Sei sulla pagina 1di 220

Estruturas de concreto armado I

Kleverton R. Costa
© 2018 by Universidade de Uberaba

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de
armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito,
da Universidade de Uberaba.

Universidade de Uberaba

Reitor
Marcelo Palmério

Pró-Reitor de Educação a Distância


Fernando César Marra e Silva

Coordenação de Graduação a Distância


Sílvia Denise dos Santos Bisinotto

Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Editoração
Márcia Regina Pires

Revisão textual
Stela Maria Queiroz Dias

Diagramação
Douglas Silva Ribeiro

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Costa, Kleverton R.
C823e Estruturas de concreto armado I / Kleverton R. Costa. –
Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018.
220 p. : il.

Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.


Inclui bibliografia.
ISBN

1. Concreto armado. 2. Estrutura de concreto armado. 3. Vigas.


4. Lajes. I. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a
Distância. II. Título.
CDD 624.18341
Sobre o autor
Kleverton R. Costa

Especialista no ensino da Física, pela Universidade Cândido Mendes


(Ucam). Bacharel em Engenharia Civil e bacharel em Administração de
Empresas, pela Uniube. Professor no curso de Engenharia Civil, nas
modalidades EAD e presencial, na Universidade de Uberaba (Uniube).
Engenheiro Calculista de empresa de engenharia, Uberaba, MG.
Engenheiro Civil responsável por empresa de montagem de estruturas
metálicas para arquibancadas e palcos para eventos, Uberaba e região, MG.
Sumário
Apresentação.............................................................................................................. VII

Capítulo 1 Lajes maciças – prescrições e determinação dos esforços


solicitantes............................................................................................... 1
1.1 Definição................................................................................................................... 3
1.1.1 Classificação das lajes maciças .................................................................... 3
1.1.2 Vão efetivo...................................................................................................... 6
1.1.3 Vinculações das lajes maciças....................................................................... 7
1.2 Ações a serem consideradas................................................................................. 10
1.2.1 Carregamento proveniente do peso próprio................................................. 11
1.2.2 Carregamento proveniente da regularização/contrapiso............................. 11
1.2.3 Carregamento proveniente do reboco do teto.............................................. 11
1.2.4 Carregamento proveniente do piso assentado............................................. 12
1.2.5 Carregamento proveniente de paredes........................................................ 12
1.2.6 Carregamento acidental................................................................................ 16
1.3 Valores máximos e mínimos................................................................................... 16
1.4 Pré-dimensionamento............................................................................................. 19
1.5 Dimensionamento: determinação das reações de apoio....................................... 19
1.5.1 Reações de apoio em lajes armadas em uma direção - ......... 20

1.5.2 Reações de apoio em lajes armadas em duas direções - ....... 22

1.6 Dimensionamento: determinação dos momentos fletores..................................... 23


1.6.1 Momentos fletores em lajes armadas em uma direção - ..........23

1.6.2 Momentos Fletores em lajes armadas em duas direções - ......24

1.6.3 Compatibilização entre os momentos fletores obtidos..................................35


1.6.4 Condições de vinculação...............................................................................39
1.7 Conclusão............................................................................................................... 42

Capítulo 2 Lajes maciças – dimensionamento das armaduras de


flexão e verificação do cisalhamento e flechas.................. 45
2.1 Dimensionamento: dimensionamento das armaduras........................................... 46
2.1.1 Cálculo das armaduras com utilização da tabela de Pinheiro..................... 51
2.1.2 Área de aço mínima na flexão...................................................................... 53
2.1.3 Área de aço máxima na flexão..................................................................... 56
2.1.4 Diâmetro máximo das barras fletidas........................................................... 56
2.1.5 Espaçamento máximo e mínimo entre as barras......................................... 57
2.1.6 Comprimento e disposição das armaduras de flexão.................................. 57
2.1.7 Armadura para combate aos momentos volventes...................................... 58
2.2 Dimensionamento: dimensionamento da armadura transversal........................... 58
2.3 Dimensionamento: flecha....................................................................................... 60
2.3.1 Flecha imediata segundo a NBR 6118/2014................................................ 61
2.3.2 Flecha diferida no tempo.............................................................................. 67
2.4 Conclusão............................................................................................................... 68

Capítulo 3 Lajes maciças – exemplo prático de dimensionamento..... 71


3.1 Exemplo prático de dimensionamento....................................................................72
3.2 Conclusão................................................................................................................90

Capítulo 4 Vigas – Flexão simples na ruína......................................... 93


4.1 Definição ................................................................................................................ 95
4.2 Classificação das vigas ......................................................................................... 95
4.3 Modelo de vinculação permitido para vigas contínuas.......................................... 96
4.3.1 Vão efetivo.................................................................................................... 99
4.4 Estimativa de altura.............................................................................................. 100
4.5 Ações a serem consideradas............................................................................... 102
4.5.1 Carregamento proveniente do peso próprio............................................... 102
4.5.2 Carregamento proveniente de paredes...................................................... 103
4.5.3 Carregamento proveniente das lajes.......................................................... 103
4.5.4 Carregamento proveniente de outras vigas............................................... 104
4.6 Comportamento resistente das vigas sob flexão simples.................................... 104
4.7 Deformação nos materiais que compõem a viga de concreto armado............... 106
4.7.1 Altura da linha neutra.................................................................................. 106
4.7.2 Domínios de deformação em função da posição da linha neutra.............. 107
4.8 Equações de dimensionamento........................................................................... 109
4.8.1 Cálculo da altura útil e da área de aço em função dos coeficientes
Kc e Ks........................................................................................................ 113
4.8.2 Área de aço mínima na flexão.................................................................... 115
4.8.3 Área de aço máxima na flexão................................................................... 116
4.8.4 Armadura de pele........................................................................................ 117
4.8.5 Disposições construtivas............................................................................. 117
4.9 Dimensionamento: flecha..................................................................................... 118
4.9.1 Flecha imediata segundo a NBR 6118/2014.............................................. 120
4.9.2 Flecha imediata para vigas de concreto armado........................................ 123
4.9.3 Flecha diferida no tempo............................................................................ 124
4.10 Contraflecha........................................................................................................ 126
4.11 Exemplos de dimensionamento e verificação.................................................... 126
4.12 Conclusão........................................................................................................... 138

Capítulo 5 Vigas seção “t” e “l” – flexão simples na ruína.................. 141


5.1 Definição............................................................................................................... 143
5.2 Considerações necessárias para o dimensionamento ...................................... 144
5.2.1 Largura da mesa colaborante (bf).............................................................. 145
5.2.2 Espessura da mesa colaborante (hf).......................................................... 146
5.3 Modelo de vinculação permitido para vigas contínuas........................................ 147
5.3.1 Vão efetivo.................................................................................................. 147
5.4 Estimativa de altura.............................................................................................. 148
5.5 Ações a serem consideradas............................................................................... 149
5.6 Comportamento resistente das vigas “t” e “l” sob flexão simples........................ 149
5.6.1 Altura da linha neutra.................................................................................. 149
5.6.2 Determinação da profundidade da linha neutra em seções “t” e “l”........... 150
5.6.3 Verificação do comportamento, se viga “T” falsa ou verdadeira................ 151
5.6.4 Utilização dos coeficientes tabelados para determinação da seção......... 154
5.7 Equações de dimensionamento........................................................................... 158
5.7.1 Cálculo da área de aço em função dos coeficientes Kc e Ks.................... 159
5.7.2 Áreas de aço mínima, máxima e armaduras de pele................................. 161
5.8 Exemplos de dimensionamento........................................................................... 161
5.9 Conclusão............................................................................................................. 165

Capítulo 6 Vigas – Cisalhamento....................................................... 167


6.1 Definição............................................................................................................... 168
6.2 Modelo clássico da treliça de ritter-morch ( )...................................... 170
6.3 Modelo de treliça generalizada (θ = VARIÁVEL) .............................................. 171
6.4 Análise dos tipos de ruptura por cisalhamento..................................................... 173
6.5 Modelo de cálculo I, NBR 6118/2014................................................................... 174
6.5.1 Verificação da compressão das bielas....................................................... 175
6.5.2 Cálculo da armadura de cisalhamento – estribos...................................... 176
6.6 Disposições construtivas...................................................................................... 181
6.6.1 Diâmetros máximo e mínimo do estribo vertical......................................... 182
6.6.2 Espaçamentos máximo e mínimo entre estribos verticais......................... 182
6.6.3 Determinação do número de ramos do estribo.......................................... 183
6.7 Armadura de suspensão....................................................................................... 183
6.8 Exemplos de dimensionamento........................................................................... 184
6.9 Conclusão............................................................................................................. 188
Apresentação
Prezado(a) Aluno(a).

A disciplina de Estruturas de Concreto Armado I é basicamente o estudo


das componentes horizontais, em que a flexão é o esforço preponderante,
existentes nas edificações usuais. Seu emprego é largo, e, no Brasil,
basta olhar a sua volta: é o método construtivo mais utilizado com larga
vantagem sobre os demais métodos.

O estudo do comportamento dos elementos de concreto armado, mais


especificamente, neste material, lajes e vigas, parte de princípios da
Física mecânica clássica, com algumas peculiaridades que as fazem
diferentes de todos os outros materiais comumente empregados na
construção civil: não possuem comportamento isótopo, ou seja, é um
material de construção composto, no qual há uma ligação possível entre
o concreto e o aço devido a suas características químicas e físicas.

Este material visa trazer estratégias para que o aluno possa conhecer as
etapas de verificação do comportamento estrutural e dimensionamento
das lajes e vigas. Assim, pautados pelos princípios normativos, e sob as
luzes das maiores publicações a este respeito, o aluno encontrará mais
do que as rotinas e formulários necessários ao dimensionamento; ele
encontrará o motivo pelo qual as equações são empregadas, pois em
toda obra há a dedução das suas fórmulas: o motivo de sê-las.

Em 1972, o professor Dr. Fritz Leonhardt, provavelmente o maior


expoente e estudioso sobre o concreto armado do mundo, escreveu:
“Os princípios básicos do dimensionamento de estruturas de concreto
X UNIUBE

armado e protendido são, basicamente, de fácil compreensão, desde


que se obtenha, através do estudo da Mecânica e da Resistência dos
Materiais, uma imagem material, dando origem às tensões.” E, ainda,
“No concreto armado existe uma pequena dificuldade – o fato de que se
deve levar em conta o conjunto de dois materiais de construção – o aço
e o concreto – e o comportamento não-linear desses materiais devido às
solicitações.” (LEONHARDT, 1972, prefácio).

É importante ressaltar que o colapso de uma viga ou laje poderá trazer


graves consequências e que a responsabilidade é dividida entre o
engenheiro executor e o engenheiro calculista. Construções pautadas
nos “costumes antigos” devem perder espaço no meio urbano para
projetos calculados e com Assinatura de Responsabilidade Técnica -
ART. Compreender o comportamento de uma estrutura poderia parecer
simples, e passível de ser feita por qualquer um que tenha conhecimento
empírico, porém após a leitura deste material, espero que o alerta sobre
o tamanho da responsabilidade de dimensionar elementos portantes da
construção tenha lhe ocorrido.
Capítulo
Lajes maciças – prescrições
e determinação dos
1
esforços solicitantes

Introdução
Entende-se por lajes, aos elementos em forma de placas com
dimensões distintas, em que a espessura é a menor delas. Há
uma gama de soluções, quando do lançamento estrutural, possíveis
para o engenheiro utilizar com o intuito de compor o elemento laje.
Neste capítulo, abordarememos de maneira mais aprofundada
as lajes maciças de concreto armado. O modelo mais simples e
mais empregado na construção de pequenos edifícios é a laje
premoldada, composta por vigotas de concreto armado em forma
de treliças. Porém este modelo será estudado em outro momento. As
lajes mais robustas e que normalmente resistem a carregamentos
mais elevados são o objetivo de nosso estudo nesse momento.

As lajes maciças apoiadas sobre quatro bordas (vigas) são as mais


comumente empregadas na construção civil e o seu processo de
cáclulo será demonstrado de acordo com as recomendações da
NBR 6118/2014.

Objetivos
Ao final dos estudos propostos neste capítulo, esperamos que
seja capaz de:

• explicar o elemento laje e classificá-lo segundo suas


vinculações;
2 UNIUBE

• determinar as ações e os quinhões de carga em que o


elemento terá em serviço;
• determinar as reações de apoio das lajes às vigas de borda;
• aplicar os processos de determinação de momentos fletores
e sua origem numérica;
• calcular os momentos fletores atuantes através do processo
mais apropriado;
• compatibilizar os momentos fletores calculados entre lajes
adjacentes;
• determinar as vinculações das lajes pelas diferenças entre
suas rigidezes.

Esquema
1.1Definição
1.1.1 Classificação das lajes maciças
1.1.2 Vão Efetivo
1.1.3 Vinculações das lajes maciças
1.2 Ações a serem consideradas
1.2.1 Carregamento proveniente do peso próprio
1.2.2 Carregamento proveniente da regularização/ contrapiso
1.2.3 Carregamento proveniente do reboco do teto
1.2.4 Carregamento proveniente do piso assentado
1.2.5 Carregamento proveniente de paredes
1.2.6 Carregamento acidental
1.3 Valores máximos e minimos
1.4 Pré-Dimensionamento
1.5 Dimensionamento: Determinação das reações de apoio
1.5.1 Reações de apoio em lajes armadas em uma direção -
λ=lx/ly≥2
1.5.2 Reações de apoio em lajes armadas em duas direções
- λ=lx/ly<2
1.6 Dimensionamento: Determinação dos momentos fletores
UNIUBE 3

1.6.1 Momentos fletores em lajes armadas em duas direções


- λ=lx/ly<2
1.6.2 Momentos Fletores em lajes armadas em duas direções
- λ=lx/ly<2
1.6.3 Compatibilização entre os momentos fletores obtidos
1.6.4 Condições de vinculação
1.7 Conclusão

1.1 Definição

As lajes maciças são elementos planos bidimensionais em que o


comprimento e a largura são de mesma ordem de grandeza e muito
superiores à espessura. São destinadas a receber a maior parte das
ações de um edifício, podendo ser suscetíveis a cargas provenientes
de pessoas, móveis, paredes, pisos e acabamentos e as mais variadas
possibilidades de carregamentos em função da utilização do edifício.
São placas rígidas que funcionam como um diafragma de rigidez infinita
quando solicitadas ao contraventamento. Imagine o edifício sendo
solicitado por cargas laterais, perpendiculares a maior fachada do edifício,
provenientes da ação do vento. Neste cenário a laje maciça funciona
como uma viga de travamento com altura igual ao vão que a mesma
cobre e uma rigidez (EI) alta o bastante para absorver grande parte dos
momentos fletores e deflexões provocadas por esta última ação.

1.1.1 Classificação das lajes maciças

As lajes maciças podem ser classificadas de acordo com distintos


critérios, em relação à forma geométrica, vinculações direção das ações,
etc. Neste livro, deteremo-nos em classificá-las de acordo com a direção
ou as direções da armadura principal.

Uma laje maciça pode trabalhar (ser armada) em uma ou duas direções.
Quando do primeiro caso, calculamos a mesma como uma viga com
4 UNIUBE

largura (bw) igual a 100 cm e dispomos de armadura de distribuição no


sentido perpendicular. Quando armada em duas direções precisamos
conhecer o quinhão de carga que atuará em cada sentido. Este quinhão
de carga será responsável pela determinação dos momentos fletores
máximos e mínimos, os quais são de suma importância para o cálculo
das armaduras de flexão.

As lajes serão determinadas, quanto ao sentido do trabalho (armadura),


segundo a relação abaixo:

a) Laje armada em uma direção

Para que se considere a laje unidirecional, a relação entre seus


comprimentos “L” deverá ser superior a dois. Ou seja, o maior lado
deverá ter o dobro, ou mais, do comprimento do menor lado.

Figura 1: Laje unidirecional.


Fonte: Bastos (2015, p.2)
UNIUBE 5

b) Laje armada em duas direções

As lajes armadas em duas direções terão a relação entre os dois


comprimentos considerados menor ou igual a dois. Isto implica em
dizer que o carregamento não agirá em uma única direção. Nas lajes
unidirecionais, o cálculo é feito como se todo o carregamento agisse no
sentido de menor direção “Lx” – esta fração do carregamento que agirá
em cada sentido perpendicular é denominado como quinhão de carga.
Quinhões de carga são parcelas correspondentes do carregamento total
“Q”, onde , são determinadas em função do teorema utilizado e
diretamente proporcionais aos comprimentos “Lx” e “Ly”.

Observe a Figura 2:

Figura 2: Laje armada em duas direções.


Fonte: Bastos (2015, p.2).
6 UNIUBE

1.1.2 Vão efetivo

Para cálculo do vão efetivo, ou seja, do comprimento efetivo na direção


considerada, usa-se o comprimento de centro geométrico de aplicação
de apoio da laje na viga. Para tanto, deve-se tomar o comprimento da
laje neste sentido, acrescido da metade da largura da viga de borda. Este
modelo (ABNT_NBR 6118/2014, item 14.6.2.4) embasa-se na prática de
utilização de vigas prismáticas retangulares – paralelepípedos retângulos
– em que o centro geométrico da mesma em qualquer face será a exata
metade desta face. Observe a Figura 3:

Figura 3: Vão teórico.

Como é possível observar na Figura 3, o apoio da laje se dá efetivamente


no centro de gravidade das vigas de borda, neste caso V1 e V2. Assim
sendo, o comprimento efetivo será:

Onde: = Vão teórico para determinação dos esforços solicitantes.


= Comprimento medido do painel de lajes. (Sem considerar as vigas
nas bordas).
UNIUBE 7

1.1.3 Vinculações das lajes maciças

As lajes podem apoiar-se em vigas, paredes, pilares, ou ter sua borda


livre. Os casos mais comuns se referem ao apoio em vigas, comumente
chamadas de vigas de borda. Os tipos de vínculo existentes são:
simplesmente apoiadas, livres, engaste perfeito e engaste elástico.

a) Bordas simplesmente apoiadas

As lajes interrompidas ou que não possuam continuidade são


consideradas, para efeito de cálculo, como simplesmente apoiadas. Eis
que surge, neste momento, um aspecto muito importante para análise. As
lajes, independentemente da sua configuração, classificação ou material,
quando em serviço, tendem a levantar as bordas. Este fato é fácil de ser
explicado: o momento positivo máximo encontra-se próximo ao centro da
laje. A deflexão máxima positiva (para baixo) também se dará no ponto
onde o momento é máximo positivo, fazendo com que haja tendência
ao levantamento da borda. Este fato, aliado à alta rigidez (EI) à torção
do elemento da borda (paredes, vigas de grande altura e pilares), fará
aparecerem momentos volventes. Os momentos volventes ou momentos
de fissuração serão tratados mais adiante neste mesmo livro.

Nos edifícios mais comuns, as lajes têm, como delimitação, vigas


de pequeno e médio portes; deste modo, vigas de baixa rigidez (EI),
possibilitando, ao conjunto, uma rotação síncrona; garantindo, ao conjunto
estrutural, a condição de simplesmente apoiada e menor fissuração.
É importante lembrar que esta rotação é pequena, dada pela terceira
integral do quinhão de carga do carregamento na direção considerada
ou da derivada da equação da linha elástica – Rotação Angular. Observe
a Figura 4:
8 UNIUBE

Figura 4: Rotação do elemento de apoio em função da deflexão da laje.

b) Bordas Livres

As lajes que possuem uma ou mais bordas sem nenhum tipo de apoio
são classificadas, para fim de cálculo dos esforços solicitantes, como
bordas livres. É pouco comum encontramos bordas livres em construções
de edifícios correntes, portanto não nos aprofundaremos neste modelo.
Um exemplo visualizável é a laje de muros de arrimo sem viga de
respaldo.

c) Engaste Perfeito

Lajes perfeitamente engastadas são aquelas em que o giro é


completamente impedido pela rigidez da viga que a suporta. São as lajes
em balanço. Aplicáveis em casos como sacadas, marquises, varandas, etc.
UNIUBE 9

Observe a Figura 5:

Figura 5: Laje em balanço engastada na viga de borda.


Fonte: Bastos (2015, p.4).

Outra situação em que consideramos uma laje com um engaste perfeito


se dá quando há grandes diferenças de espessura ou de comprimentos
entre duas lajes adjacentes. Este caso será mais bem explicado no
exemplo resolvido no final do Capítulo.

d) Engaste elástico

Este tipo de engaste é muito comum em lajes em que haja continuação.


Para fins de cálculo, considera-se cada painel de laje isolado, nos pontos
de continuidade são engastados perfeitamente e depois compatibilizados
de modo a tentar alcançar o valor real do engaste elástico. É sabido que
um engaste elástico depende de um fator de mola e este fator depende
de uma série de variáveis complexas. As equações que solucionam estes
problemas de engaste elástico dependem da teoria utilizada e serão
demonstrados mais à frente neste capítulo.

No momento nos importa entender como dois momentos de


engastamentos perfeitos de intensidades distintas serão compatibilizados.
10 UNIUBE

Figura 6: Momentos de engastamento elástico.


Fonte: Bastos (2015, p.5).

1.2 Ações a serem consideradas


As ações são as cargas que a laje deve resistir, atendendo ao – E.L.U
– Estado de Limite Último à ruptura e ao – E.L.S – Estado de Limite de
Serviço, conforme disposto na ABNT_NBR 6118/2014. O primeiro trata
da verificação quanto à ruptura/colapso e o último quanto à sensibilidade
visual, deflexão. Estes estados serão mais bem estudados quando
estivermos dimensionando as lajes.

Estes carregamentos provêm de várias ações distintas: peso próprio,


acabamentos, paredes, móveis, pessoas, etc. Os valores de cada ação
podem ser consultados na ABNT_NBR 6120/1980 – Cargas para o
cálculo de estruturas de edificações.

