Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Etnias do Brasil
Family Ties:
Ethnic groups in Brazil
2
Laços de Família:
Etnias do Brasil
Family Ties:
Ethnic groups in Brazil
Different Ways of Looking at Knowledge cigenação do povo brasileiro como traço inerente e potencializador
de sua própria trajetória.
tion of the Brazilian people as an inherent and potentiating trait of
their own course.
Aspectos socioeconômicos, políticos, culturais e biológicos Socioeconomic, political, cultural, and biological aspects are ad-
são aqui levantados, sem a pretensão de esgotar qualquer reflexão ou dressed in this work, with no intention of exhausting any reflections or
mesmo fazer prevalecer este ou aquele ponto de vista. O objetivo é, making a specific point of view prevail over others. First and foremost,
antes, apresentar diferentes olhares sobre questões fundamentais our objective is to present different perspectives about questions that
para a construção da identidade brasileira, como diversidade étnica, have been fundamental to construct the Brazilian identity as a result
que, por sua vez, remete aos aspectos mais elementares relacionados of ethnical diversity, which, in turn, refers to the most elementary
à pele humana e sua influência como fator determinante de múlti- aspects related to the human skin and its influence as a determining
plas experiências de vida – estéticas, sexuais, etárias, religiosas, de factor of multiple life experiences – aesthetical, sexual, age-related, reli-
classe, de gênero etc. – desde os primórdios da humanidade. gious, class- and gender-related – from the earliest origins of mankind.
Do ponto de vista da história da sociedade brasileira, a questão From the point of view of the history of the Brazilian society, the
da pele esteve na ordem do dia entre o fim do século XIX e as pri- fact that the skin issue was at the top of the agenda between the late
meiras décadas do século XX, não por acaso quando o país buscava 19th century and the early 20th century, when the country was seeking
firmar sua identidade. Doenças carregadas de alto teor de preconcei- to establish its identity, was not fortuitous. Diseases burdened with
to, como sífilis e lepra ou hanseníase, cuja incidência atingia pata- intense prejudice, as syphilis and leprosy – or Hansen’s disease – the
mares epidêmicos em razão do desordenado processo de urbaniza- incidence of which reached epidemic levels as a result of a disorderly
ção e da progressiva concentração de pessoas nas grandes cidades, urbanization process and a growing concentration of people in large
eram veementemente combatidas por uma medicina cada vez mais cities, were fought energetically by a type of medicine increasingly
adepta do discurso científico e imbuída do ideal de progresso que based on scientific speech and imbued with an ideal of progress that
culminou com o perfil da sociedade existente nos dias de hoje. culminated in the profile of the currently existing society.
Ainda na seara específica da medicina e da saúde pública, o Still in the specific sphere of medicine and public health, a glance
olhar sobre a evolução da dermatologia no Brasil, que teve na cria- at the evolution of dermatology in Brazil – whose guiding beacon in
ção e na atuação da Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD the course of time was the creation and the initiatives of the Sociedade
importantes balizadores ao longo do tempo, permite aprofundar a com Brasileira de Dermatologia – SBD (Brazilian Society of Dermatology)
preensão das especificidades da pele do povo brasileiro e seu papel- – will help to understand the particulars of the skin of the Brazilian
-chave no direcionamento dos estudos desenvolvidos nessa área. people and their key role in guiding the studies developed in that area.
Os textos de especialistas em história, antropologia, sociologia Texts by specialists in history, anthropology, sociology, and der-
e dermatologia são complementados pelo registro fotográfico de matology are complemented by photographic records of Brazilian citi-
cidadãos brasileiros, especialmente crianças e idosos de diferentes zens, especially children and the elderly from different parts of the
regiões do país, feito por profissionais de renome que se preocupa- country, produced by renowned professionals who endeavored to evi-
ram em evidenciar, por meio dos mais diferentes traços biológicos, dence, by means of the most diverse biological traits, the miscegenation
os processos de miscigenação e aculturação que marcam a consti- and acculturation processes that mark the ethnical constitution and
tuição étnica e o retrato do Brasil atual. the current portrait of Brazil.
Boa leitura e boas descobertas a todos. Enjoy your reading and your findings.
Tempo&Memória / Arte do Tempo Tempo&Memória / Arte do Tempo
Sumário
Table of Contents
A utopia do progresso e da modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Harmony and Conflict in the Colors of Ethnical Brazil: From Real to Symbolic. . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Laços de família : etnias do Brasil = Family ties : Skin and Life in the Flow of Time. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
ethnic groups in Brazil / organização da
Editora ; [versão para o inglês Luiz Antonio Marcio Scavone. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Pedroso Rafael]. – São Paulo : Tempo & Memória,
2012. Ary Diesendruck.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
11-14110 CDD-306.089698
Avenida Central, no Rio de Janeiro, na década de 1910. Avenida Central in Rio de Janeiro in the 1910s.
Foi um dos símbolos da reurbanização comandada pelo It was one of the symbols of the reurbanization led by Mayor
prefeito Francisco Pereira Passos, entre 1902 e 1906. Francisco Pereira Passos between 1902 and 1906.
11
10
LAÇOS DE FAMÍLIA: ETNIAS DO BRASIL
que simbolizava o medo de uma limpeza não só urbana comunidade científica. MARTELLI, Celina Maria Turchi; STEFANI, Mariane Martins de Araújo; PENNA, Gerson Oliveira; ANDRADE, Ana Lúcia S. S.
“Endemias e epidemias brasileiras, desafios e perspectivas de investigação científica: hanseníase.” Revista Brasileira de Epidemio-
logia, v. 5, nº- 3, 2002.
MOTA, André. Quem é bom já nasce feito: sanitarismo e eugenia no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
NAVA, Pedro. Território do Epidauro. Crônicas e história da história da medicina. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
Saga: A grande história do Brasil. São Paulo: Abril Cultural, v. 5, 1981.
STEPAN, Nancy Leys. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
THIELEN, Eduardo Vilela et al. A ciência a caminho da roça: imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do
Brasil entre 1911 e 1913. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1991.
19
18
Imagem da Avenida Paulista, em São Paulo, projetada pelo View of Avenida Paulista in São Paulo, designed by engineer
engenheiro Joaquim Eugênio de Lima e inaugurada em 1891. Joaquim Eugênio de Lima and inaugurated in 1891.
23
22
LAÇOS DE FAMÍLIA: ETNIAS DO BRASIL
Avenida Beira-Mar, próximo à Lapa, no Rio de Janeiro. Avenida Beira-Mar, near Lapa neighborhood, in Rio de Janeiro.
Uma das grandes obras do Plano de Embelezamento da Cidade, A major effort in the City Embellishment Plan, carried out by
promovido pelo prefeito Pereira Passos no início do século XX. Mayor Pereira Passos in the early 20th century.
A entidade buscava reconhecimento como espaço de con-
27
26
33
32
Motta, assistente da Seção Técnica Geral de Saúde Pública, Secretaria da Saúde do Estado, na gestão do professor Walter fontes de infecção e evitar sequelas. CHALHOUB, Sidney. Cidade febril – Cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
elaborou um plano para a tentativa de recuperar a centrali- Leser. Foi também Rotberg quem propôs a mudança do Atualmente, o Brasil apresenta resultados que de- COSTA, Dilma Avellar Cabral da. “Entre ideias e ações: medicina, lepra e políticas públicas (1894-1934)”. Niterói: ICHF – Universida-
dade perdida na reforma anterior. A maioria dos estabele- nome da doença de “lepra” para “hanseníase” e providen- monstram tendência de declínio da prevalência em con- de Federal Fluminense, 2007. Tese de doutorado.
cimentos construídos a partir do plano começou a funcio- ciou a substituição do termo em todos os documentos ofi- sonância com os demais países endêmicos, sendo que a CUNHA, Vivian da Silva. “Centro Internacional de Leprologia: ciência, saúde e cooperação internacional no Brasil do entreguerras
nar na década de 1940, quando já estava em operação o ciais para afastar o estigma do nome da doença, que poderia distribuição da doença em todo o país é desigual entre (1923-1939)”. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2011. Tese de doutorado.
Serviço Nacional de Lepra, do Departamento Nacional de levar o doente a ocultá-la, impedindo o tratamento e man- regiões e Estado. HOCHMAN, Gilberto. A era do saneamento: as bases da política de Saúde Pública no Brasil. São Paulo: Hucitec/Anpocs, 1998.
Saúde, criado em 1941, quando a lepra passou a ter uma tendo a endemia. A proposição de Abrahão Rotberg alcan- Somada aos programas de controle de prevenção, MACHADO, Maria Helena; VIEIRA, Ana Luiza Stiebler (coords.). Perfil dos dermatologistas no Brasil: relatório final. Rio de Janeiro:
avaliação mais ampla e sistemática, que há muito era exigi- çou mais tarde todo o país, por meio da Lei Federal nº- 9.010, destaca-se a importante contribuição das pesquisas cientí- Sociedade Brasileira de Dermatologia, 2003.
da, diante da gravidade da doença. de 29 de março de 1995, que tornou obrigatória a utilização ficas na área de imunologia, biologia molecular e sequen- MACIEL, Rosa Laurindo. “Em proveito dos sãos, perde o lázaro a liberdade: uma história de políticas públicas de combate à lepra no
do termo "hanseníase", e vocábulos derivados, em todos os ciamento genômico do M. leprae, importantes ferramentas Brasil (1941-1962)”. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2007. Tese de doutorado.
