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ANTROPOLOGIA E GEOGRAFIA:
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS HISTÓRICAS
„SCOTT WILLIAM HOEFLE - LABORATÓRIO DE GESTÃO DO TERRITÓRIO - DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA -
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

RESUMO
ANALISA-SE POR VIA DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA O LONGO E INSTÁVEL RELACIONAMENTO ENTRE A GEOGRAFIA E A
ANTROPOLOGIA, APONTANDO PARA A CONVERGÊNCIA DE INTERESSES EM MOMENTOS DE SINTAGMAS CRÍTICOS E PARA
A DIVERGÊNCIA EM MOMENTOS DE PARADIGMAS RACIONALISTAS. EXISTE MAIOR COLABORAÇÃO ENTRE AS DUAS DISCIPLINAS
DURANTE FASES CRÍTICAS DO PENSAMENTO CIENTÍFICO QUANDO SÃO ENFATIZADAS DIVERSIDADE CULTURAL E AMBIENTAL
NO MUNDO E EPISTEMOLOGIAS BASEADAS EM MODELOS FENOMENOLÓGICOS, ENVOLVENDO INTERAÇÃO PERCEPTIVA E
METODOLOGIAS MAIS QUALITATIVAS, SENÃO ETNOGRÁFICAS. HÁ INDIFERENÇA MÚTUA OU MESMO EMBATE TEÓRICO EM
MOMENTOS DE PARADIGMAS RACIONALISTAS QUANDO SÃO PRIVILEGIADOS PROCESSOS CENTRAIS NO MUNDO COM BASE
EM TEORIAS DETERMINISTAS E REDUCIONISTAS DE EVOLUÇÃO UNILINEAR, MÉTODOS QUANTITATIVOS, MODULAÇÃO
MATEMÁTICA E OBJETIVIDADE E PRESCRIÇÃO CIENTÍFICA. ALERTA-SE QUE A AMPLA COLABORAÇÃO ATUAL ENTRE AS DUAS
DISCIPLINAS ATRAVÉS DO PÓS-MODERNISMO E DA ECOLOGIA POLÍTICA PODE ACABAR COM O AVENTO DO NEO-DARWINISMO.
NOVA FASE DE DIVERGÊNCIA PODE SER EVITADA ATRAVÉS DA ECONOMIA POLÍTICA CULTURAL RADICAL, UMA ABORDAGEM
CRÍTICA MAIS AFINADA AOS PROBLEMAS DO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL.
PALAVRAS CHAVES: GEOGRAFIA, ANTROPOLOGIA, EPISTEMOLOGIA, CIÊNCIA CRÍTICA.

INTRODUÇÃO ______________________________ ram na organização de dois números temáticos da


Nos últimos anos houve uma série de impor- revista de Antropologia Aplicada Social Organizati-
tantes colaborações entre geógrafos e antropólo- on: Gregory Knapp e Michael Watts (Herlihy e
gos. O antropólogo pós-modernista George Mar- Knapp 2003, Paulson, Gerzon e Watts 2003). As
cus foi convidado para participar em um livro que colaborações representam a cumulação de duas dé-
marcou o auge da abordagem cultural na Geogra- cadas do desenvolvimento de uma série de inte-
fia: Cultural Turns, Geographical Turns (Cook et. alli resses em comum entre geógrafos e antropólogos.
2000). Dois geógrafos conhecidos por seu traba- Pelo lado da Geografia, a convergência reflete
lho na interface de cultura e ambiente participa- tanto a superação do tabu histórico sobre “ambi-

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ente” quanto a (re) descoberta da “cultura”, abran- câmbio transdisciplinar tão abrangente de forma
gendo hoje quase todas as especialidades da disci- que parece deslumbrar um horizonte promissor de
plina (Anderson et. alli. 2003, Simmons 1989, Sim- colaboração entre a Geografia, a Antropologia e
mons 1993, Robbins 2004, Zimmerer e Bassett as outras Ciências Sociais.
2003). Os antropólogos, por sua parte, descobri- Contudo, este quadro está ameaçado por ten-
ram “lugar” e “paisagem” (Bender 1995, Erikson dências maiores na Ciência que estão prestes a
2001, Hirsch e O’Hanlon 1995, Holtzman 2004, reduzir a importância das duas áreas de intercâm-
Lowe e McDonogh 2001, Morphy 1995). Em bio entre a Geografia e a Antropologia: ambiente
conseqüência, o intercâmbio envolve hoje a An- e cultura. O paradigma empirista da Ecologia Po-
tropologia Física, a Antropologia Social, a Geo- lítica já existe há mais de quinze anos e o sintagma
grafia Humana e a Geografia Física, e não somente crítico do Pós-Modernismo, há mais de vinte anos
a Antropologia Cultural e a Geografia Cultural, e ambos estão em processo de substituição por ou-
como no passado. Na verdade, trata-se de uma tra “onda” intelectual mais recente, o Neo-Darwi-
convergência muito mais ampla do que aquela entre nismo, de cunho racionalista, que não somente se-
a Antropologia e a Geografia: o Pós-Modernismo para as duas disciplinas novamente, mas também
e a Ecologia Política. Há décadas não se vê inter- ameaça o espaço disciplinar de ambas (Figura 1).

FIGURA 1 – CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA ENTRE GEOGRAFIA E ANTROPOLOGIA NAS LONGAS ONDAS DO


PENSAMENTO CIENTÍFICO APÓS 1850.

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Esta mudança em direção a um paradigma raci- em termos da abrangência disciplinar dos tópicos
onalista não é nova e se repete a cada quarenta a explorados em comum e do número de especialis-
cinqüenta anos quando a ênfase em diversidade tas de cada disciplina que interagem entre si.
ambiental e cultural no mundo cede lugar a visões Assim sendo, desde o século XIX, em diferentes
deterministas que geralmente afastam a Geografia momentos, o relacionamento entre geógrafos e
da Antropologia. Assim sendo, o objetivo aqui é antropólogos tem sido de três maneiras: 1) colabo-
analisar um longo e instável relacionamento entre ração, envolvendo grande número de geógrafos e
as duas disciplinas que é caracterizado ora por atra- antropólogos, incluindo alguns dos mais renoma-
ção, ora por repulsão e ora por indiferença mútua. dos de sua época, em torno de conceitos e abor-
Para responder porque há convergência entre as dagens em comum, 2) embate, envolvendo o con-
duas disciplinas em certas épocas e divergência flito direto de posições teóricas contrárias, geral-
em outras é preciso contexualizar ambas nas Ci- mente de linhas de pensamento que se sucedem
ências Sociais, senão na Filosofia da Ciência. no tempo e 3) indiferença, envolvendo o desinteres-
se mútuo de ambas partes, por explorarem proje-
COLABORAÇÃO, EMBATE, INDIFERENÇA: QUANDO E tos intelectuais divergentes com pouco em comum.
POR QUÊ? ________________________________ Normalmente quando geógrafos refletem so-
Como mostra Ellen (1988), em grande deta- bre o relacionamento de sua disciplina com as
lhe, existe uma longa história de colaboração en- demais, utilizam um modelo conceitual da di-
tre antropólogos e geógrafos, não somente na área visão do trabalho científico que surgiu com a
de “cultura”, mas também em trabalhos conjuntos Nova Geografia Quantitativa. O esquema de
sobre “ambiente” e “desenvolvimento”, entre ou- segementação do fenômeno humano entre as
tros pontos de interface mais especializados. Con- Ciências Sociais de Abler, Adams e Gould é
tudo, o grau de intercâmbio tem variado muito típico (Figura 2). Uma visão da Geografia

FIGURA 2 – A DIVISÃO MODERNISTA DO TRABALHO CIENTÍFICO.

Adaptada de: Abler, Adams e Gould (1973, p.55).

