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RESUMO
ABSTRACT
The idea of writing a paper on this issue emerged from discussions with Law students
about the relevance of subjects such as Juridical Logic and Argumentation Theory and
from the evidence that there is widespread controversy concerning the reasons justifying
the study of juridical logic and its relevance for Law. In this sense, the purpose of this
Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.
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paper is to study Logic in general, highlighting basic notions required for understanding
Juridical Logic. We propose to present the importance of Juridical Logic and of
Argumentation Theory and to demonstrate their vital character to juridical practice.
Methodology here is bibliographical, descriptive and exploratory. The existence of a
Juridical Logic is explained as we found the structures of speech and language which
are peculiar to Law, designated as apophantic (being, present-at-hand) and deontic
(must be, that which is binding or proper). The content of Law is dynamic and in
permanent change. We finish by concluding that Juridical Reasoning regarding the
execution and enforcement of juridical principles and rules is not to be limited to a
simple inferential operation, as normally conceived. Besides that, Formal Logic is not
satisfactory to Law in present post-positivism age, in which using principles as binding
prescriptions and values as permanent references are commonplace. Rational Juridical
Argumentation works with values accepted in a determined place and timeframe. The
relevance of developing an Argumentation Theory to react to pressing issues presented
by contemporary juridical theory consists in the attempt to create a method that can be
deemed as rational.
INTRODUÇÃO
Ao ser admitido a um curso de direito, o aluno fica ansioso para estudar as disciplinas
técnicas, como Direito Penal, Direito Civil, Direito do Trabalho etc., não valorizando,
geralmente, as disciplinas de cunho propedêutico ministradas logo no início da
graduação. Talvez isso ocorra por não haver despertado o interesse suficiente ou porque
não tenha sido estimulado, carecendo a noção da importância dessas disciplinas para a
elaboração do conhecimento jurídico.
A idéia de desenvolver o presente artigo surgiu das discussões com diversos discentes
do curso de graduação em Direito acerca da importância das disciplinas de Lógica
Jurídica e Teoria da Argumentação na estrutura curricular. Muitos nos questionam o
porquê de estudar Lógica Jurídica e qual a aplicabilidade para a vida do operador do
Direito em geral. Aliás, essa geralmente é a indagação dos estudantes desinteressados
em matérias filosóficas.
Outro ponto que nos chamou a atenção foi o fato de que, ao nos deparar com livros que
tratam do tema, constatamos que vários autores partem da premissa de que os conceitos
básicos sobre Lógica já são conhecidos de leitores, o que nem sempre ocorre. Tal fato
dificulta o desenvolvimento do estudo, tornando-o distante da realidade.
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É importante esclarecer que não pretendemos aprofundar o estudo das modernas teorias
da argumentação e do discurso, mas instigar o leitor para o tema, a fim de que possa
torná-lo pesquisador nesta área tão fascinante.
A Lógica, segundo Nérici, é uma ciência de origem antiga, uma criação do espírito
grego, cujos iniciadores são Parmênides, Zenão de Eléia e os sofistas. O verdadeiro
criador da Lógica, porém, foi Aristóteles, que lhe deu “corpo, sistematização, baseando-
a em princípios tais e tão sólidos, que até hoje são tidos como válidos”. [1]
Jolivet define Lógica como “a ciência das leis ideais do pensamento, e a arte de aplicá-
las corretamente à procura e à demonstração da verdade”.[2] Lalande conceitua lógica
geral como o “estudo dos procedimentos válidos e gerais pelos quais atingimos a
verdade. Procura em que condições o nosso pensamento é claro e bem definido, os
nossos conceitos, as nossas induções sólidas, as nossas inferências justificadas”. [3]
Percebamos, outrossim, que a Lógica também é uma arte, como defendido por Santo
Tomás de Aquino, isto é, “um método que permite bem fazer uma obra segundo certas
regras”. [4]
[...] caminho seguro para alcançar a verdade e fugir do erro; porém, vemos indivíduos,
sem preparo lógico algum, raciocinarem e agirem acertadamente. É que se utilizam do
bom senso, espécie de lógica natural, inata, encontrada, mais ou menos desenvolvida,
em todos os indivíduos. Contudo, o bom senso por si só não é suficiente para guiar o
homem nos casos complicados. Assim, ele é ótimo auxiliar, mas nunca um guia
suficiente que dispense o auxílio da Lógica.[5] [6]
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A Lógica, ao dirigir os atos do pensamento para o verdadeiro, divide-se em duas partes:
a primeira trata das leis gerais do pensamento, ou seja, as suas formas no que estas
tenham de igual e de comum, chamada de Lógica Formal; e a segunda que estuda as
leis particulares, a forma de cada ciência em particular, denominada de Lógica Aplicada
ou Metodológica, também chamada de Lógica Material.
