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TEOLOGIA NO BRASIL
Reflexões crítico-metodológicas
J. B. Libânio
Instituto Aloisiano - Rio de Janeiro
1. Sentido da tese
Nas discussões sobre a metodologia teológica, freqüentemen-
te não se distingue um duplo lugar: o de ensinar e o de fazer Teologia.
A Teologia é um discurso teórico sobre a experiência de fé da
comunidade eclesial (fazer Teologia). Outra tarefa é o aprendizado
de construir este discurso sob a orientação de professores (ensinar
Teologia). A confusão entre esses dois lugares aparece freqüente-
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mente nos epítetos que se dão ã Teologia e o mal-estar reinante em
muitas Instituições Teológicas. Exige-se de uma Teologia ensinada as
qualidades próprias do lugar de criar Teologia, que não é a Universi-
dade. Esquece-se que existem dois lugares com exigências próprias,
ainda que mantenham entre si ligações profundas e que não se
podem desconhecer.
A tese elaborada em termos abstratos, teóricos e formais não
quer desconhecer nossa situação concreta de Brasil. Predominam
reflexões espistemológicas produzidas, contudo, por quem se situa
socialmente em determinado contexto. Este é determinante na
maneira de conduzir o pensamento, apesar de ele ganhar uma validez
além de tais situações concretas.
Está na base de tais reflexões a minha experiência de
professor e teólogo latino-americano. De um lado, estamos lecionan-
do dentro de uma Instituição Acadêmica com todas as suas exigên-
cias, vantagens e limites próprios; de outro, tentamos elaborar uma
Teologia que responda ãs necessidades de uma Igreja local, a que
pertencemos. Este trabalho será como que uma reflexão em voz alta
sobre minha dupla prática de professor e de teólogo, na pretensão de
poder ajudar a quem se encontra na mesma situação e de fazer ver
aos estudantes de Teologia dois níveis e campos diferentes de
exigências.
A distinção entre lugar de ensinar e de fazer Teologia é formal.
Diz respeito à diferença de aspectos, ainda que haja uma "unidade
real, objetiva e concreta". Mesmo assim tal distinção formal ajuda a
evitar impurezas metodológicas, a prevenir exigências descabidas
oriundas da confusão entre os dois lugares. Ultimamente vivemos
continuamente reunindo-nos para discutir problemas referentes ao
ensino de Teologia e as Instituições Acadêmicas buscam encontrar
um caminho próprio. Estas reflexões visam a oferecer modesta
contribuição para tais discussões, situando alguns problemas nos
seus devidos lugares.
2. Lugar do Ensino
Vamos trabalhar com a categoria "lugar". O "lugar" define-se
sobretudo pela sua dupla função de permissão e interdição. Torna
possíveis (permite) certo tipo de produção, certa pesquisa, define o
factível de um processo científico. Por outro lado, torna impossíveis
(interdita) outras pesquisas, outro tipo de produção. Exclui d o
discurso, censura, tudo que não cabe dentro de sua produção. Não é
uma realidade extrínseca ao processo produtivo do discurso teológi-
co, mas faz-lhe parte. Não lhe é estrangeiro, nem acessório, nem uma
intromissão indevida. Assim vamos ver como tanto o "lugar do
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ensino" quanto o "lugar de fazer" teologia pertencem à própria
contextura científica da Teologia, que lá se produz. Estes lugares vão
determinar as possibilidades e os limites dessa dupla prática diferente
do ensinar e do fazer Teologia (5).
O "lugar do ensino" é fundamentalmente pedagógico, didáti-
co. Trata-se de ensinar os alunos a fazerem Teologia e não tanto
comunicar o "elaborado teológico" mais atualizado ou pragmatica-
mente útil. Não é o lugar da produção, do "último grito", nem do
supermercado de diferentes produtos teológicos ã escolha de alunos
sempre ávidos de novidade. Não é um magazine variado, onde
produtos vindos dos mais diferentes lugares encontram sua pratelei-
ra, seja numa desordem caótica, como numa ordenação ideologica-
mente cfassificada.
Muita deturpação no ensino da Teologia vem de transformá-lo
numa "feira internacional" de conhecimentos, ricos e variados, mas
cujo segredo de fabricação escapa ao expectador. Repete-se o
esquema da sociedade de consumo, onde os "know-how" são
avaramente guardados, enquanto que a abundância dos produtos
invade todos os recantos. E sobretudo os países periféricos estão
acostumados a consumir produtos feitos alhures sem a mínima
curiosidade e mesmo possibilidade de desenvolver uma tecnologia à
altura.
O "lugar do ensino" está voltado para iluminar o "lugar
epistêmico" da Teologia, procurando elucidar o que seja o "teológi-
c o " da Teologia. Trata-se de aprender a teologar, e não aprender uma
teologia. É o lugar de conhecer as regras internas do pensar
teológico. É um momento profundamente intra-teológico, procurando
elucidar o que seja o "teológico" da Teologia. Trata-se de aprender a
teologar, e não aprender uma teologia. É o lugar de conhecer as
regras internas do pensar teológico. É um momento profundamente
intra-teológico, procurando compreender como seu saber evoluiu ao
longo da cultura.
A Teologia é analisada na sua condição de prática teórica.
Procura-se ver como o processo de transformação de um dado
pré-teológico (matéria prima) chega a um resultado teológico determi-
nado (produto), efetuado pelo trabalho intelectual do teólogo usando
a mediação hermenêutica (meios de produção). Conhecer é aqui
entendido como produzir o conceito adequado do objeto pela
aplicação de meios de produção teórica (teoria e método) a uma
matéria prima dada. É uma prática específica, teórica, distinta das
outras práticas existentes (prática econômica, política, ideológica (6).
O ensino da Teologia deve concentrar-se sobretudo na tarefa de
iluminar esta sua prática teórica própria. Por mais relação que esta
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prática tenha com as outras e por mais importante que ela seja,
contudo torna-se insubstituível o conhecimento profundo da especifi-
cidade da prática teórica em geral e da teológica em particular.
Vivemos num contexto cultural pragmatista, onde o descrédito do
teórico e o impulso afetivo do imediato podem deturpar radicalmente
a elaboração da Teologia. Se há um lugar em que a pureza epistèmica
deve ser conservada, é o do ensino.
Portanto, o lugar do ensino não pode ser aquecido facilmente
pela urgência cálida dos interesses imediatos, mas antes fixar-se na
explicitaçáo da originalidade da prática teórica teológica e seu
significado no interior do universo da fé, da Igreja e da sociedade. L.
Althusser, insuspeito de qualquer idealismo, adverte-nos do erro
empirista e idealista de dizer que os conhecimentos científicos são o
produto da prática social em geral ou da prática política e econômica.
Pois assim alimentaremos a idéia de que as práticas não-científicas
produzem por si mesmas, espontaneamente, o equivalente ã prática
científica, e descuidaremos o caráter e a função insubstituíveis da
prática científica (7). É o preconceito de que a própria prática pastoral
é suficiente sem uma teoria (teologia) ou que a produz espontanea-
mente. No ensino da Teologia deve aparecer claro esta relação
dialética, evitando simplismos fáceis. A prática pastoral entregue a ela
mesma não produzirá senão teologias reformistas, facilmente mescla-
das de elementos incriticados da ideologia dominante ou divergente.
Em todo caso, será uma teologia não auto-criticada, não auto-
regulada, entregue e sujeita a manipulações alheias a seu estatuto
próprio, já que ele é precisamente negligenciado. Não é necessário
enfatizar o risco que tal tipo de Teologia corre, uma vez que perdeu
seu auto-controle. Este só é possível através do conhecimento
rigoroso e uso exato das regras que presidem seu estatuto teórico.
É fundamental no estudo e ensino da Teologia penetrar no seu
modo peculiar de apropriar-se do objeto material que lhe é proposto.
Tal modo consiste num processo hermenêutico, em que a partir das
Escrituras Cristãs se faz a leitura do material pré-teológico. A
mediação hermenêutica - os meios próprios de produção d a
Teologia - , supõe um contínuo processo de compreensão d a
Tradição cristã por um lado, e por outro o confronto desta compreen-
são com o dado a ser teologizado. Podemos, portanto, distinguir três
passos no processo teológico. Um primeiro passo é a elaboração do
dado pre-teológico, tirado seja da experiência, seja do fruto da
elaboração de outra ciência. Um segundo passo é a compreensão da
Escritura cristã, o modo próprio com que a Teologia lê, elabora o
dado que o primeiro passo lhe oferece. Este segundo passo tem dois
momentos. Supõe um saber explicativo da Escritura cristã, procuran-
do penetrar-lhe as estruturas, com instrumentais científicos crítico-
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literários. Num momento ulterior, busca a compreensão, o significado
dessas estruturas, numa síntese estrutura-sentido. Momento que se
processa, seja de modo mais positivo, num esforço de memória
compreensiva da Tradição, nos seus grandes momentos, seja de
modo mais especulativo, numa penetração mais discursiva a partir do
dado re-cord-ado. Um terceiro passo é de novo sintético. Confronto do
dado pre-teológico com a compreensão das Escrituras cristãs, de tal
modo que surge um produto novo, que não é nem a simples repetição
da tradição cristã, nem a conservação intacta do dado pre-teológico.
Dá-se uma ruptura epistemológica. É um conhecimento novo, que se
faz contra o conhecimento anterior, numa negação dele. Trava-se um
duelo, uma luta, donde surge a novidade engendrada (8).
O "lugar do ensino" concentra-se em seguir vigilantemente o
aluno através das peripécias do processo produtivo teológico. Com
isso, salienta mais a sintática, com suas regras do uso do discurso,
desvelando os preceitos que comandam as combinações dos símbo-
los elementares do discurso teológico. Ocupa-se também com a
semântica, perseguindo a evolução dos significados, sua modifica-
ção, sua história (9). O ensino da Teologia deve apetrechar o aluno
para passear lépido no complexo universo de significados de tão
longa tradição cultural. A tradição cristã contém uma riqueza abun-
dante de textos de momentos culturais tão diferentes, que, sem um
aprendizado rigoroso, o seu manuseio pode ser uma espada de dois
gumes. O aluno deve aprender a interpretar tantas fórmulas, colocá-
las em correspondência através de todo um processo evolutivo
semântico.
A Teologia ocidental pertence precisamente a uma tradição
cultural que tem dentro de si a capacidade de reagir aos estímulos
que recebe de outras civilizações, é uma tradição que sem cessar se
transforma (10). É uma tradição que se compreende e se quer em
oposição ao que sempre foi - constitui-se como princípio de estar em -
ruptura em relação ao passado e em inovação em vista do futuro (11).
Ensinar Teologia dentro desta tradição exige preparar o aluno a saber
assumir com inteligência e vigilância esse processo auto-superador,
característico de nossa consciência moderna.
O lugar do ensino é o do confronto com a tradição. Não é
possível ensinar Teologia a não ser em contínua luta de compreensão
com o passado, açulado, sim, pelas perguntas do presente. Aprender
a fazer Teologia é iniciar-se nos meandros das Escrituras Cristãs, com
tudo o que isto significa, a fim de ser capaz de enfrentar novas
perguntas, novos dados a serem pensados teologicamente. Uma
ciência só merece este nome se souber desenvolver-se permanente-
mente. Uma ciência que se repete, sem descobrir nada, é uma ciência
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morta; não é mais uma ciência, e sim um dogma petrificado (12). A
Teologia só poderá viver de suas novas sínteses, novas "compreen-
sões", se, no lugar de seu ensino, se aprender as leis próprias, os
meios próprios, as condições próprias de sua atividade.
