Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
E CONCEITO DE SISTEl\1A
A
NA CIENCIA DO DIREITO
Introdução e tradução de
A. MENEZES CORDEIRO
A questão do significado da ideia de sistema para
a Ciência do Direito é dos temas mais discutidos da
metodologia jurídica. Em poucas controvérsias estão,
ainda hoje, as opiniões tão divididas. Enquanto, por
exemplo, SAUERexclama com ênfase: «Apenas o sis-
tema garante conhecimento, garante cultura. Apenas
no sistema é possível verdadeiro conhecimento, ver-
dadeiro saber» (1) e H. J. ,WOLFF diz: «A Ciência do
Direito ou é sistemática ou não existe» (2), EMGE
opina, com discrição céptica: «Um sistema é sempre
um empreendimento da razão com um conteúdo exa-
gerado» (3) ~ uma afirmação que está apenas a curta
distância da célebre frase de NIETZSCHEque caracte-
rizou a aspiração ao sistema como uma «falta na
consecução do Direito» e uma «doença no carác-
ter» (4). No que respeita, em particular, ao direito
privado, a discussão metodológica mais importante
«evite compromissos» (p. 23), que apoie a legitimação das contra as teses de VIEHWEGque «no mundo concreto das '
suas premissas apenas na «aceitação do interlocutof» (p. 24), realidades» aparece «a sua disciplina, ao jurista, como um
etc. etc., não poderia aspirar seriamente à natureza científica. todo significativo e não como uma mistura de questões des-
No entanto, VIEHWEG parece reconhecer, junto das ciências conexas». Esta afirmação - que, aliás, não é inatacável, na
que trabalham de modo lógico-dedutivo, um segundo tipo de sua generalidade - não assume também, naturalmente, força
Ciência (com que ele concordaria) e no qual quer situar a demonstrativa obrigatória; pois a «experiência de unidade»
Ciência do Direito, também através da afirmação da sua estru- dos juristas, como facto meramente psicológico, não afirma
tura tópica fundamental (cf., p. ex., p. 1 s., p. 53 s., p. 63 s.) I nada de definitivo sobre a estrutura da ordem jurídica, nem,
(o que seria difícil de conciliar, pelo menos com o concei~ ao contrário da metodologia, nada sobre a forma de pensa-
tradicional de Ciência). mento jurídico correcto.
exigências da metbdologia ou ainda apenas aparente- tido do conceito de sistema, e por isso a regra da ade-
mente o faria, - ora nada disto pode ser afirmado q uação valorativa, retirada do princípio da igualdade,
da Ciência do Direito actual. Não obstante, este «indí- constitui a primeira indicação decisiva para a aplica-
cio» permanece bastante inseguro, não podendo (;ão do pensamento sistemático na Ciência do
falar-se de uma verificação obrigatória da hipótese.
A ideia da ordem interior e da unidade carece, por
isso, de uma confirmação que se deve fundamentar
Direito, - o que, por exemplo, FL UME ("5), seguindo
S.AVIGN~ ("6), certeiramente exprime quando caracte-
nza o sIstema como «a consequência do Direito, inte-
J
na própria estrutura do seu objecto, portanto na essên- riormente pressuposta» ("7). _
cia do Direito. De modo semelhante, também a característica da
unidade tem a sua correspondência no Direito, embora
a ideia da «unidade da ordem jurídica» pertença ao
2. Adequação e unidade como emanações e pos- domínio seguro das considerações filosóficas ("8).
tulados da ideia de Direito
(25) Allg. Teil des Bürgerl. Rechts, 2.° vaL, 1965, p. 295
De facto, a demonstração não é difícil. A ordem e 296.
interior e a unidade do Direito são bem mais do que (26) Ob. cit., p. 292. A referência a SAVIGNY não se
pressupostos da natureza cienUfica da jurisprudência reporta contudo, como se poderia retirar das considerações
e do que postulados da metodologia; elas pertencem, de FLUME, imediatamente ao sistema, mas sim à analogia; para
antes, às mais fundamentais exigências ético-jurídicas o conceito de sistema de SAVIGNYcf. a citação supra na nota 6.
(27) Em parte semelhantes também as obras citadas
e radicam, por fim, na própria ideia de Direito. Assim, íntra, na nota 35.
a exigência de «ordem» resulta directamente do reGQ- (28) É fundamental o escrito de ENGISCH de 1935, que tem
nhecido postulado da justiça, de tratar o igual de o mesmo nome: Die Einheit der Rechtsordnung. Sobre este
modo igual e o diferente de forma diferente, de acordo infeliz e relativamente pouco discutido problema cf., do mesmo
com a medida da sua diferença: tanto o legislador autor, Einführung in das juristische Denken, 3." ed., 1964,
p. 156 ss.; EHRLICH, Die juristische Logi.k, p. 121 ss., com uma
como o juiz estão adstritos a retomar «consequente-
panorâmica histórica desenvolvida; STAMMLER, Theorie der
mente» os valores encontrados, «pensando-os, até ao Rechtswissenschaft, p. 209 ss., 211 ss.; WENGLER, Betrachtungen
fim», em todas as consequências singulares e afas- über den Zusammenhang der Rechtsnormen in der Rechtsord-
tando-os apenas justificadamente, isto é, por razões nung und die Verschiedenheit der Rechtsordnungen, em: Fest-
materiais, - ou, por outras palavras: estão adstritos schrift für Rudolf Laun, 1953, p. 719 ss.; LARENZ, Metho-
denlehre cit., p. 135, 353 5.; HANACK, Der Ausgleich
a proceder com adequação. Mas a adequação racional
divergierender Entscheidungen in der oberen Gerichtsbarkeit,
é, como foi dito, a característica da «ordem» no sen- 1962, p. 104 ss.
Também esta não é, de modo algum, apenas um te-se que a «ordem» do Direito não se dispersa numa
«postulado lógico-jurídico» (29), antes se recondu- multiplicidade de valores singulares desconexos, antes
zindo, da mesma forma, ao princípio da igualdade. se deixando reconduzir a critérios gerais relativa-
Por um lado ela constitui - nos seus, por assim dizer, mente pouco numerosos (34); e com isso fica também
componentes negativos - apenas de novo uma ema- demonstrada a efectividade da segunda característica
nação do princípio da igualdade, enquanto procura do conceito de sistema, da unidade (35).
garantir a ausência de contradições da ordem jurídica
(o que já está abrangido pela ideia de adequação (30), quência dele; o puramente individual é, na sua unicidade essen-
cial, sempre «incomparável»; ora a aplicação do princípio da
e por outro - no seu componente positivo (31) - ela igualdade pressupõe, pelo contrário, sempre uma certa abstrac-
não representa mais do que a realização da «tendência ção e generalização que tornam possível uma «comparação»;
generalizadora» da justiça (32), que exige a superação assim a tendência generalizadora da justiça tem, de facto, a
dos numerosos aspectos possivelmente relevantes no sua origem no princípio da igualdade.
caso concreto, a favor de uns poucos princípios, (34) Opõe-se-Ihe, naturalmente, a «tendência individuali-
zadora»; esta não torna impossível a formação do sistema,
abstractos e gerais (33). Através deste último, garan-
apenas lhe apondo limites; cf., quanto a isso, infra § 6 III
(29) Demasiado restrito, quanto a isso, HANACK, ob. cit., e § 7 II 2 b.
p. 107 (cf. também p. 104); trata-se, na verdade, em primeira (35) A conexão entre a ideia da adequação e sobretudo
linha, de um postulado axiológico. a da unidade do Direito e o sistema é muitas vezes salientada,
(30) Assim torna-se de novo clara a conexão estreita ainda que, com frequência, de modo incidental; para além das
existente entre a qualidade de ordem e a da unidade. citações feitas supra, notas 6 a 11, cfr. por exemplo,
(31) A qual tem sido injustamente de5curada, até hoje, na KRETSCHMAR,über die Methode der Privatrechtswissenschaft,
literatura, perante o outro elemento, o da ausência de con- 1914, p. 40 e 42 e JherJb. 67, 264 s., BAUMGARTEN,Die
Wissenschaft vom Recht und ihre Methode, 1920, Bd. I, p. 298
tradições.
(32) Quanto a esta (e quanto à sua inversa, a tendência e p. 344; SAUER, Methodenlehre, ob. cito p. 172; NAWJASKY,
individualizadora) cf., por todos, HENKEL, Recht und Indivi- Al!gemeine Rechtslehre aIs System der rechtlichen Grundbe-
dualiWt, 1958, p. 16 s., 44 S. e passim e Einführung in die griffe, 2." ed., 1948, p. 16 e 264; COING, Rechtsphilosophie,
Rechtsphilosophie, 1964, p. 345 s.; cf. também, por exemplo, ob. cit., p. 276 ss. e JZ 1951, p. 485; ESSER, Gundsatz und
SALOMON, Gundlegung zur Rechtsphilosophie, 2." ed., 1925, Norm, ob. cit., p. 227 e passim; LARENZ, Festschrift für Nikisch,
p. 147 5S.; RADBRUCH,Rechtsphilosophie, 5." ed., 1956, p. 170; 1958, p. 299 s. e Methodenlehre, ob. cit., p. 133 s.; P. SCHNEIDER,
CorNG, Grundzüge der Rechtsphilosophie, 1950, p. 114 s.; VVdDStRL 20, p. 38; RAISER, NJW 64, p. 1204; WIEACKER,
ENGISCH, Die Idee der Konkretisierung in Recht und Rechts- Privatrechtsgeschichte der Neuzeit, 2.a ed., 1967, p. 532; BETTI,
wissenschaft unserer Zeit, 1953, p. 199 ss., com outras indica- Al!. Auslegungslehre, ob. cit., p. 223 s.; ZIPPELIUS, NJW 1967,
ções; EMGE, Einführung in die Rechtsphilosophie, 1955, p. 174 S. p. 2230; MAYER-MALY, The lrish Jurist, vaI. n, part 2, 1967,
(33) Ela não se coloca, aliás, autonomamente perante o p. 375 (cf. também Festschrift für Nipperdey, 1965, Bd. I,
princípio da igualdade, antes sendo, pelo contrário, conse- p. 522).
Longe de ser uma aberração, como pretendem os dade também com frequência possam realizar-se de
críticos do pensamento sistemático, a ideia do sistema modo fragmentado (37).
jurídico justifica-se a partir de um dos mais elevados Assim se atingiu o objectivo fixado no início deste
valores do Direito, nomeadamente do princípio da parágrafo: apurar-se um fenómeno jurídico, que
justiça e das suas concretizações no princípio da constitui um ponto de contacto com um sistema no
igualdade e na tendência para a generalização (3"). sentido da linguagem filosófica; por consequência,
Acontece ainda que outro valor supremo, a segurança torna-se agora possível a tarefa de uma melhor deter-
jurídica, aponta na mesma direcção. Também ela pres- tninação do sistema jurídico. Esta pode, por seu turno,
siona, em todas as suas manifestações - seja como formar os princípios para uma mais exacta análise
determinabilidade e previsibilidade do Direito, como sobre o sentido e os limites do pensamento sistemático
estabilidade e continuidade da legislação e da juris- na Ciência do Direito e permitirá igualmente precisar
prudência ou simplesmente como praticabilidade da e testar as afirmações agora feitas, na sequência ~
aplicação do Direito - para a formação de um sis- ,stUdO (38). O papel do conceito de sistema é, no
tema, pois todos esses postulados podem ser muito entanto, como se volta a frisar, o de traduzir e reali-
melhor prosseguidos através de um Direito adequada-
( z. ar (39) a adequação valorativa e a unidade interior da
mente ordenado, dominado por poucos e alcançáveis .. ordem jurídica.
princípios, portanto um Direito ordenado em sistema,
do que por uma multiplicidade inabarcável de normas
singulares desconexas e em demasiado fácil contradi-
ção umas com as outras. Assim, o pensamento siste-
mático radica, de facto, imediatamente, na ideia de
Direito (como o conjunto dos valores jurídicos mais
elevados). Ele é, por consequência, imanente a cada
Direito positivo porque e na medida em que este ('\7) Esta fragmentação não nega a possibilidade funda-
represente uma sua concretização (numa forma his- mental do sistema; apenas torna claro que são postos certos
toricamente determinada) e não se queda, por isso, limites à sua formação plena (quanto a eles, cf. infra § 6).