A hanseníase entre nós documentos oficiais do governo federal. Com a mudança do de diagnóstico, prognóstico e vigilância. A relevância de Manual de leprologia. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Lepra – Ministério da Saúde, 1960.
Atualmente, e já desde a década de 1950, o tratamento nome, buscava-se afastar as fantasias e os preconceitos investimentos na área de produção de conhecimento está MARTELLI, Celina Maria Turchi; STEFANI, Mariane Martins de Araújo; PENNA, Gerson Oliveira; ANDRADE, Ana Lúcia S. S.
da doença é feito em nível ambulatorial. O internamento contra a moléstia, além de favorecer a educação para a saúde. cada vez mais evidente na dura batalha para a erradicação “Endemias e epidemias brasileiras, desafios e perspectivas de investigação científica: hanseníase.” Revista Brasileira de Epidemio-
compulsório dos acometidos de hanseníase foi abolido por As pesquisas de Rotberg nas áreas da alergia e imunologia da doença, na medida em que esses investimentos garan- logia, v. 5, nº- 3, 2002.
lei, em todo o Brasil, em 1954, exigindo mudanças nas polí- da hanseníase projetaram-no mundialmente. Hoje, é de tem a viabilização e a compreensão de mecanismos de SEVCENKO, Nicolau. A literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1999.
ticas de controle da doença. Mas a extinção do isolamento fundamental importância que as pessoas acometidas pela transmissão, métodos de prevenção e controle. SOUZA-ARAUJO, Heraclides Cesar. História da lepra no Brasil. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, v. I, II e III, 1956.
SOUZA, Letícia Pumar Alves de. “Sentidos de um ‘país tropical’: a lepra e a Chaulmoogra brasileira”. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo
Cruz, Casa de Oswaldo Cruz, 2009. Dissertação de mestrado.
SOUZA, Vanderlei Sebastião. “Em nome da raça: a propaganda eugênica e as ideias de Renato Kehl nos anos 1910 e 1920”. Revista de
História Regional, 11(2): 29-70, Inverno, 2006.
TELLAROLLI JUNIOR, Rodolpho. Poder e saúde: as epidemias e a formação dos serviços de saúde em São Paulo. São Paulo: Editora da
Unesp, 1996.
39
Family ties: ethnic groupS in brazil
T
Society, Health, and Medicine
To some extent, a science tends to reflect the social set of cir- by the international scientific community of research studies decimated hundreds of workers. As the negative image of
cumstances that it deals with. That was no different with conducted by Brazilian physicians aroused considerable in- the country was disseminated, some countries started dis-
medicine in Brazil. We may identify three historical phases of terest in the development of prophylactic efforts. Brazilian couraging and even prohibiting their nationals from emi-
medicine: treatment by shamans, prescientific, and scientific physicians started getting information straight from the grating to Brazil. Public health situation was very far from
medicine. In the first phase, the protagonists were the indige horse’s mouth by exposing themselves to actual and well-de- the intended ideal of modernity; thus government efforts
nous people, missionaries, licensed medical practitioners, veloped circumstances in Europe and then adapting them to and actions were mostly aimed at improving the country’s
and people holding a diploma. The indigenous people contri- their local situation. After debates sparked off by Gazeta, five image in the international scenario.
bution prevailed for over two hundred years, as missionaries Brazilian physicians participated in the 1st World Congress In 1890, the government created its Public Health
adapted it to the methods of European medicine, up to the on Dermatology and Syphilography, held in Paris in 1889, Council and the Terrestrial Sanitary Service to address public
massive entry of African slaves whose endemic diseases from among them, Bruno Chaves, author of Mercúrio e seus sanitation issues and fight transmissible and endemic diseases
Sede da Fundação Oswaldo Cruz, their own continent were added to local endemics. In the late decompostos, who was then nominated for membership at and epidemics, but the work of the government in the health
em prédio projetado pelo 18th century, barbers, pharmacists, and some physicists dis- the Société Française de Dermatologie et de Syphiligraphie. area was determined for a long time by the 1891 Constitution
arquiteto português Luiz de Moraes pensed medical care in Brazil. Oswaldo Cruz and Instituto de Manguinhos marked that granted autonomy to states and municipalities, as a re-
Júnior com base nos croquis do The second phase began with the arrival of the royal the moment when research abandoned its predominantly sult of a pact with oligarchies. Up to 1910, health problems in
sanitarista Oswaldo Cruz. Portuguese family, when the development of the colony bibliographic character in favor of an academic production the country had not been politically prioritized in the national
occurred in leaps and bounds to preserve European-style to identify causes, diagnoses, and treatment of unknown agenda, and studies and research were restricted to special-
Seat of Oswaldo Cruz Foundation civility. The creation of two surgery schools, one in Salvador diseases. The professor and researcher figures emerge. ized places as Instituto Oswaldo Cruz and Instituto de Man-
in a building designed by Portuguese and the other in Rio de Janeiro, increased opportunities for guinhos, which made themselves heard in the event of sanitary
architect Luiz de Moraes Júnior specialized practice – pharmacist, midwifery, and physi- Public health in the Old Republic crises caused by the disorderly growth and the precarious
based on sketches drawn by public cian – and medicine was then deemed a trade, drawing The devastating epidemics of yellow fever, smallpox, living conditions of the poorer and outcast population.
health officer Oswaldo Cruz. significant interest in the scientific study of the diseases that and cholera that ravaged Brazil thwarted its consolidation In the context of the reforms Oswaldo Cruz imple-
plagued the population, as syphilis, leprosy, and bubo, the as a modern and civilized state, and delayed the national mented, relevant scientists, whose works were fundamental
greatest evil in colonial Brazil. identity-building process. In Rio de Janeiro, the inefficiency to set a health policy, came to the stage. Ideological and sci-
The early 20th century marked a scientific phase in of old urban structures to meet new demands could be de- entific clashes started shaping a new profile for science and
which physicians played an important role in the search for tected, among other aspects, in the clusters of people in nox- encouraging reforms in such a way that in the early 20th cen-
national identity, and public health policies started being in- ious areas, permanent sources of diphtheria, tuberculosis, tury the public health officer took on a central role in the
troduced in the planning of cities and rural areas as a means malaria, leprosy, typhoid fever, and other endemic diseases health area, being directly responsible for sanitary efforts, a
of waging a systemic fight against diseases. that ravaged the mestizo population. In São Paulo, in addi- symbol of the State efforts.
From the second half of the 19th century onwards, as a tion to the city facing a similar situation to that of the Traditional medicine and the press shared their criticism
result of major advancements in medical schools, the publica- federal capital, the precarious conditions provided by coffee of the new medicine that adopted the innovations coming
tion of Gazeta Médica da Bahia in 1866, and the recognition farmers to immigrants favored successive epidemics that from Europe, thus polarizing the debate. On one side, Rio de
varicose veins (Eduardo Rabello); iodine treatment of leg
41
40
43
42
45
44
perfect action in areas densely populated by those insects, der the item “General prevention of infectious diseases,” of
thus fueling the debate. Dr. Belmiro Valverde, after extolling Decree #5156, that was part of the regulation of the sanitary
LAÇOS DE FAMÍLIA: ETNIAS DO BRASIL
47
46
direction of leprologist Heraclides Cesar de Souza-Araujo with the creation of new dispensaries that provided outpa- highest incidence of the disease – it is still the only country in CARRARA, Sérgio. Tributo a Vênus: a luta contra a sífilis no Brasil, na passagem do século aos anos 40. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996.
until 1950, gained a new impetus with the creation of the tient care to investigate new cases and follow suspect cases, Latin America that has not managed to eradicate it. CHALHOUB, Sidney. Cidade febril – Cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Centro Internacional de Leprologia, as a result of negotia- which would be placed in a hospital, should the diagnosis be Expressions as “the decline of prevalence,” “elimination COSTA, Dilma Avellar Cabral da. “Entre ideias e ações: medicina, lepra e políticas públicas (1894-1934).” PhD thesis, Niterói:
tions between the Brazilian government and the League of confirmed. With the end of compulsory isolation, lepers were of Hansen’s disease in the world,” “short-duration outpatient ICHF – Universidade Federal Fluminense, 2007.
Nations. Its first director was Carlos Chagas who, after his free to leave their sanatoria, and their treatment could be treatment,” and “cure” have been embedded in current con- CUNHA, Vivian da Silva. “Centro Internacional de Leprologia: ciência, saúde e cooperação internacional no Brasil do entreguerras
death, was succeeded by Eduardo Rabello. provided through health centers. But after decades of segre- ceptions as opposed to the stigmas relating to that disease (1923-1939).” PhD thesis, Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2011.
