os processos de urbanização, têm intensificado os impactos
das atividades humanas sobre o meio ambiente. A ocupação desordenada do meio

228
9º Encontro Internacional das Águas
2

ocasiona uma cadeia de impactos às bacias hidrográficas, através de atividades de


desmatamento, queimadas, práticas agrícolas inadequadas, ocupações urbanas,
resultando no aumento populacional e consequentemente da demanda de água, da
geração de resíduos sólidos e de efluentes domésticos e industriais etc., que têm afetado
a qualidade das águas, principalmente próximas aos centros urbanos (SOUZA et al.,
2014; RODRIGUES et al., 2009).
Um dos maiores problemas relacionados com a qualidade das águas em ambientes
urbanos diz respeito ao lançamento de efluentes domésticos. Muitos municípios
brasileiros não realizam o tratamento dos esgotos, e muitas vezes, o tratamento
disponível é insuficiente para tratá-los adequadamente para o descarte nos corpos
hídricos, de acordo com a legislação – CONAMA 357, comprometendo a qualidade das
águas e os seus múltiplos usos.
As interferências humanas sobre os recursos hídricos podem comprometer
significativamente a qualidade do recurso, e afetar a qualidade de vida da população,
dificultando a captação de água para abastecimento, dificuldade de tratamento das
águas, diminuição da quantidade de água disponível para diversos usos, além do
comprometimento da saúde da população através de doenças de veiculação hídrica.
Diante da problemática evidenciada, o presente trabalho objetivou caracterizar as águas
do Rio Paraíba do Norte, próximo às cidades de Santa Rita e Bayeux, Paraíba,
identificando os possíveis impactos advindos do processo de urbanização dessas
cidades.

MATERIAL E MÉTODOS
O Rio Paraíba nasce na serra do Jabitacá, na cidade de Monteiro no interior do Estado
da Paraíba, e estende-se no sentido sudoeste-nordeste até chegar à sua foz no Oceano
Atlântico, município de Cabedelo - PB, onde forma um estuário. Em seu trajeto, ele
passa por diversas cidades de pequeno e grande porte.
Para a realização deste trabalho foram selecionados dois pontos: PA (localizado antes da
cidade de Santa Rita – PB) e PB (localizado na cidade de Bayeux – PB). As duas
cidades são localizadas na área da Grande João Pessoa, estando muito próximas uma da
outra, e caracterizadas por um crescimento populacional elevado nos últimos anos.

229
Universidade Católica de Pernambuco
3

Em relação ao aspecto climático, a região do baixo curso do Rio Paraíba, onde estão
inseridos os municípios de Santa Rita e Bayeux, vigora o clima do tipo úmido,
conforme a classificação de Köeppen, com variações de temperatura de 28 °C a 32 ºC,
E precipitação média anual entre 1.200 e 1.700 mm (PERH-PB, 2006).
Existem algumas áreas com vegetação de mata Atlântica nativa e ecossistemas
associados, como, manguezais, campos de várzeas e formações mistas dos tabuleiros,
cerrados e restingas. A região tem sofrido com o desmatamento para dar lugar a culturas
de cana-de-açúcar, abacaxi, inhame, mandioca, etc. O relevo é plano, predominando
áreas de tabuleiro com vales rasos em forma de “U” e solos do tipo Bruno não Cálcico,
Litólico, Solonetz Solodizado, Regossolo e Cambissolo (PERH-PB, 2006).
A identificação dos pontos de coleta e suas respectivas localizações estão descritas no
Quadro 1.

Quadro 1 - Localização e descrição dos pontos de coleta PA e PB no Rio Paraíba do


Norte, em março 2016
Pontos Localização Município Descrição
07°06’51,8”S Rio Paraíba
PA Santa Rita
034°59’45,7”W Antes da zona urbana
Rio Paraíba
07°07’12,6”S
PB Bayeux Zona urbana da cidade de
034°54’52,6”W
Bayeux

O PA, localizado antes da zona urbana de Santa Rita - PB está inserido próximo a áreas
de cultivo de cana de açúcar. O PB está localizado no centro urbano de Bayeux, em área
de habitação popular. Na Figura 1 estão apresentados os pontos de coleta adotados neste
trabalho.

230
9º Encontro Internacional das Águas
4

Figura 1 - Pontos de coleta adotados no Rio Paraíba (PA e PB, respectivamente)

Fonte: Alinne Gurjão (março de 2016).

As coletas de água foram realizadas no mês de março de 2016, na sub-superfície, na


região litorânea. As amostras foram armazenadas em garrafas de polietileno, resfriadas
e encaminhadas ao Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade Federal da
Paraíba. Em campo, foram determinadas as variáveis físicas de temperatura, pH e
oxigênio dissolvido (OD) com o auxílio de sondas. As análises químicas (Nitrogênio
Amoniacal, Fosfato, Fósforo Total, Nitrito e Nitrato) foram realizadas, em laboratório,
de acordo com as técnicas descritas no “Standard Methods for the Examination of
Water and Wastewater”. (CLESCERI et al., 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão apresentados os valores observados para a Temperatura (T °C),


Oxigênio Dissolvido (OD) e potencial Hidrogeniônico (pH) observados nos pontos
estudados PA e PB.
A temperatura das águas nos pontos monitorados PA e PB foi de 32,3 e 32,0
respectivamente. O pH apresentou-se alcalino no período estudado, sendo 8,3 no PA e
8,0 no PB, estando, portanto de acordo com a Resolução Conama 357/2005 (BRASIL,
2005), para corpos d’água classe 3 (pH 6-9). Valores elevados de pH podem ser o
resultado do aumento da fotossíntese, o que aumenta a absorção de CO2, a liberação de
OH- e com isso aumentam os valores de pH.
Em relação ao Oxigênio Dissolvido, ambas as concentrações observadas estão de
acordo com a CONAMA 357 (PA – 9,2 mg/L e PB – 4,5 mg/L) para águas de Classe 3.
Observa-se entretanto grande depleção da concentração de OD entre estes pontos. No

231
Universidade Católica de Pernambuco
5

ponto A, onde a interferência urbana é muito baixa, observam-se concentrações


elevadas de OD, evidenciando elevada atividade fotossintética que resulta em uma
concentração de OD bem superior à necessária para a degradação aeróbia da matéria
orgânica neste local. Em contrapartida, no PB, que recebe fortes interferências da
urbanização das cidades de Santa Rita e Bayeux, a concentração de OD observada é
bem inferior à do PA, refletindo a perda de qualidade da água no rio após a receptação
dos efluentes dessas cidades. A concentração observada no PB, é muito próxima ao
limite adotado na legislação, agravando o risco de comprometimento do equilíbrio da
biota aquática.

Tabela 1 - Valores de Temperatura, OD e pH, nos pontos PA e PB no Rio Paraíba do


Norte, em março de 2016
PA PB CONAMA 357
T (°C) 32,3 32,0 -
OD (mg/L) 9,2 4,5 ≥4
pH 8,3 8,0 6–9

A área próxima à margem do rio, no PB, é ocupada por habitações populares, sem
infraestrutura e saneamento básico deficiente. Durante a realização do trabalho
observou-se o escoamento de águas cinzas (águas de lavagem) entre as residências e
alcançando o leito do rio através da rede de drenagem pluvial, além da disposição de
resíduos sólidos no mesmo (Figura 2). O lançamento de efluentes e outros materiais
orgânicos biodegradáveis nos corpos hídricos são os principais responsáveis pela baixa
concentração de OD, em função da sua utilização para a degradação da matéria
orgânica, pelas bactérias decompositoras. Além disso, são fontes de nutrientes, que
podem intensificar os processos de eutrofização dos corpos hídricos, e comprometer a
qualidade das águas.

232
9º Encontro Internacional das Águas
6

Figura 2 - Escoamento de águas cinzas no PB, em Bayeux – PB

Fonte: Alinne Gurjão (março de 2016).

Em relação ao Fosfato e Fósforo, observou-se maior concentração no PB. Em relação à


legislação (CONAMA/357), não há limitação para o Fosfato, que apresentou
concentrações entre 0,18 mg/L e 0,23 mg/L no PA e 0,33 mg/L a 0,36 mg/L no PB. Em
relação ao Fósforo Total, o PA apresentou concentrações entre 0,19 mg/L e 0,23 mg/L,
e o PB entre 0,47 mg/L e 0,49 mg/L (Figura 3). Nos dois pontos estudados, as
concentrações observadas estiveram superiores à preconizada pela legislação, de até
0,15 mg/L para ambientes lóticos. As diferenças observadas em ambos os parâmetros,
ressaltam a interferência das cidades na qualidade das águas, principalmente através da
incorporação de efluentes das mesmas.