('IR) As presentes considerações não são mais do que um
como mero postulado, antes sendo sempre, também,
primeiro esboço do problema do sistema que, na sequência,
pressuposição de todo o Direito e de todo o pensa- ;Iinda irá sofrer múltiplas modificações.
mento jurídico (36) e ainda que a adequação e a uni- ('\!I) Também para realizar; pois a unidade e a adequação
rrito são apenas afirmadas, mas também sempre pretendidas,
(36) Assim falou também SAVIGNY, na citação referida, portanto não apenas pressuposição, mas também um postulado
da «consequência pressuposta do Direito». «'I'. sllpra nota 36 e infra § 5, IV, 2).
Ao atribuir-se, ao conceito de sistema jurídico,
as tarefas acima caracterizadas, afastam-se, de ante-
mão, da multitude dos conceitos desenvolvidos até
hoje (1), todos aqueles que não estejam aptos a
desenvolver a adequação interna e a unidade de uma
ordem jurídica. Isso não implica necessariamente que
eles falhem sem excepção ou que não possam ser
utilizados, em nenhum domínio, para as tarefas da
Ciência do Direito; mas a distinção tem ainda um
certo valor, uma vez que a justificação de um con-
ceito de sistema que não se apoie nas considerações
realizadas no parágrafo anterior é, de antemão, limi-
tada, expondo-se ainda à objecção de poder ignorar
a essência do Direito.
do seu ({carActerestritamente lógico» cla é «em cert. í diferente de modo diferente, de acordo com a medida
Lmedida, comparável à Matemática» (11). ~J da diferença, pode ser acatada com os meios da
Esta concepção da essência e dos objectivos da lógica? Os valores estão, sem dúvida, fora do âmbito
Ciência do Direito pode-se hoje, sem reserva, consi- da lógica formal e, por consequência, a adequação
derar como ultrapassada. De facto, a tentativa de de vários valores entre si e a sua conexão interna
conceber o sistema de determinada ordem jurídica (12) não se deixam exprimir logicamente, mas antes, ape-
como lógico-formal ou axiomático-dedutivo está, de nas, axiológica ou teleologicamente (14). Pode, com
antemão, votada ao insucesso (13). Pois a unidade isso, colocar-se a questão difícil de saber até onde
interna de sentido do Direito, que opera para o erguer- está o Direito ligado às leis da lógica e até onde a
em sistema, não corresponde a uma derivação da ausência lógica de contradições da ordem jurídica
ideia de justiça de tipo lógico, mas antes de tipo valo- pode ser incluída, como previsão mínima, na sua uni-
rativo ou axiológico. Quem poderia seriamente pre- dade valorativa (15); mesmo quando isso seja afir-
tender que a regra de tratar o igual por igual e o mado, é indubitável que uma eventual adequação
lógico-formal das normas jurídicas singulares não
implica a unidade de sentido especificamente jurídica
(11) Cf. Logik, vaI. m, 4." ed., 1921, p. 617 (mas cf. tam~
bém p. 595 s.): já essencialmente realista a respeito da viabi-
de um ordenamento.
lidade de um sistema lógico-fomal para a Ciência do Direito, Este carácter axiológico e teleológico da ordem
SIGWART,Logik, 2.0 vaI., 2." ed., 1893, p. 736 ss. jurídica implica que, comparativamente, os critérios
(12) Os sistemas dos «puros conceitos fundamentais», lógico-formais tenham escasso significado para o
pelo contrário, por força da sua natureza puramente formal,
pensamento jurídico e para a metodologia da Ciência
poderiam satisfazer intBiramente as exigências de um sistema
lógico-formal ou axiomático·dedutivo.
do Direito (Ia). Na verdade, a Ciência do Direito, na
(13) Do mesmo modo COING, Grundzüge der Rechtsphilo-
sophie, p. 276 e Geschichte und Bedeutung des Systemgedan-
kens, p. 27; VIEHWEG,ob. cit., p. 53 SS.; ENGISCH,Stud. Gen. (14) No sentido amplo do termo, cf. infra, p. 41.
10 (1957), p. 173 ss. e 12 (1959), p. 86; ESSER, Grundsatz und (15) Cf. quanto a isso, também infra, p. 122 S.
Norm, 2." ed. (1964), p. 221; LARENZ, ob. cit., p. 134 s.; (16) Compreende-se que no domínio do tema aqui em
SIMITIS, Ratio 3 (1960), p. 76 ss.; EMGE, Philosophie der discussão só seja possível uma caracterização do nosso próprio
Rechtswissenschaft, 1961, p. 289 s.; BÃUMLIN, Staat, Recht ponto de vista, devendo desistir-se de uma discussão alarga da
und Geschichte, 1961, p. 27; PERELMANN,Justice et raison, com outras opiniões. Para o significado da lógica na Ciência
1963, p. 206 ss.; RAISER, NJW 1964, p. 1203 s.; FLUME, Allg. do Direito cf., por exemplo; ENGISCH, Logische Studien zur
Teil des Bürgl. Rechts, 2.° vaI., 1965, p. 295 s.; DIEDERICHSEN, Gesetzesanwendung, 1943 (3." ed. 1963), p. 3 ss. (em especial
NJW 1966, p. 699 s.; ZIPPELIUS, NJW 1967, p. 2230; cf. também p. 5 s. e p. 13) e Aufgaben einer Logik und Methodik des
já SIGWART,ob. cit., p. 736 ss. juristischen Denkens, Stud. Gen. 12 (1959), p. 76 SS.; KLUG,
32
~~edida em que aspire à cientificidade ou, pelo meno; esclarecido dos valores, pensando-os até ao fim e, a
à adequação racional dos seus argumentos, está evi- concluir, num último estádio, executando-os. Mas
dentemente adstrita às leis da lógica (17); contudo para estas tarefas, a lógica só assume o significado
essa ligação não é condição necessária nem suficiente de um «quadro» (Z0), enquanto o «entender» ou a
para um pensamento jurídico correcto (18); mais ainda: . «valoração» não se podem, no essencial, alcançar
os pensamentos jurídicos verdadeiramente decisivos através dela, - tão pouco como o «entender» um
ocorrem fora do âmbito da lógica formal (19). Assim outro quadro significativo do espírito como, por
sucede com o que é a essência do Direito, com o exemplo, uma obra artística literária ou um textC?
<fi)ncontrar as decisões de valor, com o manuseamento eológica. A hermenêutica como doutrina do entendiD
mento correcto e os critérios para a objectivação dos .
Juristische Denken, 1951, p. 100 ss. (também publicado em
ARSP 39, p. 324 ss.); SIMITIS,Zum Problem einer juristischen
Logik, Ratio 3 (1960), p. 52 ss., com outras indicações alarga-
G
valores desempenham, aliás, em vez dele, o papel
ecisivo dentro do pensamento jurídico (Z').
Tal resulta, sem excepção, de todas as formas de
-.
(~ãO é, de modo algum, apenas de tipo lógico-formal, o mesmo sucede, em medida ainda mais forte,
I antes surgindo, numa parte essencial, ainda que fre- para os restantes «processos de conclusão» jurídicos,
'-..quentemente não explícita, numa ordenação valora- como a analogia, a redução teleológica, o argumentum
tiva (24). Por conseguinte, não aparecem praticamente, e contrario, o argumentum a fortiori e o argumentum
na Ciência do Direito, complicadas cadeias lógicas de ad absurdum. Na verdade, KLUG representou estes
derivação (24a). E por conseguinte também, todas as processos de argumentação recorrendo aos meios da
conclusões lógicas pretensamente adstringentes dei- lógica moderna (25), mas é duvidoso que, com isso,
xam-se muito facílmente desmascarar como lógica se tenha ganho algo de essencial para o trabalho
aparente, porque o erro reside nas premissas e a jurídico. De facto, o elemento decisivo de todos estes
lógica se comporta, perante elas, de modo neutro. ocessos não é, sem excepção, de natureza lógica
Assim, para recorrer a dois conhecidos exemplos, não mas antes de natureza teleológica ou axiológica,
é de modo algum lógico que um contrato nulo não enquanto que a sua justificação metodológica não se
possa ser impugnado ou que na aquisição a non deixa alcançar com os meios da lógica, mas sim ape-
domino pelo adquirente de boa fé o (outrora) não- nas através da sua recondução ao valor da justiça e
-titular deva adquirir o direito, em detrimento do ao princípio da igualdade, nela compreendido (posi-
(outrora) verdadeiro titular; tudo isto resulta da for- tiva ou negativamente) (26). Quando a investigação
mação da premissa maior e, sobre isso, apenas deci-
dem pontos de vista teleológicos (*). tabular do artigo 17.°/1 do Código do Registo Predial e o caso
particular do artigo 291. do Código Civil; nestes casos, joga
0
mente, em medida ainda maior. Por consequência, KLUG (32), do nosso campo (33). Mas a confecção de
hoje não mais se pode pôr em dúvida que um sistema um sistema axiomático-dedutivo do Direito aparece
lógico-formal não sirva, de alguma maneira, nem a excluída também por outras razões. Deve, designada-
essência do Direito, nem as tarefas especificas do mente, questionar-se que seja possível uma formação
jurista.
plena de axiomas, na Ciência do Direito. Para tal
formação, seria necessário, como é reconhecido, reu-
b) O sistema axiomático-dedutivo no sentido da nir pelo menos duas (34) exigências: a da ausência de
logística
A recusa de um sistema lógico-formal conduz, con- (32) Este exige a axiomatização do Direito; d. ob. cit.,
sequentemente, também à recusa de um sistema p. 172 55. (cf. também KRAFT,ob. cit., p. 263; HARLEN,ob. cit.,
p.477 55.). Poder-se-ia, a isso, objectar que KLUG vê bem os
axiomático-dedutivo (30). Este pressupõe que todas as
limites da lógica na jurisprudência e que ele acentua expres-
proposições válidas dentro de um determinado âmbito samente o significado do elemento teleológico (do, por exem-
material se deixem deduzir de axiomas, através de plo, p. 123, 137, 138 e 176 ss.); tal não seria, porém, exacto
uma dedução puramente lógico-formal (31). Porque pois KLUG pretende proscrever expressamente o elemento
isso, como acima foi dito, é inconciliável com a essên- teleológico do processo de conclusão, mantendo-o na formação
cia da Ciência do Direito, o método axiomático-dedu- das premissas, não determináveis logicamente (a esse propó-
tivo exclui-se, desde logo, contra a opinião de sito a crítica de DIEDERICHSEN,NJW 66, p. 700, nota 40, ao
ent~ndimento de RAISER da afirmação de KLUG, em minha
opinião, não procede); ele não pode, porém, ser seguido
(30) Para o sistema axiomático-dedutivo d., por tod ,
nesse ponto, por força de integração, em cada «conclusão»
HILBERT-AcKERMANN, Grundzüge der theoretischen Logik, 3." edo,
jurídica, de um elemento da ordenação valorativa.