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como uma ciência racionalista, composta de temporal. Dessa forma, o trabalho intelectual
numerosas especializações, cada uma podendo das diferentes Ciências Sociais, em diferentes
ter relações distintas de intercâmbio com as momentos, pode ser visualizado como combi-
demais disciplinas, mas não de forma generali- nações específicas de elementos dos três esco-
zada, se deu dentro do paradigma científico pos epistemológicos - espacial, cultural e tem-
modernista do Estruturalismo. Como coloca poral - mapeados em espaço intelectual tri-di-
Taylor (1985, p.102), “[naquele momento] os mensional, mostrando o ponto de interseção nos
geógrafos foram arrastados berrando e esper- três eixos onde se localiza cada disciplina pe-
neando para a cientificidade do século XX” que rante outras, a partir do qual pode haver maior
na opinião de Simmons e Cox (1985) fez com ou menor interesse em comum (Figura 3).
que a Geografia deixasse de ser a disciplina Tradicionalmente, a Geografia, a Antropolo-
holística de Hartshorne e Sauer. Do holismo gia e a História estudaram de forma holística os
da Geografia Cultural e da Geografia Regional eixos de escopo epistemológico espacial, cultural
a disciplina partiu para o determinismo econô- e temporal respectivamente. Ao mesmo tempo,
mico na Geografia Humana e para geomorfolo- as outras Ciências Sociais sistemáticas estudam sua
gia reducionista na Geografia Física, abrindo um especialidade (no eixo cultural), abordando com
enorme distanciamento entre a Geografia e a menor detalhe processos espaciais e temporais em
Antropologia, por um lado, e entre a Geografia fases racionalistas, caracterizadas por prescrição
Humana e a Geografia Física por outro. universal do padrão observado no centro para o
A visão especializada da Ciência do Estrutura- resto do mundo, e com maior atenção em fases
lismo foi duramente criticada por todas as tendên- críticas-fenomenológicas, marcadas pelo particu-
cias teóricas posteriores por ter dividido fenôme- larismo espacial e temporal num mundo conside-
nos sociais “artificialmente” entre disciplinas, com rado ambientalmente e culturalmente complexo.
métodos e linguagens diferentes, de forma que Com este modelo de escopo epistemológico
nunca se conseguiu rearticular as partes analíticas podemos tentar explicar porque o relacionamen-
numa síntese maior transdisciplinar (Chambers to entre geógrafos e antropólogos passa por mo-
1994, Clifford e Marcus 1986, Frank 1969, Mer- mentos de colaboração, embate e indiferença.
chant 1992, Sperber 1995, Wallerstein 1979). Como as duas disciplinas ocupam eixos de espoco
Além disso, a visão estruturalista do lugar da epistemológico diferentes, de forma geral, só há
Geografia na produção do conhecimento é equi- maior interesse mútuo quando o antropólogo abre
vocada do ponto de vista da Filosofia da Ciên- seus horizontes espaciais além de uma aldeia indí-
cia. A construção teórica espaço não é da mesma gena localizada em lugar remoto ou quando o ge-
ordem de escopo epistemológico que a econo- ógrafo se interessa pela cultura ou ambiente, de
mia, a política ou a cultura. Espaço e cultura são de preferência em escala local. Quando o geógrafo
escopos epistemológicos diferentes como tam- procura modelos deterministas em dimensões es-
bém são as construções teóricas da dimensão pecíficas do eixo cultural, como por exemplo no

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FIGURA 3 – INTERCÂMBIO TRANSDISCIPLINAR ATRAVÉS DE EPISTEMOLOGIAS HOLÍSTICAS VERSUS EPISTEMOLOGIAS
SISTEMÁTICAS

determinismo ecológico-ambiental ou tecno-eco- observado, eles citam fatores do mesmo nível fe-
nômico, há forte embate. Finalmente, quando nomenal. Por exemplo, a fome pode ser explica-
geógrafos estudam escalas espaciais mais amplas, da em termos sócioeconômicos da má distribui-
como por exemplo em grandes regiões ou o mun- ção da renda numa sociedade ou em termos tec-
do, e assuntos de cunho ambiental quase sem a no-ecológicos do uso de sistemas agrícolas inade-
presença do ser humano, como por exemplo na quados. Por outro lado, geógrafos físicos redu-
geomorfologia, há apenas desinteresse mútuo. zem o padrão observado de fenômenos sociais à
Relacionadas a estas questões, e dificultando interação de seus componentes em outro plano
ainda mais a possibilidade de interação entre as fenomenal “abaixo”, tido como mais “básico”. Por
duas disciplinas, estão problemas de natureza on- exemplo, a fertilidade do solo é explicada em ter-
tológica e metodológica. Simmons e Cox (1985) mos de interações químicas. Para estes autores,
retrataram bem estes problemas do ponto de visto escrevendo em 1985, a resolução do impasse on-
interno à Geografia (Figura 4). Estes autores mos- tológico e metodológico entre a Geografia Física
tram que durante o século XX surgiu forte divisão e Humana seria na adoção de uma abordagem ho-
metodológica entre geógrafos humanos e físicos. lística, que não seria determinista nem reducio-
Os primeiros inter-relacionam diferentes tipos de nista, ou seja, uma solução epistemológica próxi-
informações sociais num mesmo plano fenomenal de ma à abordagem da Ecologia Política que despon-
forma que quando buscam as causas para o padrão tava naquele momento.

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FIGURA 4 – REDUCIONISMO VERSUS HOLISMO NA CIÊNCIA.

Adaptada de: Simmons e Cox (1985).

Contudo, a Ecologia Política não foi o caminho A Antropologia tradicionalmente resolveu a


seguido pela maioria dos geógrafos após 1985. Na questão da subjetividade do observador-observa-
maneira que o Pós-Modernismo se firmou na Geo- do através do estudo prolongado de “outras cultu-
grafia Humana, abordagens culturais se tornaram cada ras”. Para o antropólogo, oriundo de uma socie-
vez mais comuns, provocando um verdadeiro “apar- dade urbano-industrial, a vida do “primitivo” estu-
theid” metodológico na disciplina. Como vimos dado era tão diferente de sua sociedade de ori-
acima, o holismo tradicional da disciplina já tinha gem que ele (ou ela) não se envolvia num nível
sido aleijado pela especialização que ocorreu duran- tão pessoal ao ponto de afetar sua objetividade
te a fase do Estruturalismo, mas, apesar disso, naque- científica. Ao mesmo tempo, para a população
le momento, a maioria dos geógrafos compartilha- local, o antropólogo não pertencia à sua cultura,
ram uma mesma metodologia quantitativa e crença nem a suas intrigas pessoais, de forma que os “in-
na objetividade científica. Estas posições foram pro- formantes” não só explicavam pacientemente seus
gressivamente desacreditadas pelas correntes críti- costumes ao estranho como também faziam confi-
cas posteriores ao Estruturalismo nas Ciências Soci- dências e reclamações sobre o comportamento dos
ais enquanto isso não ocorreu de forma tão radical outros membros de sua sociedade. Acreditava-se
nas Ciências Naturais e Físicas. Na Geografia Hu- que o status de estranho residente, complementa-
mana atual, como em todas as Ciências Humanas, há do por observação própria, permitia o antropólo-
forte questionamento ao racionalismo, que, por sua go ir além das idealizações de como se devia com-
vez, remete a antigos e recentes debates na Antro- portar alcançando o comportamento real da po-
pologia sobre o dilema do cientista-observador (o pulação estudada. Assim sendo, o antropólogo,
sujeito) ser uma pessoa como também são os indiví- através de longos períodos de trabalho de campo,
duos da sociedade estudada (o objeto de estudo). convivendo com um grupo social, aprendia sua