É fato que o conhecimento do calculista acerca da densidade dos


materiais dispostos sobre a laje também auxiliará na composição do
carregamento final. A unidade final do carregamento será em unidade
de força por unidade de área.
UNIUBE 11

1.2.1 Carregamento proveniente do peso próprio

O peso próprio da estrutura de concreto armado pode ser calculado em


função da sua espessura. Através do item 3, Tabela 1 da NBR 6120/1980
temos que o concreto armado tem seu peso próprio na ordem de 25 KN/m³.

q, pp
= yc ∗ e ,

Onde:

1.2.2 Carregamento proveniente da regularização/contrapiso

De maneira análoga ao peso próprio, a Tabela 1 da ABNT_NBR


6120/1980 fornece as densidades das misturas em função do tipo de
regularização, seja ela com areia, cimento e cal ou apenas com areia e
cimento, etc.

Onde:

q,pr=carga do peso próprio da regularização. Depende do tipo de


combinação,em KN/m²
γr=peso específico da regularização em função do tipo de combinação,em
KN/m³
e=espessura da regularização,em metros

1.2.3 Carregamento proveniente do reboco do teto

Note que, em uma laje de piso, a mesma servirá de piso para o pavimento
“n” e teto para o pavimento “n-1”. Deste modo, devemos escolher o tipo
12 UNIUBE

de material empregado no reboco/acabamento do teto e proceder como


já nos é familiar:

Onde:

1.2.4 Carregamento proveniente do piso assentado

Cada tipo de piso, os mais comumente utilizados na construção civil,


estão listados na ABNT_NBR 6120/1980. Procederemos de maneira
idêntica as anteriores:

Onde:

1.2.5 Carregamento proveniente de paredes

Em alguns casos, a arquitetura dispõe de paredes sobre as lajes sem que


haja a possibilidade de lançarmos sob as mesmas vigas para suportá-las.
O modelo de cálculo mais conveniente dependerá do comprimento destas
paredes, altura e espessura. A melhor solução, dentre as possibilidades
arquitetônicas, deverá ser analisada pelo engenheiro calculista.
UNIUBE 13

De todo modo, o carregamento destas paredes, quando houver, deverá


ser calculado da seguinte maneira:

a) Em lajes armadas em uma direção:

Em lajes armadas em uma direção, temos dois casos possíveis:

• Paredes longitudinais à menor direção da laje: estas paredes são


as que a sua disposição acompanha o lado armado principal da
laje, e seu carregamento será distribuído em uma faixa de
.¹ Soma-se ao carregamento total da laje, o carregamento linear da
parede (KN/m). De maneira geral podemos dizer que:

Onde:

Figura 7: Parede longitudinal à armação principal.


Fonte: Bastos (2015, p.9).
14 UNIUBE

É pertinente alertar que esta situação pode causar fissuras excessivas


no acabamento da laje enquanto teto. O fato se justifica pela diferença
de carregamento entre as faixas métricas da laje, onde, na faixa sob
a parede, teremos um carregamento acentuado devido ao peso das
mesmas. Partindo do pressuposto de que toda laje tenha uma única
espessura, a flecha/deflexão sob a parede será maior, proporcionalmente
ao acréscimo da carga proveniente da parede.

• Paredes perpendiculares à menor direção da laje: estas paredes,


pela disposição dos quinhões de carga e seu sentido de atuação,
configurarão em uma carga pontual (KN) exatamente onde a mesma
venha a passar. Ao contrário da situação anterior em que a parede
exercerá o carregamento no mesmo sentido da armação principal,
nesta situação, a carga da mesma será distribuída nas diversas
faixas unitárias consideradas no dimensionamento. De maneira
geral, podemos escrever:

Onde:

1 – Cada autor atribui uma faixa de domínio para atribuição do


carregamento da parede. A largura da faixa apresentada neste livro
está de acordo com os estudos do Prof. Dr. Paulo Sérgio dos Santos
Bastos (UNESP –SP).
UNIUBE 15

Figura 8: Parede perpendicular à armação principal.


Fonte: Bastos (2015, p.10).

b) Paredes sobre lajes armadas em duas direções

Neste caso, entende-se que a carga proveniente da parede será


distribuída por toda a placa, somando-se às ações decorrentes do peso
próprio, acabamentos etc. Como os carregamentos assumem a forma
de unidade de força por unidade de área, o processo para cálculo deste
carregamento será descrito a seguir:

Onde:
16 UNIUBE

1.2.6 Carregamento acidental

Entende-se por carregamento acidental, as cargas que não são


provenientes da estrutura e seu acabamento. Dentro dessa gama,
encontram-se os móveis, as pessoas, os equipamentos, maquinários,
etc. De modo a facilitar a consideração destas cargas, o calculista pode
consultar a ABNT_NBR 6120/1980, de modo a retirar de lá as ações
pertinentes a cada tipo de utilização da laje.

1.3 Valores máximos e mínimos

No dimensionamento das lajes maciças de concreto armado, devemos


observar as regulamentações impostas pela ABNT_NBR 6118/2014.
Estas regulamentações atingem vários aspectos inerentes ao
dimensionamento feito pelo engenheiro calculista. Dentre estes limites,
os mais comuns são:
• Altura mínima da laje maciça:

No item 13.2.4.1, a ABNT_NBR 6118/2014 trata como sendo a menor


altura permitida às lajes maciças, devido a sua disposição, os seguintes
valores:
a) 7 cm para cobertura não em balanço;
b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;
c) 10 cm para lajes em balanço;
d) 10 cm para lajes que suportem veículos com peso
total menor que 30 kN;
e) 12 cm para lajes que suportem veículos com peso
total maior que 30 kN;
f) 15 cm para lajes com protensão apoiadas em vigas,
com no mínimo L/42 para lajes biapoiadas e L/50 para
lajes de piso contínuas;
g) 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes-cogumelo,
fora do capitel.
(ABNT, 2014)
UNIUBE 17

• Cobrimento nominal mínimo:

A tabela 7.2 da ABNT_NBR 6118/2014 traz os valores mínimos do


cobrimento nominal as armaduras em função da classe de agressividade
ambiental em que a laje esteja contextualizada.

Tabela 1: Correspondência entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento


nominal

Fonte: ABNT_NBR 6118/2014

Para garantir o cobrimento mínimo exigido, soma-se ao valor do


cobrimento nominal o valor da tolerância de execução, ∆c = 10 mm.

Deste modo é possível escrever a equação do cobrimento mínimo como


sendo:
18 UNIUBE

∆c

É possível também recordar que a altura útil de uma peça fletida é a


altura que realmente contribuirá para resistir às tensões provocadas
pela flexão. No caso do concreto armado, a resistência à tração (tração
decorrente da flexão) é desprezada; sendo assim, é descartada toda
área abaixo do centro de gravidade da última barra longitudinal. Deste
modo, é possível calcular a altura útil “d”, para laje de concreto armado,
da seguinte maneira:

onde:

Obs. Como não é possível conhecer as bitolas da armadura de flexão


antes do dimensionamento, é comum utilizarmos de diâmetros médios
para cálculo da altura útil. Como na maioria dos casos, as bitolas das
armaduras estarão próximas de 8 mm, pode-se adotar este valor.
Neste livro, o autor adota o diâmetro de 10 mm para este fim, pois será
possivelmente a maior bitola a ser utilizada neste tipo de elemento.
UNIUBE 19

1.4 Pré-dimensionamento

O primeiro passo para dimensionar uma laje de concreto armado é a


estimativa da altura final da laje, obedecendo sempre os limites mínimos
de espessura conforme a ABNT_NBR 6118/2014, assunto já abordado.
Existem algumas maneiras de fazer esta estimativa, porém o autor se
limita a apontar a que ele utiliza em seu escritório de cálculo e defendida
por dois renomes da área: prof. Dr. Libânio Pinheiro e prof. Dr. Paulo
Bastos. (Vide Referências ao final do Capítulo)

A altura final da laje pode ser estimada pela expressão:

onde:

Note que, ao pré-dimensionar as lajes, conseguimos a estimativa do


peso próprio atuante devido à densidade do concreto empregado. Este
pré-dimensionamento serve apenas para este fim: calcular o peso próprio
do concreto armado. Não se dispensa a necessidade de verificar as
flechas, constantes do E.L.S.

1.5 Dimensionamento: determinação das reações de apoio

Ao contrário de toda teoria demonstrada até o final deste capítulo,


a determinação das reações de apoio, ou seja, a carga que a laje
descarrega nos elementos de sustentação, sejam eles vigas de borda,
paredes, pilares etc, serão calculados supondo um comportamento
20 UNIUBE

plástico. O método admitido pela ABNT_NBR 6118/2014(item 14.7.6.1_


Reações de apoio) chama-se Método das Charneiras Plásticas. Quando
a análise não for completa, admite-se:
Para o cálculo das reações de apoio das lajes maciças
retangulares com carga uniforme podem ser feitas as
seguintes aproximações:
a) as reações em cada apoio são as correspondentes
às cargas atuantes nos triângulos ou trapézios
determinados através das charneiras plásticas
correspondentes à análise efetivada com os critérios
de 14.7.4, sendo que essas reações podem ser, de
maneira aproximada, consideradas uniformemente
distribuídas sobre os elementos estruturais que lhes
servem de apoio;
b) quando a análise plástica não for efetuada, as
charneiras podem ser aproximadas por retas inclinadas,
a partir dos vértices, com os seguintes ângulos:
- 45° entre dois apoios do mesmo tipo;
- 60° a partir do apoio considerado engastado, se o
outro for considerado simplesmente apoiado;
- 90° a partir do apoio, quando a borda vizinha for livre.
(ABNT, 2014, p. 96).

1.5.1 Reações de apoio em lajes armadas em uma direção -

Para este caso específico, a metodologia de cálculo passa pela suposição


de vigas paralelas com largura ( ) igual a 1m (100cm). Portanto, para
a direção principal, o cálculo consiste em determinar a reação de apoio
por metro de laje como já estudado diversas vezes nas disciplinas de
Teoria das Estruturas.

Para cargas distribuídas nas lajes:


UNIUBE 21

Onde:

Quanto mais próxima de 2 for a relação , mais haverá a tendência dos


esforços se distribuírem em quinhões de carga, como será tratado no
próximo item. Para consideração destas reações possíveis no sentido
secundário, segundo o método das charneiras plásticas, tomamos a área
do triangulo com ângulos internos com 30°, 30° e 120°, respectivamente.

Figura 9: Área de influência das charneiras plásticas para lajes unidirecionais.


Fonte: Bastos (2015, p.19).

A favor da segurança, pode-se tomar:

Para cálculo da reação na viga, por metro de viga, temos:


22 UNIUBE

Conclui-se que:

Com em KN/m² e em metros.

1.5.2 Reações de apoio em lajes armadas em duas direções -

No caso de lajes em que tenhamos duas direções principais, devemos


utilizar das aproximações permitidas pela norma, e traçarmos os
triângulos e trapézios em função das vinculações.

Figura 10: Esquema estático em relação aos triângulos e trapézios pelo método das charneiras
plásticas.
Fonte: Bastos (2015, p. 20).

De maneira aproximada, é possível o cálculo das reações de apoio,


em função da dedução apresentada para a área do triangulo na laje
unidirecional, através de tabelas que correlacionam o valor de
(sempre com ), com o tipo da laje segundo BARÉS, pela seguinte
expressão:

em que,
UNIUBE 23

1.6 Dimensionamento: determinação dos momentos fletores

1.6.1 Momentos fletores em lajes armadas em uma direção -

O esquema de cálculo de laje armada em uma direção assemelha-se ao


cálculo dos momentos fletores em barras, tal como visto exaustivamente
nas disciplinas de análises das estruturas. É um processo análogo ao
dimensionamento das vigas, em que as lajes tornam-se vigas com base/
largura de 1m (100cm).

As fórmulas para determinação dos momentos fletores, de acordo com


o tipo de carregamento aplicado (neste caso somente carregamento
distribuído – kN/m²) e sua vinculação, podem ser resumidas a seguir:

a) Lajes bi apoiadas:

b) Lajes engaste/apoio:

c) Lajes engaste/engaste:
24 UNIUBE

onde:

1.6.2 Momentos fletores em lajes armadas em duas direções -

Os momentos fletores em lajes armadas em duas direções distribuem-


se de tal maneira que em função do seu quinhão de carga – parcela do
carregamento que atuará no sentido “x” e a parcela do carregamento que
atuará no sentido “y” – dispõem de uma complexidade de análise maior.
Ao contrário das lajes armadas em uma única direção , estas lajes
possuem algumas teorias clássicas para determinação do módulo destes
momentos fletores. Tal comprennsão se dará após a análise do sentido
de fissuração em placas retangulares de concreto armado à medida que
a relação for diminuindo até assumir valores próximos de 1.

A Figura 11, a seguir, demonstra como os momentos fletores tendem


a desviar seu sentido nos cantos em função dos momentos volventes
– momentos fletores existentes devido à tendência de levantamento
das bordas das lajes. É possível notar, em seu comportamento, que
os momentos fletores tendem a formar ângulos de 45 º com a borda
horizontal à medida que as dimensões das lajes tendem a ser iguais.
Enquanto isso, nas dimensões mais distintas , os momentos
nos centros das placas se desenvolvem perpendicularmente às bordas.
UNIUBE 25

Figura 11: Direção dos momentos fletores principais.


Fonte: Leonhard Te Mönnig (1982, p.82).

Isto posto, a análise empírica da distribuição dos momentos fletores,


aliada a algumas teorias clássicas, permitem-nos determinar, com
razoável precisão, os valores das reações verticais, do módulo dos
momentos positivos e negativos, da flecha máxima e equação da
linha neutra. Os métodos supracitados encontram-se sob a luz de dois
métodos: o elástico e o plástico. Neste livro abordaremos o método
elástico devido à possibilidade de utilização de tabelas para simplificação
dos cálculos.

Imagine uma laje em que os momentos fletores e as reações de apoio


se distribuem nas duas direções, “x” e “y”. Agora imagine que as
vinculações desta laje sejam do tipo simplesmente apoiadas para “y” e
engaste/engaste para “x” (este fato se justifica pela laje como ausência
de continuidade no sentido “y”).
26 UNIUBE

Figura 12: Esquema estático de laje bi-direcional.


Fonte: Bastos (2015, p.6).

Obervando o esquema estático acima (Figura 12), podemos inferir o


seguinte:

- o carregamento total Q, atuante sobre a laje será distribuído nas


duas direções “x” e “y”, conforme seu quinhão de carga. Assim sendo,
podemos escrever o quinhão de carga atuante no sentido “x” da placa (
) somado à parcela que atuará da carga no sentido “y” da placa ( )
tem igual intensidade ao carregamento total ( ).

Considerando a placa como material prismático sujeito a deflexões


elásticas máximas iguais, tanto em “x” como em “y”, podemos escrever:

, montamos o seguinte
sistema:

Onde:
= quinhão de carga atuante no sentido
= quinhão de carga atuante no sentido
= vão de cálculo no sentido x
UNIUBE 27

= vão de cálculo no sentido y


= Módulo de Elasticidade secante do concreto armado
= Momento de Inércia da seção retangular do concreto armado

Isolando , temos:

Substituindo na segunda equação e chamando de λ, temos:

Colocando em evidencia e isolando-no em função de Q, temos:

Como , temos:

Simplificando:

Deste modo, para este tipo de vinculação, é possível determinar o


quinhão de carga para cada sentido (“x” e “y”), conhecendo a relação
e o valor do carregamento atuante .

De maneira análoga, é possível determinar os quinhões de carga para


todas as combinações possíveis de vinculações, desde a laje isolada
(simplesmente apoiada em todas as bordas) como totalmente engastada.
28 UNIUBE

Os valores de kx podem ser consultados na tabela de MARCUS anexa


ao final deste livro, onde, deste modo, foram calculados:

Este processo é mesmo usado nas tabelas de MARCUS, para cálculo


dos momentos fletores negativos. Os momentos fletores positivos são
aliviados pelo possível engastamento elástico parcial que a laje sofre.

Os momentos fletores atuantes podem ser calculados sem uso de


tabelas, para esta metodologia demonstrada acima, da seguinte maneira:

Se o lado “x”, simplesmente chamado de , é engastado/engastado,


o momento de engastamento perfeito, de uma forma geral, pode ser
calculado da seguinte maneira para a faixa de um metro de laje:

 kN   kN 
Q  2  ∗ 1m =
Q 
m   m 

Da segunda integral do carregamento, encontrando a condição de


contorno para determinação das constates de integração, temos a
equação do momento fletor:
e

Genericamente:

E para este caso:

5∗ λ4
Se qx= Q ∗ , então,
5∗ λ4 +1
UNIUBE 29

Exemplo: O esquema (Figura 13), a seguir, é a laje de um apartamento


isolada no seu maior vão ly e possui lajes adjacentes no seu menor vão
lx.

Sabendo que ela será dimensionada para suportar um carregamento total


de 10 kN/m², calcular os momentos fletores atuantes nesta laje:

Figura 13: Esquema estático de laje bidirecional.


Fonte: Bastos (2015, p.6).

Veja a resolução, a seguir.

Sabendo que a laje é do Tipo 4, conforme a classificação de MARCUS,


pois se trata de engaste/engaste em lx e apoio/apoio em ly, temos:
30 UNIUBE

Por fim, é necessário dizer que hoje existem diversas maneiras de


analisar os momentos fletores atuantes nas lajes. Por este método,
após o conhecimento dos quinhões de carga, é possível se atingir boa
precisão analisando as continuidades por programas de cálculo e análise
de estruturas planas, como o FTOOL, por exemplo.

1.6.1.1 Cálculo de momentos fletores com utilização da tabela de


Marcus

Com a dedução demonstrada no item anterior, lançando mão do sistema


linear, é possível calcular com certa precisão os momentos fletores
atuantes em todos os tipos de lajes, em função das vinculações e da
relação . Porém, além de trabalhoso, esse método conta com
uma precisão menor do que as observações feitas por alguns autores,
baseados em conceitos físicos mais apurados. Em função deste
problema é que iniciaremos os cálculos, utilizando as tabelas de Marcus
disponibilizadas ao final desse livro. É possível comparar os valores
dos momentos fletores obtidos pelas equações a seguir em função dos
coeficientes Mx, My, Xx, Xy e λ com os obtidos através das deduções
anteriores.

Conforme as tabelas de MARCUS, os momentos fletores são calculados


segundo as seguintes expressões:
UNIUBE 31

onde:

Para utilização destas fórmulas, é necessário classificar as lajes conforme


suas vinculações. São seis tipos, conforme a Figura 14:

Figura 14: Tipos de lajes.

Para consultar esta tabela, além de classificar a laje segundo sua


vinculação dentro dos seis tipos existentes, também é necessário
identificar e .

O critério consiste em observar qual o lado com o maior número de


engastes, este sempre será . No caso de haver igual número de
engastes entre os vãos, e , o primeiro será o que possui menor
comprimento.
32 UNIUBE

A determinação dos quinhões de carga passa pelas mesmas regras que


a determinação dos momentos fletores.

Exemplo de aplicação: Resolvendo o exemplo anterior com o auxílio das


tabelas, temos:

Da Tabela, tiramos:

Note que o valor do momento de engastamento é exatamente igual ao


calculado pelo autor através da dedução da igualdade entre as flechas.
Nos momentos positivos, a margem de erro é pequena com relação aos
valores encontrados através dos coeficientes das tabelas. Em suma, a
utilização da tabela é mais vantajosa e a demonstração serve para ilustrar
como se determinam as fórmulas utilizadas.

1.6.1.2 Cálculo de momentos fletores com utilização da Tabela de


BARÉS

Outro método para se calcular os esforços solicitantes em lajes de


concreto armado em duas direções, supondo o comportamento elástico,
o material homogêneo e isótropo é a Teoria das Placas, proposta por
Lagrange em 1811.
UNIUBE 33

Este método relaciona as deflexões ocorridas em cada sentido da placa


(laje) com o quociente entre o carregamento distribuído total e a rigidez
do material. A equação fundamental baseia-se na igualdade entre a
derivada de quarta ordem de cada equação da linha elástica (“x” e “y”),
somada à derivada parcial da mesma linha elástica. Esta equação pode
ser descrita como segue:

Onde:

Sendo o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson.

É fácil de notar a complexidade de resolução da teoria das placas em


função dos vários tipos de vinculação e λ existentes. Para a simplificação
dos cálculos utilizaremos as tabelas de BARÉS, obtidas pelo processo
de diferenças finitas e adaptadas por Pinheiro (2007). Tais tabelas
encontram-se ao final do seu livro. A diferença na adaptação se dá
na consideração do valor do coeficiente de Poisson, que antes era de
e por Pinheiro (2007), .

A utilização destas tabelas é muito semelhante à utilização das tabelas


de MARCUS, exceto por um detalhe que segue:

Conforme a Tabela de BARÉS adaptada por Pinheiro (2007), os


momentos fletores são calculados segundo as seguintes expressões:
34 UNIUBE

Para utilização destas fórmulas, é necessário classificar as lajes conforme


suas vinculações. São seis tipos, conforme o que segue:

Figura 15: Tipos de vinculações de lajes, segundo Barés.


Fonte: Pinheiro (2007).

Exemplo de aplicação:

Utilizando o exemplo da metodologia anterior (item 1.6.1.1), vamos


calcular os momentos fletores da mesma laje com a tabela de BARÉS
adaptada por Pinheiro (2007).

ly
Neste caso, a laje é do tipo 4b (menor lado biengastado). λ =
lx
UNIUBE 35

Da tabela, tiramos:

É possível notar que os valores calculados por este método, com relação
aos dois métodos antes apresentados (Dedução e Processo de Marcus),
são mais conservadores. Os valores, em módulo, são maiores do que
os calculados outrora.

Na resolução do caso prático, mais adiante, discutiremos sobre a


relevância da diferença entre os módulos dos valores dos momentos
fletores.