1949, p. 31 ss. e p. 74 SS.; FRAENKEL,Einführung in die Men-
(33) Isso corresponde à opinião dominante; d. as indi-
genlehre, 3." ed., 1928, p. 268 ss. e, sobretudo, p. 334 SS.;
CARNAP,Abriss der Logistik, 1929, p. 70 s. e Einführung in cações dadas supra, nota 13.
die symbolische Logik, 1954, p. 146 ss.; uma panorâmica curta (34) Além disso, é requerida ainda, muitas vezes, a <muto-
e fácil encontra-se em BOCHENSKI,Die zeitgeni5ssischen Denk- nomia», isto é, a indedutibilidade dos axiomas uns dos outros
methoden, 1954, p. 85 s. e em POPPER, Logik der Forschu~ (d., por exemplo, HILBERT-AcKERMANN,ob. cit., p. 33 s.;
1966, p. 413. . FRAENKEL,ob. cito, p. 340 5S.). Esse postulado pode, contudo,
(31) Cf. FRAENKEL,ob. cit., p. 334 e p. 347; CARNAP, não ser considerado no presente desenvolvimento, uma vez
Symbolische Logik cit., p. 147; d., ainda, por exemplo, HARLEN, que tem a natureza de mera economia de pensamento ou é
ARSP 39 (1951) p. 478 5.; VIEHWEG,ob. cit., p. 55; ENGISCH, talvez, também de tipo estético; seria, em qualquer caso, de
Stud. Gen. 10 (1957) p. 174, cal. 1 e 12 (1959), p. 86, coI. 2; acatar na Ciência do Direito, caso, no restante, singrasse uma
KLUG, ob. cit., p. 181; BULYGIN,ARSP 53 (1957), p. 329 s. axiomatização.
contradições (35) e a da plenitude (36); ora se a viabi- porque o sistema, devendo exprimir a unidade agluti-
lidade da primeira é, desde logo, extraordinariamente nadora das normas singulares não pode, pelo que lhe
problemática, a da segunda é de recusar, sem toca, consistir apenas em normas; antes deve apoiar-se
objecções. nos valores que existam por detrás delas ou que nelas
No que respeita, em primeiro lugar, à ausência de estejam compreendidos (40) Além disso, num sistema
o
'
as excepções que as limitam fossem elevadas à cate-
, logia jurídica desenvolvido um instrumentarium que, goria de axiomas; ora estes podem ser tão numerosos
t
«para a regularidade da formação do sistema jurí-
. tões, cria um Código Civil» (70); no entanto, devia-se \,
dicQ», com o que salienta a conexão imanente de pro-
ainda acrescentar: «ele apenas faz um sistema na ~\
blemas, necessariamente ligada a uma determinada
medida em que responda». Mas VON HIPPEL, não diz, I"
contudo, o que dá, a essas respostas, o sentido uni- decisão fundamental- isto é, desde já: a uma solução
tário, nem segundo que pontos de vista valorativos de problemas. É indubitáveI que aquela conexão
sobre-ordenados resolve o legislador os problemas (71), existe, merecendo, por isso, as ideias de VON HIPPEL,
inteira concordância; mas ele não chegou a dar uma
determinada concretização do conceito de sis-
(70) Ob. cit., p. 22. tema (73) - tal como se trata neste parágrafo.
(71) Na linha desta objecção, a crítica que VON HIPPEL
faz ao sistema do iluminismo não é inteiramente convincente.
Nesse projecto esteve-se sempre perante a ideia de que a uni-
dade de sistema, para a qual todo o Direito essencialmente
apontava, só se poderia obter na base de alguns princípios
ético-jurídicos pouco numerosos - e isso constitui a sua indu- À semelhança das conexões de problemas,
bitável grandeza. Que esses princípios tenham sido unilateral- enquanto tais, tão-pouco as relações da vida e a sua
mente sobrevalorizados ou que, pelo menos, hoje isso assim
nos pareça - e que, por isso, eles precisem de complementação
através da aceitação, no nosso sistema, de outros princípios
fundamentais (cf., quanto a isso, sobretudo, COING, Festschrift (72) É duvidoso que ele o tenha querido; cf. o título do
für DalIe, 1963, 1.0 voI., p. 25 ss., em especial p. 29 ss.) apenas seu trabalho e, igualmente, o texto. Mas para a afirmativa a
significa que a escolha da ordenação (de forma, aliás histo- essa pergunta depõe, no entanto, o facto de ele colocar a sua
ricamente compreensível) foi feita de modo unilateral, e não, própria concepção no plano da sistemática do iluminismo e do
em caso algum, que a «regularidade da formação do sistema século XIX; cf. p. 23 e p. 36. ,
jurídico tenha sido desconhecida»; de facto, enquanto res- (73) Poder-se-ia, contudo, em ligação com, as suas :onsl-
posta ao problema fundamental da justiça, este projecto é derações, dar a definição de que o sistema serIa a soluçao de
inteiramente compreensível- em oposição à «teoria dos fac- uma conexão de problemas; manter-se-ia, porém, por um lado,
tos jurídicos», assim chamada por VON HIPPEL - a qual, de a dúvida se VON HIPPEL quis efectivamente considerar a «face
facto, menosprezou a essência da formação do sistema jurídico das respostas» no conceito de sistema e, por outro, não seria
(sem no entanto, dever ser equiparada, em globo, à «sistemá- também a definição suficiente, por lhe faltarem os elementos
tica do século XIX»; .cf., porém, VON HIPPEL, ob. cit., p. 36). essenciais do conceito: a unidade e a ordem.
ordem imanente (74) são suficientes para a construção
contra uma identificação desta ordem com a conexão
do sistema. Pois elas são apenas objecto do pireito,
específica das normas jurídicas, pois haveria aí um
sendo formadas por ele, na sua forma específica; elas
sociologismo alheio ao valor do Direito CG).
não podem, por isso, formar em si próprias a unidade
do Direito nem, também, comportá-Ia por si sós. Isso
não quer, naturalmente, dizer que elas não possam,
por seu turno, influenciar o Direito, como «natureza 6. O «sistema de decisões de conflitos» no sentido
das coisas» e, com isso, em certas circunstâncias, de HECKe da jurisprudência dos interesses
actuar no seu sistema; este, porém, com isso, ainda
não está plenamente implantado nas relações da vida.
Também não deve, evidentemente, negar-se que a Fica por investigar um último conceito de sistema:
ordenação das relações da vida tenha uma influência o de Heck e da jurisprudência dos interesses. Deriva,
essencial no sistema «externo» do Direito - pense-se como se sabe, de HECK a distinção fundamental entre
apenas no apoio de âmbitos jurídicos como do Direito o sistema «externo» e o «interno» (77). Para apurar a
de Família e das Sucessões, do Direito Comercial, do . unidade e a adequação da ordem jurídica releva, de
Trabalho ou de Autor ou dos tipos singulares do . antemão, apenas o sistema interno; pois entre as suas
Direito das obrigações em especial, nos corresponden-
. tarefas deve haver, segundo as palavras de HECK, no
tes fenómenos da vida (75)! Mas deve prevenir-se /... domínio de uma «conexão material», uma «ordem
(74) LARENZ, ob. cito atribui a HECKa opinião de que o -I. imanente» (78). Onde fica, então, este sistema <<in-
sistema interno é «logo dado nas conexões da vida» (cf. p. 57 terno», segundo a opinião de HECK?
e p. 362). De facto, encontram-se afirmações nesse sentido
(cf. p. ex. HECK,ob. cit., p. 149 s. e p. 158); no entanto,este
aspecto do entendimento do sistema de HECKrecua perante
a ideia de um «sistema de decisões de conflitos» (cf. sobre isso, (76) Um exemplo disso ê a poslçao de EHRLICH,que
o texto, infra, n.O6). Elas poderiam ser s6 o prosseguimento nega a «unidade do Direito nas suas proposições» (cf. Die
consequente das proposições sociológicas da «teoria dos inte-
juristische Logik, 2." ed., 1925, p. 137) e apenas a quer reco-
resses genéticos» (cf. infra nota 100); mas também aqui se
mostra que a jurisprudência dos interesses não se reporta a nhecer como «unidade na conexão da sociedade» (cf. p. 146).
isso, antes remetendo para o significado- não casualmente EHRLlCH deveria, consequentemente optar pelo conceito de sis-
determinado - do valor legislado. tema indicado no texto; cf. também infra, nota 100.
(75) Também aqui surge uma estreita relação, determi- (77) Cf. Begriffsbildung und Interessenjurisprudenz, 1932,
nada pela natureza das coisas, entre o sistema «externo» e o p. 139 ss. (142 s.).
«interno».
(78) Cf. ob. cit., p. 143.
juízos de valor expressos nas normas singulares, assim
a) A posição da jurisprudência dos interesses quanto como os mais altos valores do Direito, como a jus-
à ideia da unidade do Direito tiça, a equidade, etc., descurando, no entanto,,,i<O g,.ue_
fica entre. eles, os escopos fundam~n.tai.S-,_e.specif.kD.$
"""
HECK rejeita expressamente a ideia - em si evi-
dente (79) - de que os elementos da ordem imanente ..---
dãr~spectiv:.o asp~cto juri~~(;;) ou, como diríamos
hoje: os princípios gerais do Direito; e de modo
sejam visíveis nos interesses singulares (80) e caracte-
característico, ele associou-lhe a censura da falta de
riza o sistema como «sistema de decisões de confli-
formação do sistema. E também OERTMANN teceu
tos» (81). A questão, porém, de saber até onde este
críticas com palavras persuasivas, dizendo que, ape-
realiza a unidade interior e a adequação da ordem
jurídica conduz imediatamente à questão prévia de sar de todas as «considerações singulares certeiras
como se coloca a jurisprudência dos interesses perante e muitas vezes convincentes» «não se encontra
a ideia da unidade do Direito - e, com isso, a um nenhum todo» nos trabalhos da jurisprudência dos
ponto crítico nas bases filosóficas desta doutrina. interesses e que «nunca e não mais um quadro uni-
Aqui, a jurisprudência dos interesses oferece, de tário» pode ser obtido, e que ele não se pode defender
facto, aos seus adversários, pontos fracos essenciais, de «um certo sentimento de desespero científico» (84).
tendo assim a sua relação com a ideia da unidade COING, por fim, resumiu estas objecções contra a
do Direito sido sempre objecto de crítica. Já no ano
de 1914, KRETSCHMAR, no seu excelente discurso de
reitor, onde ponderou soberanamente as fraquezas e (8~) Zum Gediichtnis von Max Rümelin, Kanzlerrede
1931, p. 19.
as vantagens da jurisprudência dos conceitos como da
(84) Cf. Interesse und Begritf in der Rechtswissenschatt,
dos interesses, criticara, nesta, o abandono da ideia
1931, p. 40; cf., quanto a isso, a réplica de HECK, ob. cit.,
de unidade (82). De modo semelhante, HEGLER criticou
p. 207 ss. e 212 ss. A propósito da interpretação da carta do
jurisprudência dos interesses por ace~~ os estudante, HECK pode ter certa razão (cf. p. 216 s.), mas no
restante, a sua resposta passa, de modo muito característico,
(79) Cf. supra nota 74. ao lado da afirmação de OERTMANN;assim ele confirma a sua
(80) Cf. ob. cit., p. 150. redução do perguntar pela unidade interior à do «panorama
(81) Cf. ob. cit., p. 149 ss. geral» (p. 207 ss.) assim como o reportar das conexões gerais
(82) Über die Methode der Privatrechtswissenschaft, 1914, da ordem jurídica meramente às «necessidades da vida» (p. 214)
em especial p. 39 ss.; cf. também KRETSCHMAR, Grundfragen que na opinião representada no texto, HECK contrapunha, em
der Privatrechtsmethodik, Jher. Jb. 67 (1917), p. 233 <3S., em última análise, sem sentido, ao princípio da unidade de sentido
especial p. 271 sS., 285 s. e 291 ss. do Direito.
jurisprudência dos interesses com estas palavras: monias e de conexões multifacetadas» e"); que isso
«o Direito não é assim, para a jurisprudência dos não chega já foi acima (DO) pormenorizadamente expli-
interesses, quer lógica quer moralmente, uma ordem cado. Mas para além disso, o meio com cuja ajuda
unitária. Ele não tem qualquer unidade» (8ü) . HECK pretende captar a unidade do Direito também
Mas o que dizem os próprios partidários da juris- não é frutuoso. Ele apenas considera como adequada
prudência dos interesses a estas questões? As toma- a esse escopo a formação c1assificatória de «conceitos
das de posição são pouco numerosas, mas compreen- de grupos de generalidade sempre crescente» (91).
dem uma adesão clara à ideia da unidade do Conceitos gerais abstractos são porém, inteiramente
Direito (86). Cabe agora perguntar o que entendem inadequados para captar a unidade de sentido, sem-
eles com isso. Vêm a propósito duas afirmações de pre concreta, do Direito (92) e tornam-se totalmente
HECK. A primeira parte da equiparação entre a uni-
inutilizáveis para esse escopo quando se lhes deixe
idade .do Direito e a ausência de contradições (87); apenas a função rudimentar que HECK atribui aos
/ , este e, por certo, um elemento essencial, mas repre- seus «conceitos de grupo». Estes só devem, designa-
damente servir duas «necessidades»: por um lado,
L~en.ta apen~s, por assim dizer, o lado negativo da
eles devem «aligeirar» a «concepção» das realidades
ldela da umdade e não deixa, de forma alguma, reco-
complexas, porque o «espírito humano só pode captar,
nhecer onde está a unidade de sentido do Direito ,
em simultâneo, um número limitado de representa-
positivamente considerada (88). A segunda afirmação
ções singulares» e, por outro lado, devem «facilitar
relaciona-se com a conexão interior da ordem jurí-
a rememoração» (":1). É evidente que, perante tal
dica, procurando-a na relação das normas com «par-
«subjectivização», para não dizer «psicologização»
tes da vida que estão ligadas entre si através de har- do significado dos conceitos, que os reduzem a um
mero veículo auxiliar para as insuficiências das capa-
cidades humanas de representação e de rememoração,
(85) Cf. System, Geschichte und Interesse in der Privat-
rechtswissenschaft, JZ 1951, p. 481 ss. (484); concordando,
LARENZ, Methodenhlere cit., p. 133; essencialmente positivo o
juizo de BINDER, ZHR 100, p. 63 s. (89) Ob. cit., p. 149 s.; cf. também a referência aos
(86) Cf., por todos, STüLL, Begrift und Konstruktion in «conflitos da vida» (em vez dos critérios adequados para a sua
der Lehre der Interessenjurisprudenz, Festgabe für Heck, solução).
