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Comunicado 367
Técnico ISSN 1517-4964
Dezembro, 2016
Passo Fundo, RS
online
Uso da cultura do trigo no
Foto: Joseani Mesquita Antunes
controle de fitonematoides
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Engenheira-agrônoma, Dra. em Agronomia/Genética e Melhoramento de Plantas, pesquisadora da Embrapa
Trigo, Uberaba, MG.
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Uso da cultura do trigo no controle de fitonematoides
tratar-se de uma praga de solo, os métodos mais causados por deficiência mineral ou de outra
eficientes de controle são a resistência genética origem. Além dos prejuízos diretos em várias
e o controle cultural (alqueive, rotação de culturas, esses parasitas podem ainda predispor
culturas, etc.) (FERRAZ; BROWN, 2016). a planta a estresses ambientais ou atuarem como
transmissores de outros patógenos (FILETI et al.,
A importância econômica dos nematoides no 2011).
Brasil é tal que o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) inseriu quatro De acordo com Almeida et al. (2005) os
espécies (Meloidogyne incognita, Meloidogyne fitonematoides de maior importância econômica
javanica, Heterodera glycines e Prathylenchus no Brasil são, respectivamente: Meloidogyne
brachyurus) na lista de pragas consideradas de incognita e Meloidogyne javanica (nematoides
maior risco fitossanitário para o agronegócio. causadores de galhas), Pratylenchus brachyurus
O texto da portaria, publicada no Diário Oficial (nematoide das lesões), Heterodera glycines
da União (DOU) em 24/08/2015 traz as (nematoide de cisto da soja), Rotylenchulus
seguintes informações sobre os nematoides: reniformis (nematoide reniforme). Estas espécies
“São pragas consideradas pelas principais atacam os principais cultivos comerciais do país,
sociedades científicas nacionais como de comprometendo a produção de culturas, como
importância econômica para a agricultura. soja, cana-de-açúcar, hortaliças, café, milho,
Para um controle eficiente, é necessária uma algodão, entre outras.
busca por alternativas mais modernas e menos
tóxicas. Além disso, é fundamental a adoção A importância dos fitonematoides tem
de medidas que visem à redução da resistência aumentado, sobretudo pela intensificação do
genética causada pelo uso repetido dos mesmos uso da terra (irrigação e safrinha) e expansão do
mecanismos de ação” (BRASIL, 2015). sistema plantio direto (SPD), que perfaz uma área
em torno de 25 milhões de hectares no Brasil. O
Hoje, quando falamos em resistência de plantas a milheto é a cobertura vegetal mais utilizada no
nematoides, temos que pensar no sistema como SPD nos cerrados como cobertura de inverno,
um todo, considerando quais e quantas culturas visando à produção de palhada. Entretanto,
devem carregar genes de resistência. Neste resultados de pesquisa apontam que este
contexto, o trigo é uma cultura considerada não vegetal é extremamente suscetível, sobretudo,
hospedeira de diversas espécies de nematoides ao nematoide das lesões (P. brachyurus), o que
que são de grande importância em vários outros acelera o aumento das populações de uma safra
cultivos no Brasil. Apesar de pouca literatura para outra, comprometendo o sistema de forma
recente sobre o assunto, esta prática de controle progressiva (INOMOTO et al., 2006).
tem sido adotada em diferentes regiões do
mundo, utilizando o sistema de rotação de Por outro lado, pesquisas têm demonstrado
diversas culturas com o trigo. que o plantio direto tem grande efeito sobre
o controle dos fitonematoides dependendo
Os objetivos deste trabalho são levantar do sistema de rotação de culturas utilizado,
informações existentes sobre o uso potencial da destacando-se o uso de cereais de inverno
cultura do trigo no controle de fitonematoides (BAIRD; BERNARD, 1984; CAVENESS, 1979;
e relatar a reação de cultivares de trigo da STINNER; CROSSLEY, 1982; THOMAS, 1978).
Embrapa ao nematoide reniforme (Rotylenchulus A rotação de culturas é a forma mais prática
reniformis). e economicamente viável para o controle de
fitonematoides (BARKER; KOENNING, 1998).
Várias espécies de nematoides parasitam plantas O conhecimento da reação de diferentes
de diversas culturas, atacando principalmente cultivares de uma dada espécie é, portanto,
raízes, bulbos, tubérculos e rizomas e, menos vital para o sucesso no controle, já que
frequentemente, outras estruturas (FERRAZ; pode haver variabilidade genética quanto à
MONTEIRO, 1995). Esses organismos passam resposta aos nematoides. Prova disso são os
despercebidos, muitas vezes, pelos agricultores, resultados contraditórios sobre a suscetibilidade
devido ao seu tamanho reduzido e, ao de determinadas espécies aos nematoides.
confundimento de seus sintomas com aqueles Alguns autores sugerem que as culturas de
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Uso da cultura do trigo no controle de fitonematoides
mucuna/trigo/sorgo resultou na maior redução do foram aquelas nas quais o fator de reprodução
nematoide no solo (95%). (FR)1 dos nematoides foi menor que 1. Dos
genótipos testados, apenas um apresentou
resistência, a cultivar Trigo BR 12-Aruanã.