Concluindo, podemos dizer que descontiecer o iijgar do
ensino da Teologia na sua especificidade é comprometer o futuro do
fazer Teologia. Aparece já aí uma íntima relação entre estes dois
lugares. Mais ainda. O ensino visa a capacitar o estudante a ser
teólogo. Mas não o será de modo verdadeiro senão na sua própria
região, no meio dos problemas de sua Igreja local. Por isso o ensinar
está também profundamente vinculado ao fazer Teologia. O lugar do
ensino possibilita o conhecimento da maquinaria própria do processo
produtivo teológico. Doutro lado, interdita a produção de uma
Teologia sempre nova, resposta aos problemas pastorais do momen-
to.
1. Descrição do lugar
Lugar clerical
Mais. Temos uma Teologia ensinada por clérigos para cléri-
gos. Os professores ligam-se também por sua condição clerical aos
interesses intra-sistèmicos, mesmo em tentativas liberais. O próprio
direito de ensinar está condicionado a uma profissão de fé, que ia, até
não muito tempo, muito além de uma fidelidade ao estrito dogma. O
"juramento antimodernista", repetido no início de cada ano letivo,
exprimia bem esta vinculação do professor aos interesses do sistema
eclesiástico. Foi, aliás, sempre um fator de tensão com a assim-dita
"liberdade acadêmica". Houve Instituições que a propiciavam em
grau maior, outras, porém, a restringiam em grau elevado, reduzindo
o ensino da Teologia a uma mera transmissão de conhecimentos de
manuais. O teor do "juramento" favorecia um clima reacior .ário nas
Instituições, sobretudo quando dirigidas por consciências estreitas e
autoritárias. Muitas formulações são de tal natureza genérica e
facilmente manipuláveis numa linha rigorista, e ainda mais, impostas
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em forma de juramento, que o ambiente de ensino se tornava
profundamente cerceado. Tal juramento tinha também um efeito de
auto-censura no professor. Nada mais esterilizante para o pensamen-
to que a auto-censura. Não é em vão que um humorista nacional tem
repetido: "livre-pensar é só pensar" (Millor Fernandes). Pode-se
então dizer que "não livre-pensar nem é pensar". O "lugar clerical"
de nossas Instituições foi ou tem sido freqüentemente um empecilho
para o livre-pensar, devido a sua situação de estar numa Instituição
controlada.
O lugar clerical atribui ao ensino da Teologia um cunho oficial.
Sabemos das vantagens e desvantagens acadêmicas das Instituições
representativas de interesses oficiais. Não se faz um ensino, em nome
do povo de Deus, que o clérigo servira mais tarde, mas em nome da
Instituição, a que se pertence. Em teoria, ambos interesses deveriam
coincidir. Pois a Instituição eclesiástica só tem sentido em função do
Povo de Deus. Na realidade humana e histórica, não raras vezes tais
interesses entram em conflito. Pois os clérigos distanciando-se da
realidade do povo não conseguem captar quais seriam os verdadeiros
interesses dele. E facilmente projetam para dentro do povo, os
próprios interesses, crendo-os ser do povo. A ausência do leigo nas
Instituições, seja na forma de alunos como de professores tem
empobrecido o "lugar de ensino", encurtando-lhe a visão da realidde
eclesial e histórica.
Temos uma teologia ensinada, determinada pelos condiciona-
mentos sócio-político-econômico-religiosos da "classe clerical". Vale
a pena analisar um pouco mais tal afirmação.
Condicionamentos sociais. A classe clerical aproxima-se muito d o
comportamento oscilante das classes médias na Sociedade. Se de
um lado possuem uma abertura para as classes econômico-
socialmente inferiores, contudo sentem-se mais ligadas às superio-
res. Acrescenta-se ainda que a classe clerical desempenha em parte
o papel de burocrata e ideólogo da Instituição eclesiástica. Nesta
dupla função, o seu ensinamento reflete perspectivas bem determina-
das. Não pode escapar a uma certa censura e controle, que lhe limita
a criatividade, a originalidade, a coragem e mesmo a ousadia nas
afirmações.
No desejo de muitos, o ensino da Teologia deveria reduzir-se à
comunicação dos ensinamentos universalmente aceitos pela Institui-
ção Eclesiástica, evitando todos os pontos controvertidos. Deveria
refletir a unidade do corpo social eclesiástico, se não de fato
existente, pelo menos na perspectiva ortodoxa. O condicionamento
social da classe clerical manifesta-se ainda na escassa presença do
" m u n d o " na problemática teológica. Sua condição clerical isola-a de
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atividades da maneira de viver dos problemas, que afetam diretamen-
te os leigos. E mesmo quando assume os seus problemas, fá-lo a
partir de sua ótica clerical, sem não leves deturpações.
Ora quando o conjunto dos professores e alunos é da classe
clerical pode-se facilmente compreender que todo o complexo dos
ensinamentos receba marca bem característica.
Condicionamentos politicos.Predomina na classe clerical, sobretudo de
anos atrás, uma consciência a-política. Cada Instituição interessa-se
especialmente pela política próxima a seu universo de interesses.
Assim uma política eclesiástica e acadêmica ocupa grande parte das
preocupações e atenções da classe clerical docente. Em geral, em
relação á política civil prevalece tendência conservadora ou no
máximo neo-liberal, ao lado de repulsa instintiva a toda perspectiva
mais socializante.
Evidentemente tais condicionamentos exercerão sua influên-
cia na ótica crítica dos professores, sobretudo no que diz respeito a
problemática social e tipos de teologia de natureza mais crítica. Não
se pode generalizar, uma vez que é típico de tal classe seu caráter
oscilante. Há setores que, em movimentos pendulares, se aproximam
de uma posição política mais crítica e mesmo radical. No conjunto,
entretanto, sobrepuja uma tendência centrista com namoros conser-
vadores. Não se trata de questões pessoais deste ou daquele
professor. É o conjunto institucional que condiciona tais posições,
exatamente por causa da unilateralidade clerical dos professores.
Condicionamentos econômicos. Houve uma mudança de uma situação
de grande instabilidade econômica dos professores de Seminário,
com salários assás reduzidos, para a de professores ligados a
Instituições maiores, como Universidades, com melhores remunera-
ções. A situação de instabilidade anterior obrigava os professores a
multiplicarem suas atividades extra-acadêmicas, com detrimento de
sua capacitação e atividade professoral. Ainda tal situação não foi
totalmente superada em nosso meio. Na medida em que a Teologia
vai fazendo parte de grandes universidades, e seus professores
participam das mesmas remunerações que os outros setores, vai-se
criando uma situação de maior estabilidade.
Se de um lado um situação de instabilidade econômica gerava
uma preocupação de subsistência e bem-estar fora dos quadros
acadêmicos, doutro lado a crescente estabilização financeira poderá
produzir um tipo de teólogo acomodado e pouco sen? vel aos
problemas sociais, sobretudo quando vivem em regiões onde as
contradições não aparecem tão facilmente. Nesta situação econômi-
ca, uma Teologia de cunho existencialista e personalista tende a
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firmar-se, colocando entre parênteses as tendências dialética e
crítica. Perde-se a sensibilidade para problemas de natureza conflitiva
e tende-se mais para soluções conciliadoras. O reflexo de tais
condicionamentos aparece em diversos setores teológicos.
Condicionamentos religiosos.Uma instituição, em que a predominância
é clerical no corpo docente e discente, move-se sobretudo dentro de
um horizonte temático, lingüístico e afetivo de cunho religioso.
Transforma-se na ótica sob a qual a realidade é compreendida. A
"mundanidade" e a "secularidade" na sua autonomia escapam de tal
horizonte, ou são percebidas em sua posição antitética a ele.
O espaço religioso prevalecente choca-se facilmente com os
problemas e interesses oriundos de uma sociedade conflitiva, marca-
da sobretudo pela fundamental realidade do trabalho. Não deixa de
ser sintomático como o universo do trabalho, com tudo que ele
significa, é o grande ausente da Teologia. E vivemos uma sociedade
onde os grandes problemas sócio-político-econômicos de qualquer
modo que seja se encontram em conexão com o trabalho, sua
divisão, sua remuneração, seu significado, etc... Um ambiente por
demais marcado pela classe clerical, cujo centro de interesse se
fecha, muitas vezes, em volta do universo cultural religioso, dificil-
mente poderá ser sensível à gravidade e imprescindibilidade dos
problemas da sociedade moderna no tangente ao mundo do trabalho
e outros aspectos.
Lugar acadêmico
O ensino da Teologia faz-se dentro de uma Instituição Acadê-
mica, seja de um porte mais limitado como um Seminário diocesano,
seja de amplitude cultural maior como uma Universidade. Em todo
caso, trata-se de uma Teologia que quer encontrar um lugar do
consórcio das ciências. Esta luta da Teologia, que outrora fora rainha
e estivera no ponto axial da Universidade medieval, para ter uma
palavra própria no entrechoque das disciplinas constitutivas da
cultura moderna, tem tido fortes repercussões na maneira de realizar
seu ensino. Não goza mais de situação privilegiada e tranqüila. Não
pode ficar assentada comodamente sobre os louros do passado,
segura de sua cidadania acadêmica. Teve de voltar-se sobre si
mesma, perguntar-se pelos seus métodos, aceitar os questionamen-
tos das outras ciências, sobretudo de um pensamento positivista e
neo-positivista que a quis excluir do clube fechado das disciplinas de
linguagem sensata, coerente, levantando a suspeita de que sua
linguagem é in-sensata, sem-significado e rigor. (23)
Este esforço de a Teologia encontrar seu lugar dentro da
estrutura acadêmica de uma Universidade serviu-lhe para uma
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purificação epistemológica e exigiu-lhe uma vigilância maior sobre
sua própria prática teórica. Por outro lado, tem levado muitos
teólogos a escreverem praticamente para outros teólogos ou compa-
nheiros na lide acadêmica, na ansiosa espera do que eles dirão. Não
se trata de uma reflexão em vista do povo de Deus, do crescimento da
consciência da fé da comunidade eclesial. As aulas transformam-se
no lugar onde tais escritos são comunicados aos alunos, seja na sua
forma científica, fala-se então de curso de alto nível, seja numa forma
vulgarizada, fala-se de curso "pastoral". O termo pastoral encobre
neste caso o tom irônico do desprezo do intelectual para qualquer
nível inferior ao seu estatuto puramente teórico e técnico. Não revela
a.riqueza que o termo encerra: a verdadeira pátria natal da Teologia.
Numa palavra: o lugar acadêmico nos fala de uma teologia escrita
para professores e vulgarizada para alunos.
O caráter acadêmico coloca o "lugar social" em segundo
plano. Com isso, a prática teológica escolar corre o risco de exercer
simplesmente uma função intra-sistêmica, reproduzindo, no sentido
de copiar e produzir de novo as contradições da sociedade. O ensino
da Teologia, perdendo o contacto com a força renovadora e crítica de
sua fonte original, a consciência de fé de uma comunidade cristã,
termina por tornar-se uma peça a mais d o sistema vigente,
corroborando-o, justificando-o, e não lhe sendo crítica. Precisamente
porque não questiona, nem explicita o "lugar social", pode facilmente
servir a interesses que desconhece. Participa de uma "política global
educacional", na esfera universitária, sem nenhuma originalidade
própria
Enfim, o lugar acadêmico transforma o ensino da Teologia
num elemento necessário, obrigatório para a formação dos futuros
professores que serão como que perpetuadores do mesmo sistema
teórico. Garante-se uma continuidade, que nem sempre é promissora
na linha da criatividade, originalidade.
2. Conseqüências de tal lugar
Pela própria descrição do lugar "tridentino", já nos aparecem
claras muitas conseqijências cujo alcance convém explicitar com
maior precisão. Somente assim poderemos tentar superar-lhe as
limitações dentro do campo de possibilidade de nossas condi, oes
atuais de Igreja e Sociedade. Vamos trabalhar sobre as três car icte-
rísticas principais decorrentes do lugar de ensino tridentino: teologia
seminarística, teologia clerical e teologia acadêmica.