Further stability to public health was granted in 1934, gation, many patients chose to remain in leprosaria, because until the mid-20th century. HOCHMAN, Gilberto. A era do saneamento: as bases da política de Saúde Pública no Brasil. São Paulo: Hucitec/Anpocs, 1998.
when Gustavo Capanema assumed the Ministry of Educa- they had no other place to go or means to survive in society. Thus, health policies have been devised to guide pro- MACHADO, Maria Helena; VIEIRA, Ana Luiza Stiebler (eds.). Perfil dos dermatologistas no Brasil: relatório final. Rio de Janeiro:
tion and Public Health. However, as statistics showed an in- In the wake of the changes required by the disease, pre- grams aimed at controlling Hansen’s disease, based on early Sociedade Brasileira de Dermatologia, 2003.
sufficient number of specialized sanatoria and hospitals to vention methods were modified together with leprosy control detection and the immediate care of new cases to eliminate MACIEL, Rosa Laurindo. “Em proveito dos sãos, perde o lázaro a liberdade: uma história de políticas públicas de combate à lepra no
house lepers, a national plan to fight the disease was develop policies based on decentralization of care and on the increase sources of infection and aftereffects. Brasil (1941-1962).” PhD thesis, Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2007.
ed. In the following year, as appointed by Capanema, João of population coverage. In 1964, the federal government Currently, Brazil has shown results that substantiate a Manual de leprologia. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Lepra – Ministério da Saúde, 1960.
declining trend in the prevalence of the disease in agreement MARTELLI, Celina Maria Turchi; STEFANI, Mariane Martins de Araújo; PENNA, Gerson Oliveira; ANDRADE, Ana Lúcia S. S.
with other endemic countries, the distribution of the disease “Endemias e epidemias brasileiras, desafios e perspectivas de investigação científica: hanseníase.” Revista Brasileira de Epidemio-
being uneven from region to region and state to state. logia, v. 5, no. 3, 2002.
As a reinforcement to prevention control programs, SEVCENKO, Nicolau. A literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1999.
scientific research has made an important contribution to SOUZA-ARAUJO, Heraclides Cesar. História da lepra no Brasil. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, v. I, II, and III,
the fields of immunology, molecular biology, and genomic 1956.
sequencing of the M. leprae, valuable diagnostic, prognostic, SOUZA, Letícia Pumar Alves de. “Sentidos de um ‘país tropical’: a lepra e a Chaulmoogra brasileira.” Master’s degree thesis, Rio de
and vigilance tools. Relevant investments in the knowledge- Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, Casa de Oswaldo Cruz, 2009.
producing area have become increasingly visible in the hard SOUZA, Vanderlei Sebastião. “Em nome da raça: a propaganda eugênica e as ideias de Renato Kehl nos anos 1910 e 1920”. Revista de
battle to eradicate the disease, insofar as they provide a via- História Regional 11, no. 2 (winter 2006): 29–70.
ble option in understanding modes of transmission and TELLAROLLI JUNIOR, Rodolpho. Poder e saúde: as epidemias e a formação dos serviços de saúde em São Paulo. São Paulo: Editora da
facilitating prevention and control methods. Unesp, 1996.
49
Family ties: ethnic groupS in brazil
Ensaio sobre a pele
Renato da Silva Queiroz
Projeta-se em nossa pele, como se fora sobre uma tela, a a distância, os “macacos nus” de outras espécies primatas, e A mansidão humana
gama variada das experiências de vida; emergem as distinguindo, mais de perto, as suas fêmeas imberbes dos A relativa fragilidade da pele humana, esse tecido fino e
emoções, penetram os pesares, a beleza encontra sua machos de faces peludas (Morris, 2005). delicado, desprovido de pilosidade espessa, cuja cicatrização
profundidade. Macia, lisa, alimentando a vaidade da ju- A rarefação da pelagem, esclarece Montagu (1981), é lenta – em comparação com a dos chimpanzés, por exem-
ventude, a pele posteriormente enrugada atesta a passa- deve ter tido valor adaptativo para os nossos ancestrais na plo –, constitui claro indício de que não fomos fortemente
E
gem dos anos. Radiante na saúde, sente um formiga- medida em que contribuiu decisivamente para a regula- afetados por pressões seletivas para resistir a ferimentos.
mento ao toque amoroso. gem térmica do corpo1. Todavia, o autor tampouco se es- Além da vulnerabilidade cutânea, diversas outras
Ashley Montagu quece da importância dessa característica cutânea para os características, precocemente selecionadas em nossa trajetó-
processos de atração e seleção sexual, visto que a nossa ria evolutiva – caninos discretos, braços encurtados, mãos
O macaco nu pele “nua”, extremamente sensível ao toque, destaca-se delicadas, pequena força da mordida, equilíbrio precário em
Em A evolução da humanidade, o célebre antropólogo como poderosa fonte de estímulos eróticos. “Na fase de razão da postura bípede, acanhada massa muscular do pes-
Richard Leakey enumera um conjunto de características sin- excitação sexual, toda a qualidade sensorial da pele está coço, gracilidade óssea, reduzida força muscular etc. –, tra-
gulares da subespécie Homo sapiens sapiens, destacando o intensificada. Sensações que em circunstâncias ordinárias duzem um enfraquecimento anatômico para a luta corporal.
caminhar bípede, incomum entre os mamíferos, e o formato seriam dolorosas geralmente se tornam muito agradáveis”, Essa fragilidade resultou de um decréscimo significativo da
arredondado da cabeça, que, diferentemente dos demais pri- como as produzidas por beliscões, apertos, mordidas sua- agressividade intragrupal, pois o incremento das formas de
matas, porta um cérebro volumoso e uma face achatada, ves e arranhões (Montagu, 1988: 223). cooperação favoreceu a atenuação do padrão hierárquico
com proeminente nariz voltado para baixo. Outro “mistério” Crânio abalonado, rosto achatado e pele glabra, típico dos primatas ancestrais (Ribeiro, Bussab e Otta, 2009).
da evolução humana, assinala o autor, diz respeito à aparente ademais de muitos outros traços típicos dos humanos, Em divergência com outros primatas, evoluímos
nudez da nossa pele, que nos diferencia dos antropoides por como bem observou Waal (2007), constituem caracterís- compartilhando alimentos em um ambiente social pací-
não exibir uma pelagem espessa: “O pelo do corpo humano ticas morfológicas neotênicas2, pois derivam da lentidão fico e igualitário, e o fizemos no interior de agrupamentos
é abundante, mas extremamente fino e curto, de modo que, do processo de maturação que nos distingue de outros bem configurados, nos quais a cooperação entre homens
para fins práticos, estamos nus”. Essa “nudez” estaria relacio- primatas (Futuyama, 1992). caçadores e mulheres coletoras parece ter desempenhado
nada à nossa capacidade de suar, inigualável entre os prima- decisivo papel na emergência da sociabilidade distintiva
tas, proporcionada pelas numerosas glândulas sudoríparas dos humanos modernos. O emprego de armas despon-
localizadas na pele (Leakey, 1982: 18). 1. A pele é um órgão multifuncional: base do tato, fonte de informa- tou, de início, como uma adaptação à animosidade extra-
Nas savanas africanas, ambiente em que o gênero ções e mediadora de sensações, protetora do organismo na medida em
grupal3, e não para a resolução de conflitos intragrupais
que constitui uma barreira entre ele e o ambiente externo, sintetizadora
Homo evoluiu no decorrer de milhões de anos como prima- da vitamina D, entre diversas outras funções. (Ribeiro, Bussab e Otta).
ta bípede, uma densa cabeleira protegia os nossos ancestrais 2. Neotenia é o processo por meio do qual traços fetais e/ou juvenis de
dos escaldantes raios solares, ao passo que o corpo “pelado” espécies ancestrais ou de nossa própria espécie são retidos nos estágios
do desenvolvimento do indivíduo, etapas que se sucedem lentamente 3. Cabe observar que as ideias sustentadas pela psicologia evolucionis-
os favorecia, resfriando-os graças ao suor. Tomando-se esse (Montagu, 1981). São traços neotênicos, entre outros: cabeça grande, ta e pela antropologia são coincidentes quanto a esse aspecto. Clastres
ambiente como cenário evolutivo, mostra-se igualmente ve- rosto achatado, formato arredondado da cabeça, rosto e dentes peque- (1980), por exemplo, referindo-se aos nativos das terras baixas da
nos, ossos cranianos finos, fechamento tardio das suturas cranianas, América do Sul, ressalta que as conflituosas relações intertribais desses
rossímil o argumento de que o peculiar padrão capilar hu- unhas delicadas, relativa ausência de pelos, prolongado período de edu- povos contrastam com a natureza pacífica do ambiente interno aos
mano constituiu um importante sinal visual, diferenciando, cação e ludicidade. grupos locais (ou aldeias).
parto normal e a termo têm seus sistemas imunológicos pescoço, aos mamilos etc. Além disso, não se deve esquecer
ativados mais precocemente e tendem a se tornar indiví- dos agradáveis e estimulantes odores que a pele secreta e
duos mais seguros e menos estressados. A propósito, exala. Em outras palavras, toda a extensão da pele é uma
Montagu (1988) assinala que a expressão francesa “un zona erógena5.
ours mal léché” – “um urso mal lambido” – descreve uma As carícias preliminares, que exploram diversas
pessoa desajeitada, canhestra, grosseira, em suas relações partes do corpo, executadas por meio das mãos, dos
com os outros. lábios e da língua, mostram-se tão mais prolongadas e
As contrações uterinas do trabalho de parto dão iní- irrestritas quanto mais íntimos e afetivamente ajustados
cio às carícias ofertadas ao bebê, que se multiplicam com os se sentem o(a)s parceiro(a)s. Portanto, não seria descabido
cuidados a ele dispensados pela mãe. O seu íntimo contato concluir que as relações sexuais proporcionam uma densa
com a figura materna se acentua durante as sessões de alei- e intensa comunicação tátil entre os que se enlaçam no
tamento e também por ocasião dos banhos e outros proce- diálogo do amor.