A Lógica Formal, ao tratar das leis gerais do pensamento, buscando o que elas têm de
igual e comum, as torna universais e aplicáveis em todas as operações do intelecto. [9]
Nérici destaca a idéia de que podemos identificar, na Lógica Formal, três partes
distintas, constituindo um todo uno e indissolúvel, que é o pensar humano. Dessa forma,
o pensamento (ou espírito), para fins meramente didáticos, divide-se em idéia, juízo e
raciocínio. Na medida em que estes se tornam representação sensível, concreta, por
sons orais ou por quaisquer outros símbolos representativos, transformam-se,
respectivamente, em termo, proposição e argumento. [10]
Nesse sentido, Jolivet distingue três operações intelectuais diferentes: apreender, isto é,
conceber uma idéia; julgar, ou seja, afirmar ou negar uma relação entre duas idéias; e,
por fim, raciocinar, que é tirar de dois ou vários juízos dados outro juízo decorrente,
necessariamente. [11]
Como destacado, o estudo da Lógica divide-se em Lógica Formal e Lógica Não Formal
ou Metodológica, mais conhecida como Lógica Material. Cabe-nos, em um primeiro
momento, analisar a Lógica Formal e seus institutos básicos.
[...] tudo aquilo que pode ser termo da atividade consciente do eu que conhece, isto é,
do sujeito cognoscente. [...] é objeto todo ser a respeito do qual se possa tecer ou
elaborar um juízo lógico. Dessa maneira, até o próprio ser de um eu determinado ou de
um certo sujeito cognoscente pode ser objeto do conhecimento desse mesmo eu. [...]
[16] [17]
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Insta destacar que nem todas as idéias são imagens, ou seja, têm uma forma que pode
ser concebida por meio da representação sensível. Há aquelas meramente intelectivas,
sendo produto da abstração humana. Para exemplificar, basta pensar em uma mesa ou
carro, que rapidamente fazemos uma representação intelectual desses objetos, ou seja,
há uma imagem formada. Quando, porém, pensamos em amor, paz e glória, não
fazemos representação mental alguma. Nérici esclarece que, “o que dá validade, neste
caso, à idéia é o sentido, a significação de que as mesmas são portadoras”. [18] [19]
Para elucidar referidas expressões, quando falamos em homem, só nos referimos aos
animais racionais, na medida em que, dizendo animal, estão subentendidos todos os
animais, sejam eles racionais ou não. Logo, homem nos traz a compreensão (pela
qualidade), enquanto animal nos releva a extensão da idéia (pela quantidade).
[...] toda idéia tem compreensão e extensão determinadas, variando, porém, em ordem
inversa. Isto é, à medida que a compreensão de uma idéia aumenta, a sua extensão
diminui e vice-versa. Daí a lei: A compreensão de uma idéia está na ordem inversa da
extensão.[24]
O juízo é o ato pelo qual o espírito assere ou nega uma coisa de outra. Di Napoli define
o juízo como a “união ou desunião intelectual de dois conceitos, mas é também a união
ou desunião intelectual de algum conceito e de alguma coisa existente e singular”.
(Traduzimos). [26]
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Proposição é “a expressão verbal do juízo”[29], ou seja, é a oração que garante ou nega
alguma coisa do sujeito. Pode ser definida também como “uma oração enunciativa do
predicado sobre o sujeito”. [30] É constituída pelos termos sujeito, predicado e verbo. É
por meio do verbo que se liga o sujeito ao predicado e que é constatado se a proposição
afirma ou nega algo.[31]
Perelman explica que o vocábulo “raciocínio designa tanto uma atividade da mente
quanto o produto desta atividade”.[32] No âmbito da Lógica, o raciocínio revela-se
como produto, não importando as condições para sua elaboração.
