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A CIÊNCIA
Morin (2003) considera que a ciência deve ser percebida na sua ambivalência, ou seja,
ao mesmo tempo em que é elucidativa, enriquecedora, conquistadora, ela é cega, míope
e produtora do aniquilamento da humanidade. A partir do momento em que o
pensamento for capaz de conceber e compreender essa ambivalência, ele será capaz de
considerar a complexidade intrínseca que se encontra no cerne da ciência. Com isso,
será possível ter consciência das possibilidades e limitações da ciência. Segundo Morin
(2003), o papel e a situação da ciência na sociedade modificaram-se a partir do Século
XVII. Em sua origem, os investigadores eram ao mesmo tempo filósofos e cientistas, a
atividade científica era sociologicamente periférica, marginal. Hoje, conforme o autor,
“a ciência tornou-se poderosa e maciça instituição no centro da sociedade,
subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes econômicos e estatais. Assim,
estamos num processo inter-retroativo” (2003, p.19), como representado na figura a
seguir:
A partir dessa ligação da ciência com a sociedade, Morin procura chamar a atenção
para o fato de que todas as ciências, incluindo as físicas e biológicas, são sociais, mas
também tudo aquilo que é antropossocial tem uma origem, um enraizamento e um
componente biofísico (2003). No entanto, segundo o autor, tanto a ciência natural não
consegue conceber-se como realidade social, como a ciência antropossocial não tem
meios para conceber seu enraizamento biofísico. Com isto, “o conhecimento científico
é um conhecimento que não se conhece. Essa ciência, que desenvolveu metodologias
tão surpreendentes e hábeis para apreender todos os objetos a ela externos, não dispõe
de nenhum método para se conhecer e se pensar” (Ibid, p.20).
Esse isolamento levou a uma dupla visão de mundo: de um lado, o mundo de objetos
submetidos a observações, experimentações, manipulações (a ciência e a pesquisa
objetiva); de outro lado, o mundo de sujeitos que questionam os problemas da
existência, de consciência, de comunicação, de destino (a filosofia e a pesquisa
reflexiva) (MORIN, 2000a).
Esta disjunção influencia a nossa maneira de viver e ver o mundo até os dias de hoje
quando, por exemplo, separamos sujeito/objeto, qualidade/quantidade, alma/corpo,
espírito/matéria, finalidade/causalidade. O que Morin propõe é um rompimento com
este paradigma da simplificação, que impede de conceber a relação, ao mesmo tempo,
de implicação e separação entre o homem e a natureza. No lugar dele, Morin propõe o
paradigma da complexidade, baseado na implicação/distinção/conjunção.
A ciência, segundo Morin (2003, p.53), “[...] tem quatro pernas independentes entre
si: empirismo e racionalismo, imaginação e verificação”. O progresso da ciência
ocorreu em função da dialógica complexa permanente, complementar e antagonista
entre suas quatro pernas. Morin diz que “no dia em que andar sobre duas pernas, ou
tiver uma perna só, a ciência desabará (Ibid., p.190).
Morin (2000a) ressalta que o progresso das certezas científicas tem produzido o
progresso da incerteza, uma incerteza que nos liberta da ilusão ingênua da
previsibilidade. Uma nova consciência começa a se desenvolver, a de que a
humanidade é conduzida para uma aventura desconhecida.
A COMPLEXIDADE
Morin, ao longo de seu trabalho, tem apontado para a necessidade de romper com a
fragmentação do saber, que divide as disciplinas, as categorias cognitivas e os tipos de
conhecimento. Ele procura mostrar que a aspiração à complexidade tende para o
conhecimento multidimensional. Isto não quer dizer que este é um conhecimento que
vai dar todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas ele vai considerar e
respeitar as suas diversas dimensões. Por esse motivo, Morin (2003, p. 177) diz que
“[...] ao aspirar a multidimensionalidade, o pensamento complexo comporta em seu
interior um princípio de incompletude e de incerteza”.
Nesse sentido, a complexidade aparece como dificuldade e incerteza, não como clareza
e resposta. Este fato fez com que, durante muito tempo, as ciências naturais fossem
mais valorizadas por fazerem leis e princípios simples, e com isso reinasse nas suas
concepções a ordem e o determinismo, enquanto que as ciênciashumanas e sociais
eram criticadas por não poderem se livrar da complexidade aparente dos fenômenos
humanos.