dimentos de higiene corporal, oportunidades em que a
pele do bebê é friccionada e acariciada. A humanização do corpo
O bebê se sente seguro e acolhido aninhando-se no Apenas os seres humanos modificam voluntaria-
colo materno. Quando é transportado e embalado para mente o próprio corpo, ornamentando-o e introduzindo
que durma ou deixe de chorar, ouve da mãe palavras sua- nele alterações radicais e irreversíveis – extração de dentes,
vemente pronunciadas. “O ser humano pode sobreviver deformação craniana, excisão de clitóris, entre outras –
a privações sensoriais extremas de outra natureza, como a ou temporárias e reversíveis, como é o caso das depi-
visual e a sonora, desde que seja mantida a experiência lações e pinturas corporais (Rodrigues, 1975). Essas
sensorial da pele”, sustenta Montagu (1988: 106). Por isso, alterações, sujeitas a grande variabilidade porque se
os bebês privados de contatos com a mãe, ou que não processam no âmbito de grupos sociais específicos, cada
foram carinhosamente tocados ou acariciados, costumam qual com sua cultura, marcam e reafirmam status, iden-
enfrentar entraves físicos e emocionais nas fases de desen- tidades nacionais, etárias, religiosas, ocupacionais, de
volvimento subsequentes. classe, de gênero etc.
Se as carícias e estimulações cutâneas são essenciais
ao bebê, também não se mostram menos significativas na
idade adulta, particularmente nas interações amorosas. 5. “Um pedaço de pele com aproximadamente 3 centímetros de diâme-
tro contém mais de 3 milhões de células, entre 100 e 340 glândulas sudo-
Em nenhuma outra relação a pele é tão profunda e exten- ríparas, 50 terminações nervosas e 90 centímetros de vasos sanguíneos.
samente envolvida como na relação sexual. As zonas eró- Estima-se que existam em torno de 50 receptores por 100 milímetros
quadrados, num total de 640.000 receptores sensoriais. [...] O número
genas do corpo não se restringem aos órgãos genitais, mas de fibras sensoriais oriundas da pele que entram na medula espinhal
se estendem aos lábios, aos lóbulos da orelha, à região do [...] é superior a meio milhão” (Montagu, 1988: 24-25).
57
56
LAÇOS DE FAMÍLIA: ETNIAS DO BRASIL
I
later bears a wrinkled witness to the toll of years. Radiant from a closer distance, their hairless females from the slow – as compared to that of the chimpanzee, for example –
in health, it tingles to the affectionate touch. hairy-faced males (Morris 2005). is a clear indication that we have not been deeply affected by
Ashley Montagu The scarcity of fur, as Montagu (1981) points out, must selective pressures to resist to wounds.
have had an adaptive value for our ancestors, insofar as it In addition to cutaneous vulnerability, a number of
The naked ape contributed decisively to the temperature regulation of the other characteristics that were precociously selected in our
In The Making of Mankind, Richard Leakey, a renowned body.1 However, the author does not overlook the importance evolutionary path – discreet canine teeth, shortened arms,
anthropologist, lists a set of unique characteristics of the of that cutaneous property to the processes of sexual attrac- delicate hands, reduced biting strength, precarious balance
Homo sapiens sapiens subspecies, pointing out the bipedal tion and selection, since our “naked” skin, being extremely as a result of our bipedal posture, modest neck muscle
walking, that is uncommon among mammals, and his sensitive to touch, stands out as a powerful source of erotic mass, graceful bone framework, reduced muscle strength,
round-shaped head, which, differently from the remaining stimuli. “In sexual arousal the whole sensory character of etc. – translate into an anatomic weakening for hand-to-
primates, carries a voluminous brain and a flattened face the skin is heightened. Sensations that under ordinary cir- hand fighting. That fragility emerged as a result of a signifi-
endowed with a prominent nose turned downwards. Another cumstances would be painful often become intensely plea- cant decrease in intragroup aggressiveness, as an increment
“mystery” of human evolution, as the author points out, surable,” such as those produced by pinching, squeezing, soft in ways of cooperation favored the attenuation of the typi-
concerns the apparent nudity of our skin, which differentiates biting, and scratches (Montagu 1986, 229). cal hierarchical pattern of ancestral primates (Ribeiro,
us from anthropoids because it is devoid of thick fur: A ballooned skull, a flattened face, and glabrous skin, Bussab, and Otta 2009).
“Human body hair is very plentiful, but it is extremely fine in addition to many other typical human traces, as ade- Differently from other primates, we evolved by sharing
and short so that, for all practical purposes, we are naked.” quately observed by Waal (2007), constitute neotenic mor- food in a social, peaceful, and equalitarian environment,
That “nudity” would be related to our sweating capacity, phological traits,2 because they derive from the sluggishness and did it inside adequately established groupings, in which
unparalleled among primates, provided by numerous sudo- of the maturating process that distinguishes us from other cooperation among hunting men and gathering women
riparous glands located in the skin (Leakey 1981, 18). primates (Futuyama 1992). seems to have played a decisive role in the emergence of the
In the African savannah, the environment in which distinctive sociability of modern human beings. The use of
the Homo gender evolved in the course of millions of years weapons emerged initially as an adaptation to extra-group
as a bipedal primate, a thick head of hair protected our 1. The skin is a multifunctional organ: the basis of tact, source of infor- hostility,3 and not to solve intragroup conflicts (Ribeiro,
mation, and a mediator of sensory stimuli, protecting our organism,
ancestors from the scalding sun, while his “naked” body Bussab, and Otta).
insofar as it creates a barrier between it and the external environment, a
benefited from the cooling effect of transpiration. The as- synthesizer of vitamin D, among other functions.
sumption that such environment was the evolving scenario 2. Neoteny is a process through which the fetal and/or juvenile traces
gives rise to an equally verisimilar argument that the of either ancestral species or our own species are retained in an indivi- 3. It should be stressed that the ideas supported by evolutionist psycho-
dual development stages; phases that take place slowly (Montagu 1981). logy and by anthropology are coincident in that aspect. Clastres (1980),
Neotenic traces include, among others: a large head, a flattened face, a for example, when referring to the natives of lowlands in South Ame-
* Excerpts of works published originally in Portuguese have been freely round-shaped head, small face and teeth, thin cranial bones, a tardy rica, emphasizes that the conflicting tribal relations of those people
translated into English by the translator and been kept in Portuguese lock up of cranial sutures, delicate nails, a relative absence of hair, a contrast with the peaceful nature that extends from the internal envi-
throughout the text. prolonged educational period, and playfulness. ronment to local groups (or villages).
63
62
4. T.N.: “In effect, Cecília had a dazzling fairness at that moment. Her
still moist hair would let a drop of moisture run down and hide in the
hollow between her linen-robed breasts; her skin was fresh as if milky
waves had run over her shoulders; her vivid cheeks as two rose-colored
thistles blossoming in the sunset.”
65
64
LAÇOS DE FAMÍLIA: ETNIAS DO BRASIL
69
Family ties: ethnic groupS in brazil
do Brasil étnico: do real ao simbólico
O
João Baptista Borges Pereira
O Brasil é hoje proclamado e autoproclamado orgulhosa- facção terrorista Shindo Renmei, nascida do resultado do Já a categoria indígena, a última na escala do IBGE,
mente o país da diversidade étnica. Tal diversidade foi conflito mundial. De um lado estavam os chamados desliza do critério de cor – que é fundamentalmente bioló-
sendo construída historicamente, aos poucos, desde o “derrotistas”, os que aceitavam como verdadeiras as infor- gico-racial – para o plano étnico-cultural. Essa quebra de
descobrimento até os dias atuais. De início, o indígena – mações de que o Japão fora derrotado; de outro, situa- princípio classificatório em termos de cor de pele expli-
habitante original do território –, com sua pele amarela- vam-se os “vitoristas”, que não aceitavam tal fato. Dessa ca-se tanto pelo grande número e ampla diversidade dos
da, um tanto indefinida, às vezes rotulada pejorativamen- aceitação-não aceitação brotou a Shindo Renmei, que grupos indígenas ainda existentes no país como pela difi-
te de “gente cor de cuia”. Nos inícios do século XVI chega passou a assassinar os “derrotistas” Brasil afora. Hoje, culdade em nominar as cores ou a cor desse Brasil tão
da península Ibérica o colono branco português. Logo superada essa fase, a colônia ganhou visibilidade plena na presente na história e tão ausente do cotidiano de certas
depois vêm se juntar aos indígenas e aos ibéricos os pre- vida nacional. Seus descendentes ocupam status expressi- áreas do país. Perdura ainda no imaginário nacional o
tos vindos de várias partes da África negra, aprisionados vos em todos os setores da estrutura social, o que colabora índio idealizado pelo romantismo dos séculos anteriores.