Rümelin und Schmidt, 1931, p. 96; HECK, ob. cit., p. 87 s. e (DO) Cf. n." 5.
p. 149 s. (Dl) Ob. cit., p. 150.
(87) Ob. cit., p. 87 s. ('2) Cf. infra p. 49.
(88) Cf., a tal propósito, supra § 1 V 2 e nota 31. (f''') Cf. ob. cit., p. 82 s.
não se considera em nada a unidade objectiva de sen- gia e restrição; ~e-lhe logo, sem comunicaçãQ.,....a
tido e de adequação do Direito. «própria valoração»dQjYL~.Jla não reconhece, pelo
Assim fica apenas uma última indicação: a refe: "'contrário,- uma' função essenCial ao terceiro «grau»
rência de HECK ao «efeito remoto» dos juízos de valor da obtenção do Direito, ao trabalho com os «esco-
legais (01), dos quais apenas haveria um passo até à pos específicos fundamentais» (97), portanto aos prin-
«pressuposta consequência interna do Direito» (05) . cipias fundamentais de um domínio 'urídico; por
Está fora de qualquer discussão que uma das contri: e rás da lex e da ratzo legis colocam-se imediata-
buições metodológicas essenciais da jurisprudência mente os mais altos valores jurídicos como a justiça,
dos interesses está na elaboração deste momento. a equidade e a segurança do Direito. E no que toca
Põe-se agora a questão de onde se encontram esses ao trabalho prático-dogmático dos representantes da
juizos de valor: só nos valores singulares do legisla- velha jurisprudência dos interesses - quem poderia
dor ou também nas camadas mais profundas do não sentir perante largas passagens (98), o mal estar
Direito? Presumivelmente responderia HECK no de OERTMANN (S4), porque, em todas as «considerações
segundo sentido (DG) e então a censura de HEGLER de singulares acertadas e muitas vezes convincentes»,
que a jurisprudência dos interesses negligencia «as não aparece qualquer «quadro de conjunto unitário»?
realidades mediadoras» procederia no essencial. Isso Não há dúvidas: a força da jurisprudência dos interes-
fica igualmente claro na sua instrumentação metodo- ses localizou-se na discussão do problema singular e
lógica como nos seus trabalhos práticos. NlJ.JlLP,ris..ma não na elaboração das «grandes concatenações» (9D),
,metodológico, a jurisprudência dos interessJ:,S__,~ó<.
-- , ",',. '<--~-~'--'-~'-'
con~~~:sen~~l, os aõ1s, pr~e!LQ~.{<gtID!~ULJ1,ª (97) Cf. HEGLER, ob. e loc. cit., nota 83.
obteriçãõdõ Direito:c>dãTriterpretação e o da analo- (98) Há, evidentemente, excepções. Pense-se apenas nos
trabalhos de MÜLLER-ERZBACH sobre a responsabilidade pelo
risco ou de STOLL sobre as perturbações na prestação, ainda
(04) Cf. ob. cit., p. 150; quanto à «efiCácia remota», hoje, em larga medida, modelares, quer metodologicamente
fundamental, HECK, Gesetzesauslegung und Interessenjurispru- quer quanto ao conteúdo.
denz, 1924, p. 230 ss. (OU) HECK, perante as críticas de OERTMANN e de HEGLER,
(05) Cf. § 1, nota 27. responde, na verdade, que colocou no seu manual de Direitos
(9G) Assim ele remete - Gesetzesauslegung cit., p. 231 s., Reais, previamente, uma parte geral; no entanto, em minha opi-
por exemplo - para o efeito remoto da igualdade no Direito nião, justamente nessa parte geral, pouco se torna claro da
Civil; no entanto, não é nenhum acaso que HECK não tenha «unidade interior de sentido» dos nossos Direitos Reais e dos
aqui escolhido nem uma valoração singular nem um princípio seus princípios fundamentais. Poder-se-ia replicar a HECK que
«intermédio»; mas antes, como o princípio da igualdade, uma não é nenhum acaso, antes se ligando estreitamente ao entendi-
das mais elevadas valorações do Direito; cf., também, o texto. mento de sistema e de unidade da jurisprudência dos interesses,
- o que aliás é plenamente compreensível, no prisma suposto para efectuar também um juízo sobre o seu
da história da metodologia, como contra-movimento conceito de sistema: é muito pouco adequado para
antitético contra os exageros da época anterior. ASSil}},.,/. exprimir a unidade interior e a adequação da ordem
dever-se-ia confirmar inteiramente o duro juízo de . jurídica. Um «sistema de decisões de conflitos» não
COING(S5) de que ele corresponde sobretudo apenas., diz praticamente nada sobre a unidade de sentido do
ao princípio sociológico fundamental da «teoria dos ! Direito, ainda quando BECK também acentue a neces-
interesses genéticos» (100). ~~.. i
sidade de destacar «as concordâncias e as diferenças
nas decisões de conflitos» (101). Assim, as ideias bási-
cas do nosso Direito privado, que formam, por exem-
b) As fraquezas do conceito de sistema da jurispru- plo, o seu sistema>-- como os princípios de auto-deter-
dência dos interesses
minação, da responsabilidade própria, da protecção da
confiança, etc. (102) não são idêntiCas às decisões de
Com estas considerações sobre a ideia da unidade conflitos: antes lhes subjazem, dando-Ihes o «sentido»
na jurisprudência dos interesses, obteve-se o pres- e sendo, aliás, mal-entendidos, na sua substância,
quando se quisesse reduzi-Ias a meras «decisões de
que os grandes manuais da parte geral do Direito Civil não pro- conflitos» (l03): ficariam privados do seu conteúdo
venham dos típicos juristas dos interesses, mas sim, desde ético-jurídico. Também na tomada de posição de
VON TUHR, passando por NIPPERDEY e até FLUME e LARENZ,
BECI\: quanto a problemas práticos e singulares do
de Cientistas do Direito cujo pensamento se estende para lá
dos relativamente estreitos limites metodológicos da jurispru- sistema se mostram quão estranha lhe é, no fundo,
dência dos interesses; na realidade, tais limites nunca se a conexão entre o sistema e a ideia da unidade de
puderam mostrar tão claros como perante as exigências da sentido do Direito. Escolha-se, por agora (104), apenas
«parte geral».
um exemplo, o das «teorias dos títulos de crédito»,
(100) Cf., quanto a isso, também supra, nota 74. Conse-
que o próprio HECK caracterizou como especialmente
quentemente, aliás, EHRLICH, Logik cit., partindo da sua posi-
ção sociológica chega ao resultado de que não existe uma típico para o seu entendimento de sistema. BECE: con-
unidade do Direito como unidade das suas normas e continua: sidera decisivo que as proposições jurídicas vigentes
«Para a interpretação histórica, a única científica - isso cor-
responde exactamente à opinião de HECK! - cada proposição
jurídica é uma individualidade, um ser autónomo, que vive a (101) Cf. ob. cit., p. 150.
sua própria vida e tem a sua própria história» (p. 137). Com (102) Cf. infra p. 47 s. e 53 SS.
estas bases, o Direito só pode ter uma unidade no facto de
(103) O que HECK também não faz; ele pura e simples-
«elas (as proposições jurídicas) só vigorarem em conexao com mente o omite.
a sociedade». (Cf. ob. cit., p. 146).
(104) Cf. mais pormenorizadamente infra, § 5 lH.
provenham das necessidades da vida, e, por isso, pr~~) sões sistemáticas incluem, em si, valores, a que haverá
tende reduzir toda a controvérsia das teorias a uma / ainda ocasião de voltar (l07).
pura «questão de formulação» ('05); daí resulta, por(' Assim, o conceito de sistema da jurisprudência
consequência «em grande medida, a possibilidade de." dos interesses não pode, tudo visto, satisfazer plena-
formulações de teor diferente mas equivalentes, isto é, { mente; por outro lado, admite-se que a crítica, por
duma equivalência de construções científicas» (106)..) causa das muitas obscuridades e ambiguidades nas
Poucos lapsos haverá maiores do que este. Na ver- tomadas de posição dos seus seguidores, não seja fácil
dade, não se trata de menos do que da defesa da e que as explicações acima efectuadas não possam
unidade de sentido do nosso Direito privado, designa- aspirar à pretensão de esclarecimento pleno desta
damente da questão de saber se o princípio do con- questão, tão interessante no que toca à história dos
trato, geralmente dominante, pode ser quebrado, com métodos (108). Para além disso, é de acentuar que a
perigo para a unidade, e a favor da possibilidade de jurisprudência dos interesses produziu um trabalho
vinculações unilaterais ou se, em vez disso, se reco- muito valioso, no próprio domínio da problemática do
sistema ('09) e que, sobretudo com a ideia de sistema
nhece, preservando a unidade, o princípio do con-
trato, o qual apenas poderia ser complementado atra-
vés do princípio da aparência jurídica, alargado aliás
(107) Cf. infra § 5 m.
por vastas áreas através da sua ligação com o princí- (108) Totalmente insatisfatório a este propósito é, infe-
pio da auto-responsabilização, igualmente incluído lizmente, o há pouco surgido trabalho de EDELMANN, Die
entre os princípios básicos. Em estreita conexão com Entwicklung der Interessenjurisprudenz, 1967; quando muito
podem-se salientar as considerações de p. 102 s. nas quais,
isto está o não-entendimento de HECK de que as deci-
contudo, o mais digno de nota é a curiosidade de EDELMANN
referir o comentário do § 242 do BGB, feito por WEBER no
STAUDINGER / Kommentar, com referência ao seu âmbito pouco
(105) Cf. Grundriss des Schuldrechts, 1929, § 137.
comum (!), como elemento para os esforços da CiênCia do
(106) Cf. ob. cit., p. 473, nota 2, com referência expressa
Direito na «construção sistemática» (ou será ironia?).
ao § 137. Pelo contrário, com razão, STOLL, ob. cit., p. 117,
('09) STOLL deveria aliás estar mais próximo do que
nota 2 (cf. também p. 110) a cujo desejo HECK, na sua réplica
HECK do entendimento de sistema hoje dominante e defendido,
(Begriffsbildung cit., p. 211) não faz justiça, porque ele per-
também, neste trabalho (cf. STOLL, ob. cit., 77 s., 96 e 100),
manece circunscrito ao erro fundamental do seu modo causal
tal como as ideias de STOLL, em muitos aspectos, foram mais
de consideração; igualmente insatisfatório é o que HECK,
avançadas do que as de HECK; não foi por isso, por acaso que
ob. cit., p. 100 ss. contrapõe contra a crítica plenamente
STOLL foi conotado com a expressão «jurisprudência das valo-
justificada de LEHMANN; cf., quanto a isso, também ínfra
rações» (cf. ob. cit., p. 67, nota 1 e p. 75, nota 5), dando,
p. 96 s.
assim, o mote metodológico à actual dogmática jurídico-civil.
