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CRONOLOGIA- Melanie Klein (1882-1960)

Melanie Klein

1882

– Nascimento a 30 de março, em Viena de Melanie Reizes.

– Era a filha mais nova, tinha duas irmãs e um irmão.

– O pai, de origem judaica, era médico e um estudioso do Talmud. Aos 37 anos, rompe com a
ortodoxia religiosa e cursa Medicina.

– A mãe mantinha um pequeno comércio para colaborar com o marido na manutenção da


casa.

1887

– Após moléstia de um ano, morte de Sidonie, sua irmã, que lhe ensinara a ler e escrever, além
de rudimentos de aritmética.

1896

– Sob influência do irmão Emmanuel – descrito como alegre, amante de literatura e da música
– interessa-se pelas artes. Com a ajuda dele, ainda, prepara-se para o exame de admissão ao
liceu feminino, visando cursar Medicina.

1899

– Aos 17 anos, logo após a matrícula, fica noiva de Arthur Klein, que estuda engenharia
química.

1900
– Morte do pai, Moritz Reizes.

1902

– Morre, aos 25 anos, de cardiopatia, seu irmão Emmanuel.

1903 a 1915

– 31 de março: casamento com Arthur Klein.

– Mudança de projeto, com o abandono da Medicina.

– Segue cursos de Arte e História na Universidade de Viena, sem graduar-se.

– Em 1910 a família de Klein se estabelece em Budapeste.

– Nascimento dos filhos: Mellita em 1904, Hans em 1904 e Eric em 1914.

– Realiza numerosas viagens e tratamentos de repouso em decorrência de depressões.

– A mãe de Melanie Klein, Libussa, cuida da casa; ela morre em 1914.

– Aos 32 anos, Klein realiza a leitura de “A interpretação de sonhos”, de S. Freud, tem uma
convicção imediata e entusiástica.

1916

Início da análise com Sándor Ferenczi. Estimulada por ele, a dedicar-se a psicanálise, inicia o
atendimento de crianças.

1919
– Apresenta o seu primeiro trabalho à Sociedade Psicanalítica de Budapeste: “ O romance
familiar em seu estado nascente” (a educação analítica de seu filho Erich) – “O
desenvolvimento de um criança”.

– Entra como membro nessa Sociedade em Budapeste.

– Queda do império autro-húngaro.

1920

– Contato com Freud e Abraham, no Congresso Psicanalítico de Haia.

– Neste congresso ouve a comunicação de Hermine von Hug-Hellmuth, “Sobre a técnica da


análise de crianças”.

– Abraham convida-a para trabalhar em Berlim.

– Freud publica “Além do princípio de prazer”.

1921

– Arthur Klein vai para a Suécia.

– Melanie Klein instala-se em Berlim com os filhos.

– Começa um processo de separação.

– Numerosos tratamentos de crianças.

– Apóio de Karl Abraham.

1923
– Melanie Klein passa a dedicar-se totalmente à Psicanálise.

– Freud publica “O Eu e o Isso”, “A organização genital infantil” e “A dissolução do complexo


de Édipo”.

1924

– Com 42 anos, tem início a uma análise de 14 meses com Abraham.

– Em abril Melitta se casa com Walter Schmideberg.

– No VIII Congresso Internacional de Psicanálise, Klein apresenta “A técnica da análise de


crianças pequenas”.

– Descoberta do supereu arcaico e da precocidade do complexo de Édipo.

1925

– Alix Scrachey convida-a para dar um ciclo de conferências em Londres.

– Ernest Jones a convida a se estabelecer na Inglaterra.

– Morre Karl Abraham em 25 de dezembro.

1926

– Divórcio de Melanie e Arthur Klein.

– Chega em Londres em setembro.

– Recebe apoio de Arthur Klein e dos psicanalistas ingleses.


– Freud publica “Inibições, sintoma e angústia”.

1927

– Anna Freud publica o livro “O tratamento psicanalítico de crianças”.

– Colóquio sobre Psicanálise de crianças, onde critica as idéias de Anna Freud.

– M. Klein torna-se membro da Sociedade Britânica de Psicanálise.

– Inicia-se um subgrupo kleiniano na Sociedade Britânica de Psicanálise.

– Ato de fundação analítico da prática com crianças.

1929

– M. Klein realiza a análise em Dick, um menino autista com 5 anos, até 1946.

– M. Klein demonstra a importância do símbolo no desenvolvimento do eu.

1930

– Começa as análises didáticas e o atendimento de adultos.