pelo sistema escravocrata, que foi eliminado somente no para redefinir a imagem negativa com a qual se represen- A representação popular permeada de simbologia
final do século XIX. tavam os amarelos no país (Mita, 1999). encarrega-se de nuançar ainda mais essa diversidade capta-
A essa trindade de cores, rotulada até a atualidade de Essa composição que tinge o Brasil de quatro cores da ou aprisionada pelo censo. À guisa de exemplo podem-se
alicerce do Brasil étnico, acrescentou-se em 1875 (data- entra pelos caminhos dos meios-tons, dado o histórico citar as resultantes de pesquisa de campo realizada por um
-símbolo) novas levas de populações brancas. Esse desenho processo de miscigenação entre esses segmentos popula- antropólogo norte-americano (Harris, 1967: 93). Esse
de cores (indígenas, brancos e negros) apenas é desman- cionais. Atualmente, o censo brasileiro capta e enquadra autor detecta quarenta expressões populares para designar
chado em 1908, com a chegada de imigrantes classificados esse painel de cores em cinco categorias: branco, preto, par- no Brasil o que o censo categoriza como branco, preto e
numa quarta cor: a amarela. É grande o fluxo imigratório do, amarelo e indígena. Para melhor compreender essas pardo: “branco, preto, sarará, moreno claro, moreno escuro,
representado, de início, pelos japoneses, e hoje, a partir da categorias é necessário decompô-las e daí extrair o que pre- mulato, moreno, mulato claro, mulato escuro, negro, cabo-
II Guerra Mundial, pelos chineses e, principalmente, pelos tendem anunciar e o que eventualmente venha a esconder clo, escuro, cabo-verde, claro, araçuaba, roxo, amarelo,
coreanos. Para que a trindade de cores primordial fosse cada uma das categorias censitárias: “branco, preto, amare- sarará escuro, cor de canela, preto claro, roxo claro, cor de
desfigurada pelos novos imigrantes foi preciso passar por lo”. Tais categorias retêm apenas a cor da pele predominan- cinza, vermelho, caboclo escuro, pardo, branco sarará,
cima do Decreto nº- 528, do primeiro presidente da Repú- te de indivíduos para colocá-los em grupos “étnico-raciais” mambembe, branco caboclado, moreno escuro, mulato
blica, que abria os portos brasileiros a todos os povos, com específicos, ignorando a eventual diversidade que cada um sarará, gazula, cor de cinza claro, crioulo, louro, moreno
exceção dos “nativos da África e da Ásia”. desses grupos contém. A categoria pardo é um rótulo que claro caboclado, mulato bem claro, branco mulato, roxo de
Sobre os asiáticos, no caso os japoneses, pairava a seve para englobar as cores misturadas pelo processo de cabelo bom, preto escuro, pelé”.
ideia de que eram gente desconhecida, formadora de mestiçagem. Nessa categoria, que mais se assemelha a “um Registre-se que nessas expressões de cores dos brasi-
“quistos” étnicos, traiçoeira, perigosa. Enfim, esses imi- saco de gatos”, estão englobados os mulatos de vários tons, leiros, que extrapolam as categorias censitárias, entram
grantes eram vistos como “perigo amarelo” (Dezem, resultantes da miscigenação entre os brancos e pretos; o tanto a autoavaliação como a exoavaliação. A pergunta que
2005). Essa ideia recheada de estereótipos negativos foi mameluco, produto do cruzamento entre brancos e índios; se coloca é: por que a autodefinição e a definição do outro
Morador do interior do Rio Grande do Norte, Inhabitant of the interior of Rio Grande do Norte, reforçada, após a II Guerra Mundial, pela ação violenta da o cafuzo, da união genética entre brancos, negros e índios. se distanciam. Segundo estudiosos das relações raciais no
região Nordeste do Brasil, nos anos 1970. in the Northeast of Brazil, in the 1970s.
Imagem de carnaubal cearense, nos anos 1950. Típica da região nordestina, View of a Brazilian carnauba palm plantation in the 1950s. Being typically found
a carnaúba é uma palmeira utilizada para construir casas, confeccionar in the Northeastern region of Brazil, the carnauba palm is employed in house
chapéus e sua cera tem larga aplicação na cosmetologia e na farmacologia. building, hat making, and its wax is widely used in cosmetology and pharmacology.
72
LAÇOS DE FAMÍLIA: ETNIAS DO BRASIL
como despovoadas, de fronteiras indefinidas e vulnerá- mocambos), em Aluísio Azevedo (O cortiço), ou em Roger altos e baixos, tenta pedagogicamente “educar” o grupo
veis com países vizinhos. O imigrante que mais se adequou Bastide (Imagem do Nordeste em branco e preto), em Jacques para que melhor possa se movimentar dentro de uma se-
a esse perfil idealizado foi o italiano, pois, além de ser con- Lambert (Os dois Brasis). miurbana sociedade da época (Pinto, 1993).
siderado bom trabalhador agrícola, era branco, compunha Além dessa visão polarizada, binária, que incorpora, No final dessa década, estendendo-se por meados
o mundo ocidental, e, diferentemente do imigrante ale- em maior ou menor grau, o lado racial do brasileiro, o pen- dos anos 1920 daquele século, a população negra, espe-
mão – predominantemente protestante luterano –, chegara samento de Nina Rodrigues inspira, direta ou indiretamen- cialmente do Rio de Janeiro, lança as raízes da música
marcado por forte tradição católica romana e ostentava te, pelos anos afora, grande preocupação de intelectuais e popular brasileira, usando-a para sobressair-se e para
laços de parentesco étnico com a terra que o acolhia: era ou políticos brasileiros pela “normalidade”, pela “eugenia” da denunciar a discriminação de que era vítima, mesmo nas
gostaria de ser latino como o brasileiro. Essa é a explicação população. Atrás dessas preocupações, ou motivando-as, suas atividades lúdicas e no cultivo da sua religiosidade.
– talvez a principal – para justificar a quantidade de imi- está a busca de “prescrições médicas” contra os males da Assim, em 1917, foi gravado o primeiro samba – Pelo tele-
grantes italianos, em torno de 1,5 milhão de indivíduos, nação (Ribeiro, 2010). Entre esses males estava, às vezes mi- fone –, em que Donga, o autor, denuncia tais discrimina-
número inferior apenas ao contingente português. meticamente, a pigmentação negra de grande parte da po- ções legalizadas pelo Estado. Ao longo dos anos 20 e 30
pulação do país. Para usar a linguagem estatística, todo esse (século XX) a música foi o elemento escolhido pelo negro,
A polarização das cores pensamento consistia em correlacionar positivamente as ou o que lhe sobrou, para expressar sua situação de subal-
Esse painel marcado pela diversidade de raças, cores e “anormalidades” detectadas por essa medicina preventiva ternidade social (Borges Pereira, 2001).
culturas, visto hoje como natural, inerente à identidade do com a raça ou com a cor do negro. Mas todo esse processo O segundo instante histórico em que o negro ganha
país, legitimadora que é dessa identidade, chama a atenção do associativo, bem ou mal formulado, não teria existido sem a visibilidade social está ligado ao Movimento Modernista,
pensamento intelectual brasileiro ao findar do século XIX. validação do pensamento de Nina Rodrigues, que estabele- em 1922. Ao tentar construir ou reconstruir a identidade
Deve-se a Raymundo Nina Rodrigues, ou apenas ce, desde o início, correlação entre “anormalidades” e “raça” nacional, esse movimento encontra no negro, enquanto cor
Nina Rodrigues, professor de medicina legal da Universi- (ou cor negra) nos territórios de candomblé da Bahia, que e enquanto cultura, o grande símbolo dessa identidade. Da
dade da Bahia, as primeiras reflexões sobre o tema. Para se constituiu em seu locus de pesquisa empírica. trindade construtora da nossa diversidade, o branco e o ín-
esse autor, influenciado pelas escolas criminológicas italia- dio foram colocados à margem. O primeiro porque era
na e francesa, o Brasil plural de seu tempo poderia, ou Reação das cores estigmatizadas identificado como um tipo de cultura europeizante a ser
deveria, ser reduzido a dois brasis, em larga medida antípo- A história do negro no Brasil é marcada pela persis- redefinida; o segundo porque já havia sido usado, até a
das entre si: o Brasil arcaico, negro e mestiço do Nordeste e o tência e luta desse segmento étnico para se livrar do estig- exaustão, como expressão de brasilidade pelo Romantismo
Brasil progressista e branco das regiões meridionais. No ma associado a seu passado de ser escravizado e à cor de do século XIX. Restou o negro que passa a representar por
fundo, essa dicotomia definia um Brasil de pele branca e sua pele, a fim de ocupar o lugar que julga ter direito na alguns instantes o papel principal da identidade brasileira.