«interno» e com a referência ao seu carácter teleoló- mas sim no sentido mais lato de cada realização de
gico (110), obteve pontos essenciais que cabe receber e escopos e de valores, portanto no sentido no qual a
desenvolver (111).
«jurisprudência das valorações», é equiparada à juris-
prudência «teleológica». Não se entende, porém, só
por si, que semelhante sistema teleológico seja pos-
11- O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE SISTEMA A
PARTIR DAS IDEIAS DE ADEQUAÇÃO VALORATIVA E DA
sível. Assim poderia, pelo contrário, a jurisprudência
UNIDADE INTERIOR DA ORDEM JURíDICA dos conceitos ter partido, por exemplo, de que ou
existe um sistema lógico, ou de que não há nenhum.
As considerações críticas feitas até agora facul- E não foi por acaso que a limitação de STAMMLER aos
taram também as bases para o desenvolvimento de «puros» conceitos fundamentais e a sua renúncia
um conceito de sistema que esteja apto para captar resignada à sistematização de uma determinada ordem
a adequação interior e a unidade da ordem jurídica. jurídica positiva, teve a sua base neste entendimento
do conceito de sistema (114). TambémWALTHER
BURCKHARDT distinguiu, ainda em 1936, de modo
estrito, entre a «justeza lógica» do Direito e a «justeza
ética» e limitou o sistema à extrapolação da pri-
Sendo o ordenamento, de acordo com a sua deri- meira (115). Finalmente cite-se o mais recente ULRICH
vação a partir da regra da justiça (112), de natureza
<)' Keuo que considera o significado da ideia de sistema
valorativa, assim também o sistema a ele correspon-
como uma demonstração essencial do peso do pensa-
dente só pode ser uma ordenação QxiológicQ ou teleo-
mento lógico-formal na Ciência do Direito; pois logo
lógica - na qual, aqui, teleológico não é utilizado no
/ o próprio conceito de sistema é um termo especifica-
sentido estrito da pura conexão de meios aos fins (11),
(110) Cf. HECK, ob. cit., p. 147, 155, 160 e passim (com
referência a HEGLER). (114) STAMlVILER considera o seu sistema como lógico-
(111) Para o sistema teleológico cf. igualmente infra, n 1, -formal, construído de conceitos gerais abstractos; ele recusa
no texto. expressamente a possibilidade de confeccionar um sistema de
(112) Cf. supra § II 2. determinada ordem jurídica, <dnteiramente preenchido». Cf.
(113) Também neste sentido, a expressão não foi usada Theorie der Rechtswissenschaft, 2.· ed., 1923, p. 222 ss. e
poucas vezes; d., por exemplo, BINDER, ZHR 100 p. 62 s.; Lehrbuch der .Rechtsphilosophie, 3.· ed. 1928, p. 278 ss.
ENGISCH, Einfii.hrung in das juristische Denken, p. 161 s. e (115) Cf. Methode und System des Rechts, 1936, p. 121 ss.
Stud. Gen. 10 (1957), p. 178 s. e 241 ss.
mente lógico» e «só a lógica permite determinar onde tões de terminologia, pode-se naturalmente discutir
existe, afinal, um autêntico sistema» (116).
sobre a justificação de semelhante estreiteza; como
Esta limitação do conceito de sistema ao sistema saída poder-se-ia, com COING (118), distinguir um
lógico-formal não deixa contudo de ter um certo conceito de sistema mais estrito e um mais amplo,
arbítrio (117). Tanto quanto se trate apenas de ques- sendo o mais estrito idêntico ao lógico-formal
enquanto, dentro do mais amplo, haveria ainda espaço
(116) Cf. ob. cito p. 5; cf. ainda, por exemplo SIGWART, para um sistema teleológico. Mas desde que se trate
ob. cit., p. 695: «A sistemática tem, por tarefa, o representar
de uma problemática material, a limitação do conceito
a totalidade dos conhecimentos alcançados num determinado
momento, e cujas partes estejam inteiramente conectadas atra-
de sistema ao sistema lógico-formal, é uma hipótese
vés de relações lógicas» (os itálicos pertencem ao origi- em nada justificada, para não dizer uma petitio prin-
nal), - no qual, contudo, se deve sublinhar a limitação ao cipii. Pois um sistema não representa mais do que a
sistema de conhecimentos (ao contrário dum sistema objec- tentativa de captar e traduzir a unidade e a ordena-
tivo). - Para uma equivalência entre sistema axiomático e
ção de um determinado âmbito material com meios
sistema em geral, vide ARNDT,NJW 63, p. 1277 S.
(117) De facto a possibilidade de um sistema teleológico racionais: a. recusa da possibilidade de um sistema não
é frequentemente reconhecida, sem que a sua problemática lógico-formal equivale, assim, à afirmação de que a
científico-teorética tenha sido sempre vista. Cf., por exemplo, lógica formal representa o único meio possível para
RADBRUCH, Zur Systematik der Verbrechenslehre, Frank-Fest- esse fim. Uma tal restrição no âmbito em que sejam
gabe I, 1930, p. 159; HEGLER,ob. cit., p. 216 ss.; ENGISCH,
possíveis (119) o pensamento e a argumentação racio-
Stud. tien. 10 (1957), p. 178 ss.; neste domínio, também
HECK que, a tal propósito, acentua expressamente, várias vezes,
a sua concordância com HEGLERcf. ob. cit., p. 147, 155, 160 (118) Cf. Zur Geschichte des Privatrechtssystems, p. 9.
e passim. Aí, contudo, a expressão «teleológica» é, em parte, (119) Nem sempre é claramente evidente que uma tal
usada com o sentido estrito, acima caracterizado, na nota 113. restrição corresponda, de facto à concepção dos partidários
Também em escritos não jurídicos se fala, muitas vezes, de
de um sistema lógico-formal ou axiomático-dedutivo. No
«sistemas de valores» e similares; cf., por exemplo, KRAFT, entanto, merece enfoque que KLUG, ob. cit., perante a análise
Die Grundlage eíner wíssenschaftlichen Wertlehre, 1951, lógica de problemas jurídicos, apenas contraponha a intuição
p. 21, ss., com mais indicações; STARK,Die Wissenssoziologie, (cf. prólogo de 1950). Com isso, a questão do significado da
1960, p. 59 ss., 92 ss., 114 55., 252 55. e passim (cf. no índice, lógica formal para a Ciência do Direito não fica respondida.
a palavra «Wertsystem»), onde, diferenciadamente, também o De facto, a intuição é indispensável em todas as ciências - de
termo «sistema axiológico» é empregado; cf. por exemplo, outro modo não poderia haver génios científicos e o processo
p. 93, 146 e 252; cf., a esse propósito, ainda que sem relação das Ciências seria plenamente «fabricáveb> - e, evidentemente,
expressa com a problemática do sistema, LEINFELLNER,Ein- não pode, também, o jurista, viver sem «fantasia científica»;
führung in die Erkenntnis und Wissenschaftstheorie, 1965, a questão não cai, contudo, na alternativa de lógica formal ou
p. 178 ss.
intuição, mas sim naquele «espaço entre elas», portanto na
nais deve justamente ser rejeitada, como inadmissível, possibilidade de exercer racionalmente a jurisprudên-
pelo jurista (120); porque as dificuldades próprias do cia, no seu âmbito decisivo; pois o sistema, no sentido
pensamento jurídico não se deixam transpor com os aqui entendido (tanto quanto está em discussão neste
meios da lógica formal (121), adviria, daí, uma sen- local (123)) não é, por definição, justamente mais do
tença de morte não só para a jurisprudência como que a captação racional da adequação de conexões
Ciência, mas também, em geral, para cada tentativa de valorações jurídicas.
de entender a aplicação do Direito como um pro- Deve-se, por isso, quando não se queira negar
cesso racionalmente conduzido. Como, de facto, tem radicalmente o entendimento tradicional da Ciência
sido dito com frequência, os juízos dos juristas fica- do Direito, enquanto empreendimento metodologica-
riam, no essencial, reduzidos a avaliar um qualquer mente orientado, assente em argumentos racionais,
«sentimento jurídico», que, como tal, é sempre irra- apoiar a possibilidade de um sistema axiológico ou
cional e sobre cujas «afirmações» não há, pelo menos teleológico, pelo menos como hipótese. Vale aqui para
actualmente, um entendimento que possa aspirar a ideia de sistema o que BINDER afirmou, em geral,
sequer a uma parcela de convincibilidade geral. Por para o carácter científico da jurisprudência: assim
outras palavras: quem negue a possibilidade de um como KANTnão perguntou se existe uma Ciência da
sistema teleológico nega, com isso, igualmente a pos- ' Natureza, .mas antes o pressupôs, tendo procurado,
sibilidade de captar racionalmente a adequação do compreendê-lo, também se deve, primeiro, partir de
pensamento teleológico (122) e, com isso, também a . «que existe uma Ciência do Direito e, então, perguntar
. qual o seu sentido e o que fundamenta a sua pre-
possibilidade e importância de uma metódica não lógico-formal, ~ tensão de cientificidade» (124). De facto, ganhar-se-ia
mas ainda especificamente racional e jurídica, segundo o que muito para a moderna discussão metodológica na
se disse no texto, portanto, uma «teleológica formal». Noutros
locais, contudo, KLUGsublinha expressamente a necessidade logia, que transcenda a pura clarificação da sua estrutura
de uma complementação teleológica da lógica formal; cf. as lógico-formal e que, no seu núcleo decisivo, introduza a ques-
indicações supra nota 27. tão do «encaixe» da ratio legis.
(120) Mas também por outros cientistas do espírito e (123) Isto é, a propósito da característica da ordem e não
pelo filósofo. A multiplicidade de tentativas de alcançar uma da da unidade.
lógica material elaborada mostra com suficiente clareza, como (124) Cf. Philosophie des Rechts, 1925, p. 836 ss. (837) e
é forte a necessidade de uma complementação da lógica for- Der wissenschaftscharakter der Rechtswissenschaft, Kantstu-
mal, através de outro tipo de pensamento racional. dien 25 (1921), p. 321 S8., em especial p. 352 ss.; um paralelo
(121) Cf. supra p. 2 ss. digno de nota encontra-se (com referência a uma seriação geral
(122) Devia-se, portanto, por exemplo, considerar impos- de valores, e portanto não especificamente jurídica) em
sível uma fundamentação racional de cada conclusão por ana- LEINFELLER, Einführung cit., p. 180 s.