Teologia seminarística
Caracteriza-se tal Teologia por sua intenção 'uncional e
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pragmática. Está voltada para a ação pastoral do estudante de
Teologia, procurando dar-lhe já elementos sobretudo de ordem
dogmático-sistematica e canônico-moral. Os clássicos manuais de
Sistemática, de Moral, Direito Canônico, revelam bem sua natureza.
Existe exígua presença de categorias leigas e seculares. Facilmente
descamba para as "receitas" e "fórmulas feitas" a serem ensinadas.
Freqüentemente não passa de um catecismo ampliado, dentro de
uma perspectiva de "pergunte e responderemos".
Com a mesma rapidez com que se aprendem os últimos
produtos teológicos, com a mesma eles caducam deixando o seu
possuidor despreparado para novas situações. Outras vezes aconte-
ce ainda pior. O aluno sai seguro das respostas, numa consciência de
"mestre", de modo que sua tarefa se resume a divulgar os conheci-
mentos adquiridos. Não percebe o processo interno do pensar
teológico na sua contínua tarefa hermenêutica a partir de sempre
novas s i t u a ç õ e s sociais, culturais. A teologia seminarística
caracteriza-se pelo seu caráter axiomático, pouco afeita aos questio-
namentos, ã evolução, ã novidade.
Mais. A ótica receptora seminarística produz já uma seleção
seja temática como de compreensão. Este empobrecimento dificulta-
rá o aluno a enfrentar situações, onde se agitarão problemas de outra
natureza. Corre-se o risco de passar ã margem de tais questões por
incapacidade de captá-las.
A teologia seminarística apresenta, além do mais, enorme
defasagem em relação à situação existencial do estudante d e
teologia. Ignora as características deste jovem que são as mesmas
dos outros jovens de seu tempo, como a sensibilidade para os
problemas existenciais, com conseqüente desinteresse por um ensi-
no mais teórico, abstrato, sistematizado. No plano da fé, não começa
os estudos com a tranqüilidade espiritual de outrora, mas, pelo
contrário, traz uma série de problemas, esperando receber alguma
resposta ou esclarecimento. Ora, a teologia seminarística desconhe-
ce todo esse setor de problemas, pois, se dirige ao "clérigo", naquilo
que essa imagem já predeterminada significa, e não ao jovem
concreto que se senta nos bancos de aula, carregado de problemas,
de contradições pessoais, refletindo uma sociedade, por sua vez,
complexa e conflitual.
Teologia clerical
Faz parte tal Teologia do universo institucional eclesiástico. Aí
dentro exerce a função de legitimadora. Por isso, torna-se marcada
pelo caráter dogmático, ortodoxo e intra-sistêmico. Sua preocupação
volta-se para o rigor da verdade e não o vigor da vida. Isto a coloca
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numa situação de contínua auto- e iietero-censura. A função intra-
sistêmica do teólogo pesa-lhe como uma responsabilidade de maior
compromisso com a fidelidade doutrinai que com a criatividade e com
o esforço novo em busca de novas respostas.
Nesta perspectiva, o aspecto crítico e hitórico da Teologia
cede lugar ao sistemático, dogmático. A preocupação concentra-se
em conseguir formular de modo doutrinalmente reto as verdades,
num esforço de salientar o permanente, o estável. Com isso, o fator
histórico se transforma antes num empecilho do que num princípio
motor do pensamento teológico. Prefere-se a tarefa de organizar os
ensinamentos em corpos estáveis que exercer sobre eles a função
crítica da razão.
Tal Teologia reflete o lugar clerical do seu produtor. É uma
práxis intra-eclesial, institucional. Alheia-se à praxis extra-eclesial
libertadora, não dando nenhuma resposta a toda a gama de proble-
mas que tal práxis levanta. Nela predominam problemas elaborados a
partir dos interesses de uma classe burocrática, com a função de
ligitimar a instituição. Muitas vezes, fica-se longe dos problemas da
vida do povo. Acontece um deslocamento para questões teológicas
de relevância puramente para o mundo intra-eclesial, com grande
desperdício de energias em questiúnculas, cujo alcance para todo o
povo de Deus é assás insignificante. Não precisa chegar ao grau
extremo de alienação clerical de um dos meus professores de Moral
que passou grande parte do curso tratando de problemas tão
"transcendentais" como do "estipêndio" de missa e das penas
eclesiásticas, enquanto os grandes problemas da moral social e os
causados pelas ciências modernas ficaram totalmente de fora. A
moral e a parte da Teologia dedicada à Igreja, aos sacramentos eram,
sem dúvida, onde mais clara aparecia a mentalidade clerical do
ensino. A atenção voltava-se quase exclusivamente para o clérigo,
como se ele fosse o mais importante.
As ciências naturais, as ciências humanas, as ciências do
Social, por sua vez, em pleno florescimento, levantavam uma série
enorme de graves problemas para a intelecção da fé, contudo pouco
ligados ao mundo clerical. Daí que ressoavam de modo imperceptível
a ouvidos não acostumados a esses ruídos mundanos.
Teologia acadêmica
O aspecto acadêmico da Teologia fê-la mais orientada à
problemática trazida pelos desafios dos intelectuais e não ^elos do
povo. Se alguns problemas além do mundo clerical tinham chance de
perturbar a tranqüilidade teológica, só poderiam ser aquoles que os
teólogos encontravam nos seus contactos com a literatura culta da
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época. Em geral, restringiam-se às questões de ordem filosófica. Era,
de fato, dos arrabaldes da Filosofia que se levantavam as vozes mais
ouvidas pelos teólogos. Elas refletiam as interrogações de pequena
elite pensante centro-européia. Assim a Teologia acadêmica pratica-
mente se reduzia a respondê-las. E nós, nos subúrbios da Teologia,
repetiamo-las religiosamente, como se fossem os nossos grandes
questionamentos.
Na Teologia acadêmica o grande ausente era o povo. As
comunidades eclesiais concretas na sua pequena problemática de fé,
surgida da vida real que levavam, não conseguiam cfiegar com sua
voz até a soleira das Instituições Teológicas. Com isso, a seleção de
problemas, de estilo, de modo de tratar os temas, se fazia em função
do próprio mundo acadêmico e não visava à vida do povo, em cujo
meio os estudantes deveriam preparar-se para trabalhar. Uma teolo-
gia acadêmica faz-se pouco sensível ao lugar social em que se
ensina. Cria-se a sensação de estar-se num lugar soberano, onde os
problemas sociais, as opções de cunho sócio-político nada influen-
ciam. Com isso não se favorece criação de uma consciência crítica,
seja em relação a leitura intra-teológica da Tradição, seja em relação
ao contexto sócio-político em que se ensina a Teologia.
Tem-se vivido num nível bastante amplo uma crise generaliza-
da do acadêmico. Entretanto, tem-se caminhado, muitas vezes, para
uma banalização do ensino e não para uma reformulação mais radical
dos defeitos fundamentais de tal tipo de ensino. A esterilidade do
acadêmico tem sido confundida com o seu caráter científico. E a
diminuição do grau de seriedade científica tem tido o duplo efeito
negativo: continuar com as deficiências do acadêmico e reduzir a
Teologia a um catecismo melhorado.
Finalmente, a Teologia acadêmica tem-se ensinado ultima-
mente dentro de Universidades Católicas. Na situação concreta que
estamos vivendo em nossa pátria, isto tem trazido para a Teologia
uma dupla limit-^cão. Pesa sobre ela, o olhar de suspeita das
Instâncias eclesiásticas e civis. Ambas exercem uma censura. Por
isso, dificilmente a Teologia poderá exercer dentro da Universidade
sua função crítica. Sente-se oorigada a inserir-se na estrutura clerical
e civil da Universidade, com todas as limitações que isto hoje
significa. Pertence a uma Instituição, que já não é mais um espaço do
livre pensamento, da criatividade crítica, e sim simples lugar de
socialização de conhecimentos produzidos para o melhor funciona-
mento do sistema. A Teologia tem sido levada de roldão nesta
avalanche ideológica.
E não deixa de ser uma ironia ler que professores d e
Universidades de países socialistas lamentam a não existência da
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Teologia em seu meio, porque ela teria podido ajudar a questionar
seu universo ideológico e obrigá-los a caminhar. Perdeu-se com a sua
ausência um elemento eçsencial de confronto espiritual. (25) E nós
que temos tais faculdades, acabamos por reduzi-las a um simples
estabelecimento comunicador de conhecimentos teológicos já acu-
mulados e cuja veiculaçào não altera nada sob o ponto de vista
crítico.
3. Superação de tal lugar
Superação não significa eliminação, mas ultrapassagem, pro-
curando reter o construtivo do momento anterior e assumindo em
síntese positiva novidades do atual momento. Vamos tentar na tríplice
característica analisada encontrar o momento-síntese. Trata-se mais
de uma tentativa, que participa da fragilidade de todas as prospecti-
vas e sugestões. Naturalmente, muitos pontos a serem indicados aqui
já vêm sendo realizados em diversos lugares com ritmos diversos.
Teologia seminarística
As ciências de comunicação chamam-nos a atenção para a
importância do receptor em todo o processo produtivo e transmissivo
de informações. Um primeiro passo para a superação da teologia
seminarística é a abertura do curso a outros alunos de universo
religioso e eclesiástico diferente. Tal fato exigirá da Instituição de
ensino uma inserção dentro de um sistema não puramente eclesiásti-
co. Os próprios alunos trarão exigências e necessidades diferentes,
produzindo uma modificação na seleção e combinação dos elemen-
tos de conhecimento a serem transmitidos.
Mais. Faz-se mister uma modificação na própria compreensão
e concepção da função do "seminarista" na Igreja. Não se trata de
alguém, em primeiro lugar, comprometido com a Instituição e depois
com o povo, mas o contrário. Seu compromisso fundamental é com o
povo a ser evangelizado. E por causa do povo, existe a Instituição. Os
interesses do povo são os decisivos para a sua formação. Não se
deve auto-definir como alguém destinado á legitimação do Sistema
eclesiástico, onde desenvolverá um papel burocrático, intra-
sistêmico. Sua definição biográfica faz-se a partir de sua vocação
para, de seu chamamento a dedicar-se ao povo de Deus. A própria
fidelidade da Igreja só se pode entender ã luz de seu compromisso
com a missão evangelizadora, que recebera de Cristo. E Cristo
mesmo auto-compreende-se em relação a nossa salvação. O Credo
exprime tal perspectiva, ao dizer que o Verbo se encarnou "por causa
de nós homens e por causa de nossa salvação". O mesmo se deve
dizer de todo ensino da Teologia. Isto, se tornará exigência quando o
mundo leigo, mais próximo aos problemas do mundo, se fizer mais
51
a b u n d a n t e m e n t e p r e s e n t e , d e u m l a d o , e o s c l é r i g o s s e n t i r e m - s e eles
m e s m o s mais l i g a d o s a o s h o m e n s , a o s s e u s p r o b l e m a s e c o m p r o m e -
t i d o s a p r e p a r a r e m - s e p a r a s e r u m a p r e s e n ç a e v a n g é l i c a e m tal m e i o .