No entanto, atualmente, existe uma crise da explicação simples nas ciências naturais e
a incerteza, a desordem, a pluralidade, a contradição, etc., fazem parte de uma
problemática geral do conhecimento científico. Morin acredita e propõe em sua obra
que se busque compreender a contradição e o imprevisível, a pluralidade e a unidade,
a ordem e a desordem, a partir da convivência com eles, pois esse é o fundamento do
pensamento complexo, distinguir, mas não separar.
Morin define três princípios que podem ajudar a pensar a complexidade. São eles:
dialógico, recursivo e hologramático.
No entanto, essa visão que defende Morin, não era aceita na ciência clássica, na qual a
palavra mestra era a ordem, que dava a idéia de absoluto, substancial, incondicional e
eterno. A desordem era excluída, pois mostrava um sinal de erro. Assim, a “Verdadeira
Realidade é a Ordem física, onde todas as coisas obedecem às leis da Natureza, Ordem
biológica, onde todo o indivíduo obedece à lei da espécie, Ordem social, onde todo
humano obedece à lei da cidade” (2002, p. 52). A partir do Século XIX, entretanto,
impulsionado por alguns estudos da física, como o princípio da Termodinâmica, a
visão dicotômica entre ordem e desordem passa a ser questionada. Os estudos indicam
que a ordem e a desordem cooperam, de certa maneira, para organizar o universo.
Morin diz que o conceito de ordem ultrapassa o antigo conceito de lei. Na noção de
ordem existe, não só a idéia do determinismo pautado na estabilidade, constância,
regularidade, repetição, mas também a noção de estrutura e, ainda, de singularidade.
Segundo o autor,
sabemos muito bem que aquilo que denominamos a ordem viva está ligado a seres
vivos singulares, e as espécies vivas aparecem-nos como produtoras/reprodutoras
de singularidades. Por tanto, a ordem já não é antinômica da singularidade, e essa
nova ordem desfaz a antiga concepção que afirma: só há ciência do geral (2003,
p.198).
A ordem, ainda, está ligada à idéia de interações, ou seja, nada existe sem a
interdependência entre influências externas e internas. Além disso, com a noção de
estrutura, a idéia de ordem demanda a idéia de organização. “Na verdade a ordem
singular de um sistema pode ser concebida como a estrutura que o organiza” (MORIN,
2003, p. 198). Assim, com o enriquecimento da idéia de ordem, que recorre às idéias
de interação e organização, sem poder expulsar a desordem, o conceito de ordem
relativizou-se. De fato, conforme Morin, “complexificação e relativização andam
juntas. Já não existe ordem absoluta, incondicional e eterna” (Ibid., p. 199).
Em relação à desordem, Morin afirma que é uma idéia ainda mais rica que a de ordem,
porque ela comporta um pólo objetivo e outro subjetivo. No pólo objetivo,
Nesta perspectiva, é relevante considerar que o ser humano que emerge da realidade
complexa e histórica, é um ser pertencente a uma espécie, que necessita da relação com
a natureza, com os outros seres humanos e consigo mesmo para se conhecer e se
transformar, num movimento de auto-eco-exo-conhecimento numa concepção de
indivíduo-sujeito. Este indivíduo se torna sujeito quando autor de seu processo
organizador. Esta busca da auto-organização se dá através da construção e
reconstrução de sua autonomia.
Nunca estamos certos se as nossas ações vão responder às nossas intenções e essa
incerteza nos leva a atuar de maneira estratégica. A estratégia modifica o roteiro da
ação, durante o trajeto, em função de acontecimentos inesperados, eventualidades,
obstáculos e com isso se enriquece em experiência e em capacidade de responder à
adversidade (MORIN e KERN, 1995).
Esses universos formam o que chamamos de cultura, e que Morin (2002, p. 56) define
como: “o conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias,
crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz
em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade
psicológica e social”. A figura a seguir representa este circuito recursivo da cultura.
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Fonte:
MARCIA PAUL WAQUIL: "PRINCÍPIOS DA PESQUISA CIENTÍFICA EM AMBIENTES
VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: UM OLHAR FUNDAMENTADO NO PARADIGMA DO
PENSAMENTO COMPLEXO". (Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como
requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Educação. Orientadora: Profa. Dra.
Patrícia Alejandra Behar). Porto Alegre, 2008.
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na
citada obra.