1.6.3 Compatibilização entre os momentos fletores obtidos

Na maciça maioria dos casos, as lajes de edifícios residenciais não são


isoladas, ou seja, possuem continuidade. Isto implica dizer que não temos
mais um caso de estrutura isostática nem tampouco um engastamento
perfeito. Haver continuidade implica dizer que os momentos fletores
negativos surgidos nas vinculações das bordas das lajes têm intensidade
igual ao momento fletor surgido na borda adjacente. Surge, aí, um
problema: Como analisar lajes com espessuras e comprimentos
diferentes sucetíveis a momentos fletores negativos diferentes? Para
resolver tal demanda, utilizaremos um processo há muito usado em
escritórios de cálculo no Brasil e que já foi difundido nas literaturas
específicas. Segundo a NBR 6118/2014 está compatibilização pode ser
feita das seguintes maneiras:
36 UNIUBE

Quando houver predominância de cargas permanentes,


as lajes vizinhas podem ser consideradas isoladas,
realizando a compatibilização dos momentos sobre
os apoios de forma aproximada. No caso de análise
plástica, a compatibilização pode ser realizada
mediante a alteração entre as razões dos momentos de
borda e vão, em procedimento iterativo, até obtenção de
valores equilibrados nas bordas. Permite-se a adoção
do maior momento negativo em vez de equilibrar
os momentos das lajes diferentes sobre uma borda
comum. (ABNT, 2014, p. 97).

Da recomendação acima, tiramos as seguintes conclusões:

O processo que utilizamos para cálculo dos momentos fletores é feito sob
a ótica do comportamento elástico, portanto não nos cabe o processo
iterativo. A adoção do maior momento fletor permite-nos uma margem
alargada de segurança, margem esta que já é coberta pelos inúmeros
coeficientes de majoração e minoração adotados no dimensionamento
no E.L.U (Estado Limite Último). Deste modo, a compatibilização entre
momentos fletores negativos de intensidades diferentes se dará sob as
seguintes condições:

1º utiliza-se o maior valor entre a média aritmética simples ou oitenta


por cento do maior valor de momento fletor. Para melhor entendimento,
imagine duas lajes adjacentes que possuam dois momentos fletores
distintos onde, :

2º não há compatibilização entre dois momentos onde um deles seja


nulo. Neste caso, é necessário armar a laje para combater o momento
fletor não-nulo em sua total intensidade. Imagine duas lajes adjacentes
que possuam dois momentos fletores distintos onde, e ,
tem-se então:
UNIUBE 37

3º em casos especiais de vinculação, em que uma das lajes pode


assumir dois tipos de vínculo, em que um dos vínculos trará para a laje
um momento nulo, armar a laje para a combinação mais desfavorável
dentre a primeira e a segunda condição sobrescrita;

4ª também em casos especiais de vinculação, em que uma laje faça


divisa com mais de uma laje, tomar a pior situação para cálculo da
armadura de aço. Este fato parece controverso, pois admite, em certos
casos, armaduras excessivas para um determinado comprimento de laje,
porém facilita a compreensão do profissional responsável pela armação
das barras de aço no canteiro de obras. As condições 3ª e 4ª serão
melhores interpretadas no exemplo ilustrativo ao final deste capítulo.

Estas condições implicam alteração dos diagramas de momentos


fletores, há acréscimo no momento de menor intensidade e redução nos
momentos de maior intensidade. Como as lajes em sua grande maioria
são solicitadas por cargas distribuídas por área e posteriormente lineares
(quando se considera as cargas por faixa de metro de laje kN/m, Kgf/m
etc) o seu diagrama de momento fletor deverá responder a uma parábola
advinda de uma equação quadrática, tipo , em que o
vértice da parábola (equivalente ao momento máximo positivo) também
deverá sofrer redução/inflação dependendo da compatibilização feita.

Deste modo, uma maneira segura de rearranjar o diagrama é utilizar a


seguinte prática:

• para o momento máximo positivo cujo momento de engastamento


perfeito tenha sido aumentado: neste caso, o momento positivo
naturalmente sofreria redução, porém em função da segurança,
manteremos o valor calculado;
• para o momento máximo positivo cujo momento de engastamento
perfeito tenha sido reduzido: neste caso, haverá acréscimo do
momento máximo positivo e o mesmo será feito deste modo:
38 UNIUBE

em que:

Figura 16: Compatibilização dos momentos fletores negativos e consequente acréscimo


no momento fletor máximo positivo.
UNIUBE 39

1.6.4 Condições de vinculação

Com exceção das lajes em balanço e casos raros de disposição


construtiva (lajes com uma borda livre e três apoiadas), as lajes só serão
consideradas engastadas nas bordas quando houver continuidade com
outro painel de laje. Isto implica dizer que as lajes, nestes casos mais
comuns, não são engastadas nas vigas ou elementos de borda e sim
engastadas nas lajes adjacentes. Se esta situação não ocorrer, as lajes
serão calculadas como simplesmente apoiadas nos elementos de suporte
nas bordas (vigas, paredes, pilares etc.)

1.6.4.1 Condições especiais de vinculação

Em alguns casos, não muito raros, as lajes têm continuidade interrompida


no seu sentido considerado ou possuem grandes diferenças de
comprimento (vão de cálculo) ou até mesmo grandes diferenças de
espessuras. Para tratar de definir parâmetros para nossos estudos, o
autor reserva-se o direito de apresentar os métodos por ele usados em
seu escritório de cálculo. Veja a seguir.

a) Lajes que possuam a continuidade interrompida ou continuidade


parcial:

as lajes maiores deverão ser consideradas como engastadas nas


lajes menores caso a laje menor tenha o vão de cálculo maior
que dois terços do comprimento da laje maior. Deste modo:
. Independente desta condição, a
laje menor será engastada na laje maior;

as lajes menores que possuam comprimento entre dois terços da laje


maior e um terço também da laje maior deverão ser calculadas como
engastadas e apoiadas e tomar a pior combinação para cálculo das
armaduras: . Independente desta condição, a laje
menor será engastada na laje maior.
40 UNIUBE

Caso as lajes menores possuam seu vão de cálculo no sentido


considerado menor que um terço da laje maior, calcula-se a laje maior
como simplesmente apoiada na laje menor. .

Figura 17: Lajes interrompidas.

b) Lajes com espessuras muito diferentes:

Quando uma laje tem espessura muito diferente da outra, a propagação


dos momentos fletores, sob a luz da Teoria dos Deslocamentos, tenderá à
laje que possua maior rigidez. A rigidez (EI) é proporcional ao módulo de
elasticidade e ao momento de inércia. Na maioria, o concreto bombeado
na concretagem tem o mesmo Fck para todas as lajes. Então resta-nos
o estudo do momento de inércia da seção retangular. O autor considera
que uma diferença significativa para considerar uma laje apoiada em
outra se dá quando uma laje possui o triplo da inércia da outra. Quando
isto ocorrer, convém considerar a laje de maior inércia apoiada na laje
de menor inércia.
UNIUBE 41

em que:

É importante lembrar que este é um critério pessoal e cada literatura


adotará, ou não, seu próprio critério. Deste modo, para que se considere
uma laje de maior espessura apoiada na de menor espessura, a primeira
tem que ter 44% a mais de espessura.

c) Lajes que possuam grandes diferenças de comprimento e momentos


fletores.

Este caso peculiar, ocorre na maioria das vezes com as lajes das sacadas
ou dos corredores (hall de circulação). Quando uma placa é muito maior
do que a sua continuidade poderão, devido à grande diferença de
momentos fletores, ocorrer momentos negativos no centro da laje menor.
No caso de lajes em balanço (sacadas), poderá haver levantamento
desta laje. Portanto, cabe ao calculista analisar criteriosamente cada
caso para que o mesmo tome a melhor medida para cada situação.
Como medida paliativa razoável é, possível considerar a laje menor (do
hall ou da sacada) engastada na maior e a maior laje apenas apoiada
na laje menor.

Quando se tem momentos fletores muito maiores , convém


considerar a laje de maior momento fletor apoiada na de menor momento
fletor.
42 UNIUBE

Figura 18: Detalhe do levantamento imposto por vãos muito diferentes em lajes contínuas.

1.7 Conclusão

Após a leitura deste capítulo é possível observar que há duas verificações


em que o engenheiro deverá se ater: Estado Limite último – ELU e Estado
Limite de Serviço- ELS. Todas as prescrições estão presentes na NBR
6118/2014 e a rotina do dimensionamento poderá ser feita de acordo
com a necessidade de cada caso, sendo o primeiro passo o lançamento
estrutural.

Resumo
Neste primeiro capítulo, começamos o nosso estudo referente ao
dimensionamento de lajes de concreto armado, sendo possível destacar:
• a definição;
• ações a serem consideradas;
• valores máximos e mínimos;
• pré-dimensionamento;
• determinação das reações de apoio;
• determinação dos momentos fletores.
UNIUBE 43

Referências
ABNT_NBR6118: 2014. Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Disponível
em: <https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid...>. Acesso em: set. 2017.

ABNT_NBR6120: Nov. 1980. Cargas para cálculo de estruturas de edificações.


Disponível em: <https://engenhariacivilsp.files.wordpress.com/2014/02/nbr6120.pdf>.
Acesso em: maio. 2018.

BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Lajes de Concreto - Notas de aula, Bauru,
2015. Disponível em: <wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em: 02 ago. 2017.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Princípios básicos


do dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro,
Ed. Interciência, 1982.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Casos especiais de


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 2. Rio de Janeiro,
Ed. Interciência, 1982, 305p.

PINHEIRO, Libâneo. Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios- v.l, São


Carlos, 2007. Disponível: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago.
2017.

SANTOS, L.M. Cálculo de Concreto Armado, v.l, São Paulo: Editora LMS, 1983.

PFEIL, W. Concreto armado, v. 1/2/3, 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Livros Técnicos e
Científicos, 1989.
Capítulo
Lajes maciças –
dimensionamento
2
das armaduras de
flexão e verificação do
cisalhamento e flechas
Introdução
O dimensionamento na flexão das lajes maciças depende
basicamente do estádio em que o carregamento submeteu o
elemento de concreto armado, bem como o domínio que a sua
altura e largura possibilitem ao elemento. Como as lajes são
placas, assemelham-se às vigas de comprimento váriável e
largura de um metro. Dimensioná-las passa pelo crivo da ánalise
da profundidade da linha neutra e como esta irá influenciar a
deformação na armadura de aço e no concreto comprimido. Estes
fatores serão analisados neste capítulo.

Os esforços cortantes são, quase sempre, absorvidos pelos


próprios mecanismos do concreto armado, no caso de lajes, e
sua verificação é feita a partir da dispensa de armadura transversal
(estribos). Em vigas, este efeito poderá levar ao colapso, e
portanto, dedicaremos um capítulo para dissecar este assunto.
No momento, em lajes maciças, apresentaremos os limites para
dispensa de armadura transversal.

Objetivos
Ao final dos estudos propostos neste capítulo, esperamos que
seja capaz de:
46 UNIUBE

• esclarecer os possíveis domínios de cálculo das lajes


maciças;
• calcular as armaduras em função dos momentos fletores
compatibilizados;
• detalhar, em forma, as armaduras que compõem as lajes.
• calcular as deflexões ocorridas, imediatas e diferidas.

Esquema
2.1 Dimensionamento: dimensionamentos das armaduras
2.1.1 Cálculo das armaduras com utilização da tabela de
Pinheiro
2.1.2 Área de aço mínima na flexão
2.1.3 Área de aço máxima na flexão
2.1.4 Diâmetro máximo das barras fletidas
2.1.5 Espaçamento máximo e mínimo entre as barras
2.1.6 Comprimento e disposições das armaduras de flexão
2.1.7 Armadura para combate dos momentos volventes
2.2 Dimensionamento: dimensionamento da armadura transversal
2.3 Dimensionamento: flecha
2.3.1 Flecha imediata segundo a NBR 6118/2014
2.4 Conclusão

2.1 Dimensionamento: dimensionamento das armaduras

O dimensionamento das lajes de concreto armado, sejam elas maciças,


armadas em uma ou duas direções, nervuradas, treliças pré-fabricadas,
todas são dimensionadas para trabalharem dentro de um determinado
estádio e um determinado domínio.

Ao contrário das vigas de concreto armado que são dimensionadas no


estádio III, conhecido como cálculo na ruptura, as lajes são dimensionadas
para trabalharem no estádio I e raramente atingem o estádio II.
UNIUBE 47

Quando utilizamos a fórmula de pré-dimensionamento demonstrada


neste capítulo, via de regra, garantimos que a laje esteja contida no
estádio I. O que nos cabe verificar é se a altura da linha neutra realmente
encontra-se dentro da seção de concreto. É razoável, para garantia
de boa ductibidade, que os elementos estejam trabalhando abaixo
do domínio 3, com altura de linha neutra . Vide item 17.2 –
Elementos lineares sujeitos a solicitações normais – Estado Limite Último
– E.L.U, da NBR 6118/2014.

Tendo conhecimento dos momentos fletores solicitantes máximos e


tendo calculado a altura útil da laje através da equação de equilíbrio
dos momentos internos, é possível verificar esta condição ( )e
calcular a armadura, em cm²/m, para atender à tração ocorrida em virtude
do binário de forças gerado pelo momento fletor.

Equação de dimensionamento:

Figura 1: Deformação sofrida pela seção transversal de concreto armado no Estado


Limite Último.
Fonte: ABNT_NBR 6118/2014, p.28.

O equilíbrio da seção de concreto armado, no caso de lajes, dar-se-á no


alongamento máximo de 10% na área tracionada (armadura de aço) e
um encurtamento na seção comprimida de concreto que variará entre
0% a 3,5%. Este fato garantirá que a linha neutra se encontra dentro da
seção transversal.
48 UNIUBE

Sendo assim,

Ou seja, a linha neutra variará de 0 a 0,259 d.

Figura 2: Equilíbrio do binário de forças.


Fonte: Bastos (2015, p. 13).

Equilibrando a seção:

A Resultante no concreto “Rc”, na área de aço tracionada “Rs” e na


área de aço comprimida “R’s”, na iminência do dimensionamento na
ruptura, considerando o diagrama parábola retângulo com sendo
aproximadamente 80% da área de um retângulo de altura “x” e o
aproveitamento de 85% da resistência de cálculo do concreto “Fcd”,
temos:
UNIUBE 49

Sendo a altura da linha neutra posicionada a partir do bordo superior e


em função da altura “d”, escrevemos
Substituindo “x” por , teremos:

No diagrama retangular das tensões de compressão no concreto:

Substituindo na equação ,
temos a equação para armadura de compressão:

Para armadura simples (somente de tração, R’s = 0), temos:

E para equilíbrio:

Isolando a área de aço:


50 UNIUBE

Finalmente:

Exemplo de aplicação: Dimensionar a área de aço para uma laje com


espessura “h” de 11 cm, cobrimento de 2,5 cm, fck de 25 Mpa, aço CA-50
e que possua momentos fletores nas seguintes ordens:

Mx = 4,65 kN.m/m
My = 1,55 kN.m/m
M’x = 9,28 kN.m/m

Resolução:

1º Supondo armadura longitudinal de 10 mm, calculamos a altura útil:

2º Descobrindo o domínio de cálculo, para Mx:

, menor que 0,45, domínio 2, ok!


UNIUBE 51

3º Descobrindo o domínio de cálculo, para My:

, menor que 0,45, domínio 2, ok!

4º Descobrindo o domínio de cálculo, para M’x:

, menor que 0,45, domínio 2, ok!

2.1.1 Cálculo das armaduras com utilização da tabela de Pinheiro

Para facilitar ainda mais os cálculos das áreas de aço em função da


altura da linha neutra, existe uma tabela criada por Pinheiro (2007),
que correlaciona a resistência do concreto à compressão Fck com a
resistência do aço à tração Fyk, condicionando os cálculos a simples
consultas a coeficientes tabelados: Kc e Ks.

O coeficiente que correlaciona a altura útil do elemento flexionado com


a base, o Fck e a altura da linha neutra pode ser deduzido desta forma:
52 UNIUBE

logo:

Para cálculo da área de aço, de maneira análoga ao coeficiente Kc,


deduziremos o coeficiente Ks.

logo:

Para demonstrar a utilidade desta Tabela, iremos refazer o último exemplo


baseado nestes coeficientes.

Para o momento Mx = 4,65 kN.m/m:

Da Tabela de Pinheiro (2007), procuramos a coluna referente ao


concreto utilizado, neste caso C-25, encontraremos entre os valores de
Kc existentes o valor 10,6 e 8,6. Se olharmos na mesma linha a coluna
mais à esquerda, retiraremos os valores dos domínios de cálculo (altura
da linha neutra a partir do bordo comprimido), O
UNIUBE 53

valor que encontramos com o cálculo manual completo foi de .


Na mesma linha, procuramos a coluna à direita referente ao coeficiente
de aço . Para aço CA-50, temos em ambas as alturas.
Deste modo, a área de aço será calculada:

Para o momento My = 1,55 kN.m/m:

Para o momento M’x = 9,28 kN.m/m:

2.1.2 Área de aço mínima na flexão

A ABNT_NBR 6118/2014 preconiza valores mínimos para as áreas de aço


à flexão, em função da classe do concreto usado. O valor do momento fletor
mínimo, ao qual a área de aço deve ser dimensionada, é calculado por:

em que,
54 UNIUBE

No item 17.3.5.2.1 - Valores Limites para armaduras longitudinais de


vigas - ABNT_NBR6118/2014, o valor da taxa mínima admitida, em
função da classe do concreto, é relacionado na tabela 17.3 desta mesma
norma. Também há que se observar a tabela 19.1 que trata de taxas
mínimas para lajes de concreto armado.

Tabela 1: Valores mínimos para armadura passiva de flexão

Fonte: NBR6118/2014, p. 158.


UNIUBE 55

Tabela 2: Taxas mínimas para armaduras de flexão

Fonte: NBR 6118/2014, p. 130.

Deste modo, podemos conferir se nossos cálculos ficaram acima da


armadura mínima preconizada por norma:

Devemos armar a laje (nos momentos negativos) para um momento


mínimo igual a 2,85 KN.m 0,15%*AC.

Porém este valor tem que ser menor que o mínimo de

Neste último caso (As,y), devemos dispor da armadura mínima de 1,11


cm²/m.
56 UNIUBE

2.1.3 Área de aço máxima na flexão

Também segundo a ABNT_NBR 6118/2014 há que se respeitar uma


taxa máxima de armadura na seção transversal. Este valor pode ser
consultado no item 17.3.5.2.4, em que a mesma prega que:

em que,

Utilizando, como exemplo, a resolução anterior, temos:

2.1.4 Diâmetro máximo das barras fletidas

Nenhuma barra de combate à flexão pode ter diâmetro maior que a oitava
parte da espessura.

Para o último caso:

Conclui-se que, em uma laje de espessura de 11 cm, a bitola máxima


possível a ser utilizada é a de meia polegada ( .
UNIUBE 57

2.1.5 Espaçamento máximo e mínimo entre as barras

A única preconização existente na ABNT_NBR 6118/2014 com relação


às barras de distribuição (armadura secundária de distribuição) é que não
devem ultrapassar a distância de 33 cm.

Com relação às barras da armadura principal, estas não deverão


ultrapassar um distanciamento de 2*h ou 20 cm.

Com relação aos valores mínimos nada é disposto. Porém para que haja
perfeição na concretagem, inclusive sobrando espaço para passagem do
mangote vibratório, esta distância não deve ser menor que 2 cm.

2.1.6 Comprimento e disposição das armaduras de flexão.

a) Armadura positiva:
Para o comprimento das armaduras positivas a ABNT_NBR 6118/2014,
em seu item 20.1, dispõe o seguinte:
Nas lajes armadas em uma ou em duas direções,
em que seja dispensada armadura transversal de
acordo com 19.4.1, e quando não houver avaliação
explícita dos acréscimos das armaduras decorrentes
da presença dos momentos volventes nas lajes, toda
a armadura positiva deve ser levada até os apoios,
não se permitindo escalonamento desta armadura. A
armadura deve ser prolongada no mínimo 4 cm além do
eixo teórico do apoio. (ABNT_NBR_2014, p. 169).

Deste modo, é possível concluir que, como na grande maioria das


lajes de concreto maciço, não há necessidade de armadura transversal
(estribos), como provaremos mais adiante. A área de aço calculada, após
a escolha das bitolas e do espaçamento, deverá ser levada de apoio a
apoio com um prolongamento de 4 cm além do eixo das vigas ou parede
de borda. Ocorre muito pela facilidade, a dobra destes 4 cm para garantir
a perfeita ancoragem.
58 UNIUBE

b) Armadura negativa:

Para as armaduras negativas, não há na ABNT_NBR 6118/2014 qualquer


indicação do comprimento das barras. Porém a NB-1 de 1978 (Norma
que regulamentou a maioria das construções de edifícios no Brasil,
devido ao seu tempo de vigência) dispõe sobre o diagrama triangular
admitido pelo momento fletor negativo. Este diagrama tem o comprimento
aproximado de em cada lado de laje. Ou seja, o comprimento
total da armadura negativa terá 50% do maior dos menores lados ( .

2.1.7 Armadura para combate aos momentos volventes

Em cantos cujas duas bordas sejam apoiadas, e não disponham de


armadura negativa, há a tendência de levantamento das mesmas pelo
efeito do momento volvente ou momento torçor. Quando não forem feitos
os cálculos específicos para esta situação, convém lançar armaduras
para combate aos mesmos, no lado superior destes cantos com um
comprimento igual 1/5 de lx. Para facilitar a execução, recomenda-se
adotar malha ortogonal superior com seção transversal (bitola) em cada
direção, não inferior a .

2.2 Dimensionamento: dimensionamento da armadura


transversal

Para elementos cuja relação base seja maior ou igual a cinco vezes a
altura ( ), a verificação da necessidade de armadura transversal
(estribos) é verificada conforme o item 19.4, da ABNT_NBR 6118/2014,
p.158, que dispõe sobre a necessidade de armaduras transversais para
os seguintes casos:

As lajes maciças ou nervuradas, (conforme 17.4.1.1.2-


b), podem prescindir de armadura transversal para
resistir às forças de tração oriundas da força cortante,
quando a força cortante de cálculo, a uma distância d da
face do apoio, obedecer à expressão:
UNIUBE 59

em que,

Vrd,1= esforço cortante resistente de cálculo,


admitindo o modelo 1 (treliças com bielas de inclinação
Ø=45°também em kN) relativa a elementos sem
armadura para força cortante.

