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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH


COORDENAÇÃO DO CURSO DE HISTÓRIA

HELYELSON SILVA DE OLIVEIRA

AS ORDENS RELIGIOSAS NA AMAZÔNIA:


OS MISSIONÁRIOS BENEDITINOS E OS CONFLITOS POLÍTICOS NO VALE DO
RIO BRANCO (1840-1948).

BOA VISTA – RR
2017
HELYELSON SILVA DE OLIVEIRA

AS ORDENS RELIGIOSAS NA AMAZÔNIA:


OS MISSIONÁRIOS BENEDITINOS E OS CONFLITOS POLÍTICOS NO VALE DO
RIO BRANCO (1840-1948).

Monografia apresentada como parte dos requisitos


para obtenção do título de graduação em Licenciatura
Plena em História pela Universidade Federal de
Roraima.

Orientador: Professor Dr. Jaci Guilherme Vieira.

BOA VISTA – RR
2017
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

O48o
Oliveira, Helyelson Silva de.
As ordens religiosas na amazônia: os missionários beneditinos e os
conflitos políticos no Vale do Rio Branco (1840-1948) / Helyelson Silva de
Oliveira. – Boa Vista, 2017.
62 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Jaci Guilherme Vieira.
Monografia (graduação) - Universidade Federal de Roraima, Curso de
História.
1- Ordens religiosas. 2- Amazônia. 3- Índios. 4- Beneditinos - I- Título. II-
Vieira, Jaci Guilherme (orientador).

CDU – 2-76(811)
AS ORDENS RELIGIOSAS NA AMAZÔNIA:
OS MISSIONÁRIOS BENEDITINOS E OS CONFLITOS POLÍTICOS NO VALE DO
RIO BRANCO (1840-1948).

Monografia apresentada como parte dos requisitos


para obtenção do título de graduação em História
pela Universidade Federal de Roraima. As Ordens
Religiosas na Amazônia: Os Missionários
Beneditinos e os Conflitos Políticos no Vale do Rio
Branco (1840-1948). Defendida em 01 de agosto
de 2017 e avaliada pela seguinte banca
examinadora.

______________________________________________________
Professor Dr. Jaci Guilherme Vieira
Orientador – Curso de História/UFRR

______________________________________________________
Professora Dr. Shirlei Martins dos Santos
Membro – Curso de História/UFRR

______________________________________________________
Professora Me. Maria José dos Santos
Membro - Doutoranda pela UFPA
Dedico a satisfatória realização deste trabalho

Aos meus queridos pais.


Raimundo e Izabel
AGRADECIMENTOS

À Deus, Fonte da Vida e fé, que nos inspira e nos guia em todos os passos.

Aproveito este espaço para homenagear e agradecer a essas pessoas, que fazem e fizeram parte
da minha vida, com certeza sou a pessoa mais privilegiada, honrada e abençoada pela amizade
de cada um de vocês.

Aos meus pais, Raimundo e Izabel, que sempre me apoiaram no que foi preciso e que sempre
acreditam na minha luta em continuar os estudos.

Ao meu orientador, professor Dr. Jaci Guilherme, que me instruiu durante a elaboração desta
pesquisa, sem o qual a realização deste trabalho não seria possível. Obrigado por ter lido e
relido nosso trabalho, ter acreditado em mim, acreditado no meu trabalho, que se tornou nosso
trabalho e principalmente acreditou que eu seria capaz de conquista-lo. Minha admiração e
respeito à você meu camarada.

E a todos do curso de História, que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о
meu muito obrigado.
“ A fé na vitória tem que ser inabalável”
- Dexter
RESUMO

As Ordens religiosas na Amazônia, em especial os missionários beneditinos e os conflitos


políticos no Vale do Rio Branco são o objeto desta presente pesquisa. A história da ocupação
recente da Amazônia está diretamente relacionada com o encontro de culturas religiosas. As
atuais estruturas da Igreja Católica nasceram no Brasil em 1891, quando a Constituição
Republicana separou a Igreja do Estado. Quanto a missão beneditina no Vale do Rio Branco,
destacaremos as disputas políticas que aconteciam na região, os conflitos entre os fazendeiros
e os missionários, além dos novos rumos que a Igreja tomava após o fim do império. Em
Roraima, a missão caracterizou-se como uma instituição chave no processo de organização
social dessa região. Porém ao chegarem no Vale do Rio Branco os monges encontraram uma
sociedade regida pelo coronelismo pecuário. Serão discutidas as relações passadas entre
missionários religiosos, índios e colonos civis, além da importância dessa missão no
desenvolvimento social e econômico do Vale do Rio Branco.

Palavras – chave: Ordens Religiosas, Amazônia, Índios, Beneditinos.


ABSTRACT

The religious orders in the Amazon, especially the Benedictine missionaries and the political
conflicts in the Rio Branco Valley are the object of this present research. The history of the
recent occupation of the Amazon is directly related to the encounter of religious cultures. The
current structures of the Catholic Church were born in Brazil in 1891, when the Republican
Constitution separated the Church from the State. As for the Benedictine mission in the Rio
Branco Valley, we will highlight the political disputes that took place in the region, the conflicts
between the farmers and the missionaries, as well as the new directions that the Church took
after the end of the empire. In Roraima the mission was characterized as a key institution in the
process of social organization of this region. But when they arrived in the Rio Branco Valley,
the monks found a society ruled by livestock coronelism and commanded by a local elite. The
past relations between religious missionaries, Indians and civilian colonists will be discussed,
as well as the importance of this mission in the social and economic development of the Rio
Branco Valley.

Keywords: Religious Orders, Amazon, Indians, Benedictines.


LISTA DE ABREVEATURA E SIGLAS

CENDAP - Centro de Documentação e Apoio a Pesquisa - Universidade Federal do Amazonas.

CIDR – Centro de Informação Diocese de Roraima

CIR – Conselho Indígena de Roraima

NUDOCHIS - Núcleo de Documentação Histórica – Universidade Federal de Roraima.

O.S.B – Ordem de São Bento

SPI – Serviço de Proteção ao Índio

UFRR – Universidade Federal de Roraima


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Imagem fac-similar 01 - Jornal do Rio Branco ...............................................45


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................13
1. AS ORDENS RELIGIOSAS E A CONSTRUÇÃO SÓCIO-POLÍTICA NA
AMAZÔNIA ...........................................................................................................................16
1.1. As ordens religiosas na Amazônia ....................................................................................17

1.2. O processo de catequese na Amazônia .............................................................................21

1.3. As ordens religiosas no Vale do Rio Branco e a construção da Igreja Matriz ..................23

2. DOM GERARDO VAN CALOEN E A MISSÃO BENEDITINA NO VALE DO RIO


BRANCO ................................................................................................................................28
2.1 A chegada da Ordem Beneditina no Vale do Rio Branco ..................................................29
2.2 Dom Gerardo Van Caloen e a proposta Beneditina no Vale do Rio Branco .....................33
2.3 Coronelismo pecuário e a perseguição aos Beneditinos.....................................................39

3. JORNAL DO RIO BRANCO (1916 – 1917): ANÁLISE SOBRE A PRESENÇA


BENEDITINA NO VALE DO RIO BRANCO....................................................................43

3.1 Análises do Jornal do Rio Branco (1916 – 1917) ..............................................................44


3.2 A importância da missão beneditina no espaço social do Vale do Rio Branco e o uso da
cultura letrada como inclusão da vila de boa vista na civilização brasileira.......................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................58
13

INTRODUÇÃO

O tema proposto na pesquisa são as Ordens Religiosas na Amazônia: Os Missionários


beneditinos e os conflitos políticos no Vale do Rio Branco, no período de 1840 a 1948.
A missão beneditina no rio Branco foi instalada em junho de 1909, inserida no cenário
ainda marcado pela separação entre o Estado e a Igreja, com a implantação do Regime
Republicano no Brasil no final o século XIX.
Destacaremos a importância dessa missão na reestrutura da Igreja e a dedicação à
evangelização dos povos indígenas bem com o processo de atividades econômicas
desenvolvidas pelos missionários e da perseguição política que eles presenciaram.
O fato é que a missão beneditina no Vale do rio Branco foi essencial na formação
espaço/social da cidade, o grande problema foi a estrutura política local, liderada por grandes
fazendeiros de gado e comerciantes.
O Brasil está marcado pela diversidade de credos e filiações religiosas. O Cristianismo é uma
das cinco religiões mundiais mais importantes da humanidade. Revolucionou o Império Romano e até
hoje vem se readaptando às mudanças sociais. Continua transformando o mundo, ocupando lugar
relevante entre as demais religiões no Brasil (MACEDO, 1991).
O campo religioso na Amazônia brasileira está marcado, com a chegada dos
colonizadores, foi fortemente influenciado pelo Cristianismo, considerado um dos principais
movimentos religiosos introduzido na região, a princípio pela Igreja Católica e mais tarde pela
Igreja Protestante. Estas Igrejas são instituições históricas presentes durante o processo de
ocupação de toda a Amazônia brasileira.
A história vive de fatos, e os fatos constroem o processo histórico, cabe ao historiador
organizá-los, investigá-los e construir sua visão, como esclarece o historiador Ciro Flamarion
Cardoso.

A missão do historiador consistiria em estabelecer – a partir dos documentos - os fatos


históricos, coordená-los e, finalmente, expô-los coerentemente. Os fatos históricos
seriam singulares, individuais, que não se repetem, o historiador deveria recolhê-los
todos, objetivamente, sem optar entre eles. Seriam encarados como a matéria da
história, que já existiria latente nos documentos, antes do historiador ocupar-se destes.
Sua coordenação em uma cadeia linear de causas e consequências constituiria a
síntese, a apresentação dos fatos estudados: o fato quase sempre políticos,
diplomáticos, militares ou religiosos. 1

1
CARDOSO, Ciro Flamarion. e PEREZ, Hector. Os métodos da história. Rio de Janeiro, Edições Graal, 2002,
p. 21-22.
14

Trataremos o conceito de “poder” que em um dado momento, instigou certo interesse


possessivo dos representantes governamentais, a fim de conquistar o espaço através do
pensamento ideológico das doutrinas religiosas advindas do catolicismo. Assim sendo, segundo
Santos (2002):

Religião e política sempre caminharam lado a lado no processo histórico. Ora houve
separação, ora houve fusão entre ambas. No Brasil não foi diferente. Como se sabe,
até 1889 o catolicismo era a religião oficial. Ainda que hoje essa religião não seja
mais oficial, é inegável o papel que a Igreja Católica desempenha no cenário político
nacional (e internacional). (SANTOS, 2002, p.30)

Conforme a citação acima, houve um tempo de hegemonia da Igreja Católica no Brasil,


mas segundo Alberto Pereira dos Santos (2002), é notório a pluralidade religiosa encontrada no
espaço social brasileiro, e consequentemente o papel político desempenhado por ela na
Amazônia brasileira, não havendo mais o monopólio de uma religião, pelo fato de o espaço
religioso ter se tornado ativo, reflexo das transformações ocorridas no espaço social.
Segundo Reis (1997), o trabalho das ordens religiosas ligadas à obra da civilização é
indicado como um trabalho de tal significado, o qual não é possível compreender sem o estudo
do esforço dos missionários, que parece à primeira vista reduzido a catequese indígena. Além
das atividades catequéticas, espalharam a noção de Deus, estudaram a terra e o homem e
aproveitaram as aptidões dos índios para construírem hospitais e escolas onde os filhos dos
colonos e dos indígenas aprendiam as primeiras letras.
Para uma melhor realização deste trabalho o método utilizado foi a análise
bibliográfica, de cunho investigativo e documental, onde se propôs a realizá-la partindo de
coletas das notícias que interessasse a essa pesquisa. Para isso, foram selecionados e analisados,
recortes do Jornal do Rio Branco durante os períodos de 1916 a 1917.
De tal forma, essa pesquisa contribui ainda, para futuras abordagens acadêmicas,
possibilitando o surgimento de novos estudos para quem tiver o interesse em compreender a
história de Roraima, em especial as Ordens Religiosas no Vale do Rio Branco.
O trabalho está organizado em três capítulos, que têm ligações diretas com as
abordagens propostas. No primeiro capítulo intitulado “As Ordens Religiosas e a construção
sócio política na Amazônia”, destacaremos a importância das ordens religiosas na Amazônia
e faremos uma análise sobre sua chegada nesta região do Brasil, se fará referência sobre sua
influência no Estado do Amazonas, constatando que a ação missionária estabelecida no início
do século XX, desempenha importante papel na formação de uma nova organização social, na
15

afirmação da soberania territorial estatal, e na “nacionalização” da população local. A


implantação do processo de catequese e a chegada dos Monges Beneditinos ao Vale do Rio
Branco, destacando a importância que eles tiveram nesse período. As ordens religiosas, além
de estarem mais próximas da população, tinham um forte impulso missionário: levar a
civilização, a fé católica, ensinar, educar e catequizar.
No decorrer do segundo capítulo, que se chama “ Dom Gerardo Van Caloen e a
missão beneditina no Vale do Rio Branco”. Compreender os conflitos e interesses locais nesse
período. A proposta de atuação dos beneditinos no Vale do Rio Branco contribuiu diretamente
para a ocupação do território. Com um olhar mais atento, percebe-se que a vinda dos monges
beneditinos para a bacia do rio Branco se dá pela implementação de projetos voltados para a
indústria e economia, que visam retirar a região do atraso econômico em que viviam.
No terceiro capítulo intitulado “Jornal do Rio Branco (1916 – 1917): análise sobre a
presença beneditina no Vale do Rio Branco”, apresentaremos elementos que compõem o
periódico Jornal do Rio Branco, patrimônio histórico de Boa Vista. As dissertações que
compõem esses jornais nos fomentaram embates de relevância social, pois os mesmos são
representantes de uma cultura e documentos oficiais de sua época. No decorrer do capítulo
também abordaremos a importância da missão beneditina e o uso da cultura letrada como forma
de integração da Vila de Boa Vista do Rio Branco com a civilização brasileira. O uso dos jornais
é fundamental para a compreensão desse período sem esquecer de ressaltar os aspectos
peculiares adotados pelos monges durante as missões.
16

I CAPÍTULO

1. AS ORDENS RELIGIOSAS E A CONSTRUÇÃO SÓCIO-POLÍTICA NA


AMAZÔNIA.

Esse primeiro capítulo abordará alguns elementos que revelam a importância das
ordens religiosas na Amazônia e a construção sócio-política desta região. Assim, ao descrever
suas chegadas nesta região do Brasil, se fará referência sobre sua influência no Estado do
Amazonas, constatando que, a ação missionária estabelecida a partir do século XVII,
desempenha importante papel na formação de uma nova organização social, na afirmação da
soberania territorial estatal e na “nacionalização” da população local.

Iniciaremos uma discussão sobre o papel das ordens religiosas na Amazônia, além de
sua importância na configuração da sociedade amazônica.

Pretende-se demonstrar que a religiosidade teve na Amazônia um papel importante


para a construção sócio-política e as ordens religiosas serviram para manter a ordem e, ao
mesmo tempo, estabelecer novas modos de vida aos habitantes locais. A análise final possibilita
afirmar que a religiosidade cristã católica foi de suma importância no processo de povoamento
e desenvolvimento da região amazônica.

As grandes religiões sempre estiveram presentes na construção do processo histórico


das principais civilizações que se desenvolveram nas etapas históricas. Desta forma, não é
difícil entender a importância científica dos fenômenos religiosos, os mesmo se configuram
como alternativas de estudos, analises e pesquisas, visando a construção de um conhecimento
concreto.