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lógica cultural e a traduzia para o leitor de sua soci- de do processo de produzir etnografias e da ne-
edade de origem [Beattie 1964, Evans-Pritchard cessidade de controlar e compensar para a subje-
1962, Lévi-Strauss 1969(1962)]. tividade do etnógrafo visando a alcançar uma ob-
Sob o impacto de abordagens críticas marxis- jetividade científica em outro plano (Bourdieu
tas e pós-modernistas, a partir de fins dos anos de 1977, p.1).
1960, levantaram-se inúmeros problemas com esta Contudo, outro problema metodológico mais
visão simplista da pesquisa antropológica. Em pri- intratável surgiu na Antropologia em decorrência
meiro lugar, o que o antropólogo como um estra- das críticas à objetividade, de forma semelhante
nho pode ganhar em objetividade ele perde em ao que ocorreu antes na Geografia. Nos anos de
compreensão. O modo de vida é tão diferente do 1980 abriu-se uma divisa epistemológica entre a
seu que o antropólogo alcança apenas um nível Antropologia Cultural e a Antropologia Física. A
superficial de proficiência cultural. Este proble- Antropologia Física não só se manteve fiel ao
ma foi solucionado parcialmente em décadas re- modelo modernista da Ciência como abraçou no-
centes através da formação de “nativos não-oci- vas tecnologias de precisão quantitativa e expli-
dentais” como antropólogos e pelo crescente in- cações reducionistas das Ciências Naturais, ten-
teresse de antropólogos de países pós-industriais dência epistemológica no sentido contrário à mai-
na sua própria sociedade. Isso também resolve oria dos antropólogos culturais. Como ocorreu
outro problema histórico do antropólogo ser um na Geografia, rompeu o holismo tradicional da
representante ou mesmo colaborador do imperia- disciplina a ponto de dividir departamentos e de
lismo europeu. Por outro lado, formar antropólo- extinguir disciplinas comuns a toda a Antropolo-
gos para estudar sua própria cultura não resolve gia (Holloway 2002, Moore 2004). Assim sen-
necessariamente a questão de origem de classe do, durante a última fase crítica das Ciências Soci-
social do cientista e seus preconceitos perante uma ais, houve forte convergência de interesses entre
população de outra classe social que vive em áreas Geografia Cultural-Humana e a Antropologia Cul-
ou regiões diferentes da sua. Uma alternativa pro- tural-Social em torno do estudo de cultura e do
posta é de complementar ou mesmo substituir o uso de métodos etnográficos, mas em detrimento
narrativo unifocal do cientista por narrativos poli- da união interna das duas ciências. Ficou eviden-
sêmicos, dando voz à população local (Clifford te, nos anos de 1990, que essa tendência enfra-
1986, Geertz 1973, Hymes 1969). Assim sendo, queceu a Geografia e a Antropologia na sua capa-
houve amplos debates sobre como etnografias cidade de tirar melhor proveito de novas oportu-
podiam melhor retratar a diversidade cultural do nidades que surgiram na área ambiental bem como
mundo, mas apesar de todos os problemas episte- na sua capacidade para combater o emergente
mológicos apontados, não se abandonou comple- determinismo genético-psicológico no Neo-Da-
tamente a objetividade para mergulhar no relati- rwinismo.
vismo subjetivo e nem no narcismo antropológi- Assim sendo, analisando a interação entre ge-
co. Pelo contrário, destacaram-se a complexida- ógrafos e antropólogos através do tempo, deve-

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mos esperar que haja maior convergência de inte- processo de crescimento orgânico, passando do
resses e, portanto, colaboração durante fases críti- estágio da “infância” à “adolescência” e, finalmen-
cas/não-modernistas do pensamento científico. te, à “maturidade” cultural. Assim sendo, “caçado-
Nessas fases são enfatizadas diversidade cultural e res selvagens” são encarados como crianças que
ambiental no mundo e epistemologias baseadas em permaneceram num estágio próximo aos animais,
modelos fenomenológicos, envolvendo interação com pouca modificação cultural, desde o surgi-
perceptiva entre o sujeito e o objeto que necessi- mento dos primeiros homens na face da terra, ten-
tam de metodologias mais qualitativas, senão et- do, assim, muito pouca capacidade intelectual. No
nográficas. estágio seguinte, os “bárbaros”, praticando agro-
pecuária rudimentar e tendo atingido um certo
CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA HISTÓRICA ENTRE A grau de avanço cultural, chegaram à fase da ado-
GEOGRAFIA E A ANTROPOLOGIA _________________ lescência. Os “civilizados” europeus, por sua vez,
foram os que desenvolveram uma alta cultura ma-
Evolução Biosocial dura, baseada na vida urbano-industrial [Darwin,
Na segunda metade do século XIX, a Geografia 1952(1859, 1870), Morgan 1969(1870), Tylor
e a Antropologia surgiram como áreas científicas 1970(1871), 1888].
produzindo análises especializadas sobre diferen- Tendo alcançado a maturidade, cabia aos “civi-
tes partes do mundo que eram relativamente mais lizados” europeus (e talvez norte-americanos) li-
aprofundadas e comparativas de que os relatos de derar ou mesmo substituir os povos menos evolu-
viajantes e naturalistas. Este processo se deu den- ídos, justificando, dessa forma, o racismo e o pro-
tro do paradigma multidisciplinar do Evoluciona- jeto imperial da época. Dentro da divisão do tra-
lismo Biosocial, envolvendo pioneiros das Ciên- balho científico emergente, as Ciências Sociais
cias Naturais e Humanas, como Compte, Darwin, Sistemáticas analisavam a sociedade da metrópole
Maine, Morgan, Spencer, Tylor e Wallace, e, ten- enquanto a Geografia e a Antropologia desempe-
do como proponentes na Geografia, Bryce, Hun- nharam papéis complementares, mas não necessa-
tington, Semple e Taylor. riamente inter-relacionados, no imperialismo do
Buscando nas “Ciências Inorgânicas” uma epis- além-mar.
temologia racionalista, postularam um modelo A Geografia explicava em termos climáticos
universal de leis de seleção natural e social que porque os europeus e seus descendentes, vivendo
regram a evolução da vida terrestre, incluindo a em zonas temperadas, eram superiores às outras
história da humanidade dentre a história da natu- raças do mundo (Figura 5) e quais eram as estraté-
reza, mas dominante a ela. Admite-se que o com- gias para explorar as regiões do mundo não-pro-
portamento social e a capacidade fisiológica do pícias para colonização européia direta (Figura
homem evoluem juntos, num mesmo ritmo, de 6)(Crush 1994, Heffernan 1994, Livingston 1994,
forma gradativa, acumulativa e progressiva. É um Soubeyran 1994).

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Ao mesmo tempo, antropólogos, principalmen- Embora compartilhassem do mesmo paradig-
te britânicos e franceses, começaram a atuar em ma científico e tivesse nascido como ciências im-
suas colônias, conhecendo os hábitos das popula- periais, havia pouco intercâmbio direto entre ge-
ções locais para poder evitar conflitos e regimen- ografia e antropologia que se explica pela forte
tar a força de mão-de-obra local para a extração componente ambiental na Geografia da época. A
de matéria prima para a metrópole. Em papel se- dimensão ambiental era praticamente ausente na
melhante, internamente aos Estados Unidos, os Antropologia e a atitude perante aos geógrafos
primeiros antropólogos americanos atuaram junto passou da indiferença ao embate nos anos de 1920
à população indígena na fase final da expropria- quando a publicação de The Character of Races de
ção de suas área para dar lugar a atividades agríco- Huntington foi recebida com frieza e hostilida-
las e mineradoras (Harris 1968, Stocking 1968, de respectivamente por Boas e Kroeber (Livin-
Wolf 1982). gston 1994).

FIGURA 5 – MAPEAMENTO DA SUPERIORIDADE EUROPÉIA, 1924

A – intelectuais eminentes por 10.000 habitantes, B – saúde, C – nível de civilização, D – energia


climática.
Fonte: Huntington in Livingston (1994, p.142).

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FIGURA 6 – ESTRATÉGIA IMPERIAL NA ÁFRICA VISTA PELO DETERMINISMO AMBIENTAL, 1905.

Fonte: Johnston in Binns (1994, p.52)

Marxismo Clássico mudança cultural unilinear. Entretanto, no Mar-


Da segunda metade do século XIX ao início do xismo Clássico, sustenta-se que o ritmo da evolu-
século XX, o Marxismo Clássico foi paradigma crí- ção humana apresenta momentos de mudanças
tico alternativo ao Evolucionismo Biosocial e com- bruscas na passagem de um estágio a outro através
partilhou com este alguns conceitos. Marx, En- de revoluções seguidas pela conseqüente substi-
gels, Kautsky e Lênin seguem o pensamento evo- tuição de instituições sociais e ideologias do modo
lucionista de sua época, porém, de natureza estri- de produção anterior pelas do estágio superior
tamente social e sem considerações bio-ambien- atingido [Engels 1972 (1880), 1972 (1884), Marx
tais. Propõem um modelo de vários estágios pré- 1967 (1867-94), Marx e Engels 1952 (1848)].
capitalistas históricos, dos caçadores e pescadores Apesar da importância posterior, esta linha
aos sistemas agrários feudais, que, eventualmente, de pensamento evolucionista radical teve pou-
podiam ser pulados através da colonização euro- ca influência direta nas disciplinas emergentes
péia, esta no estágio do capitalismo industrial. Para da Geografia e da Antropologia, mesma tendo
se alcançar o estágio mais avançado, o do socialis- significativa influência no Marxismo. Em par-
mo, seria imprescindível passar pelo capitalismo ticular, Marx e Engels incorporaram as idéias
industrial, seguindo, portanto, um modelo de de Morgan para “atualizar” suas esquemas evo-