Ciência do Direito (e, em geral, nas ciências do Espí- exemplo, a Ciência da Literatura - quando tal juízo
rito) quando se adaptasse este ponto de partida de seja permitido a um diletante (no duplo sentido da
BINDER - infelizmente pouco observado - e, em vez palavra) - fez progressos assombrosos e obteve
de pôr permanentemente em dúvida a cientificidade resultados da mais alta evidência, desde que ela não
dos modos de trabalhar específicos das ciências do mais se assumiu exclusiva ou, pelo menos, predo-
Espírito, em especial do pensamento hermenêutico e minantemente como Ciência histórica (128), mas antes
teleológico, se procurassem entender as especialida- tornou a obra de arte, na sua própria e específica
des destes métodos e apenas no final se colocasse a regularidade, sob o lema da «interpretação imanente
questão da natureza científica (125). A discussão sairia da obra» ou da «análise estrutural», no objecto das
então, com brevidade, de ambos os extremos, entre suas pesquisas e, nesse sentido se tornou uma Ciência
os quais ela hoje oscila, para aquele ponto intermédio hermenêutica. E do mesmo modo a jurisprudência
apenas avaliado pelas tarefas específicas da Ciência teleológica moderna pode requerer para si um êxito
do Direito: da improdutividade das meras pesquisas indiscutível; não se deve, finalmente, olhar, de modo
lógicas e logísticas, por um lado (126) e da não permanente, para as cláusulas gerais (129), antes se
inadstringibilidade da pura tópica, por outro lado (127) ,
para uma teleológica e hermenêutica, que facultem
resultados racionalmente verificáveis através de meios (128) Também aqui o conceito positivista de Ciência pro-
razoáveis e, assim, vinculantes, - mesmo que não voca sérios danos. Pois porque fora das Ciências Naturais e
se pudesse alcançar aquele grau de adstringência da Matemática, só se reconhece como Ciência a descrição histó-
que é característico para as Ciências da Natureza ou rica dos «factos positivos», julga-se que a Ciência da Literatura
para a Matemática. só seja possível como Ciência Histórica; expulsa-se, com isso,
do âmbito da pesquisa científica justamente o que é específico
E está-se assim tão mal quanto à verificabilidade numa obra de arte.
da hipótese questionada? De modo algum! Assim, por (129) E também a sua concretização tem feito, em parte,
progressos admiráveis - pense-se apenas, por exemplo, nos
(125) Não se lhes deve colocar na base o ideal de Ciên- trabalhos de SIEBERT e de WIEACKER sobre o § 242 do BGB (*).
cia do positivismo, que, de antemão, não está apto ao pensa- (*) Nota do tradutor: o § 242 do BGB dispõe:
mento hermenêutico ou a qualquer tipo de teleológica- cor- «O devedor está obrigado a realizar a prestação tal como
respondendo inteiramente a outro modelo, para o qual se requer a boa fé, com consideração pelos costumes do tráfego».
orienta. Por isso, a polémica contra a adstringibilidade única Recorde-se que com base neste preceito, a jurisprudência
desse conceito de Ciência é, por exemplo, e com razão, uma e a doutrina alemãs desenvolveram quatro institutos funda-
das ideias centrais da metodologia de LARENZ. mentais: a culpa na celebração de negócios, a boa fé no
(12G) Cf. também supra, p. 31 S5. cumprimento das obrigações, o abuso do direito e a alteração
(127) Cf. também infra, § 7 1II b. das circunstâncias.
devendo incluir também aquelas partes nas quais, especial, pressuposto de um cumprimento, racional-
como por exemplo nos domínios «construtivos» dos mente orientado e racionalmente demonstrável, do
Direitos Reais, do Direito das Sucessões ou do princípio da justiça de tratar o igual de modo igual
Direito dos Títulos de Crédito, é possível, num número e o diferente de forma diferente, de acordo com a
indefinido de casos, um simples juízo de «errado» ou medida da sua diferença.
«certo» sobre um resultado e onde não pode ser ques- A esse propósito deve-se, por fim, focal' expres-
tão de «admissível», etc. De modo semelhante, samente uma especificidade: quando se fala aqui,
devem-se considerar as múltiplas interpretações, ana- constantemente, da adequação dos valores, preten-
logias e restrições «adstringentes», e não elevar ape- de-se significar isso mesmo. Não se trata, portanto,
nas os problemas do aperfeiçoamento «livre» (isto é, da «justeza» material, mas apenas da «adequação»
não mais orientado por valores imanentes à lei) do formal de uma valoração - na qual «formal» não se
Direito a critério da admissibilidade dos métodos deve, evidentemente, entender no sentido de «lógico-
jurídicos. Finalmente, não pode haver dúvidas de que -formal» mas sim no sentido em que também se fala
o pensamento jurídico aparece tanto ao leigo como, do carácter «formal» do princípio da igualdade. Por
com frequência, ao próprio jurista, justamente como outras palavras: não é tarefa do pensamento teleoló-
um caso modelar de pensamento «lógico»; tenha-se gico, tanto quanto vem agora a propósito, encontrar
presente que, na verdade não é um pensamento uma qualquer regulação «justa», a priori no seu con-
teleológico que rege os problemas específicos da teúdo - por exemplo no sentido do Direito Natural
jurisprudência e que só este faculta conduzir a sua ou da doutrina do «Direito justo» - mas apenas, uma
argumentação; torna-se então claro o que verdadeira- vez legislado um valor (primário), pensar todas as
mente subjaz a esse juízo: a experiência de uma evi- suas consequências até ao fim, transpô-Ia para casos
dência especial da adequação e poder convincente do comparáveis, solucionar contradições com outros
pensamento axiológico e teleológico. Embora a sua valores já legislados e evitar contradições derivadas
estrutura possa ser ainda pouco esclarecedora, poder- do aparecimento de novos valores (130). Garantir a
-se-á dizer em resumo: a hipótese de que a adequação adequação formal é, em consequência também a
do pensamento jurídico-axiológico ou teleológico seja tarefa do sistema «teleológico» (131), em total conso-
demonstrável de modo racional e que, com isso, se
possa abarcar num sistema correspondente, está sufi-
cientemente corroborada para poder ser utilizada (130) Seja através de legislação, seja por via da interpre-
como premissa científica. Ela é a condição da pos- tação criativa de Direito.
(131) Quanto ao tema, na medida em que a justiça mate-
sibilidade de qualquer pensamento jurídico e, em
rial se realiza igualmente, cf. infra § 5 IV 3.
nância com a sua justificação a partir do princípio se pode ficar pelas «decisões de conflitos» e dos
«formal» da igualdade. valores singulares, antes se devendo avançar até aos
valores fundamentais mais profundos, portanto até
aos princípios gerais duma ordem jurídica; trata-se,
2. O sistema como ordem de «princípios geraís assim, de apurar, por detrás da lei e da ratio legis, a
do Direito» ratio iuris determinante. Pois só assim podem os valo-
res singulares libertar-se do seu isolamento aparente e
Com a caracterização do sistema como ordem
reconduzir-se à procurada conexão «orgânica» e só
teleológica ainda não foi, contudo, dada resposta à
assim se obtém aquele grau de generalização sobre o
segunda pergunta essencial: a dos elementos consti-
qual a unidade da ordem jurídica, no sentido acima
tutivos nos quais se tornem perceptíveis a unidade caracterizado (132), se torna perceptível. O sistema dei-
interna e a adequação da ordem jurídica. No entanto,
xa-se, assim, definir como uma ordem axiológica ou
ficou já esclarecido que se deve tratar de valores,
tclcológica de princípios gerais de Direito (133), na
ainda que isso não possa constituir a resposta final,
pois se mantém a questão mais vasta de que valores (I "") Para a função dos princípios, constituinte do sis-
se trata: todos ou apenas alguns? Se se quisesse tema, cf. principalmente ESSER, Grundsatz und Norm cit.,
optar pelo primeiro sentido, chegar-se-ia a um con- p. 277 s. e 323 ss. Para além disso, poder-se-ia, quando muito,
aproximar o conceito de sistema aqui adaptado do de COING
ceito de sistema que seria muito semelhante ao «sis- e do de LARENZ (indicações importantes também já em STOLL,
tema de conflitos de decisões» de HECK e perante o ob. cit., p. 77 s. e 96); cf. sobretudo, COING, Grundziige der
qual procederiam as mesmas objecções; ele não pode- Rechtsphilosophie, 1980, p. 275 ss., JZ 1951, p. 481 ss. (484 s.),
ria tornar perceptível, de modo algum, a unidade. Geschichte und Bedeutung des Systemgedankes, p. 9 55. e
Trata-se, pois, de encontrar elementos que, na mul- DõIle-Festschrift, p. 25 ss.; LARENZ, Festschrift für Nikisch,
1958, p. 299 ss. e Methodenlehre p. 133 ss. e 367 ss. No entanto,
tiplicidade dos valores singulares, tornem claras as
ambos colocam o sistema não exclusivamente na conexão dos
conexões interiores, as quais não podem, por isso, ser princípios gerais de Direito, mas sim, em parte, também nas
idênticas à pura soma deles. conexões da vida, dos valores, dos institutos, etc. (cf. COING,
Nesta ocasião, deve-se recordar de novo a carac- JZ cit., p. 485 e Rechtsphilosophie, cit., p. 278; LARENZ, ob. cit.,
terística principal da ideia da unidade, acima elabo- p. 136 s. e 367). Poderia aí, contudo, haver apenas uma opo-
sição relativamente pequena com a opinião representada no
rada (132): a recondução da multiplicidade do singular a
texto. No que respeita, em primeiro lugar, ao significado das
alguns poucos princípios constitutivos. Mas isso signi- conexões da vida, há que separar cuidadosamente o sistema
{ fica que, na descoberta do sistema teleológico, não
externo do sistema interno: elas têm um significado grnnde e
1--- __
imediato para a edificação do externo mas, para a do interno,
(m) Cf. § 1, I. pelo contrário, elas sõ podem ser relevantes mediatamel'l1e,
qual o elemento de adequação valorativa se dirige Não se pode determinar, de antemão, quando deva
mais à característica de ordem teleológica (1~4) e o um princípio valer como «gera!»; também aqui se
da unidade interna à característica dos princípios trata de um critério inteiramente relativo. Para o
gerais (134).
conjunto da nossa ordem jurídica, não se poderiam
actuando sobre a «natureza das coisas» e sobre o que, desta, considerar todos os princípios como «portadores de
o Direito receba, portanto numa forma jurídica específica de unidade» e, com isso, como sistematizadores; e no
pontos de vista transpostos de ordenação e de valoração, que, quanto a essa função, respeita ao Direito pri-
isto é, justamente sobre os princípios jurídicos. Outro tanto vado: neste, nem todos os princípios são, por seu
vale para as «diferenças de estrutura lógico-materiais», por
turno, relevantes para o sistema, como o serão, por
exemplo as que existem entre o Direito das Obrigações e os
Direitos Reais; também aqui se trata de separar entre o sis- exemplo, para o Direito das Obrigações, os Direitos
tema externo e o sistema interno e, quanto ao último, de Reais, o Direito das Sucessões, etc.; dentro desses
aproximar apenas aqueles elementos por detrás dos quais âmbitos, formam-se subsistemas mais pequenos, com
se escondam valores materiais. Quanto aos restantes elemen- princípios «gerais» autónomos, como, por exemplo,
tos, como conceitos, institutos jurídicos ou valores, cf. igual-
o sistema dos actos ilícitos, do enriquecimento sem
mente no texto infra a). - Um sistema no qual todos ou alguns
destes elementos se contivessem em igual posição, no qual, causa, das perturbações na prestação ou da respon-
portanto, por exemplo, conceitos, institutos, valores, conexões sabilidade pela confiança. Em qualquer caso, uma
da vida, etc. estivessem, no mesmo grau, junto dos princípios, parte dos princípios constituintes do sistema mais
parece-me, contudo, poúco conveniente (mas cf. COING e pequeno penetra, como «geral», no mais largo e,
LARENZ,ob. cit.). Com isso, mesmo que não se misturasse,
inversamente, o sistema mais pequeno só em parte
de modo inadmissível, o sistema externo e o interno, tratar-
-se-ia, contudo, de uma equiparação de elementos que estão se deixa, normalmente, retirar dos princípios do mais
em planos distintos. Poder-se-ia, na verdade, em outras cir- largo (135). Assim, modifica-se a «generalidade» dum
cunstâncias, construir o sistema interno com valores, conceitos, princípio com a perspectiva do ponto de vista; final-
institutos, etc. (cf., quanto a isso, igualmente o texto, infra a», mente, é sempre decisiva a questão de quais os prin-
mas melhor seria erguê-Io sobre um desses elementos e não
cípios jurídicos que se devem considerar constitutivos
mudar permanentemente os planos. Poder-se-ia, desta forma,
desenvolver vários sistemas colocados em diferentes planos para a unidade interior do âmbito parcial em causa,
uns por detrás de outros ou em degraus uns sobre os outros, de tal modo que a ordem dele seria modificada, no
que se deixassem reformular uns nos outros, mas que perma-
necessem sistemas (<<científicos»)diferentes, isto é, formas
diferentes de ver e de captar o sistema (<<objectivo»)da ordem (1::") Os princlplOs não são, em regra, materialmente
jurídica (para a relação entre o sistema «objectivo» e a sua bastantes para compreender também todos os pontos de vista
formulação no sistema «científico» cf. supra p. 13). valorativos necessários, para o âmbito mais estreito do orde-
(131) Cf. supra § 1 I e as notas 13 e 14. namento: cf. pormenorizadamente infra p. 96 s.
seu conteúdo essencial, através de uma alteração num No que toca, em primeiro lugar, a um sistema de
desses princípios. Para o Direito civil vigente seriam, normas, surge este como pouco significativo, por-
por exemplo, de reconhecer como constitutivos do quanto se deve procurar justamente, a conexão aglu-
sistema - sem pretensão de exaustividade - os prin- J tinadora das normas - e esta não pode, por seu
cípios da autodeterminação, da auto-responsabilidade,
) turno, consistir também numa norma; de facto, os
da protecção do tráfego e de confiança, da considera-
. princípios jurídicos unificadores e significantes só
ção pelas esferas de personalidade e de liberdade dos
numa parte demasiado pequena se deixam formular
outros e da restituição do enriquecimento injusto (130).
na forma de normas que devam ser firmemente deli-
O significado dos «princípios gerais de Direito»
mitadas segundo as previsões e estatuições normati-
para a formação do sistema precisa contudo, nalguns
pontos, ainda de maior elucidação. vas e, assim, recuam perante a articulação mais
flexível do princípio.