Raciocínio é o ato pelo qual o espírito, com o que ele já conhece, adquire um novo
conhecimento, ou seja, “é o ato pelo qual o intelecto infere um determinado juízo de
outros juízos”. [33]
Já o raciocínio indutivo, ao revés, vai do particular para o geral, sendo o raciocínio que
mais convém à ciência, na medida em que permite desbravar novos horizontes para o
conhecimento humano. [37] [38]
Outra análise importante feita por Aristóteles é a distinção entre os raciocínios analíticos
dos raciocínios dialéticos. Perelman, tratando da Lógica aristotélica, destaca a idéia de
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que raciocínio analítico é aquele que, “partindo de premissas necessárias, ou pelo menos
indiscutivelmente verdadeiras, redundam, graças a inferências válidas, em conclusões
igualmente necessárias ou válidas”. [39]Assim, é impossível que a conclusão seja falsa,
se o raciocínio foi feito corretamente, com suporte em premissas corretas, conforme o
padrão simbólico da Lógica Formal.
(ESPÍRITO)
1.3.4 O silogismo
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proposições, necessariamente é posta a terceira”. [42] (Traduzimos). Trata-se, pois, da
forma perfeita de raciocínio dedutivo mediato, ou seja, aquele que parte do geral para o
particular, com o auxílio de um intermediário. Ele é composto de três proposições, das
quais a terceira (conclusão) é tirada das duas primeiras (premissas).
O silogismo tem três termos: maior, médio e menor. O termo maior, como o próprio
nome sugere, é aquele que tem maior extensão (quantidade), enquanto o menor é aquele
que tem a menor extensão. Já o termo médio é o de extensão intermediária do maior
com o menor.
No argumento silogístico há, ainda, três proposições, representando a união, dois a dois,
dos termos analisados, ou seja, maior, médio e menor. Em relação às proposições,
temos as premissas maior, menor e a conclusão. [43]
Como exemplo de silogismo, temos: “Todo homem é mortal; Pedro é homem; Logo,
Pedro é mortal”. Vejamos que o termo de maior extensão é o primeiro, ou seja, mortal.
O de menor extensão é Pedro, enquanto o termo intermediário é homem. O termo
intermediário ou médio convém, neste exemplo, a mortal e a Pedro. [44]
Nesse sentido, a passagem das premissas à conclusão é obrigatória, por meio de suas
inferências válidas, em razão unicamente das suas formas. [45]
2 A LÓGICA JURÍDICA
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Analisados os institutos básicos da Lógica, insta-nos averiguar a viabilidade da Lógica
Jurídica, e, sendo esta possível, qual sua natureza.
[...] estatui relação entre sujeitos-de-direito, que tomam o papel sintático de termos-
sujeitos, e relação entre tipos de ações ou condutas, decorrentes da verificação de
pressupostos fácticos, que tomam o papel sintático de proposições antecedentes de uma
relação hipotética. A norma, que é, fenomenologicamente, a significação do enunciado
proposicional, diz que se se dá (se ocorre na realidade) um fato que através do
pressuposto a ele referido entre no universo do direito, então um sujeito deve fazer ou
omitir tal ou qual conduta face a outro sujeito, termo relato daquele termo referente.
[51]
A forma deôntica refere-se a um dever-ser objetivo. A norma traz uma estrutura lógica,
cognoscente da conduta, estando, assim, formalizada.
A Lógica Jurídica não tem como deixar de ser formal exatamente pelo fato de suas
estruturas serem aptas para acolher o objeto jurídico, que é uma espécie de objeto
deôntico (normativo). Também “representa, ainda, a formalização da linguagem do
direito positivo”, que se expressa por meio de normas. [52]
Em outras palavras, podemos dizer que o Direito pretende atender aos anseios da
sociedade, permitindo uma convivência pacífica entre os homens. Seu conteúdo, por
conseguinte, é dinâmico, estando em constante transformação, devendo ocorrer com o
sentido captado pela norma, sob pena de uma estagnação. E é exatamente nesse
conteúdo que visualizamos a forma aponfântica, ou seja, do ser, da prática, do concreto,
do que efetivamente ocorre na realidade, o que nem sempre corresponde ao que está
previsto na forma deôntica.