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lucionistas elaboradas na década de 1840 [En- Difusionismo Cultural
gels 1972(1884), Marx 1971(1844), Marx O Difusionismo Cultural, por sua vez, apresentou
1972(1880-82)]. Também havia forte dimen- um quadro de significativa colaboração entre geógra-
são geográfica nas teorias sobre expansão ca- fos e antropólogos. Esta escola de pensamento cien-
pitalista e imperialismo de Lênin 1971(1916) tífico surgiu nas últimas décadas do século XIX, como
e Bukharin e Luxemburg 1972(1926). Final- alternativa intelectual alemã ao Evolucionismo e ao
mente, as idéias sobre a cultura e a ideologia Funcionalismo de seus rivais imperiais. O contexto
em sociedade capitalista avançada da Escola de de crise econômica e de expansão para as colônias
Frankfurt e de Gramsci do período entre as neste período imprimiu uma ênfase na diversidade
Guerras Mundiais também podiam ter sido de cultural e ambiental do mundo, na agência de proces-
grande relevância à Geografia e à Antropolo- sos espaciais (em lugar da evolução unilinear) e na
gia da época, mas não teve por razões políti- descrição etnográfica qualitativa (Figura 7).
cas (Jay 1973, Jenks 1993). Num primeiro momento, Ratzel foi o grande
Contudo, não houve influência direta do proponente desta linha de pensamento. Fundou
Marxismo na Geografia e na Antropologia por- a Geografia Humana e a Etnologia na Alemanha,
que estas surgiram para servir e justificar o im- ocupando uma posição semelhante à de seu gran-
perialismo e não para criticá-lo. Também deve de rival Durkheim no Funcionalismo francês. Na
ser lembrado que antes da implementação do obra Völkerkunde, publicada em 1885-88, e, dife-
Estado do Bem Estar nos países capitalistas em rentemente de seus outros trabalhos, rapidamente
meados do século XX, a universidade era re- traduzida para inglês (The History of Mankind: Princi-
cinto da elite social cujo papel era preservar ples of Ethnography, 1896), Ratzel apresenta ambici-
e justificar o status quo e não derrubá-lo. As- osa etnologia espacializada do mundo, ricamente
sim sendo, a reação acadêmica ao marxismo documentada e ilustrada, que se tornou texto bá-
nas duas disciplinas geralmente era contrária: sico na área (Tyler 1896, p.v). Na obra, Ratzel
por razões políticas no Evolucionismo e Fun- oferece uma teoria difusionista alternativa ao Evo-
cionalismo e por razões epistemológicas no lucionismo dominante na Ciência desde os anos
Difusionismo. Somente o Neo-Marxismo do de 1850. O Evolucionismo é criticado por tirar
período pós-1967 teve ressonância maior nas “conclusões precipitadas”, baseadas em “afirmati-
duas disciplinas em contexto universitário e vas prematuras”, pouco “testadas”, sobre a superio-
social bastante diferente (veja Hobsbawn, ridade racial européia, sem a devida atenção à di-
1994, cap. 11). versidade etnográfica no mundo (p.15-17).

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FIGURA 7 - EVOLUÇÃO VERSUS DIFUSÃO COMO MODELOS ALTERNATIVOS DE TRANSFORMAÇÃO CULTURAL

Todavia, os geógrafos da época ignoraram a Ao mesmo tempo que não teve nenhum im-
Völkenkunde e continuem a ignorar a obra até hoje pacto sobre a Geografia, a Völkenkunde serviu de
enquanto as outras obras de maior impacto na grande inspiração para várias gerações de etnólo-
Geografia nunca foram traduzidas de forma satis- gos alemães, tais como Ankermann, Frobenius,
fatória para o inglês ou francês, fazendo com que Graebner e Schmidt, que elaboraram esquemas de
Ratzel seja visto de forma distorcida na Geografia difusão no mundo a partir de complexos e círcu-
através do determinismo ambiental evolucionista los culturais (kulturkreis), identificando quatro tipos
de Semple ou pela posterior geopolítica nazista de complexos: 1) caçadores, 2) caçadores avan-
(Bassin 2004, Sanguin 2004). Há muito, Hartshor- çados, pastores e agricultores, 3) agricultores se-
ne também fez observação semelhante a respeito dentários e 4) alta civilização [Harris, 1968; Pen-
da leitura equivocada de Semple e Huntington niman, 1965(1935)]. Na verdade, apesar do em-
sobre as obras de Ratzel (Hartshorne 1939). bate entre Tyler e Ratzel, que representaram res-

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pectivamente sucessivas abordagens teóricas con- dos Unidos por Franz Boas, geógrafo físico ale-
flitantes, o Difusionismo alemão pode ser consi- mão, que, rejeitando os princípios do determinis-
derado uma extensão espacial do Evolucionismo mo ambiental, tornou-se antropólogo cultural,
uma vez que tenta explicar como inovações tec- disseminando suas idéias entre intelectuais norte-
nológicas e sociais disseminadas entre povos que americanos. Na Universidade da Califórnia, em
aceleram o ritmo da evolução cultural. Assim sen- Berkeley, formou-se o principal centro do Difusi-
do, mesmo se Hartshorne (1939) e Sanguin (2004) onismo Cultural nos Estados Unidos, promovido
são da opinião que Ratzel fundou a Geografia Cul- por seus discípulos Kroeber e Lowie e em intenso
tural-Humana, seu lado etnográfico serviu mais para intercâmbio com Sauer, também influenciado pelo
inspirar antropólogos do que geógrafos, fato este pensamento geográfico e filosófico alemão.
que se repete em outros momentos de colabora- No período de crise de 1914 a 1945, antropó-
ção entre as duas disciplinas quando da passagem logos e geógrafos desenvolveram uma linha difu-
de sintagmas particularistas para paradigmas uni- sionista idiográfica e particularista, tomando uma
versalistas na Ciência. visão holística de cultura como base teórica para
Além disso, o contexto político da prática cien- travar uma implacável crítica ao determinismo
tífica mudou radicalmente na Alemanha durante o ambiental, econômico e bio-racial do Evolucio-
século XX. Se, por um lado, a Geografia e a Etno- nismo e ao determinismo orgânico-social do Fun-
logia Alemã receberam grande estímulo pelo pro- cionalismo. Para eles, cada cultura possui uma
cesso de unificação nacional em 1870 e pelo sub- configuração específica e, portanto, é única. Po-
seqüente impulso imperialista para o além-mar, uma vos vizinhos podem compartilhar elementos cul-
série de golpes no século XX cortou seu desenvol- turais em comum em função de um processo imi-
vimento. Com a derrota na Primeira Guerra, a Ale- tativo e de contato que se desenrola através do
manha perdeu suas poucas colônias e assim o impé- tempo. Os novos elementos adotados são adicio-
rio como objeto de estudo das duas disciplinas. Em nados de forma aleatória ao tecido social, expres-
seguida, os geógrafos alemães passam longo perío- sando uma paisagem cultural, que por sua vez é
do afastado da União Geográfica Internacional em construída em cima de uma paisagem natural que
retaliação ao seu papel na Primeira Guerra. O gol- pode influenciar mas não determinar a paisagem
pe final é a ascensão nazista que quase destrói a cultural. A cultura, assim tratada, não é um corpo
Ciência no país (Hobsbawn 1994, Sandner e Rös- social orgânico composto por partes integradas
sler 1994, Taylor 1985). Hoje a Geografia e a como nos modelos evolucionistas e funcionalistas
Antropologia na Alemanha são uma sombra de que [Kroeber 1962(1922/1948), Lowie 1970(1920),
eram no passado e do que são estas disciplinas nos Sauer 1963(1925)].
Estados Unidos, na França e na Inglaterra, países A visão particularista limita as generalizações
cujos projetos imperiais tiveram maior sucesso. de processos espaciais e temporais. No máximo,
Antes da débâcle alemã do século XX, contudo, foram delineadas “áreas culturais”, com povos de
o pensamento difusionista foi levado para os Esta- estilos de vida semelhantes que são estudados com

