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PUCMINAS. FILOSOFIA. Profa.

Magda Guadalupe dos Santos


A TRAGÉDIA E SUAS VARIANTES INTERPRETATIVAS

A tragédia de Sófocles relata a história da filha do Rei Édipo.


I. A trilogia em Sófocles. A maldição de Édipo.

Histórico da trilogia: Édipo rei, Édipo em Colono, Antígona.


Ao perder o trono, Édipo deixa o poder de Tebas nas mãos de seu cunhado Creonte.
A maldição é lançada sobre Édipo, por haver se casado, com Jocasta, sua mãe, e haver
matado o pai, Laios, mesmo sem o saber.
Édipo desvenda o enigma da Esfinge, se tornando o Rei de Tebas, mas provoca a ira dos
deuses tanto contra si, como contra Tebas, pois seus crimes são imperdoáveis.
Para tentar se redimir, Édipo abandona o trono e fura os próprios olhos, vagando cego
pelo mundo.
Mesmo se autopunindo, ele não consegue evitar que sua maldição chegasse a seus
quatro filhos: Antígona, Ismênia, Etéocles e Polinice.

II. Conflitos e proibições.


Os conflitos da peça de Sófocles são de ordem moral e política.
Antígona irá assumir todos esses conflitos:
a) tanto em face ao Estado, simbolizado pelo Tio tirano, Creonte,
b) quanto em face a um dever moral para com a família.
Proibição:
Creonte proíbe que aqueles julgados como traidores da pátria, possam ser enterrados em
Tebas.
Os irmãos de Antígona disputavam o trono da cidade e se matam em frente a Tebas.
As disputas são pelo poder e também pela própria honra.
Apenas um deles é concedido o direito de ser sepultado.
Antígona deseja enterrar também seu irmão Polinice, morto em combate.
As leis da cidade não lhe permitem fazê-lo.
Narram-se ali os conflitos entre:
a) as leis divinas, avocadas a si por Antígona,
b) e as leis humanas, leis postas, determinadas pelo arbítrio de Creonte.

A tragédia vem tentar demonstrar o exigível combate de duas posições extremistas.


Ambas as partes são punidas por não buscarem um acordo democrático e desejarem
fazer prevalecer uma sobre a outra.
O que está em jogo:
O passado vingativo da tradição aristocrática
E o presente promissor da democracia grega
Segundo Simone de Beauvoir:
“O drama de Antígona, que contra as leis humanas de Creonte, afirma as leis divinas
inscritas em seu coração, surge como antigo símbolo de um conflito ainda atual.
Antígona é o protótipo desses moralistas intransigentes que, desdenhosos de bens
terrestres, proclamam a necessidade de certos princípios eternos e que se obstinam, a
qualquer preço- mesmo que seja ao preço de suas vidas, ou até de vidas de outros-, a
preservar a pureza de suas consciências.
Em Creonte encarna-se a política realista, apenas preocupada com os interesses da
cidade e decidida a defendê-los não importa por que meios.”
(BEAUVOIR, Simone de. Idealismo moral e realismo político. In: BEAUVOIR,
Simone de. O Existencialismo e a sabedoria das nações. Lisboa: Esfera do Caos,
2008).

III. As personagens e seus referenciais normativos.


Em Antígona, evidencia-se a desobediência às leis de seu Estado.
Em Creonte, surge a desobediência ou o desrespeito às tradições.

O desfecho final: a punição para as duas desmedidas que levaram a outras mortes.

Padecem à hýbris, à desmesura tanto de Antígona, quanto de Creonte, personagens


como;
Hemon- noivo de Antígona e filho de Creonte, assim como sua mãe, esposa de Creonte.
A lei que cada um visa respeitar parece ser algo estanque, absoluto.
Assim, a lei de um deles não serve de referência ao outro.
A cidade se vê abalada pelos excessos de ambas as partes, surgindo a dimensão trágica
da peça teatral.
Fontes morais e políticas
Os antigos gregos, como Sófocles, se mostram como fonte dos debates sobre as
questões morais e políticas da vida humana.