Ao se envolver com a população e o território, a religião toma certa dimensão


geográfica, sendo esta visível ou invisível, o poder passa a girar em torno da fé ou da crença
religiosa da população. Então, é viável afirmar que dependendo da maneira como se dirige o
poder à população, este se manifesta na luta por uma melhor moradia, reforma agrária ou até
ficar indiferente às questões sociais. (SANTOS, 2002).
17

Neste estudo nos propomos a analisar alguns recortes históricos referentes ao período
colonial e o império brasileiro, mais respectivamente sobre a relação da Igreja Católica na
Amazônia brasileira.

1.1. AS ORDENS RELIGIOSAS NA AMAZÔNIA

A Igreja Católica, com aproximadamente dois mil anos de existência, passou por
diversas provações e teve que se reinventar várias vezes para não ser extinta. Alicerçada no
tripé do magistério, tradição e doutrina, a Igreja se manteve firme em seus propósitos, mesmo
quando enfrentou algumas turbulências internas e externas.
Neste contexto, a Igreja Católica também estava inserida. Gondim (2007) enfatiza que
o pensamento religioso influenciava a visão de mundo dos viajantes europeus. Nas narrativas
desses viajantes, segundo a autora, a localização do paraíso e do inferno eram temas frequentes.
A flora e a fauna foram comparadas com o jardim do Éden. Logo, as histórias bíblicas foram
importantes na constituição do imaginário dos viajantes, dos cronistas e dos missionários. Suas
ideias e imaginações estavam arraigadas a conceitos religiosos difundidos pelo Catolicismo.
Com o passar do tempo, no interior da Igreja surgiram algumas instituições que
desenvolveram modelos próprios para o segmento do evangelho cristão, são o que chamamos
de ordens religiosas. Muitas dessas ordens vieram ao Brasil desde o início da colonização e
desenvolveram aqui um modo próprio de viver e propagar a sua fé.
Os religiosos de São Bento, que se aventuraram na empreitada de fundar mosteiros no
Brasil, estavam envoltos num ambiente de transformações e reformas que iriam influenciar na
concepção e no papel da vida monástica no século XVI. As antigas ordens tiveram que enfrentar
as críticas ferrenhas de que foram vítimas já a partir do século XIII2 e promover mudanças e
adaptações para vencer a decadência espiritual, a onda de secularização e, num grau menor, o
próprio protestantismo.
Durante os séculos XV e XVI são notórias, as várias tentativas de reforma das ordens
religiosas, pois se multiplicavam os “padres reformadores” e novas sociedades religiosas. Estas
“novas ordens” eram caracterizadas pela manutenção do espírito monástico, entretanto,

2
No século XIII, inovações na educação dentro das universidades com o predomínio da lógica seguida pelo direito
e pela teologia, desbancou a formação literária e de humanidades promovidas nos mosteiros. A cultura monástica
tem seus alicerces abalados quando deixa de ser a única forma de consagração a Deus com o desenvolvimento de
um novo sistema, o dos frades. (PIERRARD, Pierre. História da Igreja. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.)
18

distinguiam-se claramente das ordens monásticas tradicionais e mendicantes da Idade Média.


Por serem fundadas, geralmente, com um propósito social, as novas ordens deviam ter uma
organização, uma estrutura que capacitasse seus membros a sair do claustro para o mundo3. Em
relação às mudanças na vida dentro do claustro, deve-se muito os Irmãos de Vida Comum, pois
extirparam as penitências, as cerimônias e orações litúrgicas longas, as complicações do ritual
e do canto.
“O Brasil nasceu à sombra da cruz”4, esta afirmação dos historiadores Mary Del Priore
e Renato Pinto Venâncio, tem um sentido acentuado, o Brasil enquanto colônia da metrópole
portuguesa nasce sobre a proteção da Santa Cruz católica e ao mesmo tempo sob o domínio do
vasto império ultramarino português. A religião dos descobridores foi trazida em suas caravelas
para que as novas terras descobertas pudessem receber a benção de Deus e sua infinita proteção.
Ao mesmo tempo que esta proteção era invocada, a Coroa Portuguesa utilizava a religião como
um instrumento de suma importância para o projeto colonizador que veio a se desenvolver nas
terras do novo mundo português.

As atuais estruturas da Igreja Católica nasceram no Brasil em 1891, quando a


Constituição Republicana separou a Igreja do Estado, permitindo ao Vaticano
enfrentar as necessidades mais prementes de uma instituição moribunda. Contudo, se
é possível descobrir a data do nascimento das estruturas eclesiásticas, não se deve
esquecer a sua herança nem as circunstâncias que as levaram ao seu semi
desaparecimento.
É esta herança que condiciona a implantação atual da Igreja e nos ajuda a encontrar
as razões da sua debilidade. É ela que determina os limites da sua influência social, os
setores que privilegia para o diálogo, os seus métodos de recrutamento e de formação
de quadros, a posição dos seus funcionários no conjunto das estruturas do Poder no
país, as suas relações com os detentores do poder político e, finalmente, as suas fontes
de financiamento e a sua ideologia.5

Da Europa para a América, os Carmelitas chegaram ao Brasil junto com o projeto


colonizador português que, a partir de 1693, intensificou sua presença (portuguesa) na
Amazônia, através da construção de diversas fortalezas, com o objetivo de evitar possíveis
invasões da região por tropas espanholas, holandesas, francesas e inglesas que já ocupavam
áreas fronteiriças. Hoornaert acrescenta a este quadro, que a presença dos padres Carmelitas na
Amazônia estava diretamente relacionada ao sistema de padroado6, que regulava a obra

3
DAVIDSON, N. S. A Contrarreforma. São Paulo: Martins Fonte, 1991, pp.36-37.
4
DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. O livro de ouro da história do Brasil: do descobrimento à
globalização. Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, p. 40.
5
ALVES, Márcio Moreira. A igreja e a política no Brasil. São Paulo, Editora Brasiliense, 1979, p. 17.
6
É a designação do conjunto de privilégios concedidos pela Santa Sé aos reis de Portugal e de Espanha. Eles
também foram estendidos aos imperadores do Brasil. Tratava-se de um instrumento jurídico tipicamente medieval
19

missionária na sua totalidade religiosa. Isto é, a metrópole portuguesa reestruturava a atuação


da Igreja na colônia, bem como controlava a vinda e as ações dos missionários ao mesmo tempo
em que estabelecia uma ligação direta entre os interesses do Estado e a Igreja.7
A expansão da Igreja Católica na Amazônia se dá desde que fora “descoberta” pelos
europeus, ela foi um cenário de histórias mitológicas que a descreviam como o Paraíso Perdido,
o El Dourado, a Fonte da Juventude. Também foi palco de guerras, de escravidão, de disputas
políticas e territoriais, de desenvolvimento econômico, como o período da borracha, quando
houve intensas imigrações como a nordestina; de exploração em massa das riquezas naturais,
como as “drogas do sertão”, da implantação da navegação a vapor e de desigualdades sociais.
Em 1693, a região Amazônica é dividida entre as principais ordens religiosas aqui
estabelecidas, ficando assim definidas as áreas de atuação para cada uma delas: os Jesuítas
ficaram com o sul e à direita do rio Amazonas, já o norte e a esquerda, ficaram para os demais:
Mercedários, Franciscanos de Santo Antônio, Franciscanos da Piedade e a dos padres
Carmelitas.
As ordens religiosas chegaram em épocas diferentes à região. Deparavam-se, porém,
com os mesmos obstáculos como a competição entre os colonos e entre as próprias ordens
religiosas pelo "direito de administrar o indígena", visto tanto como mão-de-obra quanto como
fiel servo de Deus.
Para isso, é fundamental conhecer um pouco da história da Amazônia Portuguesa: a
penetração portuguesa ocorreu no início do século XVII, tendo como objetivo evitar as invasões
inglesas, francesas e holandesas no território. No geral, a ocupação dessa região caracterizou-
se, como no restante do Brasil, pelo processo de mestiçagem, tanto cultural e racial; sendo as
estruturas e práticas europeias impostas, bastante modificadas pela realidade local. Entretanto,
possui algumas especificidades que devem ser consideradas.
No século XVIII, o Estado do Grão-Pará recebeu uma atenção especial da Coroa
Portuguesa, cuja política esclarecida preocupou-se em estabelecer os limites de seus domínios,
resultando na militarização da região. Como consequência, foram adotadas uma série de
medidas, entre elas, o aumento do número de missões carmelitas, a adoção da capital da
Capitania de S. José do Rio Negro em Barcelos, o estímulo ao casamento entre colonos e
indígenas, que resultaram na formação de um novo grupo étnico (os tapuias), na escravização

que possibilitava um domínio direto da Coroa nos negócios religiosos, especialmente nos aspectos administrativos,
jurídicos e financeiros.
7
NETO, Carlos de Araújo Moreira. Os principais grupos missionários que atuaram na Amazônia brasileira
entre 1607 e 1759. In: CEHILA – HISTÓRIA DA IGREJA NA AMAZÔNIA. Editora Vozes. São Paulo, 1980.
p. 63 a 120.
20

e deportação de populações ao meio urbano e principalmente numa maior influência europeia


na região.
Os Franciscanos da Província de Santo Antônio foi a primeira Ordem Missionária
Católica a se instalar na Amazônia para as tarefas de catequese. Essa ordem veio para a região
na expedição de Jerônimo de Albuquerque para a conquista do Maranhão.
O trabalho missionário dos franciscanos era condicionado pela tradição portuguesa.
Estes quiseram constituir no Brasil um ambiente de vida parecido com o de Portugal. Neste
caso, não podiam faltar os conventos, missas, novenas e a eucaristia. Os franciscanos entendiam
a missão como extensão das fronteiras do sistema católico e expansão religiosa
(HOORNAERT, 1992).
Na tentativa de resolver esta contenda, que envolvia também a ocupação do Vale
Amazônico, inúmeras Cartas Régias fixaram as áreas de atuação das ordens. Os franciscanos
de Santo Antônio receberam as missões do Cabo do Norte, Marajó e Norte do Rio Amazonas;
à Companhia de Jesus couberam as dos Rios Tocantins, Xingu, Tapajós e Madeira; os
franciscanos ficaram com as da Piedade e do Baixo Amazonas, tendo como centro Gurupá; os
mercedários com as do Urubu, Anibá, Uatumã e trechos do Baixo Amazonas; e os carmelitas
com as dos Rios Negro, Branco e Solimões.
Por meio da Igreja Católica, o Cristianismo tornou-se a religião predominante na
Amazônia. A cultura cristã é uma das “essências” que constitui a identidade das populações
locais. Essa cultura se manifesta em muitos dos costumes (valores, crenças, ritos, saberes,
poder) deste povo, mas isso só foi possível por meio de uma evangelização profunda, tornando
o Cristianismo parte da cultura amazônica.
A cultura religiosa amazônica foi fortemente influenciada, principalmente, pelo
Catolicismo e pelas tradições indígenas. Essa relação foi tensa, promovendo a condução de
determinados elementos que compunham a religião indígena para a religião católica e vice-
versa.
A proximidade estabelecida entre índios e as Ordens Religiosas é um dos fatores que
colocam em destaque a consolidação da Igreja e a Cristianização do imaginário indígena. As
ordens religiosas, além de estarem mais próximas da população, tinham um forte impulso
missionário: levar a civilização, a fé católica, ensinar, educar e catequizar. Assim sendo, eles
tiveram grande influência sobre os indígenas, facilitando a institucionalização da Igreja
Católica na Amazônia.
21

1.2. O PROCESSO DE CATEQUESE NA AMAZÔNIA

A introdução da Igreja Católica na Amazônia se deu por meio da contribuição dos


colonos que queriam garantir seu domínio sobre este território e pelos missionários que
constituíram um Catolicismo baseado em influências populares ibéricas com forte acento
medieval voltado para festas de devoção aos santos católicos (MAUÉS, 2000), por soldados,
administradores coloniais, índios e negros.
Percebe-se que o projeto colonial de conquista da Amazônia estava também ligado ao
sentido espiritual, ou seja, os colonizadores dominaram estas terras e os índios sob a proteção
dos princípios morais e religiosos da Igreja Católica. Enfim, o interesse da colonização através
das ordens missionárias na Amazônia consistia em assegurar as fronteiras para Portugal. Os
religiosos eram agentes de defesa das fronteiras do Vale Amazônico.
Os missionários, ao participarem do projeto colonizador, adentraram na floresta
invadindo aldeias indígenas com o propósito de converter os primeiros habitantes desta região
ao Cristianismo. Como os povos indígenas eram os principais moradores, toda atuação das
ordens religiosas foi direcionada aos mesmos.
Conduzidos pelos nativos, os missionários penetravam pelo coração pulsante da mata
espessa, formada por imenso e heterogêneo verde. Era uma tarefa complexa, em meio a terrenos
submetidos a chuvas constantes que provocavam um aumento no nível das águas que, por sua
vez, arrastavam e deslocavam grandes porções de terra próximas aos cursos dos rios. Por conta
disto, a exploração detinha-se no que a floresta oferecia e possibilitava espontaneamente.
De certa forma, o conhecimento que os indígenas possuíam sobre a região, os
missionários entraram nas aldeias controlando suas crenças e práticas cotidianas. Figueroa
(2002), em seu artigo Presença Religiosa na Amazônia, descreve como a Igreja Católica
evangelizou essa população. O Catolicismo Romano se organizou em Dioceses, sendo que a
prática pastoral mais conhecida exercida neste tempo foram as chamadas desobrigas8.
Para Hoornaert (1992), um dos motivos da criação da desobriga consistia na saída dos
missionários das aldeias. Estes tinham que catequizar através de um sistema elaborado de
castigo que os próprios padres não aguentavam por muito tempo, daí a elaboração de um

8
Incursão da igreja católica a regiões de difícil acesso, praticando a caquetese e oferecendo os sacramentos a
pagãos. Disponível em: < https:// http://www.dicionarioinformal.com.br/desobriga/ >. Acesso em: 24 de julho de
2017.
22

regulamento que não permitia que o missionário permanecesse por mais de três anos em uma
única aldeia.
Desse modo, os missionários – padres, sacerdotes, bispos, freis – percorriam os rios e
a densa floresta “desobrigando” a população local de seus pecados e de seus compromissos
canônicos (pendências ritualísticas), também casavam, batizavam, celebravam missas e
ensinavam os costumes católicos como: o culto aos santos, a importância da eucaristia e as
orações Ave Maria e o Pai Nosso. Para desempenharem essas atividades, reuniam os indígenas
em aldeamentos ou reduções onde recebiam a catequese e os sacramentos.
Os missionários andavam de aldeia em aldeia. Toda a população local deveria ser
batizada, participar das missas e outros atos religiosos como as procissões, a reza do terço e das
ladainhas em latim. Ao cumprirem essas atividades, os missionários partiam para a aldeia
seguinte, achando que sozinhos, os indígenas cumpririam os preceitos cristãos católicos. Nesse
tempo houve pouco controle eclesial, configurando assim em um tipo de Catolicismo que
evidenciava também as tradições indígenas.
De acordo com Maués (2000), a catequese foi o principal instrumento de
evangelização utilizado pelos missionários. Ele caracteriza esse sistema religioso de “pedagogia
catequética” e enfatiza que um dos aspectos da catequese era a violência contra os indígenas,
principalmente contra suas práticas tradicionais. Por exemplo, a proibição de danças, a nudez,
a incorporação de espíritos em público, a pajelança, costumes como a poligamia, a antropofagia,
dentre outros. Para o autor, trata-se de uma atividade doutrinária católica que destruiu de certa
maneira a vida tribal dos povos indígenas.
Na região amazônica muito por conta da Igreja Católica, o Cristianismo tornou-se a
religião predominante na Amazônia. A cultura cristã é uma das “essências” que constitui a
identidade das populações locais. Essa cultura se manifesta em muitos dos costumes (valores,
crenças, ritos, saberes, poder) deste povo, mas isso só foi possível por meio de uma
evangelização profunda, tornando o Cristianismo parte da cultura amazônica.
Segundo Araújo (2003), o homem da Amazônia é, na sua totalidade, católico. Grande
é o número de igrejas, capelas, paróquias e prelazias no interior da região. Onde não há capela
ou igreja, padre ou missão, há sempre homens e mulheres do Apostolado da Oração que se
encarregam de fazer as ladainhas, as missas aos domingos e de rezar o terço. As festas do
Divino, as pastorinhas de Natal, a missa do galo, as procissões, a semana santa, os novenários,
os terços, as bênçãos do Santíssimo, os quadros com a imagem de Cristo ou de algum santo
católico pendurado nas paredes das casas dos moradores são os sinais da influência da Igreja
Católica na vida religiosa da população amazônica.
23

