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ANUÁRIO

LEITE

Indicadores,
tendências e
oportunidades
para quem vive
no setor leiteiro

Leite: custos,
margens e preços
recentes

Ações da pesquisa
na intensificação da
atividade leiteira

Analistas garantem:
Brasil tem tudo para
produzir mais leite

Edição Digital em
embrapa.br/gado-de-leite

- 1 -
Uma edição com 116 páginas e 40 artigos abordando um único tema: o leite produzido no Brasil e no mundo
EXPEDIENTE

ANUÁRIO
COORDENAÇÃO GERAL
Paulo do Carmo Martins
Rosangela Zoccal

LEITE
Nelson Rentero
Altair Albuquerque

COORDENAÇÃO TÉCNICA
Rosangela Zoccal

JORNALISTAS RESPONSÁVEIS Edição Digital em


Nelson Rentero embrapa.br/gado-de-leite
Altair Albuquerque

EDIÇÃO E REDAÇÃO
Nelson Rentero
Texto Comunicação Corporativa

PROJETO GRÁFICO
Rodrigo Bonaldo

DEPARTAMENTO COMERCIAL
Eder Benício

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
Kelly Borges
Sandra Albuquerque

BANCO DE IMAGENS
Arquivo Nelson Rentero
Shutterstock
Texto Comunicação Corporativa

IMPRESSÃO
Gráfica Elyon

COLABORAÇÃO
ABCBRH, ABCGil, ABCGirolando, ABCGPS, ABCRSS, Abiq, ACGJB, ACGGB, Adriana Lauffer, Alex Ferraresi,
Alexandre Guerra, Alziro Carneiro, André Novo, Armando da Costa Carvalho, Artur Chinelato, Augusto Lima,
Bruno Luchi, Carlos Alberto de Souza, Cícero Cartaxo de Lucena, Denis Teixeira da Rocha, Diana Cifuentes,
Diogo Vriesman, Eduardo de Carvalho Pena, Eduardo Ribas, Fabiana Henrique, Fernando Ferreira Pinheiro,
Frans Borg, Gilson Sales, Glauco Rodrigues Carvalho, José Luiz Bellini, João César de Resende, Juliana Pila,
Leite Brasil, Kennya B. Siqueira, Leonardo Garcia, Makoto Sekita, Manuela Lana, Marcelo Pereira de Carvalho,
Marcos Antônio de Freitas, Mariana de Almeida Prado (ABCB), Maurício Coelho, Nilson Muniz (ABLV), Paulo
do Carmo Martins, Paulo Machado, Pedro Arcuri, Rafael Ribeiro, Reinaldo Figueiredo, Roberta Züge, Rodrigo
Alvim, Ronei Volpi, Rosangela Zoccal, Rubens Neiva, Samuel José de Magalhães Oliveira, Sergio Saud (Asbia),
Sergio Soriano, Wagner Arbex.

O Anuário Leite© é um produto editorial da Texto Comunicação Corporativa elaborado por concessão da Embrapa Gado de Leite.
Contatos: imprensa@textoassessoria.com.br - Telefone (11) 3039-4100
- 2 -
CARTA AO LEITOR

N
úmeros e palavras. Dois termos que definem o Anuário Leite 2018, que você começa a
conferir a partir das próximas páginas. Ao todo são 116 páginas, reunindo 40 artigos com
diferentes enfoques e diversas autorias, entre pesquisadores, técnicos e jornalistas. A pro-
posta da iniciativa, parceria da Embrapa Gado de Leite e Texto Comunicação Corporativa,
é bem pontual e inédita: associar, em uma única publicação, indicadores e análises que ajudem a compor
o perfil da pecuária leiteira, considerada uma das mais complexas atividades do agronegócio.
As estatísticas estão espalhadas por todo o conteúdo, envolvendo o leite brasileiro e também de outros
países especializados. Por aqui, buscamos informações no todo e nos detalhes que estão por trás de uma
produção que hoje passa de 35 bilhões de litros/ano. Por exemplo, confira os fatores que fazem Castro,
no Paraná, ser a cidade de maior média em produtividade leiteira do país, com 7.478 litros/vaca/ano,
um número muito superior à média nacional, de 1.709 litros, e de países especializados, como Argentina,
Uruguai e Nova Zelândia.
No plano estadual, fique sabendo também o que tem ocorrido em Santa Catarina para ser apontada
como o estado de maior destaque na produção de leite atualmente. Em 11 anos, sua produção cresceu
92%, atingindo no ano passado 3,7 bilhões de litros. Segundo seus produtores, contribuíram para tal salto,
principalmente, vocação, clima e topografia. A mesma ordem vale para os outros dois estados do Sul que,
juntos, fazem a produtividade da região ser bem superior à de qualquer outra do país. Em volume, deve
ultrapassar a região Sudeste no próximo ano.
Essa transformação positiva do leite brasileiro contagia também fazendas por todos os cantos. A cons-
tatação disso está no perfil das 100 arroladas como as maiores pelo site Milkpoint. Certo é que, a cada
ano, as propriedades intensificam a produção. Em 2017, a média do grupo bateu em 17.929 litros/dia,
cerca de 10% superior a 2016. A líder do ranking é a Fazenda Colorado, de Araras-SP, produzindo hoje
mais de 75.000 litros/dia. A que mais cresceu é de Cristalina-GO, a Fazenda Figueiredo, com incremento
de 66% em relação a 2015, atingindo 30.000 litros/dia. Outro destaque é a Sekita Agronegócios, de São
Gotardo-MG, com atuais 52.000 litros/dia, mas que há dez anos não passava de 6.000 l/dia.
O Anuário Leite 2018 traz também avaliações pontuais sobre a economia e o leite, como a que avalia
custos, margens e preços nos últimos meses. A volatilidade dos valores pagos determina a dieta do gado,
a intensidade do manejo e a oferta do produtor. É assim no mundo inteiro, mas no Brasil as coisas andam
confusas, elevando valores para produtor e consumidor. Até quando? Ninguém arrisca dizer. No acumu-
lado de 18 meses, produzir leite registrou, todavia, variação positiva de apenas 1,5%, resultado de cenário
estável, mas marcado por grandes variações e incertezas.
No cenário mundial, a publicação apresenta indicadores de todas as partes do mundo. Você sabia que
Europa e Ásia produzem dois terços do leite do mundo? Que os Estados Unidos representam o país de
maior produtividade, com 9.000 kg de leite/vaca/ano? As respostas e os detalhes estão descritos em
alguns capítulos, a exemplo de vários outros, redigidos por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite.
Hoje, a produção mundial de leite é de 798 mil t e tem a Ásia como o continente de maior volume. Por país,
a Índia lidera o ranking, com 170 mil t/ano, seguida dos Estados Unidos, com 92,2 mil t/ano.
Completando, Paulo do Carmo Martins, chefe geral da Embrapa Gado de Leite, e Rodrigo Alvim, pre-
sidente da Comissão de Pecuária Leiteira da CNA-Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil,
respondem nesta edição, em entrevista exclusiva, a algumas questões pontuais sobre o atual momento
de nossa pecuária leiteira. Na realidade, uma atividade que evolui de forma contínua desde 1974. Desde
então, a produção quase quadruplicou, passando de 7,1 bilhões de litros/ano para mais de 35 bilhões. Por
trás deste crescimento muito se fez. Nesta primeira edição do Anuário Leite você vai saber um pouco
dessa história e também sobre a de muitos outros números. Bom proveito!

Nelson Rentero,
editor Anuário Leite 2018

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ÍNDICE

06 36 48
Grandes produtores Minas Gerais é o maior
MERCADO investem em genética e produtor de leite do
tecnologia. Veja o perfil Brasil, mas convive com
Brasil produziu 35,1 bilhões de litros de leite em 2017. de Colorado (SP), Santa estagnação
Em quatro décadas, produção nacional quadruplicou Luzia (MG), Sekita
(MG), Melkstad (PR) e
Figueiredo (GO) 50
É lei. Castro é a Capital
Brasileira do Leite
40
Indústria capta 5% a
mais de leite cru em 2017 52
A produção de Santa
Catarina aumentou 92%
42 nos últimos 11 anos
Números comprovam
que resultado dos
maiores produtores foi 54
puxado pela qualidade As cooperativas já
respondem por ¼ de
14 29 todo o leite produzido no
Brasil
Balança comercial
é negativa, mas há
potencial para aumentar
OPINIÃO 45
as exportações Ronei Volpi, presidente
OPINIÃO
da Comissão Técnica de 58
16 Bovinocultura de Leite
da FAEP, explica porque
Alexandre Guerra,
Argentina e Uruguai a transparência favorece
presidente do Sindilat- DEMANDA
exportam US$ 500 RS e vice-presidente
o desenvolvimento
milhões/ano em produtos do Conseleite-RS, O consumo de produtos
lácteos para o Brasil demonstra porque lácteos aumenta puxado
a estabilidade exige pela diversificação de
trabalho hoje portfólio e a praticidade
18 30
Produção mundial de
leite bateu em 798 PRODUÇÃO
bilhões de litros em 2017
A produção está em alta,
46
22 revertendo tendência
de queda verificada nos
PRODUÇÃO
Volatilidade de preços e últimos anos
de custos está entre as A Região Sul é referência em termos de produtividade
principais preocupações por vaca, bem acima da média nacional
dos produtores 32
A oferta interna de leite
26 aumenta, mesmo com
redução do rebanho de
vacas ordenhadas
ENTREVISTA
Paulo do Carmo Martins, 34
chefe geral da Embrapa As maiores fazendas
Gado de Leite, defende captam mais leite,
um novo modelo de segundo o Top 100 Milk
pesquisa no país Point

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60 86 98
O consumo de leite UHT cresce acima das demais opções O Brasil insemina 6,23%
das vacas leiteiras, LÁCTEOS
informa a Asbia
Queijo: negócios já
superam R$ 18 bilhões
88 por ano

ENTREVISTA
100
Rodrigo Alvim, presidente
da Comissão Nacional da Queijo artesanal é
Bovinocultura de Leite da negócio sério em Minas
CNA e da Câmara Seto- Gerais

62 76 rial de Leite e Derivados


do MAPA, fala de quali-
Produtos lácteos zero dade e competitividade
ECONOMIA
lactose já respondem 102
por 4% da demanda
total no país
Na ponta do lápis, os 92
motivos para investir em RAÇA
genética e tecnologia QUALIDADE
64 Dura realidade da CCS
Leite de cabra e o seu
potencial de crescimento
no país, com dados da no país
PESQUISA Clínica do Leite (Esalq/USP)
79 104
Embrapa Gado de Leite:
desenvolvimento e
OPINIÃO 94 O programa de qualidade
inovação a serviço da
do leite de búfala da
pecuária leiteira
Roberta Züge, INTERNACIONAL ABCB
superintendente da
ABCBRH, mostra porque Menos fazendas, porém
o leite é protagonista na mais produtividade na 106
68 história da humanidade pecuária leiteira da China
RAÇAS BOVINAS
INOVAÇÃO 80 95 Perfil das raças
Genômica representa Holandesa, Girolanda,
novo paradigma na EXTENSÃO RURAL OPINIÃO Jersey, Gir Leiteira,
seleção genética das Guzerá/Guzolando,
A assistência técnica Alex Ferraresi, coordena- Pardo-Suíça e Simental
raças Girolando e Gir
contribui para o dor do Programa de Pós- para produção de leite
aumento da produção de Graduação em Gestão de
72 leite no país Cooperativas da PUC-
PR, analisa o sucesso da
intercooperação
Nanotecnologia trata
mastite e muito mais 114
84 96 OPINIÃO
74
TECNOLOGIA INTERNACIONAL Artur Chinelato,
Ideas For Milk: Embrapa pesquisador da Embrapa
Gado de Leite motiva A evolução dos sistemas As (grandes) Sudeste, discute o leite
startups a propor de produção de leite com oportunidades para o produzido por vacas
soluções de olho no futuro o apoio da pesquisa leite do Brasil na África felizes

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MERCADO

Produção brasileira de leite:


uma análise conjuntural
Denis Teixeira da Rocha e Glauco Rodrigues Carvalho

Em pouco mais de quatro décadas, a produção de leite quadruplicou no país. Por trás de
tal avanço está um conjunto de fatores, tanto internos como externos

N
as últimas décadas, a atividade leiteira Entretanto, a partir de 2015, a produção caiu por
brasileira evoluiu de forma contínua, dois anos consecutivos, fato até então inédito desde
resultando no crescimento consisten- o início da série histórica publicada pelo IBGE. Já
te da produção, que colocou o país em 2017, o Brasil voltou a registrar crescimento em
como um dos principais do setor no mundo. De 1974 sua produção de leite, superando o período de que-
a 2014, a produção nacional quase quadruplicou, da anteriormente observado.
passando de 7,1 bilhões para mais de 35,1 bilhões Para entender os motivos que levaram a tais ten-
de litros de leite. dências na produção de leite no país é importante

Custos com alimentação têm


gerado variações na receita
dos produtores

N.Rentero

- 6 -
FIGURA 1 - VARIAÇÃO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE LEITE SOB
INSPEÇÃO NO PERÍODO DE 2013 A 2017 (EM %)

2013 5,5

2014 5,0

2015 -2,8

2016 -3,7

2017 4,0
Fonte: IBGE (Pesquisa Trimestral do Leite)

considerar que a produção do setor sofre influência leite. De 2014 para 2016, o preço do milho subiu
de um conjunto de fatores. Consumo interno de lác- 64,3%, enquanto o farelo de soja valorizou 14,3%,
teos, preços do leite e seus derivados no atacado e na média do ano, segundo dados do Cepea e Deral/
no varejo, preços do leite ao produtor e seu cus- PR, respectivamente.
to de produção, preços internacionais de produtos No âmbito do mercado internacional, os anos
lácteos, exportação e importação de leite e deriva- de 2015 e 2016 foram de preços de leite em pata-
dos. Para citar os mais importantes. mares baixos historicamente. Em 2014, a tonelada
Nesse contexto, o objetivo deste artigo é ana- do leite em pó integral, principal produto lácteo
lisar a trajetória recente de evolução da produção transacionado no mercado, estava cotada a US$
brasileira de leite, com foco nos fatos que ajudam a 3.496 na média do ano nos leilões da Global Dairy
explicar as variações ocorridas no período de 2015 Trade (GDT). Já em 2015, esse valor foi de US$
a 2017. Em 2015, a produção sob inspeção recuou 2.370 e em 2016 de US$ 2.462.
2,8%, com a intensificação dessa redução no ano Com o preço internacional baixo, os produtos im-
seguinte, quando caiu 3,7% (figura 1). Um dos portados tornam-se mais competitivos em relação ao
motivos que explica tal fato foi a crise econômi- produto nacional, estimulando as importações pela
ca enfrentada pelo país, expressa pela redução do indústria brasileira. Nesse contexto, as importações
PIB e consequentemente a renda das famílias. Isso de leite e derivados saltaram de 725 milhões de litros
porque a renda é o maior direcionador de consumo de leite equivalente em 2014 para 1,092 bilhão de li-
de lácteos no Brasil. tros em 2015 e 1,880 bilhão de litros em 2016, sendo
No setor primário, o preço do leite pago ao esse último volume superior a 8% da produção bra-
produtor recuou e o custo de produção subiu (fi- sileira de leite sob inspeção naquele ano.
gura 2). Enquanto no período de 2010 a 2014 o
preço real médio do leite ao produtor foi de R$ RECUPERAÇÃO DOS PREÇOS
1,34 por litro, em 2015 esse valor foi de apenas R$ AO PRODUTOR RENOVA O ÂNIMO
1,14, queda de quase 15%. Somada à redução na A conjuntura do mercado do leite brasileiro co-
renda do produtor, o custo de produção, medido meçou a mudar a partir do segundo semestre de
pelo ICPLeite/Embrapa, aumentou 9,8% em 2015 2016, com a recuperação dos preços do leite pagos
e 15,3% em 2016. ao produtor, que naquele momento foi puxada pela
Esse aumento do custo foi resultado principal- queda na produção nacional. Enquanto no primeiro
mente da quebra da safra brasileira de grãos no semestre de 2016 o preço médio ao produtor foi de
período 2015/2016, que se refletiu no aumento dos R$ 1,17 por litro, no segundo semestre do mesmo
preços do milho e do farelo de soja, insumos bási- ano o valor médio pago foi 21,5% superior, atin-
cos da alimentação concentrada do rebanho e im- gindo R$ 1,42.
portantes componentes do custo de produção de Outro fator que contribuiu favoravelmente ao

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FIGURA 2 - EVOLUÇÃO DO PREÇO NOMINAL DO LEITE E DO ÍNDICE DE CUSTO DE
PRODUÇÃO POR SEMESTRE DE 2014 A 2017 (1º SEMESTRE DE 2014 = 100)

Fonte: CEPEA e ICPLeite, organizado pela Embrapa

produtor de leite foi a redução do custo de pro- Nesse cenário, a produção nacional de leite
dução, que começou a cair a partir de setembro de inspecionada cresceu 4,0% em 2017, quebrando a
2016, impulsionado pelas perspectivas da safra re- sequência de quedas registradas nos dois anos an-
corde de grãos no período 2016/2017 (figura 2). De teriores (tabela 1). No entanto, esse crescimento da
setembro de 2016 a junho de 2017, o índice de custo oferta não foi acompanhado pelo consumo e os pre-
ICPLeite/Embrapa caiu 11,4%, fruto principalmen- ços ao produtor registraram queda expressiva no
te das quedas nas cotações do milho e do farelo de segundo semestre de 2017. A indústria de laticínios,
soja, que fecharam 2017 exatos 31% e 18% abaixo de estrutura bastante fragmentada e concorrencial,
da média do ano anterior, respectivamente. também viu suas margens recuarem devido à difi-
Além da melhora na conjuntura do mercado in- culdade em repassar preços ao varejista.
terno, os preços do leite no mercado internacional A presente análise ilustra a complexidade da
valorizaram-se a partir do final de 2016, com manu- cadeia produtiva do leite e a diversidade de fatores
tenção de valores na faixa de US$ 3.056 por tone- que afetam a atividade. Nesse contexto, torna-se
lada de leite em pó integral, na média de 2017, o que primordial que os agentes da cadeia busquem infor-
representou alta de 24,1% em relação a 2016. Com mações qualificadas e atualizadas sobre o mercado
isso, os produtos importados perderam competitivi- do leite e de produtos relacionados, que afetam seu
dade frente ao leite nacional, resultando em redução custo de produção e o consumo dos produtos lác-
expressiva do volume comprado fora, que fechou o teos no Brasil e nos principais mercados do mundo,
ano de 2017 em 1,270 bilhão de litros de leite equi- de modo a orientar as tomadas de decisão para a
valente, queda de 32,5% em relação ao ano anterior. adequada gestão de seu negócio.