um Brasil de pele negra. Tal interpretação dualista, ainda estrutura social brasileira. Essa luta, com ou sem a cumpli- Porém, o negro que é colocado em cena pelo Movimento
que não tão esquemática por jogar em cena outros fatores cidade do branco, passa por várias fases. Após a abolição, Modernista é o negro-tema, isto é, o negro enquanto ex-
sociais, ganha força em reflexões posteriores, como em logo no início da primeira década do século XX, surge em pressão de cultura. O negro-ator social só surge nos movi-
Gilberto Freyre (Casa-grande e senzala ou Sobrados e São Paulo e em Campinas uma imprensa negra que, com mentos reativos a partir de 1930. Paradoxalmente, quem
75
74
políticas partidárias (Valente, 1986). presários, profissionais liberais, instituições de ensino) intelectuais brancos, com base nas ideias biologizadas de FONSECA, Dagoberto J. “A piada: discurso sutil da exclusão. Um estudo risível no ‘racismo à brasileira’”. PUC-SP, 1994. Mestrado em
3. Estabelecer propostas positivas de valorização para concretizar os ideais desse segmento. A segunda, em Nina Rodrigues. Na fase atual essa redução dualista, biná- ciências sociais,
dos quilombolas, de exaltação do herói mítico Zumbi, de vez da negociação, prefere um estratagema baseado na ria, é feita por militantes negros, pela perspectiva marxis- GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
estímulo e criação da Semana da Consciência Negra; cola- contestação pública e até mesmo no conflito, ao topar ta, com ênfase ao socioeconômico. Em síntese, a partir de GOMES, Nilma Lina. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolo da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
borar para o esmaecimento no imaginário negro e nacional com os entraves sociais à sua projetada trajetória. Desta 1970, o Brasil em branco e preto é redesenhado no plano HARRIS, Marvin. Padrões raciais nas Américas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
do dia 13 de maio como símbolo de uma redenção outor- última estratégia, marcada por anseios de camadas mais político-ideológico por brasileiros que se autodefinem LUCRÉCIO, F. História de um militante da Frente Negra Brasileira. São Paulo, 1987. Mimeo.
gada; exaltar a cultura chamada negra no país, onde se des- carentes do grupo negro, nascem as reivindicações de cotas como indivíduos de pele negra sem nuanças todos ansio- MALATIAN, Teresa M. As cruzadas do Império. São Paulo: Contexto, 1990.
tacam como expressões diacríticas a música, as religiões raciais nas universidades públicas. sos por eliminar os entraves reais e os estigmas simbóli- MELLO, Marina P. A. “Não somos africanos... Somos brasileiros. Povo negro, imigrantismo e identidade paulistana nos discursos da
afro e a fertilização da cultura brasileira a partir das contri- 6. Finalmente, não aceitar a pluralização do movi- cos que historicamente colocaram o “homem de cor” imprensa negra e da imprensa dos imigrantes (1900-1924). Dissensões e interações”. São Paulo: USP, 2005. Tese de doutorado em
buições dos chamados “homens de cor”. mento negro: ele é único, embora comporte várias faces, num quadro, desde sempre, de subalternidade social. De antropologia social.
4. Vigiar, até o policiamento, os meios de comunica- atuando cada qual em seu tempo, cada qual em seu lugar, certa forma, esse redesenho arranha o perfil de uma socie- MITA, C. Bastos: uma comunidade étnica japonesa no Brasil. São Paulo: Humanitas, 1999.
ção de massa, em especial a TV para, a um só tempo, au- cada qual com suas estratégias de luta (Borges Pereira, 2007). dade que se orgulha de sua diversidade étnica, que pode MONTEIRO, John. Negros da terra. Índios e bandeirantes na origem de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
mentar, positivamente, a visibilidade do negro nas telas e Os próprios militantes atuais reconhecem ser essa ser traduzida como diversidade de cores que tingem as NINA RODRIGUES, R. Os africanos no Brasil. 2ª- ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
eliminar, se possível, de uma vez, a imagem negativa do uma agenda ambiciosa, ainda que admitam que a imagem peles dos brasileiros.
NOGUEIRA, Oracy. Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais. São Paulo: T. A. Queiroz, 1985.
PINTO, Regina P. “O movimento negro em São Paulo: luta e identidade”. São Paulo: USP, 1993. Tese de doutorado em antropologia social.
QUEIROZ JR., Teófilo. Preconceito de cor e a mulata na literatura brasileira. São Paulo: Ática, 1975.
RIBEIRO, Paulo Silvino. “Prescrições médicas contra os males da nação – Diálogos de Franco da Rocha na construção das ciências
sociais no Brasil”. Tese de mestrado, Unesp-Araraquara, 2010.
SANTOS, Gislene A. dos. A invenção do ser negro. Um percurso das ideias que naturalizaram a inferioridade dos negros. São Paulo, Rio
de Janeiro: Educ, Fapesp, Pallas, 2002.
SEYFERTH, Giralda. “Construindo a nação: hierarquias raciais e o papel na política e colonização”, in: MAIO, M. C; SANTOS, R. V.
(orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, CCBB, 1996, pp. 38-59.
—. “Colonização, imigração e a questão racial no Brasil”, in: Revista da USP, nº-º 53, 2002, pp. 117-148.
SOARES, Reinaldo da Silva. Vai-Vai – O cotidiano de uma escola de samba. São Paulo: Booklink, 2006.
—. Negros de classe média em São Paulo: estilo de vida e identidade étnica. São Paulo: USP, 2004. Tese de doutorado em antropologia social.
VALENTE, Ana Lúcia E. F. Política e relações raciais. São Paulo: FFLCH-USP, 1986.
79
Harmony and Conflict in the Colors
N
João Baptista Borges Pereira
Nowadays, Brazil is proudly proclaimed and self-pro- negative stereotypes, was reinforced after World War II by On the other hand, the indigenous category, the last
claimed a country of ethnical diversity. Such diversity has the violent action of a terrorist faction known as Shindo one in the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
developed historically, little by little, from its discovery to Renmei, which was born out of the result of that world IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics)1 scale,
the present time. In the beginning, the indigenous Brazilian – conflict. On one side, there were the so-called “defeatists,” or moves from the color criterion – which is fundamentally bio-
the original dweller of the territory – with his yellowish skin those who accepted as true the information that Japan had logic-racial – to the ethnic-cultural sphere. That rupture from
somewhat undefined, sometimes depreciatingly labeled been defeated; on the other, there were the “victorists,” or the classificatory principle based on skin color may be ex-
“gourd-colored people.” In the early 16th century, white those who refused to accept such fact. Shindo Renmei was plained by both the large number and the broad diversity of
Portuguese settlers arrive from the Iberian Peninsula. Soon born out of that acceptance-nonacceptance conflict and the indigenous groups that still exist in this country and by
after that, Negroes coming from various parts of black started murdering “defeatists” all over Brazil. Nowadays, the difficulty to name the colors or the color of this Brazil that
Africa – imprisoned by a slavery system that was abolished having overcome that phase, the Japanese colony earned full is so present in history and so absent from the everyday life
only in the late 19th century – come to join the indigenous visibility in the life of the country. Japanese descendants hold of certain areas in the country. The national imaginary still
Brazilians and the Iberians. expressive status in all sectors of the social structure – which preserves the image of the Indian idealized by the romanti-
In 1875 (symbol-date), new batches of white people has contributed to redefine the negative image of the yellow cism of previous centuries.
were added to that color trinity, that has been known as people in this country (Mita 1999). The symbology-charged popular representation under
“the foundation of ethnical Brazil” up to the present time. The blend that tints Brazil in four colors takes paths of takes to add further shades to the diversity collected or im-
That color drawing (indigenous Brazilians, whites, and halftones, given the history of the miscegenation process prisoned by the Brazilian census. As examples, one may
Negroes) is undone only in 1908, with the arrival of im- among those populational segments. Currently, the Brazi mention the results of a field research carried out by an
migrants classified in a fourth color: yellow. The immigra- lian census gathers and classifies that color panel into five American anthropologist (Harris 1967, 93). That author
tion flow was intense and was initially represented by the categories: white, black, light brown, yellow, and indige- finds forty popular expressions to name what the census
Japanese, and today, as of World War II, by the Chinese nous. For a better understanding of those categories, it is classifies as white, black, and light brown in Brazil: “bran-
and mainly by the Koreans. For the new immigrants to necessary to break them down and extract what they intend co, preto, sarará, moreno claro, moreno escuro, mulato,
disfigure the primordial color trinity, it was necessary to to announce and what each of the censual categories will moreno, mulato claro, mulato escuro, negro, caboclo, escuro,
ignore Decree 528, issued by the first president of the Bra- eventually hide: “white, black, yellow.” Those categories are cabo-verde, claro, araçuaba, roxo, amarelo, sarará escuro,
zilian Republic, that opened Brazilian ports to all people, based merely on the prevailing skin color of individuals to cor de canela, preto claro, roxo claro, cor de cinza, vermelho,
except “natives of Africa and Asia.” place them in specific “ethnic-racial” groups, ignoring the caboclo escuro, pardo, branco sarará, mambembe, branco
As far as Asians – in this case, the Japanese – were con- occasional diversity each group has. The light-brown cate- caboclado, moreno escuro, mulato sarará, gazula, cor
cerned, it was believed they were unknown, treacherous, and gory is a label that encompasses the colors that were com- de cinza claro, crioulo, louro, moreno claro caboclado,
dangerous people who gathered to form “ethnic cysts.” In bined as a result of the crossing of races. That category that
other words, those immigrants were seen as the “yellow is mostly similar to a “melting pot” encompasses the various
1. T.N.: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Brazi-
danger” (Dezem 2005). That idea, which was crammed with shades of mulatto, resulting from the miscegenation of lian Institute of Geography and Statistics) is the agency responsible
whites and blacks; the mameluco, a person of mixed indige for statistical, geographic, cartographic, geodetic, and environmental
information in Brazil. The IBGE performs a national census, and the
* Excerpts of works published originally in Portuguese have been freely
nous and white ancestry; the cafuso, a person of mixed questionnaires account for information such as age, household income,
translated by the translator. white, indigenous, and Negro ancestry. literacy, education, and Brazilian occupation.