1932

– Publicação simultânea, em inglês e alemão, da obra: A psicanálise da criança.

– Início da hostilidade no relacionamento de M. Klein com a sua filha Melitta.


1933

– Morre S. Ferenczi.

– Chega Paula Heimann à Inglaterra.

1934

– Morre seu filho Hans, com 27 anos de idade, em acidente de alpinismo, em abril.

– Sua filha Mellita Schmideberg, também analista, opõe-se ao trabalho teórico desenvolvido
pela mãe, rompendo com ela.

– Em agosto, apresenta a “Contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos”.

1934-40

– Descobre a posição depressiva e da fase esquizo-paranóide.

– Em 1936 realiza a conferência sobre “O desmame”.

– Em 1937 publica “Amor, ódio e reparação”, de M. Klein e Joan Rivière.

– Em 1938 Freud chega a Londres, em junho, com a mulher e a filha Anna.

– Em 1939 morre Freud em 23 de setembro.

1940

– Redação definitiva da comunicação apresentada no XV Congresso, em 1938, “O luto e a sua


relação com os estados maníaco-depressivos”.
– Dissensões entre M. Klein e Anna Freud.

– Segunda Guerra Mundial.

1941

– M. Klein aos 59 anos realiza a análise de Richard, um menino de 10 anos.

– M. Klein realiza a vinculação entre o complexo de castração e a posição depressiva (cf. 1945,
“O complexo de Édipo esclarecido pelas angústias precoces” e, em 1956-59, a redação da
Narrativa da análise de uma criança).

1942-44

– As Assembléias Extraordinárias e as Discussões Polêmicas organizam as oposições teóricas e


políticas entre kleinianos e annafreudianos.

– Elaboração da doutrina kleiniana por M. Klein e seus discípulos, J. Rickman, C. Scott, D.


Winnicott, S. Isaacs, J. Rivière e P. Heimann.

1943

– Discussões entre kleinianos e opositores em sessões plenárias da sociedade Britânica.

1944

– Comunicação sobre “A vida emocional dos bebês”.

– Análise de Hanna Segal.

1945
Publicação da crítica de E. Glover, “Exame do sistema kleiniano de Psicologia infantil”, que
solicita a expulsão dos kleinianos da Sociedade. Diante da recusa, Glover demite-se.

1946

– Conclusões de novembro: a Sociedade Britânica é dividida em três Grupos, e a Formação, em


dois regimes de ensino.

– Comunicação “Notas sobre alguns mecanismos esquizóides”, onde a “noção de identificação


projetiva” seria introduzida, na redação de 1952, e desenvolvida pelos kleinianos, em
particular H. Rosenfeld, a propósito das psicoses.

1947

– Aos 65 anos publica “Contribuições à psicanálise” (1921-1945).

1949

– Congresso de Zurique, “Sobre os critérios do término da análise”.

– Concepção do término do tratamento como uma experiência de luto.

– Lacan publica “O estádio do espelho como formador da função do eu” , sendo que a primeira
versão do estádio do espelho, foi em 1938 e a introdução do “Tempo lógico” (em 1945).

1951

– Congresso de Amsterdam, “As origens da transferência”.

1952

– Edição especial de International Journal of Psycho-Analysis, dedicada aos 70 anos de Melanie


Klein.
– Banquete organizado por E. Jones em sua homenagem e publicação de “Os progressos da
psicanálise” por seus discípulos e colegas.

1953

-Congresso de Londres, intervenção sobre “A psicologia da esquizofrenia”, “Da identificação”.

– Lacan expõe “Função e campo da fala e da linguagem” em Roma.

1955

– Fundação do Melanie Klein Trust (Fundação Melanie Klein).

– Congresso de Genebra, “Um estudo sobre a inveja e a gratidão”.

– Rompimento com P. Heimann.

– Publicação de “A técnica psicanalítica através do brinquedo; sua história, sua significação”,


artigo escrito a partir de uma conferência de 1953.

1953

– Publicação de Inveja e gratidão.

1958

– Morte de Ernest Jones.

1959

– “As raízes infantis do mundo adulto”.


– Congresso de Copenhague, “O sentimento de solidão”.

1960

– Na primavera fica anêmica.

– É operada de um câncer do cólon em setembro.

– Morre aos 78 anos Melanie Klein, no dia 22 de setembro e é cremada.

1961

– Publicação da “Narrativa da análise de uma criança”.

– Necrológico de W. Hoffer, H. Segal e W. Bion no International Journal of Psycho-Analysis, v.