No rio Branco, o trabalho missionário em específico a desobriga, ficou a cargo de Dom


Alcuíno Meyer9, um dos principais missionários entre os índios da região, responsável por
enviar regularmente crônicas após as suas viagens de desobriga ao Abade de plantão do Rio de
Janeiro.
Conforme Vieira (2014, p. 133), Dom Alcuíno Meyer, o padre itinerante, que andava
pelos quatro cantos da região e falava Taurepang, Wapixana e Macuxi, revelava-se pelas suas
crônicas, excelente botânico, antropólogo e linguista, tendo inclusive estudado mais
criteriosamente o grupo Pauxiana, já extinto, pertencente ao grupo Karib. Chegou a relacionar
esses com os índios Macuxi e sua língua. Seu trabalho como intelectual não parou por aí.
Durante toda a sua estada no Rio Branco, de 1924 e 1948, recolheu, se não todas, boa parte das
lendas Macuxi, que ainda estão à espera de publicação no arquivo do mosteiro do Rio de
Janeiro.

1.3. AS ORDENS RELIGIOSAS DO VALE DO RIO BRANCO E A


CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ.

A região do rio Branco, uma área que até no final do século XVII é praticamente
desconhecida pelos portugueses e as notícias são extremamente vagas e escassas, muito pela
falta de documentação produzida no período.
Contudo, a região somente aparecerá com maior destaque na documentação
portuguesa a partir de meados do século XVIII com a implantação dos aldeamentos e a extração
das drogas do sertão e a criação das fazendas nacionais. Será também a partir desse século que
teremos mais referências sobre a região nos relatos de viagens.

9
O monge Alcuíno Meyer (OSB) produziu uma vasta documentação registrando a sua atuação missionária no
Vale do Rio Branco, de que faz parte uma coletânea de mitos (editada pela Diocese de Roraima em 2011), como
também, um extenso vocabulário Makuxi, dezenas de volumes manuscritos compondo um diário de viagens
redigido ao longo de décadas, além de centenas de cartas (em grande parte destinadas aos monges de seu mosteiro
de origem), e ainda diversas crônicas, cuja versão original encontra-se depositada no arquivo do Mosteiro São
Bento do Rio de Janeiro. Dos escritos de Dom Alcuíno, cabe destacar aqui as publicações de três mitos constantes
da presente coletânea pela UNESCO, com a iniciativa de A. Métraux - "LENDAS MACUXIS" in Extrait du
Journal de la Société des Americanistes, Nouvelle Série, t. XL, 1951, pp.67-87. Musée de L'Homme - Palais de
Chaillot / Place du Trocadero, Paris, XVI.e, 1951 - e, pelo Arquivo Nacional - "PAUXIANA - Pequeno ensaio
sobre a tribo Pauxiana e sua língua, comparada com a língua Macuxi" - Ministério da Justiça e Negócios Interiores,
Rio de Janeiro, 1956. Sobre a atuação missionária e a vida de Alcuíno Meyer, o monge beneditino, e irmão de
família monacal, Dom Jerônimo de Lemos, elaborou um cuidadoso trabalho, editado pelo Colégio de São Bento
do Rio de Janeiro em 1985 - "D. Alcuíno Meyer O.S.B. 1895 - 1985". (SANTILLI, 2014 p. 57 e 58)
24

De acordo com Barros (1995), “ o navegável rio Branco foi a via de acesso usada pelos
padres para estabelecerem os aldeamentos de índios no século XVIII, pelos apresadores destes
nativos, pelas tropas portuguesas que estabeleceram a fronteira colonial nos limites da sua bacia
no fim do século XVIII e estabeleceram as primeiras fazendas, e pelos pecuaristas que fundaram
mais e mais fazendas nos meados do século XIX até a segunda metade do século XX para
fornecer gado vivo ao vale amazônico, então no auge da borracha. Foi também o rio Branco a
via de chegada dos mineiros, dos colonos e da massa em geral. O rio Branco é então por isto
um elemento emblemático e central na paisagem da Roraima pré-rodoviária”.
O rio Branco é formado pelo encontro de dois outros rios, o Tacutu e o Uraricoera,
seguindo, após, para desaguar no rio Negro, do qual é afluente. No encontro desses dois
formadores, deu-se a construção do Forte São Joaquim, que foi utilizado como ponto estratégico
militar em meados do XVIII para impedir a entrada de britânicos e espanhóis na região.

As ordens do governo colonial foram cumpridas à risca: entre 1775 e 1776 os militares
iniciaram a construção do Forte São Joaquim, à margem esquerda do Tacutu, no ponto
de junção deste rio com o Uraricoera para forma o Rio Branco, posição esta
recomendada pelos estrategistas portugueses por permitir o controle da passagem de
ambos os rios ao Branco [...] (FARAGE, 1991 p. 123) .

De acordo com Farage, a falta de formação dos indígenas que não passaram pelos
estágios das congregações religiosas e que os aldeamentos missionários servem para corrigir
um equívoco da historiografia da área, quando se atribui aos Carmelitas a formação dos
aldeamentos na região. Ela afirma que de fato, a Ordem do Carmo tinha projetos de atuar junto
com os índios do rio Branco na segunda metade do século XVIII, porém não teve tempo de
efetivá-los, simplesmente pelo fato de as missões terem sido secularizadas com a reforma
pombalina. Outro fator a ser destacado são os aldeamentos, que foram construídos no Rio
Branco, sob as bases das leis do Diretório Pombalino.
Conforme Farage (1991, p. 129), a evangelização, está visto, perdia assim muito de
seu peso na organização da vida dos aldeamentos: munidos de “altar portátil”, os padres
empreendiam ocasionalmente viagens de desobriga, celebrando a missa e batizando quantos
pudessem.
Segundo Paulo Santilli (2014, p, 35 -36), “ Muitos sacerdotes católicos percorreram o
Vale do Rio Branco desde o século XVIII. Nessa região limítrofe com os domínios coloniais
espanhol e holandês, missionários carmelitas acompanharam os militares portugueses nas
práticas de ‘descimento’ da população indígena para a formação dos aldeamentos articulados a
partir do Forte São Joaquim; ao longo do século XIX, o frei carmelita José dos Santos Innocente
25

(1832/52), o frei capuchinho Gregório José Maria de Bene (1852/54), e de modo mais
esporádico, clérigos franciscanos (1880/83) e jesuítas estenderam as viagens eclesiais pelas
povoações ribeirinhas da paróquia do Rio Negro até seus principais afluentes e, mesmo, por
ocasião do estabelecimento de fronteiras nacionais, foram enviados padres diocesanos para
batizar os índios e atestar os limites territoriais brasileiros até as cabeceiras do rio Branco. No
entanto, dada a violência secular no recrutamento da população indígena e a efemeridade da
presença dos missionários na região, ainda ao final do século XIX.10
Para a antropóloga Nádia Farage (1991, p. 186), os registros dão conta de que apenas
os capelães do Forte São Joaquim pertenciam a essa ordem religiosa.
Tais ensinamentos e práticas cristãs, na qual os padres que atuavam no rio Branco
praticavam, iam de encontro com o modo pelo qual os indígenas exerciam em seus costumes e
suas religiosidades. Sob outro aspecto, os padres Carmelitas não compreendiam as razões que
levavam os indígenas a resistirem em aceitar os ensinamentos administrados, voltando-se
sempre para as velhas tradições indígenas, contrariando assim, os dogmas cristãos impostos
pelos Carmelitas.
Outrossim, para os Carmelitas, a disciplina vinha em primeiro lugar, e principalmente,
a desenvolvida pela ocupação desempenhada pelo trabalho. Quando este não estava sendo
praticada, cabia o desempenho das atividades religiosas, o que para os indígenas era algo difícil
de ser seguido, uma vez que culturalmente não compreendia estes valores impostos pelos
Carmelitas.
No entanto, no período em que estiveram à frente dos aldeamentos, ou seja, até meados
do século XVIII, a presença de padres Carmelitas no rio Branco não se deu apenas como
evangelizadores. Houve também outra atividade, da qual os Carmelitas seriam acusados, que
contribuiu diretamente para a expulsão deles da região.
Outras práticas não religiosas são as “entradas” feitas pelas “tropas de resgate”, cujo
objetivo era capturar índios para a sua comercialização ou utilizá-los como mão-de-obra
escrava. Estas entradas eram compostas por auxiliares como, índios aculturados, oficiais de
fazenda, militares e funcionários públicos, além dos padres que atuavam como juízes dos
chamados “resgates”, definindo se era justa ou injusta a captura dos indígenas.
De acordo com Beozzo (1983), em meio a estas questões, os próprios missionários
comercializavam os prisioneiros confinados com os holandeses e espanhóis. O que colocou em
dúvida o propósito da Igreja nos aldeamentos administrados pelos religiosos. Entre aqueles que

10
SANTILLI, Paulo. Política e Ritual: a faina missionária beneditina entre os Makuxi no Vale do Rio Branco.
São Paulo, Unesp, v. 10, n. 2, p. 35-61, julho-dezembro, 2014
26

mais foram acusados de cometer atos contrários aos princípios cristãos, estão o Carmelita
Jerônimo Coelho e o jesuíta Aquiles Maria.
Conforme Vieira (2014 p. 32), com a expulsão dos jesuítas, em 1759, e a efetivação
das reformas pombalinas em 1757, passaram os aldeamentos a ter um caráter secular. A reforma
invalidou o Regimento da Missões que estavam em vigor desde 1686, extinguiu a administração
eclesiástica, transformou as antigas aldeias em vilas e restituiu a liberdade aos índios. Dessa
forma a política indigenista passava diretamente para as mãos do Estado metropolitano, cuja
preocupação foi uma só: integrar o índio à sociedade luso-brasileira, transformando-a em
súditos portugueses.
De modo semelhante, A. Limbourd11 (1908, p. 515 apud SANTILLI, 1989, p. 58-59)
compreende como efêmera a presença desses religiosos católicos na região, ao julgar:

Os índios, registrou ele em 1898, creem vagamente em um Deus Soberano Supremo


de todos, como também em maus espíritos […] mas estavam mesmo mais
preocupados em conjurar os maus espíritos que louvar ao bom Deus”
(LIMBOUR,1908, p. 515).

Em suma, o campo religioso na Amazônia brasileira está marcado, com a chegada dos
colonizadores, foi fortemente influenciado pelo Cristianismo, considerado um dos principais
movimentos religiosos introduzido na região, a princípio pela Igreja Católica e mais tarde pela
Igreja Protestante. Estas Igrejas são instituições históricas presentes durante o processo de
ocupação de toda a Amazônia brasileira.
De fato, não se pode narrar o surgimento de Boa Vista sem lembrar a importância
histórica da Igreja Católica. A presença do Cristianismo na bacia do Rio Branco ocorreu em
meados do século XVIII.
Em Roraima, no entanto, segundo Repetto (2008), a Igreja Católica passou a agir em
prol das populações indígenas, pois através da evangelização e da educação escolar buscaram
integrar os índios ao contexto “cultural” da sociedade nacional.

11
O padre RR.PP. François Xavier Libermann, superior-geral da Congregação do Espírito Santo e do Sagrado
Coração de Maria, foi incumbido pela Santa Sé no ano de 1896 de recolher informações sobre as missões católicas
na Amazônia e averiguar a localização prioritária para o estabelecimento de novas missões apostólicas. Com esta
incumbência, percorreu o Rio Uraricoera, onde se situava o Forte São Joaquim, construído nos limites ao extremo
norte da colonização portuguesa em 1775. Na crônica de viagem, Libermann relatava as tribos existentes no Rio
Branco no ano de 1989, juntamente com o padre Berthon, até a confluência de seus formadores, os rios Tacutu e
região, que se distinguiam em índios bravos – como os Jaricuna no rio Uraricoera – e índios mansos – como os
Macuchis, Mapichianos e Aturians no rio Tacutu –, os quais, então advertia, estavam sendo evangelizados pelos
missionários anglicanos na fronteira com a Guiana Inglesa. (LIMBOUR, 1908, p. 515).
27

A Igreja representa um importante instrumento de dominação e controle da população


local, haja vista a aceitação dos dogmas cristãos por todos os moradores. Weber (1999), afirma
que a dominação é um caso especial de poder por ser um dos elementos mais importantes da
ação social. Todas as áreas da ação social, sem exceção, mostram-se profundamente
influenciadas por complexos de dominação. Contudo, nem toda ação social apresenta uma
estrutura que implica dominação, mas em muitas de suas formas, a dominação desempenha um
papel considerável mesmo nas formas que não se supõe isto à primeira vista.
Em 1858, a região foi elevada à categoria de freguesia12, passando a se chamar Nossa
Senhora do Carmo e o povoado de Boa Vista, local onde se erigiu uma pequena capela à Santa
do Carmo, sua sede administrativa.
Em 1860 o Frei Samuel Luciani, na ocasião, foi nomeado vigário local e permaneceu
por apenas três anos. Desde então se passariam aproximadamente 30 anos sem que houvesse
qualquer registro que indique a presença de algum religioso no Rio Branco.
De acordo com Diniz (2005 p.16), “ com a proclamação da República em 1889, a
organização política do território brasileiro foi reformulada, e as províncias foram
transformadas em estados, compostos por municípios. A Freguesia de Nossa Senhora do Carmo
tornou-se, portanto, Município do Estado do Amazonas, recebendo o nome de Boa Vista do
Rio Branco, em 9 de julho de 1890”.
Contudo, essa autonomia administrativa fez com que a Igreja Católica desse o aval
para a criação da paróquia Nossa Senhora do Carmo. Sendo assim, a Igreja Matriz 13 é a pedra
de origem da cidade de Boa Vista.
Em 1907 o Papa Pio X separa da Diocese do Amazonas o vasto território da Bacia do
Rio Branco e seus afluentes e entrega aos cuidados de Dom Gerardo Van Caloen, eleito o
primeiro bispo da Igreja que atuava nas missões da bacia do Rio Branco. Dando origem assim,
a Missão Beneditina no Rio Branco, o que veremos mais adiante.