Denis Teixeira da Rocha, analista, e Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador,


ambos da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

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MERCADO

Leite: custos, margens e


preços nos últimos meses
Paulo Martins, Alziro Carneiro e Manuela Lana

A volatilidade dos valores pagos ao produtor e dos custos da atividade, entre outros fatores,
tem resultado em margens apertadas e instáveis nos últimos meses

N
o mundo todo, leite é assunto de Es- garantem ao produtor margens passíveis de cumprir
tado. Portanto, leite e derivados mere- seus compromissos financeiros de curto e médio
cem sempre a concepção de políticas prazos. Também contam com políticas especiais de
públicas específicas, desenhadas com crédito, pesquisa e transferência de tecnologia, bem
o propósito de apoiar o setor, preservando a renda como ações visando melhorar a coordenação da ca-
do produtor e dos diferentes agentes que compõem deia produtiva.
a cadeia produtiva. No Brasil, políticas de preços foram terríveis
Aumento e queda
Na Europa, Canadá e Estados Unidos, de modo para o setor. Em vez de garantir preços remunerató- nos custos de
explícito ou implícito, isso passa por mecanismos rios, o objetivo foi retirar renda do setor. O governo produção e nos
preços pagos ao
que asseguram preços remuneratórios. Ou seja: que tabelou o leite durante os anos 80 para controle de produtor têm
proporcionado
margens variáveis,
quase sempre
estreitas
N.Rentero

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preços visando combater a inflação. Essa lição não Em cada um deles, coletam-se preços mensal-
pode ser esquecida, pois a presença estatal no setor mente no varejo para aferir a inflação do leite, ou
de lácteos, desde a década de 40 do século passado, seja, a variação mensal do custo de se produzir lei-
tem como resultante o fato de as políticas de gover- te, tendo por base uma propriedade com estrutura
no não conseguirem corrigir falhas de mercado. de custos de produção típica de Minas Gerais. De-
Ao contrário, prejudicam o setor, acentuando talhes da metodologia estão disponíveis em www.
tais falhas. Isso é verdade desde situações regula- cileite.com.br.
tórias, em que é muito burocrático obter aprovação Nos últimos 18 meses, ou seja, de janeiro de 2017
de plantas e novos produtos lácteos junto ao SIF- a junho de 2018, ocorreu um fenômeno nunca re-
Serviço de Inspeção Federal até a pouca ação no gistrado. Em oito meses ocorreu deflação, ou seja,
sentido de combater fraudes e focar efetivamente na redução de custos de produção. De janeiro a junho
melhoria da qualidade da matéria-prima. de 2017, registramos seis meses de deflação, em
O fato é que os preços ao produtor, mesmo sem a função da queda progressiva dos preços de ração,
interferência do governo, são muito volúveis. Sofrem com os preços de soja e milho caindo no mercado
interferência direta da cotação internacional, da va- internacional.
riação cambial, da oferta e da demanda interna por Mas, nos demais meses os custos subiram e
lácteos. Já os custos, também são muito oscilantes. compensaram a queda. No acumulado de 18 meses,
Tudo isso resulta em margens instáveis para um se- produzir leite registrou, todavia, variação positiva
tor que tem como característica mundial as margens de apenas 1,5%. O gráfico 1 mostra este compor-
apertadas. tamento inusitado. Ainda que oscilante, os custos de
produção têm comportamento razoável, sem grandes
REDUÇÃO NOS CUSTOS DE PRODUÇÃO sobressaltos. Já os preços do Cepea/USP tiveram
Visando acompanhar este comportamento, ain- comportamento bem mais agressivo e imprevisível.
da em 2007 a Embrapa Gado de Leite instituiu o
Índice do Custo de Produção de Leite, o ICPLeite. RECOMPOSIÇÃO DAS MARGENS
Em termos metodológicos, assemelha-se ao IPCA, DESDE MAIO DE 2018
do IBGE, que é o índice formal que mede a inflação No citado gráfico verifica-se que, entre janeiro
brasileira. São oito os grupos de despesas conside- e maio de 2017/2018 os preços recebidos pelo pro-
rados: mão-de-obra, produção e compra de volu- dutor de leite subiram continuamente e atingiram
mosos, concentrado, sal mineral, sanidade, qualida- elevação acumulada de 7,24%. A partir daí caíram
de do leite, reprodução e energia e combustível. continuamente até janeiro de 2018, quando os pre-

GRÁFICO 1 - ÍNDICE DE PREÇO RECEBIDO PELO PRODUTOR X ICP LEITE


Índice de Preço recebido pelo produtor ICP Leite Atividade
115

110

105

100

95

90

85

80
7

17

17

17

17

8
/1

/1

r/1

i/1

/1

/1

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/1

/1

/1

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jul/

v/

/
jan

fev

abr

jun

ago

set

out

dez

jan

fev

abr

Jun
ma

ma
ma

ma
no

Fonte: ICPLeite

- 11 -
GRÁFICO 2 - RELAÇÃO PREÇO RECEBIDO PELO PRODUTOR / ICP LEITE
15

10

0
PP/ICPLeite

--5

-10

-15

-20
7

17

17

8
/1

/1

r/1

/1

i/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

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jul/

v/
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fev

abr

jun

ago

set

out

dez

jan

fev

abr

Jun
ma

ma
ma

ma
no

Fonte: ICPLeite

ços praticados foram 22% mais baixos do que no A greve dos caminhoneiros desorganizou o sis-
pico de preços desta série histórica, ocorrido em tema de preços brasileiros. As perdas não se res-
maio. De lá para cá, o preço não parou de subir e já tringiram à supressão temporária de receita, que foi
ultrapassou em junho deste ano o pico de maio do imensa e generalizada, prejudicando produtores e
ano passado, acumulando 9,66%. indústria de leite e derivados. Este impacto vai re-
Entre perdas e ganhos, como ficou a margem da percutir no fechamento das contas anuais do setor
atividade no período? Pelo que se percebe no grá- lácteo brasileiro. Mas, a gravidade não parou aí.
fico 2, nesses 18 meses de análise há três períodos Com falta de leite no varejo e no atacado, o mer-
distintos. O primeiro vai de janeiro a julho de 2017, cado está como biruta, ou seja, aquele mecanismo
quando os preços subiram a patamares que com- que os pequenos aeroportos ainda têm. Algo que se
pensaram a subida dos custos. Entre agosto de 2017 assemelha a um coador de café e que muda de dire-
e abril de 2018, o fenômeno foi inverso e os custos ção de uma hora para outra, em função da mudança
correram na frente dos preços. A partir de maio des- da direção dos ventos. Pois, é assim que está o mer-
te ano começou a recomposição das margens. Até cado. Até quando preços ao produtor e ao consumi-
quando vai durar? Bem, nos dias atuais, alguém ar- dor estarão lá em cima, nas alturas? Esta pergunta
risca qualquer previsão em relação ao Brasil? Nem deixemos para o tempo responder. Afinal, estamos
mãe Diná! em tempos birutas... No leite e no Brasil.

Paulo do Carmo Martins, economista, é chefe da Embrapa Gado de Leite; Alziro Carneiro e Manuela Lana são pesquisadores
da mesma instituição, localizada em Juiz de Fora-MG

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MERCADO

Déficit na balança comercial


pode ser revertido
Rosangela Zoccal

A balança comercial de lácteos tem sido deficitária, mas as exportações sugerem que o
Brasil tem condições de crescer no mercado internacional

E
m 2017, o volume de produtos lácteos TABELA 1 - BALANÇA
importado foi de 169 mil t e o exporta- COMERCIAL DE LÁCTEOS,
do de 38 mil t, gerando déficit de 130 mil 2000/2017
t. A balança comercial de lácteos quase
sempre foi deficitária, com exceção de cinco anos MIL TONELADAS/ANO
ANO
(2004 a 2008), sendo que em 2006 o volume im-
EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO
portado e exportado foi muito semelhante, próxi-
mo de 96 mil t. Os cinco primeiros meses de 2018 2000 9,21 307,57 -298,36
mostraram a mesma tendência que ocorreu em
anos anteriores, ou seja, saldo desfavorável para o 2001 19,69 141,51 -121,82

lado brasileiro.
2002 40,84 215,47 -174,63
No ano de 2017, as importações realizadas en-
volveram principalmente leite em pó, 61,5%; quei- 2003 49,37 83,62 -34,24
jos, 18,8%; soro de leite em pó, 13,9%. As vendas
de lácteos para o exterior também foram, na maior 2004 77,34 55,96 21,37
parte, de leite em pó, 62,2%; leite UHT, 18,7%; e de
2005 85,87 72,90 12,97
diferentes tipos de queijo, que representaram 9,1%
do total exportado.
2006 98,73 94,40 4,33
Dois produtos que fazem parte do comércio
internacional de lácteos, o leite modificado para a 2007 103,55 64,17 39,38
alimentação infantil e o doce de leite, apresentaram
os volumes importados e exportados com pequena 2008 148,56 78,29 70,28
variação entre os anos, refletindo um mercado fiel
2009 69,06 133,11 -64,05
de compra e venda.
A importação de soro de leite em pó, de cerca 2010 58,24 113,12 -54,88
de 20 mil t por ano, nos últimos quatro anos tam-
bém é semelhante, porém o volume comercializado 2011 41,81 166,69 -124,88
de outros produtos lácteos apresentou variação de
um ano para o outro, como manteiga, leite UHT e 2012 42,98 180,61 -137,63

iogurte, que foram bastante variáveis ao longo dos


2013 42,47 159,12 -116,65
anos (tabelas 2 e 3).
O Brasil possui todas as condições para aumen- 2014 86,04 108,57 -22,53
tar a produção de leite e tornar o país independen-
te das importações e, mais do que isso, permitir de 2015 76,81 137,16 -60,35
forma efetiva e constante a participação no mer-
2016 55,10 245,28 -190,18
cado internacional como exportador de lácteos,
como tem acontecido com a carne e a soja, entre
2017 38,51 169,15 -130,64
outros produtos.
2018* 9,06 54,34 -45,29

* até maio
Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de
Leite, de Juiz de Fora-MG Fonte: MDIC/Aliceweb

- 14 -
TABELA 2 - IMPORTAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTOS LÁCTEOS, 2014/2017
MIL TONELADAS/ANO
ANO
2014 2015 2016 2017

LEITE EM PÓ 53,708 93,151 161,486 103,439

QUEIJO 20,658 21,550 43,074 31,832

SORO DE LEITE EM PÓ 28,003 16,950 28,395 23,581

MANTEIGA 0,777 1,708 6,829 5,107

LEITE MODIFICADO (INFANTIL) 0,874 1,977 1,919 1,918

IOGURTE 0,175 0,310 0,331 1,287

LEITE UHT 3,474 0,617 2,453 1,083

DOCE DE LEITE 0,904 0,903 0,793 0,904

Fonte: MDIC/Aliceweb

TABELA 3 - EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTOS LÁCTEOS, 2014/2017


MIL TONELADAS/ANO
ANO
2014 2015 2016 2017

LEITE EM PÓ 67,460 63,083 40,404 23,946

LEITE UHT 6,911 6,429 7,774 7,207

QUEIJO 2,591 2,522 2,979 3,504

LEITE MODIFICADO (INFANTIL) 2,280 3,102 3,285 2,313

IOGURTE 0,820 0,570 0,363 0,752

MANTEIGA 5,793 0,926 0,080 0,318

SORO DE LEITE EM PÓ 0,0 92 0,079 0,048 0,313

DOCE DE LEITE 0,090 0,103 0,165 0,160

Fonte: MDIC/Aliceweb

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- 15 -
MERCADO

Vizinhos são os principais


fornecedores do Brasil
Brasil compra, todos os anos, em torno de US$ 500 milhões em produtos lácteos da
Argentina e Uruguai, que têm o nosso país como principal importador

O
Brasil importou 169 mil toneladas de venda de mão única é positiva ou não para o país, o
equivalente leite em 2017 e exportou 38 fato é que Argentina e Uruguai têm produção eleva-
mil toneladas, segundo a pesquisadora da e sobras para exportação.
Rosangela Zoccal, da Embrapa Gado A situação interna nos países vizinhos também
de Leite. Com isso, o país fechou o ano com déficit contribui para esse cenário. Segundo a Secretaria
de mais de US$ 450 milhões na balança comercial. de Lecheria de la Naciõn, da Argentina, o consumo
Mesmo assim, verificou-se, no ano passado, redu- interno de produtos lácteos no país supera os 200
ção superior a 30% na entrada de produtos lácteos litros hab/ano, bem superior aos 173 litros no Brasil.
do exterior. A comparação com o Uruguai é ainda menos favo-
O mesmo cenário permanece em 2018: déficit na rável para nós: lá, a demanda por habitante/ano é
balança comercial do leite e redução das importa- de 239 litros.
ções. Entre janeiro e maio, a entrada de leite no país A Argentina produziu 10,1 bilhões de litros em
caiu 35%, porém o déficit continua elevado – foi de 2017 e exportou cerca de 8% desse total, especial-
US$ 42 milhões somente em maio de 2018. mente para o Brasil, com receita superior a US$ 800
Argentina e Uruguai são os principais forne- milhões. O Uruguai produziu 1,9 bilhão de litros e
cedores de produtos lácteos para o Brasil. No ano exportou em torno de 200 mil toneladas, arreca-
passado, representaram 47% e 42% do total impor- dando US$ 600 milhões, de acordo com o Instituto
tado, respectivamente. Nacional de la Leche (Inale).
Por conta da intensa oscilação dos preços do lei- Desses totais, o Brasil comprou US$ 264 milhões
te ao produtor no Brasil em decorrência da variação de produtos lácteos da Argentina e US$ 236 milhões
climática, balanço de oferta/demanda e consumo do Uruguai. O país representa, assim, um terço das
instável, os países vizinhos aproveitam condições exportações argentinas e 40% das vendas interna-
comerciais favoráveis e colocam seus produtos no cionais de leite do Uruguai, ou o equivalente a US$
mercado nacional. Sem entrar no mérito se essa 500 milhões por ano.

O consumo
de lácteos per
capita no Brasil
é de 173 litros;
na Argentina,
200 litros; no
Uruguai, 239
litros
Arquivo Tetrapak

- 16 -
MERCADO

Ações e tendências na
indústria de laticínios
Rosangela Zoccal e Nelson Rentero

No Brasil, empresas do setor leiteiro apostam em aquisições e associações, tendência que se


observa também em outras partes do mundo

O
Brasil é o quarto maior produtor mun- No continente asiático, a gigante Huishan Dairy,
dial de leite, com 35,1 bilhões de litros/ na China, está reduzindo suas atividades e buscan-
ano. Em 2016, o volume captado para do alternativas para resolver o tal impasse. No Sri
processamento em indústrias de laticí- Lanka, a Cargill Ceylon inaugurou a maior usina
nios do país foi de 23 bilhões de litros; em 2017, su- de produtos lácteos do país. No Vietnã, a Vinamilk
biu para 24,3 bilhões. Por trás desses números está partiu para investir em fazendas de leite orgânico,
presente uma política declarada de aquisições, as- seguindo as normas europeias.
sociações e fusões de empresas, de olho no merca-
do cada vez mais competitivo e no poder de compra EMPRESAS EUROPEIAS, AS MAIORES
do consumidor, que coloca produtores e empresas A americana Brookside, em Uganda, investiu na
em constante situação de alerta. renovação de sua usina de lácteos em Kampala, para
Não só por aqui, mas no mundo todo, a maioria atender o mercado africano. Em Ruanda, o Ministério
das indústrias tem como meta comum reduzir custos da Agricultura lançou um projeto, de US$ 65 milhões,
para continuar crescendo. Por isso mesmo, a empresa para o desenvolvimento da produção de leite e pro-
suíça Emmi adquiriu 40% do Laticínio Porto Alegre, cessamento de lácteos. Ainda no continente africano,
de Minas Gerais. Na Argentina, a Lactalis negocia a na Tanzânia, a Danone pretende se tornar a acionista
melhor forma para adquirir a cooperativa Sancor. majoritária da filial da Kenyan Brookside Dairy.
Outras negociações recentes envolvendo indús- Na França, a Laïta investiu € 80 milhões em uma
trias de laticínios envolveram a francesa Danone. nova planta, com capacidade para processar 20 mil t
No ano passado, vendeu sua subsidiária Stonyfield de leite em pó por ano. Na Espanha, a TGT investiu
Farm e adquiriu a WhiteWave Foods, especializada em uma fábrica de queijos e está construindo um sis-
em produtos lácteos orgânicos. tema de produção para abrigar 20 mil vacas em lac-
tação, com produção estimada em 580 mil litros/dia.

META É GANHAR MERCADO


TABELA 1 - RANKING DAS Fusões e aquisições no setor em termos globais
MAIORES EMPRESAS LÁCTEAS não são novidade. Foram iniciadas nos anos 80 e
DO MUNDO mantidas com mais intensidade nos anos 90, quan-
Empresa País de origem do ocorreu a desregulamentação do mercado lácteo
brasileiro. No ranking elaborado pela Leite Brasil,
1º Nestlé Suíça
das 10 maiores empresas de laticínios classificadas
2º Danone França por volume de leite adquirido, em um período de
3º Lactalis França dez anos, apenas três empresas – Nestlé, Itambé e
Embaré – se mantiveram entre as dez maiores com-
4º Fonterra Nova Zelândia
pradoras de leite.
5º FrieslandCampina Holanda Provas recentes desta tendência foi a aquisição
6º Dairy Farmers of America Estados Unidos da Itambé pela Lactalis, num processo que ainda
não se materializou devido à pressão da mexicana
7º Arla Foods Dinamarca / Suíça
Lala, parte envolvida no negócio e que comprou a
8º Saputo Canadá Vigor. Outro exemplo, este já aprovado, é o da Ca-
9º Dean Foods Estados Unidos tiva, que comprou a central Confepar por R$ 30 mi-
lhões. Com isso, revelou seus planos para ampliar a
10º Yili China
Fonte Rabobank captação de leite também em estados vizinhos.