Figura 3 - Concentração de Fosfato e Fósforo Total no PA e PB, no rio Paraíba, em


março de 2016

233
Universidade Católica de Pernambuco
7

Para os compostos nitrogenados, os dois pontos estudados, PA e PB, apresentaram-se de


acordo com a legislação (BRASIL, 2005). As concentrações de Nitrito foram entre 0,04
mg/L e 0,07 mg/L (PA) e 0,03 mg/L e 0,04 mg/L (PB). O Nitrato variou de 0,3 mg/L a
0,4 mg/L (PA) e de 0,2 mg/L a 0,3 mg/L (PB). O Nitrogênio Amoniacal variou de 0,7
mg/L a 0,8 mg/L (PA) e de 1,0 mg/L a 1,2 mg/L (PB) (Figuras 4 e 5).

Figura 4 - Concentração de Nitrito e Nitrato no PA e PB, no rio Paraíba do Norte, em


março de 2016

Figura 5 - Concentração de Nitrogênio Amoniacal no PA e PB, no rio Paraíba, em


março de 2016

A amônia é um composto derivado da decomposição, logo, a sua presença de forma


elevada no Rio Paraíba, reflete a presença dos esgotos não tratados no rio. Apesar das
concentrações apresentadas estarem de acordo com a legislação vigente, observa-se o

234
9º Encontro Internacional das Águas
8

aumento da concentração no PB, recebendo a influência das cidades de Santa Rita e


Bayeux.

CONCLUSÃO

Diante dos resultados expostos no presente trabalho concluiu-se:

1. A interferência das cidades de Santa Rita e Bayeux na qualidade das águas no


Rio Paraíba, oriundos de um processo de urbanização desorganizado e não
planejado, resultam em um forte impacto negativo ao rio, comprometendo a
qualidade da água, a saúde da população, impactos à biota aquática e qualidade
ambiental de seu entorno.
2. Os parâmetros limnológicos que mais foram afetados pela urbanização foram o
oxigênio dissolvido, o fósforo total, o ortofostato e a amônia.
3. É evidente a necessidade de adoção de medidas mitigatórias para minimizar os
impactos ao rio e melhorar a qualidade de vida da população inserida nessa área.
4. O tratamento de águas cinzas (águas de lavagem) que escorrem das casas e são
lançadas no Rio Paraíba é necessário, mesmo que não tenha coleta de esgoto,
poderiam ser construídos círculos de bananeiras (fossas ecológicas) que
evitariam este tipo de contaminação ambiental, neste e em outros rios.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama. 2005. Resolução n. 357,


de 17 de março de 2005.

CARDOSO, A. S.; BAPTISTA, M. B. Metodologia para Avaliação de Alternativas de


Intervenção em Cursos de Água em Áreas Urbanas. RBRH — Revista Brasileira de
Recursos Hídricos, v. 16, n. 1, p. 129-139, 2011.

235
Universidade Católica de Pernambuco
9

CLESCERI, S.L., GREENBERG, A.E.; EATON, A.D. Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater (APHA). 21 ed. Washington: American
Public Health Association, 2005.

RODRIGUES, I.; RODRIGUES, T. P. T.; FARIAS, M. S. S.; ARAÚJO, A. F.


Diagnóstico dos impactos ambientais advindos de atividades antrópicas na margem do
Rio Sanhauá e Paraíba. Centro Científico Conhecer - Enciclopédia Biosfera, v.5, n.8,
2009.

HOLZ, I.H. Águas urbanas: da degradação à renaturalização. In: VI Encontro Nacional


e IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis –
Vitória-ES, Anais... 2011.

PERH/PB. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado Paraíba. 2006.


Disponível em: <www.aesa.pb.gov.br> Acesso em 22 de julho de 2015.PERH/PB.
Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado Paraíba. 2006. Disponível em:
<www.aesa.pb.gov.br> Acesso em 22 de julho de 2015

SOUZA, J. R.; MORAES, M. E. B.; SONODA, S. L.; SANTOS, H. C. R. G. A


Importância da Qualidade da Água e os seus Múltiplos Usos: Caso Rio Almada, Sul da
Bahia, Brasil. REDE - Revista Eletrônica do Prodema, v. 8, n. 1, p. 26-45, 2014.

236
9º Encontro Internacional das Águas

SÃO PAULO, METRÓPOLE FLUVIAL

Eloísa Balieiro Ikeda1


1
Arquiteta e mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, pesquisadora do Grupo Metrópole
Fluvial (GMF - FAUUSP)

RESUMO
Este artigo apresenta de maneira resumida da dissertação de mestrado São Paulo –Paris,
Metrópoles Fluviais. Ensaio de Projeto de Arquitetura das orlas do canal Pinheiros inferior,
córrego Jaguaré e córrego Água Podre. São apresentadas duas metrópoles que foram fundadas
às margens fluviais: São Paulo e Paris. Para São Paulo, propõe-se um ensaio de projeto de
arquitetura das orlas do canal Pinheiros inferior, córrego Jaguaré e córrego Água Podre. O
intuito é explorar soluções através de desenhos e definir conceitos que poderiam orientar a
retomada dos rios e canais como eixos fundamentais na formação urbana a partir da
consideração de suas funções: abastecimento, drenagem, lazer, navegação e energia. Considera-
se que somente quando os múltiplos usos da água forem plenamente desenvolvidos, de acordo
com as condições e demandas de cada lugar, o espaço urbano poderá ter qualidade ambiental e
social. Assiste-se desde o século passado a morte dos nossos rios, que permeiam com
abundância a região metropolitana. A melhoria das cidades que compõem essa metrópole deve
passar por essa constatação e apresentar soluções para recuperar o potencial das águas.
Palavras-chave: Infraestrutura urbana fluvial; Rios urbanos; Orlas fluviais; Qualidade
ambiental urbana; Múltiplos usos da água.

Figura 1 - Canal Pinheiros e raia olímpica da USP

Fonte: Fotomontagem da proposta. [Ilustrador Bhakta Krpa].

237
Universidade Católica de Pernambuco

PROPOSTA DE REESTRUTURAÇÃO DE SÃO PAULO A PARTIR DE SEUS


EIXOS NATURAIS, OS RIOS

O projeto apresentado no mestrado São Paulo – Paris, Metrópoles Fluviais. Ensaio de


Projeto de Arquitetura das orlas do canal Pinheiros inferior, córrego Jaguaré e
córrego Água Podre reconhece o papel dos rios como principal estruturador urbano e
busca o redesenho da metrópole que ao longo de seu desenvolvimento deu as costas
para seus cursos d’água e os transformou em leitos para esgoto e lixo.

A pesquisa está inserida em um conjunto de estudos desenvolvidos pelo Grupo


Metrópole Fluvial da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, (FAUUSP), coordenado pelo professor Alexandre Delijaicov, também orientador
deste trabalho de mestrado. Cada membro do grupo desenvolve projetos para
os rios urbanos em São Paulo, baseando-se nos conceitos norteadores apresentados pelo
professor Delijaicov, que estuda o assunto há mais de duas décadas.

O grupo se formou para a elaboração do Estudo de Pré-Viabilidade do Hidroanel


Metropolitano de São Paulo, realizado em 2011, e desde então vem agregando novos
estudantes interessados no assunto das metrópoles fluviais. Esse primeiro estudo foi
feito, como indica o próprio nome, para a escala da metrópole, e é base teórica para os
trabalhos desenvolvidos pelo grupo no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão
universitária. Ele se alinha à Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n. 9.433, de 8
de janeiro de 1997), que considera a necessidade do uso múltiplo das águas, ou seja, o
uso das águas urbanas para abastecimento, macrodrenagem (manejo das águas pluviais
e fluviais), navegação, lazer, energia e irrigação. São todos esses usos igualmente
importantes, que devem ser considerados em um projeto multidisciplinar que reconheça
que as águas são um bem público e um recurso natural limitado, cujo uso deve ser
racionalizado e diversificado de maneira a permitir seu acesso a todos.

238
9º Encontro Internacional das Águas

Figura 2 - Hidroanel Metropolitano de São Paulo - portos

Fonte: Grupo Metrópole Fluvial da FAUUSP. site


http://www.metropolefluvial.fau.usp.br/

Para o desenvolvimento do projeto, foram escolhidos três cursos d’água, em uma


sequência de afluências: canal Pinheiros, córrego Jaguaré (afluente do Pinheiros) e
córrego Água Podre (afluente do Jaguaré). O objetivo da escolha de rios de dimensões
distintas, sendo o Pinheiros um rio de escala metropolitana e o Água Podre, um pequeno
córrego na escala do bairro do Rio Pequeno, deve-se à intenção de desenvolver projetos
distintos para cada um deles, que poderiam servir de referência para outros cursos
d’água de mesma escala. Distintos em dimensões, porém complementares, visto que a
base do projeto, a rede hídrica, une todas as águas e deve funcionar como um conjunto
que abrange toda a metrópole.