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base da história local de grande profundidade tem- e o relacionamento entre regiões no mundo. Há
poral. Conseqüentemente, o conhecimento da revisão do modelo orgânico da sociedade do Evo-
história universal e de complexos culturais de gran- lucionismo, mas mantém-se sua função política
de extensão geográfica estão fora de cogitação, como justificativa da estrutura de classe em “socie-
como também o dualismo etnocêntrico que divi- dades complexas” (industriais) como também o
de o mundo em sociedades tradicionais simples e domínio dessas das “sociedades simples” (não-oci-
sociedades modernas complexas [Boas 1966(1887- dentais) [Durkheim 1964 (1893)]. Introduzem-
1939), Kroeber 1952(1901-1951) Lowie se descrições quantitativas, utilizando a matemá-
1970(1920)]. tica e a estatística dentro das possibilidades de sua
Após 1940, a escola difusionista perde força, aplicação, na época, aos fenômenos sociais [Du-
cedendo lugar ao Funcionalismo Estrutural, e de- rkheim 1964(1895), 1966(1897)].
pois ao Estruturalismo, paradigmas que provêm do Surgiu intenso debate entre Durkheim e Rat-
Funcionalismo francês de Durkheim e la Blache. zel na L’Année sociologique, no fim da década de
A Geografia perde sua dimensão histórica, quase 1890, que deixa clara a rejeição à influência do
que elimina questões ambientais e progressivamen- ambiente e da constituição biológica na vida
te elimina a descrição etnográfica em favor da humana em favor do determinismo social que
quantificação analítica, o que afasta a disciplina da marcará quase todo o século XX (Figura 8). As
Antropologia que se mantém fiel ao holismo cul- resenhas críticas do Durkheim às obras Anthro-
tural até a década de 1980. pogeographie, Politische Geographie, Der Staat und sein
Boden geographisch beobachtet, Das Meer als Quelle der
Funcionalismo Evolucionista e Estático Voelkergroesse e Der Urspring und die Wanderungen der
Contemporâneo ao Difusionismo, o Funciona- Voelker geographisch betrachter (mas curiosamente não
lismo data do fim do século XIX, retomando, ex- a Völkerkunde) provocaram uma resposta do Rat-
plicitamente, um paradigma modernista nas Ciên- zel na qual ele propõe um modelo de múltiplas
cias Naturais e Humanas. Cientistas sociais como influências na sociedade, inclusive a do ambi-
Durkheim, Freud, Marshall, Mauss e Weber, e so- ente. Isso é rejeitado por Durkheim que insiste
bressaindo na Geografia Vidal de la Blache e De- na primazia da “consciência coletiva”, da “mor-
mangeon, utilizaram-se modelos evolutivos, mas fologia social” e da “sociedade” no comporta-
de forma mais implícita do que explícita, para ex- mento de indivíduos (Durkheim 1896-97, 1897-
plicar a estrutura da sociedade industrial européia 8, 1998-99, 1900, Ratzel 1898-99).

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FIGURA 8 – DETERMINISMO SÓCIOCULTURAL VERSUS REDUCIONISMO.

Maior dissociação do Evolucionismo e do foi rompido após 1945. Forde (1925) começou
Difusionismo ocorre com o abandono de aná- sua carreira como geógrafo humano seguidor de
lises diacrônicas, estabelecendo-se o Funcio- Vidal de la Blache, mas, em função de seu trata-
nalismo Estático de Boeke, Fevre, Malinowski mento etnográfico de povos não-ocidentais [For-
e Radcliffe-Brown, e dos geógrafos Barrows, de 1963(1934), Forde e Kaberry 1967, Radcli-
Gautier, Gourou e Robequain. Enfatizam-se os ffe-Brown e Forde 1950) no pós-guerra, ele acaba
estudos sincrônicos de relações entre institui- no Departamento de Antropologia Social da Lon-
ções sociais, num determinado momento e em don School of Economics, junto com o econo-
lugares específicos, deixando de lado proces- mista Raymond Firth que também fez migração
sos históricos que produziram a realidade sen- disciplinar semelhante em função de seus interes-
do estudada. Atuantes durante o auge do sis- se nas economias de povos “primitivos”. Os dois
tema colonial, nos anos de 1920 e 1930, pro- casos mostram como a forte divisão do trabalho
moveram um grande número de estudos de ca- científico emergindo não somente cortou o inter-
sos em diferentes regiões do mundo, procuran- câmbio entre a Geografia e a Antropologia, mas
do-se entender melhor as sociedades nativas, a também obrigou indivíduos a se encaixar nos seus
fim de fornecer subsídios para uma administra- devidos lugares institucionais. No estilo, a maior
ção colonial e apartheid social mais racional obra de Forde, Habitat, Economy and Society, lembra
(Radcliffe-Brown 1950, Soubeyran 1994, Tho- muito à Völkerkunde de Ratzel, estilo que em fase
mas 1994, Shapera 1948). modernista mais uma vez é empurrado para a An-
A migração disciplinar de C. Daryll Forde tropologia porque tratam-se de povos irrelevan-
exemplifica bem o intenso intercâmbio entre ge- tes no cenário mundial, de forma “descritiva”, pou-
ógrafos e antropólogos deste período e como isso co “científica”.

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Funcionalismo Estrutural e Estruturalismo ma racionalista no qual o fenômeno empírico ob-
O Funcionalismo Estrutural teve como repre- servado é produto de uma combinação de limita-
sentantes Fortes, Lewis, Merton, Myint, Parsons, do número de princípios abstratos, envolvendo
Radcliffe-Brown e Rostow, e, na Geografia, sistemas de forças e estruturas profundas, ocultos
Hartshorne e George, que realizaram um aprimo- aos membros da sociedade.
ramento conceitual do Funcionalismo. Nesse pa- Como no Funcionalismo Estrutural, há ênfase
radigma empiricista, o fenômeno observado, se- no estudo da inter-relação de fatores, porém, ago-
jam atividades econômicas, padrões regionais ou ra, analisa-se o relacionamento estrutural de dife-
instituições sociais, é considerado o resultado de rentes campos de relações, “as relações entre rela-
fatores abstratos e estes tornam-se o foco da in- ções”. Advoga-se uma metodologia positivista
vestigação científica. Inicialmente, houve ênfase matemático-quantitativa na descrição e classifica-
em processos sincrônicos, envolvendo a inter-re- ção de fenômenos sociais e na formulação de hi-
lação dos fatores identificados, porém, a dimen- póteses de correlação de forças, aplicadas a mo-
são temporal foi retomada na formulação de esque- delos de naturezas das mais variadas, tanto aos de
mas evolucionistas, fundamentando a passagem da trocas econômicas intersetoriais, quanto às análi-
sociedade agrária tradicional para a sociedade in- ses cosmológicas de mitologia primitiva [Gregory
dustrial moderna. Entretanto, admitia-se a coexis- 1978, Lévi-Strauss 1963(1958), 1972(1969), Pi-
tência destas sociedades num mesmo espaço e tem- aget 1971(1968)].
po de forma dualista nas colônias e ex-colônias. Abre nitidamente uma divisão do Estruturalis-
Ao contrário do período anterior, marcado por mo em três correntes – a biofísical, a tecno-eco-
expressiva colaboração entre geógrafos e antro- nômica e a humanista – cada uma com bases meto-
pólogos, na maneira que firmava cada vez mais na dológicas distintas mesma se compartilharam uma
Geografia o determinismo econômico e a ênfase mesma linguagem teórica. A corrente biofísica,
no estudo de sociedades urbano-industrais ou da baseada no reducionismo, atraiu os geógrafos e
modernização de sociedades tradicionais, por um antropólogos físicos, a tecno-econômica; baseada
lado, e o estudo de sociedades tribais e secundari- no determinismo congregou a grande maioria dos
amente camponesas na Antropologia, por outro, geógrafos humanos, e a humanista, baseada no
houve progressivo distanciamento de interesses determinismo cultural, atraiu a maioria dos antro-
entre ambas partes. pólogos sociais e culturais.
O Estruturalismo surgiu do trajeto do Funcio- Havia um pequeno grupo de antropólogos que
nalismo Estrutural, procurando um maior rigor fi- aderiram ao determinismo tecno-econômico,
losófico e metodológico de seus conceitos bási- como Harris (1968), Steward (1955) e White
cos. Teve como seus representantes von Butter- (1959) que também tinham interesse no ambien-
fly, Chomsky, Hirschman, Lévi-Strauss, Leontief te embora sua especialização em povos primitivos
e Piaget, e, na Geografia, Berry, Friedmann, Ha- limitassem a possibilidade de intercâmbio com
ggett e Harvey. O Estruturalismo foi um paradig- geógrafos. Mais comum foi a colaboração em ques-

