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fotografia1
Thais Raquel da Silva Paz2
Resumo
Este artigo trata da abordagem de questões sobre corpo e subjetividades do educando
através da linguagem da fotografia no ensino de arte na escola. Partindo da idéia de que
a fotografia tem uma presença habitual na vida das pessoas, seja em um álbum de
família, em jornais, em revistas ou em páginas e blogs pessoais que circulam pela
internet, a pesquisa buscou mostrar outra perspectiva da fotografia como inserção na
educação das artes visuais. E a partir dela, problematizar com os educandos a
necessidade de refletir o que e como representamos para a sociedade na qual vivemos.
Palavras-chave
Educação das artes visuais, fotografia, corpo, subjetividade.
Abstract
This article deals with approach issues on body and subjectivity of educating through
language of photography in teaching art in school. Starting from the idea that the
photograph has a habitual presence in people's lives, is in an album of family, in
newspapers, in journals or pages and personal blogs circulating the internet, the research
sought show other perspective the photo as insertion education in the visual arts. And
from it, problematize with students the need to reflect what and represent for the society
in which we live.
Keywords
Visual arts education, photography, body, subjectivity.
Anseios e desafios
Lanier (2001) acredita que o forte conceito central que a educação das artes visuais
necessita pode ser definido da seguinte maneira: ampliar o âmbito e a qualidade da
experiência estética visual do educando. Ao iniciar a construção do meu projeto de
estágio, procurei levar em consideração as experiências visuais dos educandos,
objetivando construir assim conhecimentos em arte a partir dessas vivências. Portanto,
este texto dá conta dos resultados parciais da pesquisa realizada com adolescentes do
ensino médio, com idades entre 15 e 17 anos, no intuito de ampliar essa experiência
visual, partindo do cotidiano e das subjetividades dos educandos, por meio da linguagem
fotográfica.
1
Pesquisa realizada na disciplina Estágio Curricular Supervisionado do Curso de Licenciatura em Artes Visuais
da UFSM/RS orientado pela Profa. Dra. Marilda Oliveira de Oliveira.
2
Acadêmica do curso de graduação em Artes Visuais – Licenciatura Plena em Desenho e Plástica da UFSM/RS.
uma experiência comum, poderia provocar também uma reflexão crítica em relação a
estas imagens cotidianas rendendo ainda muitos comentários acerca dos conteúdos em
arte.
Neste sentido, a fotografia tem uma presença habitual na vida das pessoas, seja em
álbuns de família, em jornais, em revistas, ou em páginas e blogs pessoais que circulam
pela internet, além de todas as outras formas citadas anteriormente. Crianças,
adolescentes e adultos, normalmente já tiveram algum contato com a fotografia, o que
se pretende é mostrar outro olhar para a mesma na educação das artes visuais. E a
partir dela, problematizar com o educando a necessidade de refletir o que representamos
para a sociedade na qual vivemos, pensando como o nosso corpo se apresenta diante de
diversas situações, e os significados que a nossa subjetividade adquire no dia-a-dia.
A fotografia, desde seu início no Brasil, serviu como registro da paisagem física e
humana, mas também impulsionou certos artistas a realizar uma imersão na busca do
autoconhecimento como indivíduos sociais. “Para eles, a fotografia não foi um meio para
conhecer o mundo, mas um instrumento para conhecer-se e conhecer o outro no mundo”
(CHIARELLI, 2002, p.115). Dessa forma, a fotografia dificilmente resulta em uma
reprodução completamente fiel da realidade, pois a câmara pode alterar as aparências e
reinterpretar o mundo à nossa volta, fazendo com que o vejamos por outro
enquadramento.
O uso da tecnologia em arte não acontece somente em nossos dias, pois em todos os
tempos ela sempre se valeu, para seus propósitos, das inovações tecnológicas. Muitas
vezes, a própria arte impulsionou o aparecimento delas, pois através da preocupação
estética com a imagem e o design, surgiu uma diversidade de programas para seu
tratamento e aprimoramento. “Cabe a nós avaliar agora o imenso impacto da fotografia,
a maneira como impregnou nossas sensibilidades sem que o percebêssemos realmente”
(KRAUSS, 2002, p.22).