Os rios urbanos funcionariam como feixes de infraestrutura compostos pelo canal


aberto central, por onde passam as águas fluviais e os canais subterrâneos, dois em cada
margem, para captar separadamente esgoto e águas pluviais. Tendo como base esse
feixe de infraestrutura que se ramifica em toda a metrópole, um sistema de parques é
definido nos mananciais, na foz e ao longo dos canais. Assim, de modo capilar,

239
Universidade Católica de Pernambuco

percorrendo toda a metrópole pelo caminho das águas, o tecido urbano se reconstruiria,
partindo de novas premissas, sendo a principal delas a retomada da presença das águas
como elemento constituinte de uma paisagem com qualidade ambiental e urbana.

Figura 3 - Leitos Maiores dos rios Pinheiros e Jaguaré

Figura 4 - Croqui do projeto das orlas


Fonte: Autoria própria (2016).

240
9º Encontro Internacional das Águas

Orla fluvial do canal Pinheiros

Para o canal Pinheiros foi idealizada a criação de cais alto em ambas as margens, que
são lajes no nível das pontes, sobre as vias expressas marginais existentes. No cais alto é
implantado o bulevar fluvial, uma avenida arborizada que acompanha todo o canal e é
compartilhada por pedestres, bicicletas, transporte público e carros. Do cais alto se tem
acesso ao cais baixo, que está no nível mais próximo ao nível d’água do Pinheiros.
Nesse patamar há apenas passeios para pedestres e ciclistas, além de estabelecimentos
voltados para o canal com atividades de comércio ou serviço: bares, restaurantes e
galerias, entre outras atividades relacionadas ao lazer e cultura. Também é no nível do
cais baixo que se encontram os portos urbanos fluviais previstos no projeto do
Hidroanel Metropolitano de São Paulo. A ideia do cais alto se baseia na forma como
foram construídas as orlas de cidades europeias, como Paris, que serviu de referência
para essa pesquisa. O nível térreo atual, que é o nível das vias marginais, se transforma
em subsolo, e é construído um novo nível térreo, sobre as vias.

Atualmente o canal Pinheiros é uma barreira que separa as duas margens da cidade
de São Paulo. No trecho estudado, de 10 km, entre a barragem do Retiro (próxima à
confluência com o canal Tietê) e a usina da Traição (próxima à avenida dos
Bandeirantes), existem apenas cinco pontes. São quase 3km de distância entre as pontes
do Jaguaré e Cidade Universitária. A travessia do canal atende, dessa maneira, apenas o
deslocamento em veículos motorizados. A modulação das pontes implantadas na
cidade, acessadas através de alças que permitem a manutenção da velocidade dos
automóveis, é inadequada para pedestres. A transposição feita em nível, como se propõe
o projeto, permite que as pontes se conectem ao tecido urbano sem a necessidade de
alças, de modo contínuo e apropriado para o deslocamento a pé.

Ao longo dos 10 km do canal Pinheiros inferior são propostas 20 novas pontes. Dessa
maneira, a distância máxima entre elas seria de 500m, costurando de fato uma margem
da cidade à outra. As águas deixariam de ser barreiras de difícil transposição e esse
trajeto seria distribuído pelas várias pontes. Além do aspecto funcional, as pontes
trazem oportunidades de encontro com as águas, ora pelo acesso ao cais baixo presente
em cada extremidade, ora pela perspectiva possível que se tem sobre a ponte, em

241
Universidade Católica de Pernambuco

direção à perspectiva do rio. Nesse eixo no fundo do vale, vê-se ao longe o horizonte,
uma visão singular na metrópole de São Paulo, tão densamente construída.

Figura 5 - Esquema de Infraestrutura Azul e Verde: Águas Fluviais e


Parques/Praças/Jardins

Fonte: Autoria própria (2016).

Orlas fluviais do córrego Jaguaré

O córrego Jaguaré tem suas nascentes nas proximidades da fronteira do município


de São Paulo com Embu das Artes e Taboão da Serra e deságua no Pinheiros, ao lado da
Cidade Universitária. A proposta do projeto é de reabrir todo o córrego, que está
parcialmente encoberto, e transformar suas orlas em passeios e áreas verdes e
arborizadas que constituam, junto ao eixo do ribeirão, um microclima agradável ao
longo de seus 10 km. A proposta também considera a transformação de áreas verdes
sem uso ou com usos urbanos inadequados, em parques públicos, além da construção de

242
9º Encontro Internacional das Águas

lagos ao longo do canal e sobretudo nas áreas de mananciais e foz. Os lagos teriam a
capacidade de reter 130.625 m³ de água, o que auxiliaria na macrodrenagem urbana. Os
parques propostos teriam diversas escalas, entre eles os mais importantes seriam o
parque da raia olímpica da USP, o parque já existente Doutor Alfred Usteri, (que
poderia ser estendido até o ribeirão), e o parque da foz do Riacho Doce. Para o parque
da raia olímpica propõe-se a ampliação de sua área até o canteiro central da avenida que
a margeia, a av. Prof. Mello Moraes, e a implantação de piscinas públicas nas margens
da raia. O parque Doutor Alfred Usteri tem enorme importância por ser um dos únicos
lugares em São Paulo que mantém vegetação nativa de cerrado. Para esse parque, tendo
em vista sua relevância, propõe-se sua duplicação em áreas que hoje são utilizadas
como estacionamento de um supermercado. E, por fim, o parque da foz do Riacho Doce
ocuparia uma área de 100.000m², marginal ao córrego, que hoje está sem uso e é
pertencente à Polícia Militar.

Figura 6 - Corte do Morro do Jaguaré e do canal de derivação proposto para drenagem


aos pés do morro

Fonte: Autoria própria (2016).

Figuras 7 e 8 - Fotos da Raia Olímpica da USP

243
Universidade Católica de Pernambuco

Fonte: Autoria própria (2016).

Atualmente, habitações irregulares ocuparam áreas do leito maior do ribeirão Água


Podre. Essas são áreas públicas que poderiam ser transformadas em parques. Propõe-se
também o alargamento do canal em alguns trechos e habitações sociais de quatro
pavimentos além de térreo comercial e de serviço, onde seriam relocados os moradores
da ocupação.

Figura 9 - Parque da raia olímpica da USP

Fonte: Fotomontagem da proposta. [Ilustrador Bhakta Krpa].

244
9º Encontro Internacional das Águas

Figura 10 - Foto do canal Pinheiros tirada da ponte da Cidade Universitária

As orlas fluviais do Água Podre

O ribeirão Água Podre tem apenas 3km e nasce nas proximidades do CEU Butantã,
onde foi construído um lago. Com uma largura de média de 5m, o ribeirão percorre ruas
arborizadas onde predominam sobrados residenciais, passa por ocupações irregulares
que chegam a construir suas lajes sobre ele, até chegar na foz, onde há um quarteirão
que tem quase 50% de sua área sub-ocupada por um galpão industrial abandonado e um
estacionamento. Também são propostos cinco lagos para o Água Podre, totalizando uma
capacidade para retenção de 29.425m³ de água, além de áreas verdes ao longo de suas
orlas.

245
Universidade Católica de Pernambuco

Figura 13. Foto do córrego Água Podre

Fonte: Autoria própria (2016).

CONCLUSÃO

1. “Apesar das circunstâncias distintas em que esses três cursos d’água se


encontram na cidade, eles possuem características em comum.

2. A primeira, e mais flagrante, é o fluido poluído que corre em seus leitos. Pouco
se vê da natureza dos rios, que tem como maior potencial o de levar águas ao
longo do vale. Esses cursos levam todo o esgoto que não é coletado pela
SABESP, empresa de economia mista responsável pelo fornecimento de água,
coleta e tratamento de esgotos de 364 municípios do Estado de São Paulo. Além
do esgoto, as águas pluviais que carregam lixo das ruas, também vão para os
leitos, e por último, e não menos grave, muito entulho é deliberadamente jogado
nos antigos rios. Assim, o não cumprimento por parte do Estado daquilo que é
básico em uma comunidade: o saneamento ambiental, que envolve da coleta ao
tratamento de todo resíduo gerado pelas pessoas, tem uma consequência

246
9º Encontro Internacional das Águas

sepulcral para as nossas águas. Este projeto, portanto, deve ser visto também
como uma denúncia a essa falha nas nossas políticas públicas.

3. A outra característica comum aos três cursos d’água aqui tratados, e que assim
como a primeira é comum a todos os outros cursos na RMSP, é o seu isolamento
em relação à cidade. No caso do Jaguaré, quase um terço de seu percurso, está
absolutamente oculto, ou seja, sob lajes por onde circulam veículos.