Várias linhagens do programa de melhoramento
Meloidogyne incognita e Meloidogyne da Embrapa, naquela época, apresentavam
javanica comportamento de tolerância, como: PF 75388,
PF 79574, PF 9617, PF 79796, PF 76641,
O primeiro registro de fitonematoide associado PF 79812, PF 79474, PF 79812, CPAC 8127,
à cultura do trigo, no Brasil, foi realizado por CPAC 8129, CPAC 7815 e CPAC 7713.
Lordello (1964), que relatou a ocorrência do Também apresentaram tolerância as cultivares
nematoide M. javanica causando sérios danos à Trigo BR 16-Rio Verde (Embrapa Trigo), Candeias
cultura do trigo no estado de São Paulo. Sharma (Ocepar); IAC 5-Maringá e IAC 24-Tucuruí
(1979) registrou que, na safra 1977/1978, uma (Instituto Agronômico de Campinas) e Altar
coleção mundial de germoplasma de trigo, com (Triticum durum), do CIMMYT.
cerca de 5.000 linhagens, sofreu sério ataque de
M. javanica na Embrapa Cerrados localizada em Oliveira et al. (1990) testaram a reação a
Planaltina, DF. M. javanica de 18 cultivares de trigo, não
encontrando genótipos resistentes. Em
Sharma (1982) publicou os primeiros resultados ordem decrescente de multiplicação, obteve
de pesquisa sobre resistência de cultivares IAC 4-Tucuruí , Trigo BR 32, Trigo BR 14,
de trigo ao trabalhar com diferentes níveis IAC 5-Maringá, Iapar 6-Tapejara, IAC 13-Lorena,
populacionais de M. javanica, constatando Ocepar 7-Batuíra, BH 1146, Trigo BR 34,
maior suscetibilidade da cultivar Confiança IAC 60-Centenário, Trigo BR 10-Formosa, IAC
(IPB Comércio de Sementes) comparada 162-Tuiuiú, Trigo BR 33-Guará, IAC 72-Tapajós,
com a cultivar Alondra 4546 (CIMMYT), que Trigo BR 35, Anahuac 75, Trigo BR 31-Miriti e
também foi suscetível. No mesmo ano, o autor Trigo BR 23. Brito (1992), testou 19 cultivares
testou 21 cultivares de trigo de diferentes de trigo quanto à reação a M. incognita (raças 1,
origens, e observou reação distinta entre 2, 3 e 4) e constatou que todas se comportaram
os genótipos, sendo que as cultivares da como más hospedeiras (FR<1) para as raças
Embrapa CNT 1 e Trigo BR 4 comportaram- 1 e 3. As cultivares Trigo BR 14, Trigo BR 23,
se como tolerantes, enquanto as demais Iapar 41-Tamacoré e Trigo BR 8 foram más
cultivares foram suscetíveis ou intolerantes. hospedeiras para as raças 2 e 4 e apenas um
Na continuidade de seus estudos, Sharma genótipo (Iapar 33-Guarapuava) apresentou
(1987) publicou os resultados de pesquisa suscetibilidade (FR=9,26).
de avaliação da reação aos nematoides em
cultivares de trigo realizadas entre 1982 Vale ressaltar que uma cultivar tolerante não é
a 1985 na Embrapa Cerrados. O trabalho uma boa opção de rotação para o controle de
surgiu da necessidade de identificar genótipos nematoides, pois não reduz o inóculo, mas sim
resistentes ou tolerantes ao M. javanica convive com ele sem perda na sua produtividade.
para uso em sistemas de produção ou como Assim como para outras enfermidades, a
indicações para programa de melhoramento. forma mais eficaz e econômica de controle de
Foram considerados tolerantes os genótipos nematoides em plantas é a resistência genética
com alto índice de galhas e multiplicação do hospedeiro (Yorinori, 1997; Tihohod, 1993).
de nematoides, mas com menor redução de No Brasil, a rotação de cultivos com espécies
crescimento das plantas. As plantas resistentes ou cultivares não hospedeiras ou resistentes
1
Fator de reprodução (FR) é um índice obtido pelo produto da fórmula:
[População final do nematoide (Pf)/população inicial (número de ovos utilizados nas inoculações do nematoide (Pi)].