Índio da tribo dos caiapós, grupo indígena Indian of the Caiapó tribe, a Brazilian indigenous
brasileiro da Amazônia, em 1957. group of the Amazon, in 1957.
João Baptista Borges Pereira, anthropologist, emeritus professor with
Universidade de São Paulo, full postgraduation professor with Univer-
sidade Presbiteriana Mackenzie.
went through at least two other less significant cycles –
81
80
87
desempenhou papel de destaque na sociedade, desenvol-
vendo trabalho pioneiro e inovador nos campos da pesquisa
91
Family ties: ethnic groupS in brazil
no f luxo do tempo
A
Angela Magalhães e Nadja Fonseca Peregrino
Curadoras e Pesquisadoras Associadas
A realidade cultural brasileira é caracterizada pelo amál- Há uma extensa literatura sobre a importância do De outra forma, reconstruir esse universo pela via
gama de distintos grupos étnicos. Não podia ser diferente. cinema e da fotografia na recuperação desse processo imagética significa trazer à tona as peculiaridades da foto-
Fragmentos de memória, frutos de uma história dispersa, híbrido, que coexiste tanto nas histórias de vida como grafia contemporânea, que possui uma importância ímpar
nos ajudam a reiterar a importância vital do processo mi- em sua transmissão pelo mundo. Não por acaso a cone- no cenário artístico mundial. Hoje, mais do que nunca, a
gratório para a formação de uma sociedade não só cos- xão da imagem com o tempo nos remete a zonas impen- fotografia se caracteriza por uma nova modelação do olhar,
mopolita como culturalmente plural. Alguns exemplos sáveis, que poderiam ser totalmente apagadas da histó- tanto pela sua interação com outros meios expressivos
nos bastam. É só rememorar as influências trazidas pelos ria. São memórias construídas na fronteira de um quase quanto pelo advento da linguagem digital, na qual a tela do
imigrantes: o idioma português, a culinária italiana, as esvaecimento. No âmbito de nossa exposição “Laços de computador se tornou um paradigma da comunicação
técnicas agrícolas alemãs, os batuques musicais africanos, família: etnias do Brasil” a fotografia aparece como prin- midiática. Revelando-se cada vez mais fluida e mutante, a
a feijoada, os cultos afro-brasileiros, legados simbólicos cipal eixo de investigação conceitual e estética. Aos fotó- fotografia circula desde a clássica tradição documental,
que dão ao Brasil um perfil de múltiplos sabores e cores. grafos desse projeto formulou-se o convite para visita- passando pela sua inserção em instalações nos espaços da
Lembremos, ainda, que a base da população brasileira é rem cidades localizadas em distintas regiões brasileiras, galeria, até o registro de ações performáticas como uma linha
constituída pelos descendentes dos três antigos elemen- cujo resultado prova – aos que ainda duvidam – que o tênue, sem a qual a arte perderia seu alcance e sua coerên-
tos: ameríndios, portugueses e africanos, e que a supre- conhecimento do Brasil está muito além dos meios que cia. Dessa forma, o alargamento visual passa a ser a tônica
macia da cultura portuguesa prevaleceu por muito tempo o veiculam: livros, blogs, internet, entre outras redes de de uma ampla rede de conhecimento. Sua natureza inter-
após a interrupção da imigração africana. Quando a abo- comunicação. Na verdade, a web não consegue dar conta disciplinar é inegável. Não por acaso, em qualquer parte do
lição da escravatura se tornou uma certeza, a imigração de das inúmeras realidades que campeiam numa geografia mundo a fotografia – impressa, exposta ou projetada pela
outras nacionalidades além da portuguesa ganhou fôlego. tão grandiosa como a nossa. Não surpreende que as fo- internet – e o vídeo marcam sua presença vertiginosa nas
Suíços, alemães, judeus, eslavos, turcos, árabes, espanhóis, tos reunidas descortinem novos horizontes, permitindo atividades cotidianas, impondo-se como importantes
italianos e japoneses, por exemplo, fizeram parte desse repensar conceitos e redefinir a realidade factual com linguagens técnicas e artísticas na construção da visualidade
crescente fluxo migratório lidando, porém, com hábitos que os fotógrafos se defrontam, para irmos além das cer- contemporânea. Decifrar a imagem é sempre um desafio:
culturais completamente estranhos aos seus costumes. tezas consagradas e de um olhar padronizado pela mí- entender os seus códigos de representação e a intenção de
Sob a forte influência da tradição dos seus antepassados, dia. O desafio é levar o espectador a apreciar o potencial seus protagonistas tornou-se determinante para a confor-
conservaram durante várias gerações as características documental e ficcional das distintas interpretações e mação da história da arte no alvorecer do século XXI.
culturais trazidas de além-mar, unidos pela paixão do lu- linguagens autorais. Assim, a noção de miscigenação Assim, do ponto de vista curatorial, o que se quer
gar de origem. Preservar, quase sempre, é uma via possível racial – um traço cultural determinante para o entendi- destacar nesta exposição comemorativa dos cem anos da
para revermos as páginas escritas da existência. E, se, por mento atual da conformação do Brasil – estará conectada Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD são as estra-
uma metáfora, a distância assemelha-se a uma luz que es- a uma expressão poética e a um sentimento de ligação tégias visuais empregadas pelos artistas para retratar a
maece, o retorno ao passado pode trazer à tona experiên- da realidade sociocultural com o corpo da arte. Uma vi- diversidade étnica de um Brasil plural. No percurso a ser
cias acumuladas – relâmpagos breves, mas contundentes, são da qual aflora a condição do próprio artista como empreendido, os modelos legitimadores da representação
de lembranças esquecidas e descartadas. produtor de conhecimento. do mundo poderão ser tão subjetivos e mutantes quanto
93
92
B
Angela Magalhães and Nadja Fonseca Peregrino
Associated Curators and Researchers
Brazilian cultural reality is a melting pot of different ethnic dissemination throughout the world. It is not by mere chance of digital language, through which a computer screen has
groups. It could not be different. Memory fragments, the that connecting image with time may send us to unthinkable turned into a media communication paradigm. Having
fruits of a dispersed history, help us reiterate the vital impor- regions that could be totally erased from history. They are become increasingly fluid and mutant, photography is
tance of the migratory process in forming a society both cos- memories that have been built in quasi-vanishing bound employed from the classical documentary tradition, going
mopolitan and culturally diverse. A few examples will suffice. aries. Within the scope of our work “Family Ties: Ethnic through its insertion in installations within an exhibit
Just recollect the influences brought by immigrants: the Groups in Brazil,” photography arises as the main axis of space, to the recording of action-performance as a thin line
Portuguese language, Italian cuisine, German agricultural conceptual and aesthetic investigation. The photographers without which art would lose its reach and consistency.
techniques, musical African-Brazilian rhythms, feijoada, who are taking part in this project were invited to visit cities Thus, visual magnitude becomes the keynote of a far-reaching
African-Brazilian cults, symbolic legacies that lend Brazil a in different regions of Brazil. And results give proof – to knowledge network. Its interdisciplinary nature is unde-
diversified profile of flavors and colors. We should also bear those who still doubt it – that knowledge about Brazil is far niable. It is not by chance that in any part of the world
in mind that the Brazilian population is basically composed beyond the means that convey it: books, blogs, the Internet, photography – printed, exhibited, or projected via the Inter-
of descendants of the three ancient elements: Amerindians, among other communication networks. In fact, the web is net – and video mark their vertiginous presence in routine
Portuguese, and Africans, and that the supremacy of the not up to handling the numerous realities that prevail in activities, imposing themselves as important technical and
Portuguese culture prevailed for a long time after the Afri- such a magnificent geography as ours. It is no surprise that artistic languages in the construction of contemporary visual
can immigration had ceased. Once the abolition of slavery the photographs gathered reveal new horizons, allowing us ity. Decoding an image is always a challenge: understanding
had been assured, the immigration of other nationalities to rethink concepts and redefine the factual reality with its representation codes and the intention of its protagonists
besides the Portuguese gained strength. Swiss people, Ger- which the photographers are faced, and to go beyond conse- has become a determining factor for the history of art in the
mans, Jews, Slavs, Turks, Arabs, Spaniards, Italians, and the crated certainties and a media-standardized outlook. The dawn of the 21st century.