Primeiro. S e n ã o s e t o r n a a b s o l u t a m e n t e n e c e s s á r i o , p e l o m e n o s é
altamente importante, q u e os alunos d e Teologia t e n h a m tido algu-
mas e x p e r i ê n c i a s " p o p u l a r e s " . I s t o q u e r d i z e r q u e a n t e s d e v i r e m
para a T e o l o g i a , d e v e r i a m t e r t i d o a o p o r t u n i d a d e d e t e r v i v i d o j u n t o
ao p o v o m a i s s i m p l e s , p o b r e , s e j a d o c a m p o , c o m o d a s p e r i f e r i a s
urbanas o u aglomerados populares. S o m e n t e ao longo de um t e m p o
d e c o n v i v ê n c i a q u e s e c o n s e g u e m c a p t a r o s p r o b l e m a s . Visitas
esporádicas e m finais d e s e m a n a o u férias c o m v i a g e n s pelas regiões
p o b r e s . . d p país p a r e c e m n ã o s e r s u f i c i e n t e s p a r a u m a v e r d a d e i r a
experiência popular n o sentido d e q u e falamos aqui. O objetivo d e tal
experiência é sensibilizar o aluno para t o d a u m a problemática, q u e
sua classe d e o r i g e m e s u a vida n o seminário n ã o possibilitam
p e r c e b e r . P a r a isso, é n e c e s s á r i o u m c e r t o t e m p o , s o m e n t e o n d e , n o
continuado contacto, os interesses e problemas v ê m à tona. Esta
experiência d i u t u r n a p o d e criar no j o v e m seminarista u m vínculo
afetivo e c o g n i t i v o c o m o s e t o r p o p u l a r , q u e l h e s e r v i r á d u r a n t e a
Teologia de prisma d e seleção e c o m b i n a ç ã o d e conhecimentos.
Pode dar-lhe t a m b é m u m a consciência nova e diferente d o s proble-
mas d a v i d a .
Segundo. S e s e c o n s e g u i s s e , s e r i a m e l h o r a i n d a q u e d u r a n t e o s
estudos teológicos o seminarista continuasse e mantivesse um
contacto c o m essas c a m a d a s populares. S u p o n d o a experiência
anterior, t a l v e z b a s t a s s e p a r a m a n t e r a c o n s c i ê n c i a a c e s a u m
c o n t a c t o , a g o r a , r e d u z i d o a o s f i n s d e s e m a n a e férias. S e r i a u m
verdadeiro teste para a s u a Teologia, seja q u e s t i o n a n d o a seleção
dos temas q u e os professores fazem, seja t e n t a n d o e n c o n t r a r u m a
maneira d e tratá-los de forma mais a d e q u a d a à mentalidade d e nosso
povo.
d e tais e x p e r i ê n c i a s . S o m e n t e a s s i m a T e o l o g i a iria a d q u i r i n d o u m
c o l o r i d o mais l o c a l , e n c a r n a d o , n a s e l e ç ã o d o s t e m a s e n a m a n e i r a d e
abordá-los. Talvez s e p u d e s s e m n o início p r o m o v e r algumas expe-
riências a n t e r i o r m e n t e planejadas d e n t r o d e limites modestos, e m q u e
professores e alunos, depois d e u m período j u n t o s e m algum setor
p o p u l a r , t e n t a s s e m e l a b o r á - l a s e m nível t e o l ó g i c o . É c o n h e c i d a a
e x p e r i ê n c i a q u e o P. J . C o m b l i n a c o m p a n h o u n a s p r o x i m i d a d e s d e
Recife de um estudo d e Teologia b e m próximo aos problemas do
h o m e m simples daquela região. (26)
Quarto. A c h o q u e q u a l q u e r m u d a n ç a m a i s r a d i c a l n a " t e o l o g i a
s e m i n a r í s t i c a " , m o d i f i c a n d o - l h e o e n f o q u e e a p r o b l e m á t i c a , n ã o virá
d o s p r o f e s s o r e s . E m v ã o p o d e r ã o o s a l u n o s f i c a r e s p e r a n d o q u e nós,
os p r o f e s s o r e s , t r a n s m i t i r e m o s e m e n s i n o d e T e o l o g i a mais p r ó x i m o
d a p r o b l e m á t i c a popular, s e eles não n o s fizerem sentir suas
e x i g ê n c i a s . A " m u d a n ç a d e l u g a r " d o s s e m i n a r i s t a s é mais d e c i s i v a
p a r a a m u d a n ç a d a T e o l o g i a q u e a d o s p r o f e s s o r e s . S e r ã o eles, q u e ,
percebendo e sentindo os questionamentos oriundos de s u a expe-
riência popular, forçarão os professores a modificar suas perspecti-
vas, l e v a n t a n d o - l h e s s u s p e i t a s , s u s c i t a n d o p e r g u n t a s r a d i c a i s . Elas
não poderão ser respondidas c o m os velhos jargões teológicos e
obrigarão os professores a repensarem a sua Teologia. Neste sentido,
pesa sobre os alunos enorme responsabilidade na transformação do
ensino da Teologia. Terão q u e fazer u m a verdadeira auto-crítica de
s e u l u g a r s e m i n a r í s t i c o , n o s e u a s p e c t o c o n s e r v a d o r e intra-
s i s t ê m i c o . P a r e c e - m e q u e eles d e m i t i r i a m d e s e u p a p e l h i s t ó r i c o e
responsável, se ficassem à espera d e q u e outros, os professores e
b u r o c r a t a s a c a d ê m i c o s , r e a l i z a s s e m r e f o r m a s r a d i c a i s . A i d a d e mais
j o v e m c o m m a i o r p o s s i b i l i d a d e d e c a p t a ç ã o d e p r o b l e m a s fá-los mais
a p t o s p a r a p r o v o c a r m u d a n ç a s . S ó a n o v i d a d e m o d i f i c a . E o s mais
" n o v o s " deveriam perceber melhor a " n o v i d a d e " .
Quinto. N o c a s o e m q u e o s p r o f e s s o r e s f o s s e m a q u e l e s q u e , p o r u m a
c o n j u n t u r a e s p e c i a l , t e n t a s s e m realizar u m e n s i n o mais l i g a d o à
p r o b l e m á t i c a p o p u l a r e o s a l u n o s e s t i v e s s e m a l h e i o s a tal e x p e r i ê n -
cia, a c o n t e c e r i a u m diálogo d e surdos. A l g o d e s a n i m a d o r para
q u a l q u e r p r o f e s s o r e t u d o a c a b a c o m o a n t e s . N ã o d e i x a d e ser
desolador a constatação de q u e em diversos lugares estamos
assistindo ao f e n ô m e n o de jovens acomodados, reacionários m e t m o ,
impedirem qualquer movimento d e renovação. O fenômeno Lefèbvre
c o m seminários conservadores, ainda q u e não na s u a forma hetero-
doxa, t e m e n c o n t r a d o entre nós alguns ecos preocupantes.
Transformam-se em rêmoras do processo d e superação da teologia
s e m i n a r í s t i c a , t e n t a n d o c o n s e r v á - l a f e c h a d a a o s reais p r o b l e m a s d o
atual m o m e n t o e m q u e vivemos.
53
F i n a l m e n t e , a s u p e r a ç ã o d a T e o l o g i a s e m i n a r í s t i c a p o d e r i a ser
favorecida por uma maior participação dos alunos na vida da nação,
seja d e n t r o d o s c a n a i s j á e x i s t e n t e s , a i n d a q u e p o u c o s , seja c r i a n d o
outros. Faz-se mister q u e os e s t u d a n t e s criem meios de participarem
d a v i d a d o país. Isto o s l e v a r á a s e n t i r e m - s e p e r t e n c e n t e s ao p r o c e s s o
histórico da nação. Seus estudos não se desligam da realidade social
p r e s e n t e . P o r isso, t e m n e c e s s i d a d e d e c r i a r v e r d a d e i r o a p a r e l h o d e
c o n v e r s a q u e o s m a n t e n h a s o b e r a n o s e n ã o f e c h a d o s ao p e q u e n o
universo cultural seminarístico. Não p o d e r á faltar no seu a m b i e n t e
cultural nem a leitura de literatura crítico-social nem a possibilidade
de discussões inteligentes s o b r e a nossa realidade global. S o m e n t e
assim p o d e r ã o m a n t e r a c e s a s s u a s c o n s c i ê n c i a s c r í t i c a s e i n t e r e s s a -
das p o r u m a r e a l i d a d e m a i s a f h p l a q u e a p r o b l e m á t i c a s e m i n a r í s t i c a e
acadêmica.
Teologia clerical.
q u a l q u e r l u g a r . P r e c i s a ser c u l t i v a d a , s o b r e t u d o n u m a s o c i e d a d e
a l t a m e n t e c o e r c i t i v a c o m o a e m q u e v i v e m o s . O p r o f e s s o r d e v e ser
amigo d a Instituição o n d e leciona, mas mais amigo ainda da verdade.
P o d e m o s ainda acrescentar, q u e mais amigo ainda do povo em
f u n ç ã o d o q u a l o s e u e m p e n h o p e l a v e r d a d e a d q u i r e s e n t i d o . Isto
supõe que se torna importante para o professor maior consciência do
lugar social da A m é r i c a Latina. A T e o l o g i a clerical, em geral, sente-se
mais l i g a d a a o l u g a r r o m a n o o u e u r o p e u , q u e ao l u g a r l a t i n o -
a m e r i c a n o . V o l t a n d o - n o s mais p a r a o n o s s o c o n t e x t o s o c i a l , p o d e r e -
mos desclericalizar a Teologia. Neste sentido, a abertura dos profes-
s o r e s p a r a a p r o b l e m á t i c a d a n a ç ã o , n o m o m e n t o e m q u e s e vive, e
p a r a a Igreja local, p o d e tornar-se fator decisivo. Isto significará maior
participação deles no nascer de m o v i m e n t o s e reflexões novas de
n o s s a Igreja. Não d e i x o u d e ser a u s p i c i o s o q u e o s d o i s e n c o n t r o s
I n t e r - e c l e s i a i s d e C o m u n i d a d e d e B a s e , o n d e as b a s e s s e f i z e r a m
r e p r e s e n t a r d e m a n e i r a a m p l a e a h i e r a r q u i a e s t a v a p r e s e n t e na
p e s s o a de vários bispos, fossem a c o m p a n h a d o s por séria reflexão
t e o l ó g i c a . (29) O m e s m o p o d e - s e d i z e r d a p r e s e n ç a d e t e ó l o g o s em
t e m a s c á l i d o s d e n o s s a a t u a l r e a l i d a d e , c o m o o p r o b l e m a d a terra,
r e l i g i o s i d a d e p o p u l a r , etc... (30).
A t e o l o g i a c l e r i c a l e r a p r a t i c a d a n a s u a q u a s e t o t a l i d a d e por
pessoas do clero e em função da f o r m a ç ã o de clérigos. Acontece,
entretanto, q u e muitos d o s que, por diversas razões, deixaram o
e x e r c í c i o m i n i s t e r i a l , a c a b a r a m p o r a b a n d o n a r t a m b é m s e u mister
t e o l ó g i c o . C o m isso, a t a r e f a t e o l ó g i c a s e e m p o b r e c e u . I m p õ e m - s e
neste setor duas mudanças. Uma d e c u n h o institucional, no sentido
de q u e se criem clima psicológico e c o n d i ç õ e s acadêmicas para o
exercício do magistério teológico d o s ex-clérigos. Outra mais profun-
da, que t o c a a própria intencionalidade do ensino da Teologia.
Colocar c o m o ponto central d o ensino, não o preparar o aluno para a
f u n ç ã o c l e r i c a l , m a s p a r a ser " c r i s t ã o " c o m c a p a c i d a d e c r í t i c a na
s o c i e d a d e e Igreja e m q u e v i v e m o s , m a r c a d a s p o r e n o r m e p l u r a l i s m o .
Assim o j o v e m estudante de Teologia, seja na sua função
c l e r i c a l , seja c o m o l e i g o , d e f r o n t a r - s e - á c o m p r o b l e m a s t e o l ó g i c o s ,
o r i u n d o s desde o universo cultural mais popular d e influência
a f r i c a n a , a m e r í n d i a , e t r a d i c i o n a l c a t ó l i c a a t é a q u e l e s mais s o f i s t i c a -
dos i n t r o d u z i d o s pelas últimas c o r r e n t e s culturais européias ou
norte-americanas. T o d o esse c o n j u n t o constitui o nosso contexto
cultural, para o qual preparamos os jovens, a fim de que possam
pensar criticamente a fé cristã em t a n t a d i v e r s i d a d e de horizontes.