XLII

Ocupação

Há mais de cem anos, em 30 de março de 1882, nasceu em Viena Melanie née Reizes (1882-
1960), futura Melanie Klein, psicanalista britânica de origem austríaca. Seu pai, Moritz Reizes,
era um médico judeu polonês, originário de Lemberg, na Galícia, que se tornou clínico geral
graças a uma ruptura com pais tradicionalistas. Sua mãe , judia eslovaca brilhante, dedica-se,
por necessidades familiares, ao comércio de plantas e répteis, cuja família, erudita e culta, era
dominada por uma linhagem de mulheres. Melanie Klein, pouco desejada, foi a quarta entre os
filhos desse casal que não se entendia. Quando, por sua vez, se tornou mãe, também sofreria
em sua vida particular as intrusões de sua mãe, Libussa, personalidade tirânica, possessiva e
destruidora. A juventude de Melanie foi marcada por uma série de lutos, muitos
provavelmente responsáveis pela culpa, cujos vestígios se encontram em sua obra teórica.

Tinha quatro anos quando sua irmã Sidonie morreu de tuberculose com a idade de 8 anos;
tinha 18 quando o pai, debilitado há longos anos, morreu, deixando-a com a mãe; tinha 20
quando seu irmão Emmanuel, que a influenciara muito e a quem estava ligada por uma
relação de tons incestuosos, morreu esgotado pela doença, pelas drogas e pelo desespero.
Phyllis Grosskurth observou que Melanie se casou pouco depois desse falecimento, pelo qual
se sentia culpada, o que, acrescentou, “provavelmente tinha sido o objetivo perseguido por
Emmanuel”.
Klein estudou de início arte e história na Universidade de Viena, porém as dificuldades
econômicas que se seguiram à morte do pai parecem ter sido a causa de sua renúncia aos
estudos de medicina, que ela decidira empreender com o objetivo de ser psiquiatra. Essas
mesmas dificuldades explicariam igualmente seu casamento precipitado, em 1903, com Arthur
Klein, engenheiro químico de caráter sombrio, que ela conhecera dois anos antes, que por
força de suas atividades profissionais era obrigado a muitos deslocamentos o que possibilitou
a Melanie aprender muitas línguas estrangeiras e do qual se divorciaria em 1926.

Em 1910, por insistência de Melanie, cronicamente deprimida, o casal, cujo desentendimento


era alimentado pelas incessantes intervenções de Libussa, se fixou em Budapeste. Em 1914,
sua mãe morreu e nasceu seu terceiro filho, Erich Klein (futuro Eric Clyne), que ela analisaria,
como Hans e Melitta, o irmão e a irmã mais novos. Mas esse ano de 1914 foi também o de sua
primeira leitura de um texto de Sigmund Freud, “Sobre os sonhos”, e do início de sua análise
com Sandor Ferenczi. Essa análise foi interrompida devido à guerra. Ela recomeça, em 1924,
mas em Berlim, com K.Abraham, que morreria no ano seguinte. A análise é concluída em
Londres, com S.Payne.

Melanie Klein logo começou a participar das atividades da Sociedade Psicanalítica de


Budapeste, da qual se tornou membro em 1919. Antes, em 28 e 29 de setembro de 1918, sob
a presidência de Karl Abraham, o V Congresso da International Psychoanalytical Association
(IPA) se realizou nessa cidade, que Freud considerava como o centro do movimento
psicanalítico. Era a primeira vez que Melanie Klein via Freud. Escutou-o ler, na tribuna, sua
comunicação “Os novos caminhos da terapêutica psicanalítica” e, fortemente impressionada,
tomou consciência de seu desejo de se consagrar à psicanálise. Em julho de 1919, levada por
Ferenczi, apresentou, diante da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, seu primeiro estudo de
caso, dedicado à análise de uma criança de cinco anos, que na realidade era o seu próprio filho
Erich. Uma versão reformulada dessa intervenção, na qual ela dissimulou a identidade do
jovem paciente chamando-o de Fritz, constituiu seu primeiro escrito, publicado no
“Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse”. Um ano depois, uma terceira versão desse
trabalho apareceu em “Imago”: “A criança de que se trata, Fritz, escreveu ela, é um menino
cujos pais, que são de minha família, habitam na minha vizinhança imediata. Isso permitiu
encontrar-me muitas vezes, e sem nenhuma restrição, com a criança. Além do mais, como a
mãe segue todas as minhas recomendações, posso exercer uma grande influência sobre a
educação de seu filho.”