4. O Água Podre tem 150 m de percurso, na sua foz, também ocultos, ocupados por
um quarteirão, além de duas de suas nascentes localizadas em áreas residenciais,
sob calçamento. Pinheiros e Jaguaré estão também isolados pelas trincheiras que
formam as avenidas de fluxo intenso nas suas orlas. Os canais estão separados
das pessoas por muretas ou gradis. O Pinheiros tem ainda a ferrovia, entre canal
e avenida. Não há possibilidade de transpor as vias expressas marginais ao
Pinheiros e a ferrovia. Não há semáforos, nem calçadas e, mesmo se houvesse,
o acesso a pé não é permitido.

5. Uma última característica comum, e essa seria a que nos dá esperanças para
vislumbrar possibilidades de mudanças das condições dos nossos rios, é relativa
à propriedade das áreas que margeiam as águas. Nas margens imediatas (quando
não sobre o próprio leito) foram implantadas ruas e avenidas, que são de
propriedade pública. Uma das nascentes do Água Podre e do Jaguaré também
estão em propriedade pública, em Centros Educacionais Unificados, (CEU).
Existe portanto a possibilidade de intervenção nessas áreas sem necessidade de
desapropriação.

6. Um obstáculo importante que talvez inviabilizasse uma reconstrução de todas as


orlas já está superado. A área é pública, mas não é utilizada da maneira ideal
para permitir que as águas sejam acessadas e sejam eixos para um espaço urbano
com qualidade ambiental. Além disso, a Lei 12.727 de 2012 prevê áreas de
preservação permanente em um raio de 50m no entorno de nascentes, 30m de
cada lado de rios com até 10m de largura e de 100m quando o rio tiver entre 50 e
200m de largura (caso do Pinheiros). Em um ambiente urbano já consolidado a
aplicação da lei seria inviável para a maioria dos casos, mas há ainda a

247
Universidade Católica de Pernambuco

possibilidade de reverter situações em alguns casos e criar orlas fluviais


adequadas.

7. Nesta proposta, o que se procura não é propriamente um reflorestamento das


matas ciliares nas margens dos rios, mas a construção de um ambiente urbano
com uma infraestrutura que preserve as águas, ao mesmo tempo que gere
espaços públicos de convivência e lazer em contato com a natureza construída
para a cidade”.

REFERÊNCIAS

DELIJAICOV, Alexandre. Os Rios e o Desenho da Cidade - Proposta de Projeto para


a Orla Fluvial da Grande São Paulo. São Paulo: dissertação de mestrado, FAUUSP,
1999.

GMF. Grupo Metrópole Fluvial. Estudos de pré-viabilidade técnica, econômica e


ambiental do Hidroanel Metropolitano de São Paulo. Relatório Conceitual, Memorial
descritivo e Pranchas ilustrativas (disponível em: www.metropolefluvial.fau.usp.br).
Realizado pelo Grupo Metrópole Fluvial da FAU USP a convite do Departamento
Hidroviário da Secretaria Estadual de Logística e Transportes do Governo do Estado de
São Paulo (Licitação No DH-008/2009). São Paulo: FAU USP, 2011.

IKEDA, Eloisa Balieiro. São Paulo - Paris, metrópoles fluviais. Ensaio de projeto de
arquitetura das orlas do canal Pinheiros inferior, córrego Jaguaré e córrego Água Podre.
2016. Dissertação (Mestrado em Projeto de Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-16022017-111213/>. Acesso em: 2017-03-
13.

248
9º Encontro Internacional das Águas
1

SISTEMAS DE DRENAGEM E DESENVOLVIMENTO DE BAIXO IMPACTO

Jhersyka Barros Barreto¹, Regina Dulce Lins Barbosa²,


Vicente Rodolfo Santos Cezar³

¹ Discente do curso de especialização em educação e meio ambiente - IFAL. e-mail: jhersykab.barretto@gmail.com.


² Professora do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo - UFAL.
³ Professor do curso de especialização em educação e meio ambiente- IFAL. e-mail: vrscezar@gmail.com

RESUMO
São muitos os efeitos negativos da urbanização convencional sobre os recursos hídricos. Esse
trabalho aborda a evolução dos sistemas de drenagem como uma das formas de mitigar tais
efeitos, através da aplicação da drenagem integrada ao projeto e planejamento urbano, com o
uso de estratégicas e técnicas compensatórias. Apresenta as características das principais
técnicas compensatórias e do modelo de Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact
Development-LID) A urbanização de baixo impacto visa a preservação de aspectos naturais e a
diminuição dos impactos causados pelo processo de urbanização convencional. As medidas
compensatórias encontram aplicabilidade em novos empreendimentos e em empreendimentos
existentes, que ofereçam condições de integrá-las. Possibilitam a recuperação da capacidade de
infiltração, diminuição da produção de volumes excedentes de escoamento superficial,
recuperação de processo hidrológico similar a situação de pré-ocupação, diminuição da poluição
das águas, entre outros benefícios. Além disso, oferecem vantagens significativas em relação a
urbanização convencional, proporcionando a criação de paisagens hidrológicas funcionais, com
menor custo de implantação em relação às soluções convencionais e com a preservação de
recursos naturais.
Palavras-chave: Drenagem Urbana; Low Impact Development; Recursos Hídricos.

INTRODUÇÃO
A necessidade de desenvolver um sistema de drenagem urbana, surgiu em meados do
século XIX nas cidades europeias, como consequência da constatação da relação entre a
ocorrência de áreas alagáveis e a alta mortalidade (SILVEIRA, 2002, p.07). A partir de
então, as práticas higienistas, conhecidas como sistema clássico de drenagem, passam a
ser inseridas no meio urbano como uma medida de proteção a saúde pública, com o
objetivo de afastar, o mais rápido possível, a água das cidades, sejam elas de origem
pluvial ou cloacal (SILVEIRA, 2002, p.07). Em seguida, o sistema de drenagem urbana,
com redes subterrâneas unitárias de esgoto, que se espalhou pelas cidades europeias
como uma medida preventiva baseada em princípios higienistas, chegou ao Brasil. Onde
foi implantado, inicialmente, em pequena parte do Rio de Janeiro (1864), e após a
proclamação da República (1889) foi implantado em maior escala nessa e em outras
cidades do país (SILVEIRA, 2002, p.07).

249
Universidade Católica de Pernambuco
2

Segundo Baptista et al. (2011), os princípios higienistas recomendam para a gestão de


águas pluviais e águas servidas, em meio urbano, a sua rápida evacuação através de
condutos de drenagem, preferencialmente subterrâneos, que funcionam por gravidade.
Estes condutos, canais abertos e galerias são responsáveis por conduzir as águas
pluviais e servidas coletadas a montante até a jusante. Em cidades brasileiras é comum
encontrar esgotos ligados aos sistemas de drenagem ou sistema de esgoto e águas
pluviais em condutos separados, mas destinados para o mesmo curso d'água, sem
qualquer tipo de tratamento, o que compromete a qualidade da água.
Os conflitos ambientais gerados pelas práticas higienistas de drenagem urbana,
relacionados a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos, foram decisivos para a
adoção do fim dessas práticas em grande parte dos países desenvolvidos na década de
60, como foi o caso dos EUA e países da Europa (SILVEIRA, 2002, p.08). Segundo
Baptista et al. (2011, p. 24), a urbanização intensa evidenciou os limites dessas práticas
que transferem o volume de escoamento superficial de montante para a jusante;
resultando em prejuízos e custos de novas obras de drenagem a jusante para solucionar
os problemas de alagamentos, inundações e enchentes que passam a ocorrer nessas
áreas.
Após abandonarem as práticas higienistas, os países desenvolvidos, passaram a adotar
princípios corretivos (a partir de 1970), como a implantação de medidas e técnicas
alternativas ou compensatórias, que visam compensar os impactos do crescimento
urbano convencional sobre os processos hidrológicos (SILVEIRA, 2002, p.08).
Segundo Baptista et al. (2011, p. 25), a implantação dessas técnicas ajuda a controlar a
produção de excedentes de águas decorrentes de impermeabilização e a evitar o rápido
escoamento superficial a jusante, por facilitarem a infiltração de águas pluviais e
proporcionarem o retardamento do tempo de escoamento, através do armazenamento
temporário.
A partir de 1990, as discussões acerca da gestão dos recursos naturais no meio urbano,
em eventos como a "Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento", que ocorreu em 1992, no Rio de Janeiro, resultaram em princípios
sustentáveis para o planejamento urbano (BAPTISTA et al., 2011, p. 21). As
abordagens sustentáveis mais conhecidas, que, segundo Baptista et al. (2011, p. 27), são
compatíveis entre si e incorporam as tecnologias alternativas (compensatórias) em suas