12
Com a reforma administrativa de 18 de julho de 1835, surge a estrutura civil da Junta de Paróquia, autonomizada
da estrutura eclesiástica; os seus limites territoriais, no entanto, eram geralmente coincidentes com os das paróquias
eclesiásticas que vinham desde a Idade Média. Com a Lei n.º 621, de 23 de junho de 1916, as paróquias civis
passam a designar-se freguesias (e a Junta de Paróquia passa a designar-se Junta de Freguesia), fixando-se assim
a diferença entre a estrutura civil (freguesia) e a estrutura eclesiástica (paróquia); no entanto, em linguagem
popular, é vulgar falar da pertença a determinada freguesia quando, de facto, se pretende falar da pertença a uma
comunidade paroquiana.
13
A Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo é uma construção do século XIX, está localizada na Rua Floriano
Peixoto, s/n, no Centro. A primeira paróquia foi erguida em 1856 e elevada à condição de Igreja Matriz em 1858.
Seu primeiro vigário foi o Cônego José Henrique Felix da Cruz Daoia, seu sucessor o padre Manoel Furtado de
Figueiredo que ocupou a função até 1909 quando foi passada a igreja para a Ordem Religiosa dos beneditinos. O
bem é tombado pela prefeitura Municipal, Lei n° 230, de 10 de setembro de 1990 e Decreto n° 2614, de 15 de
outubro de 1993.
28

II CAPÍTULO

2. DOM GERARDO VAN CALOEN E A MISSÃO BENEDITINA NA AMAZÔNIA.

Neste capítulo achamos por bem fazer uma explanação sobre Dom Gerardo Van
Caloen e a missão beneditina no Vale do rio Branco. Nesse processo, realizou-se uma reflexão
acerca dos conflitos e os interesses locais desse período, além da violência por parte de um dos
membros da oligarquia local que acabou por cruzar com a experiência missionária dos
beneditinos.
Analisaremos em especial Dom Gerardo Van Caloen e a missão Beneditina no Vale
do rio Branco além do processo de separação entre o Estado e a Igreja, com a implantação do
Novo Regime Republicano no Brasil no final do século XIX, procurando entender a
importância da vinda da ordem beneditina com o propósito da reestruturação da igreja e
dedicando-se à evangelização dos povos indígenas.
A obra missionária no campo social é imensa. A sua dedicação à conquista dos povos
indígenas é uma conquista espiritual, social e cultural. Em Roraima a missão caracterizou-se
como uma instituição chave no processo de organização social dessa região. Porém ao
chegarem no Vale do Rio Branco, os monges encontraram uma sociedade regida pelo
coronelismo pecuário e comandado por uma elite local.
A recepção hostil aos missionários pelo Coronel Bento Brasil14, chefe político do rio
Branco e representante da câmara de deputados do Amazonas, antecipou as tensões e os
conflitos com os beneditinos, que em uma determinada fase do processo evangelizador proposto
pela missão vão acirrar as relações entre Igreja e as elites locais.
Em um último momento, dentro da abordagem do cotidiano, de que forma os monges
beneditinos se adaptaram aos costumes da população, assim como ao clima e à alimentação,
isto sob uma perspectiva de análise da percepção desses religiosos sobre o Novo Mundo e,
também, quais mudanças tiveram que fazer no seu dia-a-dia e nos seus hábitos para continuarem
seus projetos na bacia do rio Branco?

14
O Coronel Bento Brasil era filho de um Capitão que comandou o Forte São Joaquim em 1855. Tornou-se, um
dos maiores proprietários de terras no Vale do Rio Branco, como também um rico comerciante. Foi eleito como
Deputado Estadual do Amazonas por quatro legislaturas, representando o Município de Boa Vista, sua grande base
eleitoral.
29

Ou seja, identificar a visão que os monges tinham do povoado do Vale do rio Branco,
como eles lhe davam, os índios e a elite local.

2.1. A CHEGADA DA ORDEM BENEDITINA NO VALE DO RIO BRANCO

A missão beneditina no rio Branco foi instalada em junho de 1909, inserida no cenário
ainda marcado pela separação entre o Estado e a Igreja, com a implantação do Regime
Republicano no Brasil no início do século XX. Destacaremos a importância dessa missão na
reestruturação da Igreja e a dedicação à evangelização dos povos indígenas, além do processo
de atividades econômicas desenvolvidas pelos missionários e da perseguição política que eles
presenciaram.
As primeiras notícias documentais de um trabalho eclesiástico, exercido no rio Branco
de forma mais ou menos regular, encontram-se nos livros de batismos e casamentos a partir de
1840 (VIEIRA, 2003). Os trabalhos eclesiásticos eram então confiados a missionários
apostólicos.
Com a desanexação da prelazia do rio Branco da Diocese do Amazonas, o patrimônio
da Capela de Nossa Senhora do Carmo na Vila de Boa Vista passou a ser gerenciado pelos
beneditinos. Um desses patrimônios foi a Fazenda de São Bento, entregue ao vigário da prelazia
do rio Branco no dia 19 de maio de 1909, durante ato solene na Matriz de Manaus com a
presença do Coronel Bento Brasil, até então administrador da fazenda.
Em janeiro de 1907, Dom Miguel Kruse enviou ao Cardeal Merry Del Von, secretário
de Estado do Papa Pio X, um relatório em que descrevia as condições precárias do trabalho
missionário no Vale do Rio Branco. Dom Miguel afirmava, na ocasião, que [...] “tribos” inteiras
já teriam caído, presas dos "missionários da heresia", como preferia dirigir-se aos pastores
anglicanos que se estabeleceram na fronteira do Brasil com a Guiana Inglesa a partir da segunda
metade do século XIX (VIEIRA, 2007, p.89).
De acordo com dados históricos analisados pelo antropólogo Carlos Alberto Marinho Cirino
destaca outro fator que contribuiu para a tensão vivida pelos missionários estava ligado à
fundação da loja maçônica “Paz e Progresso do Rio Branco”, em 1909 com 48 membros
pertencentes ao ciclo das amizades do Coronel Bento Brasil.
Como ainda havia restrições por parte da Igreja Católica, as confrarias maçônicas no
início do século XX, os monges em Boa Vista não aceitaram como padrinhos na cerimônia de
30

batismo de uma criança membros da loja maçônica, que por sua vez eram parentes e
apadrinhados do Coronel Bento Brasil. A perseguição aos monges beneditinos teve uma enorme
repercussão tanto na imprensa da cidade de Manaus como na imprensa da cidade carioca. Sabe-
se, porém, que o grande motivo da perseguição não foi a realização do ritual religioso pelos
monges beneditinos, mas sim a posse da fazenda (VIEIRA, 2003).
Contudo, com o Decreto nº 119, art. 3º do Governo Provisório – que previa uma
liberdade que abrangeria também as “igrejas, associações e institutos em que se acharem
agremiados; cabendo a todos o pleno direito de se constituírem e viverem coletivamente,
segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder público” 15, foi permitido à
Igreja reabrir os noviciados e Abade Geral Fr. Domingos da Transfiguração Machado escreveu
ao Papa Leão XIII e ao Secretário de Estado quanto à necessidade de restabelecer a Ordem
Beneditina Brasileira.
De acordo com Morais (2013, p. 116), define a expansão das missões pelo mundo:
“ação localizada dos Beneditinos na Bacia do rio Branco mantêm confluência com o quadro
geral de expansão das missões pelo mundo, caracterizado pela forte cooperação entre Igreja e
o Estado desde o século anterior. Sobre a conjugação dos empreendimentos cristianizadores e
colonizadores”.
A antropóloga Melvina Araújo (2006, p. 52) destaca:

De qualquer modo a posição hegemônica do século XIX percebia a missão como uma
atividade que visava conformar as populações nativas aos valores, hábitos e
moralidades europeias. Não foi, pois, sem motivos, que [...] as missões fizeram,
muitas vezes, parte das políticas dos governos coloniais, num período em que a
separação entre Igreja e Estado estava na ordem do dia.

Com a instalação da República, o sistema administrativo passa por algumas reformas.


As províncias foram transformadas em estados federativos, constituídos de municípios. É, neste
contexto que a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo foi levada à categoria de município de
Boa Vista do Rio Branco, através do Decreto Estadual de nº 49, do dia 09 de julho de 1890
(CIRINO, 2000, p. 16).
Sobretudo, a implantação da Ordem Beneditina no rio Branco era mais uma questão
econômica e uma redefinição de espaços territoriais e religiosos e essas instituições seriam úteis
para manter o domínio das comunidades, promovendo povoamento e uma maior integração
entre os povos indígenas da região, assim, facilitando o deslocamento para as outras missões

15
(DECRETO Nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890.)
31

religiosas. Outro motivo seriam os interesses individuais que os monges tinham em relação à
ascenderem na hierarquia religiosa.

Os caminhos entre o Rio Branco e os interesses do monge Dom Geraldo Van Caloen,
nomeado chefe da missão, pareciam se cruzar a partir deste momento. Filho de nobres
alemães, Dom Gerardo, ao que tudo indica, tinha ambição que o fazia procurar meios
para subir na hierarquia religiosa o mais rapidamente possível. Deste modo,
possivelmente sabendo da divisão do espaço religioso amazônico, apresentou
concomitantemente a sua nomeação, projetos ao Papa Pio X, no sentido de criar uma
missão junto aos povos indígenas do Rio Branco 16

O fato é que a missão foi essencial na formação espaço/social da cidade, o problema


foi à estrutura política local, liderada por grandes fazendeiros de gados e comerciantes. Pois os
fazendeiros que faziam parte da elite local não aceitavam qualquer tipo de questionamento
sobre a posse irregular das terras indígenas.
Jaci Guilherme Vieira, destaca que:

A perseguição aos beneditinos deixou bastante clara quem verdadeiramente detinha o


poder na região. A vida social da comunidade não ficou sob o controle dos religiosos,
no início do século XX, como também no decorrer do mesmo; isto porque, nessa
região, a questão de terra e da mão-de-obra indígena foi, ao longo de muitos anos, e
em muitas ocasiões continua sendo, muito mais importante do que qualquer tipo de
respeito às instituições, as leis e inclusive a igreja católica. Esse conflito trouxe
consequências graves para o futuro imediato da Missão e principalmente para a
própria vida dos missionários, ameaçando sufocar o projeto de catequese já na sua
origem (VIEIRA, 2014 p. 102-103)

Os beneditinos tiveram grande importância no processo de evangelização dos povos


indígenas, pois o intenso trabalho e o contato com índios de etnias Wapixana e Macuxi, trouxe
um caráter social à missão. Após serem expulsos da vila de Boa Vista, os missionários
refugiaram-se às margens do rio Surumu, foi o primeiro contato dos padres com os indígenas.
Seguindo a estratégia de ocupação da região do rio Branco, e no intuito de “civilizar”
os índios, são criadas através das Fazendas Nacionais e do Serviço de Proteção aos Índios (SPI),
as primeiras escolas da região. O objetivo principal da escola era, “disseminar a instrução entre
as inúmeras tribos semicivilizadas que povoam o interior para torna-las úteis ao
engrandecimento da Pátria e ao bem da família”. (Relatório do SPI de 1924, citado pelo CIDR).
Sabe-se que o empreendimento educacional não ficou somente a cargo do SPI, este foi
também desenvolvido pelos missionários Beneditinos, que se estabeleceram no início do século

16
VIEIRA. Jaci Guilherme. Missionários, fazendeiros e índios em Roraima: a disputa pela terra – 1777 a
1980/Jaci Guilherme Vieira. 2. Ed. Revista e ampliada. Boa Vista: Editora da UFRR, 2014. p. 96
32

XX e que tinha como principal objetivo a proteção dos indígenas da região, não medindo
esforços para alcançar este intento. Para a realização dessa empreitada, utilizaram-se da
catequese e do trabalho educacional, é tanto que os mesmos foram os responsáveis pela
construção das principais escolas da região, além de uma escola agro técnica.
O SPI criou uma escola agrícola para inserir as crianças indígenas nos paradigmas
educacionais produzidos pela cultura não-indígena, passando a exercer forte influência sobre
grupos indígenas dessa região. 17
O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg esteve na missão em 1911 e descreveu em
detalhes suas instalações e atividades:

A missão foi construída pelo dinâmico Pe. Bonaventura com grande habilidade
estratégica, bem próxima à fronteira política de dois Estados e na zona fronteiriça de
quatro tribos principais: Makuschí, Wapischána, Taulipáng e Arekuna [...] A sede da
missão consiste em algumas construções térreas e provisórias, com paredes de pau-a-
pique e telhados em parte de palha de palmeira, em parte de folha canelada.
Compreendem a capela, as celas dos padres e irmãos, a sala de aula, que também serve
de refeitório, a cozinha, a despensa e outros recintos pequenos. Atrás da construção
principal há um bonito jardinzinho com flores campestres alemãs 18.

Por motivos de saúde, os padres tiveram que abandonar a missão na região do Surumu.
Os monges contraíram febre amarela e malária na região e foram para Belém a procura de ajuda.
Nesse processo, os monges transferiram a missão para as margens do rio Cauamé e em seguida
para a Serra Grande, onde voltaram a se dedicar ao processo de desobriga nas fazendas e aldeias.
Em 1918, os beneditinos voltam ao Vale do rio Branco onde retomam seu trabalho após o
período de desavenças com os fazendeiros.
Nas primeiras décadas do século XX, os beneditinos introduziram uma série de
investimentos no município, no qual o sítio do Calungá receberia esse polo industrial de grande
porte, com alto investimento financeiro de propriedade da ordem beneditina.

A obra de catequese dos índios ficaria praticamente sob a responsabilidade de apenas


um monge, Dom Alcuino Meyer, visto que os religiosos passaram a se aventurar no
campo empresarial. Já em 1925, passava a funcionar a primeira experiência industrial
no rio Branco. Ligada a atividade agroindustrial, constituía-se essa indústria de vários
departamentos, entre eles: navegação, charqueada, curtume, fábrica de gelo,
eletricidade, sala de cinema, casa comercial e, finalmente, o grande sonho, que para
os beneditinos retiraria de vez o Rio Branco do isolamento: a construção da estrada

17
LIMA, Galvani Pereira de; SANTOS, Raimundo Nonato G. dos. A criança indígena e sua relação com a
sociedade do Vale do Rio Branco nas primeiras décadas do século XX. In: VIEIRA, Jaci Guilherme (Org.) O Rio
Branco se enche de história. Boa Vista: UFRR, 2016
18
KOCH-GRüNBERG, Theodor. Del Roraima al Orinoco. Tomos I e II. Caracas: Ediciones del Banco Central
de Venezuela, 1979-1982. p. 120
33

que ligaria Boa Vista a Caracaraí, com uma extensão de 160 km, em plena selva
amazônica.19

Os beneditinos tiveram grande importância no processo social e no intenso trabalho de


evangelização, com o propósito de levar a fé a vários grupos indígenas. Os beneditinos deixam
Roraima no ano de 1948, depois de quase 40 anos dedicados a missão do rio Branco. A partir
daí a Santa Sé entregava a prelazia aos Missionários da Consolata de Turim em 1948,
encerrando-se assim o período Beneditino no Vale do Rio Branco.
Vieira (2014, p. 137), destaca a chegada dos missionários da Ordem da Consolata em
1948, substituindo os beneditinos, não trouxe, inicialmente, grandes mudanças na forma de
relação com as populações indígenas. Suas preocupações foram praticamente as mesmas: casar,
batizar e confessar, ou seja, não tinha qualquer tipo de projeto diferenciado da Ordem anterior,
demonstrando também que havia um bom relacionamento com as elites locais.
No ano 2009 a Diocese de Roraima comemorou 100 anos de sua existência. Foi uma
ocasião em que foi relembrado todo o processo histórico da caminhada da Igreja em uma “terra
de missões”, com momentos em que a Igreja esteve ao lado dos indígenas, atuando na forma de
aldeamento e, posteriormente, na luta pela “libertação” desses povos, sobretudo na reconquista
de suas terras tradicionalmente ocupadas pelas várias etnias.
Durante os 100 anos, oito bispos comandaram os rumos da evangelização de Roraima.
Três foram os bispos beneditinos, Dom Gerardo Van Caloen (1914-1917); Dom Pedro
Ergrather (1921-1929); Dom Lorenzo Zeller (1943-1944).