Logo, na formalização da norma, ocorrente pela sua estrutura deôntica, não há como
abranger todo o conteúdo do Direito. Principalmente quando verificamos, durante a
evolução histórica, que o Direito vai muito além daquilo que está explícitado na norma.
Direito é mais do que lei, mais do que regra, mais do que norma.
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E é exatamente por isso que o intérprete não pode ficar adstrito a ela, olvidando o
grande mundo que é o sistema jurídico. A norma pretende trazer a segurança, mas isso
não implica o alcance da justiça.
Esta segurança é garantida pela forma deôntica, que cuida da estrutura da norma,
impondo um dever-ser. Aqui, percebemos claramente que o movimento do pensamento
é o dedutivo, partindo do geral (norma) para o individual (regular as relações jurídicas),
cuidando os argumentos do ponto de vista da sua correção formal. A estrutura deôntica
é verificada, portanto, pela Lógica Formal.
A norma ganha uma estrutura, podendo ter vários objetos, ou seja, inúmeros conteúdos
que serão delineados pelo operador do Direito, em especial, pelo julgador no momento
de uma decisão. Como a sociedade, porém, é dinâmica e, por conseguinte, o conteúdo
do Direito também deve ser, necessária se faz outra forma, que é exatamente o
apofântico.
Dizemos que a lógica é jurídica sem deixar de ser formal porque está vinculada a uma
região ou domínio de objetos – as normas jurídicas – e se apresenta como uma
formalização da linguagem que serve de expressão aos significados que são as normas.
Sendo uma formalização dessa linguagem, a lógica jurídica, por sua vez, é uma
linguagem, quer dizer, por mais simbólica (algarítimica) que se construa, sempre seus
símbolos fazem referência geral ao domínio dos objetos jurídicos.[54]
Podemos dizer, de uma forma bem simples, que o apofântico é que permite a justiça e a
eqüidade das decisões judiciais, por meio do movimento indutivo. [55]
O Direito pode ser estudado na perspectiva de pelo menos dois campos diferenciados da
Lógica: Lógica Formal e Lógica Não Formal. Existem, por conseguinte, dois tipos de
raciocínios no Direito: os lógico-dedutivos ou lógico-formais e o dialético, denominado
assim por Perelman, que tratam de argumentação jurídica. Enquanto uma operação
lógico-formal prevê uma demonstração de seus postulados, a argumentação é um
mecanismo de pensamento prático.
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2.3 A insuficiência da Lógica Formal para o Direito
Desde o positivismo jurídico, a justiça passou a ser uma qualidade do que é legal,
baseada na representatividade, sendo formal, para garantir a segurança jurídica. A
legitimidade e a legalidade se confundiam.
Ocorre que, com o relativo abandono do pragmatismo no final do século XIX e início
do século XX, entra em cena a idéia de valor, que alcança também o Direito.
Atualmente, período pós-positivista, a norma jurídica é formada não só por regras, mas
também por princípios, contendo e exprimindo valores.
Atentemos para o fato de que não só a norma-princípio emana valores, mas também a
norma-regra, só que de forma diversa. O conteúdo axiológico de uma regra é bem
menor do que o teor de um princípio, já que os valores, seguindo os ditames clássicos,
são fatores que determinam a conduta humana. A estrutura fechada da regra não permite
uma análise valorativa tão grande como ocorre com a estrutura aberta e abstrata dos
princípios.
Dessa forma, parece claro que o modelo de regras, proposto pelo positivismo jurídico,
baseado na Lógica Formal, com raciocínios meramente dedutivos, é insuficiente para
atender ao Direito. O sistema jurídico, na opinião de Stamatis,
[...] forja uma ordem aberta dirigida para um horizonte de potencialidade. Rica em
possibilidades, a ordem jurídica é então potencialmente mais larga do que suas
cristalizações normativas historicamente concretas; é também uma ordem de liberdade
ao mesmo tempo que uma ordem de segurança e de coração. [59] (Traduzimos).
