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Íntegra do Discurso proferido na Associação Brasileira de Imprensa no dia 12 de junho de

2018, por ocasião do lançamento de sua pré-candidatura à Assembleia Legislativa do


Estado do Rio de Janeiro

Boa noite a todos e todas, boa noite à família da Marielle que aqui está nessa noite
materializando não só aquela que era a nossa líder política, que era nossa chefe imediata,
mas era uma amiga, uma força da natureza, um exemplo de resiliência, um exemplo de
cumplicidade e empatia.

Chego ao mandato de Marielle depois de quase trinta anos militando nos diversos
movimentos que estão aqui representados nessa noite. Chego com muito medo e
insegurança de colocar a minha vida, a minha figura e minha militância atrelada a um
mandato político, ligado a um partido. Partido com o qual me alinhava há muito tempo.

Essa experiência de quase trinta anos na caminhada, de ouvir as pessoas, de estar


ao lado das pessoas me levou até aquele mandato interseccional, feminino, feminista, preto,
com mulheres trans, lésbicas. A gente também tinha nossa cota de homens. Acreditávamos
e acreditamos que é possível um outro modo de vida e que o socialismo não é uma utopia
(qualquer), mas uma utopia possível.

Não dá mais pra construir um projeto que seja vitorioso sem que tenha a nossa cor,
sem que tenha os nossos corpos, sem que tenha a nossa história as nossas famílias, sejam
elas quais forem. Todas as famílias! Não dá mais, não há mais lugar para fazer e construir
sem nós! Rompemos a máscara! Como diz Conceição Evaristo, “nós rompemos a máscara
de ferro que nos impuseram” e nós vamos continuar rompendo, nós vamos romper os
grilhões que ainda tentam nos impor. Não dá mais, nós somos doutoras, doutores, somos
mulheres.

Não dá mais pra ter a Universidade sem nós. Não dá mais pra construir a política
sem que tenha nossa cor, sem que tenha o nosso jeito de falar, sem que tenha o nosso
jeito. Ou fazem conosco ou não vão fazer. Por que nós não vamos sair das ruas, nós vamos
fazer barulho. Eles vão ter que nos ouvir, não dá mais pra fazer sem nós que somos
evangélicas, mulheres, que estamos resistindo e enfrentando os fundamentalistas da fé.

Não dá mais pra fazer sem as mulheres trans, sem as lésbicas, pelo direito à vida. E
só haverá vida, se houver para todas e todos. O projeto socialista de sociedade que nós
acreditamos tem lugar para as utopias possíveis. Nós acreditamos na Economia Solidária,
não por que é um sonho, uma quimera, mas por que é real, é construída por pessoas de
verdade. Nós temos alternativa, nós temos resposta. Como Milton Santos disse, nós “os
pobres temos a solução para os nossos problemas” não dá mais pra construir projeto de
sociedade sem os pobres, sem as pobres, sem os jovens, as jovens, sem todas as
juventudes. Nas nossas utopias possíveis tem de caber as crianças, elas existem.

Nós temos uma grande responsabilidade até a eleição. Não é nossa, minha
pessoalmente ou das pré-candidatas, dos pré-candidatos que estão aqui. Toda a sociedade
brasileira é chamada nesse momento a ocupar as ruas, a levantar a voz contra a injustiça, a
desigualdade, o racismo, o sexismo, a misoginia, a LGBTfobia. é hora de levantarmos as
vozes em todas as nossas trincheiras.
Nós subiremos os morros, nós entraremos nas vielas, nós iremos para a Zona
Oeste, para a Baixada. Nós não estamos disputando um projeto de poder e sabe por quê?
Se a gente não ganhar voto, se a gente não conseguir se eleger, se a gente não entrar
naquela casa legislativa eu vou estar no mesmo lugar. Sabe onde eu vou estar? Na feirinha
da Economia Solidária, eu estarei em Santa Maria na Conferência, eu estarei no Borel,
estarei com o meu neto, com a minha família.

