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Direito de adjudicar e direito de remir: confronto do art.

685-
A, § 2º, Código de Processo Civil, com o art. 1.482 do Código
Civil.

Fredie Didier Jr.


Professor-adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (graduação, mestrado e
doutorado). Mestre (UFBA) e Doutor (PUC/SP). Membros dos Institutos Brasileiro e Ibero-americano de
Direito Processual. Advogado e consultor jurídico. www.frediedidier.com.br

1. Introdução.

A Lei Federal n. 11.382/2006 promoveu sensíveis alterações e


novidades no processo de execução por quantia certa, notadamente naquele
fundado em título executivo extrajudicial.
Duas dessas mudanças são o objeto deste ensaio: a redefinição
da adjudicação como forma de pagamento ao credor (art. 685-A, CPC) e a
revogação dos artigos que cuidavam da remição de bens (art. 787 e segs. do
CPC, ora revogados). Esses aspectos da reforma legislativa estão
sensivelmente entrelaçados, notadamente em razão de uma regra constante
do Código Civil, o art. 1.482, adiante examinado.
É preciso conciliar as regras do Código Civil e do reformado
Código de Processo Civil, notadamente porque parece haver um conflito
entre elas, pois o legislador material também cuidou da remição de bens, ora
aparentemente extinta pelo legislador processual.
O objetivo deste trabalho é identificar em que medida ainda
permanece eficaz o art. 1.482 do Código Civil e se ainda é possível falar no
direito de remição.
Trata-se de minha contribuição ao livro em homenagem ao
Ministro José Delgado, também nordestino, um dos mais destacados
membros do Superior Tribunal de Justiça e ilustre processualista.
Eis, pois, a minha homenagem.

2. Considerações sobre a mudança do perfil dogmático da


adjudicação.

A adjudicação é técnica de pagamento ao credor-exeqüente.


Sofreu diversas alterações pela Lei Federal n. 11.382/2007, a tal ponto que o
próprio conceito do instituto deva ser reformulado. Não há problema em
relação a isso, pois o conceito de adjudicação é um conceito jurídico-
positivo e, pois, contingente, ficando sempre na dependência do exame de
um determinado direito positivo.
Percebeu a necessidade de redefinição HUMBERTO THEODORO
JR., que conceitua atualmente a adjudicação como “o ato executivo
expropriatório, por meio do qual o juiz, em nome do Estado, transfere o bem
penhorado para o exeqüente ou para outras pessoas a quem a lei confere
preferência na aquisição”1. Trata-se, pois, de uma transferência forçada da
titularidade de um bem que, se feita ao exeqüente, serve como pagamento da
dívida. Quando a transferência é feita a terceiro não-exeqüente, a
adjudicação serve ao exercício de um direito de preferência à aquisição de
certos bens legalmente previsto.
A adjudicação pode ser tanto de bens móveis quanto de bens
imóveis. O novo regramento resolveu antigo problema, pois, de acordo com
o texto anterior, somente bens imóveis poderiam ser adjudicados, não
obstante a doutrina à época admitisse a adjudicação de bens móveis. Agora,
não há mais dúvida.
A adjudicação, com a reforma, mudou de status: trata-se,
atualmente, da forma preferencial de pagamento ao credor (art. 647, I, CPC).
“A execução tende, em primeiro lugar, a propiciar ao exeqüente a
apropriação direta dos bens constritos em pagamento do seu crédito”2. No
regramento antigo, a adjudicação somente poderia ocorrer após a primeira
hasta pública. Doravante, a adjudicação poderá ocorrer a qualquer momento
depois de resolvida a questão sobre o valor do bem penhorado, depois,
portanto, de resolvidas as questões relacionadas à avaliação 3. O limite
temporal máximo para a adjudicação, embora não esteja claro no texto legal,
parece ser o início da hasta pública. Não havendo licitante na venda judicial,
não há problema em que se admita a adjudicação depois de realizada a
frustrada tentativa de alienação do bem a terceiros4.
Outra importante alteração no regime jurídico da adjudicação
foi a ampliação dos legitimados a adjudicar. Atualmente, não apenas o
exeqüente pode fazê-lo, mas, também: a) credor com garantia real; b)
credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem; c) pelo cônjuge,
pelos descendentes ou ascendentes do executado (§ 2º do art. 685-A, CPC);
d) e, no caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à

1
A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 117.
2
THEODORO Jr., Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial, cit., p. 116.
3
THEODORO Jr., Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial, cit., p. 121-122.
4
THEODORO Jr., Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial, cit., p. 122.
sociedade, esta será intimada, assegurando preferência aos sócios (§ 4º do
art. 685-A, CPC).
Tendo em vista o objetivo desse ensaio (examinar a
sobrevivência do art. 1.428 do Código Civil), restringiremos a abordagem à
análise da legitimidade do cônjuge, descendente ou ascendente.