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tões sobre “desenvolvimento”, que cada vez mais regiões, ora substituição em outras, de acordo com
interessavam antropólogos trabalhando com po- interesses imediatos mutáveis no tempo [Frank
pulações camponesas, mas, inevitavelmente, ha- 1967, Godelier 1977(1973), Meillassoux
via embate sobre o etnocentrismo do significado 1981(1975), Wallerstein 1979, Wolf 1982]. Rein-
do conceito de desenvolvimento (Geertz 1963, sere, assim, uma dimensão histórica nas análises,
1973). Uma importante exceção foi a interação geralmente a partir do surgimento do capitalis-
na área de ecologia cultural entre geógrafos e an- mo, e também uma ampla dimensão espacial, abran-
tropólogos australianos e americanos trabalhando gendo processos mundiais, regionais e locais.
na Oceania. Destaca-se o papel central de Ha- Dentro de uma abordagem socioespacial crí-
rold Brookfield nesta interação que depois será uns tica de um sistema mundial composto de regiões
dos fundadores da Ecologia Política (tratado abai- e classes sociais desiguais, foram duramente cri-
xo). Além disso, havia alguns geógrafos, como ticados os conceitos de cultura e de sociedade
Tuan (1974, 1977), que exploravam o Estrutura- da Antropologia e da Sociologia. Alega-se que
lismo Humanista de influência antropológica, mas estes conceitos criam uma falsa imagem de con-
eram rariedades na era da Nova Geografia Quanti- juntos de povos existindo apartes e isolados his-
tativa e da Geografia Crítica Marxista (Gregory toricamente como também ignoram a desigual-
1978). Mais raro ainda eram antropólogos inte- dade interna às sociedades. Para marxistas há di-
ressados em abordagens geográficas sobre espa- ferentes “formações sociais” no mundo, cada uma
ço, como por exemplo Smith (1976). composta de diferentes classes ou segmentos so-
ciais com padrões de vida desiguais, expressando
Neo-Marxismo a complexidade histórica da sua inserção no capi-
O Neo-Marxismo, com seus representantes talismo mundial (Frank 1967, Wallerstein 1979,
Althusser, Amin, Foster-Carter, Frank, Rey, Wal- Wolf 1982).
lerstein e Wolf, e na Geografia Harvey, Peet, Soja Esta clássica ênfase durante as fases da Ciência,
e Taylor, foi, ao mesmo tempo, modernista e anti- crítica em diversidade e na interrelação de países
modernista. Com suas bases modernistas, seguiu centrais e periféricos, rompeu as barreiras disci-
um modelo global de centro-periferia no qual as plinares de forma que permitiu, senão colabora-
leis de acumulação de capital determinavam a do- ção, pelos menos tolerância e interesse mútuo
minação do sistema mundial pelos países capitalis- entre a Geografia e a Antropologia. Só não foi
tas avançados. Por outro lado, sustentava que a maior o intercâmbio por causa da grande ênfase
história não se repete em estágios evolutivos, ha- em estudos urbanos contextualizados em estrutu-
vendo uma grande variação temporal e espacial ras globais na Geografia (Harvey 1973, 1985,
nos modos ou formas de produção gerados no Armstrong e McGee 1985, Taylor 1989). Na
mundo pela expansão e penetração desigual do Antropologia eram mais comuns estudos da inser-
capitalismo, processo este que envolve, ora alian- ção de populações periféricas-rurais no sistema
ça de modos de produção diferentes em certas capitalista e a Antropologia Urbana estava apenas

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se iniciando e com forte enfoque local (Gutkind pós-modernistas, como Foucault, Baudrillard, Cli-
1974, Hannerz 1980). fford, Deleuze, Derrida, Lash, Lyotard e Marcus,
Até 1980, o Neo-Marxismo focalizou mais as e, na Geografia, Cosgrove, Daniels, Duncan e
questões tecno-econômicas e políticas, praticamen- Gregory, criticaram o determinismo econômico
te, deixando de lado a cultura e ideologia, consi- dominante nas Ciências Sociais por longa data e
derada, semelhante ao Estruturalismo, mera supe- retomaram a dimensão cultural em si mesma a par-
restrutura dependente. A cultura assume maior im- tir de uma visão fortemente particularista. Embora
portância quando são retomados os antigos traba- hoje sendo um tanto ultrapassado conceitualmen-
lhos dos marxistas culturais da Escola de Frankfurt e te, o Pós-Modernismo permanece como base dos
de Gramsci. Destaca-se a importância do controle atuais “Estudos Culturais” e da “Teoria Cultural”.
do “capital cultural” na educação universal, na mí- No Pós-Modernismo, paradigmas modernis-
dia em massa e nos sistemas ideológicos que pode tas, como o Estruturalismo e o Marxismo, são cri-
ser tão poderoso quanto a propriedade dos meios ticados por serem deterministas e racionalistas,
tecnológicos de produção [Althusser 1971(1969), tratando o fenômeno observado como mero si-
Bourdieu 1978(1973), Jenks 1993]. O surgimento nal de uma “significância oculta”, condicionado
de um Marxismo Cultural faz com que cresça o in- por “estruturas profundas”. Questionam a redu-
teresse em cultura na Geografia e em paisagens ur- ção de cultura aos desejos inconscientes freudia-
banas na Antropologia promovendo maior inter- nos, à gramática da mente humana ou às leis do
câmbio entre ambas. Cosgrove em particular abriu movimento de capital. Para o Pós-Modernismo,
uma linha de contato direito sobre o estudo de pai- o fenômeno é um “texto” de elementos “justapo-
sagens, num primeiro momento ainda no Marxis- sicionados” numa “superfície” em mutação contí-
mo Cultural quando relaciona formação social à pai- nua e para o qual há uma infinidade de interpre-
sagem simbólica (1984) e depois quando passa para tações individuais, que, por sua vez, podem ser
o Pós-Modernismo (1989, 1995). Na interação alteradas em fluxos constantes (Lash 1990, Lyo-
entre geógrafos e antropólogos na passagem de uma tard 1979, Rose 1991).
abordagem teórica para outra, Cosgrove ocupa uma Destaca-se a cultura como conceito base, mas
posição semelhante à de Brookfield para a passa- agora com um sentido cognitivo, de visão do
gem do Estruturalismo Econômico à Ecologia Polí- mundo. Desenvolvendo a idéia marxista da di-
tica dando origem à grande colaboração que existe ferenciação ideológica segundo classe social, o
hoje entre as duas disciplinas. Pós-Modernismo acrescenta uma multiplicida-
de de visões de mundo, de acordo com critéri-
CONVERGÊNCIA CONTEMPORÂNEA _______________ os de gênero, etnicidade, grupo etário e região,
que imprimem diferentes significados ao meio
Pós-Estruturalismo e Pós-Modernismo: Diversidade Cultural vivido, criando enorme diversidade de paisa-
Começando nos anos de 1970, mas ganhando gens culturais, cada uma com um simbolismo
maior força a partir de 1980, pós-estruturalistas e próprio (Figura 9).

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FIGURA 9 – CULTURA FRAGMENTADA.