2.2. DOM GERARDO VAN CALOEN E A PROPOSTA BENEDITINA NO VALE


DO RIO BRANCO

Até o final do século XIX, as ações missionárias não faziam parte do cotidiano da
Ordem de São Bento, que se estabeleceu no Brasil em 1581. A expansão da sua congregação
deu-se pela região litorânea e a sua subsistência provinha da comercialização da produção de
suas fazendas, chamadas de “propriedades rústicas”. O seu compromisso com a religião era
com a manutenção da disciplina e de um ordenamento monástico em um espaço que propunha

19
VIEIRA. Jaci Guilherme. Missionários, fazendeiros e índios em Roraima: a disputa pela terra – 1777 a
1980/Jaci Guilherme Vieira. 2. ed. Revista e ampliada. Boa Vista: Editora da UFRR,2014. p. 117-118
34

a reprodução de um tempo sagrado. Consequentemente, a educação tornou-se o principal


instrumento para a sua ação social.
Os Beneditinos, chegados à Bahia em 1581, construíram rapidamente sete abadias e
numerosas residências. Os seus mosteiros, muitas vezes notáveis por seu tamanho e riquezas,
desempenharam um importante papel militar no combate contra os corsários franceses no Rio
de Janeiro e contra o invasor holandês na Bahia.

A ordem beneditina no Brasil foi pouco missionária, pois dedicava-se antes à vida
contemplativa. A cultura monástica da época não criava harmonia entre missão e
contemplação como tinha acontecido diversas vezes antes na história da Igreja. Ela
era rica, possuía opulentos edifícios urbanos e numerosas fazendas mantidas por
escravos: em 1871 houve a emancipação de 4000 escravos de São Bento, no dia 29
de setembro. Finalmente ela viva bastante fora da problemática brasileira, constituída
por pessoas estrangeiras que transplantaram para o Brasil a vida e a cultura
portuguesas. Tudo isso fez com que a ordem beneditina vegetasse apoiada no trabalho
escravo, fosse uma instituição estranha à problemática que agitava a vida da maioria
do povo, um “outro mundo” fora dos problemas diários, sem irradiação no plano
missionário.20

De acordo com Cirino (2008, p. 34), a Ordem de São Bento foi fundada há mais de 14
séculos por Bento de Núrsia (480-540). Nas cartas de Gregório, o Grande, nos Diálogos II,
relata-se que São Bento de Núrsia depois de ter levado uma vida eremítica cedeu a vida
cenobítica e redigiu uma regra que se expandiria no período carolíngio, tornando-se, a partir de
então a regra fundamental dos beneditinos. As atividades dos monges beneditinos estavam
relacionadas ao exercício da vida contemplativa, a meditação, a leitura espiritual, a vida
litúrgica, segundo as regras ditadas por São Bento, cuja filosofia era a busca de Deus no silêncio
e na solidão, no ascetismo e na simplicidade. “Mais tarde, os monges adotaram atividades fora
do claustro relacionado não só a cura das almas, mas também a vida paroquial, a educação de
jovens, a catequese de índios e a vida missionaria”.
Porém, de acordo com Vieira, o motivo que teria contribuído para a vinda dos monges
para o Vale do Rio Branco seriam outros, pois além de associados à reestruturação da Ordem
Beneditina no Brasil, seriam interesses individuais (promoções na hierarquia religiosa) ligados
à principal autoridade beneditina eclesiástica do Brasil na época, Dom Gerardo Van Caloen. 21

20
HOONAERT, Eduardo. Primeiro período: a evangelização do Brasil durante a primeira época colonial. In:
HOONAERT, E. [et al.] (org.). História da Igreja no Brasil: ensaio de interpretação a partir do povo: primeira
época, Período colonial. 5º ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 56-57
21
VIEIRA. Jaci Guilherme. Missionários, fazendeiros e índios em Roraima: a disputa pela terra – 1777 a 1980.
Boa Vista. 2004. p. 92
35

Embora, no fim do século XIX, a Ordem Beneditina no Brasil atravessava enormes


dificuldades econômicas e vocacionais. A legislação criada no tempo do Império procura
impedir a renovação do quadro vocacional e religioso nos mosteiros.
Segundo Fragoso, uma maneira do Estado se apropriar dos bens materiais da Igreja
apressando “a lei de mão morta”, na qual estabelecia que todos os bens pertencentes às antigas
ordens religiosas após a morte do último membro residente passariam ao controle do Estado.
Deste modo, em 1855 o Governo Imperial suspendia a instalação de novos noviciados no país,
o que acirrou a crise na ordem de São Bento.22
Conforme Neto (2000, p. 81), preocupados com estas medidas, as capitulares da
Ordem Beneditina elegem, no fim do século XIX, como abade Geral da Ordem no Brasil, o
monge Dom Domingos da Transfiguração Machado, cuja primeira iniciativa é suplicar ao Papa
Leão XIII uma solução para contornar o problema da Ordem no Brasil. Como resposta, o Papa
passou a atuar junto ao governo Imperial através dos seus embaixadores e enviados papais, no
sentido de anular os efeitos legais sobre os bens da Igreja, restaurou a Ordem Beneditina no
Brasil dando-lhe um caráter apostólico-missionário, autorizou a criação e a vinda de uma
missão da Abadia de Beuron, Alemanha, para socorrer a congregação brasileira em 1895.
A partir desse momento, os caminhos entre o rio Branco e os interesses do monge Dom
Gerardo Van Caloen, até então nomeado chefe da missão no rio Branco, pareciam se cruzar.

Possivelmente, a vinda dos monges para o Rio Branco e responsabilidade do próprio


Dom Gerardo, pois tudo indica que ele possuía ambições na hierarquia clerical. De
família nobre, tinha, provavelmente, o objetivo de tornar-se bispo rapidamente e
descobriu que isso era possível mostrando serviço em outras regiões do país.
Realidade que se concretizou, principalmente, quando descobriu essa possibilidade no
Rio Branco.23

Deste modo, Dom Gerardo, possivelmente sabendo da divisão do espaço religioso


amazônico, apresentou juntamente a sua nomeação, projetos ao Papa Pio X, no sentido de criar
uma missão junto aos povos indígenas no rio Branco.
O historiador Jaci Guilherme Vieira destaca:

O projeto de Dom Gerardo fez com que o Papa, então Pio X, unisse ao mosteiro do
Rio de Janeiro o Território do Rio Branco. Foi dessa forma que o simples Abade do
Rio se tornou Bispo Titular de Phocea e Prelado do Rio Branco, título que lhe foi

22
FRAGOSO, Hugo. A Igreja na Formação do Estado Liberal. In: BEOZZO, José Oscar. História da Igreja
no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980. Vol. II, p. 204.
23
VIEIRA. Jaci Guilherme. Missionários, fazendeiros e índios em Roraima: a disputa pela terra – 1777 a 1980.
Boa Vista. 2014. p.97
36

conferido quando criou de direito a Missão no Rio Branco em 1907. Isso aconteceu
porque, de acordo com a legislação eclesiástica, não era então permitido a uma Abadia
Nullius que, ao pé da letra, significa ligada a nada, e sim diretamente ao Papa, como
era a do Rio de Janeiro, comportar um bispo, seria necessário tornar-se uma Abadia
territorial, o que foi possível com a construção de uma missão territorial no ponto
extremo do país.24

Em 1905, a Santa Sé transferiu Dom Gerardo Van Caloen do mosteiro de Olinda para
abade do Rio de Janeiro, onde ainda havia a necessidade de aumentar o número de religiosos.
Com os projetos aprovados, Dom Gerardo Van Caloen, já na qualidade de Bispo titular de
Phocea, região da Alemanha, criou e enviou uma missão religiosa para a região do Amazonas,
respectivamente o Vale do Rio Branco. Entretanto, Dom Gerardo permaneceu no Rio de Janeiro
como Bispo Prelado do Rio Branco e superior da Ordem Beneditina no Brasil.
Quando saíram do Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro, rumo a Amazônia, a
missão seguiu chefiada pelo vigário geral da Prelazia Dom Acário Demycnk. Junto com ele,
acompanharam três outros monges e dois irmãos confessos. A chegada da missão a Manaus
ocorreu em 19 de maio de 1909 e foi recepcionada pelo Bispo do Amazonas, Dom Frederico
Costa, que após os cerimoniais de praxe, falou e expôs aos monges quanto às condições
religiosas, sociais e políticas que haviam no rio Branco. Os monges, amparados pela tradição,
partiram com firme propósito e um método próprio.

Em suma, o apostolado monástico não é mais um método: o que a tradição recomenda,


que o princípio cenocítico exige e que a experiência dos séculos contempla. Nós o
designamos, como indica o termo expressivo, método irradiante [...]. Finque uma cruz
em plena terra infiel, diante dela funde um monastério: eis o ponto inicial da conduta
desde Bonifácio, de Acário, dos grandes apóstolos de antigamente[...]. Desde a sua
base, os monges saem para visitar as populações circunvizinhas. Pouco a pouco, por
ondas de influência progressiva, o contágio do bem executa a sua obra, a luz do
evangelho penetra toda a região. (DEMUYNCK, 1910, p. 35-36).

De acordo com Vieira (2014), a primeira Missão beneditina enviada para o rio Branco
foi composta por os seguintes religiosos: Dom Acário Demuynk, que passaria a ser o vigário
geral da Prelazia, Dom Boaventura Barbier, Dom Beda Goppert, Dom Adalberto Kaufmelh, os
irmãos confessos Melquior Doering e Irmão Gaspar Elsenbusch e por último, o próprio
Arquiabade do Mosteiro do Rio de Janeiro, Bispo Dom Gerardo Von Caloen. Este por último
acabou preferindo, neste primeiro momento, ficar na capital Manaus.

VIEIRA. Jaci Guilherme. Missionários, fazendeiros e índios em Roraima: a disputa pela terra – 1777 a 1980.
24

Boa Vista. 2014. p. 97


37

Dom Gerardo, à frente da missão, priorizou o desenvolvimento social e econômico.


Em primeiro lugar caberia, para o idealizador da missão, tomar medidas a favor do saneamento
básico e de uma missão médica, além da organização do serviço de navegação fluvial, criação
de um sistema de comunicação e a aliança com os fazendeiros da região.
Essa administração parece ter conduzido a missão não pelo trabalho, mas pelos
interesses econômicos que se estabeleceram a partir desse movimento de restauração, contudo,
apoiados por verbas estaduais, a ordem beneditina preservaria o “objetivo” de educar para o
trabalho.

Na rotina do trabalho religioso as dificuldades vão moldando os propósitos das ações


beneditinas na bacia do Rio Branco. No rol dessas dificuldades, constam: o contato
com diferentes culturas indígenas, as especificidades de cada grupo e as longas
distâncias que os separava; a escassez de missionários diante do tamanho da região a
ser assistida; os constantes conflitos com a sociedade envolvente; a própria índole
monástica e as doenças como a malária e a febre amarela que, inclusive, levaram
alguns monges à morte.25

A elite local do rio Branco associada à presença da maçonaria, constituiu-se como uma
forte oposição as intenções dos monges restauradores, que se tornaram proprietários de uma
fazenda de gado pertencente ao patrimônio da capela doado, até então administrada pelo coronel
Bento Brasil, maior proprietário de terras, chefe político do rio Branco e Deputado Estadual da
região.
A perseguição aos monges beneditinos teve uma enorme repercussão tanto na
imprensa da cidade de Manaus como na imprensa da cidade carioca. Sabe-se, porém, que o
grande motivo da perseguição não foi a realização do ritual religioso pelos monges beneditinos,
mas sim a posse da fazenda (VIEIRA, 2003).
O desejo de “manter boas relações” com a oligarquia local foi dissipado logo na
chegada dos beneditinos à vila de Boa Vista. A tensão vivida pelos monges em relação à
ocupação da terra e à propriedade do gado bovino teve início em 1906, quando Dom Gerardo
solicitou ao governo brasileiro a área da fazenda São Bento para a organização da missão
beneditina26.
De acordo com Vanthuy Neto (2000 p. 80), os fazendeiros não aceitam muito esta
ideia de padres fundarem missão no meio de índios, pois na pele que o elo de todos os entraves

25
MORAIS, Vângela Maria Isidoro de. FILHOS DE DEUS E NETOS DE MAKUNAIMA: Apropriações do
catolicismo em terras makuxi. Tese (doutorado), Universidade Federal do Ceara. Fortaleza – 2013. p. 116
26
“A administração desta fazenda passou ao vigário geral; da Prelazia, quando no dia 19 de maio de 1909 lhe foi
entregue o governo da dita Prelazia pela autoridade diocesana do Amazonas. O ato da entrega realizou—se na
matriz de Manaós e em presença do proprietário Snr. Bento Brasil, procurador da fazenda”.
38

e questões no rio Branco é o gado e a fazenda. Primeiro quando solicitaram os bens (gado) da
fazenda da paróquia, da qual era procurador aquele que Dom Gerardo recomendava de ter boas
relações, Bento Brasil, o mesmo não quer devolver, pois terra não havia. Em busca do lugar
chamado S. Bento, que havia sido requisitado ao governo federal para o mosteiro e primeiro
núcleo missão, descobriram que estava retalhado por usurpação e apropriação de vários
fazendeiros. Dom Gerardo aconselha-os a não brigarem com ninguém, pois desde maio estava
à espera do parecer do inspetor de Manaus, para que o ministro assinasse o pedido.
Estas características gerais respondem sumariamente pelo que ficou conhecida como
a primeira fase da missão Beneditina na bacia do rio Branco. No tocante à visão dos religiosos
sobre os problemas com a expropriação das terras indígenas, numa arrojada frente de expansão
em nome da civilização do país, há evidências de que os Beneditinos conheciam e conviviam
com as tensões que opunham de um lado, os grandes criadores de gado e, de outro, os índios.

Mas quando ocorreu de os Beneditinos esboçarem denunciar a invasão das terras


indígenas pelos fazendeiros – a posição da Igreja da época fez arranjo com a visão
hegemônica. Em 1916, Dom Gerardo Van Caloen, presidente da Congregação
Beneditina Brasileira, ao mesmo tempo em que aponta a arbitrariedade no uso das
terras na Bacia do Rio Branco, solicita títulos aos invasores e mostra-se contrário às
reservas indígenas, com o argumento de que grande parte dos índios já estava
incorporada à população branca. (VANTHUY NETO, 2000, p. 91).