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Algo que já era tratado no campo da Filosofia, por meio da Teoria do Conhecimento,
que reconhece o valor como fator determinante da conduta humana, ou seja, do sujeito
cognoscente em busca do objeto cognoscível, entra na esfera jurídica.
Constatamos, pois, que o homem é um ser axiológico, o que acaba reflete no direito,
sendo invadido pelos valores, demonstrando a insuficiência dos raciocínios lógico-
formais, ocorrentes por meio da dedução.
Perelman explica que isto decorre do fato de que “na concepção atual do direito já não
se trata de limitar o papel do juiz ao de uma boca pela qual fala a lei. A lei já não
constitui todo o direito; é apenas o principal instrumento que guia o juiz no
cumprimento da sua tarefa, na solução dos casos específicos”. [60]
[...] onde e em que medida são necessárias valorações, como deve ser determinada a
relação dessas com os métodos da interpretação jurídica e com os enunciados e
conceitos da dogmática jurídica, e como podem ser racionalmente fundamentadas ou
justificadas essas valorações.[61]
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É para tentar encontrar respostas a esses questionamentos que surge a Teoria da
Argumentação Jurídica, sendo a racionalidade prática o denominador comum deste
campo. Atienza destaca que, no âmbito do Direito, as argumentações ocorrem em três
momentos distintos: na produção e estabelecimento da norma jurídica; na aplicação de
normas jurídicas e, por fim, na dogmática jurídica. [62]
Não há duvidas de que tudo o que foi desenvolvido até o presente momento é com o
intuito de encontrar uma forma de justificar racionalmente uma decisão judicial,
objetivando o ideal de justiça. A justiça é o objetivo maior do Direito, o valor-mestre do
qual emanam os demais, inclusive a segurança. A segurança existe para alcançar a
justiça. É um instrumento para o fim do Direito; mas que justiça é essa? Será possível
uma justiça universal, aceita em todos os povos, locais, culturas e tradições? Ela poderá
ser justificada e controlada racionalmente, a fim de evitar o arbítrio e a insegurança
jurídica?
Diante desta problemática, são vários os autores que pretendem elaborar uma teoria da
argumentação de modo a justificar racionalmente as decisões judiciais e que efetivem a
justiça material.
Toda lide implica um desacordo, um conflito, e o papel do juiz é encontrar uma solução
razoável, aceitável, ou seja, nem subjetiva, nem arbitrária. Diante disso, Perelman nos
traz a seguinte questão: “sendo a sentença uma decisão, e não uma conclusão impessoal
e impositiva a partir de premissas incontestes, ela supõe a intervenção de uma vontade.
Como mostrar que ela não é arbitrária?”[63]
Perelman pretende delimitar uma racionalidade mínima para o valor justiça, que é, para
ele, o mais confuso de todos os valores. A análise lógica da noção de justiça parece
constituir verdadeiro desafio.
Para que uma justificação racional da ação e do pensamento seja possível, é necessária
uma teoria geral da argumentação que parta do paradigma da racionalidade prática,
constituindo-se a terceira via entre o racional e o irracional.
Toda justificação racional demanda uma argumentação racional porque justificar não é
calcular, mas argumentar. O uso prático da razão pretende fornecer regras e critérios
que podemos submeter à adesão de todos.
Alexy busca a institucionalização da justiça, por meio de uma correção. Define justiça
como “a correlação que tem a ver com o ato de distribuir e de compensar”. [64]
(Traduzimos). Ele destaca, no entanto, que a correção do nosso juízo de justiça depende
dos interesses e necessidades de todos os envolvidos, assim como da tradição e cultura.
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Dessa forma, é impossível elaborar um conceito de justiça que seja aplicado em
qualquer sociedade. Pode-se asserir que a justiça sempre estará presente na essência do
ser humano, por mais que ele não tenha conhecimento das normas, ou seja, terá sempre
uma pré-compreensão do Direito. O sentido, porém, sua matéria, é que será delimitada
de acordo com aspectos histórico-culturais e axiológicos.
O Direito tem uma função social a cumprir, não pode ser realizado, de modo efetivo,
sem referência à sociedade que deve reger. E a argumentação jurídica racional opera
com valores aceitos num determinado tempo e espaço. Da mesma maneira, temos a
busca efetiva pela justiça, vinculada a esta função social.