Para tanto, o valor do esforço cortante resistente de cálculo deve ser


calculado através da seguinte expressão:

onde:

sendo:

em que,
60 UNIUBE

Como na maioria dos casos em que as lajes de concreto armado não


são protendidas e a armadura se estende 4 cm além do vão teórico,
considerando As, 1 como armadura mínima à flexão (a favor da
segurança) a fórmula resumida fica deste modo:

Utilizando dos exemplos já resolvidos, a resistência ao cisalhamento em


um concreto de 25 MPA (2,5 kN/cm²) pela treliça de banzos paralelos
com inclinação de 45°, conforme modelo 1 da ABNT_NBR 6118/2014,
acima demonstrada, fica:

2.3 Dimensionamento: flecha

Como já havíamos citado anteriormente, a determinação das flechas


máximas servem como parâmetro para o dimensionamento da laje de
concreto armado em atendimento ao Estado Limite de Serviço – E.L.S.
De maneira análoga ao demonstrado, quando deduzimos o cálculo do
quinhão de carga, as flechas máximas ocorrem próximas da região
central das placas (exceto para lajes em balanço e lajes com a borda
livre) e através da equação da linha elástica podem ser determinadas
levando em consideração o quinhão de carga admitido para cada sentido
de trabalho ( ) da laje em questão.

Ocorre que, em detrimento da grande variabilidade das cargas acidentais,


acertar pontualmente o valor das flechas é trabalho quase impossível.
UNIUBE 61

O que tentaremos é determinar o máximo deslocamento possível


quando a laje estiver carregada com seu carregamento utilizado no
dimensionamento e cálculo das armaduras.

Novamente partimos do pressuposto de que as lajes têm um


comportamento plástico. Neste contexto, admitimos que o
comportamento do material concreto permite uma flecha imediata, em
função das ações permanentes e uma flecha diferida que contempla
o efeito de fluência do concreto. É necessário citar que os valores
encontrados através do modelo clássico, insistentemente estudado
nas disciplinas de engenharia civil, a equação da linha elástica, quarta
integral da função do carregamento traz valores um pouco acima da
metodologia apontada pela ABNT_NBR 6118/2014.

Como este material tem uma finalidade didática, deixaremos por hora
de lado os cálculos e as demonstrações das deflexões baseadas no
modelo clássico da linha elástica, no que tange às lajes armadas em
duas direções, e nos deteremos em determinar as flechas – imediata
e diferida no tempo – através da instrução da NBR 6118/2014. Porém,
nada impede que o profissional, no âmbito do projeto, aplique a teoria
que mais achar válida. Para lajes armadas em uma direção, a equação
da linha elástica, caso a laje atenda as condições de fissuramento, ainda
é a única maneira.

2.3.1 Flecha imediata segundo a NBR 6118/2014

Segundo o item 17.3.2 (Estado-limite de deformação) da ABNT_NBR


6118/2014, p.125, a determinação da flecha se dá na seguinte maneira:
A verificação dos valores limites estabelecidos na
Tabela 13.3 para a deformação da estrutura, mais
propriamente rotações e deslocamentos em elementos
estruturais lineares, analisados isoladamente e
submetidos à combinação de ações conforme a
Seção 11, deve ser realizada através de modelos que
62 UNIUBE

considerem a rigidez efetiva das seções do elemento


estrutural, ou seja, que levem em consideração a
presença da armadura, a existência de fissuras no
concreto ao longo dessa armadura e as deformações
diferidas no tempo. A deformação real da estrutura
depende também do processo construtivo, assim
como das propriedades dos materiais (principalmente
do módulo de elasticidade e da resistência à tração)
no momento de sua efetiva solicitação. Em face da
grande variabilidade dos parâmetros citados, existe
uma grande variabilidade das deformações reais.
Não se pode esperar, portanto, grande precisão
nas previsões de deslocamentos dadas pelos
processos analíticos prescritos.

Ainda sobre a determinação destes deslocamentos verticais, o item


17.3.2.1 aponta:
O modelo de comportamento da estrutura pode admitir
o concreto e o aço como materiais de comportamento
elástico e linear, de modo que as seções ao longo
do elemento estrutural possam ter as deformações
específicas determinadas no estádio I, desde que
os esforços não superem aqueles que dão início à
fissuração, e no estádio II, em caso contrário. Deve ser
utilizado no cálculo o valor do módulo de elasticidade
secante Ecs definido na Seção 8, sendo obrigatória a
consideração do efeito da fluência.

O texto supracitado infere sobre a mudança de comportamento que


ocorre quando a intensidade das cargas aplicadas às placas faz com
que a mesma deixe o estádio I e começe a trabalhar no estádio II.
Recordando: O estádio I é aquele em que o material ainda não sofreu
fissuração. O estádio II é o começo das fissurações no concreto armado.
O valor do momento fletor limite do estádio I, ou seja, o máximo momento
fletor em que a placa poderá sofrer, sem que fissure deve ser determinado
da seguinte maneira:
UNIUBE 63

sendo

onde:

= coeficiente que correlaciona a resistência à tração na flexão com a


resistência à tração direta;
= resistência à tração direta do concreto, conforme item 8.2.5 da
ABNT_NBR_6118/201, com o quantil apropriado a cada verificação
particular. Para determinação do momento de fissuração, deve ser usado
o fctk,inf no estado-limite de formação de fissuras e o fct,m no estado-
limite de deformação excessiva; Neste caso foi usado um quantil menor
que 50% - Fct,m.
= distância do centro de gravidade da seção à fibra mais tracionada.
= momento de inércia da seção bruta de concreto, calcula-se:

Também, de acordo com a norma, para concretos com classe de


resistência até 55 Mpa:

O momento fletor a ser comparado com o momento de fissuração é o


mometo fletor advindo da combinação rara de esforços. Ou seja, ações
permanentes e ações variáveis (acidentais).
64 UNIUBE

A partir do cálculo do momento de fissuração, existem duas


possibilidades:

1ª O momento fletor atuante ser menor que o momento de fissuração:

Neste caso, toma-se, para cálculo da flecha, o valor do momento de


inércia da seção bruta de concreto .

2ª O momento fletor atuante é maior que o momento de fissuração:

Neste caso, toma-se para cálculo da flecha o valor do momento de inércia


equivalente, calculado da seguinte maneira:

em que,

= momento de fissuração do elemento estrutural, cujo valor deve ser


reduzido à metade no caso de utilização de barras lisas;

= momento fletor na seção crítica do vão considerado, ou seja, o


momento máximo no vão para vigas biapoiadas ou contínuas e momento
no apoio para balanços, para a combinação de ações consideradas
nessa avaliação;

= módulo de elasticidade secante do concreto.

Calcula-se o módulo de elasticidade secante do concreto deste modo


(para concretos até 55 Mpa):

, sendo:
UNIUBE 65

Obs. A favor da segurança, pode-se tomar o valor de (Concreto


de 20 Mpa).

Para calcular o momento de inércia no estádio 2 ( ), é necessário


conhecer a posição da linha neutra ( ), que por dedução pode ser
calculada pela seguinte expressão:

E, finalmente, pela Teoria dos eixos paralelos:

2.3.1.1 Flecha imediata para lajes armadas em uma direção

Para lajes armadas em uma direção, a análise elástica permite-nos o


cálculo dos deslocamentos verticais através das seguintes fórmulas:

a) Lajes biapoiadas:

b) Lajes engaste/apoio:
66 UNIUBE

c) Lajes engaste/engaste:

d) Lajes em balanço:

em que,

= flecha imediata;

= valor do carregamento na laje considerando a combinação quase


permanente;

= menor vão;

= módulo de elasticidade secante do concreto.

2.3.1.2 Flecha imediata para lajes armadas em duas direções

Para lajes armadas em duas direções, tal como o descrevemos acima,


podemos calculá-las com o auxílio de tabelas em detrimento da equação
da linha elástica em função de cada quinhão de carga. A fórmula para
utilização das tabelas é:

em que,

= flecha imediata;
UNIUBE 67

= valor do carregamento na laje considerando a combinação quase


permanente = ;

= menor vão;

= largura unitária da laje;

= coeficiente tabelado em função de λ.

= módulo de elasticidade secante do concreto.

2.3.2 Flecha diferida no tempo

Leva-se, para o cálculo deste incremento no deslocamento, a fluência


do concreto.

com

Para cálculo do coeficiente em função do tempo, considerando o efeito


da fluência no tempo infinito e a sobrecarga aplicada após 1 mês de
concretagem: , a NBR 6118/2014
dispõe da seguinte Tabela 3:

Tabela 3: Coeficiente em função do tempo

Fonte: ABNT_NBR 6118/2014, p. 127.


68 UNIUBE

Como em lajes não há armadura comprimida , então a flecha diferida


fica como um coeficiente de majoração da flecha imediata, resultando
na flecha total:

Ao final dos cálculos, comparam-se os valores obtidos com os permitidos


pela mesma norma (Tabela 4):

Tabela 4: Limitação do deslocamento vertical

Fonte: ABNT_NBR 6118(2014, p.77).

2.4 Conclusão

Após a leitura deste capítulo, você já consegue compreender as


equações que correlacionam os esforços e discernir quais solicitações
serão descarregadas na área de concreto e na área de aço. Deste modo,
é possível dimensionar as lajes de concreto armado, bem como verificar
seu funcionamento futuro através da previsão dos deslocamentos
diferidos ao longo do tempo de uso.

Resumo
Neste segundo capítulo, continuamos o nosso estudo referente ao
dimensionamento de lajes de concreto armado, sendo possível destacar:
UNIUBE 69

• dimensionamentos das armaduras;


• dimensionamento da armadura transversal;
• flecha.

Referências
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento. In: ______NBR 6118. Rio de Janeiro, ABNT, 2014.

BASTOS, P. Lajes de Concreto- Notas de aula, Bauru, 2015, Disponível em:


<wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em: 02/08/2017.

LEONHARDT, F. ; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Princípios básicos


do dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982.

LEONHARDT, F. ; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Casos especiais de


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 2. Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982, 305p.

PFEIL, W. Concreto armado, v. 1/2/3, 5a ed., Rio de Janeiro, Ed. Livros Técnicos e
Científicos, 1989.

PINHEIRO, L. Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios- v.l, São Carlos,


2007. Disponível: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago. 2017.

SANTOS, L.M. Cálculo de Concreto Armado, v.l, São Paulo: Ed. LMS, 1983, 541p.
Capítulo Lajes maciças –
3 exemplo prático de
dimensionamento

Introdução
Agora que todos os aspectos que envolvem o dimensionamento
de lajes maciças foi abordado, podemos, de maneira prática, fazer
a leitura de um croqui e, a partir deste, aplicar os conhecimentos
anteriormente adquiridos.

Objetivos
Ao final dos estudos propostos neste capítulo, esperamos que
você seja capaz de:

• explicar os possíveis domínios de cálculo das lajes maciças;


• calcular as armaduras em função dos momentos fletores
compatibilizados;
• detalhar em forma, as armaduras que compõem as lajes;
• calcular as deflexões ocorridas, imediatas e diferidas.

Esquema
3.1 Exemplo prático de dimensionamento
3.2 Conclusão
72 UNIUBE

3.1 Exemplo prático de dimensionamento

Para tentar resumir tudo que foi explicado nos capítulos, 1 e 2, faremos
o dimensionamento das lajes a seguir:

Figura 1: Projeto arquitetônico de uma sala comercial.


UNIUBE 73

Figura 2: Planta de fôrma das lajes com a parede em desaprumo sobreposta.


74 UNIUBE

Figura 3: Vinculações determinadas através da continuidade.

O seu dimensionamento passa pelas seguintes etapas/rotinas.

1ª Determinação do tipo da laje

Para determinar o tipo de laje, observaremos nas tabelas 1 e 2, se ela


é armada em uma ou duas direções. Caso seja do segundo tipo, qual o
tipo de laje em que a mesma se encaixa, segundo cada teoria?

Tabela 1: Classificação segundo BARES.


UNIUBE 75

Tabela 2: Classificação segundo MARCUS

2ª Pré-dimensionamento – Cálculo da altura útil

O mesmo será feito conforme apresentado no item 1.4 do Cap.1


deste livro. E se os valores forem menores que os mínimos admitidos
(h), serão tomados os mínimos admitidos pela regulamentação
normativa. O cobrimento utilizado é de 2,0 cm e o (
).

Obs: A laje 2, por opção do autor, terá a espessura final ( igual a 10 cm.

Tabela 3: Cálculo da altura útil


76 UNIUBE

3º Cálculo das cargas atuantes na laje

A edificação cujas lajes serão calculadas são para escritório e, segundo


a ABNT_NBR 6120/1980, a carga de utilização para este fim é de 2 kN/
m². Será previsto um contrapiso de 2 cm, peso específico de 21 kN/
m³ (argamassa de cimento e areia), reboco na parte inferior de 1,5 cm,
peso específico de 19 kN/m³ (argamassa de cal, areia e cimento) e por
fim piso de lajota cerâmica que possui peso específico de 18 kN/m³. Nas
lajes em balanço, utiliza-se também uma carga concentrada na ponta
do balanço de 2 kN (Vide item 2.2.1.5 da NBR 6120/1980). Sobre a laje
02, teremos a carga de uma parede que não estará sobre vigas. O seu
pé direito é igual as demais paredes: 2,80 m. A espessura da mesma é
de 15 cm e o peso específico do conjunto (blocos cerâmicos + reboco +
pintura) será de 16 kN/m³.

Demonstração de cálculo do carregamento da laje 02:

2 kN/m²
UNIUBE 77

Tabela 4: Cálculo das cargas atuantes nas lajes

4º Determinação das reações de apoio

Estas serão feitas simplificadamente através das tabelas mencionadas


no Cap.1, itens 1.5.1 e 1.5.2 deste livro:

Tabela 5: Determinação das reações de apoio

5º Determinação do momento fletor atuante de acordo com o vão


teórico, a vinculação e o carregamento:

As lajes armadas em uma direção foram calculadas como vigas com


largura de 1 metro, como segue:

Laje 01:
78 UNIUBE

Laje 03:

Laje 04:

Laje 07:

Para as demais lajes, , serão utilizadas as


tabelas de BARÉS e MARCUS e depois tomada a pior situação para
dimensionamento e verificação das flechas.

Obs: A laje 5 normalmente seria considerada como engastada na laje 4


e na laje 6. Ocorre que, se isso fosse feito, o valor do momento fletor a
se compatibilizar com relação à laje 4, seria maior que o dobro do outro,
portanto consideramos a mesma simplesmente apoiada na laje 4 que
manteve-se engastada na laje 5.

Para melhor entendimento, demonstraremos como seria se ambas


fossem engastadas:

BARES: Laje 05 – Tipo 3, λ =1,13.


UNIUBE 79

Da Tabela:

Então:

Os valores finais bem como suas vinculações consideradas seguem no


quadro resumo:

BARÉS:

Tabela 6: Quadro resumo (BARÉS)

MARCUS:

Tabela 7: Quadro resumo, MARCUS


80 UNIUBE

6º Compatibilização dos momentos fletores – apenas para lajes que


tenham continuidade

É possível notar que, em qualquer combinação, os valores obtidos


através da Teoria das Placas de Lagrange, simplificadamente dispostos
em forma tabela pelos coeficientes e , simplesmente
denotado como Processo de BARÉS, adaptado por Pinheiro ( 2007), são
mais conservadores e resultam em momentos com maiores intensidades,
embora a diferença seja pequena. Na opinião do autor, estas diferenças
são sucumbidas pelos coeficientes de segurança aplicados, bem como
nos valores dos momentos mínimos e áreas de aço mínimas.

Na compatibilização dos momentos fletores, seguindo o propósito


pedagógico a que este material se dispõe, utilizaremos os valores de
BARÉS. Nada impede que o aluno e o profissional optem por um método
em detrimento de outro.

Momentos fletores negativos:

Momentos fletores positivos:


UNIUBE 81

Momentos fletores negativos:

Momentos fletores positivos:

Tabela 8: Momentos fletores compatibilizados

Fonte: Barés (apud Pinheiros, 2007).

7º Cálculo da área de aço em função dos momentos fletores atuantes

Laje 01:
82 UNIUBE

Laje 02:

Para “x”.

Para “y”.

Laje 03:
UNIUBE 83

Não há citação de armadura construtiva (distribuição nas lajes em


balanço). Porém, para servir como espaçador da armadura principal,
iremos adotar.

Laje 04:
84 UNIUBE

Laje 05:

Para “x”.

Para “y”.
UNIUBE 85

Laje 06:

Para “x”.

Para “y”.
86 UNIUBE

Laje 07:

8º Verificação da dispensa de armadura transversal – estribos

Para que a laje não necessite de estribos:

A laje que menos resiste ao esforço cortante é a que possui a menor


altura, 8 cm:

/m

A maior solicitação ao esforço cortante refere-se à reação de apoio na


laje 7:

Portanto nenhuma laje necessita de estribos.


UNIUBE 87

9º Calculo da deflexão máxima (flecha máxima) conforme E.L.S.

Para o cálculo das flechas, a combinação exigida por norma é a


combinação quase permanente com (escritórios e locais
públicos).

, deste modo, para a laje 02, teremos:

Da tabela: tipo 2b, λ =1,33, tem-se

Flecha imediata:

Flecha diferida:
88 UNIUBE

Flecha Limite:

Laje OK!

Para a laje 07, como é armada em uma direção, calcula-se como uma
viga com largura de 1m.

Calcula-se a nova altura da linha neutra no domínio 2:


UNIUBE 89

Obs. A raíz negativa é descartada.

Novo momento de inércia com a seção fissurada:

De acordo com a fórmula apresentada para as flechas em lajes em


balanço:

A flecha na ponta do balanço ficou acima do máximo permitido


. Uma das soluções possíveis é aumentar a seção
90 UNIUBE

de concreto (espessura) ou dar-lhe contraflecha.

O assunto contraflecha será abordado no próximo capítulo, em vigas.

Segundo o exposto em 2.3 do Cap.2 deste livro, o valor das flechas


imediatas e diferidas para as lajes desta edificação será:

Tabela 9: Flechas

3.2 Conclusão

Este terceiro capítulo serviu para corroborar os conceitos apresentados


nos dois primeiros capítulos. Foi possível observar que, apesar de serem
um pouco extensos, os cálculos são rotineiros e, com estudo e prática,
serão de grande valia ao profissional que optar por seguir este ramo do
conhecimento.

Resumo
Neste terceiro capítulo, encerramos o nosso estudo referente ao
dimensionamento de lajes de concreto armado, sendo possível destacar:
• exemplo prático de dimensionamento ao Estado Limite Último ELU.
• exemplo prático de dimensionamento ao Estado Limite de Serviço ELS.
UNIUBE 91

Referências
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento. In:______NBR 6118. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. Cargas para o cálculo de


estruturas de edificações. NBR 6120. Rio de Janeiro: ABNT, nov. 1980.

BARES, R. Tablas para el calculo de placas y vigas pared. Barcelona. Gustavo


Gili, 1972.

BASTOS, P. Lajes de Concreto- Notas de aula. Bauru, 2015. Disponível em: <wwwp.
feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em: 02 ago. 2017.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Princípios básicos do


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro: Ed.
Interciência, 1982.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Casos especiais de


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 2. Rio de Janeiro: Ed.
Interciência, 1982.

MARCUS. H. Die Theorie elasticher Gewebe und ihre Anwendung auf die
Berechning biesamer Platten. Berlim, 1932.

PFEIL, W. Concreto armado, v. 1/2/3, 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Livros Técnicos e
Científicos, 1989.

PINHEIRO, L. Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios. v.l, São Carlos,


2007, Disponível: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago. 2017.

SANTOS, L.M. Cálculo de Concreto Armado, v.l, São Paulo: Ed. LMS, 1983.
Capítulo Vigas – Flexão
4 Simples na Ruína

Introdução
Vigas são os elementos, normalmente dispostos na horizontal, que
recebem as cargas das lajes e paredes e as transferem aos pilares.
São os elementos mais comuns na rotina de dimensionamento de
estruturas de concreto armado. São sucetíveis a flexão, torção,
cisalhamento além da combinação destes efeitos com a tração e
a compressão.

Porém, o preponderante a se dimensionar são os efeitos de flexão


e cisalhamento. Os demais efeitos são específicos e serão, dentro
desta obra, devidamente contemplados.

Neste capítulo, estudaremos as vigas prismáticas de seção


retangular subemtidas a flexão pura. As deflexões sofridas diante
das admitidas, bem como todas as recomendações que envolvem
o projeto de vigas de concreto armado também serão abordados.

Objetivos
Ao final dos estudos propostos neste capítulo, esperamos que
você seja capaz de:
• aplicar vinculações corretas ao lançamento estrutural no que
tange às vigas de concreto armado;
94 UNIUBE

• estimar a altura da viga antes da confirmação de cálculo.


Pré-dimensionamento;
• determinar as ações e os carregamentos a que a viga será
suscetível;
• compreender os possíveis domínios de cálculo das vigas de
seção retangular;
• calcular as armaduras em função dos momentos fletores
encontrados;
• detalhar em fôrma, as armaduras que compõem as vigas;
• calcular as deflexões ocorridas, imediatas e diferidas.

Esquema
4.1 Definição
4.2 Classificação das vigas
4.3 Modelo de vinculação permitido para vigas contínuas
4.3.1 Vão efetivo
4.4 Estimativa de altura
4.5 Ações a serem consideradas
4.5.1 Carregamento proveniente do peso próprio
4.5.2 Carregamento proveniente de paredes
4.5.3 Carregamento proveniente das lajes
4.5.4 Carregamento proveniente de outras vigas
4.6 Comportamento resistente das vigas sob flexão simples
4.7 Deformação nos materiais que compõem a viga de concreto
armado
4.7.1 Altura da linha neutra
4.7.2 Domínios de deformaçao em função da posição da linha
neutra
4.8 Equações de Dimensionamento
UNIUBE 95

4.8.1 Cálculo de altura útil e da área de aço em função dos


coeficientes Kc e Ks
4.8.2 Área de aço mínima na flexão
4.8.3 Área de aço máxima na flexão
4.8.4 Armadura de pele
4.8.5 Disposições construtivas
4.9 Dimensionamento: Flecha
4.9.1 Flecha imediata segundo a NBR 6118/2014
4.9.2 Flecha imediata para vigas de concreto armado
4.9.3 Flecha diferida no tempo
4.10 Contraflecha
4.11 Exemplos de dimensionamento e verificação
4.12 Conclusão

4.1 Definição

A flexão simples é aquela considerada no plano longitudinal ao elemento


fletido. Ocorre quando não há presença preponderante de esforço
normal. Parece óbvio que elementos como vigas sofram simultaneamente
diversas ações, tais como momentos fletores e esforços cortantes.