Teologia acadêmica
P a r e c e q u e s e i m p õ e o f a t o d e q u e a T e o l o g i a d e i x e os r e d u t o s
55
N u m a p a l a v r a , a t a r e f a q u e o P a p a J o ã o XXIII p r o p ô s a o
C o n c i l i o V a t i c a n o II d e ser p a s t o r a l e e c u m ê n i c o , v a l e a q u i p a r a o
ensino da Teologia.
A T e o l o g i a e u r o p é i a q u e r r e s p o n d e r f u n d a m e n t a l m e n t e a uma
pergunta básica: c o m o um " h o m e m m o d e r n o " e " p ó s - m o d e r n o "
pode h o n e s t a m e n t e crer? T e m a fé cristã credibilidade diante de uma
r a z ã o i n t e l e c t u a l m e n t e h o n e s t a , s e m p r e c i s a r n e g a r - s e c o m o razão
p a r a c r e r ? H o n e s t i d a d e i n t e l e c t u a l e f é c r i s t ã (32), n ã o é s o m e n t e o
título d e u m a r t i g o d o g r a n d e t e ó l o g o a l e m ã o K. R a h n e r , mas um
programa teológico.
Isto s i g n i f i c a q u e o m u n d o m o d e r n o l e v a n t o u u m a série d e
p r o b l e m a s g r a v e s e m r e l a ç ã o ás v e r d a d e s d a fé e a s e u s i g n i f i c a d o ,
q u e a m e a ç a r a m a h o n e s t i d a d e d a r a z ã o n o e x e r c í c i o d a fé. T r a t a - s e
de um duplo desafio, q u e a Teologia européia tenta c o m gigantesco e
maravilhoso esforço responder.
a r b i t r á r i a , s e c t a r i s m o a u t o r i t á r i o a f i m d e ser p l a u s í v e l p a r a u m a
" r a z ã o m o d e r n a , a u t ô n o m a , e s c l a r e c i d a " ? A fé c a t ó l i c a a p a r e c i a
c o m o u m d e p ó s i t o d e v e r d a d e s c r i s t a l i z a d a s , q u e t o d o fiel d e v i a
a c e i t a r i n c o n d i c i o n a l m e n t e , d e tal m o d o q u e s u a r e j e i ç ã o s i g n i f i c a r i a
a exclusão da p r ó p r i a Igreja. A rigidez d o g m á t i c a s o a v a f r i a m e n t e
intransigente em fórmulas em q u e se anatematizava t o d o aquele q u e
" d i s s e s s e q u e p o d e a c o n t e c e r q u e se p o s s a a t r i b u i r o u t r o s e n t i d o a o s
d o g m a s p r o p o s t o s pela Igreja, por c a u s a do p r o g r e s s o da ciência,
d i f e r e n t e d a q u e l e q u e a I g r e j a e n t e n d e u e e n t e n d e " (33). O c l á s s i c o
juramento anti-modernista exigia a q u e se aceitasse s i n c e r a m e n t e a
doutrina de fé r e c e b i d a d o s a p ó s t o l o s e t r a n s m i t i d a até nós pelos SS.
Padres, c o m o m e s m o sentido e s e m p r e na m e s m a s e n t e n ç a , e q u e ,
portanto, se rejeitasse a invenção herética da evolução dos dogmas,
que passa de u m sentido p a r a o u t r o diferente daquele q u e a Igreja
a n t e s t e v e (34).
D o u t r o l a d o , o p r o g r e s s o d a s c i ê n c i a s , as d e s c o b e r t a s h i s t ó r i -
cas, a p e r c e p ç ã o d a r e l a t i v i d a d e d e m u i t o s v a l o r e s , a c o n s c i ê n c i a
histórica ameaçavam violentamente a estaticidade das afirmações
dogmáticas. Esta c o n s c i ê n c i a histórica torna-se provavelmente, a
r e v o l u ç ã o mais i m p o r t a n t e q u e s o f r e m o s d e s d e o a p a r e c i m e n t o d a
era m o d e r n a . Caracteriza o h o m e m c o n t e m p o r â n e o s e n d o - l h e u m
p r i v i l é g i o e u m f a r d o . É d a d o a e s t e h o m e m m o d e r n o ter u m a
consciência da historicidade de t o d o presente e da relatividade de
t o d a s as o p i n i õ e s . A c o n t e c e v e r d a d e i r a r e v o l u ç ã o e s p i r i t u a l , s o b r e t u -
d o p a r a o s c a t ó l i c o s , a c o s t u m a d o s à f i x i d e z d o g m á t i c a (35). D i a n t e
desta consciência perplexa, os t e ó l o g o s m o d e r n o s tentaram libertá-la
d o p e s o d e tal v i s ã o e s t á t i c a . O s d o i s g r a n d e s a d v e r s á r i o s : o e r r o e o
mito. A s d u a s g r a n d e s a r m a s : a r a z ã o e a h i s t ó r i a . V e j a m o s c o m o se
d e u a luta.
A h i s t ó r i a f o i i l u m i n a n d o as d i v e r s a s e d i f e r e n t e s m a n e i r a s d e
e s c r e v e r , falar d o s h o m e n s . P r o g r e d i u - s e m u i t o n a c o m p r e e n s ã o d e
t e x t o s a n t i g o s . E l a b o r a r a m - s e t e o r i a s d e i n t e r p r e t a ç ã o literária, q u e ,
após u m momento d e hesitação, foram aplicadas aos próprios textos
bíblicos, libertando-se d e falsas c o m p r e e n s õ e s . Desenvolve-se u m
processo de "desmitologização", s o b o impulso d o movimento
d e s e n c a d e a d o p o r R. B u l t m a n n . A h i s t ó r i a e n t r e e m l u t a c o n t r a o
mito.
A preocupação principal restringiu-se naturalmente ao campo
da ortodoxia, p r o c u r a n d o através d e especializadas pesquisas e
reflexões h i s t ó r i c o - d o g m á t i c a s reter as v e r d a d e s d e fé em c o n s o n â n -
cia c o m o s d a d o s d a razão, d a ciência, d a história. Esforço d e
interpretação d a tradição eclesial para a c u l t u r a m o d e r n a centro-
européia, m a r c a d a f u n d a m e n t a l m e n t e pela cientificização. D e fato, a
ciência representa o fator decisivo, a g r a n d e z a verdadeiramente
d e t e r m i n a n t e d e n o s s a é p o c a (36). U m a f é q u e n ã o p u d e s s e s e r
pensada p o r uma cultura técnico-científica não teria n e n h u m a c h a n -
ce histórica. E a Teologia européia quis garantir à fé católica,
enquanto pensamento, uma cidadania no mundo moderno.
Segundo desafio: c o m o l i b e r t a r a f é c a t ó l i c a d a f a l t a d e s i g n i f i c a d o , d e
sentido, para u m h o m e m ciente e consciente d a descoberta de sua
s u b j e t i v i d a d e ? C o m o falar a u m h o m e m , p a r a q u e m a d i m e n s ã o
e x i s t e n c i a l s e t o r n o u f u n d a m e n t a l , v e r d a d e s o b j e t i v a s ? C o m o repetir
um jogo d e linguagem eclesiástico-dogmático alheio às experiências
humanas do homem moderno?
Não se trata neste s e g u n d o desafio d e responder a problemas
de natureza mais intelectual, q u e as d e s c o b e r t a s científicas e históri-
c a s p r o v o c a r a m . N ã o s e i n t e r e s s a p e l a v e r d a d e o b j e t i v a e m c r i s e por
c a u s a d a s c e r t e z a s c i e n t í f i c a s . M e s m o q u e s e c o n s i g a p r o v a r q u e tal
d o g m a é c o m p a t í v e l c o m o p e n s a m e n t o m o d e r n o , p e r g u n t a - s e pelo
s e u s i g n i f i c a d o e x i s t e n c i a l , s e u s e n t i d o p a r a a n o s s a v i d a real,
c o n c r e t a . T e m o s u m a f é a m e a ç a d a p e l a f a l t a d e s e n t i d o , e n ã o mais
pelo erro o u mito. O s e u sentido o b s c u r e c e r a - s e , a o tornar-se seu
j o g o lingüístico alheio a o m u n d o experiencial d o h o m e m moderno.
E m t e r m o s i m p l e s , p o d í a m o s d i z e r q u e o h o m e m m o d e r n o s e n t e se
i n s e n s í v e l , frio, i n t o c a d o p o r m u i t a s v e r d a d e s d e f é , s e m levantar a
m í n i m a o b j e ç ã o c o n t r a s u a o b j e t i v i d a d e (37).
Resumindo, p o d e m o s d i z e r q u e a c a r a c t e r í s t i c a f u n d a m e n t a l d a
Teologia européia é a ortodoxia, não no sentido rígido tradicional.
Pelo c o n t r á r i o , q u i s s a l v á - l a d e s s a p e c h a a t r a v é s d e u m g i g a n t e s c o
trabalho de reinterpretação do d o g m a , recuperando-lhe uma c o m p a -
t i b i l i d a d e c o m as v e r d a d e s c i e n t í f i c a s e u m n o v o s i g n i f i c a d o e m
relação à experiência d o h o m e m atual, em luta c o n t r a o d o g m a t i s m o ,
autoritarismo, falta d e significação. A T e o l o g i a européia é verdadeira
história da teoria. M e s m o q u a n d o a b o r d a o t e m a d a práxis, fá-lo
teoricamente. A relação entre teoria e práxis na Teologia é vista a
partir d o p e n s a r . P o r isso, t e m o s u m a T e o l o g i a e r u d i t a , r i c a , e x i b i n d o
trabalhos de pesquisa positiva e reflexões especulativas de alto teor.
A c u m u l o u nas últimas d é c a d a s r i q u e z a e n o r m e d e d a d o s , na b u s c a
de s e m p r e novas interpretações das v e r d a d e s d e fé. Parte do
pressuposto de que existe um " d e p ó s i t o de v e r d a d e s " , ou " u m
arsenal de s i g n i f i c a d o s " , q u e t e m o s de transmitir c o m h o n e s t i d a d e
intelectual e c o m acribia hermenêutica. T o c a - n o s interpretar, expli-
car, f a z e r s i g n i f i c a t i v o s o s e l e m e n t o s d a t r a d i ç ã o e c l e s i a l . S o m o s
responsáveis pelo já dado, de m o d o q u e sem u m esforço de releitura
60
P o r ser u m a T e o l o g i a d e m a s i a d a m e n t e v o l t a d a p a r a o p r o b l e -
ma d o " s u j e i t o " , a m e a ç a d o n a s u a f é p e l o p r o g r e s s o d a s c i ê n c i a s e
pela c a r ê n c i a d e s i g n i f i c a d o , e s c a p o u - l h e a d i m e n s ã o s o c i a l n o nível
práxico. E q u a n d o se p r e o c u p a v a por problemas de natureza social
era, a n t e s , n u m a l i n h a d e r e c u p e r a r - l h e s u m s e n t i d o p a r a o c a t ó l i c o , e
não e m p e r s p e c t i v a d e u m a p r á x i s .