- 17 -
MERCADO

Indicadores da produção
mundial de leite
Rosangela Zoccal

Europa e Ásia produzem dois terços de leite no mundo; os Estados Unidos são o país de
maior produtividade e a produção mundial bate em 798 milhões de t de leite

A
FAO (Organização das Nações Unidas que o volume proveniente de vaca e de búfala so-
para Agricultura e Alimentação) apon- mam 97% do total, e que as outras espécies, como
tou que a produção mundial de leite em cabra, ovelha e camela, produziram 3%. Os 20 paí-
2016 foi de 798 milhões de t. Desse vo- ses com maior volume de leite somaram 617,13 mi-
lume, 83% foram de leite de vaca, 14% de búfala, lhões t (tabela 2). A Índia destacou-se como maior
2% de cabra, 1% de ovelha e de camela menos de produtora mundial, considerando duas raças, sendo
1% do total. Nesses cálculos foram considerados o volume de leite dos bubalinos maior que o dos
199 países com leite de vaca, enquanto em 25 deles bovinos. Os Estados Unidos, com 92,28 milhões t,
a produção veio também de búfalas. foram o maior produtor de leite de vaca em 2016.
A Europa e a Ásia produziram juntas dois terços O terceiro país no ranking foi o Paquistão, que
do leite, 67,5% do total. O continente americano produziu 45,84 milhões t, sendo 66% de leite de
respondeu por 22,7% desse volume, cerca de 60 búfala e 34% de vaca. O Brasil, em quarto lugar na
milhões de t, sendo que a América do Sul ficou com classificação, com volume de 34,23 milhões t, foi se-
7,8%. O leite africano representou 6,1% e a Ocea- guido pela Alemanha com 33,48 milhões t ao ano.
nia 3,7% do leite um mundial (tabela 1). Na Ásia, a Entre os maiores produtores de leite no mundo,
produção de leite de búfala foi de 108,6 milhões t, China, Rússia, Austrália, Argentina e Ucrânia tiveram
35,7%, principalmente pela produção da Índia e Pa- redução do volume no período de 2011 a 2016.
quistão, que juntos responderam por 195,7 milhões
t, 64,3% do leite de vaca no continente. NOS ESTADOS UNIDOS,
O IFCN, que é uma rede de pesquisadores que A MAIOR PRODUTIVIDADE
estudam a produção de leite no mundo, considerou Considerando a produtividade animal como um

Com média de
lactação de
9.900 kg/vaca/
ano, os norte-
americanos
detêm a melhor
produtividade
leiteira do
mundo
N.Rentero

- 18 -
TABELA 1 - PRODUÇÃO DE LEITE DE VACA E DE BÚFALA NOS CONTINENTES, 2016

Produção
(mi t)

Leite vaca Leite búfala % Leite vaca % do total


ÁSIA 195,7 108,6 64,3 39,5
EUROPA 215,7 0,2 99,9 28,0
AMÉRICA 181,6 - 100,0 23,6
ÁFRICA 37,7 2,2 94,5 5,2
OCEANIA 28,5 - 100,0 3,7
TOTAL 659,2 111,0 85,6 100

AMÉRICA EUROPA OCEANIA


OCEANO
ÁRTICO

OCEANO OCEANO
PACÍFICO ATLÂNTICO
OCEANO
PACÍFICO

OCEANO
ÍNDICO

ÁFRICA

OCEANO ÁSIA
SUL
Fonte: FAO/FAOSTAT, 2018

- 19 -
indicador de desenvolvimento da atividade leitei- estão em quatro países: Índia, Paquistão, Rússia e
ra, os norte-americanos, com 9.900 kg de leite por Uzbequistão, com rebanhos variando de 1,8 a 3,1
vaca/ano, apresentaram o maior índice entre os pa- vacas/produtor.
íses classificados como grandes produtores. Cana- Como tendência, nos últimos cinco anos, in-
dá, Holanda, Reino Unido, Alemanha, Itália, França, versamente ao número de fazendas produtoras de
China e Polônia apresentaram produtividade animal leite, está o número de vacas por unidade de pro-
superior a 6 mil kg/ano. dução, que foi, em média, de 82 vacas em lactação.
Com valores entre 3 mil e 6 mil kg/vaca/ano Apenas a Rússia e o Uzbequistão tiveram redu-
estão Austrália, Argentina, México, Nova Zelândia, ção dos rebanhos produtivos. Os países que mais
Ucrânia e Rússia. Com índices de produtividade cresceram em número de vacas por fazenda, no
animal inferiores a 3 mil kg/vaca/ano estão Turquia, período analisado, foram Polônia, México, Estados
Paquistão, Uzbequistão, Brasil e Índia. Unidos, Itália, Holanda, Alemanha, China, Ucrânia
No período de 2011 a 2016, nos 20 países ana- e Austrália.
lisados, o número de fazendas produtoras de leite A atividade leiteira no Brasil segue a mesma
caiu, em média, 3,1%. Apenas na Nova Zelândia, tendência mundial, que é de crescimento da pro-
Turquia e Uzbequistão não ocorreu redução de dução e da produtividade, com redução do número
unidades produtoras nos últimos cinco anos. Cerca de fazendas produtoras e aumento do número de
de 94% do total de fazendas leiteiras do mundo animais em produção por sistema.

Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

TABELA 2 - PRODUÇÃO, PRODUTIVIDADE E ESTRUTURA DE


PRODUÇÃO DE LEITE NOS PRINCIPAIS PAÍSES, 2016

Produção Produtividade Número fazendas Vacas/fazenda

País Mi t/ano % 1
t/vaca/ano % 1
unid/mi % 1
cab/mi %1

Índia 170,89 4,4 1,3 2,1 73,083 -0,8 1,8 3,2

EUA 92,28 1,8 9,9 1,50 46 -4,7 203 5,4

Paquistão 45,84 2,0 2,1 2,7 6,984 -0,8 3,1 -

Brasil 34,23 1,0 1,6 2,7 1,100 -2,7 21,2 1,2

Alemanha 33,48 1,5 7,9 1,3 69,2 -4,5 61 4,9

China 32,08 -0,3 6,4 5,7 1,300 -10,0 3,8 4,6

Rússia 28,45 -1,0 3,4 0,4 3,091 -0,4 2,7 -1,0

França 25,16 0,2 6,9 0,3 63 -3,4 57,6 3,3

Nova Zelândia 24,21 2,0 4,8 -0,1 11,9 0,3 419 1,7

Holanda 15,52 4,2 8,9 0,7 17,9 -1,5 97 5,0

Turquia 15,47 5,0 2,8 0,7 1,189 1,5 4,6 2,3

Reino Unido 15,09 1,2 8,0 0,30 13,2 -2,0 143 3,2

Polônia 12,93 1,5 6,0 4,1 237 -11,1 9,1 9,7

Itália 12,51 1,6 7,0 3,8 34 -7,0 52 5,1

México 11,99 1,6 4,9 1,0 107 -4,5 23,1 5,4

Austrália 9,83 -0,5 5,8 -1,8 6 -2,8 283 4,1

Argentina 9,73 -2,5 5,7 -2,7 10,2 -2,6 168 3,0

Ucrânia 9,71 -1,0 4,6 3,1 1,125 -7,9 1,9 4,6

Canadá 8,95 2,0 9,3 2,1 11,3 -2,4 85 2,3

Uzbequistão 8,78 7,4 2,1 5,7 2,399 5,3 1,8 -2,9

TOTAL 617,13 1,6 5,5 1,68 90.812,7 -3,1 82,1 3,3


1
Taxa anual de crescimento no período de 2011 a 2016 Fonte:
IFCN, 2018

- 20 -
- 21 -
MERCADO

Leite do Brasil frente ao


mercado mundial
Glauco Rodrigues Carvalho e Denis Teixeira da Rocha

Competitividade e gestão de risco são os grandes desafios do leite brasileiro, que


convive com cotações mais altas que a média de mercado e oscilações acentuadas

E
ntender o comportamento dos preços do Estudo feito pela Rede Internacional para a
leite, seu patamar médio e as flutuações Comparação de Fazendas de Leite (IFCN na sigla
ao longo do tempo é fundamental não em inglês) sobre os preços internacionais pagos
apenas para analisar a competitividade aos produtores de leite no período de 2010 a 2015
de um país no mercado internacional, mas também mostrou que, na média, os preços brasileiros ficaram
para buscar meios de facilitar a gestão de risco na cerca de 4,9% acima do patamar mundial (tabela 1).
atividade e melhorar o planejamento econômico- Vale ressaltar que o preço em cada país foi padroni-
financeiro das empresas. zado em termos de proteína e gordura, ou seja, com-
Nesse contexto, o objetivo aqui é comparar os parando preços de um “mesmo” produto.
patamares de preços do leite ao produtor e suas No caso dos Estados Unidos, os preços ficaram
variações no Brasil e em diferentes países, conside- 10,6% acima da média mundial. Por outro lado, pa-
rando sua importância no mercado internacional ou íses mais competitivos em preço, como Uruguai,
na balança comercial brasileira de lácteos. Para isso, Nova Zelândia e Argentina, apresentaram compor-
foram selecionados Nova Zelândia, Estados Unidos, tamento diferente. Os preços do Uruguai foram Produtor convive
com forte
Argentina e Uruguai. 8% inferiores, enquanto Nova Zelândia e Argentina oscilação tanto
no preço do leite
quanto nos custos
de produção

N.Rentero

- 22 -
FIGURA 1 - PREÇO DO LEITE AO PRODUTOR EM PAÍSES SELECIONADOS: DESVIO DA
MÉDIA DE PREÇO INTERNACIONAL (%) NO PERÍODO DE 2010 A 2015

ESTADOS UNIDOS 10,6

BRASIL 4,9

URUGUAI -8,0

NOVA ZELÂNDIA -9,7

ARGENTINA -9,8
Fonte: IFCN

tiveram cotações 9,7% e 9,8% menores que a média anunciados com maior antecedência. Portanto, existe
mundial, respectivamente. uma maior previsibilidade.
Assim, se compararmos o Brasil com os nossos prin- Finalmente, analisar a sazonalidade dos preços tam-
cipais fornecedores (Argentina e Uruguai) tem-se uma bém pode gerar insights sobre o comportamento das
significativa diferença em preços, que variou de 13% a cotações no mercado internacional. Nesse sentido, uma
quase 15%. Essa situação demonstra a dificuldade bra- questão que merece atenção é o fato de que no Brasil a
sileira em competir no mercado internacional de leite. mediana (linha central do retângulo) ficou acima da mé-
Um outro indicador importante a ser analisado é a dia (representada pelo pequeno círculo), sendo o Brasil
amplitude nas variações de preços ao longo do tempo. o único país analisado a registrar tal situação (figura 2).
Considerando os preços do leite ao produtor no perí- Isso quer dizer que na maior parte do ano os preços
odo de 2010 a 2017, os limites inferiores e superiores mensais do leite ao produtor ficam acima do preço mé-
dos valores brasileiros são mais distantes, conforme dio do ano. Essa é uma característica do longo período
pode ser observado na figura 2. Isso ilustra a maior de sazonalidade de preços (e de produção) no merca-
amplitude nos preços do leite pagos ao produtor no do brasileiro. O período de dezembro a março (quatro
Brasil em relação aos demais países analisados. Uru- meses) é marcado por preços mais baixos que a média
guai, Argentina e Estados Unidos também registraram do ano, enquanto entre abril e novembro tem-se, geral-
intervalos de preços bastante amplos. Essa grande mente, preços mais altos.
amplitude gera complicações para os produtores na Nos outros países analisados essa constatação é di-
gestão do fluxo de caixa. ferente, sendo que na maioria dos meses a cotação fica
abaixo da média anual. Na Argentina, o período de pre-
VARIAÇÕES NOS PREÇOS E NOS CUSTOS ços mais baixos se estende por sete meses e vai de se-
Além disso, as oscilações acontecem também nos tembro a março. No Uruguai, os preços também ficam
custos de produção. Assim, o produtor convive com mais baixos por sete meses, compreendendo o período
forte oscilação tanto no preço do leite como nos custos de julho a janeiro. Coincidentemente, nos Estados
de produção. Vale destacar que no caso dos Estados Unidos, o período de preços abaixo da média ocorre
Unidos existe também uma grande variabilidade nos também durante sete meses, indo de dezembro a junho.
preços, que é medida pelo tamanho da caixa apresen- Já no caso da Nova Zelândia, a baixa de preços é
tada na figura 2. Portanto, essa elevada oscilação não é mais acentuada nos meses de maio e junho, que corres-
um caso específico do Brasil, sendo observada em vá- pondem ao final da safra daquele país. De todo modo, as
rios países produtores. variações de preços na Nova Zelândia são muito peque-
O problema é que a ausência de mecanismos de nas e praticamente inexiste o padrão sazonal. Uma im-
proteção de preços e de seguros no mercado brasilei- portante constatação é que determinados períodos em
ro de leite cria uma dificuldade adicional na gestão de que os preços do leite no Brasil estão mais altos coin-
risco na cadeia produtiva. Vale ainda salientar o caso cidem com cotações mais baixas em outros países. É o
da Nova Zelândia, país com menor oscilação de preços caso de setembro a novembro na Argentina, julho a no-
entre os analisados. Essa constatação é consequência vembro no Uruguai e abril a junho nos Estados Unidos.
do modelo de negócio existente naquele país, no qual o Nestes períodos, o mercado brasileiro fica mais vulne-
sistema cooperativista é predominante e os preços são rável a importações de produtos lácteos desses países.

- 23 -
FIGURA 2 - PREÇOS DO LEITE AO PRODUTOR: DISPERSÃO E CARACTERÍSTICAS DAS
SÉRIES EM PAÍSES SELECIONADOS NO PERÍODO DE 2010 A 2017
ESTADOS NOVA
BRASIL URUGUAI ARGENTINA UNIDOS ZELÂNDIA

1.12

1.08

1.04

1.00

0.96

0.92

0.88
Fonte: Banco de dados da Embrapa

O comportamento dos preços do leite no mer- de competitividade, as cotações brasileiras são mais
cado brasileiro frente a outros importantes merca- altas, dificultando nossa inserção internacional. Em
dos ilustra a existência de grandes desafios para o termos de gestão de risco, a cadeia produtiva con-
setor leiteiro nacional, sobretudo nos âmbitos da vive com oscilações mais acentuadas, que dificultam
competitividade e de gestão de risco. Em termos a administração do negócio e a sua previsibilidade.

Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador; Denis Teixeira da Rocha, analista.


Ambos da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

INFORME

Solução eficiente para higienização de granjas


A correta higienização dos lações. “Nossas pesquisas no favorável ao desenvolvimen-
galpões está entre os fato- campo identificaram um gar- to de bactérias e ao aumento
res que atingem diretamente galo na produção, relaciona- da amônia. O uso de pro-
o bem-estar dos animais e do aos processos de limpeza dutos em pó, que reduzem a
afetam o seu desenvolvimen- das propriedades. Stalosan F umidade no galpão e baixam
to. Cuidados com a higiene, higieniza o ambiente tornan- os índices de amônia, é um
aumento de umidade ou até do-o mais confortável, limpo aliado na redução de umida-
mesmo de índices de amônia e seguro. Tudo isso gera um de nas granjas e oferece um
são fatores que interferem impacto positivo na saúde, no ambiente favorável às vacas
diretamente no desempenho desempenho e no bem-estar em produção”, afirma o mé-
das vacas leiteiras. dos animais”, explica a geren- dico veterinário e professor
Esta constatação leva a te técnica Brasil e América La- de Microbiologia Veterinária
Sanphar a apresentar Stalosan tina da Sanphar, Ana Caselles. na Universidade Federal do
F, pó sanitizante 100% mineral “O aumento da umidade, por Paraná (UFPR, Curitiba/PR),
para a higienização de insta- exemplo, cria um ambiente Luiz Felipe Caron.

- 24 -
- 25 -
ENTREVISTA PAULO DO CARMO MARTINS

Novo modelo de pesquisa


deve ser buscado no país
A produção de leite tem muito para crescer por aqui. Para isso, é preciso redesenhar o modo de financiar a
pesquisa no Brasil, gerando tecnologias em conjunto com o setor privado

nhamos em 2014. Quanto a investimentos, país. A partir de agora temos de gerar tec-
os recursos destinados são zero. Nos últi- nologia em conjunto com o setor privado.
mos quatro anos não adquirimos nenhum
carro, computador ou equipamento de Como isso poderia acontecer?
laboratório com orçamento da empresa. PCM - Temos o melhor conjunto de pes-
Além disso, foi interrompido o processo quisadores em leite no mundo tropical, o
de editais para escolha de novos projetos. melhor conjunto de laboratórios nos trópi-
Estamos executando os já selecionados. cos e a melhor estrutura de campos expe-
As agências estaduais e federais de fo- rimentais. E sabemos que a produção de
Arquivo Embrapa

mento à pesquisa também se encontram leite tem muito para crescer por aqui. Es-
no mesmo quadro. ses ativos são diferenciais para os empre-
sários brasileiros. Então, o que precisamos
Como esse quadro impacta o setor? é fazer o arranjo institucional que trans-

O
PCM - Veja, por exemplo, o caso do sis- forme estas oportunidades em diferencial
economista Paulo do Carmo tema compost barn. É certo que já temos competitivo. Produtores e indústria preci-
Martins é chefe-geral da Em- mais de mil instalados no Brasil, pois o sam interferir diretamente no que fazemos
brapa Gado de Leite. Ocupa produtor brasileiro é empreendedor. Mas, e também colocar dinheiro. O modelo do
o cargo em segunda gestão. é o produtor quem está assumindo o risco tipo “eu crio e você adota” não cabe no
A primeira ocorreu no período de 2004- da experimentação, pois não temos co- mundo da quarta revolução industrial em
2008. Também atua como professor da nhecimento acumulado nesta tecnologia que estamos inseridos. Precisamos criar
Universidade Federal de Juiz de Fora-MG em ambiente tropical. Por isso, apenas um fundos de investimento em pesquisa, com
e é constantemente convidado para fazer em cada quatro produtores está plena- ou sem renúncia fiscal.
palestras e discorrer sobre o tema leite mente satisfeito com este novo sistema de
sob os mais variados enfoques. É o que faz produção. Quais são as recomendações Como se define o programa de pesqui-
aqui nesta entrevista exclusiva ao Anuário técnicas para a instalação de compost sas da Embrapa Gado de Leite?
Leite 2018, ao falar de pesquisa sobre lei- barn em diferentes biomas? Qual a melhor PCM - A Embrapa escolhe os projetos
te e as atuais restrições econômicas para forma de revolver a cama? Quantos me- por editais competitivos. Nenhum pes-
realizá-la, a importância da inovação no tros quadrados devem ser destinados para quisador tem assegurado recursos para
setor e da assistência técnica para produ- cada animal? Estamos usando a forma trabalhar. Ele precisa convencer que seu
tores, os indicadores de eficiência na pro- mais cara de aprender, que é a de tenta- projeto tem mérito. E a exigência é que o
dução de leite e a presença de laticínios tiva e erro. Isso gera aprendizagem, mas a resultado seja vinculado ao produtor. A
multinacionais em nosso país. um custo maior para quem arrisca. O ideal prioridade da pesquisa básica é da uni-
seria a Embrapa Gado de Leite estar me- versidade. Na Embrapa, a prioridade é a
A Embrapa, assim como outras empre- dindo estas questões em seu campo expe- pesquisa aplicada. Este diferencial foi co-
sas estatais, tem sofrido cortes de ver- rimental. Mas, faltam recursos. locado logo no surgimento da Embrapa.
ba para execução de seus programas Na verdade, foi isso que justificou a sua
de pesquisa. Para o leite, especifica- E o sr. vê mudança neste cenário de criação, ou seja, conhecer problemas do
mente, o que tem sido afetado? poucos recursos para a pesquisa? produtor e criar soluções que os resolvam.
Paulo do Carmo Martins - Estamos vi- PCM - Não vejo. O Estado brasileiro está
vendo a maior crise desde a criação da quebrado e precisamos equilibrar as con- E, hoje, como o sr. avalia o nível de
Embrapa. Este ano, estamos com 43% dos tas públicas. O que precisamos é redese- aproveitamento desses trabalhos por
recursos de custeio em relação ao que tí- nhar o modo de financiar a pesquisa no quem produz leite no país?