3. O direito de o membro da família adjudicar o bem penhorado. A


extinção do direito de remir o bem executado. Um caso de
supressio de direito processual.

O cônjuge, os descendentes ou ascendentes do executado, antes


da Lei Federal n. 11.382/2006, poderiam remir o bem penhorado, adquirindo
o bem que fora adjudicado ou arrematado, pagando o respectivo preço (art.
787 e segs. do CPC, agora revogados). A referência a “cônjuge” inclui,
também, por analogia, a figura do companheiro. Havia quem admitisse, no
antigo regramento da remição, a legitimidade do cônjuge separado de fato
ou de direito, mesmo divorciado, se ainda não houve a partilha5.
A remição era instituto que tinha o objetivo de evitar que bens
da família saíssem do respectivo patrimônio; o objetivo era “salvar” um bem
da execução. “É benefício criado pietatis causa para permitir que, em
condições de igualdade, o bem penhorado se transfira para membro da
família do devedor e não para estranho” 6. Remir é resgatar, tirar do poder
alheio: salvar o bem que seria transferido para o terceiro ou para o
exeqüente. Por isso a remição pressupunha prévia adjudicação ou
arrematação.
O regramento do instituto no CPC foi revogado pela Lei
Federal n. 11.382/2006.
No Código Civil, porém, ainda há previsão do direito
potestativo de remir bem hipotecado: “Art. 1.482. Realizada a praça, o
executado poderá, até a assinatura do auto de arrematação ou até que seja
publicada a sentença de adjudicação, remir o imóvel hipotecado, oferecendo
preço igual ao da avaliação, se não tiver havido licitantes, ou ao do maior
lance oferecido. Igual direito caberá ao cônjuge, aos descendentes ou
ascendentes do executado”.
Resta, então, a seguinte dúvida: o cônjuge, companheiro,
descendente ou ascendente ainda têm o direito de resgatar o bem penhorado
transferido a outrem (terceiro ou exeqüente)?
5
ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. 8ª ed. São Paulo: RT, 2002, p. 1.332.
6
THEODORO Jr., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 39ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, v.
2, p. 332.
Parece que não.
Estes sujeitos, pelos mesmos motivos que justificavam a antiga
remição de bens, têm agora o direito de preferência na aquisição do bem
penhorado fora e antes da hasta pública. São legitimados a adjudicar o bem
penhorado. Mesmo se os outros legitimados (exeqüente, credor com garantia
real e sócio da pessoa jurídica) pretenderem exercer o direito potestativo de
adjudicar o bem, em igualdade de condições têm o cônjuge ou companheiro,
o descendente e o ascendente, nesta ordem, a preferência na adjudicação
(art. 685-A, § 3º, CPC). Se houver vários pleiteantes no mesmo grau de
preferência, far-se-á uma licitação entre eles, “caso em que a adjudicação
será deferida àquele que maior preço oferecer”7. Conferiu-se a tais sujeitos
um direito mais abrangente: podem adquirir qualquer bem,
independentemente da existência de prévia arrematação ou adjudicação,
como outrora, desde que, para isso, depositem no mínimo o valor alcançado
na avaliação. Não há mais resgate, salvamento: o bem adjudicado não estava
indo embora... Ele é adquirido antes que seja transferido a um terceiro. Não
é mais possível, portanto, utilizar, ao menos em respeito ao vernáculo, o
verbo remir. Obviamente, porém, se houver hasta pública sem licitante, o
direito de adjudicar ainda pode ser exercitado.