IV. A peça teatral


Antígona é um mito transformado em peça teatral e simboliza:
um drama universal, sempre vivido por cada um ao longo da história.

Édipo e Antígona

Para Sófocles, toda ação humana é suscetível de erro e os exemplos da mitologia são
bem expressivos.
É preciso, assim, saber reconhecer o valor da prudência.
Sem equilíbrio, o que demonstra a tragédia?
A peça trágica segue um caminho que demonstra o conflito entre as leis divinas e as leis
dos homens.
Sem prudência, não há equilíbrio entre as leis e entre os homens.
Aspecto teleológico: o que se visa?
Visa-se na peça teatral representar, de forma intrínseca, o valor de uma vida
equilibrada e centrada na razão (logos), com o ingresso da Democracia na vida dos
cidadãos gregos.
Põe-se assim fim nas tiranias aristocráticas.
O que representam Antígona e Creonte nos quadros da Democracia grega?
E na expectativa dos espectadores?
A personagem Antígona, juntamente com o seu tio e rei de Tebas, Creonte, são os
personagens principais.
Cada um deles sustenta seu ponto de vista e seus valores e assume posições bem
definidas.
De suas condutas se desencadeiam a sequência lógica da trama trágica.
A função de Sófocles, com o criador da tragédia e que recupera na tradição os mitos
gregos, é a função de guiar os destinos de seus personagens.
Sófocles demonstra que:
a consciência da vida na democracia, representada pelos espectadores, é melhor e mais
serena que a vida passada e narrada no palco, vivida outrora pela aristocracia.
O melhor caminho para se fazer justiça seria intercalar as leis humanas com as leis
universais.
Sófocles buscava demonstrar o valor de um ponto de harmonia dos desejos ali
envolvidos.
Mas o passado nada tem a ensinar ao presente?
V. Valores morais e pedagógicos: ethos e paideia
Antígona disputa com o Tio Creonte vários lugares na peça: o valor das leis divinas e
universais e naturais.
Estas dizem respeito ao mínimo de dignidade que um ser humano merece e por ele
deve lutar.
Para ela, enquanto uma mulher que tenta se fazer ouvir a partir de sua voz, há valores
universais que não se submetem aos caprichos de um déspota.
Por assim pensar, ela se considera no direito a executar o cerimonial de enterro do irmão
que lutou, não contra Tebas, mas que lutou também por seu reino.

Creonte já representa o poder estabelecido.


Suas atitudes visam manter esse poder de forma tal, que os meios punitivos que
estabelece, precisam ser respeitados.
Seu despotismo não lhe permite retratar a tempo para salvar as vidas de quem ama ou
deseja para junto de si, como as de seu filho e esposa.
Na peça, os deuses parecem condenar Antígona,
por haver assumido um ponto de vista quase divino, provocando a morte de seu noivo e
sua sogra, além de sua própria morte.
Creonte, por sua precipitação em punir Antígona, perde sua família e é obrigado
simultaneamente a admitir duas leis: a lei dos deuses e a lei dos homens.
Em Sófocles, pode-se ler uma tentativa pedagógica, de Paideia, de educar uma
sociedade exaltada pela tradição e pelos conflitos de imposições arbitrárias.
Ambos os lados devem aprender o valor da prudência.
Sófocles também leva o espectador ou o leitor, cada um/a de nós,
a uma reflexão sobre os diversos temas ali tratados e que fazem parte da vida dos seres
humanos em sociedade.
Estes temas são: a política, a religião, o direito, as diferenças entre os gêneros, os vários
perfis psicológicos, e especialmente, os dilemas morais.
As ações morais são por ele tomadas como irreversíveis e merecem ser repensadas para
que males maiores não possam ser provocados.
Os cidadãos gregos, representados pelo coro, sempre em máscaras, simbolizam essa
dimensão crítica do presente democrático, em face ao passado aristocrático.