- 26 -
- 27 -
PCM - Temos gerado novas soluções ções excepcionais para a região Sul, Mata presas, tanto no campo quanto na indústria
para o setor. Muitas, de impacto. Criamos Atlântica, Cerrados e Semi-Árido. Mas, boa de insumos e no processamento, é muito
recentemente o Capiaçu, um tipo de ca- parte dos produtores de leite não é de agri- bem-vinda, pois forçará a organização do
pim-elefante que é para ser ensilado e dá cultores e carrega a visão que pasto não setor numa maior velocidade, em função da
quatro cortes por ano. Um sucesso! Está se cuida, como qualquer cultura agrícola. competição, cada vez mais acirrada.
cobrindo de verde o Brasil, de Norte a Correção de solo, por exemplo, não é regra
Sul. Criamos uma equação genômica que entre aqueles que produzem leite a pasto. Nesse sentido e contrariando o que
aumentou significativamente a previsibi- Ademais, temos carências em conhecimen- ocorre em importantes países produto-
lidade no melhoramento genético da raça tos primários como, por exemplo, manejar res e exportadores de leite, o sistema
Girolando. E estamos com duas soluções cerca elétrica. E incluo os técnicos nesta cooperativista não se apresenta por
digitais disponíveis para gestão de pro- lista, pois as universidades não entram nes- aqui como a solução mais atraente para
priedades, o Gisleite e o Gepleite. Criamos te detalhe. Com carência de mão-de-obra e organizar e fortalecer produtores. Na
também o primeiro processo de monito- produtor pouco vocacionado a encarar lei- sua opinião, por que isso ocorre?
ramento da qualidade do leite, que cobre te como parte da agricultura, este sistema PCM - O percentual do leite processado
todo o território nacional, que é o SimQL. de produção não expressa o seu potencial. ou comercializado pelas cooperativas ain-
Mas, uma coisa é gerar e outra é a tec- da é muito importante. Mas, elas trabalham
nologia ser disseminada. É aí que entra o A assistência técnica é apontada como com dois tipos de problemas. O primeiro é
serviço de assistência técnica. fator determinante para fazer bons re-
sultados em uma propriedade leiteira.
Há algum tempo a pecuária de leite No entanto, na grande massa de produ-
dispõe de tecnologias para alavancar tores do país é pequena a fração dos que
ESTÁ OCORRENDO
nossa produtividade, considerada em se utilizam de um técnico. A expansão
média muito baixa se comparada com desses serviços deve ser uma responsa-
UMA REVOLUÇÃO
países especializados. Qual é a sua ex-
plicação para isso?
bilidade da indústria, do governo ou deve
mesmo ficar por conta do produtor?
SILENCIOSA NO
PCM - As estatísticas oficiais não tradu- PCM - Este é um imenso e antigo gargalo.
SETOR LÁCTEO. NÃO
zem a transformação que ocorre no setor. É muito difícil um empreendimento leitei-
A produtividade é medida em função de ro ter bons resultados zootécnicos sem o É DIFÍCIL ENCONTRAR
todas as vacas e considera também as de acompanhamento de dois tipos de técni-
corte. Além disso, cerca de 30% das pro- cos: um que cuide de questões reproduti- PROPRIEDADES NO
priedades produzem, mas não vendem leite vas e sanitárias e outro que cuide da parte
nem queijo. Então, tem rebanho sem o de- da alimentação. Há um grupo de produ- SUL DO PAÍS COM
vido manejo produtivo. Por outro lado, está tores que adota alta tecnologia e já conta
ocorrendo uma revolução silenciosa no se- com assessoria técnica contínua e de pri- PRODUTIVIDADE POR
tor lácteo. Não é difícil encontrar proprie- meira qualidade. Há outro grupo que tem
dades no Sul do país com produtividade grande potencial para crescer e interessa VACA/ANO
por vaca/ano acima de 6 mil kg, como na à indústria investir em programas que se
França e na Alemanha. No leite vale a re- traduzam em fidelização por meio de apoio ACIMA DE 6 MIL KG
gra do 20/80, ou seja, 20% dos produtores técnico e fomento. E há um terceiro grupo,
produzem 80% do leite. E, para reverter com baixo nível tecnológico, que precisa da
isso é preciso superar alguns gargalos, atenção do Estado custeando este serviço. escassez de capital para crescer, já que os
dentre eles a falta de assistência técnica. donos, que são os produtores, são pobres
Como o sr. avalia a entrada de multi- e não podem fazer aportes financeiros, en-
A propósito, o potencial de produção nacionais do leite em nosso país, com quanto os bancos trabalham com juros es-
de leite a pasto no Brasil, que chega a atuação agressiva e com alta escala tratosféricos. O outro problema tem a ver
encantar produtores neozelandeses, de captação? Que tipo de impacto tal com gestão da cooperativa. Mas, existem
considerados referências no sistema, ação deve causar no nosso mercado? muitas cooperativas competentes atuando
não se expande como poderia, apesar PCM - O Brasil tem atraído capital estran- no Brasil e boa parte delas está no Sul do
de tecnologias e técnicos disponíveis. geiro na produção e no processamento. país, pela cultura e tradição enraizadas há
Ao mesmo tempo, opções de modelos O motivo é que não existe outro país no anos. Todavia, é importante afirmar que, se
de confinamento se revezam, sempre mundo com perspectivas tão favoráveis é muito bom ter um sistema cooperativista
como a “melhor solução” para nossos para crescer tanto na produção quanto no atuante, não é necessário que isso ocorra
produtores. Como o sr. vê esse quadro? consumo. Ainda podemos crescer cerca de para que o leite cresça. Pelo menos é o que
PCM - A Embrapa e as universidades 100 litros/habitante/ano, numa população mostram os dados. Não importa por que
acumulam quase quatro décadas de um jovem e que também cresce em número de meio, o importante é que a atividade leiteira
trabalho consistente com o melhoramento habitantes. E temos tudo também para ser- cresce mais que o dobro do PIB brasileiro,
genético de pastagem no Brasil, com solu- mos exportadores. A chegada destas em- ano após ano, há quase duas décadas.

- 28 -
OPINIÃO

Transparência favorece
Ronei Volpi, médico
veterinário, presidente
da Comissão Técnica de
Bovinocultura de Leite

o desenvolvimento
da FAEP-Federação da
Agricultura do Estado
do Paraná

O
Conseleite-PR (Conselho janeiro de 2003 publica-se mensalmente Conselho, quando os preços eram co-
Paritário de Produtores e In- o preço de referência para o leite. nhecidos apenas no mês seguinte após a
dústrias de Leite do Paraná) O princípio de transparência tem iní- entrega de todo o leite.
é uma entidade tripartite que cio com o levantamento das informações Outras vantagens trazidas pelo Con-
busca soluções conjuntas para proble- de desempenho comercial dos produ- seleite devem ser citadas, como a pos-
mas comuns. Sua criação foi motivada tos lácteos no atacado. Em se tratando sibilidade de planejar a produção pelo
pela necessidade de estabelecer um re- de informações sensíveis e sigilosas, foi conhecimento antecipado da tendência
ferencial de preços para o leite, baseado necessário encontrar uma instituição de preços. Todavia, o grande destaque
no princípio da transparência e no de- imparcial e idônea para realização do le- veio em 2004 com o início do estabele-
sempenho comercial de seus derivados. vantamento. Isso se materializou na con- cimento de contratos de compra e venda
Fazem parte de sua composição a tratação do Departamento de Economia de leite, o que proporciona fidelização
Faep-Federação da Agricultura do Esta- Rural e Extensão da UFP. entre fornecedores e compradores, anti-
do do Paraná e o Sindileite-Sindicato da O departamento levanta semanalmen- ga reivindicação do setor.
Indústria de Laticínios e Produtos Deri- te junto às indústrias participantes os O Conselho possibilitou a produtores
vados do Paraná, além da UFP-Universi- dados referentes à comercialização de 14 e indústrias encontrarem na divulgação
dade Federal do Paraná, como mediadora produtos derivados do leite no atacado. dos preços de referência o parâmetro
das discussões. As informações são tabuladas, tratadas que sempre lhes faltava para a fixação
A demanda surgiu no início dos anos estatisticamente e divulgadas na forma de valores. Esses contratos são interes-
2000, a partir das reuniões da Comissão de dados médios, mantendo resultados santes para ambos os lados, pela impor-
Técnica de Bovinocultura de Leite da individuais em sigilo. tância que representam para o planeja-
Faep, que entendeu não ser mais possível mento ao evitar grandes oscilações de
conviver com a falta de confiança mútua O Conseleite possibilitou volumes e de preços.
e de transparência na formação de pre- a produtores e indústrias Dessa forma, o Conseleite Paraná fi-
ços. As relações entre os setores pro- gura como importante ferramenta de
dutivo e industrial eram em sua maioria encontrarem nos preços de mercado para o leite, para o posicio-
conflitantes, o que exigia um referencial referência o parâmetro que namento industrial e como ambiente de
de preços objetivo e mensurável para o diálogo para o desenvolvimento do se-
leite do estado. sempre lhes faltou para a tor. Baseado na confiança entre os dois
Ao mesmo tempo, pretendeu-se favo- fixação de valores segmentos, a partir de uma proposta
recer o desenvolvimento sustentável da inovadora e arrojada, o Conselho conso-
produção de lácteos, bem como contri- A comercialização do leite no Para- lidou-se como ferramenta eficiente para
buir para a melhoria da qualidade. Hoje, ná começou a se organizar conforme a negociação de preços, refletindo trans-
seu principal objetivo é proporcionar divulgação dos preços-referência atin- parência e justiça.
maior transparência para o mercado de gia as regiões produtoras. De imediato, Os 15 anos de aplicação da metodo-
laticínios a partir da determinação e dis- pequenos produtores foram os que mais logia do Conseleite não foram suficientes
seminação de preços de referência para se beneficiaram, pois passaram a dispor para resolver todos os problemas que
a matéria-prima, calculada com rigor de uma ferramenta que lhes deu embasa- rondam o setor leiteiro do Paraná, haja
científico comprovado. mento para negociar os preços com base vista a influência de questões estruturais
A metodologia considera parâmetros na indicação do Conseleite. e conjunturais que fogem à alçada da
de qualidade e volume do leite entregue Para os médios e grandes produtores iniciativa privada. Entretanto, é seguro
ao laticínio. Com base nos preços no ata- também houve benefícios, pois o fato de afirmar que indústrias e produtores pa-
cado de produtos lácteos comercializa- os preços ser divulgados mensalmente ranaenses plantaram a semente e estão
dos, o preço de referência destina-se a possibilitou o crescimento de uma mas- cultivando um ambiente saudável de co-
ser um valor justo e objetivo, tanto para sa de produtores bem informados e mais mercialização, com mais clareza e con-
produtores como para as indústrias. A preparados para uma discussão. Tal fato fiança, focado na busca de crescimento
metodologia foi criada em 2002 e desde era impensável antes da instituição do harmônico para o setor.

- 29 -
PRODUÇÃO

Produção de 2017 cresce e


reverte tendência de queda
Rosangela Zoccal

O volume de leite adquirido pelas indústrias em 2017 aponta inversão na queda recente de
produção, passando de 33,6 bilhões de litros de 2016

A
produção de leite no Brasil, em 2014, O estado líder no leite é Minas Gerais, com qua-
foi de 35,1 bilhões de litros; nos anos se 9 bilhões de litros por ano, 27% do total nacio-
seguintes ocorreu redução do volume, nal, seguido por Paraná, Rio Grande do Sul e Santa
chegando em 2016 a 33,6 bilhões de Catarina. O estado de Goiás, que chegou a produ-
litros. As estimativas para o ano de 2017, consi- zir 3,8 bilhões de litros, reduziu o volume em 843
derando o desempenho dos anos anteriores, é que milhões de litros, chegando a 2,9 bilhões em 2016
tenha ocorrido pequena redução no total produzi- e no ano passado a estimados 2,599 bilhões de li-
do, de 531 milhões de litros. Porém, se considerar tros. No Nordeste, os estados que mais produziram
o volume de leite adquirido pelas indústrias, que foram Pernambuco, Bahia e Ceará. Na Bahia, em
foi maior em 2017, pode ter superado o volume de 2014, o volume alcançou 1,2 bilhão de litros e após
2016, quebrando a tendência de redução mantida este período o estado teve sucessivas reduções na
nos últimos anos. quantidade produzida. No Norte, se destacaram os
A taxa de crescimento no período de 1996 a estados de Rondônia, Pará e Tocantins.
2006 foi de 37,2%, enquanto na década seguinte, A estimativa da quantidade de leite produzido
de 2006 a 2016, foi de 32,4% (tabela 1). O maior indica que em 2017 foi mantido crescimento no Sul,
volume de produção, até 2013, sempre ocorreu na com produção superior a um bilhão de litros em re-
região Sudeste, principalmente pela produção de lação à região Sudeste e 37% maior que a soma das
Minas Gerais. A partir de 2014, a maior quantidade produções do Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Na
do leite brasileiro passou a ser produzida na região região Sul, deve continuar o crescimento do leite nos
Sul, onde os três estados apresentaram as maiores três estados. No Norte, principalmente Tocantins e
taxas de crescimento. Nas regiões Norte e Nor- Pará continuam incrementando a atividade, enquan-
deste ocorreu pequena variação e o Centro-Oeste to no Nordeste, Pernambuco e Ceará são os estados
teve a maior redução entre as regiões. que mais devem se destacar em crescimento.

Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

O volume de leite
captado pelas
indústrias no ano
passado foi 4,46%
superior a 2016
Divulgação/Itambé

- 30 -
TABELA 1 - PRODUÇÃO DE LEITE POR REGIÕES E ESTADOS
BRASILEIROS, 1996/2017

Produção de leite (Milhões de litros)


Regiões / Estados
1996 2006 2016 2017*

Brasil 18.515 25.398 33.625 33.094

Sul 4.242 7.039 12.458 12.626

Paraná 1.515 2.704 4.730 4.826

Rio Grande do Sul 1.861 2.625 4.614 4.625

Santa Catarina 866 1.710 3.114 3.175

Sudeste 8.338 9.740 11.546 11.287

Minas Gerais 5.601 7.094 8.971 8.814

São Paulo 1.985 1.744 1.692 1.653

Rio de Janeiro 432 468 512 503

Espírito Santo 320 434 371 317

Centro-Oeste 2.810 3.722 3.972 3.537

Goiás 1.999 2.614 2.933 2.599

Mato Grosso 376 584 663 624

Mato Grosso do Sul 407 490 346 285

Distrito Federal 28 34 30 29

Nordeste 2.355 3.198 3.772 3.734

Pernambuco 422 630 839 893

Bahia 660 906 858 753

Ceará 391 380 528 561

Maranhão 139 341 371 357

Sergipe 135 243 358 352

Alagoas 223 228 338 346

Rio Grande do Norte 160 235 228 221

Paraíba 150 155 178 180

Piauí 75 80 74 71

Norte 771 1.699 1.876 1.910

Rondônia 317 637 791 754

Pará 238 691 577 589

Tocantins 144 217 386 445

Acre 31 98 57 58

Amazonas 27 45 46 44

Roraima 11 6 13 14

Amapá 3 5 6 6

Fonte: (*) Estimativa de produção, não considerando indicadores de captação da indústria


IBGE/PPM, 2018

- 31 -
PRODUÇÃO

Menos vacas ordenhadas e


mais produção de leite
Rosangela Zoccal

Setor convive com redução do rebanho em lactação e com aumento na produção de leite nos
últimos anos, o que revela uma atividade cada vez mais especializada

O
s dados do IBGE/Pesquisa da Pecuária dução de leite esteja crescendo, como se observa
Municipal registraram queda do reba- no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A
nho produtivo em todas as regiões, ex- maior queda no número de cabeças de vacas em
ceto no Sul do País, que aumentou 23,3% produção durante o ano ocorreu em Minas Ge-
no período de 2006 a 2016. Na década anterior, de rais, onde 358 mil vacas deixaram de produzir. Na
1996 a 2006, o aumento foi geral, principalmente no Bahia, o rebanho produtivo reduziu 221 mil vacas e
Norte, onde mais que dobrou o rebanho leiteiro. em Goiás foram contadas 202 mil cabeças a menos
O maior número de vacas ordenhadas estava em nos rebanhos leiteiros.
Minas Gerais. Neste estado, o número de cabeças Tocantins é o estado que apresentou o maior
cresceu apenas 3,5% no período de 2006 a 2016, crescimento do rebanho leiteiro em 2017, seguido
mas nos últimos anos tem reduzido o rebanho. O se- do Pará, Pernambuco e Alagoas. Em valores apro-
gundo maior plantel estava na região Sul, com média ximados, 30% dos estados tiveram crescimento do
de 1,4 milhão de cabeças em cada estado. Na região rebanho e em 70% deles o número de vacas orde-
Centro-Oeste, 72,9% do rebanho de vacas orde- nhadas diminuiu. Observa-se uma tendência de re-
nhadas estavam em Goiás. dução do rebanho em lactação nos últimos anos e
Estima-se que, em 2017, o número de vacas um aumento da produção de leite, que reflete uma
ordenhadas deve ter continuado na tendência de especialização da atividade em quase todo o País,
redução, atingindo o patamar de 18,6 mil vacas or- notadamente nas regiões onde o leite é uma ativi-
denhadas no país, mesmo em regiões onde a pro- dade importante.

Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

O número
de vacas em
ordenha no país
girou em torno de
18,6 milhões/cab.
no ano passado
N.Rentero

- 32 -
TABELA 1 - NÚMERO DE VACAS ORDENHADAS POR
REGIÕES E ESTADOS BRASILEIROS, 1996/2017

Vacas ordenhadas (Mil cabeças)


Regiões / Estados
1996 2006 2016 2017*

Brasil 16.274 20.943 19.679 18.606

Sul 2.589 3.407 4.200 4.141

Paraná 1.044 1.384 1.622 1.594

Rio Grande do Sul 1.031 1.239 1.461 1.427

Santa Catarina 514 784 1.117 1.120

Sudeste 6.356 7.187 6.820 6.335

Minas Gerais 3.768 4.805 4.974 4.616

São Paulo 1.943 1.598 1.157 1.088

Rio de Janeiro 368 395 416 418

Espírito Santo 277 389 273 213

Centro-Oeste 2.536 3.338 3.069 2.780

Goiás 1.727 2.293 2.238 2.036

Mato Grosso 353 519 553 527

Mato Grosso do Sul 425 504 259 199

Distrito Federal 31 22 19 18

Nordeste 3.556 4.167 3.506 3.246

Bahia 1.463 1.693 880 659

Maranhão 291 523 592 570

Ceará 472 476 534 521

Pernambuco 371 463 489 496

Rio Grande do Norte 199 253 248 240

Paraíba 248 202 223 225

Sergipe 142 197 219 210

Alagoas 184 158 192 199

Piauí 186 202 129 126

Norte 1.236 2.845 2.084 2.104

Pará 485 1162 733 745

Tocantins 280 467 528 578

Rondônia 340 947 600 561

Amazonas 52 80 97 94

Acre 54 162 81 81

Roraima 20 19 38 39

Amapá 5 8 7 6

(*) Estimativa

Fonte: IBGE/PPM, 2018

- 33 -
PRODUÇÃO

Cresce a produção das


maiores fazendas
Levantamento confirma a expansão das grandes fazendas de leite. Boa gestão,
capacitação e ganho de escala envolvidos geram vantagens e ampliam rentabilidade

A
s 100 maiores fazendas leiteiras no Bra- da vivida pelo produtor médio. “Por terem escala e
sil aceleraram o ritmo de crescimento em melhor estrutura de produção, elas obtêm preços de
2017. A produção média do grupo ficou venda mais altos, ao redor de 30% acima da média
em 17.929 litros/dia, quantia 10,4% su- de mercado. Assim, em uma situação em que o volu-
perior em relação à média de 2016 (16.179 litros/ me é importante, o laticínio não pode prescindir do
dia). Esse crescimento foi sustentado pela queda grande produtor e paga mais para garantir a maté-
nos custos operacionais, que caíram 3% entre os ria-prima”, disse ele ao jornal Valor Econômico.
produtores do grupo. Segundo o estudo, 51% das O estudo destaca ainda que 10 participantes do
propriedades tiveram custo operacional médio aci- atual ranking possuem laticínio próprio, sendo que
ma de R$ 1,10/litro. três são Top 10. Com relação aos produtores que
Essas são algumas das informações contidas no mais cresceram, a Fazenda Figueiredo, de Crista-
Levantamento Top 100 2018, realizado anualmente lina-GO, foi o principal destaque, com incremento
pelo portal Milkpoint. O diagnóstico tem como base médio de 10.180 litros/dia, produzindo 66% a mais
os indicadores das maiores fazendas leiteiras do do que em 2016. Em seguida, está a Fazenda São
país. Assim como na pesquisa anterior, o primeiro João-True Type, de Inhauma-MG, com incremento
lugar da lista continuou com a Fazenda Colorado, de 9.534 litros e 32% a mais que a produção do ano
dona da marca Xandô. Depois de elevar a produção anterior.
em 4,2% em 2016, para 63.133 litros por dia, a pro- Na sequência, os produtores que mais expan-
priedade avançou mais 7,14%, para produção média diram suas produções foram: Grupo Melkstad, de
diária de 67.640 litros. Carambeí-PR (incremento de 8.445 litros/dia e
Para Marcelo Pereira de Carvalho, diretor do +29%); Chácara Tina, de Castro-PR (incremento
portal e coordenador do levantamento, o que expli- de 6.429 litros/dia e +21%); Agropecuária Régia,
ca o crescimento em 2017 é que o grupo de pro- de Palmeira-PR (incremento de 6.140 litros/dia e
priedades está numa situação de mercado diferente +24%); Fazenda Cobiça, de Três Corações-MG (in-