Mas remanesce outra dúvida: e se o bem hipotecado for
transferido a terceiro ou ao exeqüente, poderá um desses sujeitos, ainda
assim, remir o bem, resgatando-o (perceba que o CC, art. 1.482, prevê esse
direito na execução hipotecária)?
Parece-nos, também, que não: o não-exercício do direito de
adjudicar é conduta que implica a perda do direito de remir, até como forma
de proteger a boa-fé do terceiro adquirente, que tem a expectativa de não ser
surpreendido com o resgate do bem que acabara de adquirir. É uma espécie
de supressio8 (Verwirkung, para os alemães) de direito processual: perda de
7
THEODORO Jr., Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 121.
8
Sobre o tema, amplamente, CORDEIRO, António Manuel da Rocha e Menezes. Da boa-fé no direito
civil. Coimbra: Almedina, 2001, p. 797-836. É especialmente importante a consulta à nota 571, na p. 803,
em que o autor examina a supressio no Processo Civil, fazendo uma resenha da bibliografia e da
jurisprudência alemã em derredor do assunto. No final da nota, o autor conclui: “Mas no Direito Português,
e dada a existência de toda uma teia rígida de prazos processuais, dobrada por um prazo supletivo geral –
art. 153.o CPC – não é de introduzir a ideia de supressio processual: os poderes das partes vão sendo
precludidos ao longo do processo e o recurso é sempre via indicada para apreciar as irregularidades do
tribunal”. Conforme se pode perceber do nosso texto, admitimos a possibilidade de existência de supressio
processual. É possível, imaginar, também, a possibilidade de supressio de um poder jurisdicional. Por
exemplo: será que o magistrado que admitiu a demanda, no saneador, determinou e colheu inúmeras
provas, pode, tempos depois, entender que falta ao procedimento um requisito de admissibilidade? Não
haveria, aí, em razão do lapso de tempo, uma supressio do poder de controlar a regularidade do processo,
em homenagem à confiança, à cooperação e à boa-fé objetiva? Parece-nos que sim. Só que esse tema deve
ser objeto de outro ensaio.
um direito por não ter sido exercido pelo titular em certo lapso de tempo, o
que gerou a legítima expectativa (por força da boa-fé objetiva) em outrem de
que não seria mais exercido. Trata-se de interpretação que visa tutelar a
confiança e, portanto, a boa-fé objetiva. O direito do membro da família,
doravante, deverá ser exercido nos moldes do art. 685-A, CPC.
Há duas diferenças significativas entre o direito de adjudicar e o
direito de remir, ambos potestativos: a) o direito de adjudicar é exercido
antes da transferência do bem a terceiro ou ao exeqüente, diferentemente do
direito de resgatar o bem, que pressupõe a perda do bem para um terceiro
estranho à família; b) o preço a ser pago na adjudicação é aquele definido na
avaliação, enquanto na remição o preço era ou o da arrematação (que
poderia ser em valor inferior ao da avaliação) ou o da adjudicação (que era o
da avaliação).
A adjudicação do bem dado em garantia real pelo cônjuge,
companheiro, descendente ou ascendente extinguirá o direito real (art. 1.499,
VI, CC), que se sub-rogará no preço da transferência. É preciso, porém,
intimar o credor com garantia real da penhora feita no bem que lhe foi dado
em garantia. Se o valor da avaliação for inferior ao valor da dívida garantida
por hipoteca, o antigo credor hipotecário, agora transformado em credor
quirografário, poderá cobrar a diferença do devedor (art. 1.430 do CC)9.