Japanese, for example, took part in that growing migratory challenge is to lead the viewer to appreciate the documen- Therefore, from a curatorial standpoint, in this com-
inflow dealing, however, with cultural habits that were tary and fictional potential of different interpretations and memorative exhibition to celebrate the hundredth anniver-
totally unknown to their customs. Under a strong influ- authorial languages. Thus, the notion of racial miscegena- sary of the Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD
ence of their ancestors, several generations kept the cultural tion – a determining cultural trait to understand the current (Brazilian Society of Dermatology), we wish to highlight the
characteristics that had been brought from overseas, and configuration of Brazil – will be associated to a poetic visual strategies employed by artists to portray the ethnic
remained united by their passion for their place of origin. expression and to a feeling that links sociocultural reality diversity of a multifarious Brazil. In the journey to be un-
Oftentimes to preserve is a possible way to review the written with the body of art. A vision through which there emerges dertaken, the legitimizing models of world representation
pages of existence. And, if, metaphorically speaking, dis- the artist’s own knowledge-generating capacity. may be as subjective and mutant as those fiction is able to
tance resembles a fading light, returning to the past may give In other words, reconstructing that universe through make up. In the wake of those proposals, photographers were
rise to collected experiences – brief but compelling lightning images means shedding light on the peculiarities of contem- assigned to make notes about their photographic expedition
flashes of forgotten and discarded memories. porary photography, which has a unique importance in the to different cities, in addition to video recording the testimo-
There is a vast literat ure about the importance of global artistic scenario. Today, more than ever photography nial of the people who were photographed and the making of
cinema and photography in the recovery of that hybrid is characterized by a new molding of the gaze, both for its of the environment in which the work was developed. It is
process that coexists both in histories of lives and in their interaction with other expressive means and for the advent exactly through that perspective that a shared experience
Baianas na Igreja de Nosso Senhor do Baianas, women wearing typical attire of a regional Brazilian feast,
Bonfim, Salvador – BA, 1955. at the Igreja de Nosso Senhor do Bonfim church, Salvador – BA, 1955.
family portraits benefit from such variations – whether by
97
96
99
Antonio. Antonio.
101
100
Ceresoli. Ceresoli.
103
102
Bortolini. Bortolini.
105
104
Olivo. Olivo.
Raisa. Raisa. Ari Bongiorno. Ari Bongiorno.
111
Família de Gustavo Adolf.
Gustavo Adolf ’s family.
113
112
Família Rezer.
Rezer’s family.
Família de Elizete
Reis do Nascimento.
Elizete Reis do
Nascimento’s family.
115
Dirceu Fuber e família em
frente a uma igreja luterana.
Dirceu Fuber and Family, in
front of a Lutheran church.
117
116
Norberto Prieve.
Norberto Prieve.
Walter Erbach.
Walter Erbach.
Roberto Sicfrid Wilke (Zico) e Rosângela
Morimã em seu barco de turismo no
Rio Arinos, em Porto dos Gaúchos – MT.
Roberto Sicfrid “Zico” Wilke and Rosângela
Morimã in their passenger boat on Rio Arinos,
Porto dos Gaúchos – MT.
José Caldas
123
BR-156, rodovia que liga Macapá a Oiapoque, próximo a TI Uaçá, setembro de 2011. Pedra: parte do relógio solar no Sítio Arqueológico Rego Grande (AP-CA-18), em Calçoene – AP, setembro de 2011.
BR-156, road connecting Macapá to Oiapoque, near Uaçá Indigenous Land, September 2011. Stone: part of a sundial at Rego Grande Archaelogical Site (AP-CA-18), in Calçoene – AP, September 2011.
125
124
Morador de Vila Velha, Oiapoque – AP, Vila Velha, Oiapoque – AP, Moradora do Sítio Arqueológico Rego Grande (AP-CA-18),
setembro de 2011. setembro de 2011. em Calçoene – AP, setembro de 2011.
Dweller of Vila Velha, Oiapoque – AP, Vila Velha, Oiapoque – AP, Dweller of Rego Grande Archaeological Site (AP-CA-18),
September 2011. September 2011. in Calçoene – AP, September 2011.
Professor do ensino secundário da Escola Estadual de Vila Velha, Oiapoque – AP, setembro de 2011. Batuque na Festa de São Raimundo, na comunidade quilombola de Curralinho, Macapá – AP, setembro de 2011.
A secondary school teacher of Escola Estadual de Vila Velha, Oiapoque – AP, September 2011. Music and rhythm of African-Brazilian dances in São Raimundo Festivities at the quilombola community (a former place of runaway slaves)
of Curralinho, Macapá – AP, September 2011.
129
128
Comunidade quilombola do Curiaú, Mucajá (Acrocomia aculeate), Anauerapucú, Comunidade quilombola do Curiaú,
Macapá – AP, setembro de 2011. Santana – AP, setembro de 2011. Macapá – AP, setembro de 2011.
Quilombola community (a former place Mucajá (Acrocomia aculeate), Anauerapucú, Quilombola community (a former place
of runaway slaves) of Curiaú, Santana – AP, September 2011. of runaway slaves) of Curiaú, Macapá – AP,
Festa de São Raimundo, na comunidade quilombola de Curralinho, Morador da comunidade quilombola Macapá – AP, September 2011. September 2011.
Macapá – AP, setembro de 2011. de Curralinho, Macapá – AP, setembro de 2011.
São Raimundo Festivities at the quilombola community (a former place of runaway slaves) of Curralinho, Dweller of the quilombola community (a former place of
Macapá – AP, September 2011. runaway slaves) of Curralinho, Macapá – AP, September 2011.
Vila Velha, Oiapoque – AP, setembro de 2011. Comunidade quilombola do Curiaú, Macapá – AP, setembro de 2011.
Vila Velha, Oiapoque – AP, September 2011. Quilombola community (a former place of runaway slaves) of Curiaú, Macapá – AP, September 2011.
133
132
Futlama na maré baixa, bairro Perpétuo Socorro, Macapá – AP, setembro de 2011.
Mud soccer at ebb tide, Perpétuo Socorro neighborhood, Macapá – AP, September 2011.
Gal Oppido
135
Kahal Zur Israel, primeira
sinagoga das Américas,
construída em 1637,
Guita Charifker, artista plástica em seu ateliê, Olinda – PE, 2011. na antiga Rua dos Judeus,
Guita Charifker, a visual artist at her studio, Olinda – PE, 2011. atual Rua do Bom Jesus,
Recife – PE.
Zahal Zur Israel, the first
synagogue in the Americas,
built in 1637 on former Rua
dos Judeus, currently Rua do
Bom Jesus, Recife – PE.
137
Acima, detalhe de tijolo no interior da Sinagoga Kahal Zur Israel, com mensagens dos fiéis.
No alto, Tânia Neumann Kaufman, presidente do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, Recife – PE, 2011.
Above, detail of the brick in the interior of Zahal Zur Israel synagogue with messages from the faithful.
On top, Tânia Neumann Kaufman, president of the Pernambuco Historical Judaic Archive, Recife – PE, 2011.
Pola Berenstein.
Pola Berenstein.
Da esquerda para a direita: Bruno Happ Botler, Alice Miriam Happ Botler e Milton Botler.
From left to right: Bruno Happ Botler, Alice Miriam Happ Botler, and Milton Botler.
141
140
Sessenta anos do casamento de Ethel e Luiz Tachlitsky, 8 de setembro de 2011. Casamento de Ethel e Luiz Tachlitsky, 8 de setembro de 1951.
Ethel and Luiz Tachlitsky’s sixtieth wedding anniversary, September 8, 2011. Ethel and Luiz Tachlitsky’s wedding, September 8, 1951.
Desenho em aquarela e nanquim, de Gal Oppido, executado no inverno de Nova York, 2009.
Watercolor and Indian ink painting by Gal Oppido, made in the New York winter of 2009.
Patricia Gouvêa
147
Da Saudade. Florianópolis – SC, 2011.
Da Saudade, Florianópolis – SC, 2011.
149
148
Díptico Jocoso. À esquerda, praia de Governador Celso Ramos. À direita, mascarado da Festa do Divino Museu Etnográfico Casa dos Açores, São Miguel – SC, 2011.
em frente à Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011. Casa dos Açores Ethnographic Museum, São Miguel – SC, 2011.
Díptico Jocoso (Playful diptych). Left, Governador Celso Ramos beach. Right, masquerader at Festival of the Divine
Holy Spirit in front of Nossa Senhora das Necessidades church, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011.
151
150
Tríptico Divino (Cozido do Divino/Divina Farinhada). Festa do Divino, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011.
Tríptico Divino (Divine triptych) (Cozido do Divino/Divina Farinhada). Festa do Divino, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011.
As Meninas #1. Festa do Divino, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011. As Meninas #2. Festa do Divino, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011.
As Meninas #1 (Girls #1). Festa do Divino, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011. As Meninas #2 (Girls #2). Festa do Divino, Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis – SC, 2011.
Créditos das imagens históricas
Acervo Instituto Moreira Salles
Fotógrafa Madalena Schwartz: págs. 68, 73.
Fotógrafo Augusto Malta / Coleção Brascan Cem Anos no Brasil: pág. 38.
Fotógrafo Guilherme Gaensly: págs. 21, 27 (segunda foto, de cima para baixo)
Fotógrafo Haruo Ohara: pág. 83.
Fotógrafo José Medeiros: pág. 78.
Fotógrafo Marc Ferrez: págs. 27 (primeira foto, de cima para baixo), 31, 34, 35.
Fotógrafo Marc Ferrez / Coleção Gilberto Ferrez: págs. 8, 11, 13, 18, 28.
Fotógrafo Marcel Gautherot: págs. 71, 75, 90, 94.
Fotógrafo Otto Rudolf Quaas: pág. 43.
Fotógrafos G. Gaensly e R. Lindemann / Coleção Gilberto Ferrez: págs. 24, 44.
Pesquisa histórica/Research
Anna Laura Canuto
Clarice Caires
Edição/Editor
Marco Polo Henriques
Edição, projeto gráfico e direção de arte/Editing, graphic design, and art direction
Arte do Tempo Editora