Porém, se o ideal da missão era criar as condições estruturais para o rio Branco
incrementar o desenvolvimento da pecuária, ciente de que o progresso material aceleraria o
processo de cristandade civilizadora dos índios, é possível deduzir que o lugar ocupado pelos
indígenas no novo cenário de evangelização estava cada vez mais suscetível à premissa da
integração pela desproteção de suas terras e de suas culturas.
Segundo Vanthuy Neto (2000, p. 95), em 13 de maio de 1921, os missionários
Beneditinos retomam as atividades religiosas na região, sob o signo da ascensão do novo
prelado do rio Branco, Dom Pedro Eggerath. A sua atuação à frente da missão foi marcada por
um ousado projeto desenvolvimentista que levou a uma série de construções, benfeitorias,
despesas e dívidas. Prevaleceu o espírito empreendedor de fazer da região um campo de
desenvolvimento material, onde a cultura do gado aparece como artéria condutora do progresso
e da entrada do Rio Branco na economia nacional.
Percebe-se que o interesse de Dom Gerardo na missão da bacia do rio Branco era
extremamente particular, ora, a região que nunca despertou maiores interesses por parte da
Igreja. Sabe-se que Dom Gerardo tinha ambição pessoal em escalar de maneira mais rápida
cargos hierárquicos na Igreja Católica.
39

A atuação dos beneditinos no rio Branco centrou-se na catequese de crianças


indígenas, aliada à educação formal, desde que estavam convictos de que a conversão só
efetivar-se-ia em um processo de socialização.

2.3. CORONELISMO PECUÁRIO E A PERSEGUIÇÃO AOS BENEDITINOS.

Em 1787, Manoel Lobo D’Almada, o então governador do Estado do Amazonas


introduziu as primeiras cabeças de gado na Região do rio Branco e em consequência disso
foram criadas as Fazendas Reais, que posteriormente recebeu o nome de Fazendas Nacionais.
"O objetivo da instalação das mesmas era, através da ocupação efetiva pela "pata do boi",
assegurar a posse lusa nestas áreas periféricas da bacia do rio Amazonas"(BARROS, 1995 p.
47).
Ao analisarmos os marcos do progresso na região, temos como elemento propulsor a
pecuária, introduzida por Lobo D´Almada, o próprio comércio aliado à navegação, o
extrativismo vegetal e mineral que, apesar de insipiente, atraiu migrantes à região. Todas essas
atividades foram lentamente se estabelecendo e possibilitaram o crescimento e
desenvolvimento da cidade.
Para que ainda se mantivesse esse projeto colonial para ocupação e consolidação das
fronteiras neste território, foi implantando o projeto de pecuária. Os primeiros rebanhos de
gados foram introduzidos nos campos gerais, em 1787, com a criação das fazendas do Rei ou
Fazendas Nacionais: São Bento, São José e São Marcos e “esse projeto, como o dos
aldeamentos, também teve como objetivo consolidar as fronteiras ao norte e reafirmar de forma
mais intensiva a presença portuguesa na região” (VIEIRA, 2014, p. 42-43).
Lobo D’ Almada, o primeiro a idealizar a criação de gado para a região, assim se
referiu a este espaço:

A introdução de gado vaccum nos férteis campos do Rio Branco, deve produzir um
artigo do commercio ao interior da capitania, que lhe traria muitas vantagens a
primeira: A de ter açougue a capital, e evita-se o estrago que se faz nas tartarugas; [..]
segunda. As carnes seccas com que se poderiam fornecer as differentes povoações da
capitania [...] terceira. A sola fabricada na capitania sahiria a melhor preço aos seus
habitantes [...] quarta. Cresceriam as rendas reaes com o dízimos do gado [...] Destas
vantagens, e outras que este ramo de commercio pode produzir ao interior da
capitania, se demonstra quanto é conveniente, e se necessária a introdução de gado
vaccum; para a producção do qual tem todas as propriedades, os imensos e férteis
campos do Rio Branco. ( D’ ALMADA, [s.d.], p. 663
40

Assim sendo, as fazendas de gado bovino foram instaladas na região nesse período,
fruto de uma estratégia para ocupar a região e garantir a posse de um vasto território disputado
e pretendido por outras metrópoles além de Portugal, no caso da Inglaterra e da Espanha.

Em 1904, o governador do Amazonas, Constantino Nery (1859-1924), o fotógrafo


Georg Hüebner, juntos com o engenheiro militar Alfredo Ernesto Jacques Ourique (1848-1932)
subiram o Rio Branco, a bordo do Vapor Mararyr27e documentaram a vida ribeirinha e a criação
de gado bovino nas grandes fazendas nacionais no Rio Branco, “São Marcos” e “São Bento”,
origem da maior parte da carne que abastecia Manaus. A vila de Boa Vista do Rio Branco estava
situada então:

Na margem occidental, foi fundada ha, mais ou menos, trinta annos, quando para o
ponto em que Ella está se transferiu a pequena povoação de S. Joaquim que demorava
á sombra das baterias do forte do mesmo nome. É cabeça da Comarca do Rio Branco,
Capital do Municipio, e mantem, com regular frequencia, duas escolas primarias para
os dous sexos. Além dessas, ha duas outras escolas no Alto Rio Branco, uma na
Capella e outra no Igarapé Grande do Uraricoera. Do seu commodo porto, cortado
pela natureza em curva regular no barranco da margem, sobe-se por suave ladeira até
o chapadão, em pleno campo, onde está construida a villa.Seu conjuncto apresenta
perspectivas em geral encantadoras e, de alguns pontos de vista, realmente bellas.
Possue boas casas, algumas de alvenaria e uma capella edificada singellamente, mas
com relativa elegancia. Pode-se considerar Boa Vista como o centro mais importante
de todo o movimento commercial, industrial e agricola do Alto Rio Branco
(OURIQUE, 1906, p.13)

Conforme Santilli (2001), a expansão pecuarista, durante as últimas décadas do século


XIX e as duas décadas iniciais do século XX, deu-se de modo mais concentrado, nos vales dos
rios Cauamé, Uraricoera e Amajarí, próximo às fazendas do Rei. Isso fez com que o
extrativismo fosse, aos poucos, perdendo espaço dentro da economia amazônica e o projeto da
pecuária ganhasse mais força. Estes territórios, onde foram se criando as fazendas particulares
eram ocupados especialmente pelos indígenas da etnia Wapixana.
Durante a missão, os beneditinos se depararam com uma forte presença indígena e uma
sociedade regida pelo coronelismo praticados por chefes políticos da região. As aldeias em sua
maioria estavam concentradas na bacia do rio Branco, onde a maioria se agrupava e vivia de
maneira muito simples, retirando da natureza somente o suficiente para sobreviverem.

27
“Tomemos a lancha a vapor de pequeno calado como meio de conducção, por ser o mais empregado naquelle
rio, visto poder augmentar facilmente sua capacidade de transporte, pelo additamento de batelões apropriados a
essa navegação, além de outras vantagens. De ordinario a lancha navega com um só batelão amarrado ao costado,
lateralmente, levando tambem uma ou mais montarias a reboque” (OURIQUE 1906, p.9)
41

Cirino (2008, p. 60), aponta os conflitos políticos na região do rio Branco, “nas
primeiras décadas do século XX, a região do rio Branco foi marcada pela violência, cuja origem,
podemos afirmar, era decorrente do tipo de estrutura fundiária que se estabelecera. Foi neste
quadro político e econômico que os monges se estabeleceram na vila de Boa Vista e
imediatamente foram envolvidos no conflito”.
Nesse sentido podemos destacar a atuação dos padres junto aos indígenas nas
atividades de catequese. Inicialmente, com a ajuda dos índios das aldeias nas redondezas, os
missionários construíram barracões e deram início ao trabalho de evangelização, ou em suas
palavras, “cristianização metódica”, que consistia basicamente na celebração dos ritos
litúrgicos, cânticos religiosos, leituras da bíblia e aulas de catecismo.

No âmbito dessa discussão, procuramos compreender a inserção dos missionários


beneditinos no universo indígena, especialmente no Wapischana, enquanto agentes de
transformação, partindo do pressuposto de que toda a sociedade é um campo de
confronto permanente entre fatores de manutenção e fatores de mudança. A
evangelização foi e continua sendo um instrumento de transformação, de poder que
estingue, transfigura e redefine elementos culturais das sociedades indígenas, não
obstante, os mecanismos de rejeição e resistência 28.

A catequese foi um trabalho árduo e perigoso. Um movimento em direção ao “outro”


em si mesmo, ou seja, “só prestam os índios que (nada) tem de índio”. Aquilo que no índio não
era semelhante aos europeus era prontamente rejeitado (HOORNAERT, 1992). Tanto o modo
de vida quanto as manifestações culturais e religiosas dos índios eram combatidas, como se
fossem pecado. Toda crença era considerada do mal, por isso deveria ser banida.
O catolicismo de origem eclesiástica introduzida pelos monges beneditinos a partir de
1909 não buscava contestar a organização social vigente, mas, implantar uma estrutura que
viabilizasse o desenvolvimento de um projeto de cunho religioso e econômico, voltado para a
criação de uma indústria na região sob o domínio dos monges.
Porém ao chegarem no Vale do rio Branco os monges encontraram uma sociedade
regida pelo coronelismo pecuário e comandado por uma elite local. A recepção hostil aos
missionários pelo coronel Bento Brasil, chefe político do Rio Branco e representante da câmara
de deputados do Amazonas, antecipou as tensões e os conflitos com os beneditinos, que em
uma determinada fase do processo evangelizador proposto pela missão vão acirrar as relações
entre Igreja e as elites locais.

28
CIRINO, Carlos Alberto Marinho. A "Boa Nova" na língua indígena: contornos da evangelização dos
Wapischana no século XX. Boa Vista: Editora da UFRR. 2008. p.: 76-77
42

O coronelismo surge na confluência de um fato político e de uma tendência econômica,


ou seja, tratava-se de um fenômeno que ocorreu em todo país, um pacto de dominação e
proteção, em que o grande proprietário, conhecido como coronel, tinha o dever de proteger; em
contrapartida, recebia a lealdade dos seus aparentados como também dos seus protegidos. Esse
fenômeno político característico dos primeiros anos da República no Brasil é um elemento
principal para se entender a origem da própria hegemonia política da embrionária elite agrária
que, em Boa Vista, por longos anos, esteve nas mãos da família Brasil e de outros grupos de
interesse, que nunca levaram em consideração as terras ocupadas pelas populações indígenas.
De acordo com Vieira (2014, p.45), pecuária, levada adiante por colonos, teve como
primeira consequência a disputa pela mão-de-obra indígena entre os primeiros fazendeiros.
Mais do que isso, as terras indígenas passaram então a ser alvo de cobiça, não mais por
portugueses, mas de brasileiros, dando posteriormente origem aos grandes latifúndios em
Roraima; isso porque a expansão da pecuária, idealizada no final do Século XVIII, teria seus
primeiros frutos nas últimas décadas do século XIX e início do século XX, dando finalmente
uma base econômica de sustentação para a região, ocupando cada vez mais as terras indígenas
pela violência, escravidão, como também pelos mais variados expedientes jurídicos.
Conforme Santilli (1989, p. 66-67), existia uma violenta disputa pelo poder
caracterizou a paisagem política do rio Branco por várias décadas: desde a morte de Sebastião
Diniz, o líder político incontestável no rio Branco na virada do século, dois grupos de
fazendeiros, um deles encabeçado por Bento Brasil, (...) e o outro encabeçado pelo coronel
Paulo Saldanha, disputava a hegemonia do poder na área.
Percebe-se então, que o propósito dos beneditinos no Vale do rio Branco, emerge ao
processo de integração a sociedade nacional. De certa maneira a igreja exerce certa posse sobre
esses índios. Apesar de todo o tipo de interferências que os índios receberam, muitos
preservaram suas identidades étnicas, como em situações de interação como o batismo. A obra
missionária no campo social é imensa. A sua dedicação à conquista dos povos indígenas é uma
conquista espiritual, social e cultural. Durante o período da missão, a Igreja caracterizou-se
como uma instituição chave no processo de organização social dessa região.
43

CAPÍTULO III

3. JORNAL DO RIO BRANCO (1916-1917): ANÁLISE SOBRE A PRESENÇA


BENEDITINA NO VALE DO RIO BRANCO

Neste capítulo apresentaremos, de fato, os relatos que compõem o periódico Jornal do


Rio Branco o patrimônio histórico em Boa Vista. As dissertações que compõem esses jornais
nos fomentaram embates de relevância social, pois os mesmos são representantes de uma
cultura e documentos oficiais de sua época.
A compreensão da história de modo geral, está ligada ao modo que esses jornais
descreviam os conflitos e a realidade da Vila de Boa Vista do Rio Branco.
O jornal, nesse sentido, exprimia o sentimento e a vontade da população local de
ingressarem na grande nação que, na alvorada do século XX, estava sendo forjada.
O jornal impresso é o principal meio de comunicação da linguagem escrita (RABAÇA;
BARBOSA, 1987) e sua circulação pode ser nacional, regional ou local. Apresenta apelo de
massa, mas, como toda mídia, para ser lido, é restrito por não atingir a parcela analfabeta da
população.
A literatura afirma que o jornal tem vida curta, pois seu conteúdo deixa de ser atual
em pouco tempo e, além disso, admite poucos leitores por exemplar. Também percebe o veículo
como mídia seletiva porque se destina a informar, analisar e comentar os fatos para segmento
específico da população (TAHARA, 1998).
Contrapondo-se à palavra oralizada, cuja recuperação depende de seu registro em
algum suporte técnico (fita de áudio ou vídeo, por exemplo), a palavra escrita – do jornal,
portanto - possui um caráter de testemunho, quando seu registro pode ser facilmente resgatado
em qualquer tempo.
A República e suas promessas revelavam planos grandiosos de urbanidade da qual os
amazônicos negociavam sua participação, seja através do seu ingresso na cultura letrada ou
através da promessa de aderir a costumes urbanos e civilizados, adequados a uma nação que
buscava se libertar do estigma do atraso.
44

3.1 ANÁLISE DO JORNAL DO RIO BRANCO (1916 -1917)

O Jornal do Rio Branco foi o único periódico a circular na região nesse período.
Durante os anos de 1916 e 1919 o periódico tinha a proposta de manter os habitantes do Vale
do Rio Branco em conexão uns com os outros e o mais importante, com o país que o Governo
Republicano estava criando.
O modelo jornalístico que se desenvolveria mais tarde em torno dos padrões de escrita
objetivos era totalmente diferente do modelo aplicado no Vale do Rio Branco, nas edições feitas
pelos Beneditinos, pois nesse período o papel do jornalista ainda é visto como um
comprometimento patriótico e religioso com a comunidade que está sendo construída,
vinculando-a aos modelos de cidades em torno de um poder centralizado.
Trata-se do Jornal do Rio Branco: Órgão mensal dos interesses dos moradores do rio
Branco29, de propriedade da Prelazia do Rio Branco e Dias Medeiros e Cia, que surgiu e
circulou entre os anos de 1916 a 1919. Impresso na oficina tipográfica São Bonifácio na Vila
de Boa Vista, em posse dos missionários beneditinos.
A Igreja, que funcionava como núcleo da cidade, também orientava o caráter da
publicação, buscando assimilar os vários habitantes da localidade, evitando, por exemplo, as
práticas consideradas abusivas. A assinatura do Jornal do Rio Branco acontecia na Casa
Sempre-Serve pertencente ao cidadão Mizael Guerreiro.
O jornal possuía quatro páginas divididas entre as colunas fixas “Parte Editorial”,
assinada pelo Bispo Dom Gerardo Van Caloen; “Parte Diocesana”, com reflexões sobre o
espiritismo e divulgando os nomes das pessoas que contribuíram com esmolas para a Matriz;
“Parte Variada”, com decretos municipais e audiências públicas e, por fim, as colunas de
informações nacionais e internacionais “Várias Notícias do Brasil” e “Várias Notícias do
Estrangeiro”.
Em geral a população do Vale do Rio Branco baseia-se fundamentalmente na
agropecuária, fator que só começou a ser revertido a partir das iniciativas de sociabilidade
aplicadas pelos beneditinos e o processo de urbanização que começou em meados da década de

29
As cópias microfilmadas do Jornal do Rio Branco (1916 a 1919) encontram-se no Centro de Documentação e
Apoio a Pesquisa – CENDAP na Universidade Federal do Amazonas.
Para esse trabalho utilizaremos o cervo digital (do ano de 1917) disponível no Núcleo de documentação histórica
– NUDOCHIS na Universidade Federal de Roraima.
45

40. Presume-se também que, em virtude do poder financeiro, também esse era o público
principal do jornal local entre 1916 e 1919.