Acredito que a educação das artes visuais deve enfatizar igualmente tanto a vivência do
processo quanto o aprendizado, o fazer artístico e a construção cultural. E o uso de
novas tecnologias possibilita aos educandos desenvolver sua capacidade de pensar e
fazer arte nos dias de hoje, utilizando-se de tecnologias que fazem parte de seu
contexto, e que abrem um “leque” de possibilidades para o conhecimento e expressão da
arte.
Ao trabalhar com suas identidades, seu corpo e até mesmo o corpo de outras pessoas, o
artista tem a possibilidade de se expressar e expressar o outro, numa tentativa de
interpretação e comunicação de suas características físicas e seu interior emocional. A
forma como representamos o corpo, sob o olhar do outro que nos vê, traduz nossas
maneiras de ser/estar no mundo, como se o corpo não fosse nada sem o indivíduo que o
habita. “A informação a respeito do individuo serve para definir a situação, tornando os
outros capazes de conhecer antecipadamente o que ele esperará deles e o que dele
podem esperar” (GOFFMAN, 1985, p.11).
No dia-a-dia, o estético pode ter ligação direta com o corpo do indivíduo, com a maneira
dele aparecer, de se vestir, de se movimentar, como se o corpo fosse aquilo que
estabelecesse a estética das relações entre o sujeito e o mundo. Jeudy (2002) diz que a
idealização estética do corpo se traduz no simples ato de tirar uma quantidade
extraordinária de fotografias da mesma pessoa em movimentos diferenciados, que
dependerão da sua preocupação com a idealização da beleza corporal.
A arte do século XX, com a crise da modernidade, passa a olhar a experiência do sujeito
com outros olhos. Sua condição física de “estar no mundo” assume uma nova evidência.
O corpo passa a adquirir um lugar destacado nestes novos posicionamentos, e “a arte
moderna ensaia com uma multiplicidade de corpos: o corpo degradado, impossível, o
corpo-dinâmico, participante, até chegar às práticas estéticas mutantes, pós-humanas,
incertas, da pós-modernidade” (FARINA, 2006, p.1). O interior do corpo emerge a
superfície tanto nos meios de comunicação como na arte, e tem sua plasticidade
evidenciada.
Para que a arte se traduza em valores humanos, ela precisa ser contextualizada na vida
dos educandos, tornar-se mediadora entre o imaginário do educando e o imaginário
social, como algo inserido na sua cultura, na sua vida. Somente com a mediação estética
(relação entre teoria e prática) que a conexão entre os conhecimentos que se originam
do fazer artístico e os que se originam do mundo da arte ficam mais bem articulados.
A forma como essas imagens cotidianas nos afetam e como reagimos a ela, narrando e
interpretando o nosso dia-a-dia de sensações, irá configurar a nossa experiência estética
visual; que deve incluir hoje, algo além da pintura e da escultura, mas também, o
artesanato, a arte popular, a mídia eletrônica e o meio natural, que não são a arte dos
museus, mas que podem proporcionar o mesmo tipo de prazer visual.
Figura 03. Trabalho realizado na primeira aula, a partir do que os educandos entendem
inicialmente como fotografia artística, utilizando uma sinédoque3 do corpo.
Fonte: Diário Visual da Pesquisadora.
Figura 04. Trabalho realizado na primeira aula, a partir do que os educandos entendem
inicialmente como fotografia artística, utilizando uma sinédoque do corpo.
Fonte: Diário Visual da Pesquisadora.
3
Dicionário Michaelis: Sinédoque – Gram. Figura de estilo baseada na relação da compreensão. No texto
utilizo-a para expressar a parte ao invés do todo.
compreensão crítica da imagem, a reflexão do indivíduo sobre sua presença no mundo,
na intenção de possibilitar ao educando refletir sobre suas subjetividades, e experimentar
falar sobre essas relações pessoais através do discutir e fazer arte, especialmente
através da fotografia. “La cultura visual no es, por tanto, algo especial, sino algo que
todos poseemos y practicamos en todo momento” (HERNÁNDEZ, 2006, p.8).