VI. As possibilidades hermenêuticas na história


Vários outros filósofos e estudiosos da literatura, aplicada às várias ciências, analisam o
mito grego presente nessa tragédia de Sófocles.
Judith Butler tentará recuperar Antígona no final do século XX, em sua obra Antigone’s
Claim (o grito de Antígona).
Sua análise leva em consideração estudos anteriores, como os de G.F.W. Hegel, J. Lacan
e de Luce Irigaray, além, da peça do próprio Sófocles.
O que Butler tem a nos dizer sobre cada um deles e suas análises sobre a figura de
Antígona?

1. J. Butler compara Antígona aos “esforços feministas para enfrentar o Estado”.


Antígona age como uma “contra-figura” em face à “tendência defendida” por algumas
feministas (dos anos 90).
Estas buscam apoio na autoridade do Estado para implementar metas políticas
feministas.
2. G.F.W.Hegel (séc. XVIII- XIX)
• Hegel (Fenomenologia do Espírito, séc. XIX) identificou Antígona com a
transição padrão do matriarcado para o patriarcado, mas também com o princípio de
parentesco.
• Antígona é a última descendente de uma linhagem matrilinear.
• Filha de Jocasta, a rainha, ela haveria de transmitir laços de consanguinidade
tanto incestuosos quanto matriarcais, já que sua mãe era a rainha, mãe e mulher de
Édipo.
• Com sua morte, interrompe-se tal linhagem duplamente recusada tanto por
Creonte (na peça), quanto por Hegel (na filosofia que a investiga).
• Podemos considerar Antígona, por si só, representante de um certo tipo de
política feminista, embora o seu caráter representativo esteja em crise?

3. Butler, leitora de Hegel


• Para Butler, ela representa apenas os princípios normativos do parentesco;
• Antígona está implicada en relações incestuosas;
• Estas turvam sua posição;
• Ela representa a luta de uma mulher que poderia estar à margen do mesmo poder
ao qual se opõe.
• Não é como ficção que o caráter mimético ou representativo de Antígona se põe
em questão,
• senão como figura política.
• Antígona é alguém que:
• articula uma oposição pre-política à política, representando o parentesco.
• Esta esfera parental condiciona a possibilidade de uma política, sem ter que
participar nunca dela (ou nela diretamente).
• Antígona representa o parentesco e sua dissolução.
• Creonte é representante de uma órdem ética e uma autoridad estatal emergente,
baseadas en principios de universalidade.
• Seus princípios são o valor da lei e o respeito ao Estado.
• Antígona significa a dissolução do universal e
• Creonte a sua sustentação e autoridade.
• Hegel trata do parentesco na “ordem ética”, na esfera da participação política e
das normas culturais viáveis;
• tal ordem ética é o que legitima as normas articuladas que governam as
fronteiras da inteligibilidade cultural (die Sittlichkeit- a ética social).
4. J. Lacan (século XX)
• Lacan, psicanalista francês, parte de Hegel:
• Ele utiliza uma noção idealizada do parentesco sob a pressuposição de uma
inteligibilidade cultural.
• Ele questiona a existência uma lei universal do parentesco que se demonstra
como uma simbologia para todos?
5. Lacan e Hegel
• Ambos, Lacan e Hegel tentam demonstrar a separação entre o parentesco e o
social.
• Mas o que é o simbolismo?
• Para Lacan o simbolismo é o que torna possível o acesso à linguagem.
• Mas o simbolismo não é um dado de socialidade.
• O simbolismo possibilita a linguagem, mas não a socialidade.
• Quando a criança vivencia sua relação edipiana com a mãe e rejeita o pai,
• ela está transitando da dimensão simbólica à dimensão cultural.
• Ela deverá fazê-lo para atingir a esfera possível da lógica cultural.
• Para Hegel os laços sanguíneos afastam-se da dimensão social. Para que haja
socialidade, há de se deslocar as regras do parentesco.
6. Para Luce Irigaray,
O poder de Antígona é o que permanece fora do político.
• Antígona representa o parentesco e o poder das relações de sangue, de
consanguinidade.
• Para Irigaray, o sangue representa algo corporalmente muito específico.
• Os princípios abstratos de igualdade política não conseguem apreender seu
sentido e por isso tentaram excluí-los e aniquilá-los.
• Antígona não representa precisamente um vínculo de consanguinidade,
• mas algo parecido a um verdadeiro: “derramamento de sangue”.

