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INSTITUCIONAL
'A violência individual expressa a violência social', diz autor de livro sobre bullying | Rede
IPUSP
Brasil Atual, 29/10/2017
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Comunicados da Diretoria
Tragédia em Goiânia reacendeu debate sobre bullying nas escolas. Para o professor de psicologia da USP
Assistências José Leon Crochik, formação de nossa própria sociedade explica o tema
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Departamentos Por Luciano Velleda, da RBA publicado 29/10/2017 16h12
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'Quanto menos desenvolvemos a capacidade de pensar, somos mais grosseiros e não
percebemos o outro'
PUBLICAÇÕES
Produção científica
São Paulo – Na tarde do dia 20 de outubro, uma sexta-feira, professores e
Revistas
Boletim Imprensa pesquisadores de diversas universidades brasileiras e estrangeiras estavam
reunidos no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), naquele
COMUNIDADE IPUSP
que era o último dia de um seminário intitulado “Teoria Crítica: violência e exclusão
Docentes
Funcionários
social”. Ao longo da semana, uma extensa programação havia debatido temas
Alunos como tipos de violência, violência escolar, bullying no ensino fundamental, bullying
Colaboraram conosco
Premiações
no ensino médio, entre outros.
Ex-alunos
Eventos e Publicações “O seminário começou discutindo a questão da inclusão escolar e profissional, o
bullying no ensino fundamental e superior e terminou com a teoria crítica e
SERVIÇOS À COMUNIDADE
violência. As discussões foram muito boas, aprofundadas, com colegas de
Atendimento
diversos estados do país e do exterior”, recorda José Leon Crochik, professor do
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Instituto de Psicologia da USP e coordenador do Laboratório de Estudos sobre o
Preconceito, departamento organizador do seminário e cujos estudos são focados
na violência escolar, teoria crítica e violência.
http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6209%3A2017-10-30-18-29-33&catid=46%3Ana-midia&Itemid=97&la… 1/7
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Curtir Compartilhar 26 mil O nível dos debates e a qualificada presença de estudiosos encerrava com
pessoas
curtiram
isso. Seja
sucesso a semana de seminário quando chegou a notícia de que um garoto de 14
o primeiro
de seus
anos, em Goiânia, havia acabado de abrir fogo contra seus colegas de sala de
aula.
“A gente estava na sexta-feira à tarde quando veio uma colega e relatou pra nós o
que havia acontecido em Goiânia. E assim terminamos o seminário”, diz José
Leon, com um certo tom de lamento pelo clima com que o evento se encerrou.
CARLA CAMILA
Nesta entrevista para a RBA,
José Leon Crochik aborda alguns
aspectos revelados nos estudos
sobre bullying no ensino
fundamental e superior, como a
ideia de hierarquia oficial e não
oficial, as características da
personalidade dos agressores, o
papel da família e da escola e a
influência da sociedade sobre a
'Como a violência acontece na escola, ela
violência individual.
deve ter formas de dar algum
encaminhamento para isso', afirma José
Leon “A estrutura da escola reflete a
estrutura da sociedade, então,
para entender a violência na
escola tem que entender a violência social”, afirma José Leon.
Essa notícia que tivemos, como foi a de Realengo (Rio de Janeiro) há alguns
anos, chocam a gente. Não dá pra ficar indiferente, mas nos dá a relevância do
que temos pesquisado. As pesquisas são indiretas, fazemos entrevistas, temos
questionários e escalas que são aplicadas a alunos, professores e gestores da
educação. Quando a gente conversa com gestores e educadores, eles nos
respondem e já pensam no dia a dia, sobre educação inclusiva, preconceito e
bullying, porque eles vivem isso e a pesquisa é uma oportunidade deles refletirem
mais sobre o tema. Pra nós, felizmente em alguns momentos, tem tido um papel
importante. Nossa intenção é pesquisar e tornar público os resultados, para que
http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6209%3A2017-10-30-18-29-33&catid=46%3Ana-midia&Itemid=97&la… 2/7
02/01/2018 'A violência individual expressa a violência social', diz autor de livro sobre bullying | Rede Brasil Atual, 29/10/2017
Por que esses casos de violência extrema são mais praticados por
meninos?
Em geral, são mais meninos que praticam o bullying. O tipo de prática de bullying
das meninas é diferente dos meninos, para elas é mais comum boato e exclusão.
Para os meninos é mais xingamento e agressão, é mais físico. O bullying tende a
ficar mais sutil ao longo do tempo. Na quinta ou sexta série, entre os meninos, é
mais agressivo, mais físico. Da sexta até o ensino médio ele tende a se tornar
mais verbal, mais simbólico. Depois na vida adulta, o assédio é o bullying, é mais
sutil, mas não deixa de existir.
Os pais desse menino são policiais e ele usou uma arma que estava em
casa. Qual a influência da estrutura familiar para que algo assim aconteça?