Com a extensão de abordagens culturais a quase Ecologia Política: Cultura e Ambiente


todas as áreas de sua disciplina, os geógrafos vol- Em outra frente de colaboração entre a Geo-
tam suas atenções ao eixo epistemológico tradicio- grafia e a Antropologia, sobre questões ecológi-
nal, à Antropologia, num momento quando os an- cas e de desenvolvimento, a Ecologia Política con-
tropólogos travam intensos debates sobre a legiti- figurou-se, após 1985, como um novo paradigma
midade do conceito de cultura e sobre novos mé- nas Ciências Humanas com grande potencial para
todos etnográficos (Clifford e Marcus 1986, Gu- superar a divisão entre elas e as Ciências Biofísi-
deman e Rivera 1989, Kahn 1989, Pálsson 1993, cas. Em sentido contrário da crescente separação
Rabinow 1989, Tyler 1989) que são citados com interna e perda do holismo durante as últimas dé-
freqüência por geógrafos (Crush 1994, Gregory cadas na Geografia e na Antropologia, a Ecologia
1994, Mitchell 2000, Shurmer-Smith 2003, Thrift Política promove a integração interna das duas
2000). Por outro lado, o maior interesse em macro disciplinas, a interação entre elas e ainda o inter-
e micro processos espaciais na Antropologia e nas câmbio com as demais ciências. Após décadas do
outras Ciências Humanas faz com que as obras de particularismo fenomenológico, a Ecologia Polí-
geógrafos como Cosgrove (1984, 1989), Cosgro- tica despontou como um paradigma empirista a
ve e Daniels (1988), Harvey (1989, 1996) e Soja partir da convergência de questões levantadas no
(1989, 1996) sejam incorporadas. Ao mesmo tem- Ambientalismo, no Neo-Marxismo e no Pós-Mo-
po, interpretações geográficas entram em espaços dernismo, tendo como representantes Atkinson,
tradicionalmente antropológicos como o espaço Chambers, Gare, Merchant, Pepper e Redclift, e
doméstico da casa e até o espaço sexual do corpo na Geografia Blaikie, Brookfield, Robbins, Sim-
humano (Tuan 2004) vindo ao encontro da maior mons e Zimmerer.
preocupação de antropólogos em fazer interpreta- Do Ambientalismo, a Ecologia Política incor-
ções mais sistemáticas destes espaços (Carsten e pora a forte preocupação com a degradação do
Hugh-Jones 1995). ambiente natural e seus recursos. Defronta-se com

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críticas à ideologia e visão do mundo urbano-in- Como esta abordagem trabalha de forma deta-
dustrial, que tornam-se base às pressões e ações lhada tanto no eixo espacial quanto no eixo cultu-
políticas de movimentos sociais e entidades não- ral era para esperar grande colaboração entre ge-
governamentais, atuando do nível global ao local. ógrafos e antropólogos que de fato ocorre. Am-
Provém do Neo-Marxismo o método analítico his- bas as disciplinas servem como modelos de pes-
tórico conjugado ao tema dos processos da ex- quisa holística que as disciplinas sistemáticas devi-
pansão e transformação do sistema capitalista em am imitar e não vice versa. Há grande demanda
escala mundial que gera desigualdades sociais e para geógrafos e antropólogos para atuar na área
regionais. Finalmente, do Pós-modernismo tem- ambiental e cultural em projetos e outras ações
se o interesse pela diferenciação cultural interna visando ao desenvolvimento sustentável uma vez
das sociedades e em particular a marginalização que eles conseguem como nenhum especialista das
política e cultural de grupos sociais específicos. ciências sistemáticas integrar informações físicas,
Assim sendo, na Ecologia Política problemas de biológicas e humanas. O futuro não podia parecer
degradação ambiental e de desigualdade social são mais promissor para um rico intercâmbio entre as
vistos como duas faces da mesma questão central duas disciplinas e para a trans-disciplinariedade em
da disputa pelo acesso e controle de recursos geral. Infelizmente, as aparências enganam.
(Atkinson 1991, Merchant 1992, Pepper 1996,
Paulson et. alli. 2003, Robbins 2004, Zimmerer e DIVERGÊNCIA E MARGINALIZAÇÃO NO
Basset 2003). NEO-DARWINISMO __________________________
A conjunção destas questões faz com que a Apesar do grande sucesso alcançado na prática
Ecologia Política se distinga pelo seu forte poder inter-disciplinar na Ecologia Política e no Pós-Mo-
de síntese das críticas sociais e ambientais, geran- dernismo, num nível teórico mais “profundo”, o ad-
do um modelo interativo, desafiando a Ciência à vento da Psicologia Evolucionista nos anos de 1990
integração de suas áreas sistemáticas de investiga- promoveu o rompimento definitivo da barreira en-
ção, um movimento contrário à tendência de es- tre o estudo de fenômenos naturais e culturais que
pecialização disciplinar que data desde fins do sé- dividem as Ciências Biofísicas e Humanas em cam-
culo XIX. Centro de suas características é a preo- pos distintos há quase um século, surgindo novo pa-
cupação em integrar, numa mesma investigação, radigma racionalista trans-disciplinar: o Neo-Darwi-
uma visão holística de modos de vida locais, com- nismo. O advento do Neo-Darwinismo marca a cres-
postas da sinergia das sustentabilidade ecológica, cente hegemonia da Biologia que a partir de seus
econômica, política e sociocultural, mas inseridas avanços teóricos e tecnológicos tornou-se a ciência
em escalas diferentes de análise espacial, decor- paradigmática a ser imitada pelas demais disciplinas
rentes não apenas de considerações metodológi- do conhecimento como acontecia com a Física no
cas de como tratar um problema, mas, também, passado recente (Hobsbawn 1994, Wilson 1998).
visando à ação política de intervenção na socie- No campo do comportamento humano, os neo-
dade (Chambers 1994, Sachs 1989). darwinistas resgatam a tese principal dos etólogos

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dos anos de 1960, aprimorada nos anos de 1970 no. Só alguns, como por exemplo Atkins et. alli.
pelo biólogo Edward Wilson (1974, 1978), de que (1998), Butzer (1964, 1992), Goudie (1981) e Sim-
o comportamento humano é fruto de milhões de mons (1989), mantêm interesse pela evolução hu-
anos de co-evolução biológica-cultural. Ao buscar o elo mana enquanto a maioria de geógrafos deixa este
entre as bases bioquímicas e o comportamento assunto para os antropólogos. Contudo, como vi-
humano observado, dos genes com os “memes” (os mos acima, a Antropologia a partir dos anos de 1980
elementos mais básicos culturais), neo-darwinis- também sofreu uma cisão físico-cultural, fazendo
tas, como Pinker (1997), Plotkin (1993) e Wilson com que novas gerações de antropólogos culturais
(1998), propõem explicações extremamente re- não recebam o treinamento biofísico necessário para
ducionistas que são rejeitadas pela maioria dos ci- mobilizar seus conhecimentos sociais de forma ho-
entistas sociais (veja as coletâneas críticas organi- lística visando a rebater as teses neo-darwinistas
zadas por Aunger 2000 e por Rose e Rose 2001). Existe, entretanto, um importante grupo de
É significante que a Psicologia sirva como elo antropólogos franceses, liderados por Bloch, Boyer
entre as Ciências Biofísicas e Humanas e não a An- e Sperber, que engaja o Neo-Darwinismo de for-
tropologia ou a Geografia, embora sejam estas disci- ma construtiva ao ponto que pode ser considera-
plinas que, historicamente, estudaram a evolução do parte do movimento. Criticam o conceito de
humana física e cultural. Atualmente, a Antropolo- “meme” como elemento mais básico da cultura e
gia e a Geografia seguem epistemologias e teorias propõem no seu lugar outro mecanismo mais com-
culturais contrárias ao reducionismo biológico en- plexo de interação biológica-cultural que se dá ao
quanto a Psicologia, aproxima-se da Biologia episte- nível de indivíduos. Utilizando analogias biomé-
mologicamente e metodologicamente. Na Psicolo- dicas, advogam abertamente uma ciência “natural”
gia empregam-se modelos bio-genéticos reducionis- da cultura e criticam o determinismo cultural de
tas nos quais procura-se generalizar sobre a natureza uma suposta “consciência coletiva”, preferindo um
universal da mente humana a partir do mapeamento modelo comportamental reducionista. As idéias
cerebral de indivíduos no mesmo tempo que a Bio- que compõe a cultura se “propagam” e passam de
logia procura relacionar os mapeamentos do geno- pessoa a pessoa por um processo “epidemiológi-
ma humano ao comportamento de indivíduos (Be- co” (Bloch 2000, Bloch e Sperber 2002, Boyer
nhall 1998, Fish 1997, Mithan 1995, Wilson 1998). 1994, Sperber 1996). Utilizando conceitos e jar-
Para engajar as teses neo-darwinistas é preciso gões biomédicos aparentemente inocentes, estes
ter algum conhecimento da evolução humana. To- antropólogos franceses levam as Ciências Huma-
davia há muito a Geografia Humana deixou de tra- nas ao encontro da Psicologia Evolucionista, que,
tar assuntos que requerem grande profundidade his- por sua vez, faz a ponte para a Sociobiologia.
tórica, fato este já lamentado por Sauer no seu en- Se tratasse de alguns antropólogos que ocu-
saio famoso sobre a Grande Retirada [1963(1941)]. pam uma posição marginal na sua disciplina, a co-
Os geógrafos físicos ainda estudam fenômenos an- laboração com o Neo-Darwinismo podia ser ig-
tigos mas de enfoque mais geológico de que huma- norada. Contudo, Bloch, Boyer e Sperber são