A teoria do discurso oferece uma saída para este dilema. De um lado, surge o fato de
que podemos argumentar de modo racional sobre a justiça, o que nos conduz para além
da posição emotivista-subjetivista. Por outro lado, podemos perceber que uma teoria da
justiça só será aceitável quando levarmos suficientemente em conta os interesses e
necessidades bem como a tradição e cultura de todos os implicados. Isso transforma a
teoria do discurso em base de uma teoria da justiça. [65] (Traduzimos).
Por conta disso, Alexy assinala que a Teoria do Discurso é uma teoria procedimental da
correção de normas. A norma só pode ser considerada correta se for oriunda de um
discurso prático racional.[67]
[...] que todo participante individual é livre, no sentido de ter autoridade epistêmica na
primeira pessoa, ao dizer “sim” e “não”. [...] que está autoridade epistêmica se exerça
com a busca de um acordo arrazoado, de modo que só se selecionem soluções que sejam
racionalmente aceitáveis para todos os implicados e atingidos. [68] (Traduzimos).
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Propõe, assim, uma ética do discurso para esclarecer não apenas as questões da
compreensão intersubjetiva, mas também identificar, por meio dos pressupostos
pragmáticos da linguagem, uma fundamentação intersubjetiva e também racional das
normas jurídicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A interpretação do Direito não tem como excluir a ratio legis. Além disso, as
controvérsias na atividade de aplicação da lei são inevitáveis, fazem parte da vida do
Direto. É exatamente por isso que existe a possibilidade de se recorrer ao Judiciário.
Entram aqui, sem dúvidas, a ética e a responsabilidade do julgador, já que, por mais que
se tente controlar racionalmente as decisões, sempre haverá uma margem de liberdade
do juiz, pelo fato de se constituir um ser axiológico.
Não adianta ao profissional do Direito saber tudo o que está previsto nas normas,
decorar os códigos, leis, se ele não consegue organizar suas idéias e efetivamente
aplicá-las, por meio de uma argumentação motivada e também racional. Resta
ultrapassada a idéia do jurista bitolado e limitado a um conjunto de normas. Até porque
a crise do positivismo jurídico comprova que a Lógica Formal e o raciocínio dedutivo,
por meio de estruturas fechadas, não conseguem responder às demandas levantadas pelo
Direito.
Como visto, no período pós-positivista, a norma jurídica é formada não só pelas regras,
mas também por princípios, contendo e exprimindo valores, imperando uma nova forma
de ver o Direito, de interpretar e aplicar as normas jurídicas, exigindo uma nova atitude
do julgador.
REFERÊNCIAS
5996
__________. Teoria da Argumentação Jurídica: A Teoria do Discurso Racional como
Teoria da Justificação Jurídica. 2. ed. Tradução de Zilda Hutchinson Schild Silva. São
Paulo: Landy, 2008.
ALVES, Alaôr Caffé. Lógica: pensamento formal e argumentação. 4. ed. São Paulo:
Quartier Latin, 2005.
NERICI, Imideo Giuseppe. Introdução à Lógica. 9. ed. São Paulo: Nobel, 1985.
PUIGARNAU, Jaime M. Mans. Lógica para juristas. Barcelona: Bosch, Casa Editorial,
S.A., 1978.
5997
[1] NERICI, Imideo Giuseppe. Introdução à Lógica. 9. ed. São Paulo: Nobel, 1985, p.
13.
[2] JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1961, p. 25.
[6] Régis Jolivet diferencia a Lógica da Ciência da Lógica Natural, na medida em que
esta se caracteriza “como uma aptidão inata do espírito para usar corretamente as
faculdades intelectuais, mas sem ser capaz de justificar racionalmente, recorrendo aos
princípios universais, às regras do pensamento correto”. JOLIVET, op. cit., p. 25.
[7] PERELMAN, Chaïm. Lógica jurídica: nova retórica. Tradução de Vergínia K. Pupi.
São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 1.
