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“Uma das violações mais comuns dos padrões intelectuais pelos próprios intelectuais é
atribuir uma emoção (racismo, machismo, homofobia, xenofobia, entre outros) àqueles
que detêm pontos de vista diferentes, em vez de responder seus argumentos.” Essa
afirmação do economista norte-americano Thomas Sowell, professor de Stanford, que
consta no livro “Os Intelectuais e a Sociedade” (É Realizações Editora, 2011), retrata,
com perfeição, a atitude da esquerda universitária, não só norte-americana, mas também
brasileira, que jamais aceita o debate intelectualmente honesto – palavra contra palavra,
frase contra frase, texto contra texto – e prefere desumanizar o adversário de ideias, que
se vê atirado, sem justa causa, numa espécie de gueto de Varsóvia do pensamento,
marcado com a suástica do politicamente correto.
Essa atitude dos intelectuais de esquerda é uma forma defensiva de proteger o núcleo
insano da maioria de suas teses, que, sem dúvida, merecem um lugar de honra na Casa
Verde do Dr. Simão Bacamarte, o imortal personagem de Machado de Assis.
Infelizmente, essas teses avessas à realidade estão no poder e nos palanques. Filho da
USP, da CNBB e dos sindicatos de metalúrgicos, o PT é a expressão político-partidária
dessa atitude corrosiva da esquerda intelectual, que se alimenta do conflito e não do
consenso, buscando dividir a sociedade para melhor dominá-la. É o que se vê na eleição
presidencial deste ano, em que um Lula flagelado e rebelde (para usar uma imagem
machadiana) se esgoela diante do menor vislumbre de derrota, amparando a figura
nebulosa e esconsa de sua pupila por meio de um discurso fratricida.
Essas leis e políticas públicas de inspiração esquerdista criam novos conflitos em vez de
resolver os antigos. É o caso da Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, que legalizou
completamente o consumo de drogas ao transformá-lo numa questão de saúde pública e
não mais de polícia ou de vergonha na cara, eximindo o usuário de qualquer
responsabilidade individual sobre o seu vício. Combinada com a Lei Antimanicomial,
essa norma promulgada pelo então presidente Lula, que instituiu o “Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas”, tem um efeito nocivo não só na saúde, em que seu
impacto é direto, mas também na educação, na segurança pública – vejam o caso do
assassino do cartunista Glauco, abordado por mim na semana passada – e até na
economia.
Essa absurda inversão de valores – oriunda da mentalidade subversiva que impera nas
universidades – enfraquece a consciência coletiva de que falava Durkheim,
fragmentando a sociedade em grupos conflitantes e corroendo qualquer projeto de País.
Como se percebe nas campanhas políticas, não há nenhum valor – nem mesmo a vida –
capaz de unir a nação. Nem os mais sórdidos homicídios, os mais trágicos acidentes ou
as maiores catástrofes são capazes de suscitar nos brasileiros um sentimento comum de
dor, característico das nações socialmente sadias quando enfrentam situações
semelhantes. No Brasil, tudo isso é suscetível de uso político ou ideológico, não só nos
palanques, mas também nas universidades, levando o povo – a princípio, sensível – a se
tornar indiferente, com a alma calejada pela naturalização artificial dessas tragédias
humanas transformadas em conflitos ideológicos.
Fanático pelo paraíso de sua utopia, o intelectual de esquerda transforma num inferno a
vida do homem comum. No livro citado, Thomas Sowell – que não pode ser acusado de
pertencer à elite branca, já que é negro – acusa os intelectuais acadêmicos de “criar sua
própria realidade ao filtrarem toda a informação contrária à concepção que têm de como
o mundo funciona e como deveria funcionar.” E cita vários casos de filtragem de fatos
pela “intelligentsia” com o objetivo de beneficiar minorias como homossexuais e
negros. Sowell lembra o caso de um homem gay espancado e morto por criminosos que
mereceu mais de 3 mil reportagens na imprensa norte-americana, enquanto o caso de
um garoto adolescente capturado e estuprado durante horas por dois homossexuais foi
tratado por menos de 50 reportagens. Da mesma forma, houve casos de corrupção em
governo de negros que foram abafados, enquanto casos de incêndios de igrejas negras
foram aumentados e desvirtuados para parecerem crimes de racismo.