Um dos s e u s principais limites situa-se na c o n s i d e r a ç ã o
unilateral i d e a l i s t a d o c o n h e c i m e n t o c o m o l i b e r t a ç ã o . L i b e r t a o
homem do a b s u r d o de uma realidade contraditória, injusta, c a r r e g a d a
de contradições, sem entretanto encaminhar-se na linha da transfor-
mação desta realidade. Deixa-a intacta. Mostra o sentido p r o f u n d o de
l i b e r d a d e q u e s e p o d e viver m a i s p l e n a m e n t e d e n t r o d e u m a p r i s ã o
q u e f o r a d e s u a s g r a d e s , s e m q u e n a d a a c o n t e ç a p a r a q u e as g r a d e s
reais s e j a m a b o l i d a s . P r o f u n d í s s i m a s r e f l e x õ e s s o b r e a r e l a ç ã o e n t r e
liberdade e graça, sem q u e nada se diga s o b r e situações o n d e a
própria liberdade p e r d e sentido, não por falta de significado i m a n e n -
te, mas s i m p l e s m e n t e p e l a i m p o s s i b i l i d a d e h u m a n a d e v i v e r s ó c i o -
economicamente. A violência de uma situação capitalista reduz a
m e r a s p a l a v r a s u m d i s c u r s o q u e e n c o b r e a m i s é r i a real c o m u m a
l i b e r t a ç ã o p a r c i a l d a fé d i a n t e d o e r r o , d o m i t o , d o s e m - s e n t i d o
t e ó r i c o . Pois tal d i s c u r s o t e o l ó g i c o faz p a s s a r a s o l u ç ã o d e u m
p r o b l e m a real ( l i b e r t a ç ã o d a o p r e s s ã o d e c o n d i ç õ e s m a t e r i a i s ) a o
plano ideal ( r e c u p a r a ç ã o de um s e n t i d o para a fé n u m a situação).
No a s p e c t o crítico, a T e o l o g i a européia ficara reduzida seja
simplesmente ao â m b i t o intra-eclesial, seja à s o c i e d a d e m o d e r n a
enquanto esvaziadora de sentido. Recuperando o aspecto positivo da
fé e m r e l a ç ã o a o m u n d o p a r e c i a t e r r e s o l v i d o s e u p r o b l e m a c e n t r a l . E
o m u n d o c o n t i n u a v a nas suas c o n t r a d i ç õ e s violentas, o n d e um
d i s c u r s o p o s i t i v o s o b r e ele p o d e r i a a p a r e c e r a t é u m a i r o n i a .
Pode-se levantar t a m b é m u m a crítica e suspeita ao interesse
d e tal T e o l o g i a . N ã o s e t r a t a t a n t o d o c o n t e ú d o d e s u a s a f i r m a ç e s ,
mas d o u s o q u e s e fez c o m tais e l a b o r a ç õ e s t e ó r i c a s . N u m a
sociedade conflitiva, t o d o discurso q u e a deixa intacta, até m e s m o
distrai a a t e n ç ã o d e s u a s c o n t r a d i ç õ e s , a c a b a e x e r c e n d o u m i n f l u x o
c o n s e r v a d o r . O " u s o d e tal d i s c u r s o " t e r m i n a p o r e n c o b r i r o s
verdadeiros problemas. Numa palavra: é um discurso alienante.
E v i d e n t e m e n t e e s t a p r á t i c a t e o l ó g i c a d e p e n d e n t e leva a u m
mal-estar pastoral generalizado. Se n a própria Europa, n o período
das entre-guerras, surgiu e m Innsbruck u m m o v i m e n t o querigmático,
criticando c o m o pastoralmente ineficaz o então sistema escolar
teológico (42), c o m muito maior razão tal ensino s e mostrava
i n a d a p t a d o às nossas c o n d i ç õ e s sócio-culturais. U m a pequisa rigoro-
s a s o b r e a n o s s a p r á t i c a p a s t o r a l n a s ú l t i m a s d é c a d a s viria ajudar
i m e n s a m e n t e a este duplo passo d e u m maior c o n h e c i m e n t o das
causas d e nossa dependência, seus mecanismos geradores e d e uma
c r í t i c a i n t e r n a d e tal p r o c e s s o a f i m d e s u p e r á - l o l ú c i d a e c o n s c i e n t e -
m e n t e . E m tais e s t u d o s n ã o p o d e m f a l t a r a n á l i s e s r e f e r e n t e s a o s
c o n d i c i o n a m e n t o s sócio-político-econõmico-culturais q u e estão A
base d e toda dependência. A teologia é um setor diminuto da imersa
e c o m p l e x a s i t u a ç ã o d e d e p e n d ê n c i a g l o b a l d e n o s s o c o n t i n e n t e , 'or
isso, s o m e n t e d e n t r o d e u m q u a d r o m a i s a m p l o p o d e r e m o s e n t e ider
o caráter reflexo e periférico d e nosso pensar teológico.
Um segundo passo c o n s i s t e e m elaborar positivamente» nossa
originalidade latino-americana. P a r a i s s o , t e r í a m o s q u e c o n h f ; e r m e -
l h o r o s n o s s o s c o n d i c i o n a m e n t o s s ó c i o - p o l í t i c o - e c o n õ m i f ; JS, ecle-
siais, c u l t u r a i s c o m s u a s c o n s e q ü ê n c i a s p a r a a p r á t i c a t e o i i g i c a . N ã o
é possível u m a originalidade d a prática t e o l ó g i c a c o m o e s c o n h e c i -
65
Condicionamento sócio-político-econômicos
Naturalmente não se trata aqui de descrever e analisar os
atuais c o n d i c i o n a m e n t o s s ó c i o - p o l í t i c o - e c o n ô m i c o s . Chamaremos
atenção, em forma extremamente concisa, para alguns pontos q u e
merecem nossa consideração em relação ã nossa prática teológica.
Vivemos n u m sistema neo-capitalista de periferia, c o n c e n t r a d o r ,
dependente e associado, c o m t u d o q u e isto significa d e c o n s e q ü ê n -
cias. O s i s t e m a p o l í t i c o b u r o c r á t i c o - a u t o r i t á r i o r e s t r i n g e a l t a m e n t e o s
c a n a i s d e p a r t i c i p a ç ã o , s e j a n o nível d e d e l i b e r a ç ã o c o m o n o nível d e
decisão. Sistema, portanto, p r o f u n d a m e n t e excludente. (43). C a d a
vez m a i s , o s t e ó l o g o s d e v e r ã o c o n h e c e r o s m o d e l o s e c o n ô m i c o e
p o l í t i c o , q u e d e t e r m i n a m t o d a a v i d a d o país, e q u e d e v e m s e r l e v a d o s
em c o n s i d e r a ç ã o n u m a e l a b o r a ç ã o t e o l ó g i c a . A C R B - N a c i o n a l d e s e n -
c a d e o u u m p r o c e s s o d e r e f l e x ã o s o b r e a r e a l i d a d e d o país. I g r e j a e d a
Vida Religiosa neles o f e r e c e n d o u m instrumental prático, simples,
mas m u i t o útil. A t r a v é s d e l e , p o d e r e m o s f a z e r u m a i d é i a p o r o n d e
a n d a n o s s a c o m p r e e n s ã o d a realidade brasileira (44).
Cada dia fica mais claro o papel p r e p o n d e r a n t e q u e está
ocupando entre nós a Ideologia da Segurança Nacional. No " C o m u n i -
cado pastoral ao P o v o d e D e u s " , os Bispos d a Comissão Representa-
t i v a d a C N B B d e 25 d e o u t u b r o d e 1 9 7 6 o b s e r v a m c o m o " p e n s a m e n t o
que inspira a d o u t r i n a da S e g u r a n ç a Nacional, a qual desde 1964 t e m
inspirado o G o v e r n o Brasileiro, d a n d o origem a u m sistema político
c a d a v e z m a i s c e n t r a l i z a d o e, e m p r o p o r ç ã o , c a d a v e z c o n t a n d o
menos c o m a participação d o povo"..."A ideologia da Segurança
Nacional colocada acima da S e g u r a n ç a Pessoal, espalha-se pelo
Continente latino-americano, c o m o o c o r r e u nos países s o b d o m í n i o
s o v i é t i c o . . . " (45).É o p r i m e i r o d o c u m e n t o d e I g r e j a d e c e r t a m o n t a e m
q u e s e a b o r d a d i r e t a m e n t e tal t e m á t i c a . P r o f u n d a m e n t e d e t e r m i n a n t e
e m t o d a p r á t i c a t e ó r i c a , d e v e , p o r isso, s e r e n c a r a d a c o m t o d a
seriedade pelo p e n s a m e n t o t e o l ó g i c o l a t i n o - a m e r i c a n o (46).
Condicionamentos eclesiais
P a r e c e q u e o c o n d i c i o n a m e n t o m a i s d e t e r m i n a n t e n o nível
eclesial é u m lento p r o c e s s o d e a f a s t a m e n t o d a Igreja das forças
dominantes, c o m q u e até então estava em íntima aliança. Num
m o m e n t o de clarividência, o episcopado latino-americano em Medel-
lín e n c a r o u d e f r e n t e a a c u s a ç ã o q u e s e l h e f a z i a e s e faz d e " s e r r i c o
e aliado aos r i c o s " , não se e x i m i n d o d e culpas passadas, mas
p r o p o n d o - s e a "traduzir o espírito de p o b r e z a e m gestos, atitudes e
n o r m a s q u e t r a n s f o r m e m a Igreja n u m s i n a l m a i s l ú c i d o e a u t ê n t i c o d o
S e n h o r " (48). " A p o b r e z a d a I g r e j a e d e s e u s m e m b r o s , n a A m é r i c a
L a t i n a , o b s e r v a P a u l o V I , d e v e s e r s i n a l e c o m p r o m i s s o . S i n a l d e valor
inestimável, d o p o b r e aos olhos de Deus; e c o m p r o m i s s o de solidarie-
d a d e c o m o s q u e s o f r e m " (49). D e lá p a r a c á t e m c r e s c i d o p o r p a r t e
d a s d i f e r e n t e s Igrejas d e A. L a t i n a u m a a t i t u d e d e d e s c o m p r o m i s s o
c o m as f o r ç a s d o m i n a n t e s , p a r a e s t a r mais p e r t o d o p o v o p o b r e ,
humilde, explorado. Os bispos n ã o t e m e m mais dizer q u e " c ô n s c i o s
das freqüentes omissões e desacertos, ao l o n g o d a história d e nossa
Igreja n o B r a s i l , s e n t e m - s e i m p o t e n t e s e i n t i m i d a d o s f r e n t e a t ã o
g r a n d e t a r e f a " da libertação d o povo. R e c o n h e c e m c o m espírito de
verdadeira h u m i l d a d e e penitência, q u e a Igreja, nem sempre, tem
67
s i d o fiel à s u a m i s s ã o p r o f é t i c a , a o s e u p a p e l e v a n g é l i c o d e e s t a r
s e m p r e ao l a d o d o p o v o . Q u a n t a s v e z e s , e n v o l v i d a n a s m a l h a s d a
iniqüidade, q u e está t a m b é m neste m u n d o , a Igreja tem feito o j o g o
dos opressores, t e m f a v o r e c i d o aos p o d e r o s o s d o d i n h e i r o e da
política c o n t r a o b e m c o m u m , s o b m á s c a r a s e n g a n a d o r a s , p o r
ingenuidade ou cavilação, n u m a triste d e f o r m a ç ã o da m e n s a g e m
e v a n g é l i c a . M a s a P a l a v r a l h e é e n v i a d a a c a d a h o r a d o s e u existir,
para que se arrependa, para q u e se converta, para q u e volte " a o seu
fervor p r i m i t i v o " (cf. A p o c 2,4) (50). E s t e t e x t o s i g n i f i c a c l a r a m e n t e
este d e s l o c a m e n t o q u e s e e s t á p r o c e s s a n d o d e n t r o d a s I g r e j a s . E as
f o r ç a s d o m i n a n t e s n ã o s e f a z e m e s p e r a r c o m s u a s r e a ç õ e s . B a s t a ler
as t r e m e n d a s c a m p a n h a s d e c e r t o s p e r i ó d i c o s r e p r e s e n t a n t e s d o s
i n t e r e s s e s d a s c l a s s e s d o m i n a n t e s . N ã o d e i x a d e ser s i n t o m á t i c o ,
q u e , e m i m e d i a t a r e a ç ã o ao r e c e n t e d o c u m e n t o d a C o m i s s ã o R e p r e -
s e n t a t i v a , C o m u n i c a ç ã o P a s t o r a l ao P o v o d e D e u s d e 2 5 . X . 1 9 7 6 , as
"Entidades de classes empresariais" do piedoso e catolicíssimo
Estado do Ceará enviam um telegrama ao Presidente o n d e dizem q u e
"tem a satisfação de manifestar seu veemente repúdio aos conceitos
e idéias e x p r e s s a s n a c o m u n i c a ç ã o p a s t o r a l d a C N B B , q u e r e p r e s e n -
t a m u m a g r a v e i n j u s t i ç a c o n t r a o g o v e r n o h o n r a d o e p a t r i ó t i c o d e V.