Imagem fac-similar 01 - Medindo 30cm por 40cm o Jornal do Rio Branco era dividido em quatro colunas.
Fonte: Acervo do Núcleo de documentação histórica – NUDOCHIS na Universidade Federal de Roraima.

O jornal possuía quatro páginas, cada uma delas com quatro colunas. Segundo o
redator, a tipografia era proveniente da Itália, motivo pelo qual não tinha disponível o sinal
gráfico “til” (Janeiro-fevereiro de 1917, p. 1). O redator define-se ainda como um jornalista
cujo propósito é integrar o rio Branco ao resto do país sob o signo da religião católica já que,
além de jornalista, também é um bispo (junho de 1917, p. 1). Para ele, o dever de jornalista é
ser porta-voz da opinião pública, convertendo o seu conhecimento em suporte para o
desenvolvimento da comunidade como um todo. Ele define o seu papel pedagógico, por
exemplo, alertando a população para a necessidade de ferver a água:
46

É nosso estrito dever de jornalista preocupado do bem geral deste povo, de insistir
novamente sobre esta recomendação tão séria do sábio clínico, que aliás, o ‘Jornal’
tinha feito já aos seus leitores. Pedimos, pois, encarecidamente, a todo o povo do Rio
Branco, de nunca mais beber água que não tenha sido fervida (JORNAL DO RIO
BRANCO, janeiro de 1917, p. 3, grifos nossos).

Fazendo uma análise do periódico de abril a maio de 1917, no qual os padres destacam
a falta de ensino público no rio Branco.
Evidentemente, educar-se a partir dos padrões morais católicos e urbanos implicava
num esforço sistemático de alfabetização por parte das autoridades. De nada adiantaria o bispo
esforçar-se para inserir “doutrinas corretas” no cotidiano da população se estar nem sequer
estava apta para a leitura.

Nunca se falou, tanto no analfabetismo e na necessidade de combate-lo pelo ensino


público, como nos nossos tempos. Nunca, porém, foi tão negligenciada o ensino
público no nosso Rio Branco como agora. E de prever, que, se as coisas não mudarem,
ou se o ensino particular não chegará a substituir o ensino público, teremos em breve
aqui uma geração de analfabetos perfeitos, o que não constitui título de glória.
(JORNAL DO RIO BRANCO, abril-maio de 1917, p. 1).

Percebe-se a preocupação quanto à educação no Vale do Rio Branco. Os padres


denunciam a falta de escolas e de profissionais da área.

A partir desse pressuposto, percebe-se a deficiência escolar que passava a região, as


escolas eram escassas, o que fortalece o caráter rural que Boa Vista do Rio Branco levara no
decorrer do início do século XX.

Ainda de acordo com o “Jornal do Rio Branco” de abril - maio de 1917, em todo o Rio
Branco, havia apenas três escolas de caráter público, mas devido à falta de pagamentos aos
funcionários e aos professores as duas tiveram de ser fechadas:

Depois de ter gozado, por muitos anos, de escolas públicas estaduais e municipais
para ambos os sexos, o Rio Branco chegou pouco a pouco a não possuir mais escola
pública alguma tendo desaparecido todas, uma depois da outra, por supressão ou por
falta de pagamento do ordenado aos professores (JORNAL DO RIO BRANCO, 1917,
p. 1).

Sabe-se que o projeto educacional encabeçado pela Igreja e o SPI voltado para o
domínio da língua portuguesa, por parte dos indígenas, proporcionado pela educação escolar,
adquiria alto valor para o projeto indigenista.
47

De acordo com Albuquerque (2004), “ o processo educacional formal no município de


Vila de Boa Vista do Rio Branco, data da segunda metade do século XIX, quando a Província
do Amazonas designava para a região, professores como, por exemplo, Diomedes Pinto Souto
Maior, Sátira Tapajós, Ana Libória entre outros, que dada a inexistência de prédios escolares,
lecionavam em suas próprias residências ou em casas alugadas e muitas cedidas para tal fim.
Foi somente em 1924 que os monges beneditinos fundaram a primeira escola de Boa Vista, o
colégio São José. ”30
O jornal assim passa a entender e pensar essa sociedade embasada nesses relatos
preocupados com a educação, que teria consequência transformadoras negativas para a
sociedade, essas características têm implicações na organização social quando se pensa na
evolução comunitária. A escola tem um papel importante que possibilitaria e daria condições
de entendimento cultural e política a qual o indivíduo estava inserido no engajamento
profissional.

Quanto às missões que os religiosos estão dispostos a cumprir, dá-se importância para
a presença do bispo nas mais longínquas vilas que sucedem pelo baixo rio Branco:

Excelentíssimo senhor Bispo-Prelado do Rio Branco, acompanhado de seu Vigário


Geral, pretende descer o Rio Branco até a boca do mesmo Rio, na própria lancha da
prelazia “ S. Mauro, “ fazendo as paradas necessárias em diversos lugares, e em
particular Caracaraí, Novo Destino, São Francisco, Sororoca, Santa Maria e onde for
julgado útil ou necessário, atendendo às necessidades espirituais dos fiéis. (JORNAL
DO RIO BRANCO, abril-maio de 1917, p. 2).

Não é possível perceber apenas pelo aviso o motivo de julgamento a essas áreas mais
importantes que outras, sabe-se que são vilas com uma população considerável para
evangelizar. A presença do bispo é uma forma direta de influenciar na presença da igreja em
tais locais, uma espécie de solenidade para fortalecer os vínculos entre a população e a Igreja
Católica.

O município era informado do que acontecia nacionalmente e internacionalmente a


partir de jornais da capital federal. Não era por acaso ou de forma aleatória por exemplo, que
informava como além de outras causas, a crise que o Brasil passava (Parte Editorial, página 1),
e consequentemente que o município passava. É uma espécie de ponte para refletir os problemas

30
ALBUQUERQUE, Virginia Guedelho. Memória da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo – Em busca de
nossas raízes. UFRR – 2004. Dissertação de monografia.
48

locais, pois se o Brasil passara por crises junto ao término do funding-loan31, isso traria graves
consequências estruturais e econômicas para o distante município de Boa Vista do Rio Branco.

Bem longe vivemos aqui do coração de nossa pátria, brasileiros somos, porém,
brasileiros sinceros, apesar de desprezados, ciosos pelo surgimento do Brasil,
consolados, quando aparece algum sinal de regeneração e de levantamento para esta
nação da qual somos parte [...] A nós, agora cidadãos brasileiros, á nos habitantes do
Rio Branco como a quaisquer outros mais favorecidos, compete cooperar com
esforços do Governo que nos rege, para a regeneração da Pátria. (JORNAL DO RIO
BRANCO, abril-maio de 1917, Parte Editorial, p. 01).

Se por um lado informava acontecimentos nacionais, por outro lado, o jornal publicava
acontecimentos locais e solicitava através dos textos jornalísticos soluções para as autoridades
com base no contexto narrado. Ao longo do periódico, observa-se essas solicitações e através
dela, analisa-se a situação que a região passava através de tais notícias. Uma espécie de ‘’mão
dupla’’ onde se informava e solicitava às autoridades, providências.

Além de solicitar, como forma de cortejo, agradecia quando o poder público fazia algo
em prol da comunidade. A construção de uma estrada de rodagem que ligava a algumas regiões
foi de grande motivo de satisfação por parte da população e principalmente aos beneditinos,
que como interesse subjetivo, pode-se perceber o interesse na construção de uma cidade ideal
aos moldes dos clérigos quando exaltavam os seus pedidos ligados ao desenvolvimento
econômico.

Depois da estrada de rodagem das Cachoeiras, hoje concedido pelo governo da União,
nada é mais necessário ao desenvolvimento do nosso Rio Branco senão uma
navegação fluvial á épocas certas, subsidiadas pelo Governo, vantagem de que gozam
todos os demais rios do Estado das amazonas. (JORNAL DO RIO BRANCO, abril-
maio de 1917, p. 02).

Ainda conforme o Jornal do Rio Branco, em carta enviada ao Excelentíssimo


Presidente da República, os padres aproveitavam o ensejo e em nome do povo do Rio Branco,
solicitaram um serviço de navegação regular no Rio Branco.

31
O funding loan foi uma medida econômica tomada pelo quarto presidente republicano brasileiro, Campos
Sales e seu Ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, em 1898. Na prática, o funding loan era um esquema para
dar folga e garantir, através de um novo empréstimo, o pagamento dos juros e do montante de empréstimos
anteriores. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Funding_loan>. Acesso em: 21 de julho de 201.
49

Para agradecer-lhe em nome do povo Rio-branquense, a estrada das cachoeiras do Rio


Branco, e pedir um serviço de navegação regular, subsidiado pela União. (JORNAL
DO RIO BRANCO, abril-maio de 1917, p. 02).

A notória solicitação e agradecimentos nos remete a preocupação da ligação das vilas


e de regiões distantes por parte da igreja. Com a construção de vias, fica mais fácil a presença
de clérigos com a população mais distantes para a reafirmação de laços de fé e quanto a
navegação fluvial subsidiada pelo governo, as despesas da igreja diminuem nas missões e
desobrigas, e consequentemente há maior movimentação dos religiosos com tais populações.
Além, obviamente, de facilitar o tráfego de pessoas entre as regiões.

Além das mazelas estruturais que o município passava, o mesmo tinha de enfrentar a
confusão dos nomes com a cidade no Acre de Rio Branco. O município que fora amazonense,
detinha o nome a mais tempo que a cidade do Acre e os embates para a mudança de nome deram
um certo desconforto entre os entes federativos. O barão do Rio Branco negou o pedido de
mudança e o Prelado do Rio Branco fez severas acusações de intromissão por parte dos padres
em mudar tais nomes alegando a falta de competência destes. Tal desconforto não aprofunda
na análise do município, mas subentende-se que havia repulsa por parte de jornais sectários a
respeito das atitudes dos clérigos. É visível o embate até em instâncias jurisdicionais, onde o
orgulho do fazendeiro em carregar o nome de Rio Branco e a repulsa de algumas elites com a
igreja em detrimento com as ações clericais que também enfrentavam divergências na região
do município de Boa Vista do rio Branco. (Final da página 2 e início da página 3 do Jornal do
Rio Branco, abril-maio 1917)

Utilizando-se do jornal, percebemos que a distância política dos centros de poder


decisório é percebida como um dos principais problemas para a civilização no sertão. As utopias
construídas pelo bispo são sempre narrativas vinculadas aos projetos de construção de
autoestradas, portos e ferrovias, únicos instrumentos capazes de fazer a nação republicana
penetrar no Vale do Rio Branco. Dirigindo-se ainda ao governador Dr. Pedro de Alcântara
Bacellar, governador do Estado, o bispo escreve:

A preferência que o S. Ex.ª concede à nossa pobre região, tão flagelada e abandonada
até hoje, sobre todas as mais do vasto Estado, faz nascer nos nossos corações a doce
esperança de tempos melhores, para nós e para o Amazonas. S. Ex.ª parece que tem a
intuição de que o levantamento do Rio Branco será o caminho mais seguro para chegar
ao levantamento do Estado inteiro; pois o Rio Branco, há dois séculos que se escreve
isto, é destinado a ser o celeiro do Amazonas, e o Amazonas à de ser o celeiro do
mundo, como disse o grande sábio Humboldt (JORNAL DO RIO BRANCO, abril-
maio de 1917, p. 04).
50

Dispostos a transformar esse histórico de negligência, no início do século XX, os


missionários chegados à região deram início a uma série de propostas de moralização e
urbanização da vila, buscando conectar Boa Vista à administração central e garantindo
ordenação na ocupação e exploração econômica da região. Um de seus principais projetos,
embutidos na proposta missionária é a alfabetização. Não é segredo que as missões indígenas
abriram, no Brasil inteiro, um vasto espaço para a construção de relações duradouras entre
índios e brancos, ainda que sob a forma de aculturação.

Sabe-se que a necessidade de incorporar elementos arredios à civilização, produzindo


uma identidade uniforme e letrada vinculada à consciência nacional é vista como extremamente
necessária pelas autoridades locais. O jornal, nesse sentido, funciona como um espaço de
sociabilidade que permite a troca de experiências, a organização do espaço urbano, seja por
meio do anúncio de propriedades, realizações de festas ou bailes em determinadas localidades.

Em Geral, o Jornal do Rio Branco é um importante documento para estudo da vida e


cotidiano do antigo município de Boa Vista do Rio Branco, apesar da linguagem objetiva,
observa-se as entrelinhas e problemas estruturais enfrentados pela população e a missão da
Igreja, que apesar de seus interesses, o jornal foi um importante vetor de informações e
solicitações para melhoria do distante município. Como visto pelo próprio periódico que
publicou: ‘’O Rio Branco é destinado a ser o celeiro do Amazonas, e o Amazonas há-de ser o
celeiro do mundo, como disse o grande sábio Humboldt’’32.

3.2 A IMPORTÂNCIA DA MISSÃO BENEDITINA NO ESPAÇO SOCIAL DO VALE


DO RIO BRANCO E O USO DA CULTURA LETRADA COMO INCLUSÃO DA
VILA DE BOA VISTA NA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA.

Nesse sentido, o uso do jornal na cultura letrada em Boa Vista demostra as vertentes
nas quais os beneditinos denunciavam nos jornais, as relações de poder entre Igreja e os
políticos locais da vila de Boa Vista do Rio Branco. Tendo em vista, que o Jornal do Rio Branco,
tinha uma preocupação sempre constante com a inclusão do Vale do Rio Branco na civilização
brasileira.