Para finalidade de dimensionamento, separamos os esforços em


momentos distintos. É como se a viga somente fletisse ou somente
cisalhasse. Esta consideração, para fim de cálculo é permitida pela NBR
6118/2014. Ao fim do dimensionamento, flexão, cisalhamento e torção,
o elemento estará apto a destinar-se ao seu objetivo-fim.

4.2 Classificação das vigas

Tal como as lajes, as vigas são elementos em que a flexão é


preponderante. Podem ser biapoiadas ou contínuas. As primeiras
96 UNIUBE

terão preponderância de momentos fletores positivos, enquanto as


segundas terão momentos negativos com maior relevância. O método
de determinação dos momentos fletores solicitantes ( ) advém
das diversas teorias estudadas em análise das estruturas. Apenas a
determinação dos momentos negativos externos, em função da ligação
com os pilares externos, serão abordados neste capítulo.

4.3 Modelo de vinculação permitido para vigas contínuas

A NBR 6118/2014, item 14.6.7, permite que sejam considerados


engastamentos elásticos nas extremidades das vigas onde as mesmas
vinculam-se aos pilares. Este modelo é utilizado quando não há o cálculo
exato da influência da ligação viga-pilar.

Veja a Figura 1.

Figura 1: Engastamento elástico nos pilares de extremidade.


Fonte: Fusco (2005, p.8).

Este cálculo exato parte da consideração dos elementos constituintes da


estrutura como pórtico. Ocorre que os momentos fletores se propagam
em função da rigidez dos elementos (EI). Normalmente, os pilares
possuem rigidez mais alta do que as vigas, podendo, em função de
um possível refinamento dos cálculos, considerar a estrutura como um
pórtico plano, no sentido da análise, caso as dimensões dos elementos
sejam convenientes com as dimensões reais. De todo modo, a análise
em separado (vigas e pilares) permite-nos atingimento de valores
bem próximos (e até mais conservadores) aos valores obtidos quando
considera-se o elemento todo como um pórtico plano. Este modelo
de engastamento elástico, em função da ligação viga-pilar, pode ser
determinado utilizando o modelo clássico de viga contínua, simplesmente
UNIUBE 97

apoiada nos pilares, para o estudo das cargas verticais, observando-se


a necessidade das seguintes correções adicionais:

a) não devem ser considerados momentos fletores positivos menores


que os que se obteriam se houvesse engastamento perfeito da viga
nos apoios internos. Normalmente, os momentos fletores positivos são
maiores do que os que se obteriam caso considerássemos perfeitamente
engastados.

b) nos pilares externos, deve-se calcular um momento fletor negativo em


função da rigidez dos elementos ligados. Para o autor, esta consideração
só tem sentido quando se tratar de edificações de mais de um andar, ou
seja, sempre que houver continuidade do lance dos pilares acima da viga
calculada. Neste caso, o momento fletor atuante na extremidade da viga
pode ser calculado deste modo:

onde:

Calculando como:
98 UNIUBE

em que,

Figura 2: Aproximação de apoios extremos.


Fonte: NBR 6118/2014 (ASSOCIAÇÃO, 2014, p.93).

c) se a largura do pilar interno, no plano considerado (sentido do eixo


da viga), for maior ou igual a um quarto do vão interno vencido pela
viga, deve-se considerar o maior momento fletor encontrado, supondo
a mesma como contínua ou como se fosse perfeitamente engastada ao
pilar em questão.
UNIUBE 99

Figura 3: Pilares com .


Fonte: Bastos (2015.p. 7).

4.3.1 Vão efetivo

Para cálculo do vão efetivo, ou seja, do comprimento efetivo na direção


considerada, usa-se o comprimento de centro geométrico de aplicação
de apoio da viga no pilar. Para tanto, deve-se tomar o comprimento da
viga neste sentido acrescido da metade da largura do pilar. Este modelo
(NBR 6118/2014, item 14.6.2.4) embasa-se na prática de utilização de
vigas prismáticas retangulares – paralelepípedos retângulos – em que
o centro geométrico da mesma em qualquer face será a exata metade
desta face.

Figura 4: Vão efetivo.


100 UNIUBE

Como é possível observar na Figura 4, o apoio da viga se dá efetivamente


no centro de gravidade dos pilares que as sustentam.
Este comprimento só não será utilizado caso a seguinte relação seja
maior:

Onde: = Vão teórico para determinação dos esforços solicitantes.

em que,

É fato que antes mesmo de dimensionar as vigas, temos que determinar


uma altura possível para que possamos calcular seu vão efetivo, bem
como seu peso próprio para composição das ações.

4.4 Estimativa de altura

É possível perceber que, em alguns momentos, antes mesmo do


dimensionamento da viga à flexão, já necessitamos da altura da mesma
para tomada de algumas decisões. Este fato pode ser resolvido a partir
de uma estimativa para a altura útil da viga. Um bom processo parte do
pressuposto que a viga, para trabalhar no domínio 3, e consequentemente
ter uma boa relação entre a altura e a área de aço (dimensionamento
econômico), normalmente as mesmas possuem cerca de 8 % do vão que
a mesma tem que vencer.
UNIUBE 101

Este critério é pessoal e a metodologia para tal estimativa pode partir


da inversão da rotina de cálculo, ou seja, partir da verificação da flecha,
isolando, no momento de inércia, a altura final. Porém, mesmo deste
modo, o carregamento devido ao peso próprio depende da altura final
( ) que deve ser estimada pela seguinte relação:

Para vigas contínuas:

sendo:

Figura 5: Estimativa de altura da viga contínua.

Para vigas biapoiadas:

sendo:

Figura 6: Estimativa de altura da viga bi apoiada.


102 UNIUBE

4.5 Ações a serem consideradas

De maneira análoga ao já estudado em lajes maciças de concreto


armado, as ações são as cargas que a laje deve resistir, atendendo ao
– E.L.U – Estado de Limite Último à ruptura e ao – E.L.S – Estado de
Limite de Serviço, conforme disposto na NBR 6118/2014. O primeiro trata
da verificação quanto à ruptura/colapso e o último quanto à sensibilidade
visual, deflexão.

Estes carregamentos provêm de várias ações distintas: carga das lajes,


de paredes, peso próprio e ações excepcionais (como vigas apoiadas
em vigas, vigas de transição, etc.).

Os valores de cada ação podem ser consultados na NBR 6120/1980 –


Cargas para o cálculo de estruturas de edificações.

Novamente é importante ressaltar a importância do conhecimento, por


parte do calculista, das densidades dos materiais diretamente apoiados
nas vigas, bem como as reações de apoio provocadas pela descarga da
laje, também na viga.

4.5.1 Carregamento proveniente do peso próprio

O peso próprio da estrutura de concreto armado pode ser calculado


em função da sua altura e largura. Através do item 3, tabela 1 da NBR
6118/1980 temos que o concreto armado tem seu peso próprio na ordem
de 25 kN/m³.

,
em que,
UNIUBE 103

4.5.2 Carregamento proveniente de paredes

É muito comum haver paredes, sobre as vigas, com diferentes alturas


(pé-direito). Deste modo, o carregamento aplicado à viga, em função da
parede pode ser calculado considerando a espessura, altura e tipo de
material empregado na parede.

Obs. É facultado, a cada calculista, no momento do lançamento estrutural,


descontar das cargas nas paredes as aberturas verticais (portas, janelas,
etc.). A favor da segurança e para simplificar os cálculos não faremos
este desconto.

em que,

4.5.3 Carregamento proveniente das lajes

Quando as vigas suportarem lajes, o carregamento linear imposto por


esta relação deve ser observado com muita acurácia. Quanto maiores
104 UNIUBE

os vãos que a laje vence, maior será sua importância relativa na


consideração dos carregamentos impostos à viga de suporte. No capítulo
anterior, demonstramos como calcular este carregamento.

4.5.4 Carregamento proveniente de outras vigas

Quando uma viga se apoia em outra, o carregamento que se deve


considerar será uma carga pontual (concentrada) no ponto de apoio/
aplicação da viga. Seu valor é igual à reação de apoio daquela que está
apoiada. É de suma importância conhecer qual viga apoia-se e qual viga
serve de apoio. A falha nesta analogia pode levar a estrutura à ruptura.
Em suma, a viga que se apoia é a que estiver sendo encerrada. A viga
que serve de apoio tem sua continuidade além do ponto de encontro
entre elas. Porém nem sempre a análise resume-se deste modo.
Existem casos, não muito raros, de cruzamentos entre vigas, ambas com
continuidade. Também não é raro considerarmos uma viga em balanço
apoiar-se em outra também terminada em balanço. Para garantir que a
condição correta, de apoiada e de apoio, bem como para que a carga
da viga apoiada descarregue na seção superior (seção normalmente
comprimida) da viga que serve de apoio, é importante dispor de
armaduras de suspensão.

4.6 Comportamento resistente das vigas sob flexão simples

A maneira mais simples de se compreender o motivo pelo qual as


vigas são dimensionadas, segundo o E.L.S, Estado Limite de Serviço
e ao E.L.U, estado Limite Último, no estádio II, nos domínios 3 e 4, é
compreender a maneira que a mesma se comporta quando submetida a
alguns tipos de carregamentos.

Considerando uma viga biapoiada, submetida a dois carregamentos


pontuais, , de igual intensidade, as tensões provocadas por este
carregamento têm trajetórias longitudinais à viga e à medida que chegam
UNIUBE 105

próximas dos apoios, inclinam-se devido à influência da maior zona de


esforço cortante.

Enquanto a resistência do concreto à tração ( ), tração que ocorre


no bordo inferior, em vigas biapoiadas, provocada pela flexão sofrida pela
peça, for maior que esta última, a viga encontrar-se-á sem fissuras. Este
nível de carregamento, em que não há fissuras, é chamado de ESTÁDIO
I. Portanto conclui-se que o estádio I é o estádio em que a resistência do
concreto à tração ( ) é maior do que as tensões provocadas pelo
carregamento.

Onde os momentos fletores têm maior intensidade – neste caso no centro


da peça – a viga encontra-se fissurada, deixando o esforço de contenção
da tração para o aço ali disposto. Diz-se que, no ESTÁDIO II, a viga
encontra-se fissurada e a resistência do concreto à tração já foi vencida.

Figura 7: Comportamento resistente de uma viga bi apoiada.


Fonte: Leonhardt e Mönnig (1982 p.42).

Aumentando a intensidade dos carregamentos , a viga sairá por


completo do estádio I e passará a trabalhar solidária com a armadura de
aço para combater a tração decorrente da flexão.
106 UNIUBE

4.7 Deformação nos materiais que compõem a viga de


concreto armado

Em uma viga de concreto armado, no ato da concepção, quem determina


a deformação nos materiais que a compõem, concreto e aço, sob
algumas hipóteses, somos nós no ato do dimensionamento.

Ao contrário de materiais isótopos -em que a linha neutra se encontra


sempre ao meio da peça e em que a lei de Hooke tem total validade- nas
vigas de concreto armado, a determinação da altura da linha neutra, mais
especificamente da profundidade da linha neutra (pois conta-se do bordo
comprimido para o tracionado) dependerá dos domínios de deformação,
que por sua vez, dependem do tipo de resultado que queiramos atingir:
peças mais esbeltas e mais armadas ou peças menos esbeltas e menos
armadas. A economia de materiais se dá na melhor interação entre
concreto e aço.

4.7.1 Altura da linha neutra

A profundidade da linha neutra é o fator preponderante para determinação


das deformações nos materiais que compõem a viga, pois é ela que
determina os domínios possíveis de deformação.

Ela, a linha neutra, representa a divisão do bordo comprimido para o


bordo tracionado. Para vigas biapoiadas, em que surgem apenas
momentos positivos, a profundidade separará a seção de concreto que
será comprimido, pois é a qualidade que se busca nele, da seção de
concreto que será desprezada, para fim de dimensionamento, devido a
sua baixa capacidade de suportar esforços de tração, para solidarizar-se
ás armaduras de aço.

Neste caso a linha neutra será posicionada a partir do bordo superior.


Para vigas contínuas, que possuem momentos positivos e negativos,
UNIUBE 107

a profundidade da linha neutra partirá sempre do bordo comprimido,


independente da inflexão existente (inversão de bordos fletidos). É
possível notar que, sobre os apoios, o momento fletor inverte seu gráfico,
pois o bordo que outrora era comprimido, neste ponto, será tracionado.
A NBR 6118/2014, em seu item 14.6.4.3, prescreve a profundidade
máxima da linha neutra em Este limite visa garantir maior
ductilidade, capacidade de rotação (torção) à peça armada e está
muito próximo, segundo o entendimento do autor, da profundidade
para dimensionamento mais econômico. A posição da linha neutra é
determinada por semelhança de triângulos em função da Figura 7
anteriormente mostrada, pela expressão:

em que,

4.7.2 Domínios de deformação em função da posição da linha neutra

Para flexão pura, a posição da linha neutra deve estar contida dentro da
seção de concreto. O que implica a mesma se posicionar entre 0 e d.
Nos domínios 1, 4a e 5 (Figura 8) a linha neutra está contida fora destes
limites como se vê agora.

4.7.2.1 Domínio 1

Neste domínio, a altura da linha neutra encontra-se fora da seção


transversal. Isto implica um comportamento de compressão pura, sem
tração em função da flexão. A ruptura ocorre pela ruína tácita do concreto
à compressão. Neste domínio, não há aproveitamento do aço.
108 UNIUBE

Figura 8: Deformação sofrida pela seção transversal de concreto armado no estado


limite último.
Fonte: NBR 6118/2014, p. 122).

4.7.2.2 Domínio 2

No domínio 2, o aço está deformado ao máximo permitido 10%, ou


1 mm/m (um milímetro por metro) enquanto o concreto varia de zero a
3,5%. Conclui-se que não há pleno aproveitamento da seção de concreto
(exceto no limiar entre os domínios 2 e 3), enquanto o aço é aproveitado
ao máximo, . Com relação à ruptura, a mesma é dúctil, portanto
ocorre com aviso prévio. Haverá fissuras em demasia na viga avisando
do problema.

A profundidade da linha neutra varia de 0 até 0,259*d, pois:

4.7.2.3 Domínio 3

No domínio 3, o concreto está deformado ao máximo permitido 3,5%,


ou 0,35 mm/m (trinta e cinco décimos de milímetro por metro) enquanto
UNIUBE 109

o aço varia de 2,07% a 10 %. O melhor aproveitamento da


relação concreto/aço se dá neste domínio. A ruptura também é dúctil,
vide domínio 2. A altura da linha neutra varia de até
.

4.7.2.4 Domínio 4

Neste domínio, o concreto também está deformado ao máximo, porém


o aço está deformado entre 2,07% e zero. O aço está mal aproveitado
e a ruptura se dá pelo colapso da seção de concreto comprimido,
tacitamente, tal como o domínio 1, sem avisos prévios.

Conclusão: Dimensiona-se vigas nos domínios 2 e 3. A altura da linha


neutra que tem o melhor aproveitamento dos materiais é o limite entre
estes dois domínios, pois 10 % e 3,5 %. Porém este melhor
aproveitamento implica alturas maiores para as vigas em detrimento
de menores áreas de aço (que é bem mais caro que o concreto). Mas
esteticamente é um empecilho além de aumentar o peso próprio da
estrutura. Para vigas com menores alturas e ainda dentro de uma relação
econômica, o ideal é que sejam /dimensionadas no limite imposto pela
NBR 6118/2014 de .

4.8 Equações de dimensionamento

Tal como apresentado no capítulo de lajes maciças, as equações


para determinação da altura da viga e da área de concreto seguem a
relação do equilíbrio do momento fletor solicitante , que provoca
110 UNIUBE

um momento interno resistente de igual intensidade, , que pode ser


escrito em função do binário de forças, tração e compressão, que atuam
a uma altura d – 0,4 x, como segue, na Figura 9.

Figura 9: Tensões em equilíbrio na seção transversal.


Fonte: Bastos (2015, p.14).

A deformação no concreto, em função da tensão de compressão, forma


um diagrama parábola-retângulo que, por simplicidade, admite-se área
igual à base (bw) vezes a altura que corresponde, em seção retangular,
a 80 % da profundidade da linha neutra (x). A tensão de compressão
admitida para o concreto, em função da perda de água e da fluência, será
de 85 % do valor de cálculo Fcd. Valores válidos para o grupo 1, classe
de concreto até 55 Mpa.
UNIUBE 111

Equilibrando a seção:

A resultante no concreto “Rc”, na área de aço tracionada “Rs” e na


área de aço comprimida “R’s”, na iminência do dimensionamento na
ruptura, considerando o diagrama parábola-retângulo como sendo
aproximadamente 80 % da área de um retângulo de altura “x” e o
aproveitamento de 85 % da resistência de cálculo do concreto “Fcd”, é
calculada:

Sendo a altura da linha neutra posicionada a partir do bordo superior e


em função da altura “d”, escrevemos

Substituindo “x” por , teremos:


112 UNIUBE

No diagrama retangular das tensões de compressão no concreto:

Substituindo na equação “ ,
temos a equação para armadura de compressão:

Para armadura simples (somente de tração, R’s = 0), temos:

E para equilíbrio:

Para calcular a altura útil, em função da posição da linha neutra, teremos:

em que,
UNIUBE 113

Isolando a área de aço:

Finalmente:

4.8.1 Cálculo da altura útil e da área de aço em função dos


coeficientes Kc e Ks

Para facilitar ainda mais os cálculos das áreas de aço em função da


altura da linha neutra, existe uma tabela criada por Pinheiro (2007),
que correlaciona à resistência do concreto a compressão Fck com a
resistência do aço à tração Fyk, condicionando os cálculos a simples
consultas a coeficientes tabelados: Kc e Ks.

O coeficiente que correlaciona a altura útil do elemento flexionado com


a base, o Fck e a altura da linha neutra pode ser deduzido desta forma:
114 UNIUBE

logo:

Então a altura útil da viga será:

Para cálculo da área de aço, de maneira análoga ao coeficiente Kc,

logo:
UNIUBE 115

4.8.2 Área de aço mínima na flexão

A NBR 6118/2014 preconiza valores mínimos para as áreas de aço à


flexão em função da classe do concreto usado. O valor do momento fletor
mínimo, ao qual a área de aço deve ser dimensionada, é calculado por:

onde:

No item 17.3.5.2.1 da ABNT_NBR 6118/2014 - Valores Limites para


armaduras longitudinais de vigas, a seguir, está listado o valor da taxa
ρmin, de acordo com a classe do concreto utilizado:
116 UNIUBE

Tabela 1: Taxas mínimas para armaduras de flexão

Fonte: NBR 6118/2014 (ASSOCIAÇÃO, 2014, p. 130).

4.8.3 Área de aço máxima na flexão

Também segundo a NBR 6118/2014, há que se respeitar uma taxa


máxima de armadura na seção transversal. Este valor pode ser
consultado no item 17.3.5.2.4, em que a mesma prega que:

onde:

Espaçamento mínimo entre armaduras longitudinais a flexão:


No item 18.3.3.2.2, da NBR 6118/2014, o espaçamento mínimo entre
duas ou mais barras, no intuito de garantir uma boa concretagem é o
maior dos três valores:

Na horizontal:
• 2 cm
• Diâmetro da barra ou feixe da luva
• 1,2 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo.
UNIUBE 117

Na vertical:
• 2 cm
• Diâmetro da barra ou feixe da luva
• 0,5 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo.

4.8.4 Armadura de pele

Nas vigas com altura maior que 60 cm (h > 60 cm), segundo a NBR
6118/2014, item 17.3.5.2.3, deve ser colocada uma armadura lateral,
chamada armadura de pele ou de costela, composta por barras de CA-50
ou CA-60, com espaçamentos iguais entre si não maiores que 20 cm e
devidamente ancoradas nos apoios, com área mínima em cada face da
seção retangular da viga, igual a:

onde:

4.8.5 Disposições construtivas

Após o cálculo da seção de concreto e da área de aço ( ), é


necessário dispor destes cálculos em forma de desenhos para que sejam
executados, fidedignamente ao que foi projetado, no canteiro de obras.
Para tanto, existem várias recomendações e disposições que devem
ser atendidas. Estas disposições passam pelo número de barras que
são levadas diretas até os apoios (2 barras em cada banzo), fatores de
decalagem de barras (interrupção das barras em determinado ponto de
cobertura ao momento fletor), comprimentos de ancoragem (comprimento
necessário às barras para que não haja escorregamento quando
118 UNIUBE

solicitadas à tração. Este comprimento geralmente é adotado em função


da dobra ou ausência dela, e pode ser adotado para ancoragem em
barras retas o comprimento de 44Ø, e para ganchos 31Ø), espaçadores,
amarração de formas etc.

Como se trata de aspectos puramente normativos, por vezes


matemáticos, não nos alongaremos com eles. Deixo a recomendação
de leitura da NBR 6118/2014 para consulta sobre estes aspectos.

4.9 Dimensionamento: flecha

A determinação da deflexão máxima sofrida por uma viga de maneira


exata é processo quase impossível, ou no mínimo inviável de se fazer
manualmente. Esta conclusão é fundamentada nos modelos matemáticos
que exprimem as flechas em função dos vínculos, que partem de vigas
isostáticas e hiperestáticas de apenas um tramo.

Ocorre que, na maioria dos casos reais, as vigas possuem continuidade


e, portanto, têm engastamento elástico sobre os pilares, não se
comportando como se fossem engastamentos perfeitos. Os momentos
positivos nas vigas contínuas assumem valores maiores que os
momentos positivos nas vigas de engastamento perfeito. A metodologia
para cálculo das deflexões em vigas contínuas é determinada através do
método dos deslocamentos, ou princípio dos trabalhos virtuais em vigas
hiperestáticas. De maneira paliativa e para ter noção dos efeitos, admite-
se a consideração das vigas contínuas, como vigas com engastamento
perfeito.