O terror branco e a onda de anti-semitismo que assolava Budapeste depois do fracasso da


ditadura comunista de Bela Kun (1886-1937) obrigaram os Klein a deixar a capital e a exilar-se.
Em 1920, Melanie Klein participou em Haia do Congresso Internacional da IPA. Ali, encontrou
Hermine von Hug-Hellmuth e principalmente, graças à recomendação de Ferenczi, Karl
Abraham. Este acabava de fundar, com a ajuda de Max Eitingon, a famosa policlínica do
Berliner Psychoanalytisches Institut (BPI), onde eram acolhidos muitos pacientes
traumatizados pela guerra. Atraída pela personalidade de Abraham e pela vitalidade do grupo
de analistas que o cercava, Melanie Klein se instalou, em 1921, na capital alemã. Um ano
depois, tornou-se membro da Deutsche Psychoanalytische Gesellschaft (DPG) e, em setembro
de 1922, assistiu ao VII Congresso da IPA, durante o qual participou das primeiras discussões
sobre a questão da sexualidade feminina, depois da contestação das teses freudianas por
Karen Horney.

No congresso psicanalítico de Haia, em 1920, conheceu Abraham, que a convidou a se mudar


para Berlim, onde ela se instalou como psicanalista, continuando com ele sua análise pessoal.
Quando Abraham morreu, Melanie Klein deixou Berlim, cujo meio psicanalítico aderia às idéias
da Anna Freud, julgando as suas pouco ortodoxas. Em 1925, no congresso de Salzburgo, leu
seu primeiro artigo sobre a técnica da análise de crianças. Impressionado com esse trabalho,
Jones a convidou para dar conferências na Inglaterra, país onde Melanie Klein se instalou
definitivamente em 1926. Em 1922 se divorciara do marido, de que já estava separada havia
algum tempo.

No começo de 1924, Melanie Klein começou uma segunda análise, com Karl Abraham, de
quem adotaria algumas idéias para desenvolver suas próprias perspectivas sobre a organização
do desenvolvimento sexual. Em abril, no VIII Congresso da IPA em Salzburgo, apresentou uma
comunicação altamente controvertida sobre a psicanálise da crianças pequenas, na qual
começava a questionar certos aspectos do complexo de Édipo. Foi apoiada por Abraham e
também por Ernest Jones, que seduzido por esse discurso contestatário, até interviria junto a
Freud para que este aceitasse levar em consideração essas declarações heréticas. Em 17 de
dezembro do mesmo ano, Melanie foi a Viena para fazer uma comunicação sobre a psicanálise
de crianças na Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV), e nessa ocasião confrontou-se
diretamente com Anna Freud. O debate estava então aberto, e trataria do que “devia” ser a
psicanálise de crianças: uma forma nova e aperfeiçoada de pedagogia (posição defendida por
Anna Freud) ou a oportunidade de uma exploração psicanalítica do funcionamento psíquico
desde o nascimento (como queria Melanie Klein)?

Em Berlim, Melanie fez amizade com Alix Strachey, também analisanda de Abraham. Com a
ajuda do marido, James Strachey, que estava em Londres, Alix introduziu Melanie na British
Psychoanalytical Society (BPS). Graças também ao apoio de Ernest Jones, fez uma série de
conferências em Londres, em julho de 1925. Essa permanência na Inglaterra a encantou, a
ponto de despertar nela o desejo de se estabelecer além-Mancha, o que se realizaria mais
cedo do que ela imaginava em virtude da morte de Karl Abraham em dezembro de 1925. A
pedido de Jones, que a convidou a passar um ano na Inglaterra, Melanie Klein deixou Berlim
em setembro de 1926. Sua instalação em Londres marcou efetivamente a abertura das
hostilidades entre a escola vienense e a escola inglesa: quaisquer que fossem os esforços de
Jones para convence-lo de que as teses kleinianas se inscreviam na lógica das suas, Freud,
desejando apoiar Anna, manifestaria um descontentamento crescente.

Em Londres, Melanie Klein experimentou suas teorias, tratando filhos perturbados de alguns
de seus colegas: o filho e a filha de Jones, por exemplo. Sua personalidade invasiva provocou à
sua volta paixões e repulsas. Em março de 1927, Anna Freud fez uma comunicação ao grupo
berlinense da DPG. Na verdade, tratava-se de um verdadeiro ataque contra as teses kleinianas
em matéria de análise de crianças. Houve críticas e Freud irritou-se. A discordância entre
ambas não parava de crescer, referindo-se especialmente à oportunidade da análise de
crianças: parte integrante da educação geral de toda criança, afirmava Melanie Klein;
necessária apenas quando a neurose se manifesta, replicava Anna, que circunscrevia a análise
de crianças apenas à expressão do mal-estar parental, enquanto Melanie autonomizava a
criança, tanto em sua demanda quanto no tratamento.