No que respeita agora a um sistema de conceitos
a) As vantagens, na formação do sistema, dos «prin- gerais de Direito, este seria, por certo, pensável não
cípios gerais de Direito», perante normas, con- apenas como um puro sistema formal de conceitos
ceitos, institutos jurídicos e valores. fundamentais gerais (1:;7), mas também como um sis-
tema teleologicamente «preenchido» de uma determi-
Em primeiro lugar, não é de imediato evidente nada ordem jurídica. No entanto, eles deveriam ser
que o sistema deva justamente ser composto de prin- conceitos teleológicos ou «conceitos de valor» (1:\8);
cípios. Põe-se antes a questão de saber se não poderia al<'m disso, também não se deveriam considerar, para
depender de outros elementos «gerais», como por a formação do sistema, os conceitos gerais abstrac-
exemplo, de normas, conceitos, institutos jurídicos ou l.os (' ::0), mas apenas os conceitos concretos no sen-
valores. A resposta não é fácil e não deveria,em tido de HEGEL (140), pois apenas os últimos surgem
última análise, ser determinada pelos pontos de vista capazes de recolher em si o pleno sentido constitutivo
da oportunidade e do acaso.
(l:;ü) Não é objectivo desta pesquisa uma representação (1::7) Cf., quanto a isso, supra § 2 I 2.
do conteúdo do Direito privado actual (cf., quanto a isso, (1:1H) O termo é utilizado por COING, Rechtsphilosophie
sobretudo COING, Dolle-Festschrift cit.); aqui trata-se antes cit., p. 272.
apenas do aspecto metodológico da problemática, e os prin- (l:l!I) Cf. LARENZ,ob. cit., p. 139 s.
cípios referendados no texto visam apenas a ilustração exem- (1,111) Para a significado do conceito geral-concreto na
plificativa. ('il'ncia do Direito é fundamental LARENZ,ab. cit., p. 353 ss.
da unidade interna (141). Mas ainda que um sistema de o sistema deve fazer claramente a adequação valora-
conceitos jurídicos seja possível, isso não quer ainda tiva e a unidade interior do Direito e, para isso, os
dizer que ele também seja adequado. Pelo contrário, conceitos são muito impróprios. Designadamente, e
isso é duvidoso, perante as tarefas aqui em causa. mesmo quando estejam bem construidos, eles apenas
mediatamente contêm as valorações, por assim dizer
(141) BINDER requereu um sistema de conceitos gerais fechadas, enquanto os princípios são abertos; assim
concretos na «Wissenschaftslehre» que deixou depois da sua a valoração é, por exemplo, essencialmente mais
morte; cf. p. 351 ss. (355) do manuscrito na posse do Semi- irnediata e segura no princípio da autonomia do que
nário para a Filosofia do Estado e para a Política do Direito
no (ordenado) conceito de negócio jurídico, e que só
da Universidade de Colónia. Na sua Philosophie des Rechts, de
1925, BINDER fala de um sistema de «conceitos gerais empí- através de considerações relativamente complicadas,
ricos» - cf. p. 921 ss. (924), que ele contrapõe aos «puros» (. possível determinar a valoração que o conceito de
conceitos de Direito; esses conceitos são «empíricos» na direito subjectivo em si contenha. Pode, portanto,
medida em que se devam desenvolver a partir «do conteúdo
dizer-se: No conceito (bem elaborado) a valoração
das ordens jurídicas singulares historicamente dadas». A rela-
ção entre esses «conceitos gerais empíricos» e os «conceitos cslli. implícita; o princípio, pelo contrário explicita-a
individuais históricos» (no sentido de RICKERT), que BINDER e por isso ele é mais adequado para extra polar a uni-
considera, aliás, adequados para a Ciência do Direito (cf. em dade valorativa do Direito. Para além disso, também
especial ob. cit., p. 841 ss. e 888 ss.), não fica bem clara
n[\o se deve esquecer que, de forma alguma, os con-
(para as dificuldades da formação de conceitos de BINDER cf.
também LARENZ, ob. cit., p. 106 s.). BINDER deveria ter visto ceitos correspondentes a todos os princípios funda-
a solução no conceito geral-concreto de HEGEL, ao qual ele Ilwnlnis da nossa on!<'1ll .jurídica já estão elaborados
também se ligou casualmente a este propósito, na Philosophie (' (tIl(' isso, no essencial, é ainda mais difícil do que
des Rechts (p. 842; cf. também p. 888). - Que os conceitos
iI 1'01'111111,11;110 de principias gerais de Direito. Quanto
devam ser de tipo teleológico indiciou BINDER incansavelmente,
como poucos; cf. por exemplo ob. cit., p. 886, 890 e 897 ss. ao reslo. Iliío s(~rú necessário salientar que a formula-
LARENZ pretende que o sistema do conceito geral-concreto (/IU <1(' conceitos não é, por isso, supérflua. Pelo
é o da filosofia do Direito e não o da dogmática jurídica contrúrio: ela é imprescindível para a preparação da
(cf. p. 367), i. é, portanto, não o de uma determinada ordem
jurídica. Parece-me duvidoso que isto proceda e, também, que
isto surja consequentemente no resto da concepção de LARENZ. h(~ln os princípios, os institutos jurídicos ou até as conexões
A justificação de que a Ciência do Direito vigente precisaria, da vida não são inteiramente capazes de subsunção. Pelo con-
para cumprir as suas tarefas, de conceitos gerais abstractos trário: capazes de subsunção são as normas; o sistema, porém,
por causa da sua capacidade de subsunção é, em qualquer deve descobrir as conexões de sentido existentes «por detrãs
caso, pouco convincente. Isso é verdade, mas não é tarefa do ddas» ou «nelas» e pode, por seu lado, não ser susceptível de
sistema oferecer a possibilidade de subsunção imediata; tam- subsunção.
subsunção, devendo, assim, ser ordenado um sistema genação» de princIplOs fundamentais pode demons-
de conceitos jurídicos correspondente aos princípios. trar-se em todos os «institutos jurídicos». Mas assim
Deve-se ter presente que eles são de natureza teleoló- sendo, um sistema com eles formado iria exprimir a
gica e que, por isso, em caso de dúvida, é sempre unidade da ordem jurídica do modo fragmentário,
necessário o recurso à valoração neles incluída isto pois a conexão ainda mais profunda existente entre
é, ao princípio equivalente; por exemplo, sendo pouco os institutos não se tornaria visível; pelo contrário:
claro se um determinado acto deve ser qualificado o facto de, para vários institutos, os mesmos princí-
como negócio jurídico ou se uma posição jurídica pios serem, em parte,constitutivos (144) - por exemplo
protegida pode ser considerada como um direit;~ para o da auto-responsabilidade ou da protecção da
subjectivo, deve perguntar-se sempre se, no caso esfera de liberdade - mostra que, na procura da uni-
ques~ionado, respectivamente, procede a regulação dade do Direito, se regressa, por último, sempre e de
predIsposta por força da auto-determinação privada / novo aos princípios gerais do Direito, - uma vez
ou se se. deparam aqui os valores vigentes no reco- 1 .'1 que o sistema não resulta da sua mera enumeração
nhecimento de direitos subjectivos. ' desconexa, mas antes é constituído através da sua
"-~":':--'--'-' ... ,- jl
Outro tanto vale perante um sistema de institutos eOllcatenação e ordenação interna (145) e desde que
jurídicos (142). Também estes não tornam a valoração contenha uma componente relativamente semelhante
unificadora de modo algum imediatamente visível. aos institutos. - A mesma objecção feita perante um
Mas sobretudo, eles não se reportam, em regra, a um sistema de institutos, também vale, aliás, em face
único valor, mas sim à ligação de várias ideias jurí- dUIlI dI: conceitos, pois também estes, na maioria,
dicas distintas; assim, o complexo regulativo da auto- cOlllp1'('('I1<I<'llI(:111 si v;í1'ios aspectos valorativos:
nomia privada, que se pode considerar como «insti- assitll, o ql\(' acima foi dito a propósito do instituto
tuto» do nosso Direito privado, só se entende a partir da 1I1110llOnlÍap1'ivad;1 procede, de modo semelhante,
de uma acção conjunta dos princípios da auto-determi- para o ClIllceilo de negócio jurídico; também no con-
nação, da auto-responsabilidade e da protecção do C('ilo d(' ado i1fcito e nos seus elementos singulares
tráfego e da confiança (143); uma semelhante «misce- (p1'evisiío legal, i1icitude, culpa) se abrigam vários
p1'illdpios ou valorações diferentes entre si.
(142)Este corresponde sobretudo ao conceito de sistema
de SAVIGNY; cf. System des heutigen romischen Rechts, 1840, (];") Cf. também LARENZ, ob. cit., p. 139: «... os princí-
§ 5 (p. 10 s.); quanto ao «instituto» como factor constitutivo pios ético-jurídicos, captados através dos institutos síngulares
do sistema cf. ainda EssER,Grundsatz und Norm dt., p. 324 ss. (' constitutivos da conexão de um complexo alargado de
e LARENZ, Methodenlehre cit., p. 137 ss. normas ... )}.
(143) Cf. mais pormenorizadamente infra, p. 92 ss. ('1") Cf. mais pormenorizadamente infra, p. 53 e 55 ss.
Segue-se à proposta aqui feita, a tentativa de do prinCIpIO da auto-determinação negocial, está o
entender o sistema como ordem de valores (146). Tam- valor da liberdade; mas enquanto este só por si, ainda
bém isso seria, evidentemente possível; em última não compreende qualquer indicação sobre as conse-
.I"I.
análise, cada Ordem Jurídica se baseia em alguns quências jurídicas daí derivadas, aquele já exprime
> valores superiores, cuja protecção ela serve. Mas ao algo de relativamente concreto, e designadamente que
i mesmo tempo boas razões depõem, também, contra a protecção da liberdade é garantida através da legi-
ela. Na verdade, a passagem do valor para o princí- timidade, conferida a cada um, para a regulação autô-
(pio é extraordinariamente fluida; poder-se-ia dizer, noma e privada das suas relações com os outros.