250
9º Encontro Internacional das Águas
3

soluções são: "Sustainable Urban Drainage Systems" (SUDS), no Reino Unido; o


"Water Sensitive Urban Design" (WSUD), na Austrália; e "Low Impact Development"
(LID), na América do Norte.
No Brasil, cidades como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba,
Guarulhos e Caxias do Sul iniciaram ações para a formulação do Plano Diretor de
Drenagem Urbana com medidas ambientalmente sustentáveis (SILVEIRA, 2002, p. 09).
De acordo com a Secretaria Nacional de Desenvolvimento Ambiental do Brasil (2008,
p. 66), os Planos Diretores de Drenagem Urbana são norteados pelos princípios de que
novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão de pico das condições de pré-
urbanização de novos loteamentos, de planejar o conjunto da bacia para controle do
volume e de evitar a transferência dos impactos para jusante. Com isso, busca-se a
implementação de técnicas compensatórias, que recuperem as condições existentes
antes da urbanização, reduzindo os impactos da urbanização, agindo de forma integrada
ao espaço como um todo.
Mesmo com a evolução das soluções de drenagem, a maioria das obras urbanas no
Brasil ainda seguem os princípios higienista. Segundo Silveira (2002, p. 08), a razão
principal é que outros modelos exigem ações integradas e conhecimento técnico
multidisciplinar, ao contrário das ações higienistas, voltadas a soluções locais e
concebidas unicamente por engenheiros civis. Outro fato que limita a gestão de águas
pluviais no Brasil é a falta de elaboração do Plano Diretor Municipal com diretrizes
voltadas para uma drenagem urbana ambientalmente sustentável.
O crescimento urbano convencional, caracterizado pela supressão da vegetação nativa,
acréscimo ou recorte de terra para nivelamento do terreno e impermeabilização do solo,
altera o caminho natural das águas pluviais. Tal situação implica na diminuição de áreas
onde ocorrem a evapotranspiração e a infiltração das águas pluviais, o que provoca o
aumento do escoamento superficial. Com isso, esse tipo de crescimento urbano, pode
comprometer a qualidade das águas e a recarga de aquíferos. Além de aumentar o risco
de alagamentos, inundações e enchentes, e favorecer a ocorrência de doenças de
veiculação hídrica (BAPTISTA et al., 2011, p. 18; TAVANTI, 2009, p. 12;
BARBASSA; MORELLI, 2009, p. 03).
Situações de alagamentos, inundações e enchentes podem ser geradas pela urbanização
convencional, que gera o aumento do volume de águas pluviais escoados

251
Universidade Católica de Pernambuco
4

superficialmente. No Brasil, essas três situações são cada vez mais frequentes nas áreas
urbanas e, segundo estimativas, os prejuízos gerados correspondem a um valor anual
médio superior a dois bilhões de dólares (BAPTISTA et al., 2011, p. 20). Os prejuízos
são, na verdade, incalculáveis, se considerarmos os danos ambientais, urbanos e sociais.
Se por um lado temos os problemas causados pelos alagamentos, inundações e
enchentes, por outro, temos a crise hídrica causada pelas estiagens prolongadas e pela
poluição da água, que a torna imprópria para o consumo humano.

MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse artigo foi de revisão
bibliográfica sobre os processos de urbanização e os sistemas de drenagem
desenvolvidos e aplicados ao contexto urbano ao longo da história.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Técnicas Alternativas ou Compensatórias de Drenagem

As técnicas alternativas são soluções de drenagem que podem ser integradas ao projeto
e planejamento urbano. Segundo Canholi (2005, p.25), são medidas compensatórias
para a correção e /ou prevenção de alagamentos, inundações e enchentes, e podem ser
classificadas, de acordo com a sua natureza, em estruturais ou não estruturais. As
medidas estruturais correspondem às obras que podem ser implantadas, e as não
estruturais correspondem a introdução de normas, regulamentos e programas que visem,
por exemplo, o disciplinamento do uso e ocupação do solo (CANHOLI, 2005, p.25).
As medidas compensatórias não estruturais podem ser estabelecidas através de
legislações que propõem o zoneamento ambiental ou determinam os parâmetros
urbanísticos, por exemplo. Como a racionalização do uso do solo urbano, como em
casos de controle do uso e ocupação do solo em áreas de recarga de aquíferos, e
educação ambiental voltada ao controle da poluição e degradação ambiental
(CANHOLI, 2005, p.26). As medidas compensatórias estruturais podem ser integradas
ao projeto urbano e ao projeto de edificações como medidas preventivas e/ou corretivas.
São implantadas através de obras centralizadas, obras lineares, e obras pontuais.
As bacias de detenção são classificadas como obras centralizadas, ocupam áreas de
maiores dimensões e profundidade se comparadas a outras técnicas, e funcionam como

252
9º Encontro Internacional das Águas
5

estrutura de acumulação e/ou de infiltração de águas pluviais (BAPTISTA et al., 2011,


p. 135). As bacias de detenção atuam no controle do volume de escoamento superficial.
Quando estocam esse escoamento por longo paríodo para possibilitar a redução dos
poluentes, por meio de decantação, que separam as partículas sólidas das águas pluviais
na bacia, são chamadas de bacias de retenção. Quando estocam este escoamento
temporariamente e ocorre a infiltração das águas pluviais para a recarga de aquíferos,
são chamadas de bacias de infiltração. E quando há a estocagem deste escoamento para
a decantação, diminuição dos poluentes contidos nas águas pluviais, seguida de
infiltração dessas águas para a recarga de aquíferos, são chamadas de bacias de retenção
e infiltração. Essas bacias podem ser abertas ou enterradas, integradas a outros
equipamentos urbanos ou não. Quando integradas, podem oferecer outros usos e outras
funções urbanísticas e ambientais (Quadro 1).

Quadro 1 -Técnicas centralizadas de drenagem urbana compensatória


Bacias de Retenção e
Retenção Infiltração
detenção: infiltração

a) Bacia situada
Fotos: em Campus da b) Bacia situada
Universidade de no bairro de c) Bacia situada em
British Columbia, Rieselfeld - Ottawa, capital do
Vancouver- Alemanha. (Foto: Canadá. (Foto: Regina
Canadá. (Foto: Francine Moreira D. L. Barbosa).
Regina D. L. Villaça, 2011)
Barbosa).
Fonte: texto retirado de Baptista et al. (2011, p. 135).

253
Universidade Católica de Pernambuco
6

As obras lineares correspondem a implantação de técnicas compensatórias de drenagem


integradas ao sistema viário, pátios e estacionamentos. Caracterizam-se pela sua maior
dimensão longitudinal e por possuir pouca profundidade e largura (TAVANTI, 2009,
p.31). Essas técnicas têm como função armazenar temporariamente parte do escoamento
superficial, evacuados por infiltração ou deságue a jusante, e/ou diminuir os poluentes
das águas pluviais, com o objetivo de conter o volume excedente de escoamento
superficial próximo a fonte (Quadro 2).
As biorretenções são depressões rasas, que apresentam um tratamento paisagístico, onde
há a utilização de solo, vegetação e materiais para filtrar o escoamento armazenado
nessas depressões. As suas principais funções são favorecer a recarga de aquíferos, por
meio de infiltração, diminuir o volume de escoamento superficial e os poluentes das
águas pluviais, através do armazenamento e de processos biológicos (SOUZA, 2011, p.
31; TAVANTI, 2009, p. 39).
As trincheiras correspondem a estruturas de valas preenchidas por material poroso. São
implantadas com a finalidade de recolher as águas pluviais da superfície para reduzir os
volumes escoados e favorecer a infiltração e/ou o armazenamento temporário. Além
disso, possibilitam benefícios ambientais, com a recarga do lençol freático e melhoria da
qualidade das águas; financeiros, com a redução de custos com obras de drenagem a
jusante; e paisagísticos, com a possibilidade de melhorar a qualidade paisagística dos
espaços urbanos. No caso de trincheiras de infiltração, as águas são absorvidas pelo
solo. Já nas trincheiras de detenção, as águas ficam armazenadas temporariamente para
o controle da vazão e a evacuação é efetuada por descarga no meio natural, a jusante, ou
por dispositivo de deságue no sistema de drenagem (SILVEIRA, 2002, p. 40;
BAPTISTA et al., 2011, p. 206).
As valas e valetas são depressões escavadas no solo que se diferenciam entre si pela
dimensão da seção transversal, nesse caso, as valetas são valas menores. Ambas
desempenham a função de recolher e armazenar temporariamente as águas pluviais, que
são evacuadas por deságue a jusante e/ou por infiltração. Podem ser impermeabilizadas
ou revestidas por vegetação e apresentam os mesmos benefícios das trincheiras, e,
também, a mesma versatilidade de uso. As valas e trincheiras podem exercer funções
complementares ao serem implantadas uma sobre a outra, como a utilização de valas de

254
9º Encontro Internacional das Águas
7

detenção e trincheiras de infiltração ou valas de infiltração e trincheiras de detenção


(SILVEIRA, 2002, p. 41; BAPTISTA et al., 2011, p. 237).
Os pavimentos que apresentam funções compensatórias, segundo Silveira (2002, p. 37)
e Baptista et al. (2011, p.258), podem ser classificados como: i) pavimentos com
revestimento permeáveis, que possibilitam o acesso das águas pluviais às camadas
inferiores do pavimento e possibilitam redução do escoamento superficial; ii)
pavimentos porosos de detenção, que desempenham o papel de reservatório temporário
das águas pluviais, sem que ocorra a infiltração; e iii) pavimentos porosos de infiltração,
que proporcionam a reservação temporária e a infiltração das águas pluviais.