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antropólogos que ocupam posições de destaque DESTINO HISTÓRICO OU ECONOMIA POLÍTICA
ou exercem forte influência nos renomados cen- CULTURAL RADICAL? _________________________
tros de pesquisa da University of Cambridge, da Este trabalho tentou mostrar quando e porque
University of London, do Centre National de la há colaboração entre a Geografia e a Antropolo-
Recherche Scientifique e do Musée de l’Homme. gia em certos momentos enquanto há embate ou
Além disso, deve ser lembrado que praticamente indiferença em outros momentos. Há intensa in-
todas as grandes inovações teóricas nas Ciências teração entre as duas disciplinas quando têm as-
Humanas desde 1890 tiveram sua origem na França. suntos de interesse mútuo estudados através de
Tudo isto, passa longe de qualquer tendência epistemologias semelhantes, há embate quando
teórica ou especialidade geográfica, inclusive da compartilham interesses semelhantes mas episte-
Geografia Médica. Nem resta para a Geografia a mologias diferentes e há indiferença quando os
tarefa de mapear a diversidade genômica no mun- interesses e epistemologias são completamente
do pois até isso os biólogos já domam, ao exem- divergentes. Vimos que a Geografia e a Antropo-
plo de Cavalli-Sforza et. alli. (1994). Assim sendo, logia convergem em momentos de Ciência críti-
se os neo-darwinistas alcançam a Consiliência da ca quando prevalecem epistemologias fenomeno-
Ciência por via do reducionismo biológico será lógicas que enfatizam diversidade cultural, proble-
com pouca ou nenhuma participação de geógra- mas ambientais e métodos etnográficos aplicados
fos. Contudo, existem outras formas do neo-da- em escala local. Há divergência quando a Geo-
rwinismo além do reducionismo biológico. grafia utiliza epistemologias racionalistas nas quais
Como ocorreu com o último grande paradigma propõem-se modelos reducionistas e determinis-
racionalista – o Estruturalismo – há várias correntes tas baseados na experiência dos países centrais su-
paralelas no Neo-Darwinismo. Nas diferentes disci- postamente aplicáveis em qualquer lugar do mun-
plinas existe aplicações de conceitos darwinistas na do (Tabela 1a, 1b).
Astronomia (Zurek 2004), na Filosofia (Stein 1993) Desde meados dos anos de 1990 as Ciências
e na Política Econômica (Fukuyana 1995, Wolf 2004). Humanas e Biofísicas parecem caminhar num senti-
É nesta última que vê a globalização pelo determi- do de uma grande “consiliência” em torno do para-
nismo econômico das redes tecnológicas, da com- digma racionalista do Neo-Darwinismo, envolven-
petitividade internacional e do Estado mínimo que do um processo de “colonização” das demais disci-
existe um lugar para a Geografia dentro do paradig- plinas por conceitos biológicos que entram no jar-
ma maior. Por este caminho, porém, a disciplina gão acadêmico como se fosse por osmose, sem a
durante a nova fase racionalista da Ciência se distan- devida atenção à sua origem, nem às suas implica-
ciará mais uma vez da Antropologia, provocando a ções epistemológicas e políticas (Rose 2001). As-
indiferença por parte dos antropólogos neo-darwi- sim sendo, podemos perguntar se é realmente ne-
nistas ou o embate por parte dos antropólogos e cessário para a Geografia e a Antropologia aderi-
geógrafos contrários ao Neo-Darwinismo qualquer rem ao novo paradigma para assegurar sua sobrevi-
que seja a sua forma, biológica ou econômica. vência disciplinar e se a adesão diferenciada das duas

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disciplinas levará à divergência de interesses como do contexto cultural em que a Ciência se insere,
ocorreu em fases racionalistas do passado? desafiando explicação pelo Neo-Darwinismo, Eco-
O pensamento científico só é fadado a repetir os logia Política e Pós-Modernismo. As certezas am-
mesmos erros do passado se os intelectuais envolvi- bientais, econômicas e políticas dos anos de 1990
dos não tiverem nenhuma noção sobre processos foram deixadas para trás, exigindo a construção
históricos na Ciência. Tentou-se aqui esclarecer jus- de uma Ciência muito mais crítica de que aborda-
tamente tais processos para não ficar preso à tirania gens recentes permitem. Sayer (2001) batizou a
do modismo no pensamento científico que só valo- nova abordagem de Economia Política Cultural
riza as idéias do “presente acadêmico”. Como essas Radical. Exemplos recentes na Geografia seriam
idéias se generalizam a partir de um passado recente, Gregory (2004) e Harvey (2003) nas suas análises
elas podem não corresponder mais à realidade empí- radicais do “novo imperialismo”, que vão muito
rica no mundo em momentos de bruscas mudanças, além de suas obras dos anos de 1990 (Gregory
como é o caso desde 2000. Kuhn 1970 (1962) ca- 1994, Harvey 1996) e que vêm ao encontro das
racterizou como ocorrem revoluções no pensamen- críticas antropólogicas e históricas ao imperialis-
to científico mas deixou fora a questão de quando mo americano (Hine e Faragherer 2000, Hoefle,
acontecem, esquivando da questão alegando que 2003, 2004), mostrando como um projeto holís-
dependia de eventos externos à Ciência. tico radical abrangendo as dimensões espaciais,
Os eventos mundiais dos últimos quatro anos culturais e temporais pode dar conta do novo
representam justamente uma mudança tectônica mundo que emerge.

TABELA 1A - CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA CONCEITUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A ANTROPOLOGIA

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TABELA 1B - CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA ESPACIAL, TEMPORAL E METODOLÓGICA ENTRE A GEOGRAFIA E A
ANTROPOLOGIA

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ABSTRACT
THE LONG BUT UNEVEN RELATIONSHIP BETWEEN GEOGRAPHY AND ANTHROPOLOGY IS ANALYSED FROM A PHILOSOPHY
OF SCIENCE PERSPECTIVE TO SHOW HOW THERE IS A CONVERGENCE OF INTERESTS DURING MOMENTS OF CRITICAL
SYNTAGMS AND DIVERGENCE OF INTERESTS IN MOMENTS OF RATIONALIST PARADIGMS. GREATER COLLABORATION EXISTS
BETWEEN THE TWO DISCIPLINES DURING PHASES OF CRITICAL THOUGHT WHEN CULTURAL AND ENVIRONMENTAL DIVERSITY
AND PHENOMENOLOGICAL EPISTEMOLOGIES INVOLVING PERCEPTIVE INTERACTION AND QUALITATIVE-ETHNOGRAPHIC
METHODOLOGIES ARE EMPHASISED. MUTUAL INDIFFERENCE OR THEORETICAL CONFLICT EXIST IN MOMENTS OF RATIONALIST
PARADIGMS WHEN CENTRALISED WORLD PROCESSES BASED ON DETERMINIST AND REDUCTIONIST THEORIES OF UNI-
LINEAR EVOLUTION, QUANTITATIVE METHODS, MATHEMATICAL MODELING AND SCIENTIFIC OBJECTIVITY AND PRESCRIPTION
ARE ADVOCATED. ATTENTION IS DRAWN TO THE THREAT TO THE WIDESPREAD COLLABORATION, WHICH PRESENTLY
OCCURS WITHIN POSTMODERNISM AND POLITICAL ECOLOGY THEORETICAL PERSPECTIVES, REPRESENTED BY THE ADVENT
OF NEODARWINISM. DIVERGENCE CAN BE AVOIDED IF A MORE CRITICAL SOCIAL THEORY MORE ATTUNED TO CURRENT
PROBLEMS IN THE WORLD, SUCH AS RADICAL CULTURAL POLITICAL ECONOMY, IS TAKEN UP BY BOTH DISCIPLINES.
KEY WORDS: GEOGRAPHY, ANTHROPOLOGY, EPISTEMOLOGY, CRITICAL SCIENCE.

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