Se eu não tiver nada, eu estarei com as minhas panelas. Pois de onde a gente vem
a gente sabe viver com muito pouco. Quando a gente tem muito a gente também gosta. Eu
dizia pros meus filhos: Tem dia que é de Rico´s, aquele lanche “podrão”, e tem dia que é de
Bob´s. A gente dá um jeito. Então a gente não tem projeto de poder, eu não tenho um
projeto pra ganhar mais, eu não tenho projeto de cabide de empregos, eu tenho um projeto
de sociedade e de reprodução de vida.

Este é o projeto socialista que eu acredito e já construo há trinta anos. Eu construo


com faveladas e favelados. É engraçado, mas outro dia eu estava em um jantar na Casa do
Cônsul dos Estados Unidos e uma figura da sociedade do Rio de Janeiro me perguntou
como eu tinha chegado ali. Respondi: -Não sei. Ela ficou muito surpresa. Como eu cheguei
até aqui? Não existem coincidências, a trajetória me trouxe até aqui.

Não pra disputar com essas mulheres que estão aqui, elas não têm nada, são iguais
a mim. São mulheres, pobres, utópicas, esperançosas e que acreditam numa outra
sociedade possível. Eu quero poder sair e caminhar no meio de todos os movimentos nos
quais eu me constituí de cabeça erguida, sem dever nada pra ninguém. E é com esse
projeto de sociedade que eu chego até aqui, enfrentando os poderosos da fé, como diz o
Pr. Henrique, companheiro maravilhoso, enfrentando os barões da política, como diz Talíria,
enfrentando um projeto de Segurança Pública, histórico desse Estado brasileiro que com
sua Necropolítica nos varre como lixo, nos neutraliza e nos elimina e não só com a bala que
matou o Thiago e os outros três no Borel e que vem matando, como matou o filho da Ana
Paula em Manguinhos, como matou os dois adolescentes, filhos da minha vizinha que eu
tive que pular sob os corpos saindo do meu portão.

Nós sempre perdemos, mas está na hora de nós ganharmos. Chegou a hora de
ganharmos esse jogo e vamos ganhar bonito, sem disputar com quem é igual a nós. Vamos
disputar com quem fez da política latifúndio, herança. Essa é a nova política. Nós temos que
dizer isso para os partidos e para a sociedade. Nós estamos aqui para construir um Partido
Socialismo e Liberdade diferente.

O dia 14 de março foi um divisor de águas também na política partidária brasileira.


Não dá mais para sermos “cota” ou “laranjas”, vão ter que nos engolir. Vão ter que falar
com a gente falando olho no olho. Vão ter que sentar para discutir projeto programático e
político com a gente. A gente tem uma ancestralidade atrás de nós nos cobrando esse
momento.
A ancestralidade nos trouxe até aqui, não dá mais pra retroceder e não daremos um
passo atrás. Não nos calarão! Estaremos nas ruas nessa pré-campanha, estaremos nas
ruas depois desta pré-campanha. Estaremos nas ruas enfrentando o que sempre
enfrentamos.

Uma semana antes da execução da Marielle eu falei para a Dalva: - Não adianta, a
gente pode estar na Suíça, na Alemanha, eles sabem quem somos nós e onde nós
estamos. A gente tem um alvo em nós. A nossa existência é uma existência em tragédia, a
gente nasce, existe na tragédia. Mas a gente ressignifica a tragédia. A gente ressignifica a
nossa lágrima e grita. A gente ressignifica a nossa história trágica desde sempre.

Nós não podemos nos furtar do compromisso que essa janela histórica que se abre
para nós nos chama neste momento. Uma janela que se abre para que as mulheres negras,
a juventude negra, para que todas as mulheres, para que todos os periféricos assumam o
lugar que sempre foi nosso. Nós vamos ocupar tudo, quer queiram, quer não. Se não
oficialmente, oficiosamente. Vão ter que nos engolir, estamos juntos!

Mônica Francisco, pré-candidata a deputada estadual pelo Psol RJ.

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