Nossa hipótese, que tem sido confirmada como tendência, apresenta quatro tipos:
os melhores e os piores em sala de aula, como mais populares e impopulares na
hierarquia oficial, e os melhores e piores em educação física, populares e
impopulares na hierarquia não oficial. Aquele que é melhor na hierarquia não
oficial, ou seja, que se dá bem em esportes coletivos, em brigas e namoros, ele
tende a ser autor do bullying. Aquele que é pior na hierarquia não oficial, tende a
ser vítima do bullying. O melhor na hierarquia oficial, não é nem autor e nem
vítima, e os piores na hierarquia oficial, são tanto autores quanto vítimas.
http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6209%3A2017-10-30-18-29-33&catid=46%3Ana-midia&Itemid=97&la… 3/7
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A ideia da intimidação, de dar medo, já era clara, visível (em outras épocas). Muito
daquilo que hoje chamamos de bullying diz respeito ao sujeito pouco
desenvolvido, que precisa descarregar a fúria das suas frustrações em quem
puder. O autor do bullying reage a uma situação dele de impotência também. Há
semelhanças nessa forma de violência destrutiva, sem objeto fixo. Mas há
distinções dos mecanismos pelos quais a violência pode ser exercida. O
cyberbullying hoje é devastador. Ele pode acontecer uma única vez, mas dura pra
sempre. Uma vez que caiu na rede, não tem como apagar, e a vítima sempre vai
se sentir perseguida porque sabe que pode aparecer de novo, seja um vídeo, uma
foto. Antigamente quando se sofria uma violência na escola, havia a ilusão de que
era só mudar de escola e estava resolvido o problema. O que era uma ilusão
mesmo, porque a violência nos acompanha aonde quer que a gente vá. Outro
elemento que notamos nas nossas pesquisas, é que os alunos que se saem
melhor em sala de aula tendem a não ser nem autores e nem vítimas de bullying.
Talvez pelo fato de que aqueles que se saem bem na educação formal são mais
respeitados. Enquanto antigamente eram chamados de “nerds” ou “c.d.f”, e eram
de alguma forma ridicularizados, hoje já existe um certo respeito, ou porque a
escola valoriza eles ou porque ser um bom aluno significa se dar bem na vida, ou
ainda porque esses que são os melhores em sala de aula são bem adaptados.
Eles não são necessariamente críticos, mas seguem bem as regras e acabam se
dando bem na escola. Agora, esse efeito destrutivo, que começa com a ideia de
ser uma brincadeira, já tem a intenção de destruição, de saber que ele machucou
o outro, não é necessariamente o interesse no sofrimento do outro, mas por ele ter
causado o sofrimento do outro.
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02/01/2018 'A violência individual expressa a violência social', diz autor de livro sobre bullying | Rede Brasil Atual, 29/10/2017
Um dos dados que temos é sobre os papéis que as pessoas têm no bullying ao
longo do tempo. Pensamos em quatro papeis: o autor do bullying; aquele que dá
apoio à agressão; aquele que observa; e aquele que sofre. Verificamos isso no
ensino fundamental II, médio e no ensino superior. Um dos resultados que temos
é que as pessoas tendem a manter o papel do bullying do ensino fundamental
para o médio. Já no superior muda. Quem tende a ser agressor no ensino
fundamental, continua sendo agressor no médio; e quem tende a ser vítima no
fundamental também continua no ensino médio. Mas no ensino superior se altera
e temos pensado que, se faz sentido a hipótese das hierarquias, e como o ensino
superior é seletivo, é uma minoria que consegue entrar, já que a maioria dos
estudantes está fora do ensino superior, se parte dos que estão fora poderiam
estar mais na hierarquia não oficial do que na oficial, então é claro que no ensino
superior, mais dos alunos da hierarquia oficial estarão presentes e menos aqueles
que eram os populares por meio de esportes, brigas e namoros. Esse é um dos
elementos, aqueles que estão no ensino superior tendem a pertencer a hierarquia
oficial.
http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6209%3A2017-10-30-18-29-33&catid=46%3Ana-midia&Itemid=97&la… 6/7
02/01/2018 'A violência individual expressa a violência social', diz autor de livro sobre bullying | Rede Brasil Atual, 29/10/2017
de coisa, é pensar o quê a sociedade tem gerado pra suscitar esse tipo de
violência, que tipo de formação nós temos, uma formação que não é para a
sensibilidade, não é uma formação pra também considerar os interesses dos
outros, um outro igual a nós. O que tem acontecido na sociedade e na escola para
esse tipo de ato? Porque ele não reflete apenas a violência individual, essa
violência individual expressa a violência social. Se formos entender só do ponto de
vista individual, nosso alcance é pequeno. É fundamental associar essa violência
individual a uma violência mais geral.
http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6209%3A2017-10-30-18-29-33&catid=46%3Ana-midia&Itemid=97&la… 7/7