Quadro 2 - Técnicas lineares de drenagem urbana compensatória


Técnicas: Biorretenção Trincheiras Valas/Valetas Pavimentos
Retenção e Retenção Detenção Reservatórios
Tipos:
infiltração Infiltração Infiltração Permeáveis

Fotos:
a) Exemplo de b) Exemplo de c) Exemplo de
d) Exemplo de
biorretenção. trincheira. vala. (Fonte:
vala. (Fonte:
(Fonte: SOUZA, (Fonte: Software Software Tec
SOUZA, 2005)
2005). Tec Alt) Alt, 2014)
Fonte: texto retirado de Baptista et al. (2011, p. 135).

As obras pontuais se referem a aplicação de técnicas localizadas em pequenas áreas ou


até mesmo em uma edificação (Quadro 3). Necessitam de espaços reduzidos para serem
implantadas e podem ser realizadas com a implantação de poços, telhados
armazenadores e reservatórios individuais, que podem possibilitar o aproveitamento das
águas pluviais para determinados usos. Todos esses dispositivos apresentam custos
relativamente baixos e facilidade de implantação. No entanto, para haver uma redução

255
Universidade Católica de Pernambuco
8

significativa do escoamento superficial a jusante, é necessário um planejamento


integrado ao desenvolvimento urbano na bacia para que os dispositivos pontuais atuem
em conjunto (BAPTISTA et al., 2005, p.273).
Os poços são implantados para capturar as águas pluviais da superfície, por escoamento
superficial ou por rede de drenagem, e evacuá-las diretamente no subsolo por meio de
infiltração. Podem ser vazios ou preenchidos com materiais porosos, que ajudam a
melhorar a qualidade da água, e são utilizados em área permeável ou onde a camada
superficial é pouco permeável. Além disso, apresentam a capacidade de proporcionar
uma infiltração profunda, que contribui para a recarga dos aquíferos e sobrevivência de
vegetações localizadas próximas aos poços. Desta forma, desempenham a função de
reduzir os volumes de água que sobrecarregam a rede de drenagem e são transferidas
para a jusante (SILVEIRA, 2002, p. 42; BAPTISTA et al., 2011, p. 275).
Os telhados armazenadores são dispositivos de armazenamento provisório de águas
pluviais (SILVEIRA, 2002, p. 45), que funcionam por meio de detenção ou infiltração
em superfícies vegetadas. Visam o amortecimento dos efeitos resultantes do aumento do
volume de águas escoadas superficialmente, provocado pela impermeabilização do solo
(BAPTISTA et al., 2011, p. 289).
Os reservatórios individuais, além de reduzir o volume de água conduzido pelo sistema
de drenagem para a jusante, permitem o armazenamento e a utilização de águas pluviais
em atividades domésticas como a irrigação, a limpeza de áreas externas, a lavagem de
automóveis, em descarga de banheiro, etc. (BAPTISTA 2011, p.298).

256
9º Encontro Internacional das Águas
9

Quadro 3 - Técnicas pontuais de drenagem urbana compensatória

Técnicas: Poços Telhados Reservatórios


Infiltração Detenção
Tipos: Armazenadores Detenção e
Injeção
infiltração

Fotos: c) Exemplo de
c) Exemplo de
a) Exemplo de poço telhados
reservatório.
de infiltração. (Fonte: armazeradores.
(Fonte: Ecocasa,
Building, 2014). (Fonte: Software
2014)
Tec Alt, 2014)
Fonte: texto retirado de BAPTISTA et al. (2011, p. 273).

A "Drenagem Urbana Integrada" e o "Desenvolvimento de Baixo Impacto"

O conceito de "drenagem urbana integrada", apresentado em " Técnicas


Compensatórias de Drenagem Urbana" (BAPTISTA et al., 2011), consiste na ligação
entre a prevenção dos riscos (sejam de alagamentos, inundações, enchentes, poluição
das águas, e riscos à saúde pública etc.) e o projeto de ordenamento territorial, através
da drenagem integrada ao projeto urbano. Além disso, é necessário considerar a
hidrografia natural no processo de ordenamento urbano para que não sejam construídas
barreiras que interfiram nos escoamentos naturais. Segundo Baptista et al. (2011, p.
28), como um projeto recebe águas pluviais de outros projetos situados a montante, é
necessário considerá-lo no contexto da bacia hidrográfica e não de forma isolada para
que a drenagem integrada possibilite o controle do escoamento próximo das fontes
geradoras
As principais abordagens sobre drenagem integrada ao planejamento e desenho urbano
são compatíveis entre si - SUDS, no Reino Unido, WSUD, na Austrália e LID, na

257
Universidade Católica de Pernambuco
10

América do Norte (BAPTISTA et al., 2011, p.27). Dessa forma, essas abordagens
serão analisadas como "desenvolvimento de baixo impacto" fazendo referência ao
"Low Impact Development" (LID), da América do Norte, com o objetivo de apresentar
as principais ideias e como funciona o LID.
O desenvolvimento de baixo impacto (LID) apresenta estratégias de gestão das águas
pluviais que devem ser aplicadas ao projeto e planejamento urbano (Quadro 4).
Algumas dessas estratégias são: diminuição de áreas impermeáveis; conservação de
recursos e ecossistemas naturais; manutenção de cursos de drenagem; minimização de
nivelamento e limpeza de terra; armazenamento de águas pluviais; manutenção de
tempo de concentração de pré-desenvolvimento; propagação de fluxo com o aumento
do tempo de deslocamento e controle de descarga de águas pluviais; e educação
ambiental para a disseminação do uso de técnicas compensatórias integradas ao projeto
com o objetivo de controlar o volume do escoamento superficial para diminuir os
riscos de alagamentos, inundações e enchentes (SOUZA; TUCCI, 2005, p. 5;
BARBASSA; TAVANTI, 2012, p.6).

Quadro 4 - Aplicação de estratégias do LID para a gestão de águas pluviais

Fotos: a) Exemplo de c) Exemplo de


c) Exemplo de layout
layout de rua com layout de rua com
de rua com estratégias
estratégias de LID. estratégias de LID.
de LID. (Fonte:
(Fonte: Software (Fonte: WSUD,
(TAVANTI, 2009)
TecAlt, 2014). 2014)
Fonte: Souza e Tucci (2005, p. 5); Barbassa e Tavanti (2012, p.6).

Para que tais estratégias sejam alcançadas, o LID propõe: i) a conservação dos recursos
naturais, através da preservação da vegetação e do solo nativo para permitir a

258
9º Encontro Internacional das Águas
11

manutenção de caminhos naturais de drenagem; ii) o direcionamento do escoamento


para áreas vegetadas, sem que áreas impermeáveis estejam diretamente conectadas,
com o intuito de diminuir o escoamento superficial, favorecer a infiltração de águas
pluviais e, por consequência, a recarga de aquíferos;iii) a elaboração de projetos que
respeitem peculiaridades locais com relação aos aspectos naturais da bacia e assegurem
a proteção dos mesmos; iv) o controle distribuído em pequenas escalas, através da
implantação, de forma integrada ao ambiente, de técnicas compensatórias o mais
próximo possível da fonte geradora de excedente de escoamento para mimetizar os
processos hidrológicos naturais; v) ações de manutenção dos dispositivos de drenagem
para evitar que o seu funcionamento seja comprometido e prevenir que haja a poluição
das águas pluviais devido a concentração de resíduos sólidos nesses dispositivos
(SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012, p. 6).

CONCLUSÃO
1. A urbanização de baixo impacto, através da aplicação de estratégias de LID e
da utilização de medidas compensatórias integradas ao projeto, possibilita a
preservação de aspectos naturais e a diminuição dos impactos causados pelo
processo de urbanização convencional. As medidas compensatórias encontram
aplicabilidade em novos empreendimentos e em empreendimentos existentes,
que ofereçam condições de integrá-las. Possibilitam a recuperação da
capacidade de infiltração, diminuição da produção de volumes excedentes de
escoamento superficial, recuperação de processo hidrológico similar a situação
de pré-ocupação, diminuição da poluição das águas, entre outros benefícios.
Além disso, oferecem vantagens significativas em relação a urbanização
convencional, proporcionando a criação de paisagens hidrológicas funcionais,
com menor custo de implantação em relação às soluções convencionais e com a
preservação de recursos naturais.
2. No entanto, é recomendável fazer um estudo de viabilidade, considerando as
peculiaridades locais, para saber quais técnicas podem ser integradas ao projeto
em questão, seja ele urbano ou arquitetônico. Sabe-se que a utilização dessas
técnicas integradas ao projeto como medidas de gestão das águas pluviais
resultam em ganhos significativos principalmente para o meio ambiente. Além

259
Universidade Católica de Pernambuco
12

de diminuir os altos gastos com a implantação de sistemas de drenagem


convencional e os riscos de ocorrência de inundações, alagamentos e enchentes
em áreas urbanas.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, M., et al. Técnicas Compensatórias em Drenagem Urbana. 2 ed. rev. e


aum. ed. Porto Alegre: ABRH: [s.n.], 2011, p. 318.

