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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS/ INGLÊS

Disciplina: Introdução à Literatura Infantil e Juvenil


Docente: Profa. Alice Atsuko Matsuda
Discente: Thiago Antonio Govatski 5º período

Resenha das obras “A Terra dos Meninos Pelados”, de Graciliano


Ramos e “Bem-vindos ao Rio”, de Marcos Rey

A última peça ficcional da coletânea “Alexandre e Outros Heróis” (2000),


o conto infanto-juvenil “A terra dos meninos pelados”, originalmente
publicado em 1937, e premiado no mesmo ano pelo Ministério da Educação, é
um texto bastante peculiar de Graciliano Ramos. Na pequena narrativa,
contada em terceira pessoa, acompanhamos o passeio de Raimundo, um
menino careca e que possui os olhos de cores diferentes (o direito é preto e o
esquerdo, azul), por Tatipirun, uma estranha terra habitada por bichos e plantas
falantes e várias crianças que, assim como Raimundo, têm a cabeça pelada e
os olhos pretos e azuis. É interessante notar que Raimundo, ou Pirundo,
apelido que recebe de uma das meninas peladas, chega até Tatipirun por
acidente, enquanto escapava das ofensas dos garotos da sua vizinhança no
mundo real, que gozavam do fato dele ser diferente - pelado (careca) e ter os
olhos de cores diversas - mas, apesar do apelo de todos os meninos pelados e
dos outros moradores da exótica terra para que ficasse ali, opta por voltar ao
seu mundo de origem. Outro fato curioso é que nada parece realmente
acontecer enquanto o protagonista faz a sua visita ao mundo mágico, de modo
que não ocorre nenhuma aventura no sentido tradicional da palavra (lutas,
fugas, enigmas, perigos, desafios, suspense, superação, etc), apenas
conversas e discussões com os moradores. E a história termina assim que o
menino retorna à sua terra.
Graciliano Ramos, nascido no ano de 1892, no município de
Quebrangulo, Alagoas, foi um dos maiores prosadores do país, tendo publicado
romances (Caetés, São Bernardo, Angústia e Vidas Secas), contos, memórias
e crônicas que figuram entre os mais importantes textos da literatura brasileira.
Dono de um estilo seco, direto e sem enfeites, preconizava que a escrita
deveria se abster de exageros e beletrismos retóricos. Em 1936, o autor de
São Bernardo foi preso por razões político ideológicas, fato que rendeu o
famoso livro “Memórias do Cárcere”. Morre em 1953, no Rio de Janeiro, de
câncer no pulmão, após uma viagem à Argentina no ano anterior, onde foi
operado sem sucesso.
Podemos considerar A terra... como peculiar dentro da produção de
Graciliano Ramos pelo fato da utilização do elemento mágico, o que não
aconteceu propriamente nem nas aventuras do personagem Alexandre, pois
este se trata de um contador de causos, e pelo estilo mais prolixo, profuso de
repetições e despido de elementos regionais. A narrativa tem como tema
central, além do preconceito, a rejeição ao escapismo, pois, como já
mencionado no início desta resenha, o personagem principal, por mais que
tivesse encontrado semelhantes que não o maltratavam, recusa-se em
permanecer naquele lugar fantástico. Com isso, talvez possamos encontrar nas
palavras de Osman Lins a explicação para o estilo do conto: “o escritor, longe,
aqui, com o Menino Pelado, da sua linguagem áspera e da rudeza do seu
mundo, regressa e retoma-os. Retoma o seu mundo e o seu verbo. Sua função
não é, sob qualquer pretexto, evadir-se.” (2000, p. 197), ou seja, se o autor se
permitiu uma pequena fuga de estilo e recursos, metaforicamente, faz com que
esse escape seja abandonado por Raimundo, e o regresso ao estado original
prevalece.
Publicado em uma época fértil para a literatura infantil no país,
principalmente pelo fato de se tratar da mesma década em que Monteiro
Lobato lançou boa parte das histórias do Sítio do Picapau Amarelo, o conto
escapa dos aspectos ufanistas e didáticos apresentados por obras suas
contemporâneas. Também não é possível identificar utilitarismo, às avessas ou
não, n’A terra... pois não há nenhum discurso pedagógico disfarçado nos
desenlaces da história, sem nenhuma intenção aparente de levar o leitor até
certa conclusão; e mesmo o detalhe da lição de geografia, que é reiterada
várias vezes por Raimundo, algo que poderia ser encarado como uma tentativa
de chamar a atenção dos leitores para a importância das tarefas escolares,
acaba recebendo uma explicação reticente: “Sei lá! Dizem que [estudar
geografia] é necessário. Parece que é necessário. Enfim... não sei.” (RAMOS,
2000, 130).
Com tudo isso, concluímos que, pelo fato já comentado de não se tratar
de uma aventura propriamente dita, pela complexa distribuição dos diálogos e
pelo final emblemático, ficaria difícil recomendar o conto para estudantes muito
jovens. Seria interessante para trabalhar com alunos na pré-adolescência em
diante, ou seja, a partir da sexta série (sétimo ano).