Excia..."(51). Seria longo enumerar e x e m p l o s de tais conflitos e q u e
tem surgido entre a Igreja e os defensores de interesses das classes
dominantes, seja a imprensa, c o m o classes empresariais, o u repre-
s e n t a n t e s d o G o v e r n o o u F o r ç a s d e S e g u r a n ç a (52). D e n t r o d e s t e
contexto cabe um estudo mais analítico da atuação e significado
teológico-eclesial da C N B B nos 20 anos de existência c o m os seus
" p l a n o s de p a s t o r a l " e a t u a ç ã o no c o n j u n t o da realidade brasileira.
O u t r o c o n d i c i o n a m e n t o e c l e s i a l i m p o r t a n t e s ã o os m a i s d i f e -
rentes movimentos, q u e estão s u r g i n d o no seio da Igreja, s o b r e t u d o a
68
p a r t i r d o C o n c i l i o V a t i c a n o II. E m g e r a l , a p r e s e n t a m u m c a r á t e r
e s p i r i t u a l i s t a e i n d i v i d u a l i s t a (54). S u a r e l e v â n c i a é t a n t o m a i o r q u a n t o
e s t ã o r e q u i s i t a n d o as m e l h o r e s f o r ç a s v i v a s d a n o s s a p a s t o r a l e
reflexão espiritual. A l é m d o mais, a esses m o v i m e n t o s se associam
experiências espirituais d o Espírito Santo. E n o r m e literatura de
d i f e r e n t e valor, t e m i n u n d a d o o m e r c a d o t e o l ó g i c o .
U l t i m a m e n t e t e m o c u p a d o as p r e o c u p a ç õ e s t e o l ó g i c a s d o i s
f e n ô m e n o s d e l a r g o a l c a n c e : as c o m u n i d a d e s e c l e s i a i s d e b a s e e a
religiosidade popular. Não se p o d e entender o lugar latino-americano,
p r e s c i n d i n d o d e t u d o q u e s i g n i f i c a m e s s e s d o i s f e n ô m e n o s , c o m as
e s p e r a n ç a s e ilusões, q u e e n c e r r a m .
Condicionamentos culturais
quanto à unidade
Um ponto se firma c o m o c o m u m à Teologia latino-americana:
ser u m a p r á t i c a t e ó r i c a q u e s e i n o v a n o c o n t e x t o g l o b a l d a l i b e r t a ç ã o
no interesse d o s mais pobres, s e m voz, oprimidos. De m o d o nenhum,
p o d e ser u m a Teologia q u e v e n h a justificar, legitimar u m a situação de
opressão. O seu interesse e s e u objetivo t e m de ser a libertação dos
oprimidos. U m a libertação q u e a c o n t e c e na linha d a práxis e não
s i m p l e s m e n t e l i b e r t a r a v e r d a d e d o e r r o , d o m i t o , d a falta d e
s i g n i f i c a d o . É u m a o p ç ã o p r é v i a , f e i t a d e n t r o d o h o r i z o n t e g e r a l da fé
em q u e se move o teólogo, a partir d a simples c o n s t a t a ç ã o de uma
situação d e injustiça. Há, portanto, u m a unidade no interesse e no
objetivo q u e m o v e a p r o d u ç ã o teológica. N u m a palavra, é uma
T e o l o g i a q u e n ã o q u e r p e r m i t i r q u e seja u s a d a d e m o d o r e a c i o n á r i o ,
legitimador de u m a situação de injustiça. Quer contribuir c o m sua
prática para o processo libertador d o s oprimidos.
U m s e g u n d o p o n t o vai g a n h a n d o m a i o r u n i d a d e : u m a o p ç ã o
71
m e t o d o l ó g i c a d e p a r t i r d a p r á x i s e m v i s t a d a p r á x i s . Isto i m p l i c a u m a
preferência pelas m e d i a ç õ e s sócio-analíticas na s u a e l a b o r a ç ã o
teórica. É evidente q u e n a e s c o l h a das m e d i a ç õ e s s u r g e m diferenças
devido a tomadas de posição prévias s o b r e os pressupostos das
t e o r i a s s ó c i o - a n a l í t i c a s . E m tal p o n t o , t o r n a - s e , p o r c o n s e g u i n t e ,
impossível u m a u n i d a d e d e p o n t o s d e v i s t a s .
quanto ao pluralismo
Antes de tudo, há uma e n o r m e diversidade no receptor da
T e o l o g i a , isto é, a q u e l e a q u e m e l a s e d i r i g e . A n o s s a r e a l i d a d e
oferece uma gama imensa e variada de g r u p o s culturalmente diferen-
tes. De c e r t a m a n e i r a , a T e o l o g i a d e v e c o n s e g u i r falar a t o d o s eles,
p e n s a n d o os p r o b l e m a s q u e l e v a n t a m . I s t o vai e x i g i r u m p l u r a l i s m o d e
t e m a s , d e estilo t e o l ó g i c o , d e t o n a l i d a d e . É a i n f l u ê n c i a q u e o
destinatário exerce na p r o d u ç ã o da teologia.
Há t a m b é m u m a d i f e r e n ç a e p l u r a l i d a d e q u e v e m d o l u g a r d o
próprio produtor. M e s m o a partir d o s m e s m o s interesses, objetivos e
método predominante na Teologia latino-americana, o teólogo pode
situar-se n u m lugar cultural popular o u a c a d ê m i c o . T e r e m o s então
duas teologias b e m diferentes, servindo aos m e s m o s objetivos. A
diferença mostrar-se-á sobretudo na maneira de elaborar e exprimir
os t e m a s . A s e x i g ê n c i a s d o s d o i s l u g a r e s s ã o d i f e r e n t e s . O r i g o r
científico no manuseio d o instrumental teórico não tem o m e s m o grau
d e e x i g ê n c i a , a i n d a q u e s e m a n t e n h a n u m nível d e s e r i e d a d e q u a n t o
à especificidade da prática teológica. Não se p o d e confundir teologia
c o m qualquer discurso religioso, c o m o vimos em parágrafos anterio-
res.
Há uma diferença t a m b é m n o lugar eclesial: clerical o u leigo.
Pluralismo q u e é benéfico para a Teologia. No presente, ainda
e s t a m o s , e m n o s s a s r e g i õ e s , às v o l t a s p r a t i c a m e n t e c o m T e o l o g i a s
feitas p o r p e s s o a s d o c l e r o o u o u t r o r a p e r t e n c e n t e s a ele. U m a
Teologia verdadeiramente leiga está para nascer, s o b r e t u d o em s u a
f o r m a e l a b o r a d a . P o d e m o s falar d e u m a l i t e r a t u r a q u e e s t á s u r g i n d o
nas c o m u n i d a d e s d e b a s e d e o r i g e m leiga. Falta-lhe ainda uma
estruturação teológica. Evidentemente que o termo teológico pode
ser a m p l i a d o d e tal m a n e i r a q u e c o n s i d e r e q u a l q u e r r e f l e x ã o s o b r e a
r e a l i d a d e d a c o m u n i d a d e e c l e s i a l à luz d a R e v e l a ç ã o c o m o T e o l o g i a .
Podemos entretanto restringir o termo para uma elaboração q u e siga
as r e g r a s i n t e r n a s d a p r á t i c a t e ó r i c a . N e s t e ú l t i m o s e n t i d o , o l u g a r
e c l e s i a l l e i g o a i n d a n ã o c o m e ç o u a ser p r o d u t o r d e T e o l o g i a , p o r
m u i t a s r a z õ e s e s t r u t u r a i s e c o n j u n t u r a i s , e n ã o c a b e a q u i a v a n ç a r tal
questão.
E n f i m , há u m a p l u r a l i d a d e e m r e l a ç ã o c o m a p r á x i s l i b e r t a d o -
ra. C a d a l u g a r vai i n f l u i n d o d e m o d o m a i s d e c i s i v o n a p r o d u ç ã o
72
Primeiro: c o m p r o m i s s o e p i s t ê m i c o . C o n s i s t e n u m a o p ç à o d e n -
t r o d o c a m p o t e ó r i c o , n o i n t e r i o r m e s m o d a p r á t i c a t e o l ó g i c a . Isto
significa q u e o interesse pela libertação determinará a maneira de
fazer Teologia. A própria prática t e ó r i c a ê c o n c e b i d a c o m o prática
social. Luta-se no front teórico do processo de libertação. Restringe-
se ao puro trabalho intelectual, teórico, mas orientado e m vista d a
libertação, sem q u e entretanto se assuma algum compromisso
c o n c r e t o , exceto d o s decorrentes d a o p ç ã o teórica pelos interesses
dos oprimidos. Tal conversão epistêmica traz c o n s e q ü ê n c i a s para a
e s c o l h a d o s p r o b l e m a s a tratar, d o estilo d e f a z ê - l o , d a m a n e i r a d e
conduzir todo o processo teológico.
Segundo: p r o c u r a - s e v i v e r e m s i s t e m a d e a l t e r n â n c i a e n t r e u m a
prática libertadora c o m uma prática teórica. De u m lado, participa-se
de experiências c o n c r e t a s d o p r o c e s s o d e libertação, o n d e a fé é
p e n s a d a , refletida, q u e s t i o n a d a e q u e s t i o n a n t e . D o u t r o l a d o , v i v e m - s e
períodos dedicados a uma pura prática teórica distanciados da
e x p e r i ê n c i a a n t e r i o r , p a r a n u m m o m e n t o u l t e r i o r v o l t a r a tal e x p e r i ê n -
cia.
Terceiro: p a r t e - s e d e m o d o r a d i c a l p a r a viver j u n t o a o p o v o
assumindo u m a práxis de libertação. Aí dentro, c o m t o d a a fragilidade
e p o b r e z a d e m e i o s q u e tal l u g a r i m p l i c a , p r o c u r a p r o d u z i r s u a
Teologia. Para fazer conversão necessária d o lugar d o "intelectual"
para o d o " p o v o " , d o lugar d o m e s m o para o lugar d o outro,
p r o c e s s a - s e a u m a m u d a n ç a f í s i c a , a f i m d e q u e a e p i s t ê m i c a seja
f o r t i f i c a d a , g a r a n t i d a , e n ã o r e g r i d a . I m p l i c a tal c o n v e r s ã o d e lugar,
uma outra, q u e afeta os próprios meios d e ação, de produção
teológica. C o m esta dupla conversão, busca-se superar a tremenda
" l ó g i c a " d e q u a l q u e r t i p o d e elitismo, q u e tenta r e c u p e r a r e eliminar a
alteridade, o diferente. C o m o na base da o p ç ã o está assumir o
processo de libertação, não c o m o u m a imposição de fora, mas c o m o
n a s c e n d o dialeticamente da relação povo-intelectual, no caso, teólo-
g o , a c o n v e r s ã o d e l u g a r e d e m e i o s q u e r e v i t a r as m a n e i r a s
subreptícias d e manipular o povo. Será, portanto, u m a Teologia
altamente c o m a n d a d a pelos interesses d o povo a ser libertado, c o m
73
CONCLUSÃO
O l u g a r d e e n s i n o d e v e r á ser c o n t i n u a m e n t e e n r i q u e c i d o p e l a
74
NOTAS
(1) J . H o r t a l , C a t o l i c i s m o b r a s i l e i r o h o d i e r n o : p o s i ç õ e s e t e n d ê n c i a s
e m : D i v e r s o s , D e s a f i o à s Igrejas, D i á l o g o e c u m ê n i c o e m
tempos de m u d a n ç a , Ed. Loyola - Ed. Sinodal, São Paulo -
São L e o p o l d o 1976, pp. 29-48. J. C o m b l i n , História da
T e o l o g i a C a t ó l i c a , H e r d e r - S. P a u l o , 1 9 6 9 , 1 2 5 - 1 3 6 .
