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A Ameaça do Fantástico – David Roas

A crença de Todorov e da maioria dos críticos literários é de que a


condição indispensável para que se tenha o fantástico é a presença de um
fenômeno sobrenatural, mas isso não significa que toda literatura que tenha
uma intervenção sobrenatural deva ser considerada fantástica, como afirma o
crítico David Roas (2001). Como exemplo, o espanhol aponta as epopéias
gregas, novelas de cavalaria e a ficção científica como casos em que é
possível encontrar elementos sobrenaturais. Todavia, tais elementos não são
uma condição necessária para a existência destes subgêneros. Vale ressaltar,
como ponto de divergência entre Roas e Todorov, que o búlgaro enquadra a
ficção científica no maravilhoso científico, ramificação de uma das vertentes do
fantástico teorizadas por ele.
Para Roas, sem a presença do sobrenatural a literatura fantástica não
pode existir. Aqui, o sobrenatural é considerado algo que transcende as leis
que organizam o mundo como é conhecido; aquilo que não é explicável ou
mesmo que não existe, segundo tais leis. Aponta, ainda, que o sobrenatural
seja uma ameaça à realidade (governada por leis rigorosas e imutáveis) e seu
leitor, frente a frente com o sobrenatural, deve interrogá-lo e fazê-lo perder sua
credibilidade diante do mundo real. Um fantasma, por exemplo, é a realização
dessa transgressão: um ser que regressou da morte e habita o mundo dos
viventes em uma forma de existência inexplicável e evidentemente distinta dos
vivos, além de não possuir noções de tempo e espaço. A existência do
impossível leva à dúvida sobre o que é realidade e conduz a dúvida acerca da
própria existência. É a partir desta constatação que a literatura fantástica
descobre a falta de validez absoluta no racional e a possibilidade da existência
sem a realidade estável e delimitada pela razão, uma realidade diferente e
incompreensível, alheia à lógica racional que garante tranqüilidade. O
conhecimento racional ilumina uma zona da humanidade onde a razão está
condenada a fracassar.
Novamente em concordância com o espanhol, quando o sobrenatural
não entra em conflito com o ambiente em que ocorre, não se produz fantástico.
A participação ativa do leitor é de extrema importância para a existência do
fantástico, que sempre depende do que é tomado como real, que também
depende, de modo direto, daquilo que é conhecido. Através das palavras de
Bessière, Roas explana que o fantástico tende a dramatizar a constante
distância existente entre o sujeito e a realidade, e é por essa razão que sempre
aparece ligado a teorias sobre os conhecimentos e credos de uma época. Para
Reisz, a literatura fantástica baseia-se no fato de que sua ocorrência aparece
questionada explícita ou implicitamente, apresentada como transgressora de
uma noção de realidade demarcada dentro de certas coordenadas histórico-
culturais bem demarcadas.
Alguns críticos afirmam que será no Romantismo que a literatura
fantástica tomará forma e alcançará certa maturidade, a partir dos
questionamentos sobre determinados aspectos da realidade que a razão não é
capaz de explicar. Exatamente por suas limitações, os românticos postularam
que a razão não era o único instrumento que o Homem dispunha como forma
de captar a realidade, apresentando também a intuição e a imaginação como
meios válidos, tornando evidente a existência de um mundo além do explicável,
do racional, desconhecido tanto no interior como no exterior do Homem. A
partir daí a literatura fantástica converteu-se em um canal conveniente para
expressar medos, desejos e atitudes que não se podem manifestar
diretamente, pois representam algo proibido que a mente vem reprimindo ou
porque não se encaixam em esquemas mentais utilizados.
A literatura fantástica oferece temáticas com tendência a pôr em dúvida
a percepção do real. Para que haja a ruptura o texto precisa apresentar um
mundo o mais real possível, que sirva de comparação com o fenômeno
sobrenatural, convertendo o realismo em uma necessidade estrutural de todo
texto fantástico, acabando com a crença de situar o fantástico num terreno
ilógico ou onírico, exatamente o oposto da literatura realista. Há necessidade
de o relato fantástico ser sempre aceitável, crível, para seu correto
funcionamento, efeito este que todo texto literário deveria gerar posto que ler
ficção, seja fantástica ou não, pressupõe estabelecer um pacto de ficção (***):
aceitar sem questionar tudo que é contado, mesmo que a atitude natural, como
leitores, esteja condicionada a deixar em aberto as regras de verossimilhança.
Para Roas, depois de aceitar que está diante de um texto fantástico,
este deve ser o mais verossímil possível, para poder alcançar o efeito correto
em seu leitor (baseado no efeito de realidade de Roland Barthes). Ainda de
acordo com o espanhol, o fantástico está, permanentemente, inserido na
realidade, mas apresenta-se como um atentado contra a mesma realidade que
o circunda. Sendo assim, a verossimilhança é uma exigência do próprio
gênero, é uma necessidade construtiva para o desenvolvimento satisfatório do
relato. O crítico conclui, a partir de Villanueva, que o fantástico é um modo
narrativo que provém do código realista, supondo uma transformação ou
transgressão de tal código: os elementos que constroem o conto fantástico
participam da verossimilhança própria da narração realista e a irrupção do
acontecimento inexplicável marca a diferença essencial entre o realismo e o
fantástico. Roas, para reiterar suas afirmações, cita Silhol quando este afirma
que na literatura realista toma-se o verossímil como verdade; na literatura
fantástica é o impossível de explicar que se torna verdade (exceto nas histórias
que geram uma ambigüidade insolúvel).
O fenômeno fantástico, a partir do momento que é impossível explicar
mediante a razão, supera os limites da linguagem: é indescritível porque é
impensável (Roas baseado em Wittgenstein: “os limites da minha língua são os
limites do meu mundo”).
O fantástico narra acontecimentos que superam marcos de referências.
É a expressão do inominável, o que supõe um deslocamento do discurso
racional: o narrador vê-se obrigado a combinar de forma insólita nomes e
adjetivos para intensificar a capacidade de sugestão. A conotação substitui a
denotação. Além disso, a literatura fantástica evidencia as relações
problemáticas estabelecidas entre linguagem e realidade por representar o
impossível, ir além da língua para transcender a realidade.
O medo é representado não de modo exagerado, confuso, mas de forma
inquietante: a hesitação frente à possibilidade do sobrenatural. De acordo com
Lovecraft, o princípio do fantástico encontra-se na experiência particular do
leitor, que deve ser esse medo. É a partir da presença dele que poderá ser feita
a distinção entre literatura fantástica e maravilhosa: o maravilhoso sempre tem
um final feliz e o fantástico, além de fazer duvidar sobre o real, desenrola-se
em meio a um clima de medo e seu final geralmente provoca morte, loucura,
situações adversas para seu protagonista.
Para Todorov, no século XX, a impossibilidade de crer em uma realidade
imutável acaba com qualquer possibilidade de transgressão e,
automaticamente, com o efeito fantástico baseado nessa transgressão. Se não
é possível saber o que é realidade, não haverá possibilidade de transgredi-la.
Roas afirma que o próprio Todorov reconhece que o mundo do relato
fantástico contemporâneo é o nosso mundo e tudo aquilo que contradiga as
leis físicas que acreditamos supõe uma transgressão evidentemente fantástica.
O que caracteriza o fantástico contemporâneo é a irrupção do anormal em um
mundo aparentemente normal, não para mostrar evidências do sobrenatural,
mas para postular a possível anormalidade da realidade, impressionando o
leitor, que descobre que o mundo não funciona como ele crê.

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