BARBASSA, A. P.; MORELLI, D. R. T. Planejamento urbano com técnicas de


desenvolvimento de baixo impacto. In: Anais do Simpósio Brasileiro de Recursos
Hídricos, 18. Campo Grande, 2009, p. 1-15.

BARBASSA, A. P.; TAVANTI, D. R. Análise dos Desenvolvimentos Urbanos de


Baixo Impacto e Convencional. RBRH. Revista Brasileira de Recursos Hídricos , v.
17 , n. 4, p. 17-28.2012.

BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL / TUCCI,


C. Gestão de águas pluviais urbanas. Brasília: Ministério das Cidades, v. 4, 2006. p.
194.

CANHOLI, A. P. Drenagem urbana e controle de enchentes. São Paulo: Oficina de


Textos: [s.n.], 2005, p. 302.

SILVEIRA, A. L. Drenagem Urbana: Aspectos de Gestão. Universidade Federal do


Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2002, p. 70.

SOUZA, C. F. Mecanismos técnicos-institucionais para a sustentabilidade da


drenagem urbana. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2005, p.
174.

SOUZA, C. F.; CRUZ, M. A. S.; TUCCI, C. E. M. Desenvolvimento Urbano de Baixo

260
9º Encontro Internacional das Águas
13

Impacto: Planejamento e Tecnologias Verdes para a Sustentabilidade das Águas


Urbanas. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 17, n. 2, p. 09-18, 2012.

SOUZA, C. F.; TUCCI, C. E. M. Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto. In:


Anais do ÁguaSul - Simpósio de Recursos Hídricos do Sul. 2005, Santa Maria. Uso
sustentável dos recursos hídricos: tecnologia, gestão e educação, Santa Maria: ABRH,
2005.

TAVANTI, D. R. Desenvolvimento urbano de baixo impacto aplicado ao processo


de planejamento urbano. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2009, p.
151.

261
Universidade Católica de Pernambuco
1

USO DO GEOPROCESSAMENTO NO DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA


REDE DE DRENAGEM DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA - GOIÁS

Gabriela Nogueira Ferreira da Silva1, Franciane Araújo de Oliveira2,


Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira 3

1Doutorado em Andamento em Geografia/Professora do Instituto Federal Goiano gabriela.silva@ifgoiano.edu.br


2Doutorado em Andamento em Geografia. francianearaujooliveira@gmail.com
3 Professora Titular na Universidade Federal de Goiás. celenemonteiro05@gmail.com.

RESUMO
Este trabalho buscou hierarquizar as redes de drenagem urbana existentes no município
de Goiânia, capital do estado de Goiás, e traçar um diagnóstico das mesmas com a
finalidade de observar o cumprimento da legislação vigente em relação ao Plano Diretor
da Cidade e mapear, com o auxílio do Geoprocessamento e do Sensoriamento Remoto,
as redes de drenagem que apresentam assoreamento de seus leitos. Para tornar possível a
realização deste trabalho utilizou-se os dados disponibilizados pelo Sistema Estadual de
Geoinformação (SIEG), que foram armazenados em um banco de dados geográfico. A
hierarquização da rede de drenagem levou em consideração a metodologia proposta por
Strahler (1952) e a inspeção visual dos canais teve o auxílio de imagens de alta resolução
espacial disponibilizadas pelo software Google Earth. A análise dos dados mostrou que a
rede de drenagem se apresenta bastante degradada. Foram identificados apenas 22 canais
que apresentam sua Área de Preservação Permanente de acordo com o Plano Diretor da
cidade. O assoreamento dos canais também é notório sobretudo na porção Sul do
município.
Palavras-chave: Recursos hídricos; Geoprocessamento; Degradação; Mapeamento.

INTRODUÇÃO
A urbanização está intimamente ligada ao desenvolvimento do capitalismo e da
industrialização. Este processo é, de certa forma, inevitável, e, quando
apresentam densidade e planejamento adequados demonstram ser um eficiente
modo de vida, uma vez que nenhum país na era industrial conseguiu atingir
significativo crescimento econômico sem a urbanização (GOMES, 2009). Este
processo, entretanto, modifica todos os elementos da paisagem: o solo, a
geomorfologia, a vegetação, a fauna, a hidrografia etc. Em relação aos recursos
hídricos, prejuízos ambientais, sociais e econômicos são causados pelo precário
conhecimento dos condicionantes físicos e pela má gestão das águas urbanas
(CARVALHO; BRAGA, 2001).
Investigações cientificas sobre drenagens fluviais têm importante função e aplicação
na geomorfologia, pois podem levar à compreensão de numerosas questões
geomorfológicas, uma vez que os cursos de água constituem processo morfogenético

262
9º Encontro Internacional das Águas
2

dos mais ativos na esculturação da paisagem terrestre. Pesquisas dessa natureza são
estratégicas para planejadores e gestores municipais, uma vez que demarcam áreas do
ponto de vista hídrico e explicam o comportamento da rede de drenagem (dinâmica
dos rios) em cada setor definido, associando às questões do meio físico-natural e social
de uma dada bacia hidrográfica (SANTOS, 2004).
A caracterização morfométrica de bacias hidrográficas possui importante papel na
compreensão dos processos hidrológicos. O estudo de suas formas permite a análise de
sua susceptibilidade à enchentes frente a condicionantes naturais e a determinação
indireta de diversos dados em seções ou locais nos quais faltem informações
(VILLELA; MATTOS, 1975).
Desta forma, este trabalho se apresenta com o objetivo de hierarquizar as redes de
drenagem urbana existentes no município de Goiânia, capital do estado de Goiás, e
traçar um diagnóstico das mesmas com a finalidade de observar o cumprimento da
legislação vigente em relação ao Plano Diretor da Cidade e mapear, com o auxílio do
Geoprocessamento e do Sensoriamento Remoto as redes de drenagem que apresentam
assoreamento em seus canais.

Caracterização da área de estudo


Localizada em região de Cerrado, a capital do estado de Goiás faz parte da Região
Metropolitana de Goiânia, e tem como municípios limítrofes Abadia de Goiás,
Aragoiânia, Aparecida de Goiânia, Goianápolis, Goianira, Nerópolis, Santo Antônio de
Goiás, Senador Canedo e Trindade (Figura 1). De acordo com o censo realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o município tem uma
população de 1.302.001 habitantes em uma área de 733,116 km2, o que representa uma
densidade populacional de 1.776,74 hab/km2.

263
Universidade Católica de Pernambuco
3

Figura 1 - Mapa de localização de Goiânia, Região Metropolitana e recursos hídricos

Com uma taxa de urbanização de 99,6 % o município apresenta diversos problemas


relacionados aos recursos hídricos e a degradação de sua rede de drenagem. Em 2007
foram detectados 38 pontos de inundação que em sua maioria se localizam na porção
Sul de Goiânia (SANTOS; ROMÃO, 2010; IBGE, 2010).
A precipitação pluviométrica anual é de aproximadamente 1487,2 mm1 e o clima é
subtropical com duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa. O município
apresenta 22 sub-bacias hidrográficas, sendo que todas elas desaguam nos ribeirões João
Leite, Anicuns e Dourados, pertencentes a Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte. Tal
bacia tem formato não circular, que contribui para o escoamento fluvial e não favorece a
ocorrência de enchentes e inundações frente a condicionantes naturais, e o comprimento
médio dos cursos d´água tem crescimento positivo em relação ao crescimento da ordem
dos canais. (COMDATA, 2010; VEIGA et al., 2013).

1
Dados obtidos junto a Prefeitura municipal de Goiânia através do sítio:
http://www.goiania.go.gov.br/html/principal/goiania/dadosgerais/. Acesso em 10/06/2015.