A média de produção
das 100 maiores
fazendas do país, em
2017, foi de 17.929
litros de leite/dia
N.Rentero

- 34 -
cremento de 5.324 litros/dia e +30%); Fazenda Frí- sistemas mistos, em que a pastagem assume impor-
sia, de Carambeí-PR (incremento de 4.809 litros/dia tância variável, porém sem ser o principal volumo-
e +50%) e Xapetuba Agropecuária, de Uberlândia- so”, cita o diretor do Milkpoint.
MG (incremento de 4.578 litros/dia e +48%). Com relação ao alojamento das vacas, as pro-
priedades Top 100 2018 utilizam em sua maioria o
EM MINAS, 40 DAS 100 MAIORES sistema confinado, predominando o free-stall, utili-
“Diferente da pesquisa anterior, quando 54% zado em 46% das fazendas participantes, seguido
dos produtores consideraram a rentabilidade da do compost barn, representando 22%. “Com menor
atividade melhor do que a média dos outros anos, representatividade temos os sistemas de piquete
nesta pesquisa apenas 9% dos produtores selecio- (8%) e produtores sem qualquer alojamento para
naram esta opção; 47% afirmaram que a rentabili- as vacas (7%). Fazendas com mais de um tipo de
dade esteve na média e 44% a consideraram pior sistema somam 8%, ao passo que outros sistemas
que a média”, analisa Carvalho. Minas Gerais conti- de alojamento, 9%”, detalha Carvalho.
nua despontando com o maior número de fazendas A CCPR/Itambé apresentou o maior número de
presentes no relatório, com 40 delas no estado. Na fornecedores entre os Top 100, somando 20 fazen-
sequência, estão Paraná, São Paulo e Goiás (empa- das. Em seguida, vêm o Pool Leite (entidade que
tados) e Rio Grande do Sul. comercializa o leite de sete cooperativas do Paraná)
Com relação à raça dos rebanhos, a Holandesa se com 18, Danone e Piracanjuba, com nove fornece-
mantém como a mais utilizada (em 78 propriedades) dores cada. A pesquisa mostrou ainda que o custo
e a Girolando em 30 delas. Vinte e cinco produtores operacional médio entre os 100 maiores produto-
possuem mais de uma raça no rebanho. “Observa- res de leite do país recuou no último ano para R$
mos que em 64% das fazendas aplica-se o confi- 1,02 por litro, abaixo dos R$ 1,05 de 2016, o que não
namento total, ao passo que 14% possuem sistemas compensou a queda dos preços recebidos, afetando
baseados em pastagens. Cerca de 22% possuem a rentabilidade e o ritmo de crescimento.

AS 20 MAIORES FAZENDAS DE LEITE DO BRASIL EM 2017


PRODUÇÃO TOTAL PRODUÇÃO
POS. POS.
NOME DO PRODUTOR/GRUPO COMERCIALIZADA MÉDIA DIÁRIA CIDADE UF
2017 2018
EM 2017 (EM LITROS) (EM LITROS)
2ª 1ª FAZENDA COLORADO 24.688.532 67.640 ARARAS SP
2ª 2ª OROSTRATO OLAVO SILVA BARBOSA - ESPÓLIO 24.037.312 65.856 TAPIRATIBA SP
3ª 3ª AGRINDUS 21.005.856 57.550 DESCALVADO SP
4ª 4ª SEKITA AGRONEGÓCIOS 19.051.554 52.196 SÃO GOTARDO MG
5ª 5ª ANTONIO CARLOS PEREIRA E FILHOS 15.031.425 41.182 CARMO DO RIO CLARO MG
8ª 6ª TRUE TYPE – HUGUETTE GUARANI 14.519.951 39.781 INHAÚMA MG
9ª 7ª MELKSTAD AGROPECUÁRIA 13.759.177 37.696 CARAMBEÍ PR
7ª 8ª COMPANHIA DE ALIMENTOS DO NORDESTE - CIALNE 13.520.695 37.043 FORTALEZA CE
6ª 9ª ALBERTUS FREIDERICH WOLTERS 12.814.008 35.107 CASTRO PR
- 10ª HANS JAN GROENWOLD 11.542.450 31.623 CASTRO PR
15ª 11ª MARVIN E MARCOS EPP 11.523.052 31.570 PALMEIRA PR
13 12ª GRUPO CABO VERDE 11.380.952 31.181 PASSOS MG
11 13ª ESPERANÇA AGROPECUÁRIA 11.205.604 30.700 MADALENA / RUSSAS CE
12 14ª GRUPO KIWI 11.043.574 30.256 SILVANIA / GAMELEIRA DE GOIÁS GO
10 15ª LUÍS PRATA GIRÃO 10.467.825 28.679 LIMOEIRO DO NORTE CE
14 16ª AGROPECUÁRIA PALMA 9.974.168 27.326 LUZIÂNIA GO
33 17ª LUIZ CARLOS FIGUEIREDO 9.338.160 25.584 CRISTALINA GO
19 18ª MAURICIO V. DE CASTRO GREIDANUS 9.263.417 25.379 CARAMBEÍ PR
17 19ª RAUL ANSELMO RANDON 8.957.990 24.542 VACARIA RS
22 20ª HELENO HENRIQUE SILVA 8.565.058 23.466 MARTINHO CAMPOS MS

Fonte: MilkPoint

- 35 -
PRODUÇÃO

Investindo em
genética e tecnologia
As grandes fazendas de leite do país crescem de forma constante. Seus limites são
anualmente superados com o uso de tecnologias na seleção do rebanho

C
om média de quase 18 mil litros de leite vestir em programas de monitoramento do rebanho
diários, ganhou destaque a expansão da será fundamental para as fazendas que pretendem
produção da maioria das fazendas arrola- atingir essa meta. Dessa forma, com base nos índices
das no levantamento Top 100 Milkpoint. reprodutivos, produtivos e sanitários do rebanho,
A média do grupo no ano passado se mostrou 10,4% é possível fazer um planejamento mais preciso de
superior em termos de volume alcançado em 2016, gestão da propriedade.
de 16.179 litros. A principal razão para tal tendência A seleção genômica deve ter papel determinante
é explicada pelos ganhos inerentes ao aumento de na obtenção dos resultados pretendidos pelos pro-
escala e também à queda nos custos operacionais, dutores, uma vez que permite selecionar as melho-
que caíram em torno de 3% em 2017. res vacas do rebanho para acasalar com os touros
A Fazenda Colorado, dona da marca Xandô, teve de qualidade genética superior, levando em conta as
sua produção diária elevada em 7% em 2017, sal- características que a propriedade pretende melho-
tando de 63.133 litros/dia para 67.640 litros. Segun- rar em seu sistema de seleção, como saúde, produ-
do analistas, a queda nos custos operacionais está ção, fertilidade, dentre outras. Com isso, a proprie-
diretamente relacionada à demanda, entre os gran- dade consegue multiplicar em seu rebanho apenas
des produtores de leite, por animais de boa produ- os melhores animais, com base no genoma de cada
tividade e pelo uso de tecnologias para selecionar um deles.
fêmeas de maior imunidade, o que contribui para Exemplos nesse sentido podem ser observados na
reduzir os gastos com medicamentos. gestão e nos resultados de algumas das propriedades
O levantamento ainda apontou que mais de 50% leiteiras ranqueadas no citado levantamento. A título
planejam expandir os negócios. É consenso que in- de ilustração relatamos o perfil de algumas delas.

Sistema
carrossel
com vacas
Girolando:
investimento
em tecnologia
da Fazenda
Santa Luzia
N. Ranteiro

- 36 -
Fazenda Colorado, Araras-SP
Indicadores da
Produtora de leite A, marca Xandô, é considera- encarem possíveis enfermidades de forma mais sutil,
Fazenda Colorado
da atualmente a maior fazenda do segmento do país. ou seja, que sintam menos seus efeitos. Assim, gas-
Produção de leite: No fechamento desta publicação já superava o vo- tamos menos com medicamentos e temos mais ga-
75 mil litros/dia lume superior apontado pelo levantamento Top 100, rantia de produzir um leite de alta qualidade”, conta.
processando 75 mil litros diários, com distribuição A história da Fazenda Colorado começou há 50
Raça explorada: da maior parte como leite fluido no mercado de São anos, quando o empresário Lair Antonio de Souza
Holandesa Paulo. Do rebanho em ordenha fazem parte 1.850 comprou a Fazenda Bom Jesus, tradicional produ-
vacas, que produzem média de 38 litros/vaca/dia no tora de café e leite na região de Araras, a 180 km
Sistema:
verão e 41 no inverno. Trabalham na propriedade de São Paulo. Seu filho, Carlos Alberto de Souza, diz
Confinamento
80 funcionários. que a família faz questão de preservar o antigo está-
Rebanho de vacas Segundo Sérgio Soriano, gestor de leite da fa- bulo construído em 1923. “No começo, produzíamos
em produção: zenda, o atual projeto reserva para este ano alguns muito pouco leite, uns 100 litros, a partir de vacas
1.800 vacas lançamentos, diversificando a atual oferta de lácteos. mestiças que com o tempo foram dando lugar a va-
“Devemos priorizar a produção de queijo frescal tra- cas Holandesas”, cita. Hoje, o total do rebanho é de
Rebanho total: dicional e também sem lactose, entre outros produ- 3.700 animais puros da raça Holandesa PB.
3.700 animais tos”, cita, observando que a estratégia da empresa As novilhas são mantidas em semiconfinamento,
tem sido definida pela demanda do consumidor. “Foi mas depois da primeira cria são transferidas para o
Média de produção:
assim que começamos com o leite tipo A de forma barracão do confinamento, onde vivem as vacas a
entre 38 e 41
pioneira e temos elevado sua oferta a cada ano”. partir da primeira lactação. “Elas vivem num único
litros/vaca/dia
Sobre o rebanho da raça Holandesa, diz que me- barracão de 20 mil m2, uma das instalações mais im-
1º lugar rece todos os cuidados em termos de conforto e portantes da fazenda, cuja concepção está voltada
no Ranking Nacional bem-estar. “Estamos voltados para a valorização da para ventilação cruzada, o que garante temperatu-
de Produtores capacidade imunológica do plantel, já que dispomos ra permanentemente adequada para a exploração”,
Top 100 de vacas de alta produção. Com isso, diminuímos explica, citando que assim reserva a energia da vaca
custos e fazemos com que bezerras, novilhas e vacas para produzir leite.

Fazenda Santa Luzia, Passos-MG


Um projeto marcado pela diversificação pecuária. E como usamos só sêmen sexado, alcançamos índice
Indicadores
Tem gado de corte, tem suinocultura e para produzir de 87% de nascimento de fêmeas, o que intensifica
da Fazenda
leite as raças Girolando e Gir Leiteiro. À frente destas, ainda mais nossa oferta de animais”, relata. Maurí-
Santa Luzia
José Coelho Vitor e Maurício Silveira Coelho, pai e cio cita que outra vantagem é ter controle no grau
Produção de leite: filho, num trabalho integrado e sintonizado para pro- de sangue. “Fazer uma vaca ¾ seguir para um 7/8 ou
35 mil litros/dia duzir cada vez mais animais de alta genética e leite de não vai depender do mercado de leite, do mercado
qualidade. Atualmente, está com 35 mil litros/dia, com de animais...”
Raça explorada: 1.800 vacas em lactação. “Queremos chegar a 2.000 O produtor diz que com tal estratégia quer chegar
Girolando vacas em sistema de pastejo rotacionado”, informa aos 45 mil litros/dia. Para isso já dispõe de estrutura,
(30% meio-sangue; Maurício Coelho. espaço e tecnologia. A maior prova disso está na sala
70% sangue 3/4) A novidade no projeto, localizado em Passos-MG, de ordenha, que utiliza o sistema carrossel, o primei-
fica por conta de dois galpões compost barn. Um de- ro para a raça Girolando. “Foi a opção mais indica-
Sistema: pastejo
les para 200 vacas pré-parto; outro para 300 vacas da pela facilidade que se tem para ordenhar muitos
rotacionado e
pós-parto, até os 70 dias. “O objetivo é alavancar animais em tempo bastante reduzido se comparado
compost barn
a produção dando mais conforto aos animais nesta com outros sistemas”. Funciona desde início de 2015
Rebanho de vacas etapa delicada da criação”, cita. Com isso, queremos e tanto os funcionários quanto as vacas aprovaram a
em produção: elevar nossas médias por vaca/dia, passando de 20 inovação, com um detalhe: “As vacas se adaptaram ao
1.800 vacas para 25 kg. Da composição do rebanho, consta vacas sistema mais rapidamente que os empregados”.
meio-sangue, cerca de 30%, e vacas ¾, outros 70%. As inovações são também observadas em ou-
Meta pretendida:
O cruzamento tem como base animais Gir Leiteiro da tras áreas da fazenda. Desde setembro de 2014 é
45 mil litros/dia, Fazenda São José do Can Can, criatório do pai, próxi- uma referência de propriedade sustentável, con-
com 2 mil vacas
ma da Usina Hidrelétrica de Furnas, em Minas. templando a captação da água das chuvas, trata-
12º lugar O programa de reprodução tem como base a mento dos resíduos gerados, uso de fertirrigação
no Ranking Nacional técnica de fertilização in vitro (FIV), com doadoras e geração de energia em biodigestores. Nesta pri-
de Produtores Gir Leiteiro e Girolando ½ sangue e todas as vacas meira fase foram investidos R$ 4 milhões, utilizan-
Top 100 demais são receptoras, além de produtoras de leite. do-se de linhas de crédito do Inovagro e do ABC-
“Assim, temos tido um avanço genético muito rápi- Agricultura de Baixo Carbono. A amortização está
do, pois multiplicamos as melhores vacas do plantel. prevista para o ano que vem.

- 37 -
Sekita Agronegócios, São Gotardo-MG
Com 52.195 litros de leite/dia em 2017, a fazenda Os efeitos de uma agricultura mais orgânica, que Indicadores da
do produtor Makoto Sekita, localizada no Cerrado promovesse melhoria na estrutura do solo, também Fazenda Sekita
mineiro, continua fiel ao seu projeto iniciado em faziam parte do plano. Com isso, as atividades se
Produção de leite:
2008, integrando a pecuária leiteira ao cultivo de tornaram integradas e sustentáveis.
56 mil litros/dia
hortaliças, como cenoura, alho, beterraba e batatas. O negócio deu tão certo que o leite tornou-se
A expansão chega a ser considerada pra lá de ace- uma nova opção de negócio e das mais rentáveis, Raça explorada:
lerada, já que 10 anos atrás apresentava produção tanto que não parou de crescer desde a aquisição Holandesa
de 6.117 litros/dia, com média de 14,26 litros; hoje, a dos primeiros lotes de vacas. Assim como ocorre
média passa de 37 litros, ou seja, aumento de pro- com as hortaliças, a pecuária leiteira é cercada de Sistema:
dutividade de 153%. todos os recursos disponíveis para se ter o máximo Confinamento
Seu rebanho atual é de 3.900 fêmeas da raça Ho- de qualidade e produtividade. Os controles do re-
Rebanho de vacas
landesa, das quais 1.500 estão em lactação. A inser- banho mostram-se nas várias etapas da exploração.
em produção:
ção de novilhas a tal categoria elevou a produtivida- Nos galpões free-stall espalham-se vacas com chips
1.500 vacas
de. Os números atuais significam atender ao que foi nas patas ou no pescoço para informar sobre sua
antes projetado e assegurar estabilidade. “A partir movimentação, alimentação e produção. Ao todo, Rebanho total:
de agora devemos dar início à comercialização de são 80 funcionários envolvidos com a atividade. 3.900 animais
fêmeas excedentes, que se somará à de embriões e Transferência de embriões e seleção genômica
tourinhos, que já acontece”, cita Leonardo Garcia, também fazem parte do esquema de reprodução Média de
diretor de pecuária do grupo. do rebanho. Os indicadores são acompanhados e produção: 37,6
Foi a alta dos fertilizantes para atividade agrícola, analisados de perto por consultores externos, que litros/vaca/dia
na década passada, que fez a família Sekita voltar- ajustam não só as técnicas aplicadas, como os pro- 4º lugar
se para o leite. “Inicialmente, vimos as vacas, mais tocolos de IATF (Inseminação Artificial em Tempo no Ranking Nacional
exatamente seus dejetos, como fonte alternativa e Fixo), e também as condições de manejo envolvendo de Produtores
econômica de fertilizante a ser aplicado na agricul- sanidade e conforto animal. Toda a produção de lei- Top 100
tura, nosso principal negócio desde os tempos que te é destinada à Itambé, que coloca o leite da Sekita
tínhamos propriedade no Paraná”, informa Makoto. de forma diferenciada no mercado.

Melkstad Agropecuária, Carambeí-PR Indicadores da


A Fazenda Melkstad, de Carambeí-PR, agrega so- ram idealizadoras do projeto, outras possuem know- Fazenda Melkstad
luções tecnológicas e conhecimentos de cinco sócios -how em medicina veterinária, área administrativa,
Produção de leite:
com diferentes experiências na pecuária e na agri- produção de alimentos, entre outros.
40 mil litros/dia
cultura. Hoje, a propriedade está encostando nos 40 Detalhe: todos os funcionários da fazenda são no-
mil litros/dia, tendo como base um plantel de vacas vatos no leite. “A proposta é contratar pessoas que Raça explorada:
Holandesas que foi se formando desde 2012 para um não são da atividade, porque chegam sem vícios. Holandesa
projeto que reserva estrutura para 1.800 vacas em Então, treinamos para que trabalhem da forma que
lactação, num espaço de 1.700 ha. A meta é chegar queremos, coerente com a linha de nosso projeto”, Sistema:
aos 70 mil litros/dia no ano que vem. cita ele. Os resultados endossam o modelo: média de Confinamento
A gestão do negócio segue um formato de mini 36 litros/vaca/dia; gordura de 3,55%; proteína de
Rebanho de vacas
cooperativa. “Dessa forma, reduzimos riscos, aumen- 3,32%; contagem de células somáticas de 140.000/
em produção:
tamos a capacidade de investimento, diluímos o custo ml; contagem bacteriana total de 10.000/ml de mé-
1.500 vacas
fixo e também o da mão-de-obra”, avalia o zootec- dia. A reprodução também está boa, com mais de
nista Diogo Vriesman, um dos sócios. A fazenda co- 50% das vacas prenhas. Na recria a mortalidade está Rebanho atual
meçou a operar em fevereiro de 2015. Ao todo serão abaixo de 1%. em produção:
seis galpões de confinamento, em sistema free-stall, “Para nós, esses índices são obrigatórios. Para 1.100 vacas
com camas de areia. Tem prontos três deles, onde uma fazenda ter viabilidade, ela precisa de indica-
se nota um fluxo rápido das vacas, observadas por dores desse tipo. Não pretendemos ser os maiores Média de
empregados treinados. “Isso significa trabalhar com produtores de leite do país, mas queremos, sim, estar produção: 36
menos mão-de-obra, remunerar melhor o trabalho e entre os mais eficientes, entre os que ganham mais litros/vaca/dia
reduzir o giro de pessoal na fazenda”, cita. centavos por litro de leite”, relata. Nesse sentido, a
Meta em produção:
Vriesman lembra que boa parte do rebanho atu- ordem é buscar inovação e conhecimento, sem a pre-
70 mil litros/dia
al foi adquirido em Arapoti-PR e que tudo começou tensão de fazer uma reserva própria, mas também de
com 50 vacas em lactação e produção de 800 litros propagar sabedoria. “Queremos que esses insumos 7º lugar
de leite/dia. “O diferencial do projeto está na união sirvam para fortalecer o setor. De nada adianta ser- no Ranking Nacional
de produtores de leite. O grupo é composto por seis mos grandes e fortes em uma cadeia produtiva fraca”, de Produtores Top 100
famílias – cada uma com a sua expertise. Algumas fo- finaliza Vriesman.