Lula: filho da USP, líder petista se alimenta do conflito, buscando dividir a sociedade
para melhor dominá-la
No Brasil, em que a esquerda praticamente não encontra oposição intelectual dentro das
universidades, seria possível escrever uma obra maior do que a “Suma Teológica” de
Santo Tomás de Aquino apenas enumerando os casos de filtragem de fatos por parte dos
acadêmicos com o objetivo de criar a realidade paralela de que fala Sowell.
Ironicamente, esses mesmos acadêmicos que manipulam fatos são os primeiros a
prescrever “informação” e “educação” como receita para tudo, desde a prevenção do
uso de drogas até o combate à criminalidade, passando pelo controle da Aids, a
violência nas escolas e a redução dos acidentes de trânsito. O criminoso, o promíscuo, o
indisciplinado, o infrator jamais são responsabilizados por seus atos nocivos, e a
sociedade se vê obrigada a confiar aos intelectuais acadêmicos – a um alto custo moral e
econômico – a missão de “reeducá-los” através do Estado, como se fossem criancinhas
de colo e não marmanjos transgressores.
Mas nada pode ser tão danoso quanto o desprezo que o intelectual universitário devota
aos seres humanos concretos em nome de uma humanidade abstrata e de um “outro
mundo possível”, transformando a vida presente num inferno em nome de um paraíso
futuro. “Uma das coisas que os intelectuais fazem há muito tempo é afrouxar os laços
que sustentam uma sociedade”, afirma Sowell. “Muitos intelectuais erodem e destroem
um sentido de valores e realizações compartilhadas que torna uma nação possível ou um
senso de coesão nacional com o qual se possa resistir aos seus inimigos externos e
internos”, acrescenta. “Condenar os inimigos do país seria, para os intelectuais,
equiparar-se às massas, mas ao condenarem sua própria sociedade, os intelectuais
ungidos tornam-se, no entanto, no sentido mental e moral, especiais – ao menos diante
de seus pares”, exemplifica.
É o que ocorre, hoje, no Brasil com a questão da maioridade penal. Mais de 90% dos
brasileiros – que sentem na carne a violência selvagem dos menores criminosos –
clamam pela redução da maioridade penal, mas uma minoria de intelectuais encastelada
nas cátedras, na magistratura, no Ministério Público, nas comissões da OAB e nos
órgãos do Executivo despreza completamente esse justo, legítimo e humano anseio da
maioria esmagadora da nação e, fazendo valer a enorme força de seu prestígio junto ao
Congresso, à imprensa e ao próprio governo, impede que a Constituição seja mudada
para que os menores respondam pelos seus crimes ao menos a partir dos 16 anos. Aliás,
fizeram justamente o contrário – através da Emenda Constitucional nº 65, de 2010,
regulamentada pelo famigerado “Estatuto da Juventude”, transformaram os jovens de
até 29 anos em crianças detentoras de todos os direitos em face da família, do Estado e
da sociedade, sem a contrapartida de nenhum dever.
Vale a pena transcrever na íntegra este trecho do livro de Sowell, que parece estar
descrevendo este malfadado Brasil: “Imperfeições ou ineficiências raramente destroem
uma nação. Mas a desintegração de seus laços sociais e a desmoralização da confiança e
da aliança de seu povo podem, no entanto, ocasionar sua destruição. Os intelectuais
contribuem, em grande parte, para ambos os processos. Ao colocarem grupo contra
grupo e ao verem arbitrariamente inumeráveis situações sob o prisma de ‘raça, classe e
gênero’, estabelecendo padrões inalcançáveis de ‘justiça social’ e impondo objetivos de
reparação histórica, os intelectuais garantem a criação de uma situação interminável de
conflito interno, prefigurando o desmantelamento de qualquer sociedade”.
Vemos isso todo dia no Brasil: senhores do Estado e das leis, os intelectuais
universitários nos obrigam a conviver no trabalho, na escola e nas ruas com toda sorte
de homicidas, latrocidas, estupradores, drogados e doentes mentais, impondo ao cidadão
de bem um martírio compulsório. E se o homicida continua matando; o estuprador,
estuprando; e o viciado, drogando-se, os intelectuais lavam as mãos e deixam a
sociedade se banhar em sangue, sob a acusação de que ela não foi capaz de acolher e
regenerar esses mensageiros de “um outro mundo possível” – ainda que ao preço de
transformar em tragédia este mundo real.