Além do problema de determinação da equação da elástica ,


em estruturas hiperestáticas (vigas contínuas), outro problema é que
o concreto não tem comportamento de material isótopo a partir do
ESTÁDIO II. Assim que abrem-se fissuras nas vigas (comportamento
UNIUBE 119

previsto e mais que esperado, pois deste modo transmite-se ao aço o


esforço de tração decorrente da flexão), a linha neutra tende a diminuir
a profundidade e determinar uma nova resistência à rotação em torno
do seu próprio eixo (Momento de Inércia). A NBR 6118/2014 trata
o dimensionamento no E.L.S – Estado de Limite de Serviço, como
“métodos de avaliação aproximados.”

No entendimento do autor, a análise computacional se faz mais eficaz,


neste caso apenas, do que a análise prescrita. Para corroborar esta tese,
faremos duas comparações:

Imagine uma viga com quatro tramos contínuos, carregamento de 10


kN/m, seção transversal não-fissurada (ESTÁDIO I) de 14 cm x 55 cm,
e módulo de elasticidade de 2500 kN/cm².

Figura 10: Flecha imediata calculada pelo software Ftool.

Para o tramo de 6 metros, segundo a consideração de tramos isolados


perfeitamente engastados, teríamos:

É necessário ressaltar que o comportamento da viga, neste exemplo,


não foi tomado devido ao ESTÁDIO II ou III que é o estádio de trabalho
da mesma em função deste carregamento. Apenas demonstramos que
os valores não são exatos.
120 UNIUBE

Ainda segundo a NBR 6118/2014, as flechas nas vigas de concreto


armado se dão em dois estágios. Veja a seguir:

4.9.1 Flecha imediata segundo a NBR 6118/2014

Segundo o item 17.3.2 (Estado-limite de deformação) da NBR 6118/2014


(p.125, a determinação da flecha se dá na seguinte maneira:
A verificação dos valores-limites estabelecidos na
Tabela 13.3 para a deformação da estrutura, mais
propriamente rotações e deslocamentos em elementos
estruturais lineares, analisados isoladamente e
submetidos à combinação de ações conforme a
Seção 11, deve ser realizada através de modelos que
considerem a rigidez efetiva das seções do elemento
estrutural, ou seja, que levem em consideração a
presença da armadura, a existência de fissuras no
concreto ao longo dessa armadura e as deformações
diferidas no tempo. A deformação real da estrutura
depende também do processo construtivo, assim
como das propriedades dos materiais (principalmente
do módulo de elasticidade e da resistência à tração)
no momento de sua efetiva solicitação. Em face da
grande variabilidade dos parâmetros citados, existe
uma grande variabilidade das deformações reais.
Não se pode esperar, portanto, grande precisão
nas previsões de deslocamentos dadas pelos
processos analíticos prescritos.

Ainda sobre a determinação destes deslocamentos verticais, o item


17.3.2.1 aponta:
O modelo de comportamento da estrutura pode admitir
o concreto e o aço como materiais de comportamento
elástico e linear, de modo que as seções ao longo
do elemento estrutural possam ter as deformações
específicas determinadas no estádio I, desde que
os esforços não superem aqueles que dão início à
fissuração, e no estádio II, em caso contrário. Deve ser
utilizado no cálculo o valor do módulo de elasticidade
secante Ecs definido na Seção 8, sendo obrigatória
a consideração do efeito da fluência. (ABNT/NBR
6118/2014, p. 125).
UNIUBE 121

O texto supracitado infere sobre a mudança de comportamento que


ocorre quando a intensidade das cargas aplicadas às vigas faz com
que a mesma deixe o ESTÁDIO I e comece a trabalhar no ESTÁDIO II.
Recordando: O ESTÁDIO I é aquele onde o material ainda não sofreu
fissuração. O ESTÁDIO II é o começo das fissurações no concreto
armado. O valor do momento fletor limite do ESTÁDIO I, ou seja, o
máximo momento fletor em que a viga de concreto armado poderá sofrer,
sem que fissure deve ser determinado da seguinte maneira:

sendo

onde:

= coeficiente que correlaciona a resistência à tração na flexão com a


resistência à tração direta;
= resistência à tração direta do concreto, conforme item 8.2.5-ABNT_
NBR 6118/2014, com o quantil apropriado a cada verificação particular.
Para determinação do momento de fissuração, deve ser usado o fctk,inf
no estado-limite de formação de fissuras e o fct,m no estado-limite de
deformação excessiva. Neste caso, foi usado um quantil menor que 50%
- Fct,m;
= distância do centro de gravidade da seção à fibra mais tracionada;
= momento de inércia da seção bruta de concreto e calcula-se:
122 UNIUBE

Também de acordo com a norma, para concretos com classe de


resistência até 55 Mpa:

A partir do cálculo do momento de fissuração, existem duas


possibilidades:

1ª O momento fletor atuante ser menor que o momento de fissuração:

Neste caso, toma-se para cálculo da flecha o valor do momento de inércia


da seção bruta de concreto .

2ª O momento fletor atuante é maior que o momento de fissuração:

Neste caso, toma-se para cálculo da flecha o valor do momento de inércia


equivalente, calculado da seguinte maneira:

em que,

= momento de fissuração do elemento estrutural, cujo valor deve ser


reduzido à metade no caso de utilização de barras lisas;
= momento fletor na seção crítica do vão considerado, ou seja, o
momento máximo no vão para vigas biapoiadas ou contínuas e momento
no apoio para balanços, para a combinação de ações considerada nessa
avaliação.
= módulo de elasticidade secante do concreto.
UNIUBE 123

Calcula-se o módulo de elasticidade secante do concreto deste modo


(para concretos até 55 Mpa):

sendo:

Obs. A favor da segurança pode-se tomar o valor de (Concreto


de 20 Mpa).

Para calcular o momento de inércia no ESTÁDIO 2 ( ), é necessário


conhecer a posição da linha neutra ( ) que, por dedução, pode ser
calculada pela seguinte expressão:

E finalmente pela teoria dos eixos paralelos:

4.9.2 Flecha imediata para vigas de concreto armado

Para lajes armadas em uma direção, a análise elástica nos permite o


cálculo dos deslocamentos verticais através das seguintes fórmulas:
124 UNIUBE

a) Vigas bi apoiadas:

b) Vigas engaste/apoio:

c) Vigas engaste/engaste:

d) Vigas em balanço:

em que,

= flecha imediata;
= valor do carregamento na viga;
= menor vão;
= módulo de elasticidade secante do concreto.

4.9.3 Flecha diferida no tempo

Leva-se, para o cálculo deste incremento no deslocamento, a fluência


do concreto:
UNIUBE 125

com

Para cálculo do coeficiente em função do tempo - considerando o efeito


da fluência no tempo infinito e a sobrecarga aplicada após 1 mês de
concretagem: , a NBR 6118/2014;
item 17.3.2.1.2 dispõe do seguinte Quadro 1:

Quadro 1: Coeficiente em função do tempo

Fonte: NBR 6118/2014- Tabela17.1

Resultando na flecha total:

Ao final dos cálculos, comparam-se os valores obtidos com os permitidos


pela mesma norma (Quadro 2):

Quadro 2: Limitação do deslocamento vertical

Fonte: NBR 6118/2014 (p. 77) Tabela 1.3. fracionada.


126 UNIUBE

4.10 Contraflecha

Utiliza-se a contraflecha nos casos em que os deslocamentos previstos


de cálculo serão maiores que o admitido . O valor da contraflecha,
ou seja, o quanto a viga será erguida além da altura plana, pode ser
calculado pela seguinte expressão:

4.11 Exemplos de dimensionamento e verificação

Para melhorar o entendimento dos conceitos abordados neste capítulo,


iremos resolver algumas solicitações práticas que envolvam os
conhecimentos adquiridos com esta leitura.

1º Exemplo:
Vamos dimensionar uma viga-baldrame, a ser executada com concreto
C-20 e aço CA-50, para suportar as seguintes ações/carregamentos:
• parede sobre a viga com pé-direito de 3,35 m, largura da parede
acabada é de 20 cm, sem aberturas verticais a considerar;
• peso próprio: para cômputo do peso próprio, admitiremos a seção da
viga como a largura da parede acabada e altura referente ao menor
valor inteiro, múltiplo de 5, mais próximo de um décimo do vão maior
(situação para vigas biapoiadas).

1º Estima-se a altura final da viga:

2º Calcula-se o carregamento da viga:

3º Calcula-se os momentos fletores (Figura 11):


UNIUBE 127

Figura 11: Carregamento e diagrama de momento fletor.


Fonte: Produzido pelo autor, no Ftool.

4º Verifica-se a altura da viga atende ao domínio de cálculo máximo


admitido pela NBR 6118/2014 .

Utilizando a equação fundamental dos momentos fletores internos:


128 UNIUBE

Adotando o valor de e , teremos:

A partir do valor da altura útil “d”, percebemos que temos a liberdade de


trabalhar com alturas finais até o limite da altura útil “d” = 37 cm (pois esta
compõe o peso próprio constante na determinação do momento fletor). O
que determina a opção dentro deste limite são algumas variáveis, como:
• altura das estimadas das demais vigas, caso as mesmas sejam
aparentes;
• valor do aço frente ao valor do concreto (quanto menor a altura da
viga, maior será a área de aço);
• a estimativa de que a flecha final atinja limites maiores do que os
aceitáveis. O que pode levar à necessidade de contraflechas ou
redimensionamento;
• imposições arquitetônicas variadas.

Para este exemplo, faremos o dimensionamento segundo as duas


alturas: a estimada e a calculada com profundidade de linha neutra em
0,45 d.

Áreas de aço mínimas:

• Para seção 20/40


UNIUBE 129

Para calcular a área de aço para o momento mínimo, iremos


primeiramente encontrar a altura da linha neutra quando a seção é
submetida a um momento fletor igual

Obs: A raiz que se encontra fora da seção transversal é desprezada.

Comparamos com o mínimo absoluto admitido nas seções fletidas:

Portanto, usa-se como valor mínimo a área de 1,2 cm²

Para cálculo da área de aço necessária, conforme o diagrama, a rotina é


semelhante à apresentada para cálculo do momento mínimo:
130 UNIUBE

Agora escolheremos as bitolas das barras para cobrir esta área de aço:

Então podemos adotar 2 barras de 8 mm e 2 barras de 10 mm


( ).

O momento fletor negativo sobre o apoio à esquerda


é menor do que o momento mínimo admitido
, que por sua
vez necessita de uma área de aço menor do que a mínima admitida
, portanto armaremos a viga
sobre este apoio com a área de aço mínima .

Então podemos adotar, sobre o apoio 2 barras de 8 mm e 1 barra de 5


mm ( ).

Para a seção 20 x 30, teríamos:


UNIUBE 131

Dentre as inúmeras combinações possíveis de barras, apenas para


comparação adotaríamos

Por sua vez, o momento negativo com , adotaríamos


.

Conclusão: Com o aumento de 10 cm na altura final da viga, disporíamos


de duas barras a menos, uma com diâmetro de 8 mm e outra com
diâmetro de 10 mm.

Para o autor, devido à relação preço do concreto x preço do aço, a


primeira é a melhor opção.

• Verificação da flecha para a pior situação (h=30 cm).

A seção encontra-se fissurada!

Verificaremos o valor do momento de inércia e do módulo de elasticidade


equivalente:

Nova profundidade da linha neutra, em cm, após fissuração da seção:


132 UNIUBE

Como o balanço é pequeno e gerou um pequeno momento fletor perto


do momento máximo, a favor da segurança, consideraremos a viga como
se fosse biapoiada.

Flecha imediata:

Flecha diferida:
UNIUBE 133

Flecha total

Flecha limite

Neste caso, a opção por adotar a seção de 20 x 30 inviabilizaria o projeto,


pois por se tratar de viga-baldrame não é possível aplicar contraflecha.
Prova-se que a melhor opção se dá na seção 20 x 40.

• Verificação da flecha para seção 20 x 40.

A seção encontra-se fissurada!

Verificaremos o valor do momento de inércia e do módulo de elasticidade


equivalente:
134 UNIUBE

Nova profundidade da linha neutra, em cm, após fissuração da seção:

Como o balanço é pequeno e gerou um pequeno momento fletor perto


do momento máximo, a favor da segurança, consideraremos a viga como
se fosse biapoiada.

Flecha imediata:

Flecha diferida:
UNIUBE 135

Flecha total

Flecha limite

Se a viga fosse suspensa, teríamos a opção de adotar a seguinte


contraflecha:

Como se trata de viga-baldrame, não nos preocuparemos com esta


pequena diferença que houve entre a flecha admitida e a calculada.

O detalhamento da viga calculada seria deste modo (Figura 12):

Figura 12: Detalhamento das armaduras.


136 UNIUBE

2º Exemplo:

Determinar o máximo carregamento distribuído que a viga abaixo pode


receber em função da sua altura final e sua área de aço. Considere d’
=3,0 cm, concreto C-25 e aço CA-50. Observe a Figura 13.

Figura 13: Detalhamento das armaduras.

Resolução:

A partir do detalhamento da viga, podemos perceber que o pilar P12


(à esquerda) tem 25 cm e o pilar P3 tem 20 cm. O vão interno da viga
possui 503 cm.

Portanto, o vão de cálculo (teórico) será:

O momento fletor de uma viga biapoiada é determinado por:


UNIUBE 137

A quantidade de aço utilizada no banzo inferior é:

O limite da profundidade da linha neutra, segundo a NBR 6118/2014 é


.

Para que haja o maior aproveitamento da altura da viga e da área de aço,


o momento fletor que solicita a determinação da altura útil “d” tem que
ser igual ao que determina a área de aço “As”.

Da equação de dimensionamento, temos:

Conclui-se então que a profundidade da linha neutra para que esta viga,
em específico, obtenha o melhor aproveitamento da sua altura e da sua
área de aço é .

A partir desta constatação, fica fácil determinar o valor do carregamento


em função do momento fletor máximo admitido :
138 UNIUBE

O carregamento máximo que a viga admite é 7,6 kN/m.

Podemos provar a relação, utilizando as tabelas de Pinheiro (2007),


através dos coeficientes Kc e Ks:

Da tabela temos, para , concreto classe C-25 e aço


CA-50, teremos:

Kc =5,5 e Ks =0,025

Os valores aproximam-se muito aos calculados manualmente. Só não


são exatos por não conter o valor de , que pode ser calculado
por interpolação linear.

4.12 Conclusão

Após a leitura deste quarto capítulo, você já consegue compreender as


equações que correlacionam os esforços; determinar a deformação nos
materiais que compõem o concreto armado e discernir quais solicitações
serão descarregadas na área de concreto e na área de aço. Deste modo,
UNIUBE 139

é possível dimensionar as vigas de concreto armado, bem como verificar


seu funcionamento futuro através da previsão dos deslocamentos
diferidos ao longo do tempo de uso.

Resumo
Neste quarto capítulo, iniciamos nossos estudos a respeito das vigas de
concreto armado, sendo possível destacar:
• classificação das vigas;
• modelo de vinculação permitido para vigas contínuas;
• estimativa de altura;
• ações a serem consideradas;
• comportamento resistente das vidas sob flexão simples;
• deformação nos materiais que compõem a viga de concreto armado;
• altura da linha neutra;
• equações de dimensionamento;
• flecha;
• contraflecha.

Referências
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. Concreto para fins estruturais
– Classificação pela massa específica, por grupos de resistência e consistência. In:
______ NBR 8953. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento. In: ______ NBR 6118. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

BASTOS, P. Flexão Normal Simples - Notas de aula, Bauru, 2015. Disponível em:
<wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em: 02 ago. 2017.

FUSCO, P.B. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo: Ed. Pini,
2000, p. 382.
140 UNIUBE

GARCIA, S.L.G. Taxa de armadura transversal mínima em vigas de concreto


armado. 2002. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2002.

LEONHARDT, F. ; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Princípios básicos


do dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982.

LEONHARDT, F. ; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Casos especiais de


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 2. Rio de Janeiro,
Ed. Interciência, 1982.

PFEIL, W. Concreto armado, v. 1/2/3, 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Livros Técnicos e
Científicos, 1989.

PINHEIRO, L. Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios. v.l, São Carlos,


2007, Disponível: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago. 2017.

SÜSSEKIND, J.C. Curso de concreto, v. 1, 4. ed. Porto Alegre: Ed. Globo, 1985.
Capítulo Vigas seção “t” e “l” –
5 flexão simples na ruína

Introdução
Continuaremos abordando o elemento mais comum na construção
civil em concreto armado: as vigas. O que difere este capítulo do
anterior é a geometria da viga. Em alguns casos específicos, as
vigas ditas “retangulares”, por sua ligação com as lajes maciças,
tomam o formato de um “T”, ou um “L” invertido. A consequência
desta mudança na geometria é a capaciadade da viga receber
maiores carregamentos do que o último modelo, tornando-as
mais econômicas. A verificação desta nova geometria bem como
a metodologia de cálculo pertinente a esse novo modelo serão
contemplados de maneira aprofundada.

Objetivos
Ao final dos estudos propostos neste capítulo, esperamos que
você seja capaz de:
• reconhecer os casos em que as vigas “T” são aplicáveis;
• definir o comprimento das mesas colaborantes;
• determinar as ações e os carregamentos em que a viga será
suscetível;
• explicar os possíveis domínios de cálculo das vigas de seção “T”;
142 UNIUBE

• determinar se a viga “T” terá um comportamento de viga “T”


verdadeira ou falsa;
• calcular a área de aço de acordo com o comportamento
determinado.

Esquema
5.1 Definição
5.2 Considerações necessárias para o dimensionamento
5.2.1 Largura da mesa colaborante (bf)
5.2.2 Espessura da mesa colaborante (hf)
5.3 Modelo de vinculação permitido para vigas contínuas
5.3.1 Vão efetivo
5.4 Estimativa de altura
5.5 Ações a serem consideradas
5.6 Comportamento resistente das vigas “T” e “L” sob flexão
simples
5.6.1 Altura da linha neutra
5.6.2 Determinação da profundidade da linha neutra em
seções “T” e “L”
5.6.3 Verificação do comportamento, se viga “T” falsa ou
verdadeira
5.6.4 Utilização dos coeficientes tabelados para determinação
da seção
5.7 Equações de dimensionamento
5.7.1 Cálculo da área de aço em função dos coeficientes Kc
e Ks
5.7.2 Áreas de aço mínima, máxima e armaduras de pele
5.8 Exemplos de dimensionamento
5.9 Conclusão
UNIUBE 143

5.1 Definição

Vigas “T” ou “L”, como são popularmente conhecidas, são elementos


horizontais cuja flexão é o fator preponderante para o dimensionamento.
Para que esta seção se forme, faz-se necessário que a viga utilize da laje
maciça como mesa comprimida. Somente nas ligações entre vigas e lajes
maciças ocorre a formação das seções “T” e “L”. Em outros tipos de laje,
tal como as pré-moldadas mais comuns (vigotas e vigotas treliçadas),
devido à presença de vigotas, a ligação viga/laje é comprometida, de
forma a não permitir que se forme um conjunto com as características
necessárias para que ambas trabalhem em conjunto, mesa na
compressão e alma/nervura na flexão. Outro momento em que se pode
considerar a seção retangular perfeitamente ligada nas lajes é nas lajes
nervuradas. Estas são calculadas como lajes maciças, observando os
quinhões de carga em função da área de influência (distância entre as
nervuras) de cada nervura. Observe a Figura 1.

Figura 1: Seção T.
Fonte: Bastos (2015, p. 44).
144 UNIUBE

5.2 Considerações necessárias para o dimensionamento

Quando as vigas de edifícios que possuam lajes maciças são


comprimidas, parte da tensão de compressão que seria absorvida
pelo bordo superior da viga (vigas biapoiadas) é “dividida”, alcançando
a vizinhança das lajes apoiadas. Esta quantidade (volume de área)
colaborante é denominada: mesa colaborante. Porém, um aspecto muito
relevante deve ser bem explicado – veja a seguir.

As vigas terão o formato “T” ou “L” somente sob as tensões de


compressão, ou seja, em momentos positivos – onde a compressão
ocorre no bordo superior – a laje tem que estar ligada à viga pela parte de
cima (como é o mais comum). Em momentos negativos – a compressão
ocorre no bordo inferior (como sobre os pilares e apoios) – a laje para
ser colaborante tem que estar disposta no lado de baixo da viga (viga
invertida).

Figura 2: Trechos de consideração da seção “T”.


Fonte: Bastos (2015, p.45).
UNIUBE 145

5.2.1 Largura da mesa colaborante (bf)

A largura da mesa colaborante (bf) é determinada em função do diagrama


de momento fletor da viga. Esta depende do tipo de vinculação obtido a
partir da consideração ou não de continuidade na viga a ser calculada.
Segundo a NBR 6118/2014, a largura colaborante considerada em cada
lado da viga ( ), não pode ultrapassar os 10 % do comprimento ( ) que
equivale à distância aproximada de momento fletor nulo. Esta variará de
acordo com o tipo de vinculação adotado para a viga.

Figura 3: Largura da mesa colaborante - bf.


Fonte: Bastos (2015, p.45).

A largura total da mesa colaborante deve ser calculada pela seguinte


expressão:

onde:

Sendo b1, determinado por:


146 UNIUBE

Para vigas biapoiadas, ou seja, que não possuem continuidade ou


momento fletor negativo.

Para os tramos/vãos externos de vigas contínuas, ou vigas com apenas


um tramo engastado/apoiado:

Para os tramos/vãos internos de vigas contínuas, ou vigas com apenas


um tramo engastado/engastado:

Para os tramos/vãos em balanço:

Como simplificação, em vigas contínuas, admite-se (NBR 6118/2014)


considerar a menor largura de mesa colaborante de todos os tramos e
adotá-la para cálculo de todos os momentos positivos da viga inteira.

5.2.2 Espessura da mesa colaborante (hf)

A espessura da mesa colaborante será igual à altura (h) da laje


maciça. Este fato é justificado por só haver compressão nos momentos
positivos da viga, não havendo a necessidade de se descontar da altura
colaborante o valor do d’. Não entram neste cômputo os valores do
contrapiso, regularização etc.
UNIUBE 147

5.3 Modelo de vinculação permitido para vigas contínuas

As recomendações normativas para consideração das vinculações


das vigas nos pilares seguem as prescrições já abordadas no capítulo
anterior.