(2) G. B a c h e l a r d , L a f o r m a t i o n d e T e s p r i t s c i e n t i f i q u e , J . V r i n , P a r i s ,
1972, 89 e d . 13-22.
(3) F. V a n d e r h o f f , L a E p i s t e m o l o g í a m o d e r n a y Ia P r o b l e m á t i c a
Teológica actual, em: Encuentro Latinoamericano de Teo-
logia, L i b e r a c i ó n y Cautiverio, México, 1976, pp. 2 8 1 - 2 9 1 .
(5) M. d e C e r t e a u , F a i r e d e l ' H i s t o i r e , e m : O u v . , c o l l . , J . le G o f f - P.
N o r a , e d . . Paris, G a i l i m a r d , 1 9 7 4 , p p . 4, 12, 1 5 - 1 6 .
(7) L. A l t h u s s e r , o . c . p . 2 4 .
(8) M. d e F o u c a u l t , A V e r d a d e e as F o r m a s J u r í d i c a s , C a d e r n o s d a
PUC, S é r i e L e t r a s e A r t e s 0 6 / 7 4 , P U C , Rio d e J a n e i r o 1 9 7 4 ,
pp. 5 - 2 1 .
(9) A. S c h a f f , I n t r o d u ç ã o à S e m â n t i c a , t r a d . b r a s . , E d . Civ. B r a s . , R i o
de Janeiro 1968.
(11) P. V a l a d i e r , o. c. p. 12.
(12) L. A l t h u s s e r , o. c. p. 25.
(13) J . L a d r i è r e , La T h é o l o g i e et le l a n g a g e d e r i n t e r p r é t a t i o n , e m :
R e v . T h é o l . Louv. 1(1970, 1 ) p . 248.
76
( 1 4 ) C l . Boff, T h é o l o g i e et L i b e r a t i o n . Q u e s t i o n s d ' é p i s t é m o l o g i e ,
Dissertation présentée pour robtation du grade de Docteur
en T h é o l o g i e , Univ. C a t h o l . L o u v . , F a c u l t e d e T h é o l o g i e , a d
instar m a n u s c r i p t i , L o u v a i n 1 9 7 6 , pp. 3 2 , 167, 170, 2 0 9 ,
267-269.
(17) F. T a b o r d a , T e o l o g i a e C i ê n c i a s n o D i á l o g o I n t e r d i s c i p l i n a r , e m :
R E B 3 4 ( 1 9 7 4 ) p. 8 3 0 .
(18) M. d e C e r t e a u , F a i r e TMistolre, o. c. p. 4.
( 1 9 ) E. V e r ó n , I d e o l o g i a , E s t r u t u r a e C o m u n i c a ç ã o , t r a d . bras., C u l t r i x ,
S ã o P a u l o 1970, p p . 1 4 1 - 1 9 2 .
( 2 0 ) J . B. L i b â n i o , C r i t é r i o s d e A u t e n t i c i d a d e d o C a t o l i c i s m o , e m : REB
36 (1976) pp. 61-63.
(22) L. Boff, Q u e é f a z e r t e o l o g i a p a r t i n d o d e u m a A m é r i c a L a t i n a em
Cativeiro? e m : REB 35(1975) 853-879.
( 2 3 ) D. A n t i s e r i , Dal n e o p o s i t i v i s m o alia f i l o s o f i a a n a l í t i c a , E d . A b e t e ,
R o m a 1966.
(24) J . B. L i b a n i o , E s t u d o s T e o l ó g i c o s , E d . L o y o l a , S. P a u l o 1969, p p .
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( 2 5 ) F. K ò n i g , T h e o l o g i s c h e F a k u l t ã t , e m : W u W 2 0 ( 1 9 6 5 ) p p . 3 3 3 - 3 3 6 .
(26) J . C o m b l i n , dir.. C u r s o d e T e o l o g i a . E x p e r i ê n c i a d o S e m i n á r i o
R e g i o n a l d o N o r d e s t e . 1^ e 2^ p a r t e , R e c i f e 1 9 6 9 - 1 9 7 0 .
(27) J . V a n N i e u w e n h o v e , Les " T h é o l o g i e s d e Ia L i b e r a t i o n " latino-
a m e r i c a i n e s , e m : L e P o i n t T h é o l o g i q u e , n^ 10, Paris 1974,
pp. 67-104.
( 2 8 ) F. T a b o r d a , art. cit., p p . 8 3 4 / 5 .
77
(30) C a t o l i c i s m o P o p u l a r , e m ; R E B 3 6 ( 1 9 7 6 ) p p . 5 - 2 8 0 .
(31) A. A n t o n i a z z i , T e n d ê n c i a s a t u a i s d a s u n i v e r s i d a d e s c a t ó l i c a s n o
Brasil, e m ; C a d e r n o s A B E S C 1 ( 1 9 7 5 ) n» 1 p p . 2 5 - 3 7 .
(32) K. R a h n e r , I n t e l l e k t u e l l e R e d i i c h k e i t u n d c h r i s t i i c h e r G l a u b e , e m ;
Schriften zur Théologie, Benziger Verlag, Einsiedein 1966,
VII 5 4 - 7 6 .
(34) DS 3 5 4 9 .
(35) H. G. G a d a m e r , L e p r o b l ê m e d e Ia C o n s c i e n c e h i s t o r i q u e ,
P U L - E d . B é a t r i c e - N a u w e l a e r t s , L o u v a i n - P a r i s 1963, p. 7; H.
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(36) W. S c h u l z , P h i l o s o p h i e in d e r v e r à n d e r t e n Welt, N e s k e , P f u i l i n g e
1974, pp. l i s s .
(37) E. H. S c h i l l e b e e c k x , I n t e r p r e t a c i ó n d e Ia fê, a p o r t a c i o n e s a u n a
teologia h e r m e n ê u t i c a y crítica, trad. esp. S i g u e m e Ed.
S a l a m a n c a 1973.
( 3 8 ) E. H. S c h i l l e b e e c k x , L a p r e s e n c i a d e C r i s t o e n Ia E u c a r i s t i a , t r a d .
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transsignification, DOC - Roma s / d .
(39) G. V a h a n i a n , T h e D e a t h of G o d , T h e C u l t u r e o f o u r P o s t - C h r i s t i a n
Era, G. Braziller, N e w Y o r k 1 9 5 7 ; C. B e n t , O m o v i m e n t o d a
Morte de Deus, Moraes Ed. Lisboa 1968; J. Lee Ice - J. J.
Carey, e d . , T h e D e a t h of G o d D e b a t e , T h e W e s t m i n s t e r
Press, P h i l a d e l p h i a 1967.
( 4 0 ) J . S o b r i n o , El c o n o c i m i e n t o t e o l ó g i c o e n Ia T e o l o g i a E u r o p e a y
latinoamericana, em; Encuentro Latinoamericano, Libera-
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(42) R. L a t o u r e l l e , T e o l o g i a , C i ê n c i a d a S a l v a ç ã o , t r a d . b r a s . P a u l i n a s
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t h é o l o g i e c a t h o l i q u e , e m ; B i l a n d e Ia T h é o l o g i e d u X X e .
78
s i è c l e , I, C a s t e r m a n , P a r i s 1 9 7 0 , p p . 4 3 8 s s ; J . C o m b l i n , V e r s
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(43) M. L e n z , O D e s e n v o l v i m e n t o B r a s i l e i r o : C a r a c t e r í s t i c a s e I m p l i c a -
ç õ e s d e u m M o d e l o , e m : E v a n g e l i z a ç ã o n o Brasil h o j e -
C o n t e ú d o e L i n g u a g e m , E d . L o y o l a , S ã o P a u l o 1 9 7 6 ; F.
Ávila, A missão social d a Igreja hoje, e m : Missão da Igreja
n o B r a s i l , E d . L o y o l a S. P a u l o 1973, 1 5 1 - 1 6 8 .
( 4 4 ) C R B - XI A s s e m b l é i a G e r a l O r d i n á r i a E l e t i v a , j u l h o 1977, e m :
C o n v e r g ê n c i a 9(1976) pp. 264-267; 323-335; 451-458; 515-
525.
( 4 5 ) C o m i s s ã o R e p r e s e n t a t i v a d a C N B B , C o m u n i c a ç ã o P a s t o r a l ao
P o v o d e D e u s , e m : C o m u n i c a d o M e n s a l d a C N B B , Rio
o u t u b r o 1976.
(46) J . C o m b l i n , L a n u e v a p r a c t i c a d e Ia I g l e s i a e n el S i s t e m a d e Ia
Seguridad Nacional. Exposición de sus princípios teóricos,
em: Encuentro latino-americano de Teologia, Liberación y
cautiverio, M é x i c o 1976, pp. 155-177.
(47) J . L. S e g u n d o , C o n d i c i o n a m i e n t o s a c t u a l e s d e Ia r e f l e x i ó n
teológica em latinoamérica, em: Encuentro latinoamericano
d e T e o l o g i a , o.c. p p . 9 1 - 1 0 1 .
(48) S E D O C 1 ( 1 9 6 8 ) c o l . 7 3 7 .
(50) S E D O C 6 ( 1 9 7 3 / 4 ) c o l . 6 2 6 .
(51) O E s t a d o d e S ã o P a u l o , s á b a d o , 2 0 . X I . 1 9 7 6 , p. 22.
(52) C h . A n t o i n e , L ' E g l i s e et le p o u v o i r a u B r é s i l , N a i s s a n c e d u
m i l i t a r i s m e , D D B , P a r i s 1 9 7 1 ; M. M o r e i r a A l v e s , L ' E g l i s e et Ia
p o l i t i q u e a u B r é s i l , D u Cerf, P a r i s 1 9 7 4 .
( 5 3 ) J . C. S c a n n o n e , O d e s a f i o a t u a l à l i n g u a g e m t e o l ó g i c a latino-
a m e r i c a n a s o b r e l i b e r t a ç ã o , e m : S í n t e s e 1 ( 1 9 7 4 ) , n o v a fase,
n» 2 pp. 3-20.
( 5 5 ) R. A z z i , E l e m e n t o s p a r a H i s t ó r i a d o C a t o l i c i s m o P o p u l a r , e m : REB
36(1976)95-130.
79
(56) L. Boff, Q u e é f a z e r t e o l o g i a p a r t i n d o d e u m a A m é r i c a L a t i n a e m
(58) J . C. S c a n n o n e , H a c i a u n a P a s t o r a l d e Ia C u l t u r a , e m M I E C - J E C I ,
D o e . n^ 16, f e b . 1 9 7 6 .
(59) E. H o o r n a e r t , O s p e r i g o s q u e a m e a ç a m as C E B s , e m : S E D O C
(62) A. G r a m s c i , L o s i n t e l e c t u a l e s y Ia o r g a n i z a c i ó n d e Ia c u l t u r a , B.
Aires, N u e v a Vision 1972.
(63) B a s t a ver: E n c u e n t r o L a t i n o a m e r i c a n o d e T e o l o g i a , L i b e r a c i ó n y
C a u t i v e r i o , D e b a t e s e n t o r n o al m é t o d o d e Ia T e o l o g i a e n A .
Latina, M é x i c o 1976.