4. Direito de o executado remir o bem hipotecado que foi adjudicado


ou arrematado.

O art. 1.482 prevê, ainda, o direito de o próprio executado


remir o bem hipotecado que foi transferido ao exeqüente ou a terceiro.
Antes da reforma, discutia-se a possibilidade de o próprio
executado remir o bem hipotecado que fora adjudicado ou arrematado. O art.
1.482 do Código Civil prescreve: “Realizada a praça, o executado poderá,
até a assinatura do auto de arrematação ou até que seja publicada a sentença
de adjudicação, remir o imóvel hipotecado, oferecendo preço igual ao da
avaliação, se não tiver havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido”.
Remir é resgatar: salvar o bem que seria transferido para o terceiro ou para o
exeqüente. Por isso a remição pressupunha prévia adjudicação ou
arrematação.
O CPC silenciava sobre o assunto. A Lei Federal n.
11.382/2006, ao extinguir a remição e ampliar o rol de legitimados para a
adjudicação, permaneceu em silêncio.
9
Art. 1.430 do CC: “Quando, excutido o penhor, ou executada a hipoteca, o produto não bastar para
pagamento da dívida e despesas judiciais, continuará o devedor obrigado pessoalmente pelo restante”.
O art. 651 do CPC, porém, dispõe que “Antes de adjudicados
ou alienados os bens, pode o executado, a todo tempo, remir a execução,
pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, mais juros,
custas e honorários advocatícios”. Este artigo trata da remição da execução
(resgate de toda a dívida exeqüenda, mediante o pagamento ou depósito do
principal, mais juros, custas e honorários, extinguindo a execução pelo
pagamento).
É preciso perceber, ainda, que, nos termos do inciso V do art.
656 do CPC, é possível a substituição do bem penhorado que for de “baixa
liquidez”. O objetivo do inciso é, obviamente, permitir a substituição do bem
penhorado por outro que possa ser convertido mais facilmente em dinheiro.
Assim, é lícito dizer que é sempre possível a substituição do bem penhorado
por dinheiro.
São três comportamentos distintos: a) remir a execução é pagar
integralmente a dívida pecuniária executada; b) remir o bem executado é
resgatá-lo, salvá-lo de uma transferência para o patrimônio do exeqüente ou
de um terceiro; c) substituir o bem penhorado por dinheiro não significa
pagar a dívida nem resgatar o bem, que ainda não foi alienado: significa,
apenas, substituir o objeto da penhora por dinheiro, no valor determinado
pela avaliação. Ao pedir a substituição do bem penhorado por dinheiro, o
executado apenas livra o bem que fora penhorado, pagando o preço da
avaliação, sem, necessariamente, remir a execução, pois o valor depositado
(que é o valor da avaliação) pode ser inferior ao valor executado. A remição
da execução somente se dá com o depósito integral do montante do crédito,
incluindo juros, custas e honorários advocatícios.
As condutas “a” e “c” podem ser praticadas pelo executado. A
dúvida remanesce em relação à conduta “b”, em razão do silêncio do CPC
sobre o assunto e da eloqüente revogação do instituto da remição, antes
aplicado por analogia ao executado.
O silêncio do legislador processual perdurou, ignorando a regra
do Código Civil. Parece-nos que o caso é de permitir ao executado a remição
do bem hipotecado que foi alienado ao exeqüente ou ao terceiro, com o
pagamento do preço da avaliação, pois se trata de direito potestativo que lhe
foi conferido por norma de direito material, que, por não haver qualquer
outra regra em sentido contrário, bem como não causar prejuízo para o
exeqüente, deve ser garantido e efetivado pelo direito processual. Ainda há o
direito de o devedor hipotecário resgatar o bem hipotecado.
É preciso advertir, porém, que, com base no art. 1.482 do
Código Civil, esse direito deve ser exercido até a assinatura da carta de
arrematação ou até a prolação da decisão que adjudique o bem ao exeqüente
ou aos legitimados a adjudicar previstos nos §§ 2º e 4º do art. 685-A, CPC. A
decisão que defere o pedido de adjudicação é interlocutória e, pois,
impugnável por agravo de instrumento (a palavra “sentença” prevista no
texto do art. 1.482 do Código Civil deve ser compreendida em sentido
amplo, como sinônimo de decisão judicial).
Ocorrendo a remição pelo executado, o “bem remido ficará
liberado, substituído pelo preço pago pelo devedor (...). No entanto, é
possível que tal preço não seja suficiente para pagamento integral da dívida.
Neste caso, como dispõe o art. 1.430, o devedor continuará pessoalmente
obrigado, e seus bens poderão ser penhorados”10. Nessa hipótese, o bem, ora
remido, poderá ser novamente penhorado em outra execução, inclusive pelo
antigo credor hipotecário11.

10
DANTAS Jr., Aldemiro Rezende. Comentários ao Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. 13, p.
640.
11
“…a) a remição não torna o bem impenhorável; b) pelo saldo, o credor que era hipotecário se transforma
em quirografário; c) outros credores desse mesmo devedor, sejam quirografários ou não, ao cobrarem
judicialmente seus créditos, podem penhorar esse bem que foi remido (pois o mesmo, repete-se, não se
tornou impenhorável). Logo, se for adotada posição diferente dessa que ora se defende, chegar-se-á à
seguinte e absurda conclusão: os outros credores quirografários podem penhorar esse bem, mas o antigo
credor hipotecário, que agora também é quirografário, não pode fazê-lo. Ou seja, os demais credores
estarão na verdade recebendo uma preferência, em relação ao antigo hipotecário, e este estará sendo punido
e discriminado pelo fato de um dia ter sido credor hipotecário, tendo por garantia aquele mesmo bem. Ora,
é evidente que essa conclusão absurda não pode ser aceitam daí porque também deve ser rejeitada a idéia
que lhe deu origem”. (DANTAS Jr., Aldemiro Rezende. Comentários ao Código Civil. Rio de Janeiro:
Forense, 2004, v. 13, p. 641.)

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