- 38 -
Fazenda Figueiredo, Cristalina-GO
O levantamento Top 100 Milkpoint 2018 teve um da raça. O êxito, segundo ele, está explicado por
Indicadores da grande destaque: o aumento da produção da Fazen- atender às exigências dos animais. “Todos os nossos
Fazenda Figueiredo da Figueiredo, de Cristalina-GO. No ranking do ano investimentos foram feitos para atender às suas exi-
passado, saltou de 33º para 17º lugar, ao apresen- gências. Nossas instalações foram desenhadas para
Produção de leite: tar, em 2017, produção média diária de 25.584 litros uma vaca altamente eficiente em produção”, diz.
30 mil litros/dia de leite. Há dois anos, o volume total somara 15.445 “Não podemos produzir pouco leite, pois nossos
litros. Tal feito vem sendo também medido nos últi- custos são altos e estamos numa região de terras de
Sistema:
mos anos. É considerada a fazenda que mais cresceu alto valor para agricultura. Até por isso nossa conta
Confinamento
no Brasil de 2006 a 2011, aumentando em cerca de é leite por hectare”.
Rebanho de vacas 10 vezes a produção no período. Figueiredo diz que novos investimentos para
em produção: Tais números refletem os investimentos feitos em ampliar a produção no curto prazo vão depender
903 vacas instalações, principalmente a partir de 2016, quando “de como será o mercado”. Ele, que preside a Asso-
concluiu a construção de novos galpões free-stall ciação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça
Meta de rebanho: para confinamento do rebanho. Com isso, a fazenda Holandesa, considera que a atividade leiteira não é
2.000 vacas elevou o número de vacas em lactação, que subiu uma das mais lucrativas, mas é uma das que oferece
Média de produção: de 489 em 2016 para 799 no ano passado. Hoje, são menor risco como negócio no campo.
33 litros/dia 903, com produção diária de 30 mil litros de leite, o Considera o banco genético da raça Holandesa
que significa 33 litros por vaca, em média. O projeto o maior patrimônio da fazenda. São fêmeas de 68
17º lugar é chegar a 2.000 vacas. diferentes famílias consagradas, com descendentes
no Ranking Nacional A história da propriedade, administrada por Rei- ganhadores de grandes campeonatos nas principais
de Produtores naldo Figueiredo, teve início em 1987, em Manda- exposições do mundo. “Com relação às lactações,
Top 100 guari-PR, com vacas mestiças. A virada para gado dispomos de uma relação de vacas com produção
Holandês, de alta genética, deu-se em terras goia- acumulada maior que 50.000 kg”, cita ele. Por duas
nas. Com isso, acumulou prêmios e reconhecimento vezes recebeu o troféu Agroleite, na categoria pro-
nacional como um dos criatórios mais importantes dutor de leite.

TBIO
ENERGIA I
LOCAIS DE VENDA DE SEMENTES:
Agrozanquetta / Machadinho / RS
BS Sementes / Não Me Toque / RS
Castrolanda / Castro / PR
Cerealista Amigos da Terra / Ajuricaba / RS
Copagril / São Luiz Gonzaga / RS
Cotrijal / Não Me Toque / RS
Cotripal / Panambi / RS
Cotrisal / Sarandi / RS
HS Sementes / Passo Fundo / RS
Imacol / Santo Augusto / RS
MILK Seeds / Entre Rios do Sul / RS
Sementes Bee / Tapejara / RS
Sementes Bocchi / Santa Izabel do Oeste / PR
Sementes Cambaí / São Luiz Gonzaga / RS
Sementes Costa Beber / Condor / RS
Sementes Menarim / Ventania / PR
Sementes Roos / Não Me Toque / RS
Sementes Scherrer / Chapada / RS
Sementes Van Ass / Panambi / RS
PRODUÇÃO
DE PRÉ-SECADO
E SILAGEM QR Code com o link para o TBIO Energia

- 39 -
PRODUÇÃO

Indústria capta mais


leite cru em 2017
Rosangela Zoccal

Captação pela indústria foi de 24,3 bilhões de litros, 5% mais que o ano anterior.
Minas foi o principal estado fornecedor, com 6 bilhões de litros

N
o Brasil, a quantidade de leite adquiri- quase 6 bilhões de litros de leite. Outros estados
do, resfriado ou não, cresceu de 2,5 a com grande coleta de leite foram: Rio Grande do Sul,
5% ao ano, nos últimos 10 anos, exce- 3,4 bilhões de litros; Paraná e São Paulo, ambos com
to em 2015 e 2016, quando o volume 2,9 bilhões de litros de leite; Santa Catarina captou
captado caiu. No entanto, em 2017 a tendência se 2,7 bilhões e Goiás 2,5 bilhões de litros.
reverteu. A produção adquirida pela indústria foi de Em valores absolutos, Santa Catarina foi o estado
24,3 bilhões de litros, o que representou 5% ou 1,2 onde ocorreu o maior incremento do volume adqui-
bilhão de litros a mais em relação a 2016. rido, de 320 milhões de litros de leite, no ano passa-
O aumento da captação no período de 2007 a do, enquanto Minas, Mato Grosso do Sul e Sergipe
2010 foi, em média, de 5,75% ao ano e no período apresentaram as maiores retrações no período.
seguinte, de 2010 a 2013, de 4,10% ao ano. Nos úl- No Brasil, 73,5% do volume produzido são ad-
timos anos, de 2013 a 2016, ocorreu crescimento de quiridos por empresas de processamento com ins-
5,1% em 2014, e redução de 2,8% em 2015 e de 3,7% peção. Em São Paulo e Rio de Janeiro, o percentual
em 2016, resultando, em média, em decréscimo de de captação é maior que a produção, indicando im-
0,54% ao ano (tabela 1), ou seja, praticamente manti- portação de outros estados para o processamento
vemos o mesmo nível nos últimos anos, com exceção de produtos lácteos. O volume de leite adquirido em
deste ano, quando voltou a crescer a captação. relação ao que foi produzido é inferior a 50% prin-
Minas Gerais teve a maior captação em 2017, de cipalmente nos estados da região Norte e Nordeste.

Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

As indústrias dos
principais estados
produtores de leite
trabalharam com
mais matéria-prima
no ano passado
Divulgação ABIQ

- 40 -
TABELA 1 - QUANTIDADE DE LEITE CRU, RESFRIADO OU NÃO, ADQUIRIDO

MIL TONELADAS/ANO
ANO
2007 2010 2013 2016 2017

BRASIL 17.888 20.974 23.553 23.169 24.326

SUDESTE 7.857 8.546 9.502 9.477 9.717

Minas Gerais 5.027 5.606 6.171 6.106 5.990

São Paulo 2.226 2.316 2.532 2.559 2.872

Rio de Janeiro 393 315 496 558 599

Espírito Santo 210 309 303 254 256

SUL 5.073 6.909 8.396 8.432 9.112

Rio Grande do Sul 2.513 2.978 3.460 3.250 3.419

Paraná 1.474 2.350 2.818 2.744 2.935

Santa Catarina 1.086 1.580 2.118 2.438 2.758

CENTRO-OESTE 2.822 3.052 3.251 2.995 3.121

Goiás 2.165 2.304 2.446 2.313 2.465

Mato Grosso 415 511 595 522 528

Mato Grosso do Sul 226 211 198 151 119

Distrito Federal 17 26 12 9 8

NORDESTE 1.040 1.225 1.146 1.173 1.250

Bahia 289 381 327 320 361

Pernambuco 203 245 212 243 241

Ceará 152 216 222 223 238

Sergipe 72 86 128 170 158

Rio Grande do Norte 79 75 47 52 70

Maranhão 61 61 78 51 60

Paraíba 48 48 41 45 54

Alagoas 117 102 75 53 53

Piauí 20 12 16 16 16

NORTE 1.096 1.242 1.258 1.091 1.127

Rondônia 692 793 782 700 699

Pará 284 312 320 252 277

Tocantins 109 127 136 125 131

Acre 12 10 13 12 12

Amazonas SI SI 5 3 7

Roraima SI SI 2 0 1

Amapá SI SI SI SI SI

Fonte: IBGE/Pesquisa Trimestral do Leite, 2018

- 41 -
PRODUÇÃO

Maiores empresas
trabalham com mais volume
Captação das maiores indústrias de laticínios cresceu 5,7% em 2017, a partir de um
cenário estimulado por bonificações por volume e por qualidade da matéria-prima

O
21º Ranking Maiores Empresas de Lati- dia contra 381 litros/dia do levantamento de 2016.
cínios do Brasil 2017, estudo elaborado Vale ressaltar que no ranking de 2016 o número de
pela Leite Brasil, apresenta anualmente produtores fornecedores havia caído 8,2% e, em
números envolvendo recepção de leite, 2017, a queda foi menor, de 5%. Respectivamente,
de produtores e de média de produtividade dos for- 43.814 contra 41.604.
necedores das 15 maiores empresas do setor*. O “Esta tendência de aumento no volume médio
grupo arrolado apresentou crescimento de 5,6% dos produtores é inequívoca e geral no mercado
na captação de leite, se comparado com o levanta- brasileiro”, diz ele, destacando que o volume mé-
mento de 2016, quando apresentou 8,152 bilhões de dio dos produtores das empresas participantes do
litros de leite. ranking da Leite Brasil mais do que dobrou nos últi-
Desta vez, somou 8,605 bilhões, ou seja, 23,5 mi- mos 10 anos em função de vários fatores conjuntos,
lhões de litros diários. Trata-se de um volume abaixo tais como as bonificações por volume nos preços
da estimativa da capacidade instalada de processa- pagos pela indústria e as evidentes economias em
mento de leite das empresas do ranking 2017, cal- escala na atividade de produção de leite.
culada em 13,8 bilhões de litros ao ano, cerca de 38 Primeira no ranking, a Nestlé viu sua captação
milhões de litros/dia, ou seja, 62,1% da capacidade crescer apenas 0,3% em 2017, captando 1,694 bi-
divulgada pela Leite Brasil, um nível de utilização de lhão de litros. A Lactalis poderia vir em seguida ou
médio para baixo, segundo analistas. até disputar a ponta da tabela, mas preferiu se omitir
“Em alta no estudo está a produção diária do da pesquisa este ano. A mesma projeção é atribuída
produtor das empresas citadas, que cresceu 7,1%, à Italac, que tem se negado a fornecer seus dados
aumento mais vigoroso que os 5,4% do ano ante- de captação nos últimos anos, assim como também
rior, porém menor que os 10,8% de 2015”, cita Mar- tem feito a catarinense Tirol, cujo volume a colocaria
celo Pereira de Carvalho, diretor do site Milkpoint. A em torno do quarto lugar do ranking, próximo da
média de produção por produtor foi de 407 litros/ CCPR/Itambé, segundo um analista do setor.

A captação de leite
realizadas pelos
grandes laticínios
tem crescido de
forma constante
Arquivo Itambé

- 42 -
Zinpro Performance Minerals
A tradição de 47 anos, somada a mais
de 230 publicações científicas, comprovam os
resultados de Zinpro em todo o ciclo da produção leiteira.

Aumenta
IgG
Imunidade Dermatite Digital

23,8% 60%
Redução
Nascimento DD

A nutrição
micromineral tem
Reprodução Mais impacto positivo

7% vacas em todas as etapas


prenhas da vida do animal.
Reprodução Crescimento
Eficiência
13 Dias
a menos
de intervalo
alimentar
entre partos
9%
Melhor
EA
Produção

Produção de leite Controle de lesões de casco

274kg
Por lactação
Mais
leite
200kg
Por lactação
34% 11%
(vacas) (novilhas) Separação Úlcera
da linha de sola
branca

- 43 -
Dessa forma, o Laticínio Bela Vista (Piracanju- Merece também destaque os indicadores de pro-
ba), que apresentou o expressivo crescimento na dutividade. Se houve aumento de produção de 5,6%
captação de 20,9% em relação a 2016, ao receber em 2017 em relação a 2016 das 14 empresas citadas,
1,322 bilhão de litros, ficou com o segundo lugar. caiu o número de produtores associados a elas em
O maior percentual de crescimento, de 23,2% em 5%, identificando 41.604 produtores no ano passado
relação ao volume verificado em 2016, ficou com a contra 43.814 no período anterior. Esse dado reve-
CCGL, sétima colocada no ranking em 2017, cap- la que as grandes empresas têm dado preferência
tando 439 milhões de litros. Na terceira posição e a produtores de maior volume, mais tecnificados. A
com aumento de 17,6% na captação encontra-se a melhor prova disso está na coluna ‘litros de leite por
Unium, a empresa recentemente surgida a partir da produtor’: em 2016, o grupo apresentava 381 litros
intercooperação de lácteos das Cooperativas Frísia, por produtor; no ano passado, 407. A Danone é a *Lactalis, Italac e
Castrolanda e Capal, todas no Paraná. empresa de maior média, 2.294 litros por produtor. Tirol não figuraram
no Ranking Leite
Brasil 2017,
embora o volume
processado
pelas empresas
certamente as
colocaria entre os

RANKING MAIORES EMPRESAS DE LATICÍNIOS DO BRASIL - 2017


maiores laticínios

NÚMERO LITROS DE LEITE


RECEPÇÃO LEITE (MIL LITROS)
CLASS PRODUTORES LEITE POR PRODUTOR/DIA
EMPRESAS
MARCAS 2016 2017
VAR.% VAR.% VAR.%
2016 2017 2016 2017
(1) PRODUTORES TERCEIROS TOTAL PRODUTORES TERCEIROS TOTAL 17/16 17/16 17/16

1ª NESTLÉ 995.000 695.000 1.690.000 1.048.000 646.400 1.694.400 0,3 4.439 3.898 -12,2 614 735 19,6

2ª LATICÍNIOS BELA VISTA 916.860 177.028 1.093.888 869.357 452.971 1.322.328 20,9 6.159 6.633 7,7 408 358 -12,2

3ª UNIUM (3) 600.382 368.372 968.754 679.654 460.003 1.139.657 17,6 1.819 1.520 -16,4 904 1.222 35,1

4ª CCPR/ITAMBÉ 989.000 115.000 1.104.000 939.444 56.209 995.653 -9,8 4.705 4.314 -8,3 576 595 3,3

5ª EMBARÉ 389.121 194.737 583.858 382.813 186.472 569.285 -2,5 1.840 1.667 -9,4 579 627 8,3

6ª AURORA 453.000 0 453.000 475.000 13.000 488.000 7,7 6.000 5.520 -8,0 207 235 13,7

7ª CCGL 345.928 10.332 356.260 437.203 1.870 439.073 23,2 4.619 4.302 -6,9 205 278 35,3

8ª JUSSARA 288.104 89.417 377.521 297.186 97.546 394.732 4,6 3.505 3.495 -0,3 225 232 3,2

9ª DANONE 219.989 128.611 348.600 178.837 199.814 378.651 8,6 278 213 -23,4 2.168 2.294 5,8

10ª VIGOR 257.277 54.060 311.337 254.802 57.873 312.675 0,4 1.259 1.184 -6,0 560 588 5,0

11ª DPA BRASIL 31.999 211.936 243.935 39.495 206.943 246.438 1,0 114 131 14,9 769 824 7,1

12ª CENTROLEITE 211.499 0 211.499 217.851 0 217.851 3,0 3.504 3.832 9,4 165 145 -12,4

13ª FRIMESA 204.227 9.936 214.163 204.945 9.368 214.313 0,1 3.412 2.859 -16,2 164 196 19,4

14ª CONFEPAR/CATIVA 183.678 11.949 195.627 180.293 11.811 192.104 -1,8 2.161 2.036 -5,8 233 242 3,9

TOTAL DO RANKING (2) 6.086.064 2.341.748 8.152.442 6.204.880 2.273.431 8.605.160 5,6 43.814 41.604 -5,0 381 407 7,1

ESTIMATIVA DA CAPACIDADE INSTALADA DE PROCESSAMENTO DE LEITE DAS EMPRESAS DO RANKING 2017 (MIL LITROS/ANO) = 13.849.769

Fonte: Leite Brasil, CNA, OCB, CBCL, Viva Lácteos, Embrapa/Gado de Leite e G100

(1) CLASSIFICAÇÃO BASE RECEPÇÃO (PRODUTORES + TERCEIROS) NO ANO DE 2017 DAS EMPRESAS QUE RESPONDERAM À PESQUISA
(2) O TOTAL DE TERCEIROS NÃO INCLUI O LEITE RECEBIDO DE PARTICIPANTES DO RANKING DEVIDO À DUPLICIDADE
(3) INTERCOOPERAÇÃO DE LÁCTEOS DAS COOPERATIVAS FRISIA, CASTROLANDA E CAPAL