264
9º Encontro Internacional das Águas
4

METODOLOGIA
A rede de drenagem corresponde aos eixos preferenciais das águas superficiais com
fluxo concentrado de origem pluvial ou fluvial, de caráter perene, intermitente ou
efêmero. Mais especificamente, a rede hidrográfica possui como referenciais espaciais
os talvegues, sendo, portanto, o conjunto de todos os canais fluviais. A análise da rede
de drenagem é de fundamental importância para a compreensão e caracterização de um
sistema ambiental, uma vez que a estrutura ou forma como estes canais aparecem em
superfície é resultante da interação entre elementos de natureza geológica,
climatológica, biogeográfica e topográfica (CHRISTOFOLETTI, 1985).
O primeiro passo para a análise da rede de drenagem foi uma revisão bibliográfica que
buscou o levantamento das informações e resultados de pesquisas sobre a importância
da caracterização física das mesmas, sobretudo em áreas urbanas. Nesta etapa também
foi abordado o papel das geotecnologias, tais como o Sistema de Informações
Geográficas (SIG), o Geoprocessamento e o Sensoriamento Remoto, no processamento
e análise de dados relacionados aos recursos hídricos. O software utilizado foi o ArcGis
versão 10.3.
Posteriormente foi realizada a montagem do banco de dados utilizando procedimentos
metodológicos que envolveram a caracterização da área de estudo e a hierarquização de
sua rede de drenagem. A próxima etapa foi a verificação do cumprimento do Plano
Diretor da cidade em relação a preservação das matas ciliares e das matas de galeria ao
longo de toda a rede de drenagem que passa pelo município de Goiânia. Foram
mapeadas também as redes de drenagem que possuíam assoreamento de seus leitos.
A montagem do banco de dados foi realizada por meio de dados adquiridos junto ao site
do Sistema Estadual de Geoinformação de Goiás (SIEG). Os dados adquiridos foram: a
rede de drenagem em escala 1:100 000 e os limites estaduais em escala 1:250 000. A
escolha desses dados se deve a sua abrangência (Goiás) o que possibilita a posterior
união dos resultados aqui apresentados com futuras análises de toda a Região
Metropolitana de Goiânia. O primeiro passo após a montagem do banco de dados foi o
ajuste cartográfico para que a rede de drenagem disponibilizada pela Agência Nacional
das Águas (ANA) em escala 1:100 000 se encaixasse sob os limites municipais
disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram

265
Universidade Católica de Pernambuco
5

selecionadas as redes de drenagem localizadas internamente e as que servem de limites


para outros municípios da região metropolitana de Goiânia.
A hierarquização da rede de drenagem foi realizada em ambiente SIG tendo como base
os conceitos de Strahler (1952). Por hierarquia fluvial entende-se a ordenação dos
canais fluviais dentro de uma bacia hidrográfica considerando que os canais de primeira
ordem são aqueles que não apresentam tributários, isto é, são canais de cabeceira de
drenagem. Os canais de segunda ordem são os canais subsequentes à confluência de
dois canais de primeira ordem e assim sucessivamente, sendo que a confluência com
canais de ordem hierárquica menor não altera a hierarquização da rede.
Após a hierarquização da rede de drenagem os arquivos vetoriais foram exportados em
formato kml2 e abertos no Google Earth onde puderam ser vistas as redes sobrepostas
em imagens de alta resolução espacial. Desta forma, foram acrescentadas informações
sobre a existência ou não de cobertura vegetal ao longo das margens dos rios adequadas
ao Plano Diretor. O Plano Diretor da Cidade de Goiânia aponta como Área de
Preservação Permanente as faixas bilaterais contíguas aos cursos d´água temporários e
permanentes, com largura mínima de 50 metros, a partir das margens ou cota de
inundação para todos os córregos; de 100 metros par ao Rio Meia Ponte e os Ribeirões
Anicuns e João Leite, desde que tais dimensões propiciem a preservação de suas
planícies de inundação ou várzeas.
Outra informação adicionada foi com relação ao assoreamento dos rios. Foi verificado,
através de inspeção visual, seguindo parâmetros de cor, textura das imagens e forma dos
canais, a presença de sedimentos nos mesmos. Nessa etapa foram mapeados todos os
canais com exceção do Rio Meia Ponte, cuja degradação foi identificada pontualmente e
não por canais com o objetivo de observar quais redes estavam contribuindo para o
carregamento de sedimentos para esse rio de montante a jusante.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O recorte geográfico escolhido para a aplicação da metodologia apresentada foi o
munícipio de Goiânia localizado no estado de Goiás. A hierarquização da rede mostrou

2
O KML, ou Keyhole Markup Language, é um formato de ficheiro e de gramática XML para modelar e
armazenar elementos geográficos como pontos, linhas, imagens, polígonos e modelos para apresentação
no Google Earth, no Google Maps e noutras aplicações (GOOGLE, 2015)

266
9º Encontro Internacional das Águas
6

que 49,3 % dos canais são canais de 1° ordem e apenas 5 % dos canais são canais de 6°
ordem, correspondendo este último ao Rio Meia Ponte. A Tabela 1 apresenta a
quantidade de canais e sua extensão dentro do município de Goiânia.

Tabela 1 - Ordenamento dos canais e canais degradados


Ordem dos canais
Ordem Quantidade de Extensão (km) Canais
(Strahler) canais Degradados
1 177 266,873 25
2 83 128,175 25
3 29 40,723 7
4 26 46,402 10
5 23 70,695 1
6 21 65,65 -

É importante ressaltar que embora o recorte geográfico da área de estudo seja o


munícipio de Goiânia, a hierarquização dos rios foi feita a nível de bacia hidrográfica ou
seja o ordenamento se iniciou de forma que os canais foram nomeados de montante a
jusante antes mesmo de entrarem nos limites do município.
Com relação ao cumprimento do Plano Diretor foi identificado que apenas 22
canais (22,235 km) possuem suas áreas de Preservação Permanente, matas ciliares e de
galerias, protegidas com vegetação nativa ou reflorestada ao longo de sua extensão. A
retirada da vegetação nativa e a impermeabilização do solo reduzem as taxas de
infiltração, aumentando, entre outros aspectos, a velocidade de escoamento, os picos de
cheias e o carregamento de poluentes de montante à jusante ao longo das bacias.
Processos erosivos, oriundos do mau uso do solo, carregam sedimentos para o leito dos
rios e provocam prejuízos sociais e econômicos (TUCCI, 2009). Estudos realizados na
bacia do Córrego Botafogo, pertencente a área urbana de Goiânia, mostraram que,
indiferente ao tempo de retorno a vazão média nesta bacia com toda sua vegetação
preservada é aproximadamente quatro vezes menor do que a vazão média apresentada
em seu atual estado de uso e ocupação da terra, ou seja, área totalmente urbanizada com
70 % de área impermeabilizada (SILVA, 2012).

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Universidade Católica de Pernambuco
7

Embora seja um fenômeno natural, o assoreamento vem sendo intensificado pela ação
antrópica sobretudo em áreas urbanas, e podem aumentar o nível de terra submersa que
ajuda originar grandes enchentes e mudanças no curso da água. No meio físico suas
principais causas são: aceleração do processo erosivo, ocorrência de escorregamentos, o
aumento de áreas inundáveis, diminuição da infiltração de água no solo, contaminação
do solo e das águas superficiais e subterrâneas, aumento da quantidade de partículas
sólidas e gases na atmosfera, aumento da propagação das ondas sonoras.
Com relação a identificação de canais com sinais de assoreamento foram identificados
68 canais assoreados no munícipio de Goiânia, a grande maioria na porção Sul do
Munícipio, área urbana e de uso já consolidado. O mapa da Figura 2 apresenta a
localização dos canais identificados com assoreamento por meio do uso de imagens de
alta resolução espacial e os pontos identificados com assoreamento ao longo do Rio
Meia Ponte.

Figura 2 - Canais identificados com assoreamento no município de Goiânia

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9º Encontro Internacional das Águas
8

Com isso pode ser observado que os córregos Palmito, Água Branca, Gameleira,
Lajeado Capoeirão, o ribeirão Caveirinha e o rio João Leite constituem canais que
contribuem para o carregamento de sedimentos para o Meio Ponte, além das erosões e
desmatamento ao longo do próprio rio pois são poucas as áreas em que são preservados
os 100 metros estipulados por lei.

Considerações finais
1. O presente trabalho objetivou a criação de banco de dados com a hierarquização
da rede de drenagem e o diagnóstico de seus canais utilizando para isso
ferramentas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto para o
processamento e análise dos dados. As geotecnologias se mostraram satisfatórias
inclusive para a elaboração de roteiros de campo e para as análises feitas
(hierarquização e comprimento dos canais e espacialização dos dados).
2. Durante a execução do mesmo foi observado a necessidade de ajuste
cartográfico para compilação das bases de dados.
3. A distribuição espacial das ocorrências georreferenciadas de canais assoreados
segue uma lógica que respeita a ausência de Áreas de Preservação Permanente,
ocupação irregular e altas taxas de impermeabilização do solo.
4. Trabalhos futuros poderão utilizar a metodologia e os resultados aqui
apresentados para a elaboração do diagnóstico dos recursos hídricos da Região
Metropolitana de Goiânia.

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