"<luando se quisesse introduzir uma diferenciação de
O ])rinc.l'.PiOocupa pois, justamente, o pon.to i~te..rm.é-
algum modo praticável, que o princípio está já num dio entre o valor, por um lado, e o conceIto, por
grau de concretização maior do que o valor: ao con- (lU t ro: el@.--e:&G€J.d~tl@.le-pg:f-~-:iá--sufkienteJl1~!!te
trário deste, ele já compreende a bipartição, caracte- f....
ti eterminªclQ.12ara _.~(?1ll
pre~.Dde_cllllla_-i:Q9ic~ã.Q_§()})-!~_
rística da proposição de Direito em previsão e conse-
;1 ~ consequências._jurídiGas--e,--GOill.isso,para .possui~
quência jurídica (147). Assim, por exemplo, por detrás
uma configuração. esp~cWçªrrg~l1t~ jurídica e ultra-
I)assa este poraillda não estar sllficieIitt::Illente deter-
Ininado para esconder a valoração. Uma vez por
(146) Cf. sobretudo COING, ob. cito na nota 133. lodas - e mais uma vez se repete, para evitar mal-
(147) Cf. mais pormenorizada mente CANARIS, olJ. cit.,
,('nlendidos - trata-se, predominantemente, de uma
p. 123 S. Isso não significa, evidentemente, que ele aparente,
qlll'stIio d,' oportunidade c de acaso: um sistema de
no restante, já a forma de uma disposição jurídica; ele dis-
tingue-se antes desta por não estar ainda, em regra, suficiente-
mente concretizado para permitir uma subsunção, precisando,
olc'ol •. p"l"'" .1I1I::llIdo fallll' di' um «valor», pois a realização
por isso de uma «normativização»; cf., mais detidamente,
tllI ('111'11111 d" 1111:;/\11110VIII" por si só, mas apenas pela pro-
ob. cit., p. 160 ss. Contra a opinião de BYDLINSKI (6JBI. 1968,
k",;n" «d" '1"1' ":lU por detrás dela» e, portanto, é precisa
p. 223), isso não modifica, contudo, em nada, a justeza da
II/lli! v(,riOll «vl1lol'<·s». D,~ resto, é de admitir que os valores
diferenciação proposta entre princípio e valor; o princípio, ao
IlIIldl('II:1 :lI' d,'I)(11111f:wilmente reformular nos correspondentes
contrário do valor, indica sempre, pelo menos, a direcção da
prllll'ipío:; " '111(', por' isso, as delimitações são fluidas - tra-
consequência jurídica (ob. cit., p. 161 ss.) embora pormenores
'",ul" :;(' 11i1l'IHl:~dI' diversos graus de um processo de concre-
possam ficar em aberto. No que toca, em especial, ao exemplo
'I'/,/I<;l'io ,'m li! eonlínuo (que, na sua fase seguinte, prossegue
citado por BYDLINSKI, do princípio de que a realização do
do prlllc:lpio para a norma e, aí, aparenta de novo delimita-
capital de base de uma sociedade anõnima deve manter-se .;,.••.s I'Il1ldas). - Em compensação, o que BYDLINSKI diz, ob. cito,
assegurado, é inteiramente reconhecível, nele, a bipartição em
qllanto Ü diferença entre a analogia e princípios gerais de
previsão (<<O capital de base») e estatuição jurídica (<<deve
I lin'ito é corNincente e representa um progresso importante
manter-se realizado»); também parece, neste caso, especial-
IH'::ta questão.
conceitos teleológicos, de institutos jurídicos ou ckl ('ns vezes levam a decisões contrárias. Pense-se ape-
valores superiores deveria assemelhar-se muito a uml
ll;lS nas excepções sofridas pelo princípio da liberdade
sistema de princípios: deveria deixar-se reformulal
_ .i de forma dos contratos obrigacionais, pelo da consen-
neste outro, de modo extenso, quando não total. _.~..
sllalidade da procuração, pela possibilidade de repre-
sentação nos negócios jurídicos, pelo da condiciona-
bilidade dos negócios jurídicos, pelo da liberdade de
b) Os tipos de funções dos «princípios gerais do
aceitação dos negócios do representante legal, etc.
Direito» na formação do sistema
Ou pense-se nas múltiplas limitações do princípio da
autonomia negocial que resultam da consideração de
Apurada e demonstrada a escolha para elementos
princípios contrários e das contraproposições daí
constitutivos unitários dos princípios gerais de Direito,
resultantes, como, por exemplo, a limitação da liber-
surge, como nova tarefa, o tecer considerações mais
dade de celebração, através de várias previsões do
pormenorizadas sobre o modo e a forma pelo qual eles
acatam a sua função sistematizadora. Salientem-se, dever de contratar, a limitação da liberdade de esti-
aqui, quatro características: os princípios não valem pulação dos contratos obrigacionais através do
sem excepção e podem entrar entre si em oposição Direito de protecção das denúncias do Direito social
ou em contradição (148); eles não têm a pretensão da do arrendamento e no Direito do trabalho, na limita-
exclusividade; eles ostentam o seu sentido próprio ção da liberdade de testar através do direito de
apenas numa combinação de complementação e res- legítima, etc., etc. Entre a mera excepção e o princí-
trição recíprocas; e eles precisam, para a sua reali- pio contrário existe, naturalmente, uma passagem
zação, de uma concretização através de sub-princípios fluida; deve verificar-se, quanto a isso, se o valor
e valores singulares, com conteúdo material próprio. que requer a limitação possui uma generalidade e
~ Os princípios não valem sem excepção e podem uma categoria bastantes para, por seu turno, valer
~ entrar em oposição ou em contradição entre si. Esta como princípio constitutivo do sistema. Isso não
característica não precisa de explicação; é para oS) sucede, por certo, nos exemplos acima dados, a pro-
juristas um fenómeno seguro o de que, às decisões t. pósito das ideias jurídicas que subjazem às diversas
prescrições de forma, isto é à protecção contra a
fundamentais da ordem jurídica, subjazem muitas i'
excepções e de que os princípios singulares não pou:,,~ precipitação ou à facilitação de prova; o BGB não
confere a esses valores um significado tal que, aqui,
se possa falar em princípio constitutivo do sistema
(148) Para a diferença entre oposição e contradição cf.
intra, § 6 I 2 d.
do Direito civil ou, sequer, apenas do Direito das
obrigações; trata-se, assim, de meras excepções ao
princlplO da liberdade de forma. Pelo contrário, os respectivamente, não são, de modo algum, previsões
princípios de tutela dos trabalhadores e da protecção excepcionais «contrárias ao sistema» mas antes, pelo
da família, que estão por detrás do direito de pro- contrário, expressões (em parte incompletas) de prin-
tecção dos despedimentos e da legítima, respectiva- cípios gerais. Por certo que o princípio do dever de
mente, têm, sem dúvida, uma função constitutiva para responder pelo ilícito culposo merece ainda uma
os nossos Direitos do Trabalho e das Sucessões e, certa primazia, que se baseia em parte no seu signifi-
para além disso, também para todo o Direito Privado; cado histórico, mas também, sobretudo, na sua espe-
. há, pois, princípios opostos. cial evidência ético-jurídica; mas isso não justifica, de
, Os princípios não têm pretensão de exclusividade. modo algum, que lhe seja reconhecida uma pretensão
Isto significa que uma mesma consequência jurídica, de exclusividade; antes conduz a que, no reconheci-
característica de um determinado princípio, também mento de outros fundamentos de imputação, seja
pode ser conectada com outro princípio. Podia-se cuidadosamente verificada a questão do seu poder de
julgar que isto é evidente. Mas tem sido frequente- convicção interior. Compreende-se, por si, que esta
mente posto em causa, pelo menos a propósito de perspectiva tenha o mais alto significado para a inter-
princípios singulares, e este mal-entendido tem-se pretação comum e para a interpretação criativa do
mostrado, em parte, como um obstáculo pesado para Direito (149). Uma problemática muito semelhante à
o progresso do nosso Direito privado. Assim, por colocada a propósito do princípio da culpa, põe-se,
exemplo, nem sempre foi reconhecido que as presta- também, quanto ao princípio de autonomia privada e
ções de indemnização podiam resultar não apenas de possui, ainda hoje, grande actualidade. Não poucas
violações culposas do Direito; hoje já não é discutível vezes parece dominar o mal-entendido de que pre-
que, ao lado dela, haja uma série de outros princípios tensões «como as resultantes de um negócio jurídico»,
de imputação, também constitutivos do sistema, tais portanto, em especial, pretensões de cumprimento, só
como os princípios do risco, da confiança ou da podem, fundamentalmente, resultar de negócios jurí-
imputação por actos lícitos e que as disposições a
eles respeitantes, como as previsões de responsabili-
('ação; o § 307 manda, àquele que conheça a impossibilidade
dade pelo risco, § § 122, 179, 307 e 904/2 BGB (*), duma prestação assumida, indemnizar a outra parte que se
lenha fiado na viabilidade do contrato; o § 904/2, por fim,
(*) Nota do tradutor: o § 122 do BGB obriga o declarante <ktermina que, quem penetre em prédio alheio para prevenir
a inc!emnizar o dec1aratário ou, em certos casos, terceiros, um dano na própria coisa, o possa fazer devendo, no entanto,
quando a declaração seja declarada nula ou seja anulada; o indcmnizar. As indemnizações são, no entanto, limitadas nos
§ 179 estabelece a responsabilidade do representante que não lrüs primeiros casos ao denominado interesse negativo.
prove os seus poderes, quando o representado recuse a ratifi- (119) Cf. também ínfra p. 120 s. e 176 s.
93
"
ções do sistema objectivo. As modificações do pri- palavra «mobilidade» exprime também a proviso-
meiro seguem, fundamentalmente, as alterações do riedade e a modificabilidade do sistema (1); mas não
último; os sistemas objectivo e científico estão se recomenda; o termo foi fixado por WILBURG com
também ligados na dialéctica geral entre o Direito utro sentido (2), e para evitar mal-entendidos, tam-
U
objectivo em vigor e a sua aplicação. bém só se deve usá-Io com o significado que lhe deu
WILBURG. Na sequência, a «mobilidade» será, por
isso, distinguida da «abertura» e só se falará de um
sistema móvel» quando surjam as características
essenciais para o conceito de sistema de WILBURG.
II
1 'J
.....
~""- """"".".~.=,llJji'l!l!_
do concurso de culpas, pode operar também um p risco; por outro lado, também não relevam uns
perigo do empreendimento; uma culpa do lesado leve quaisquer pontos de vista - o juiz não pode, sem
pode, através da ocorrência, na esfera do lesado, de dúvida, considerar o estado civil ou a nacionalidade
circunstâncias agravantes do perigo, levar também a dos implicados. e apenas pode considerar as relações
uma diminuição equivalente na sua pretensão putrimoniais no caso excepcional de aplicação analó-
indemnizatória; de igual modo, uma grave culpa do gica do § 829 BGB - mas apenas critérios de imputa-
lesado (22), ou um risco de empreendimento «especial» ç[ío específicos, geralmente rígidos, com a intensidade
ou «elevado» podem compensar em parte uma culpa da culpa, a perigosidade de um empreendimento ou
pesada, etc.; também um risco concorrente do de uma coisa, o grau de adequação ou a «proximi-
empreendimento pode actuar de modo a diminuir a dade» do nexo de causalidade (24), - portanto aqueles
pretensão de indemnização perante a responsabilidade princípios que também dominam o nosso Direito da
pela culpa (23), na ocorrência de culpa leve, perante responsabilidade civil. O seu sistema compreende
a negligência grosseira e, em certas circunstâncias, assim, junto de uma «imobilidade» de princípio, um
até em face do dolo, e, inversamente, a responsabili- scctor no qual os pontos de vista valorativos compe-
dade pelo risco não é necessariamente excluída pela tentes são «móveis}).
culpa do lesado e a responsabilidade por «culpa Outro tanto acontece noutros âmbitos. Encon-
levíssima» não é, sem mais, afastada por grave culpa tram-se numerosos exemplos da mobilidade do sis-
do mesmo lesado. Não é possível confeccionar uma tema, em especial onde as previsões normativas
previsão normativa rígida, mas apenas ponderar entre rrgidas se complementam e acomodam através de
si determinados critérios «de acordo com o número cláusulas gerais: para determinar se um despedimento
e o peso», no sentido de WILBURG, sem que se fixe é anti-social, se existe um fundamento importante,
uma relação de hierarquia, por exemplo entre culpa se um negócio jurídico ou um comportamento são
contrários aos bons costumes, etc., é necessário pon-
derar entre si determinados pontos de vista «segundo
(22) Pois a culpa e a sua graduação são apenas uma das
circunstâncias relevantes, no cálculo do montante da indemni-
o número e o peso», sem uma relação hierárquica
zação; quanto à questão de quais os factores competentes,
cf., principalmente LARENZ, Schuldrecht A. T. 9. ed. 1968,
ft