Em setembro de 1927, durante o X Congresso Internacional em Innsbruck, o conflito se


ampliou: Klein apresentou uma comunicação, “Os estádios precoces do conflito edipiano”, na
qual expunha explicitamente suas discordâncias com Freud sobre a datação do complexo de
Édipo, sobre seus elementos constitutivos e sobre o desenvolvimento psicossexual
diferenciado dos meninos e das meninas. Em outubro de 1927, apoiada pela renovada
confiança de Jones, Melanie foi eleita para a BPS.

As idéias de Melanie Klein suscitaram fortes oposições, que tomaram uma amplitude
considerável com a chegada na Inglaterra dos psicanalistas expulsos pelo nazismo, entre os
quais A. Freud e E. Glover, que consideravam suas idéias meta psicológicas uma heresia
idêntica às de Jung e Rank.

Em janeiro de 1929, começou a tratar de uma criança autista de quatro anos, filha de um dos
seus colegas da BPS, à qual deu o nome de Dick. Logo percebeu que ele apresentava sintomas
que ela nunca havia encontrado. Não expressava nenhuma emoção, nenhum apego, e não se
interessava pelos brinquedos. Para entrar em contato com ele, colocou dois trenzinhos lado a
lado e designou o maior como “trem papai” e o menor como “trem Dick”. Dick fez o tem com o
seu nome andar e disse a Melanie: “Corta!”. Ela desengatou o vagão de carvão e o menino
guardou então o brinquedo quebrado em uma gaveta, exclamando : “Acabou!”. A história
desse caso se tornaria célebre, por mostrar como alguns psicanalistas não conseguem dar aos
filhos o amor que esperam deles.

Dick continuou a análise com Melanie Klein até 1946, com uma interrupção durante a Segunda
Guerra Mundial. Quando Phyllis Grosskurth se encontrou com ele, então com cerca de 50
anos, não tinha mais nada a ver com o menino fechado de outrora. Era até francamente
tagarela.

Em 1932, Melanie Klein publicou sua primeira obra síntese, “A psicanálise de crianças”, na qual
expunha a estrutura de seus futuros desenvolvimentos teóricos, sobretudo o conceito de
posição (posição esquizo-paranóide/posição depressiva), assim como sua concepção ampliada
da pulsão de morte. Mas, nesse mesmo ano, que inaugurou um aparente período de calma
institucional para ela, sua vida particular foi perturbada por conflitos que teriam, alguns anos
depois, pesadas repercussões em sua vida profissional. Sua filha Melitta Schmideberg, casada
com Walter Schmideberg, amigo da família Freud e de Ferenczi, tornou-se analista. Sem
perceber, Melanie repetiu com sua filha o comportamento que Libussa tivera com ela. Foi por
ocasião de uma retomada da análise com Edward Glover que Melitta se afastou de Melanie.
Logo seria publicamente apoiada em sua atitude por seu analista, que não hesitou em
manipular as tensões familiares para reforçar suas próprias posições teóricas diante de
Melanie.

A partir de 1933, Melanie Klein, que sofria os ataques incessantes de Glover e de Melitta, via
com terror a chegada a Londres dos analistas vienenses e berlinenses que fugiam do nazismo.
Confidenciou a Donald Woods Winnicott que pressentia, na instalação desses refugiados que
lhe eram na maioria hostis, a iminência de um “desastre”. Alguns meses depois da chegada
dos Freud a Londres, as hostilidades irromperam efetivamente. Em julho de 1942, a tensão no
seio da BPS atingiu um ponto crítico. Enquanto Londres era bombardeada, tomava-se a
decisão de fazer reuniões para discutir os pontos de discordância científicos e clínicos. Assim
começou o período das Grandes Controvérsias, inaugurado por um ataque violento de Edward
Glover contra a teoria e a prática dos kleinianos. Ernest Jones, em quem Melanie Klein
acreditava ter um fiel aliado, saía freqüentemente dessa cena, cujos atores eram
essencialmente mulheres, umas reunidas em torno de Melanie, outras em torno de Anna
Freud. Os confrontos assumiram tal intensidade que Donald Wood Winnicott, partidário de
Melanie, interrompeu uma noite os debates para observar que um ataque aéreo estava
ocorrendo e era urgente procurar abrigo.