As cultivares são consideradas más hospedeiras quando o FR for menor que um e hospedeiras quando o FR for maior que um
(OOSTENBRINK, 1966).
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Uso da cultura do trigo no controle de fitonematoides
aos nematoides é uma prática comum nas (FR) inferior a 1 conforme apresentado na
indicações de manejo populacional do parasita. Tabela 1 (MORESCO et al., 2016).
Muitas vezes, a melhor opção eleita por muitos
produtores, para esta finalidade, é o cultivo do Em outro trabalho, conduzido por Centenaro et
trigo. Existem atualmente cultivares de trigo al. (2005), as cultivares de trigo MGS 1-Aliança
nacionais que, de fato, são más hospedeiras para (Epamig), Embrapa 22, BRS 207 e BRS 210
nematoides? (Embrapa) apresentaram resistência a
M. incognita e M. javanica. Brida (2012)
Dados recentes da pesquisa, indicam que, para testou cultivares de trigo quanto à reação
algumas espécies de nematoides, esta resposta é aos nematoides de galhas, concluindo que as
sim. Para os nematoides de galhas (M. incognita cultivares da Embrapa BRS 220, BRS Pardela
e M. javanica) tanto as novas cultivares da e BRS Tangará, e da Coodetec, CD 104,
Embrapa (BRS 404 e BRS 394) quanto as CD 108, CD 118 e CD 150, foram resistentes a
menos recentes (BRS 264, BRS 254 e Trigo M. incognita, M. javanica e M enterolobii.
BR 18-Terena) apresentam fator de reprodução
Na atualidade, dados disponíveis sobre a reação que essa cultivar teria, de fato, efeito supressor
a este nematoide na cultura do trigo no Brasil sobre R. reniformis.
apontam que existe certa variabilidade entre
os genótipos testados. Conforme exposto na Inomoto (2016) recomenda o esquema de
Tabela 2, os valores obtidos para FR variaram rotação soja-arroz (ano 1)/algodoeiro-pousio (ano
de 1 (BRS 254) a 6,05 (BRS 264). Deste modo, 2) e soja-trigo (ano 3), para manejo de áreas
apenas a cultivar BRS 254 pode ser considerada com ocorrência de R. reniformis, com o objetivo
má hospedeira para R. reniformis. Entretanto, de produção de soja e algodão. Segundo o
estes dados ainda devem ser validados em autor, são rotações viáveis para controle deste
situação de campo para que se possa afirmar nematoide, pois arroz e trigo são plantas não
hospedeiras.
Tabela 2. Fator de reprodução (FR) do fitonematoide R. reniformis em cultivares de trigo após 90 dias
da inoculação.
Genótipos FR*
Trigo BR 18 - Terena 2,39 b
BRS 254 1,00 b
BRS 264 6,05 a
BRS 394 4,03 a
BRS 404 3,93 a
CPAC 0770 4,25 a
CPAC 07434 3,99 a
Coeficiente de variação (CV) % 44,08
* Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Scott-Knot ao nível de 5% de
significância.
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Comunicação telefônica da fitopatologista Dra. Rita de Cássia Santos Goussain, do Instituto Federal do Mato Grosso – IFMT,
Campo Verde (MT), para a melhorista Dra. Edina Regina Moresco, pesquisadora da Embrapa Trigo, em 22/09/16.
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Uso da cultura do trigo no controle de fitonematoides
rotação e sucessão na cultura da soja em Minas manejo destes nematoides (KALOSHIAN et al.
Gerais. As plantas estudadas foram trigo RIO 1991). Um cenário similar pode ser explorado
419 (sucessão de cultivo); milho AG 302-A, para o R. reniformis, P. brachyurus e para
algodão IAC 20, arroz Rio Paranaíba (rotação H. glycines conforme as literaturas apresentadas
de culturas); cana-de-açúcar CB 45-3 (cultura demonstram.
intercalar); feijão “manteigão fosco” e soja
Cristalina (testemunhas). Nas raízes de trigo,
arroz, algodão, milho e cana, nenhum cisto foi
observado 40 dias após o plantio. Entretanto, Referências
em soja e feijão, foram encontrados 74 e 7
cistos/sistema radicular, respectivamente. ALMEIDA, A. M. R.; FERREIRA, L. P.; YORINORI, J.
Comportamento semelhante foi obtido para T.; SILVA, J. F. V.; HENNING, A. A.; GODOY, C.
estas duas espécies nas larvas no solo. Já o V.; COSTAMILAN, L. M.; MEYER, M. C. Doenças
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com as cinco primeiras espécies, variando de A. M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L. E. A.
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