Publicado originalmente em 1987, na série Vaga-Lume, da editora Ática,


“Bem-vindos ao Rio” é o sétimo livro de Marcos Rey (pseudônimo de
Edmundo Donato) lançado na famosa coleção da editora paulista. Narrada em
terceira pessoa, pelo tradicional narrador onisciente, a obra aborda a temática
da violência urbana, ilustrada pela figura do menor de rua que, desamparado e
sem melhores opções, leva uma vida às margens da lei, praticando pequenos
(ou nem tanto) delitos para se manter vivo. Acompanhamos o sequestro de
Cláudio, que veio de Curitiba, e Patrícia (Pat), moradora de Brasília, dois
adolescentes que estão visitando a cidade do Rio de Janeiro. Eles se
conhecem no antigo Palácio do Catete e, após andarem pelas ruas cariocas
em busca do museu de Arte Moderna, são abordados por Nariz (o garoto de
rua que usa a camiseta com os dizeres que dão título ao livro: “Bem-vindos Ao
Rio”), acompanhado de mais alguns meninos, e levados até uma casa
abandonada no bairro da Lapa, onde são mantidos reféns. Logo após o rapto,
surge o suposto líder do bando, um rapaz chamado Baixo (apelido condizente
com a sua estatura), que, por ser mais racional e experiente, toma as rédeas
da situação, o que não impede que aconteçam vários atritos com o Nariz,
desejoso de se mostrar capaz de comandar o sequestro. Depois de uma
tentativa de fuga por parte de Cláudio; negociações com os pais dos raptados a
respeito do resgate; investigações da polícia – sem contar a denúncia anônima
de Sebão, um dos garotos que andava com o bando do Baixo e do Nariz e
resolveu não participar da empreitada criminosa –; os jovens são libertados e
quase todos os raptores presos - menos Baixo (morto em um acidente de
carro, enquanto Nariz, que dirigia o veículo, tentava despistar a polícia) e sua
namorada Tereca.
Marcos Rey nasceu na cidade de São Paulo, no ano de 1925, e sempre
teve a capital paulista como principal palco de suas histórias. Seu primeiro livro
foi publicado em 1953, a novela “Um gato no triângulo”. Escreveu romances,
contos, roteiros para rádio e televisão, inclusive telenovelas, e peças de teatro.
Venceu o Jabuti duas vezes, recebeu, em 1995, o Troféu Juca Pato, como
intelectual do ano, e, a partir de 1986, ocupou a cadeira número 17 da
Academia Brasileira de Letras. Morreu em abril de 1999, na sua cidade natal.
Bem-vindos... é lançado quando a literatura infantil/juvenil brasileira já
tinha atingido sua maturidade, liberta definitivamente da necessidade (ou
imposição) de uma escrita pedagogizante. Como já foi mencionado, o livro
retrata os problemas sociais do meio urbano, focando nas misérias da
realidade das ruas de uma grande metrópole, o Rio de Janeiro, no caso, o que
já é de certa maneira recorrente na literatura infantil/juvenil brasileira há algum
tempo. No entanto, levando em consideração que a série Vaga-lume possui
caráter paradidático, tendo nas escolas o seu principal comprador, surgem
alguns momentos paradoxais na trama, como o fato de Nariz ser tão gentil com
os cativos (Cláudio e Pat), e a forma quase carinhosa que os dois
protagonistas, ao final do livro, enquanto caminham calmamente, falam sobre o
falecido líder do bando, o que pode ser visto como uma curiosa manifestação
da síndrome de Estocolmo.
Apesar de ser muito difícil classificar o livro de utilitário, pois é nítida a
intenção do autor em criar uma história de aventura (desventura) e trazer
alguns questionamentos de ordem social, sem se esquecer da sempre
presente intertextualidade com a música brasileira (um dos membros do bando
é um violonista apelidado de Baden), não é possível ignorar alguns momentos
que parecem carregar certo teor utilitarista, expressos na figura de Sebão. O
primeiro aparece quando Sebão decide abandonar o grupo, e o narrador fala
por meio de sua consciência, passando uma mensagem de que o crime não
compensa

Não voltaria mais àquela casa; virara a página. Só ao entrar no


ônibus é que respirou. Aquela notícia de rádio e o fato de os dois
sequestrados estarem ali na Toca mudara sua cabeça e sua vida.
Capaz até que passasse a gostar de engraxar. Se não, faria força.
(REY, 2003, p. 42).

Outro momento de carga utilitária aparece quando o menino está conversando


com sua mãe: “[...] eu não vou fugir da raia – disse mostrando a caixa de
engraxar. – Estou voltando pra guerra com toda a garra.” (p. 55) reforçando a
ideia de que mais válido é trabalhar do que apostar numa vida de delitos.
Parece muito deliberada essa conclusão a que o personagem chega,
mostrando a intenção do autor de passar uma mensagem.
Concluindo, podemos afirmar com segurança que o livro se destina a
uma faixa etária similar ao do anterior, ou seja, pré-adolescentes a partir de 11
ou 12 anos, principalmente pela temática abordada, que seria mais complicada
de ser trabalhada com alunos muito mais novos.

REFERÊNCIAS

LINS, Osman. O mundo recusado, o mundo aceito e o mundo enfrentado. In:


RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. 40. ed. Rio, São Paulo:
Record, 2000.
RAMOS, Graciliano. ______.
REY, Marcos. Bem-vindos ao Rio. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.

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