- 44 -
OPINIÃO

Estabilidade exige
Alexandre Guerra,
presidente do
Sindilat-Sindicato das
Indústrias Lácteas

trabalho hoje
do Rio Grande do Sul
e vice-presidente do
Conseleite-RS

O
s anos de 2017 e 2018 encur- trial é o porquê de as exportações de tor produtivo como o lácteo - sujeito ao
taram caminhos para o setor lácteos brasileiros não deslancharem se calor e ao frio, ao emprego e ao desem-
lácteo brasileiro. O agrava- há mercados interessados e produtos prego, ao otimismo e ao pessimismo, ao
mento da crise econômica, as de alta qualidade sendo fabricados? A calendário escolar e às férias, à chuva e
expressivas taxas do desemprego e a re- resposta a essa pergunta resume-se a à seca - não é tarefa simples. Nem que
dução de consumo das famílias aliados à uma única palavra: competitividade. Ou, se trilhe apenas pelo grupo de lideranças
elevação da produtividade por vaca nas melhor dizer, à falta dela. É verdade que ora à frente das entidades que represen-
propriedades leiteiras contribuíram para a indústria láctea brasileira, em especial tam o setor. É um projeto de longo prazo
o país atingir o equilíbrio entre produção a gaúcha, tem excelente qualidade. É a que precisa começar agora.
e demanda. Uma marca até então proje- produção mais fiscalizada do país segun- Chegou a hora de parar de reclamar
tada apenas para a década de 2020 e que do levantamento do próprio Ministério das cargas de produtos vindos do Uru-
pouco tem a ser comemorada. Com tudo da Agricultura. guai e de achar que os nossos problemas
isso, o setor vive um dos momentos mais Mas produzir mais e melhor também estão só nas importações. Precisamos
graves de sua história. depende de logística adequada para dri- avaliar o real motivo que explica o esco-
O baixo preço do leite UHT, carro- blar as dificuldades inerentes ao sistema amento constante de cargas de leite para
chefe do mix nacional, é reflexo de mar- rodoviário. Uma das ideias para corrigir o Rio Grande do Sul: a nossa própria
gens extremamente ajustadas e da mão as dependências logísticas e otimizar al- falta de condições de produzir segundo
do varejo, que usa o leite como fator de gumas rotas é a adoção de um modelo parâmetros internacionais de preço e
atração do consumidor em promoções similar ao utilizado nos Estados Unidos, rentabilidade.
pouco sustentáveis. O contexto sinaliza onde uma única instituição responde Enfim, é preciso entender que o se-
que é hora de mudar o presente para pela coleta para diversas indústrias. A tor lácteo vive um momento divisor de
construir um amanhã diferente. proposta minimiza custo de frente e im- águas. A hora é de mudança na concep-
O Sindilat-Sindicato da Indústria de pacto ambiental. ção. Ou seguimos produzindo em um
Laticínios do Estado do Rio Grande do modelo acanhado e, então, assistiremos
Sul acredita que o alicerce para susten- à queda constante da produção mesmo
tar a retomada do setor está em aliar as que tenha excelente qualidade ou parti-
Chegou a hora de parar
amplas potencialidades do Brasil a inves- mos para o futuro olhando para um novo
tidas expressivas e contínuas no exterior. de reclamar das cargas de tipo de fazenda leiteira, que visa o lucro
É valendo-se desses dois pilares que o produtos vindos do Uruguai e a rentabilidade. Isso não quer dizer que
segmento espera equilibrar as contas e o progresso estará apenas na mão de
retomar o rumo do crescimento. E não é e de achar que os nossos grandes propriedades, mas que sobrevi-
utopia olhar além das fronteiras por mais problemas só estão nas verão aquelas que pensarem grande.
difícil que o seja. Os produtores desse novo amanhã
Segundo levantamento do Ministério importações são aqueles que, mesmo com um sistema
do Desenvolvimento, Indústria e Comér- enxuto de ordenha, pensarem na pro-
cio, 55 países realizaram negociações priedade com um negócio, trabalharem
de aquisição de lácteos nos últimos dois Ser mais eficiente também depende na nutrição com esmero, investirem em
anos do Brasil. Em 2017, os maiores em- do próprio produtor, com aplicação de genética por produtividade e atingirem
barques em valores tiveram como des- políticas de gestão nas propriedades escores de qualidade e sanidade acima
tino Venezuela (15%), Arábia Saudita e redução de custos. No âmbito indus- da média. Uma coisa é certa: chegou a
(9%), Chile (7%), Estados Unidos (7%), trial, sabemos que é preciso atuar com hora de deixar de olhar para o passado.
Emirados Árabes (6%), Argentina (6%), mais agressividade em feiras e eventos No presente, devemos debater nossa
Filipinas (5%), Trinidad e Tobago (5%) e internacionais que permitam prospectar crítica condição e repensar as ações que
Argélia (5%). novos clientes no exterior e, com isso, nos trouxeram até aqui. Só assim será
A questão a ser compreendida nesse agregar mais valor à nossa produção. possível dar início à construção de um
momento e enfrentada pelo setor indus- Sabemos que ajustar a rota de um se- novo futuro a todo o setor lácteo.

- 45 -
PRODUÇÃO

Produtividade animal:
Sul é referência
Rosangela Zoccal

Com média estimada de 3.049 litros/vaca/ano, a região Sul puxa a produtividade na pecuária
leiteira do país, com quase o dobro da média nacional, segundo o IBGE

A
produção média de leite por vaca, du- ainda é muito baixa, inferior a 1.000 litros/vaca/ano.
rante um ano, é um indicativo de desen- A estimativa é que, em 2017, a média de produ-
volvimento da atividade leiteira, porém ção de leite por fêmea ordenhada chegou a 1.779
não refle a realidade em um país como litros por vaca/ano no Brasil, ou seja, 70 litros a
o Brasil, onde a exploração é bastante heterogêni- mais, quando comparada a 2016. Esse aumento da
ca, com períodos de lactação e intervalos de partos produtividade deve-se principalmente à redução do
variados. No entanto, pode indicar o grau de espe- rebanho em lactação.
cialização da exploração e, quando comparado com Avaliando 26 estados, mais o Distrito Federal, em
regiões ou períodos distintos, reflete evolução ou apenas seis unidades da Federação a produtividade
mudanças ocorridas. por animal não cresceu em 2017, considerando o de-
A região Sul apresentou os melhores índices, sempenho nos últimos anos. Todos os estados do Sul
média de 2.966 litros/vaca/ano, quando comparada aumentaram a quantidade de leite por animal, mas no
às outras regiões brasileiras em 2016. O crescimento Sudeste o Rio de Janeiro reduziu. No Nordeste, Ala-
do Sul no período de 1996 a 2006 foi de 26,1%, en- goas também diminuiu a produtividade e Maranhão,
quanto na década seguinte foi de 43,5% de aumento Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte mantiveram o
da produtividade animal, atingindo no Rio Grande mesmo patamar de produção por vaca.
do Sul a média de 3.157 litros/vaca/ano em 2016, Sem dúvida nenhuma, a atividade leiteira no país
superior em 84,7% à média brasileira (tabela 1). está melhorando, como pode ser observado por
A média nacional de 1.709 litros é semelhante à meio da produtividade animal, mas grandes desafios
região Sudeste e de alguns estados do Nordeste, estão postos para que a média nacional chegue ao
como Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Em outros 14 nível da região Sul e o leite brasileiro fique a cada
estados brasileiros, a média de produção por vaca ano mais competitivo.

Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

A produtividade
gaúcha em
2017 bateu em
3.240 litros/de
leite/vaca/dia
N.Rentero

- 46 -
TABELA 1 - PRODUÇÃO DE LEITE POR VACA POR ANO NAS
REGIÕES E ESTADOS BRASILEIROS, 1996/2017

Produtividade animal (litros/vaca/ano)


Regiões / Estados
1996 2006 2016 2017*

Brasil 1.138 1.213 1.709 1.779

Sul 1.639 2.066 2.966 3.049

Rio Grande do Sul 1.805 2.119 3.157 3.240

Paraná 1.450 1.954 2.916 3.028

Santa Catarina 1.686 2.180 2.788 2.836

Sudeste 1.312 1.355 1.693 1.782

Minas Gerais 1.487 1.476 1.803 1.909

São Paulo 1.022 1.092 1.463 1.520

Espírito Santo 1.154 1.117 1.361 1.483

Rio de Janeiro 1.174 1.185 1.232 1.205

Centro-Oeste 1.108 1.115 1.294 1.272

Mato Grosso do Sul 958 973 1.337 1.432

Mato Grosso 1.063 1.125 1.198 1.183

Goiás 1.158 1.140 1.311 1.277

Distrito Federal 903 1.573 1.591 1.625

Nordeste 662 767 1.076 1.150

Pernambuco 1.138 1.361 1.717 1.799

Alagoas 1.217 1.441 1.759 1.736

Sergipe 949 1.234 1.636 1.676

Bahia 451 535 975 1.142

Ceará 828 798 988 1.076

Rio Grande do Norte 803 932 919 923

Paraíba 606 764 801 800

Maranhão 478 653 628 627

Piauí 403 395 568 568

Norte 623 597 900 908

Rondônia 933 673 1.318 1.344

Amapá 521 583 883 926

Pará 490 595 788 790

Tocantins 514 465 730 770

Acre 584 605 700 711

Amazonas 513 565 473 475

Roraima 543 309 347 348

Fonte: (*) Estimativa


IBGE/PPM, 2018

- 47 -
PRODUÇÃO

Minas, o maior estado


produtor de leite
Liderando o ranking nacional, Minas Gerais responde por um quarto do leite total no país.
No entanto, vive tempos de estagnação, enquanto os estados do Sul avançam

D
esde há muito, Minas Gerais é o prin- por fiscalização é também o maior do país, um ter-
cipal estado produtor de leite no Bra- ço do total, chegando a 2,4 bilhões de litros, boa
sil. Respondeu em 2017 por 8,9 bi- parte destinada à produção de queijos.
lhões de litros, ou seja, 25,5% de um Sobre a produção formal, estimada no ano pas-
volume total do país de 34,9 bilhões de litros. Sua sado em 5,900 bilhões de litros, estatísticas apon-
produção tem como base um rebanho de 5,8 mi- tam queda continuada nos últimos quatro anos. Na
lhões de vacas, 223 mil produtores e 771 laticínios opinião de Pena, a retração deu-se por reflexos da
espalhados por diferentes regiões. São proprie- crise financeira que passa o país, a falta de incen-
dades e estabelecimentos de todos os tamanhos, tivo para novos investimentos, o alto custo de pro-
que sustentam a atividade leiteira com a marca da dução e a própria economia, que continua pati-
diversidade. nando sem sinalizar melhoras no consumo interno.
“Este cenário faz a organização do setor se tor- “Nós não somos um país exportador. Quan-
nar um desafio”, cita Eduardo de Carvalho Pena, do se aumenta o volume de captação, automati-
presidente da Comissão Técnica de Pecuária de camente vem uma queda nos valores praticados.
Leite da Faemg-Federação da Agricultura e Pecu- Essa relação de fatores faz com que tenhamos de
ária do Estado de Minas. Sua afirmação leva tam- conviver com uma gangorra de preços”, conta o
bém em conta a informalidade na produção e no dirigente, explicando que tal quadro afeta inclusi-
processamento do leite. O volume que não passa ve a produtividade leiteira no estado, considerada

Com rebanho
de 5,8 milhões
de vacas em
ordenha, o
leite reúne
223 mil
produtores
em Minas
N.Rentero

- 48 -
TABELA 1 - NÚMEROS DO SETOR LEITEIRO NO BRASIL E MINAS GERAIS

Brasil X Minas
Gerais
35,1 bi PRODUÇÃO DE LEITE EM 2017 8,9 bi
de litros de litros

5º RANKING DE PRODUÇÃO 1º
1,1 mi NÚMERO DE PRODUTORES DE LEITE 223 mil
18,6 mi REBANHO DE VACAS ORDENHADAS 5,8 mi
4 mi TRABALHADORES ENVOLVIDOS COM A ATIVIDADE LEITEIRA 1,2 mil
2.000 LATICÍNIOS COM SIF 510
24,7 bi CAPTAÇÃO ANUAL DOS LATICÍNIOS REGISTRADOS 6,5 bi
de litros de litros

R$ 28,9 bi VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO DE LEITE EM 2017 R$ 10,1 bi


173 CONSUMO PER CAPITA DE LÁCTEOS 170
litros/habitante/ano litros/habitante/ano

60 CONSUMO PER CAPITA DE LEITE 60


litros/habitante/ano litros/habitante/ano

Fonte: Faemg

baixa, se comparada com estados da região Sul Sindicato das Indústria de Laticínios do Estado
e outros países – 1.803 litros por lactação. “Sem Minas Gerais e a Universidade Federal do Paraná,
uma política clara de preços fica difícil fazer o pla- que atuará como entidade técnica e mediadora en-
nejamento para investimentos de longo prazo”, diz. tre produtores e indústria.
“Será uma câmara paritária regida por entida-
OFERTA DE LEITE ESTAGNADA des privadas para se discutir mensalmente pro-
OU RETRAINDO NO ESTADO blemas e inovações comuns ao setor. Deve trazer
A melhor explicação para isso, segundo Eduar- também transparência para o que ocorre no mer-
do Pena, está na comparação que se costuma fazer cado e uma noção precisa sobre altas e baixas de
entre regiões produtoras de leite no país. Enquan- preço. O Conseleite-MG não terá uma ação volta-
to no Sudeste a oferta está estagnada ou retrain- da para tabelamento de preços, mas, sim, de previ-
do, os três estados do Sul vêm expandindo cada sibilidade, o que vai facilitar o planejamento tanto
vez mais o potencial de produção. “É uma questão da indústria como do setor primário”, relata.
de organização. Veja o caso da criação da Aliança Tal ação deve reforçar também a capacidade
Láctea do Sul, formada pelos estados que têm o exportadora de lácteos de Minas Gerais, que, a
Conseleite como referência do setor”, cita. exemplo da produção, tem sofrido recuo. Em 2015,
Segundo ele, trata-se de um fator fundamental chegou a exportar US$ 147 milhões, o equivalen-
para o desenvolvimento. “Todos os meses são dis- te a 30 mil t; no ano passado, bateu em US$ 34,6
cutidos problemas comuns da indústria e do setor milhões, cerca de 23 mil t. A retração recente é ex-
produtivo. É uma proposta de transparência e pla- pressiva, mas é muito maior se comparada a 2008,
nejamento”. De olho nisso, a Faemg anuncia para quando o estado chegou a exportar US$ 252,9 mi-
os próximos meses o Conseleite-MG. Sua con- lhões, ao vender 65 mil t de lácteos, principalmen-
solidação dá-se com a participação do Silemg- te de leite em pó e leite condensado.

- 49 -
PRODUÇÃO

Castro, a capital
brasileira do leite
O título está na lei sancionada em dezembro último e a justificativa está nos números
expressivos que envolvem a atividade leiteira no município paranaense

C
onsiderado há algumas décadas como marca de 255 milhões de litros de leite no ano de
uma das principais referências em pro- 2016. Esse número corresponde a 5,39% do total
dução de leite, genética bovina e produ- estadual, com produtividade média de 7.478 litros
tividade animal, o município de Castro, no de leite por vaca/ano, ou seja, muito acima da pro-
Paraná, passou a ser legalmente identificado como a dutividade média brasileira, de 1.709 litros. O estado
Capital Nacional do Leite. O título foi conferido pela do Paraná responde por 14,07% da produção na-
Lei Federal nº 13.584, publicada em 27 de dezembro cional, com volume de 4,73 bilhões de litros e pro-
de 2017, no Diário Oficial da União. dutividade média de 2.916 litros por vaca/ano.
Para o presidente da Cooperativa Castrolan- Números mais recentes, fornecidos pela Castro-
da, Frans Borg, trata-se de um reconhecimento ao landa, reforçam ainda mais a importância de Castro
trabalho desenvolvido pelos produtores da região, e arredores. Em 2017, a região produziu 273,4 mi-
cujo compromisso com a atividade se traduz nos lhões litros de leite, sendo 749 mil litros por dia. A
elevados índices de produtividade. “O município de previsão para 2018 é ainda maior: 300 milhões de
Castro sempre se destacou pela alta qualidade do litros de leite, sendo 818 mil litros por dia.
que produz, fato decorrente do controle sanitário, “Castro começou a alcançar essa condição 60
de investimentos em tecnologia, do melhoramento anos atrás, quando imigrantes holandeses aqui
genético de seus rebanhos e do profissionalismo chegaram trazendo vacas e fomentaram a ativida-
empregado”, cita ele. de leiteira. O fato de terem uma cultura pecuária,
Pesquisa divulgada pelo IBGE destaca Castro de prezarem pelo profissionalismo na atividade, de
O rebanho de Castro
na liderança da produção por municípios com a construírem uma cooperativa, tudo isso fez com responde pela maior
produtividade média
do país: 7.478 kg de
leite/vaca/ano

Arquivo Castrolanda

- 50 -
QUADRO 1 – ALGUNS NÚMEROS DA CADEIA DO LEITE EM CASTRO-PR

283 mi 670 mil 7.478 kg 300


litros leite produzido litros leite produzido de leite por pessoas trabalhando na
EM 2015 por dia vaca/ano indústria de laticínios

290 mi 70 mil 350 mi/ano 184 mi


litros leite produzido vacas no rebanho da produção de de insumos
EM 2016 leiteiro explorado leite em 2017 rações e concentrados

295 mi 100 mi/ano 1.500


litros leite produzido é o valor agregado pessoas trabalhando
EM 2017 na indústria láctea nas fazendas leiteiras Fonte: Edson Lemos

que a produção de leite no município fosse inten- produtividade de 5.200 litros/vaca/ano. Detalhe:
sificada”, relata Borg. A criação da Cooperativa o país vizinho é um dos principais exportadores de
Central de Laticínios do Paraná na década de 1950 lácteos para o Brasil.
e o lançamento dos produtos Batavo no mercado Desde 2015, a Cooperativa Castrolanda tem
deram o formato definitivo ao projeto de produção realizado uma série de investimentos. Somente na-
de leite na região. quele ano destinou R$ 190 milhões em projetos. A
Outras ações serviram também para reforçar os maior parte, 42%, foi destinada à produção de leite
planos dos antigos imigrantes e seus descendentes. e derivados, para o que foi reservado um volume de
Em 1984, criaram a Fundação ABC, para investir R$ 80,6 milhões, destinado à melhoria no processo
em pesquisa e desenvolvimento agropecuário. Ao produtivo, automatização do depósito e ampliação
mesmo tempo passaram a trabalhar para o forta- da capacidade produtiva. Por trás dos números está
lecimento da APCBRH-Associação Paranaense dos a criação de um compromisso mútuo entre coope-
Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, promo- rativa e a sociedade local, no sentido de honrar e
vendo um papel relevante na melhoria da genética manter o título de Capital Brasileira do Leite.
dos rebanhos e na melhoria da qualidade do leite, a Um outra importante tacada da empresa foi dada
partir das análises de seu laboratório. no fim do ano passado, quando a Castrolanda seu
uniu a duas outras cooperativas paranaenses, Frísia
MÉDIA POR LACTAÇÃO: e Capal, também localizadas na região dos Campos
7.400 KG VACA/ANO Gerais, para lançar a marca conjunta Unium. Tal
No recente Top 100, levantamento realizado ação passa a representar cerca de 5 mil famílias co-
pelo portal Milkpoint para identificar os principais operadas, R$ 7 bilhões de faturamento anual e mais
produtores do país, a região de Castro, que inclui de R$ 800 milhões em investimentos.
também os municípios de Arapoti e Carambeí, apre-
senta 16 fazendas, cujas produções variam de 9 mil a UMA VITRINE CHAMADA AGROLEITE
37 mil litros/dia, praticamente tudo entregue à Coo- O potencial da atividade leiteira de Castro tem
perativa Castrolanda. Atualmente, a produção anual uma vitrine. Chama-se Agroleite, evento realizado
gira em torno de 300 milhões de litros na região e anualmente reunindo importantes criadores da re-
tem crescido a cada ano, assim como os altos índi- gião e de fora dela, inclusive de outros estados, com
ces de produtividade que envolvem o rebanho. exposição e julgamentos de pista de animais das ra-
Segundo a pesquisadora Rosangela Zoccal, da ças Holandesa, Jersey e Girolando.
Embrapa Gado de Leite, ter médias superiores a Em 2018, o evento aconteceu entre os dias 14
7.400 kg/vaca/ano significa que Castro tem nú- e 18 de agosto na chamada Cidade do Leite, reunin-
meros superiores aos obtidos na Argentina ou do mais de 200 empresas de diferentes segmentos
Austrália, em torno de 6.000 kg. E, somando ao ligadas ao setor leiteiro e um público estimado em
restante do estado, a produção paranaense de lei- 50 mil visitantes. Em 2017, segundo os organizado-
te hoje chega a ser o dobro do volume produzido res, os negócios realizados durante os cinco dias da
pelo Uruguai, de 2,310 bilhões de litros/ano, com exposição totalizaram R$ 55 milhões.