Parti da idéia de que a fotografia possui uma presença habitual na vida das pessoas, e ao
trabalhar dessa forma passei a considerar também que esta variedade de informações
visuais poderia carregar junto com elas um discurso poético/conceitual, que suscitaria
comentários e reflexões em torno dos conteúdos em arte. No desenvolvimento do projeto
me propus a estabelecer relações entre a fotografia e o cotidiano dos educandos,
falando, comparando e questionando-os sobre as fotografias realizadas em aula, as dos
artistas que apresentei à eles e aquelas que eles fazem para colocar em orkuts e blogs
na internet. Concordo com Almeida (2001) quando ela diz que os conteúdos de arte
desenvolvidos na escola devem buscar a formação do sujeito em sintonia com o seu
tempo, para isso em meu estágio propus aos educandos uma reflexão e um fazer
artístico partindo de uma linguagem e de um assunto abordado por eles de forma
cotidiana.
No decorrer das aulas, pude perceber que os educandos pouco conhecem sobre arte
contemporânea. Eles reconhecem o desenho, a pintura e a escultura como linguagens
das artes visuais, mas não conseguem relacionar a fotografia, e as novas linguagens
contemporâneas ao campo da arte. Em uma das aulas em que trabalhei a fotografia nas
artes visuais, mostrei imagens de obras de artistas que utilizam a fotografia como
linguagem, e perguntei em que momento eles consideravam uma fotografia como arte, e
aqueles que responderam disseram que ela só seria arte quando fosse espontânea, então
apresentei Cindy Sherman, que produz fotografias encenadas, onde ela se maquia, se
auto-dirige e se auto-fotografa. Mas mesmo assim, nas aulas posteriores, quando
questionados sobre a legitimação da fotografia como arte continuei a ouvir as mesmas
respostas. Acredito que a espontaneidade mencionada pelos educandos possui relação
com o ato instintivo, ao “dom cabível aos grandes gênios”. Mesmo na
contemporaneidade, o mito de que exista o dom, que só os “gênios” possuem, ainda
permanece mesmo que inconscientemente.
Nos trabalhos artísticos foram realizados desde desenhos, fotografia digital (figuras 05 e
06) até a construção de câmeras escuras, onde os educandos se mostraram
participativos e reflexivos, pois responderam às questões propostas de forma bastante
contextualizada. Estabeleceram relações entre a câmera digital e a câmera escura, e
procuraram entender o princípio delas. Segundo Pimentel (2003) o uso de mais de um
meio pode gerar imagens muito interessantes e significativas, levando o educando a
elaborar seu pensamento artístico e a trabalhar com ele de forma consistente. Dessa
forma, é importante pensar que o uso da tecnologia em arte, de forma única, não
garante o desenvolvimento de um pensamento crítico ou a construção de conhecimentos
em arte. Conhecer esses meios e as possibilidades que nos oferecem é essencial, mas é
necessário ir também além da simples aplicação dessas tecnologias. Assim, tentei
abordar em meu estágio a fotografia através de outras propostas e linguagens (figuras
07 e 08), pois senti a necessidade de não ficar restrita à fotografia digital. Para que os
educandos pudessem construir um entendimento sobre a fotografia como uma linguagem
das artes visuais, utilizei de propostas que instigassem a reflexão sobre arte
contemporânea, corpo, subjetividade e fotografia.
Figura 07. Trabalho artístico realizado pelos educandos utilizando a mistura de colagem,
desenho e outros materiais com a temática: Qual o corpo que está na moda hoje?
Fonte: Diário Visual da Pesquisadora.
Figura 08. Trabalho artístico realizado pelos educandos utilizando a mistura de colagem,
desenho e outros materiais com a temática: Qual o corpo que está na moda hoje?
Fonte: Diário Visual da Pesquisadora.
Referências
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FARINA, Cynthia. Arte, Corpo e Subjetividade: Experiência Estética e Pedagogia.
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http://www.revista.art.br/site-numero-05/apresentacao.html Acessado em: 27 de maio
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