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O FORMALISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Patricia Tendolini

“Essa lei não vai pegar!” Essa é uma frase comum em nosso país. Quando uma lei é
criada no Brasil, existe a possibilidade dela “pegar ou não”. Como exemplo, temos o Estatuto
da Criança e do Adolescente, conhecido como um dos melhores do mundo, mas a realidade
das crianças nas ruas das grandes cidades é bem distinta do que se lê. Mais do que uma
peculiaridade jurídica, o formalismo pode ser visto como uma característica cultural de nosso
povo e pode ser entendido como o exagerado apego às leis, que muitas vezes são elaboradas
com frases elegantemente construídas, mas que apresentam conteúdo diferente dos costumes
e necessidades daqueles a quem se direcionam. Em sociedades como a nossa, fortemente
influenciadas por padrões ou modelos estrangeiros, torna-se mais fácil adotar uma estrutura
formal por decreto ou lei do que institucionalizar o correspondente comportamento social.

Utilizando uma analogia com a luz quando atravessa um prisma, Riggs cria um modelo
hipotético de sistemas sociais, segundo o seu grau de diferenciação, buscando evidenciar a
relações entre estrutura (padrão de comportamento tornado como um aspecto normal do
sistema social) e o número de funções que desempenha. Assim, enquanto em certas
sociedades, uma família pode executar inúmeras funções (educacionais, econômicas, políticas,
sociais e religiosas, além da reprodutora), em outras sociedades, observa-se grande número
de instituições realizando funções distintas. De acordo com esse modelo, em um dos extremos
estaria o modelo concentrado, dotado de uma só estrutura, funcionalmente difusa, motivada
predominantemente pela condição pessoal e particularista; no outro extremo, o modelo
difratado, em que cada estrutura corresponderia a uma função distinta, funcionalmente
específica,orientada para a realização específica e universalista. No ponto médio entre os dois
extremos, estaria o modelo prismático, combinando características de ambos.

Como características básicas das sociedades prismáticas como a brasileira, e residuais


das sociedades difratadas e concentradas, destacam-se a heterogeneidade (coexistência de
elementos modernos e antigos), a superposição (execução de uma série de funções por uma
mesma unidade social, favorecendo a interferência de critérios alheios ao seu domínio próprio)
e o formalismo.

O formalismo é a discrepância entre as normas prescritas legalmente e as atitudes


concretas adotadas na sua implementação. Uma lei formalística estabelece uma diretriz que
não é colocada em prática e tem pouco efeito sobre o comportamento dos indivíduos,
ocorrendo quando as normas deixam de ser observadas pelos indivíduos, sem que isso se
caracterize a obrigatoriedade de sanções.

As funções manifestas representam os objetivos declarados de uma instituição,


estabelecidos pelo seu estatuto; já as funções latentes seriam as conseqüências não
reconhecidas do padrão de comportamento verificado. Dessa forma, a adoção de uma modelo
ou lei – função manifesta – estranho ao comportamento social, pode levar à constituição de
meras fachadas administrativas, enquanto o verdadeiro trabalho administrativo continua sendo
função latente de instituições antigas.

Trazendo essa discussão para a realidade brasileira, é importante entender como


nossa história tem apresentado momentos distintos de sua integração, e dos seus habitantes,
no âmbito da história mundial. Todo o problema histórico no nosso país pode ser entendido sob
duas formas: uma externa, voltada para o mundo e visando à inserção do país na evolução
histórica mundial; e outra, particular, que articula essas mudanças aos interesses internos de
nosso país. Desse processo resulta uma tensão entre as tendências orientadas pelas
condições externas e as condições internas da sociedade.

Guerreiro Ramos considera o formalismo como uma estratégia de construção nacional:


não caminhamos do costume para a teoria, do vivido para o formal, mas do teórico para
consuetudinário, do formal para o vivido. Em seus primórdios, o Brasil não tinha povo, seus
“construtores” não tinham em que se inspirar a fim de estabelecer nossas instituições formais;
recorreu-se a soluções formalísticas, a exemplos estrangeiros, na maioria das vezes estranhos
a nossa realidade. As reformas precedem os costumes, as leis antecipam as práticas
coletivas,e seu aprendizado acaba tornando-se lento e penoso. Muitas vezes acontece que,
ainda não compreendidas de forma satisfatória pelo povo, já se pensa em reformá-las ou
substituí-las novamente.

ssim na sociedade brasileira, a presença do formalismo como produto cultural se reflete


em um ciclo: as leis não se fundamentam na cristalização dos costumes,mas são imposição de
algo, gerando um descompasso entre a norma e a prática social, o que muitas vezes leva à
não obediência dessas leis, conduzindo a um processo de criação ostensiva de novas regras,
com o intuito de reforças as primeiras. Passa-se a conferir poderes quase mágicos a portarias,
lei e decretos,como se uma simples legislação, sem qualquer ligação com a realidade social,
pudesse mudar essa mesma realidade que ignora.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, L. N. H. O Jeitinho brasileiro. Rio de Janeiro : Campus, 1992.

CASTOR, B. V. J. O Brasil não é para amadores. Curitiba : EBEL: IBQP-PR, 2000.

GUERREIRO RAMOS, A. Administração e estratégia do desenvolvimento. Rio de Janeiro :


Fundação Getúlio Vargas, 1966.

RIGGS, F. W. Administração nos países em desenvolvimento. Rio de Janeiro : Fundação


Getúlio Vargas, 1968.

VIEIRA, C. A. COSTA, F. L. BARBOSA, L. O Jeitinho brasileiro como um recurso de poder.


Revista de Administração Pública, v. 16, n. 2, p. 5-31, 1982.

Patricia Tendolini é professora de economia do Centro Universitário de Curitiba - Unicuritiba.

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