Em novembro de 1946, depois de intermináveis negociações, marcadas principalmente pela


demissão de Edward Glover, um “laady’s agreement” se produziu – mas que nem sempre foi
respeitado-, resultando na institucionalização de uma divisão da BPS entre kleinianos,
annafreudianos e independentes.

Em 1995, Melanie Klein, que nada perdera de seu dinamismo e de sua agressividade, interveio
de maneira esmagadora no Congresso da IPA em Genebra, apresentando uma comunicação
intitulada “Um estudo sobre a inveja e a gratidão”, na qual desenvolvia o conceito de inveja,
que articulava com uma extensão da pulsão de morte, à qual dava um fundamento
constitucional. Ao fazer isso, reatava com aquele que sempre considerara o seu mestre, Karl
Abraham. Melanie Klein acabava assim de dar partida a uma nova controvérsia, que, se não
teve a amplitude das precedentes, a levou à ruptura com Winnicott e com Paula Heimann, que
fora a mais inteligente e a mais ardorosa dos adversários de Glover em 1943.

Nunca tendo se reconciliado com sua filha Melitta, deixando inacabada uma autobiografia
parcelar e seletiva, Melanie Klein morreu de câncer do cólon em Londres, a 22 de setembro de
1960.

Diferentemente de A. Freud, Melanie Klein considerava o brincar como um material suscetível


de interpretação no quadro da situação transferencial. As brincadeiras eram a seu ver
equivalentes às fantasias, dando acesso à sexualidade infantil e à agressividade: em torno
delas podia se instaurar uma relação transferencial-contratrasferencial entre a criança e o
analista.
Melanie Klein conferiu lugar capital à pulsão de morte, conceito que no entanto estava longe
de gozar de unanimidade no seio do mundo psicanalítico. Radicalizando a posição de Freud,
fez da angústia a conseqüência direta da ação da pulsão de morte no seio do organismo. Essas
considerações estavam também presentes em sua concepção das fases ou posições por que a
criança passava: a posição esquizoparanóide, que traduziria o modo de relação dos quatro
primeiros meses da existência, seria caracterizada por uma união entre as pulsões sexuais e as
pulsões agressivas, por um objeto vivido como parcial e clivado em “bom” (gratificador) e
“mau” (frustrador). “Na posição paranóide-esquizóide” , escreve Hana Segal, “a angústia
dominante provém do temor de que o objeto ou os objetos persecutórios penetrem no eu,
esmagando ou aniquilando o objeto ideal e o “self”. Dois mecanismos psíquicos seriam
dominantes nessa fase: a introjeção e a projeção. Instalando-se por volta dos quatro meses, a
posição depressiva se seguiria à posição paranóide, sendo por sua vez superada por volta do
final do primeiro ano. O objeto já não é parcial, podendo ser apreendido pela criança como
total, a clivagem “bom”-“mau” já não é tão categórica como outrora, a angústia é de natureza
depressiva e está ligada ao temor de perder e de destruir a mãe. Em face de suas angústias, a
criança desenvolve vários tipos de defesa e de atividades reparatórias, que constituem a
primeira fonte da criatividade e da sublimação. A posição esquizoparanóide e a posição
depressiva voltam a se fazer presentes posteriormente na vida, em especial no adulto
acometido de paranóia, de esquizofrenia ou de estados depressivos.

A Grã-Bretanha, sua última pátria, conforme mencionamos acima, acolheu-a em 1922. A partir
desse momento, e durante trinta e quatro anos, a vida de Melanie Klein foi completamente
ligada à psicanálise, às atividades da Sociedade Britânica e ao movimento internacional. Em
1960, às vésperas da morte, ela ainda estava dando instruções sobre seu último manuscrito e
aos alunos que tinha em formação. Estava com 78 anos.

Somente os netos conseguiram realmente distrair Melanie Klein da parcela de desumanidade-


de genialidade, diriam outros- que ela reconhecia ter em si. Virginia Woolf deixou em seu
“Diário” um retrato de Melanie Klein que permite entrever sua força, de outro modo silenciosa
e invisível: ela era “uma mulher de caráter, com uma espécie de força meio oculta- como direi
?-, não uma astúcia, mas uma sutileza, alguma coisa trabalhando por baixo. Uma tração, uma
torsão, como uma vaga sísmica: ameaçadora. Uma mulher encancida e brusca, com grandes
olhos claros e imaginativos”.

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