32
(JORNAL DO RIO BRANCO, abril-maio de 1917, p. 04).
51

De tal forma, os moradores do Vale do Rio Branco passaram a usufruir a cultura


letrada, o que proporciona ao leitor uma reflexão sobre aquilo que está acontecendo ao seu
redor. Como mencionamos no início deste capítulo, os beneditinos tiveram suma importância
no desenvolvimento social do vale do Rio Branco.
O jornal e sua proposta inicial em colocar os habitantes do Vale do Rio Branco em
conexão uns com os outros e, mais importante, com o país que o Governo Republicano estava
criando. Isso dizia respeito a ter em mente alguns requisitos civilizatórios capazes de organizar
toda a atividade do tipógrafo: a busca pela inserção harmônica e racional da religião católica
no cotidiano boa-vistense, a organização social baseada na urbanidade, a moralização e
desenvolvimento de costumes sociáveis e monogâmicos, o estabelecimento de conexão de
identidade com o resto do país e o desenvolvimento de políticas educacionais de maior alcance.
Conforme Vieira (2014, p. 117), Boa Vista continuava a ser um pequeno município,
com uma população de não-índios estimada na época em torno de 1.300 habitantes, composta
na sua maioria de famílias de fazendeiros, emigrados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e do Pará. Ocupavam-se da criação de gado, da pesca do pirarucu
e da tartaruga, da extração da balata, como também, da colheita da castanha. Além de Boa Vista,
havia também uma pequena aglomeração de colonos em Caracaraí, no baixo do Rio Branco, de
pouca importância econômica. Não podemos estimar a quantidade de índios na região, os dados
estatísticos só passam a existir e ser confiáveis a partir de 1950, porque todos os censos
realizados anteriormente, como o de 1920, nos municípios brasileiros, não alcançaram Boa
Vista. Dessa forma, teremos que confiar nos viajantes e nos próprios religiosos que estiveram
na região nas primeiras décadas do século XX.
A ação missionária se desenvolve na cidade tendo como principais objetivos, além da
catequese indígena, a evangelização e a educação para o trabalho, através do seminário (edifício
escolar) de ensino de artes e ofícios voltado para o universo masculino e a educação feminina,
entregue às freiras, normalmente voltada para a alfabetização e o ensino de prendas domésticas.
Assim, o trabalho missionário desempenhou importante papel na afirmação da
soberania territorial estatal no Vale do Rio Branco, na nacionalização da população e no
processo de urbanização nas bordas fronteiriças da Amazônia Brasileira.
De acordo com Vieira (2014, p. 94), no plano nacional, nos primeiros anos da
República, não existia qualquer projeto definido para a catequização dos povos indígenas.
Somente com a saída de Deodoro da Fonseca, em 1891, os projetos para as missões na
Amazônia são retomados. Dessa forma, quando Floriano Peixoto assumiu a presidência, em 23
de novembro de 1891, as missões entre os povos indígenas passaram a ser dirigidas diretamente
52

pela Santa Sé, que fazia a entrega às suas Congregações e Ordens religiosas dos novos
territórios, que se constituíam em Prelazias, um espaço administrativo da Igreja.
A construção da identidade na Amazônia foi atravessada, durante o período
republicano, por ambiguidades que resultaram na incompatibilidade da paisagem regional com
a identidade nacional. Esse, aliás, tornou-se o grande problema do século XX: a maioria dos
grandes projetos nacionais de integração foram incapazes de penetrar as fronteiras instáveis ou
nem sequer imagináveis da Amazônia. A ocupação do Vale do Rio Branco exprime um destes
dramas. Vinculada ao crescimento de Manaus, a cidade tornou-se responsável por fornecer
produtos agropecuários para os polos produtores do ouro branco 33. Essa ocupação revelou,
numa escala menor, os próprios conflitos que implicavam a chegada da civilização nas regiões
remotas da selva amazônica. A capital de Roraima na época denominada vila de Boa Vista do
Rio Branco permaneceu durante muito tempo um experimento agropecuário, clamando às
autoridades situadas em Manaus pelo contato mais frequente com a civilidade.
No que concerne aos aspectos sociais e urbanos, a configuração do povoado de Boa
Vista, segundo o eclesiástico Joaquim Gondim, apesar da sua limitação populacional ainda
subsistia de forma estável, possuindo até disponibilidade de energia elétrica:

Não é grande o movimento comercial e industrial da localidade, mas está de acordo


com as necessidades da população, que é de seiscentas e vinte e uma almas, segundo
o último recenseamento. Boa Vista conta com quatorze mercearias, um botequim, uma
pharmácia, duas oficinas de ferreiro, uma carpintaria e funilaria, uma barbearia e o
importante estabelecimento “canto da fortuna”, do Senhor João Secundino Lopes, que
explora, conjuntamente, o comércio de fazendas, miudezas e estivas, além da indústria
da panificação e do fabrico de sabão, servindo-se no preparo de seus produtos, de
machinismos especiais. O seu estabelecimento, o único que possui bombeamento
d’água, achava-se provido de instalações elétricas (1922, Apud VERAS, 2009, p. 70).

Na rotina do trabalho religioso as dificuldades vão moldando os propósitos das ações


beneditinas na bacia do rio Branco. No rol dessas dificuldades, constam: o contato com
diferentes culturas indígenas, as especificidades de cada grupo e as longas distâncias que os
separava, a escassez de missionários diante do tamanho da região a ser assistida; os constantes
conflitos com a sociedade envolvente; a própria índole monástica e as doenças como a malária
e a febre amarela que, inclusive, levaram alguns monges à morte.

Se o ideal da missão era criar as condições estruturais para o Rio Branco incrementar
o desenvolvimento da pecuária, ciente de que o progresso material aceleraria o
processo de cristandade civilizadora dos índios, é possível deduzir que o lugar
ocupado pelos indígenas no novo cenário de evangelização estava cada vez mais

33
Ouro branco era a expressão denominada ao apogeu do ciclo da borracha na Amazônia.
53

suscetível à premissa da integração pela desproteção de suas terras e de suas


culturas.34

Assinalando a relação entre a comunidade monástica e a população local em termos


da construção do patrimônio dos beneditinos, abrimos possibilidades para compreender a
amplidão dessa relação e a importância da mesma. Assim, serão ressaltados seus primeiros
movimentos com a comunidade local, suas ligações políticas e socais, os aspectos peculiares, e
sua consolidação na região do Vale do rio Branco.
De acordo com Vieira (2014, p. 102-103), “ a perseguição aos beneditinos deixou
bastante clara quem verdadeiramente detinha o poder na região. A vida social da comunidade
não ficou sob o controle dos religiosos, no início do século XX, como também no decorrer do
mesmo; isto porque, nessa região, a questão de terra e da mão-de-obra indígena foi, ao longo
de muitos anos, e em muitas ocasiões continua sendo, muito mais importante do que qualquer
tipo de respeito às instituições, às leis e inclusive à igreja católica. Esse conflito trouxe
consequências graves para o futuro imediato da Missão e principalmente para a própria vida
dos missionários, ameaçando sufocar o projeto de catequese já na sua origem. ”35
Morais (2013) destaca que, tal empreendimento católico fazia parte do processo de
integração da população do Vale do Rio Branco à sociedade nacional.

Logo, os propósitos que impulsionaram o empreendimento católico beneditino na


Bacia do Rio Branco emergem do ideário da integração à sociedade nacional, por
meio da destribalização dos indígenas. Com isso, a Igreja Católica assume uma
espécie de tutela sobre os índios, uma vez que o trabalho da conversão implicava, na
visão legitimadora de então, na mudança de um modo de ser silvícola para um modo
de ser civilizado. A visão que os Beneditinos alimentavam acerca dos índios e o
projeto de evangelização caminhavam juntos. 36

Os beneditinos tiveram grande importância no processo social e no intenso trabalho de


evangelização, com o propósito de levar a fé a vários grupos indígenas. Preocupados em se
estabelecer na região, os monges desenvolveram uma série de esforços no sentido de chamar a
atenção da população para o trabalho que eles realizavam. Em 1922 chegaram ao Rio Branco
as primeiras Irmãs Missionárias da Congregação Beneditina de Tutzing (Baviera). O papel das

34
MORAIS, Vângela Maria Isidoro de. FILHOS DE DEUS E NETOS DE MAKUNAIMA: Apropriações do
catolicismo em terras makuxi. Tese (doutorado), Universidade Federal do Ceara. Fortaleza – 2013. p. 118.
35
VIEIRA. Jaci Guilherme. Missionários, fazendeiros e índios em Roraima: a disputa pela terra – 1777 a
1980/Jaci Guilherme Vieira. 2. Ed. Revista e ampliada. Boa Vista: Editora da UFRR, 2014. p. 102-103
36
MORAIS, Vângela Maria Isidoro de. FILHOS DE DEUS E NETOS DE MAKUNAIMA: Apropriações do
catolicismo em terras makuxi. Tese (doutorado), Universidade Federal do Ceara. Fortaleza – 2013.
54

irmãs foi fundamental na reaproximação das pessoas leigas junto ao trabalho missionário feito
pelos monges em Boa Vista.37
Segundo Santilli (1989, p. 441), os missionários beneditinos atuaram junto aos índios
Macuxi, Jaricuna, Taurepan e Uapixana de 1909 até 1947. Fundaram um “Patronato”, internato
para as crianças indígenas que funcionou durante todos os anos da missão. Nesse patronato os
missionários ministravam aulas de primeiras letras, carpintaria, marcenaria e “serviços de
lavoura e criação de gado”.
Em contramão a chegada das irmãs, se dava a construção de uma casa que serviu de
hospital, escola e posteriormente tornou-se a residência das irmãs. Anexo a esta construção, as
irmãs mantinham vários cursos de trabalhos manuais (costura, bordado, prendas domésticas e
etc.), destinado à moças e senhoras, que segundo afirmavam as irmãs: vai sendo sempre bem
frequentados. Ainda afirmavam que os cursos tornariam os seus frequentadores membros úteis
à sociedade.38
Neste período, as relações entre índios e não índios se intensificaram e interagiram de
diversas maneiras. Não só na fazenda, mas também com o trabalho dos missionários na região.
A ordem beneditina, como aqui já mencionado, passaram a fazer investimentos na região do
Rio Branco, com o intuito de desenvolverem seus projetos econômicos. Tais projetos
alavancariam o progresso da missão, pois o desenvolvimento dessa região era a justificativa
dos beneditinos em obter, o quanto antes, um patrimônio para a Missão do Rio Branco, o que
tornaria definitivamente a missão independente do Rio de Janeiro e a consolidação de tal
projeto.
Conforme Vieira (2014, p. 117-118) destaca que durante esse período a obra da
catequese dos índios ficaria sob responsabilidade de apenas um monge, Dom Alcuino Meyer,
visto que os religiosos passaram a se aventurar no campo empresarial. Já em 1925, passava a
funcionar a primeira experiência industrial no Rio Branco. Ligada à atividade agroindustrial,
constituía-se essa indústria de vários departamentos entre eles: navegação, charqueada,
curtume, fábrica de gelo, eletricidade, sala de cinema, casa comercial e, o grande sonho dos
beneditinos, o que retiraria de vez o Rio Branco do isolamento: a construção de uma estrada
que ligaria Boa Vista a Caracaraí39, com uma extensão de 160 km, em plena selva amazônica.

37
Notas históricas sobre a Missão Beneditina do Rio Branco, por Dom Alcuíno Meyer O.S.B p. 04
38
Relatório S/A. Rio de Janeiro, 13/05/1944. “Obras da prelazia”. p. 02. Arm. 11. Gaveta B. Pasta 01.
39
De tal modo que, a conclusão desta estrada só foi realizada em 1947, com recursos federais quando o Rio Branco
já tinha sido elevado à condição de território federal.
55

Superando de vez o obstáculo das cachoeiras, era um projeto de grande envergadura para a
época que consumiria boa parte do capital investido na indústria.
Tais empreendimentos como Vieira (2014, p. 120-121) destaca, em sua grande
maioria, audaciosos, geraram um grande endividamento para a Ordem de São Bento,
principalmente porque todos decretaram falência, e todos os departamentos das empresas
tiveram que fechar suas portas com pouco tempo de atividades. Tal fato criou uma crise interna
na Ordem, levando inclusive a renúncia de Dom Pedro Eggrath em 1929 e sua substituição por
Dom Gregório Erzogg. Para Dom Pedro, o que faltava para a consolidação da Missão entre as
populações indígenas no Rio Branco não era a indústria, mas uma Igreja decente, um hospital
e finalmente uma escola, que pudesse acolher o espirito da catequese na região, o que, segundo
ele, estaria mais de acordo com as atividades inerentes a uma Ordem Religiosa.
56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do texto exposto acreditamos ser possível afirmar a importância das Ordens
Religiosas para a formação e consolidação do catolicismo brasileiro em especial na Amazônia
brasileira. Além disso, ficou claro a inter-relação entre as ordens religiosas e o Estado, além do
papel fundamental da Ordem dos Missionários Beneditinos no Vale do Rio Branco.
Em 1909, chegam ao Vale do rio Branco os monges beneditinos, a nova ordem
religiosa que teria a incumbência da catequese indígena no Rio Branco. De certa forma, os
Beneditinos tentaram até o último ano de sua permanência nessa região (1948), realizar
trabalhos junto à população indígena.

A atuação dos religiosos, à medida que estreitavam relações com os índios, parece ter
repercutido rapidamente, chegando até mesmo a incomodar os fazendeiros mais distantes pela
influência que detinham sobre a população indígena na região. O papel dos religiosos no Vale
do rio Branco, seria marcado por um novo comportamento diante da população indígena local.
A ação destes abalou a relação entre as elites locais e os indígenas instalados nesta região.

A presente pesquisa ajudou a fomentar o interesse em discutir a produção do espaço,


principalmente, através dos embates religiosos na cultura indígena do estado de Roraima onde
a cultura de grupos mais dinâmicos ao se entrecruzarem com a cultura mais conservadora e a
tendência é modificar a maneira de agir, falar e pensar.

Foi possível observar que as Ordens que vieram para a Amazônia brasileira, em
especial a Ordem Beneditina na qual trabalhamos com mais ênfase durante a pesquisa. Ficou
evidente que os beneditinos tinham objetivos bem claros, como o de conseguir novos campos
de evangelização, a reestruturação da ordem, interesses individuais (promoções na hierarquia
religiosa) ligados à principal autoridade beneditina eclesiástica do Brasil na época, Dom
Gerardo Van Caloen.

Essa administração parece ter conduzido a missão não pelo trabalho, mas pelos
interesses econômicos que se estabeleceram a partir desse movimento de restauração, contudo,
apoiados por verbas estaduais, a ordem beneditina preservaria o “objetivo” de educar para o
trabalho.
57

No início do período Republicano no Brasil, a organização das classes dirigentes não


se fez por meio de partidos políticos organizados nacionalmente, mas foram constituídos por
simples máquinas eleitorais regionais, tendo como contrapartida um complexo sistema de
hierarquia e lealdade, conhecido na historiografia brasileira como coronelismo

Com a criação da Missão no Rio Branco, abriram-se deste modo, inúmeras


possibilidades de encontrar financiadores para o projeto de “catequização” dos indígenas, e
entre esses financiadores está o principal, o Estado.

Sabe-se que a Missão Beneditina durante um período consecutivo mais longo, até o
ano de 1948, permitiu que houvesse um progresso nos trabalhos de catequização e
evangelização entre as comunidades indígenas no Rio Branco.

Outro fato abordado na temática, foram as denúncias beneditinas de que as principais


ameaças de morte aos povos indígenas estavam ligadas à concentração da terra, à monocultura
do gado e à ausência de diversidade cultural.

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise do periódico “Jornal


do Rio Branco”, que tinha como proposta inicial colocar os habitantes do Vale do Rio Branco
em conexão uns com os outros e mais importante, com o país que o Governo Republicano
estava criando.

A presente pesquisa ajudou a fomentar o interesse em discutir a produção do espaço,


principalmente, através dos embates religiosos na cultura indígena do Estado de Roraima onde
a cultura de grupos mais dinâmicos ao se entrecruzarem com a cultura mais conservadora, a
tendência é modificar a maneira de agir, falar e pensar desse grupo conservador

Sendo assim, o objetivo deste trabalho jamais teve como pretensão esgotar o assunto,
nem tão pouco concluir o estudo desta temática, pois entendemos que todo trabalho é
inconclusivo, ou seja, está sempre aberto para outras análises, investigações, pesquisas, e para
o “debruçar-se sobre” a partir de um olhar sócio analítico.
58

REFERÊNCIAS

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