Figura 4: Engastamento elástico nos pilares de extremidade.

Figura 5: Pilares com .

5.3.1 Vão efetivo

O mesmo se aplica ao cálculo do vão efetivo de vigas de concreto


armado (Vide capítulo 4)
148 UNIUBE

Figura 6: Vão efetivo.

Onde: = vão teórico para determinação dos esforços solicitantes.

onde:

5.4 Estimativa de altura

Recomenda-se que, para o cálculo das ações, estime-se a altura da


viga “T” e “L” como se fossem uma viga comum de seção retangular.
Valores de altura de nervura menores que os estimados incorrerão a
favor da segurança, uma vez que o peso próprio será superestimado
pela maior altura. Assim que forem determinados os momentos fletores
atuantes em função do carregamento aplicado, aliado ao conhecimento
prévio da altura e da largura colaborante, calcula-se a altura da nervura
necessária para que se tenha um comportamento dentro do padrão
esperado (profundidade da linha neutra).
UNIUBE 149

5.5 Ações a serem consideradas

Seguem as mesmas prescrições estudadas em lajes maciças e vigas


retangulares.
Obs. Não é necessário computar o peso/carga da mesa colaborante pois
a mesma já está implícita na reação de apoio da laje na viga.

5.6 Comportamento resistente das vigas “T” e “L” sob flexão


simples

O comportamento da linha neutra é peculiar neste tipo de viga. Para


que a mesma tenha comportamento de seção “T” ou “L” “verdadeira”,
a altura da linha neutra tem que estar abaixo da mesa colaborante (hf).
Esta constatação justifica-se pelo fato de que a posição da linha neutra
determina a seção comprimida em função da flexão. Se a linha neutra
estiver contida na espessura da mesa colaborante, calculamos a viga
como seção “T”, “L”, “falsas”. Neste último caso, somente há compressão
na mesa colaborante, então podemos calcular a viga como se a mesma
tivesse, por inteiro (inclusive nervuras), a largura da mesa colaborante,
uma vez que a resistência do concreto à flexão só é considerada
para cálculo dos deslocamentos (E.L.S), não sendo considerada no
dimensionamento à flexão (E.L.U).

5.6.1 Altura da linha neutra

A NBR 6118/2014, em seu item 14.6.4.3, prescreve a profundidade


máxima da linha neutra em Este limite visa garantir maior
ductilidade e capacidade de rotação (torção) à peça armada e está
muito próximo, segundo o entendimento do autor, da profundidade
para dimensionamento mais econômico. A posição da linha neutra é
determinada por semelhança de triângulos, pela expressão:
150 UNIUBE

onde:

5.6.2 Determinação da profundidade da linha neutra em seções “T”


e “L”

Para determinar qual a profundidade da linha neutra, utilizamos


equação geral dos momentos fletores resistentes pela seção transversal
retangular:

Deste modo, através da resolução da equação quadrática, podemos


determinar a profundidade da linha neutra e compará-la com a espessura
da mesa colaborante (que na maioria das vezes trata-se da laje maciça
sobre a viga).

Como já foi abordado outrora, também é possível determinar esta altura


através do auxílio dos coeficientes tabelados (Kc e Ks).
UNIUBE 151

logo:

5.6.3 Verificação do comportamento, se viga “T” falsa ou verdadeira

Para determinar corretamente o comportamento de uma seção


transversal, neste caso em específico das vigas “T” e “L”, compara-se
o diagrama simplificado, parábola-retângulo, com a espessura da mesa
colaborante. Há duas possibilidades. Vejamos.

1ª Quando a profundidade da linha neutra for igual ou inferior a 80% da


altura da mesa colaborante:

Figura 7: Viga “T” falsa.


Fonte: Bastos (2015, p.53).

2ª Quando a profundidade da linha neutra for superior a 80% da altura


da mesa colaborante:
152 UNIUBE

Figura 8: Viga “T” verdadeira decomposta.


Fonte: Bastos (2015, p. 54).

Deste modo, pode-se comparar as grandezas das solicitações com a


posição real do limite do concreto à compressão, pela imposição da altura
real da mesa colaborante.

Para facilitar o entendimento, vejamos dois exemplos práticos:

Primeiro exemplo:

Geometria da seção:

Largura da mesa colaborante -bf: 85 cm


Espessura da mesa colaborante - hf: 12 cm
Largura da viga -bw: 14 cm
Altura da viga -h: 45 cm
d’ = 3 cm.
Vinculação: biapoiada.

Materiais empregados:

Concreto C-25
Aço CA-50.
UNIUBE 153

Solicitações:

Momento fletor característico: 185 kN.m

Resolução:
Supondo comportamento retangular da seção, calcula-se a altura da linha
neutra para o momento fletor solicitante:

Para este momento fletor, supondo a viga com comportamento retangular,


a profundidade comprimida da peça será de 3,89 cm. Deste modo,
como 3,89 cm é menor que 12 cm (espessura da mesa colaborante -hf)
teremos uma viga “T” falsa. A mesma poderá ser armada como se fosse
retangular de base igual à largura da mesa colaborante (bf) e altura igual
à altura útil “d”.

Segundo exemplo:

Geometria da seção:

Largura da mesa colaborante -bf: 65 cm


Espessura da mesa colaborante - hf: 7 cm
Largura da viga -bw: 12 cm
Altura da viga -h: 40 cm
d’ = 3 cm.
Vinculação: biapoiada.
154 UNIUBE

Materiais empregados:
Concreto C-20
Aço CA-50.

Solicitações:

Momento fletor característico: 250 kN.m

Resolução:

Supondo comportamento retangular da seção, calcula-se a altura da linha


neutra para o momento fletor solicitante:

Para este momento fletor, supondo a viga com comportamento retangular,


a profundidade comprimida da peça será de 11,62 cm. Deste modo, como
11,62 cm é maior que 7 cm (espessura da mesa colaborante -hf) teremos
uma viga “T” verdadeira. A mesma deverá ser armada conforme a Figura
8 anterior, decompondo a viga em alma e mesa e determinando o valor
do momento fletor resistido por cada uma das seções independentes.
Este processo será visto a seguir.

5.6.4 Utilização dos coeficientes tabelados para determinação da


seção

No intuito de facilitar o entendimento, bem como proporcionar maior


UNIUBE 155

rapidez aos cálculos manuais de dimensionamento de peças de concreto


armado, como já foi bastante explorado, possuímos as tabelas dos
coeficientes Kc e Ks.
Para tanto, criaremos a seguinte relação:

Se, , e, , teremos que:

Deste modo, para seções “T” falsas, a inequação deve atender a relação:

Trocando em miúdos, o valor da profundidade da linha neutra tem que


ser menor ou igual ao valor da altura x, que também será designada por
, ou simplesmente altura limite da flange à compressão.

Convertendo a fórmula para a maneira acima, podemos dispor de tabelas


para comparar tais valores sem que tenhamos que resolver a equação
quadrática:

1º Calcula-se o valor da altura limite da flange à compressão: .

2º Supondo a seção como retangular, calcula-se o valor de Kc¹, e entra-se


na tabela para encontrar o valor de .

3º Comparam-se os valores, partindo do seguinte pressuposto:

Se , então viga “T” FALSA.

Se , então viga “T” VERDADEIRA.


156 UNIUBE

1 – O valor do coeficiente Kc, proposto pelo prof. Libânio Pinheiro (2007),


foi determinado no capítulo “Vigas”. Sua fórmula assume a forma:

Para exemplificar também a aplicação mais simples por tabelas, iremos


utilizar os mesmos exemplos acima, porém com o auxílio da nova
relação:

Primeiro exemplo:

Geometria da seção:

Largura da mesa colaborante -bf: 85 cm


Espessura da mesa colaborante - hf: 12 cm
Largura da viga -bw: 14 cm
Altura da viga -h: 45 cm
d’ = 3 cm.
Vinculação: biapoiada.

Materiais empregados:

Concreto C-25
Aço CA-50.

Solicitações:

Momento fletor característico: 185 kN.m

Resolução:

Calcula-se o valor de :

Supondo comportamento retangular da seção, calcula-se a altura da linha


neutra para o momento fletor solicitante:
UNIUBE 157

Entrando na tabela, para o concreto C-25 e o Kc de 9,57, encontramos


o valor de = 0,10 (Observe que o valor de 0,10 é aproximado, pois há
um intervalo existente na tabela entre o Kc= 8,6 até 10,6).

Como 0,10 < 0,277, então teremos uma viga “T” Falsa.

Segundo exemplo:

Geometria da seção:

Largura da mesa colaborante -bf: 65 cm


Espessura da mesa colaborante - hf: 7 cm
Largura da viga -bw: 12 cm
Altura da viga -h: 40 cm
d’ = 3 cm.
Vinculação: bi apoiada.

Materiais empregados:

Concreto C-20
Aço CA-50.

Solicitações:

Momento fletor característico: 250 kN.m

Resolução:

Calcula-se o valor de :
158 UNIUBE

Supondo comportamento retangular da seção, calcula-se a altura da linha


neutra para o momento fletor solicitante:

Entrando na tabela, para o concreto C-25 e o Kc de 9,57, encontramos


o valor de = 0,32 (Observe que o valor de 0,32 é aproximado, pois há
um intervalo existente na tabela entre o Kc= 3,5 até 3,7).

Como 0,32 > 0,199, então teremos uma viga “T” Verdadeira.

5.7 Equações de dimensionamento

No caso de vigas “T” falsas, as equações de equilíbrio da seção em


função do binário resultante do momento fletor solicitante já foram
apresentadas nos capítulos de lajes e vigas solicitadas à flexão.

Apresentaremos, a seguir, as hipóteses básicas para dimensionamento


de vigas “T” verdadeiras, uma vez que as “falsas” são dimensionadas
como se tivessem seção retangular com a largura igual à largura da mesa
colaborante (bw =bf) e altura igual à altura útil da viga, mais a altura da
mesa colaborante.

Os momentos fletores resistidos pela seção “T” verdadeira são


subdivididos pelos momentos resistidos pelas seções, conforme
ilustrado na Figura 8. Estes, somados, serão igual ao momento fletor
total solicitante.

Para tanto, devemos determinar o máximo momento fletor resistido pela


mesa colaborante. Deste modo:
UNIUBE 159

Conhecendo-se a geometria da seção, pode-se determinar com facilidade


o valor do momento resistido pela mesa colaborante M1d.

Deste modo, o momento restante será:

Como o momento restante trata do momento resistido pela seção


retangular, como já foi abordado nos capítulos anteriores, teremos:

Para o dimensionamento nos domínios 2 e 3, onde , teremos:

Onde,

5.7.1 Cálculo da área de aço em função dos coeficientes Kc e Ks

Para facilitar ainda mais os cálculos das áreas de aço em função da


altura da linha neutra, utilizaremos da tabela criada por Pinheiro (2013)
que correlaciona a resistência do concreto à compressão Fck com a
resistência do aço à tração Fyk, condicionando os cálculos a simples
consultas a coeficientes tabelados: Kc e Ks.

A dedução das fórmulas foi feita nos capítulos anteriores, e deste modo
160 UNIUBE

teremos:
Para viga “T” falsa:

Para viga “T” verdadeira:

1º como viga “T” verdadeira, para a flange:


• Calcula-se o valor do Kc e do Ks da flange ou mesa colaborante
Kc,f e Ks,f:

• calcula-se o valor do momento resistido pela mesa colaborante


(flange):

• de posse do momento resistido pela flange, calcula-se a área de


aço para a mesma:

2º Como viga “T” verdadeira, para a nervura:

• de posse do momento resistido pela flange (M1d) calcula-se o


momento faltante ( ou momento resistido pela nervura (M2d).
UNIUBE 161

• Calcula-se o KC da nervura em função do M2d:

• de posse do valor do Ks,n, calcula-se o valor da área de aço


complementar:

5.7.2 Áreas de aço mínima, máxima e armaduras de pele

As especificações da ABNT_NBR 6118/2014 sobre a área de aço mínima


à flexão bem como à máxima área de aço admitida e as disposições
construtivas das armaduras de pele estão explicadas no capítulo de
dimensionamento de vigas à flexão.

5.8 Exemplos de dimensionamento

Para corroborar a teoria apresentada, utilizaremos de exemplos práticos


que utilizam vigas com seção “T” e “L”.

1 – Uma viga central de garagem de um prédio comercial deverá ter


sua altura total limitada em 40 centímetros para que os veículos mais
altos possam estacionar sem problemas. É sabido que as lajes são
maciças e, portanto servem como mesas colaborantes. A espessura
das lajes (já calculadas) é de 10 cm. A largura definida para a viga é de
15 centímetros. O carregamento a que a viga biapoiada está submetida
é da ordem de 46,20 KN/m. O vão teórico tem 6,5 metros.

Pede-se, calcular a área de aço da viga em questão – considere o


concreto como C-25, aço CA-50 e d’ = 5 cm.
162 UNIUBE

Resolução:
Primeiramente devemos definir a largura da mesa colaborante:

(pois a viga é central e há pano de lajes dos dois lados


da mesma);

Como se trata de viga bi apoiada, temos: a = L.

Posteriormente, calcula-se a intensidade do momento fletor solicitante:

Agora, verificamos o comportamento (supondo que a mesma seja


retangular com largura igual à largura da mesa colaborante):

Como 0,10 < 0,278, então temos uma viga “T” falsa.
UNIUBE 163

Solução adotada: , quatro barras de 25 mm (uma polegada),


sendo 2 barras na primeira camada e 2 barras na segunda camada.

2 – No segundo exemplo, calcularemos a viga de canto, que possui as


mesmas limitações e não há continuidade da laje sobre ela, ou seja, a laje
é interrompida sobre a viga (Viga “L”). Na prática, o carregamento deverá
ser novamente verificado pois não há duplo apoio de lajes, porém haverá
o carregamento de paredes sobre ela. Em face do exposto, manteremos
todos os dados do primeiro exemplo, exceto a continuidade da laje e o
momento fletor que aumentará (didaticamente) para Md = 52.258,00
KN.cm.

Resolução:
Primeiramente devemos definir a largura da mesa colaborante:

(pois a viga é de canto e não há pano de laje dos dois


lados da mesma)

Como se trata de viga biapoiada, temos: a = L.

Verificação do comportamento:

Da tabela de Kc e Ks, com , retira-se Kc,f = 3,3 cm²/kN e Ks,f


= 0,026 cm²/kN.
164 UNIUBE

Como 0,30 > 0,278, então temos uma viga “L” verdadeira.

Deste modo, separaremos a seção para cálculo em separado dos


momentos e áreas de aço.

Para a flange:

Para a nervura (viga):

De posse do valor do Ks,n, calcula-se o valor da área de aço


complementar:

Atenção: Toda a armadura calculada deverá ser disposta na nervura


(viga), pois é esta que resistirá à tração proveniente da flexão.
UNIUBE 165

Solução adotada: , quatro barras de 32 mm, sendo 2 barras


na primeira camada e 2 barras na segunda camada.

5.9 Conclusão

Quando há o trabalho conjunto de uma laje maciça e uma viga, é possível


considerar o conjunto resistente no cálculo e o dimensionamento à
flexão. Este foi o assunto estudado neste capítulo, em que você, após a
leitura, compreenderá quando e como usar o recurso das vigas de seção
transversal “T” e “L”.

Resumo
Neste quinto capítulo estudamos as vigas com seção composta, sendo
possível destacar:
• considerações necessárias para o dimensionamento;
• modelo de vinculação permitido para vigas contínuas;
• estimativa de altura;
• ações a serem consideradas;
• comportamento resistente das vigas “T” e “L” sob flexão simples;
• equações de dimensionamento;
• exemplos de dimensionamento.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto para fins estruturais
– Classificação pela massa específica, por grupos de resistência e consistência. In:
NBR 8953. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento. In:______ NBR 6118. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

BASTOS, P. Flexão Normal Simples- Notas de aula, Bauru, 2015b, Disponível


em: <wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em: 02 ago. 2017.
166 UNIUBE

FUSCO, P.B. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo: Ed. Pini,
2000, 382 p.22.

GARCIA, S.L.G. Taxa de armadura transversal mínima em vigas de concreto


armado. 2002. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, 2002.

LEONHARDT, F. ; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Princípios básicos do


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro: Ed.
Interciência, 1982.

LEONHARDT, F. ; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Casos especiais de


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 2. Rio de Janeiro: Ed.
Interciência, 1982.

PINHEIRO, L. Fundamentos do concreto e projeto de edifícios - v.l, São Carlos,


2007, Disponível: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago 2017.

PFEIL, W. Concreto armado, v. 1/2/3, 5a ed., Rio de Janeiro, Ed. Livros Técnicos e
Científicos, 1989

SÜSSEKIND, J.C. Curso de concreto, v. 1, 4. ed., Porto Alegre, Ed. Globo,


1985, 376p.
Capítulo Vigas – Cisalhamento
6

Introdução
Além dos esforços oriundos da flexão, é necessário dimensionar os
esforços cortantes aplicados em peças normalmente dispostas na
horizontal. As rotinas de dimensionamento de peças de concreto
armado seguem um rito como se cada ação fosse tomada em
separado. Ocorre que há uma sobreposição destes esforços, fato
que pode ser observado com a inclinação das fissuras de flexão
em função dos esforços cortantes. Neste capítulo, abordaremos
o dimensionamento voltado para estes esforços, os quais
normalmente são secundários, ou seja, sua solicitação requer da
viga seção transversal menor que a requerida pelo esforço da
flexão, portanto são normalmente os últimos dimensionamentos
feitos pelo engenheiro calculista.

Objetivos
Ao final dos estudos propostos neste capítulo, esperamos que
você seja capaz de:
• explicar como o cisalhamento atinge a alma de vigas
prismáticas;
• analisar os tipos de ruptura por cisalhamento puro ou
combinado;
• determinar a intensidade da carga suportada sem que haja
esmagamento das bielas comprimidas;
168 UNIUBE

• calcular a componente resistida por mecanismos


complementares à treliça “Vc”;
• explicar os modelos admitidos pela ABNT_NBR 6118/2014
para dimensionamento dos estribos;
• calcular a área de aço das armaduras transversais.

Esquema
6.1 Definição
6.2 Modelo clássico da treliça de RITTER-MORCH ( )
6.3 Modelo de treliça generalizada ( )
6.4 Análise dos tipos de ruptura por cisalhamento
6.5 Modelo de cálculo I, ABNT_NBR 6118/2014
6.5.1 Verificação da compressão das bielas
6.5.2 Cálculo da armadura de cisalhamento- Estribos
6.6 Disposições construtivas
6.6.1 Diâmetro máximo e mínimo do estribo vertical
6.6.2 Espaçamento máximo e mínimo entre estribos verticais
6.6.3 Determinação do número de ramo do estribo
6.7 Armadura de suspensão
6.8 Exemplos de dimensionamento
6.9 Conclusão

6.1 Definição

Em vigas submetidas a carregamentos distribuídos, como é o mais


comum ocorrer, as solicitações de flexão tendem a aumentar ao caminhar
para o meio do vão. Ocorre que também, em função do carregamento,
, há o surgimento de tensões de cisalhamento que ocorrem próximas
aos apoios, ou em outros casos, próximas às cargas concentradas
aplicadas no tramo em questão.
UNIUBE 169

As cargas pontuais incidentes, nos tramos das vigas em análise, são


conhecidas como apoios indiretos (vigas apoiadas em outras vigas). Este
esforço , quando a viga ainda está no Estádio I (estádio em
que a profundidade da linha neutra coincide com o baricentro da peça,
obedecendo à lei de Hooke e à hipótese de Bernoulli) pela ausência de
fissuras neste Estádio, as tensões têm um ângulo de incidência de 45 º
ou 135 º medidos em relação ao eixo da peça.

Quando as tensões fazem com que o concreto ultrapasse sua capacidade


de resistir à tração, , o mesmo entra no Estádio II, e por não suportar
mais a tração oriunda dos esforços de flexão e cisalhamento, há a
incidência de fissuras que demonstram com propriedade o caminho das
ações. Sua inclinação se mantém fidedigna ao ângulo de incidência das
tensões, ou seja, tem uma inclinação de 45º em relação ao eixo da peça.
Ocorre que as fissuras de cisalhamento em vigas prismáticas de alma
retangular, originam-se, na maioria das vezes, de fissuras já existentes
de flexão (fissuras de cisalhamento na flexão), e sua inclinação sofrerá
uma redução (em função da inclinação das fissuras de flexão) e, em
parte, torna-se inferior à inclinação de 45º. Este fato é benéfico e leva à
redução das forças de tração na alma.

A ABNT_NBR 6118/2014 contempla, através de dois modelos a serem


estudados, Modelo I e Modelo II, o dimensionamento de vigas submetidas
ao cisalhamento, puro ou combinado, para que as inúmeras variáveis que
influenciam a ruptura da peça, como geometria, dimensões, resistências,
sejam analisadas e não tragam problemas funcionais às edificações.
170 UNIUBE

Figura 1: Fissuras e suas inclinações.


Fonte: Leonhardt e Mönnig (1982, p.197).

6.2 Modelo clássico da treliça de Ritter-Morch ( )


Como as vigas são dimensionadas para trabalharem nos Estádios II
e III, faz-se necessário conhecer um modelo que permita determinar
a intensidade e sentido dos esforços. Este é embasado pela análise
das fissuras (Vide Figura 1). O modelo que será apresentado é o que
subsidia todas as fórmulas aceitas pela ABNT_NBR 6118/2014 e apesar
dos diversos estudos feitos ao modelo, o mesmo ainda é considerado
pleno, apesar de algumas complementações na teoria.