• Para Irigaray,
• Antígona significa a transição: de uma norma legal, baseada na maternidade e no
parentesco, para a norma legal, baseada na paternidade.
7. Questões finais
• Qual a linhagem de Antígona na mitologia grega?
• O lugar simbólico da mãe é ocupado pelo pai, mas quem estabeleceu esses
lugares?
• Não se trata apenas de uma ênfase em lugares distintos? Não mais no lugar
simbólico da mãe, mas no lugar simbólico do pai?
A. Ironias:
• Antígona está fora dos termos da Polis, é uma estranha ou estrangeira à Polis.
• Mas sem ela a Polis não teria podido existir.
• As ironias são profundas. Hegel não entendeu sua complexidade, segundo Butler
e Irigaray.
• Antígona fala e age em público precisamente quando deveria estar reclusa no
âmbito privado.
• Sua voz de mulher, de alguém fora dos parâmetros políticos, masculinos,
equitativos, soa ali como um desafio ao Estado, ao equilíbrio da Polis.
• Mas ela é quem dá sentido de vida, de luta, de liberdade à Polis dominada pelo
tirano.
B. Hegel e o valor da Lei. Antígona e o valor da transgressão
• Para Hegel Antígona representa a lei dos deuses da família, do lar (combinando
mitologia grega e romana);


• C. Creonte representa a lei do Estado.
• Hegel insiste em que no conflito entre eles o parentesco deve ceder passagem a
um Estado autoritário, como árbitro final da justiça.
Antígona representa essa demarcação (este umbral) entre o parentesco e o Estado.
• Segundo a interpretação hegeliana de Antígona,
• há na tragédia uma separação do parentesco e do Estado, mas entre ambos há
uma relação essencial.
Ou seja,
• Não há Estado sem parentesco.
Não há cultura sem a simbologia conflitante de Antígona.
Não há patriarcado sem uma necessidade intrínseca
de demonstração de um matriarcado ultrapassado.

8. Questões.
De tudo isso, pode-se refletir algo com os gregos antigos e tais questões podem também
ser tomadas como roteiro de leitura da peça e de suas possibilidades interpretativas.
Entretanto, um roteiro é apenas uma possibilidade entre outras e não um traçado único
de definição de possibilidades:
1- Sobre o mito. O que Sófocles quer transmitir aos ouvintes e leitores?
2- O que significa o embate entre a lei divina e a lei dos homens. Quando termina uma
delas e começa a outra?
3- Há aqui discussões sobre o valor da cidadania? Em que sentido? O lugar da mulher
como cidadã estaria aqui sendo apresentado?
4- Quais os dilemas entre o interesse público e o interesse privado? É possível um senso de
temperança entre eles? Desejar é possibilitar?
5- Antígona o que representa? Qual o seu destino na tragédia e nas várias análises ao longo
da história? Como ela se faz representar na cidade? Diante das simbologias familiares?
6- Creonte o que representa? A lei dos homens? A lei positiva em que sentido?
7- Que leituras históricas e contemporâneas parecem mais aceitáveis e por que? A de
Hegel, de Lacan, de Beauvoir, de Irigaray ou de Butler? Fundamente sua resposta e
lembre-se de cada contexto histórico das bases de interpretação.

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