[9] A Lógica Formal repousa sobre quatro princípios fundamentais que permitem todo o
desenvolvimento da Lógica, que dão validade a todos os atos do pensamento, a saber: a)
o princípio de identidade trata de o que é, é; b) o princípio de contradição afirma que
uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo; c) o princípio do terceiro excluído
expressa que toda coisa deve ser ou não ser; e d) o princípio de razão suficiente formula
que todas as coisas devem ter uma razão suficiente pela qual são o que são e não são
outra coisa. NERICI, op. cit., p. 30-31.
[12] ALVES, Alaôr Caffé. Lógica: pensamento formal e argumentação. 4. ed. São
Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 141.
[14] VILANOVA, Lourival. Lógica Jurídica. São Paulo: Bushatsky, 1976, p. 79.
5998
[15] JOLIVET, op., cit., p. 31.
[16] FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 14.
[19] O sentido é livre, mutável, porque o palco de sua criação é o pensamento. Para
Falcão, o sentido é inesgotável, pois vai depender do sujeito cognoscente, do seu
pensamento e dos valores que vão refletir nas suas escolhas. Admitir-se um sentido
rigidamente objetivo, querendo com isso dizer algo imune a qualquer ponto de vista do
sujeito cognoscente, importaria querer-se afirmar algo que existencialmente é
impossível. FALCÃO, op. cit., p. 33-35.
[28] Gredt explica que o “o juízo pode ser considerado logicamente e fisicamente. O
juízo logicamente considerado (como artefato lógico) é algo complexo, que une e
separa, isto é, que se refere mutuamente em relações, em razão da identidade e da
discrepância; nisso consiste a sua forma. Fisicamente considerado, o juízo é um simples
ato pelo qual a mente, percebendo a conveniência ou inconveniência entre sujeito e
predicado, diz que eles convém ou não convém entre si”. (Traduzimos). GREDT, op.
cit., p. 27.
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[31] Segundo Di Napoli, “na enunciação, a matéria são os termos (sujeito e predicado);
a forma é a afirmação e a negação. A forma é indicada pelo verbo ser, que também é
chamado de ligação, que liga (afirma) ou desliga (nega) o predicado do sujeito”.
(Traduzimos). DI NAPOLI, op. cit., p. 74.
[35] GREDT, p. 8.
[38] Alves salienta que o pensamento dedutivo é o único que interessa à Lógica Formal,
na medida em que “somente neste temos a possibilidade de fazer afirmações
concludentes, quer dizer, afirmar proposições de modo necessário (apodíticas) por
conseqüência de outras que são suas premissas. Quando tiramos, a partir de
determinadas premissas, certa conclusão que se nos impõe racionalmente e de forma
incontrolável, dizemos que estamos inferindo de modo analítico. Essa inferência
analítica diz respeito à necessidade ideal ou racional que marcha do princípio para a
conseqüência, como ocorre com os objetos matemáticos e os lógicos”. ALVES, op. cit.,
p. 120.
[44] O silogismo era, para Aristóteles, padrão do raciocínio analítico, enunciado pelo
clássico esquema: “Se todos os B são C e se todos os A são B, todos os A são C”.
Percebamos que, de acordo com a fórmula, o referido raciocínio é válido independente
de que termos seja A, B e C, ou seja, independentemente do conteúdo. Trata-se, assim,
de lógica formal.
[45] Inferência, segundo Copi, “é um processo pelo qual se chega a uma proposição,
afirmada na base de uma ou de outras mais proposições aceitas como ponto de partida
do processo”. Nesse sentido, “o lógico não está interessado no procedimento de
inferência, mas nas proposições que são os pontos iniciais e finais desse processo, assim
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como nas relações entre elas”. COPI, Irving M. Introdução à Lógica. São Paulo: Mestre
Jou, 1981, p. 21.
[55] Puigarnau ressalta um dos óbices para a indução, ao acentuar que “salta la vista que
el problema de la inducción estriba en determinar cuál sea el fundamento o principio de
la misma, esto es, en justificar o legitimar el tránsito de la pluralidad a la totalidad y de
la mera realidad a la necessidad”. PUIGARNAU, Jaime M. Mans. Logica para juristas.
Barcelona: Bosch, Casa Editorial, S.A., 1978, p. 128.
6001
[65] ALEXY, op. cit., p. 59-60.
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