Este modelo, criado por Ritter, em 1899, e melhorado por Morch, em


1902, analisa a viga prismática como se a mesma fosse uma treliça com
os banzos inclinados em 45º em relação à projeção horizontal. Após
fissurar-se (limite do atingido), a viga “transforma-se” nesta treliça
deste modo:
UNIUBE 171

• O banzo inferior (longitudinal à viga) é a armadura de flexão; como


é tracionada, seu dimensionamento é feito a partir das equações
para combate à tração em função do momento fletor (vide capítulo
de dimensionamento de vigas à flexão, deste livro).
• O banzo superior é o concreto comprimido também pela flexão e
serve de subsídio ao dimensionamento dos estribos.
• As diagonais inclinadas assumem dois tipos de esforços distintos:
compressão e tração. Os esforços inclinados de compressão são
absorvidos pela capacidade resistente do concreto à compressão -
. Estes se encontram entre as fissuras de cisalhamento. Já as
diagonais tracionadas são os estribos, que possuem propriedade de
combate a tração - .

É possível concluir que os estribos, na maioria das vezes, são dispostos


perpendicularmente ao eixo longitudinal da viga, ou seja, formam um
ângulo de 90º com o plano. Deste modo, por não possuírem a inclinação
determinada pelo esforço cisalhante no banzo tracionado (45º) assumem
o papel de montantes tracionados.

Veja a Figura 2.

Figura 2: Modelo clássico de treliça Ritter-Morch.


Fonte: Bastos (2017, p. 12)

6.3 Modelo de treliça generalizada ( )


Os estudos e melhoramentos no modelo clássico indicam que as bielas
comprimidas e tracionadas, em função da flexão – cisalhamento na flexão
– possuem ângulos de inclinação com a horizontal menores que 45º,
172 UNIUBE

podendo chegar a ângulos um pouco menores que 30º. Daí surge a treliça
generalizada, cujos ângulos podem variar entre 30º e 45º. Cabe ressaltar
que a consideração de um ângulo menor (30º, por exemplo) implica uma
quantidade de aço menor. Deste modo poderá representar economia
na obra. Porém se mal analisada, a inclinação também poderá levar a
subdimensionamentos, pois irá indicar uma quantidade insuficiente de
área de aço. Este modelo é utilizado quando se dimensiona as armaduras
conforme o modelo II da ABNT_NBR 6118/2014.

Este fato se dá, diminuição da inclinação da biela, devido à não


consideração do efeito de arco na região dos apoios em concomitância
com a relação entre a altura da viga com a largura da viga. O efeito de
arco pode ser explicado como um arco interno formado pela interação
entre o apoio à viga. Este forma uma arco interno comprimido na viga
prismática retangular (Figura 3)

Figura 3: Efeito de Arco em seções retangulares.


Fonte: Leonhardt e Mönnig (1982, p. 6).
UNIUBE 173

É possível concluir, a partir destas observações, que a correta dedução


do ângulo de inclinação das bielas é muito complexa, pois envolve
diretamente vários fatores e relações. Deste modo, decidimos apresentar
apenas o modelo I, em detrimento do modelo II, da NBR 6118/2014 que
é fundamentado na Teoria Clássica da Treliça Com Banzos em 45º.

6.4 Análise dos tipos de ruptura por cisalhamento

a) Ruptura por força cortante-tração em vigas com largura normal de


alma

Como consequência das fissuras formadas pela flexão, formam-


se muitas fissuras pelo efeito do cisalhamento. Caso as armaduras
tenham seu escoamento ultrapassado ( ), fato justificado por
mal dimensionamento ou pelo aumento posterior do carregamento, as
fissuras de cisalhamento se abrirão mais e penetrarão na região do banzo
comprimido. O resultado será o rompimento dos estribos ou ruptura da
zona de concreto comprimida. Caso a ruptura seja neste último, a mesma
se dará abruptamente e sem aviso prévio.

b) Ruptura por força cortante-tração em vigas com almas delgadas

Em vigas I, por exemplo, em que há menor inércia na alma, podem


ocorrer fissuras de cisalhamento na alma, em regiões com pequenos
momentos fletores e grandes esforços cortantes, como em regiões
próximas dos apoios. Quando a armadura da alma for subdimensionada,
as fissuras dirigem-se para o bordo inferior, rompendo a viga.

c) Ruptura das diagonais de compressão

Em seções I, que possuam banzos reforçados, uma forte armadura de


alma e almas delgadas produzem muitas fissuras de cisalhamento com
inclinação de 45º. As diagonais comprimidas de concreto rompem de
174 UNIUBE

maneira tácita quando o concreto for solicitado além da sua capacidade


de resistir à compressão ( ).

d) Ruptura por falha de ancoragem

Em lajes, vigas retangulares, seções “T” e “I”, as armaduras longitudinais


que combatem a flexão são altamente solicitadas (pois o esforço
preponderante é o da flexão). Estas solicitações seguem até os
apoios. Este fato se justifica pelo efeito de arco que, no caso de falha
na ancoragem ou ancoragem insuficiente, poderá provocar colapso na
região da junção diagonal comprimida vizinha ao apoio com o banzo
tracionado.

e) Ruptura por esmagamento das bielas comprimidas

Quando as solicitações de apoio são muito altas e as componentes


deste esforço que comprimem as bielas inclinadas comprimidas são
maiores que a capacidade resistente do concreto à compressão, há o
esmagamento da biela comprimida. Este fenômeno deverá ser observado
próximo dos apoios diretos (pilares) ou sob a região dos apoios indiretos
(vigas sobre vigas).

6.5 Modelo de cálculo I, ABNT_NBR 6118/2014

Independente do modelo utilizado, I ou II, a rotina de dimensionamento


passa pelos mesmos pilares de verificação obrigatória, e estes serão
apresentados juntamente com as fórmulas utilizadas para cada
verificação. Ao final da rotina de verificação e dimensionamento, serão
apresentados exemplos práticos de dimensionamento. Todas as nuances
dos cálculos apresentados no item 17.4.2.2 ABNT_NBR 6118/014, bem
como as prescrições para reduções permitidas em 17.4.1.2.1 ABNT_NBR
6118/014, serão apresentadas. A opção pela não-utilização de algum
alívio permitido será feita em função das preferências deste autor.
UNIUBE 175

6.5.1 Verificação da compressão das bielas

O item 17.4.2.2, alínea a, da ABNT_NBR 6118/2014, infere sobre a


verificação das bielas comprimidas na treliça isostática do modelo de
Morch, em que uma parcela (componente) da força é admitida
como resistida pelos mecanismos da treliça além de mecanismos
complementares à treliça, admitidos pela capacidade do concreto em
suportar os esforços de compressão, . Esta parcela, neste modelo I,
tem valor constante e independe da variação (para mais ou para menos)
do cortante de cálculo, .

Para garantir que não haja ruptura por esmagamento do concreto


comprimido (banzo comprimido), a relação abaixo deverá,
invariavelmente, ser satisfeita:

em que,

O valor da força resistente de cálculo, , deverá ser calculada por


meio da seguinte expressão:

em que,
176 UNIUBE

Simplificando, podemos escrever:

6.5.2 Cálculo da armadura de cisalhamento – estribos

O dimensionamento no modelo I, da ABNT_NBR 6118/2014, é


semelhante ao modelo já difundido no Brasil que era admitido pela
ABNT_NB1/1978. A diferença encontra-se na alteração do valor da
parcela . Esta parcela pode ser entendida como a capacidade do
concreto resistir ao cisalhamento sem armadura transversal (estribos).

Os mecanismos de transferência do esforço cortante à viga de


concreto são muito complexos e dependem de uma série de fatores.
Os pesquisadores, Fenwick e Paulay, em 1968, afirmam que tais
mecanismos, excluída a armadura transversal, têm capacidade de resistir
a parte dos esforços devido a alguns fenômenos físicos, a saber:

1- força cortante na zona de concreto não-fissurado (banzo de concreto


comprimido – Vcz);

2- engrenamento dos agregados ou atrito das superfícies nas fissuras


inclinadas (Vay);

3- ação de pino da armadura longitudinal (Vd);

4- ação de arco;

5- tensão de tração residual transversal existente nas fissuras inclinadas.


UNIUBE 177

De posse destes “novos” estudos, se a condição inicial primordial for


observada ( ), a seguinte condição também deverá ser
satisfeita:

em que,

No cálculo da armadura transversal, considera-se . Deste


modo, teremos:

6.5.2.1 Determinação do esforço cortante de cálculo -

Este valor é o valor do esforço cortante tirado do diagrama de esforço


cortante - DEC. O mesmo variará ao longo da viga e depende do tipo
de vinculação e carregamento aplicados. Normalmente nos escritórios
de cálculo, exceto quando os cortantes são muito altos, arma-se todo
o tramo da viga para cada cortante máximo (de cada tramo) que tende
a aparecer na região de encontro com os apoios, diretos e indiretos. A
determinação dos esforços cortantes é assunto que já foi devidamente
abordado nas disciplinas que envolvem estática das estruturas.

No entanto, há reduções permitidas em 17.4.1.2.1, da ABNT_NBR


6118/2014, aplicáveis a vigas cujos apoios sejam diretos (carga e
reação de apoio em faces opostas, normalmente ligação viga-pilar. Não
se aplicam a apoios indiretos, vigas com vigas). Estas reduções são
utilizadas a critério do calculista, e, muitas vezes, a favor da segurança e
178 UNIUBE

da celeridade do processo, não são utilizadas. A utilização ou não destas


reduções, normalmente, não impactam nos custos da obra.

a) Para carga distribuída, , tomada como referencial a


intensidade da força cortante do gráfico (DEC) a uma distância d/2 do
apoio considerado. Ou seja, toma-se em vez do valor do cortante sobre
o eixo do apoio, o valor deste a uma distância (deste mesmo eixo) d/2.
Onde d é a altura útil da viga.

b) A força cortante devida a uma carga concentrada aplicada a uma


distância ( ) maior que duas vezes a altura útil da viga em relação
ao eixo teórico do apoio poderá ser reduzida multiplicando-na por .
Deste modo, o cortante reduzido ficaria: .

6.5.2.2 Determinação da parcela a deduzir -

Como já foi abordado, a parcela deverá ser deduzida do cortante de


cálulo e seguindo o modelo I, deverá ser calculada por:

em que:
UNIUBE 179

Simplificando a equação, podemos escrever

6.5.2.3 Determinação da área de aço por espaço longitudinal de viga -

Segundo o modelo seguido, a área de aço deverá ser calculada por:

Sendo:

Na maioria das vezes, o estribo é perpendicular ao plano longitudinal da


viga, portanto a componente do denominador da fórmula
pode ser desprezada, pois é igual a 1.

A ABNT_NBR 6118/2014 não permite que sejam levadas em


consideração tensões resilientes, no caso dos estribos, maior que a
tensão resistente de cálculo do aço CA-50, pois .
Deste modo, mesmo que utilizemos o aço CA-60, calcularemos como se
fosse utilizado o aço CA-50.
180 UNIUBE

Os valores encontrados na equação dão a área de aço em cm²/cm, então


basta multiplicar por 100 e obter o valor da área de aço em cm²/m. Ou
seja, o valor total dividido pela área da seção transversal de uma bitola
qualquer, dividido pelo número de ramos do estribo dá o espaçamento
entre eles. (Considerando uma faixa de 1 metro, 100 centímetros).

A partir destas considerações, considerando estribos verticais (90º),


tensão resistente de cálculo do CA-50 = 43,5 kN/cm², e a área de aço
por espaço de um metro, teremos a possível simplificação:

6.5.2.4 Determinação da área de aço transversal mínima -

No intuito de prevenir a eventualidade de carregamentos não previstos,


garantir a proteção contra flambagem das barras longitudinais
comprimidas e limitar a inclinação das bielas e a abertura de fissuras
transversais, há preconizado, na mesma norma, uma quantidade mínima
de armadura transversal a ser disposta na viga. Segundo a ABNT_NBR
6118/2014, no item 17.4.1.1, a armadura transversal mínima pode ser
calculada pela seguinte expressão:

Isolando a área de aço no segundo membro da expressão, teremos:

em que,
UNIUBE 181

Fazendo as convenções: estribos em 90º, espaçamento de 100 cm,


teremos:

6.5.2.4 Determinação da força cortante devido a armadura mínima


-

A força cortante em função da área de aço mínima demonstrada é a


composição das duas parcelas:

Deste modo, substituindo nas equações já deduzidas:

6.6 Disposições construtivas

As disposições construtivas por ora apresentadas são descriminadas no


item 18.3.3.2, da ABNT_NBR6118/2014. Serão separadas de maneira
182 UNIUBE

conveniente ao aprendizado visando a rotina do escritório de cálculo


estrutural.

6.6.1 Diâmetros máximo e mínimo do estribo vertical

O limite em que o diâmetro do estribo deve estar contido denota os limites


máximos e mínimos a serem atendidos:

No caso de estribos formados por tela soldada, o diâmetro poderá ser


diminuído para 4,2 mm.

6.6.2 Espaçamentos máximo e mínimo entre estribos verticais

Para determinar o espaçamento máximo, a relação depende da


intensidade da força de cisalhamento solicitante de cálculo ( ) e de
quão próxima a mesma está da carga de ruptura ( ). Para que não
ocorra ruptura do banzo comprimido situado entre as bielas de tração,
seção entre os estribos, o espaçamento máximo deverá ser tirado da
relação:

É muito comum, nos escritórios, a distância máxima ser limitada a 20 cm.

O espaçamento mínimo está relacionado com a capacidade de


adensamento do concreto. O espaço entre eles não poderá impedir a
passagem do vibrador do concreto. A utilização de 3 cm como espaço
mínimo também é prática comum.
UNIUBE 183

6.6.3 Determinação do número de ramos do estribo

O número de ramos (pernas do estribo) deverá ser determinado também


pela relação da intensidade da força de cisalhamento solicitante de
cálculo ( ) e quão próxima a mesma está da carga de ruptura ( ).
A distância máxima que um ramo pode distar de outro depende:

Ou seja, em vigas comuns com a base determinada pela espessura da


parede, os estribos poderão dispor de 2 ramos, o que é o mais comum.

Nota: Em vigas que só possuam momentos positivos ( exemplo: as


vigas biapoiadas), os estribos poderão ser abertos na parte superior.
Esta resolução não pode ser aplicada a vigas contínuas ou em balanço
devido à presença de momentos negativos.

6.7 Armadura de suspensão

Quando se tem um apoio indireto, ou seja, viga apoiada sobre outra viga,
há necessidade de calcular a armadura de suspensão. Este fato justifica-
se pela transmissão das cargas às vigas que servem como apoios
principalmente por meio das bielas de compressão, na parte inferior da
viga. Deste modo, há a necessidade de se suspender o vetor carga para
a parte comprimida da viga, ou seja, o bordo superior.

Na maioria das vezes, quando a reação de apoio é pequena, o próprio


estribo faz as vezes da suspensão, porém a verificação da necessidade
de armadura específica para suspensão deve ser adotada.

De maneira geral, a área de aço de suspensão deve ser calculada


diretamente pela expressão:
184 UNIUBE

em que,

Esta quantidade de armadura deverá ser disposta, 70% na viga de apoio


e os demais 30% na viga apoiada.

A faixa de domínio em que a armadura de suspensão (em forma de


estribos) deverá ser disposta é igual à altura ( ) da viga de apoio, na
própria viga de apoio, sendo metade para cada lado do baricentro do
entroncamento entre as vigas de apoio e a apoiada. E, para a viga
apoiada, a faixa de domínio será igual à metade da altura ( ) da via
de apoio.

6.8 Exemplos de dimensionamento

Para exemplificar o que foi demonstrado, tomaremos a mesma viga do


exemplo 1 resolvido no capítulo de dimensionamento de vigas à flexão. A
mesma será confeccionada em concreto C-20 e aço CA50. Por motivos
didáticos, a seção será alterada de (20x40) para (14x30). O valor do ,
será mantido em 3 cm. Deste modo,

Obs: É claro que, mudando a seção da viga, os carregamentos bem


como o dimensionamento da mesma à flexão iriam mudar. Ocorre que
utilizaremos o esquema estático e o diagrama que já estão prontos.
UNIUBE 185

O esquema estático bem como o Diagrama de Esforço Cortante – DEC


estão dispostos a seguir na Figura 4.

Figura 4: Carregamento e diagrama de momento fletor.


Fonte: Produzido pelo autor no Ftool.

Resolução:

Neste caso, temos três valores máximos para o cortante característico,


, demonstrados na viga com balanço acima. Muitas são as maneiras
de abordar este dimensionamento. Entre elas, é possível determinar
os pontos que estão abaixo da força cortante mínima e dimensionar
tais trechos para esta área de aço. Todavia, em vigas mais comuns,
de edifícios de pequena altura e sem vigas de transição, estas várias
mudanças de seção e espaçamento de estribos não se justificam nem
pela economia, tampouco pela dificuldade de leitura do projeto pelo
armador. O mais comum, desde que não haja muita discrepância de
valores de cortante característico, , é tomar, em cada tramo (nesta
viga temos 2, o balanço e o biapoiado), o maior valor de cortante e
dimensioná-lo a partir deste.
186 UNIUBE

Também, por opção do autor, e a favor da segurança, não será utilizada


a redução permitida no cortante máximo sobre o apoio.

Para o primeiro tramo, teremos:

Para o segundo tramo, utilizaremos o maior dos cortantes:

1º Passo: Verificação da biela comprimida:

As bielas comprimidas não serão esmagadas.

2º Passo: Calculo do :

3º Passo: Cálculo da armadura mínima e força cortante mínima para


estribos verticais e espaçamento de 1 metro:
UNIUBE 187

Atenção: Esforços cortantes de cálculo, , menores que 38,17 kN


utilizarão a armadura mínima acima calculada. Deste modo, o balanço
será armado com estribos com diâmetro de 5 mm, a cada 30 cm.

O motivo desta escolha é análogo ao que faremos para o tramo bi


apoiado.

4º Passo: Determinação da área de aço por espaço longitudinal de viga


para o tramo biapoiado:

Para estribos verticais (90º), temos:

Para estribos com diâmetro de 5 mm, a área de seção transversal será:

Como a largura da viga é 14 cm, o número de ramos será igual a 2, pois:


188 UNIUBE

Deste modo, a área de aço será dividida por dois ramos:

Dividindo a área de aço unitária pela seção transversal do aço de 5 mm,


teremos o espaçamento entre os estribos:

Quatro estribos têm três espaços entre si:

Como o espaço máximo entre os estribos permitido pela norma é de 30


cm, adotaremos, por imposição, .

Obs: Devido às baixas intensidades dos carregamentos aplicados, como


é comum em pequenas edificações, as áreas de aço dos estribos quase
sempre são muito próximas às áreas mínimas preconizadas por norma.
Com o aumento das cargas, assimetria das edificações, as armaduras
tenderão a distar do mínimo.

6.9 Conclusão

Ao final desta leitura, você deve ter percebido como é possível criar
uma rotina de cálculos a partir das fórmulas, tabelas e verificações
apresentadas neste material. Estas servem para subsidiar tanto os
estudos, como, caso queira, a vida profissional. É fato que uma edificação
UNIUBE 189

possui mais elementos dos que aqui estudados, e estes serão abordados
na disciplina de Estruturas de Concreto Armado II.

Espera-se que os objetivos didáticos tenham sido alcançados e


que o você tenha despertado o interesse pelo assunto “cálculo
estrutural”. Várias são as leituras disponíveis para complementação do
conhecimento, principalmente no que tange à parte da superestrutura.

Em suma, espero que este material, que também é uma releitura de


outros materiais e normas técnicas, possa servir como “catapulta”
para o conhecimento sobre cálculo estrutural que é de grande valia ao
engenheiro civil na prática da profissão.

Resumo
Neste sexto e último capítulo, estudamos as vigas prismáticas e o efeito
do cisalhamento, sendo possível destacar:
• suas definições;
• o modelo clásico da treliça de RITTER-MORCH;
• o modelo de treliça generalizada;
• a análise dos tipos de ruptura por cisalhamento;
• o modelo de cálculo I, NBR 6118/2014;
• as disposições construtivas e
• a armadura de suspensão.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas
de concreto – Procedimento. In:______ NBR 6118. Rio de Janeiro: 2014.

BASTOS, P. S. S. Lajes de Concreto. Notas


de aula. Bauru, 2015, Disponível em: <wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em:
02 ago. 2017.
190 UNIUBE

GARCIA, S.L.G. Taxa de armadura transversal mínima em vigas de concreto


armado. 2002. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2002.

BASTOS, P. Dimensionamento de vigas de concreto armado à força cortante -


Notas de aula, Bauru, 2017, Disponível em: <wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso
em: 02 ago. 2017.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Princípios básicos


do dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. In: Casos especiais de


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 2. Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982.

PINHEIRO, L. Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios- v.l, São Carlos,


2007, Disponível: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago. 2017.

MÖRSCH, E. Der Eisenbetonbau-Seine Anwendung und Theorie, 1st ed. Wayss and
Freytag, A. G., Im Selbstverlag der Firma, Neustadt a. d. Haardt, Germany, 1902.

Anexo(s)
As tabelas, a seguir, foram extraídas da referência:
PINHEIRO, L. M. et al. Projeto de Lajes Maciças. In: PINHEIRO, L.
Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios - v.1. São Carlos,
2007. Disponível em: <wwwp.eesp_usp_pinheiro.usp.br>. Acesso em:
02 ago. 2017.
UNIUBE 191
192 UNIUBE
UNIUBE 193
194 UNIUBE
UNIUBE 195
196 UNIUBE
UNIUBE 197
198 UNIUBE

As tabelas, a seguir, foram extraídas da referência:

MELGES, J. L. P.; PINHEIRO, L. M.; GIONGO, J. S. Concreto Armado:


escadas. In: In: PINHEIRO, L. Fundamentos do Concreto e Projeto de
Edifícios - v.1. São Carlos, 2007. Disponível em: <wwwp.eesp_usp_
pinheiro.usp.br>. Acesso em: 02 ago. 2017.
UNIUBE 199
200 UNIUBE
UNIUBE 201

As tabelas, a seguir, foram extraídas da seguinte referência:

PROFWILLIANS. Disponível em: <http://www.profwillian.com/concreto/


TabelasMarcus.pdf>. Acesso em: 02 ago 2017.
202 UNIUBE
UNIUBE 203
204 UNIUBE
UNIUBE 205
206 UNIUBE
UNIUBE 207
Anotações
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
Anotações
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Potrebbero piacerti anche