- 51 -
PRODUÇÃO

Santa Catarina: em 11 anos,


92% mais leite produzido
Em 2017, SC produziu 3,7 bilhões de litros de leite, enquanto em 2007 não passava de 1,8
bilhão. De lá para cá investiu-se na vocação e nas condições favoráveis

C
om crescimento expressivo nos últimos e distribui renda ao longo de toda cadeia produtiva,
anos, a produção leiteira de Santa Cata- envolvendo 45 mil produtores”.
rina só fica atrás de Minas Gerais, Paraná No ano passado, cerca de 38% do volume to-
e Rio Grande do Sul – os maiores esta- tal de leite produzido no país vieram da região Sul.
dos produtores. Em 2015, os catarinenses respon- Com cerca de 300 mil produtores, Paraná, Rio Gran-
deram por 3,059 bilhões de litros de leite; em 2016, de do Sul e Santa Catarina, juntos, produziram 12,8
bateram em 3,1 bilhões de litros e, no ano passado, bilhões de litros de leite e se consolidam como a
fecharam em 3,7 bilhões de litros, segundo Airton maior bacia leiteira do país. As expectativas são de
Spies, secretário adjunto da Agricultura e da Pesca que até 2025 a região produza mais da metade de
do Estado, o que significou incremento de 8% em todo o leite brasileiro. Por isso, nos últimos 10 anos
relação ao ano anterior. as indústrias de laticínios têm feito por lá os maiores
A grande bacia leiteira catarinense é a região investimentos,
Oeste, que responde por 76% de todo leite produ- A produção catarinense, especificamente, é bem
zido – quase 2,4 bilhões de litros. Spies destaca que maior do que o consumo estadual, mais da metade
a produção de leite do estado está concentrada nas da produção é destinada ao abastecimento de ou-
pequenas propriedades de agricultores familiares. tros estados. A tendência é que a produção estadu-
“O setor leiteiro vem passando por grandes trans- al continue crescendo nos próximos anos, abrindo
formações, com o investimento em pastagens, tec- possibilidades de alcançar o mercado externo.
nologias e genética”, ressalta. O leite é o terceiro produto no ranking de VBP
Há 11 anos, o estado produzia 1,7 bilhão de litros, (Valor Bruto da Produção) da agropecuária cata-
volume que, comparado com 2017, representa cres- rinense. O faturamento do setor passou de R$ 3,5
cimento de 92%. No mesmo período, a produção bilhões em 2017 e representa 13% de toda a receita
brasileira aumentou em 32%. Airton Spies explica do agronegócio catarinense. Lembrando que o Va-
que o leite é a atividade agropecuária que mais lor Bruto da Produção Agropecuária não considera
cresce no estado e que tem um grande impacto so- o faturamento com os insumos agrícolas, transporte,
cioeconômico nos municípios. “O setor leiteiro gera agroindústrias e serviços.

A produção de
leite catarinense
tem como marcas
produção familiar,
boa genética e
sistema a pasto
Arquivo Balde Branco

- 52 -
TABELA 1 - LEITE EM SANTA CATARINA – PRODUÇÃO TOTAL E DESTINADA ÀS
INDÚSTRIAS INSPECIONADAS – BR E SC - 2007-2017

BILHÃO DE LITROS

PRODUÇÃO TOTAL DESTINADA ÀS INDÚSTRIAS


ANO

BR SC PART. DE SC (%) BR SC PART. DE SC (%)

2007 26,137 1,866 7,1 17,889 1,086 6,1

2008 27,585 2,126 7,7 19,285 1,289 6,7

2009 29,085 2,218 7,6 19,602 1,390 7,1

2010 30,715 2,381 7,8 20,976 1,580 7,5

2011 32,096 2,531 7,9 21,795 1,796 8,2

2012 32,304 2,718 8,4 22,338 2,104 9,4

2013 34,255 2,918 8,5 23,553 2,118 9,0

2014 35,124 2,983 8,5 24,747 2,340 9,5

2015 35,000 3,060 8,7 24,062 2,348 9,8

2016 32,777 3,162 9,6 23,169 2,438 10,5

2017 33,400 3,700 9,1 24,700 2,757 11,4

Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal e Pesquisa Trimestral do Leite

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PRODUÇÃO

Cooperativismo de leite:
compromisso com quem produz
Samuel José de Magalhães Oliveira, Fernando Ferreira Pinheiro, Paulo do Carmo Martins, Glauco Rodrigues Carvalho

O cooperativismo responde por um quarto do leite produzido no país. As regiões Sul e


Sudeste destacam-se na captação, com mais de 7 milhões de litros/dia

Nos principais países produtores de leite, as deia de leite e derivados, desempenhando papel im-
cooperativas desempenham papel importante na portante na inclusão social e na geração de renda e
organização da produção, no processamento e na emprego, representando uma solução fundamental
comercialização do setor. No Brasil, esse papel está para o desenvolvimento dessa atividade.
fortemente ligado ao desenvolvimento da cadeia Em 2015, a OCB-Organização das Cooperativas
produtiva de leite e derivados. A relevante partici- Brasileiras e a Embrapa Gado de Leite se associaram
pação do cooperativismo ocorreu pela necessidade para elaborar o estudo mais amplo e atual sobre o
de reunir a produção originária nas diferentes pro- cooperativismo de leite brasileiro. Conhecendo esta
priedades em torno de uma planta industrial, visan- realidade, é mais seguro construir e implementar
do à aquisição de leite e à fabricação de lácteos. estratégias privadas e públicas em prol deste seg-
Assim, o cooperativismo é um dos responsáveis mento. Este importante esforço mobilizou diversas
pela interiorização dos processos industriais da ca- organizações estaduais do Sistema OCB mais 201

FIGURA 1 - VOLUME TOTAL DE LEITE ADQUIRIDO PELAS


COOPERATIVAS DE LEITE POR ESTRATOS DE PRODUÇÃO DIÁRIA
DOS ASSOCIADOS, BRASIL, 2015

Volume (L/dia) %

acima de 1.000 L/dia 5.209.165 33%

501 a 1.000 L/dia 2.790.480 18%

201 a 500 L/dia 3.955.331 25%

101 a 200 L/dia 2.271.553 14%

51 a 100 L/dia 1.080.557 7%

até 50 L/dia 456.637 3%


Fonte: Censo do
Cooperativismo do Leite

- 54 -
cooperativas localizadas em 17 unidades da Federa- leite integra-se ao mercado pelo cooperativismo:
ção. O estudo atualiza o primeiro Censo do Coope- 70.483 associados entregaram leite nas cooperati-
rativismo de Leite, realizado em 2002. vas em 2015. A região Sul exibiu o maior número
Todas as regiões brasileiras responderam ao de associados, 29.770, seguido pela região Sudeste,
censo do cooperativismo do leite. O destaque ficou com 29.257. Por isso, a produção média por associa-
para as regiões Sudeste e Sul que, respectivamente, do aumentou 30% entre 2013 e 2015, demonstrando
apresentaram 97 e 54 cooperativas. Neste universo, a preocupação com ganho de escala na atividade,
há cooperativas novas e também antigas, até cen- que é primordial neste negócio.
tenárias - três delas foram fundadas na década de
1910. Outras nos anos 1960 e 1970 (57) e algumas já MINAS RESPONDE POR MAIOR VOLUME
no século XXI (35), ilustrando que o cooperativismo Há o desafio de se disseminar este impulso de
do leite é uma realidade histórica em nosso país e inovação e ganho de competitividade dos produ-
que se mantém na atualidade. tores associados. De acordo com o levantamento,
Um expressivo contingente de produtores de quase metade (47%) ainda produzia até 100 litros

TABELA 1 - LEITE ADQUIRIDO PELAS COOPERATIVAS POR ESTADO E PARTICIPAÇÃO


PERCENTUAL DO COOPERATIVISMO NOS TOTAIS ADQUIRIDOS POR TODAS AS
PLANTAS DE BENEFICIAMENTO DOS ESTADOS, 2015

COOPERATIVAS 5.668 mil L/dia COOPERATIVAS 408 mil L/dia


TOTAL 17.650 mil L/dia 7.144 mil L/dia
TOTAL
PARTICIPAÇÃO 32,1 % MG PARTICIPAÇÃO 5,7 % SP
COOPERATIVAS 3.595 mil L/dia COOPERATIVAS 327 mil L/dia
TOTAL 9.557 mil L/dia TOTAL 1.502 mil L/dia
PARTICIPAÇÃO 37,6 % RS PARTICIPAÇÃO 21,8 % MT
COOPERATIVAS 2.244 mil L/dia COOPERATIVAS 136 mil L/dia
TOTAL 7.776 mil L/dia 705 mil L/dia
TOTAL
PARTICIPAÇÃO 28,9 % PR PARTICIPAÇÃO 19,3 % CE
COOPERATIVAS 1.384 mil L/dia
TOTAL 6.711 mil L/dia
PARTICIPAÇÃO 20,6 % GO
COOPERATIVAS 1.331 mil L/dia
TOTAL 6.434 mil L/dia
PARTICIPAÇÃO 20,7 % SC
COOPERATIVAS 691 mil L/dia
TOTAL 798 mil L/dia
PARTICIPAÇÃO 86,8 % ES
COOPERATIVAS 533 mil L/dia
TOTAL 1.479 mil L/dia Fonte: Censo do

PARTICIPAÇÃO 36,0 % RJ Cooperativismo do Leite,


Pesquisa Trimestral do
Leite (IBGE)

- 55 -
de leite por dia, em 2015. Apenas 3.477, ou 5%, pro- inovação, que depende tanto da postura mais agres-
duziam acima de 1.000 litros diariamente. No entan- siva da indústria em inovar quanto de políticas pú-
to, é notável o fato de quase metade (48%) do leite blicas que facilitem este processo como, por exem-
produzido pelos cooperados provir de produtores plo, a revisão da tributação sobre bens de capital e
com acima de 500 litros/dia, mostrando que um vo- produtos com maior valor agregado. Tudo isso ain-
lume expressivo do leite captado pelas cooperativas da depende da renda do consumidor, comprimida
já advém de produtores com maior escala de volume. nos últimos anos. A produção de queijo (muçarela
O cooperativismo responde por um quarto do e demais) soma apenas 11% do faturamento e a de
leite produzido no País, ou 16,5 milhões de litros por bebidas lácteas, 5%.
dia. Esta participação oscilou entre 25,0% e 26,8% Nos últimos anos várias cooperativas originá-
entre os anos de 2010 e 2015. As regiões Sul e Su- rias e com atuação sólida em outros segmentos do
deste destacam-se na captação, com volume acima agronegócio, principalmente as do Sul do Brasil,
de 7 milhões de litros por dia no ano de 2015. No enxergaram oportunidade no negócio do leite. Em
entanto, a participação do cooperativismo, no total geral, a entrada no setor lácteo se deu em função da
captado pela região, é superior no Sul (30,2%) em expulsão de cooperados de outras atividades mais
comparação ao Sudeste (27,0%). intensivas em capital, como grãos, suínos e aves.
O estado com maior volume de leite adquirido Transformaram problema em oportunidade. Estas
pelas cooperativas é Minas Gerais, com 5,7 milhões cooperativas, cuja contribuição do leite para o fatu-
de litros diários, que correspondem a 32,1% do leite ramento não é majoritária, têm se tornado importan-
adquirido pelos estabelecimentos de beneficiamen- tes para o cooperativismo do leite.
to do estado. Na segunda posição aparece o Rio De acordo com o Censo, 28% do faturamento
Grande do Sul (3,6 milhões de litros/dia e 37,6% de com a venda de leite e lácteos de todas as cooperati-
participação). vas de leite do país advêm daquelas onde a participa-
Nestes dois estados, a participação de coope- ção do leite é menor que 30% do faturamento total.
rativas no leite formalmente adquirido ultrapassa Este grupo de cooperativas emergentes localizam-se
a média observada no país. O cooperativismo tem principalmente no Sul: 25% do faturamento da venda
presença mais forte em regiões tradicionais, como de leite e lácteos das cooperativas do Brasil provêm
em Minas Gerais, e também em regiões mais ino- de cooperativas do Sul, cuja participação de leite e
vadoras (Sul), demonstrando a vitalidade do coope- lácteos no faturamento total soma menos de 30%.
rativismo em regiões que se destacam no contexto Este grupo, composto de cooperativas oriun-
nacional de inovação e competitividade no agrone- das de setores muito competitivos do agronegócio
gócio do leite. nacional, tem trazido suas práticas gerenciais e sua
As plantas processadoras de leite ligadas às coo- propensão à inovação ao cooperativismo do leite,
perativas possuem capacidade instalada de mais de contribuindo para a inserção competitiva do coope-
28 milhões de litros/dia. Mas processam menos de rativismo no agronegócio do leite: Entre 2010 e 2015,
15 milhões de litros/dia, demonstrando a ociosidade o leite adquirido por todas as cooperativas deste gru-
que reflete o aumento dos custos fixos da indústria. po saltou de 2,5 para 3,5 milhões de litros por dia.
Neste contexto, a região Sul possui maior capacida- Enfim, o cooperativismo é parte importante da
de instalada (14,1 milhões l/dia), processamento (8,4 realidade histórica da produção de leite em nosso
milhões l/dia) e maior utilização desta capacidade país e se mantém pujante nos dias atuais. Os produ-
instalada (59%) bem como maior capacidade insta- tores inovam e se tornam mais competitivos, aumen-
lada média por planta. tando sua escala de produção e ofertando produto
O faturamento total dos laticínios associados ao com custo e qualidade mais competitivos.
cooperativismo atinge R$ 7,4 bilhões/ano. Entre os As novas cooperativas que entraram no setor
produtos, se destacam o leite longa vida (36% do lácteo, oriundas de outros setores, trouxeram a ex-
faturamento), o leite em pó (14%) e o leite pasteuri- periência de atuação em mercados competitivos em
zado (11%). Há espaço para o crescimento do fatu- nível internacional. Suas experiências em gestão e
ramento do setor a partir do aumento da oferta de inovação representam um novo fôlego ao coopera-
produtos com maior valor agregado. tivismo do leite. Hoje, o cooperativismo faz-se pre-
sente de modo especial nas regiões mais importan-
DEPENDÊNCIA DE INOVAÇÃO tes em volume e inovação na produção leiteira do
E POLÍTICAS PÚBLICAS Brasil, sendo primordial para impulsionar o agrone-
Mas, isso depende de um ambiente favorável à gócio do leite em nosso país.

Samuel José de Magalhães Oliveira, Fernando Ferreira Pinheiro, Paulo do Carmo Martins e Glauco Rodrigues Carvalho são
pesquisadores da Embrapa Gado de Leite

- 56 -
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- 57 -
DEMANDA

Leite e derivados:
tendências de consumo
Kennya B. Siqueira

O consumo no setor lácteo passa por um processo de desenvolvimento que atende às


expectativas do consumidor, elevando os índices de demanda de todos os produtos

O
leite é um dos produtos mais versáteis
da agroindústria de alimentos. Além de
ser consumido na forma original, tam-
bém pode ser transformado em deri-
vados, que variam desde opções salgadas, como
queijos e manteiga, até alimentos considerados
sobremesas, como iogurte, leite condensado, leite
fermentado e doce de leite. Serve tanto como refei-
ção principal quanto como ingrediente de receitas,
como o leite em pó ou creme de leite. Com isso, sua
aplicação é constante e diversificada na agroindús-
tria de alimentos, assim como na culinária industrial
ou doméstica.
Tamanha versatilidade e adequação às deman-
das do consumidor moderno geraram faturamento
em 2017 de R$ 70,2 bilhões para a indústria de la-
ticínios no país, crescimento de 4% em relação ao
ano anterior. Isso coloca o setor atrás apenas do fa-
turamento obtido com derivados da carne e à frente
dos segmentos de beneficiamento de café, chá, ce-
reais e de açúcares.
Assim, estima-se que o consumo aparente per
capita no Brasil em 2017 foi de 173 litros/habitante,
volume que ainda se encontra abaixo de indicadores
verificados em outros países desenvolvidos (na faixa
de 250-300 litros), mas bem acima do total consu-
Arquivo Tetrapak

mido há uma década. A tabela 1 apresenta a evolução


do consumo dos principais produtos lácteos adqui-
ridos no Brasil, indicando que o consumo de lácteos
aumentou 33% entre os anos de 2008 e 2017. O leite atende à
Aponta também que os aumentos percentuais acentuada demanda por
proteína sinalizada pelos
mais significativos se deram nas categorias de quei- consumidores
jos (56%), leite em pó (45%) e leite UHT (32%). O
único produto que apresentou retração no consumo
no período analisado foi o leite pasteurizado (-38%).
No entanto, tudo indica que isso deve mudar nos
próximos anos, pois a imagem do leite pasteurizado
tipo A está renovada. Atualmente, é considerado um
leite premium, com oferta a preços maiores, assim
como as margens obtidas pela indústria. Isso ocorre
porque o leite pasteurizado tipo A atende à deman-
da de produtos mais naturais e menos processados.

- 58 -
CONSUMO COM BOAS PERSPECTIVAS cessão, o que significa que a expectativa para este
Outra categoria de derivados lácteos que tam- ano de 2018 é de números melhores. Alguns gêne-
bém tem caído nas graças do consumidor brasilei- ros alimentícios apresentaram queda significativa
ro é o grupo dos queijos. A diversidade de tipos, de consumo durante a crise e ainda não se sabe
sabores e texturas, alguns considerados também quando retornarão aos níveis de consumo pré-cri-
premium ou gourmet, outros frescos, alguns ar- se. Porém, em 2017, os derivados do leite ultrapas-
tesanais e locais, outros orgânicos, mas a maioria saram em 1% os níveis de consumo de 2014.
atendendo às novas tendências do mercado con- Outro ponto relevante nesta história é o fato
sumidor. Por isso, a expectativa continua sendo de de o consumo de derivados lácteos no Brasil estar
crescimento desse segmento. passando por um interessante e bem-vindo pro-
Apesar de não estar explicitamente exposto na cesso de desenvolvimento, que atende às expec-
tabela 1, os iogurtes também merecem destaque. tativas do mercado consumidor. O fato de ser uma
Eles atendem às novas tendências de densidade fonte de proteína de alta qualidade apresenta-se
nutricional e conveniência. Além disso, o interes- como uma grande vantagem competitiva do leite
se dos consumidores pelos iogurtes tem crescido e seus derivados na atualidade. Pesquisas mostram
devido ao seu teor de proteínas e aos ingredien- que, apesar da forte demanda por proteína na ali-
tes benéficos à saúde que podem ser adicionados mentação, os consumidores tendem a optar por
facilmente a estes produtos, como por exemplo fontes proteicas com as quais estão familiarizados,
fibras, probióticos e prebióticos. Isso torna o io- que são leite, ovos e soja.
gurte um snack muito saudável, visto até como ali- O resultado desta equação é muito vantajoso
mento funcional. para a indústria de laticínios, que tem muitas op-
Ainda é interessante notar que estamos viven- ções de produtos a ser oferecidos a um consu-
ciando um momento único para o mercado lácteo. midor ávido por proteína, densidade nutricional,
Após enfrentar um período de crise econômica, alimentos funcionais, conveniência, entre outros
pode-se dizer que o setor lácteo viveu no final de fatores. Resta apenas responder a essa nova per-
2017 e início de 2018 um ponto de inflexão na re- cepção de valor do consumidor.

Kennya B. Siqueira, pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

TABELA 1 - EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE LEITE E DERIVADOS LÁCTEOS NO BRASIL


(BILHÕES DE LITROS)

Descrição 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Leite pasteurizado 1795 1790 1690 1625 1430 1340 1220 1094 1105 1120

Leite UHT 5308 5262 5455 5818 6132 6385 6600 6730 6832 7026

Leite em pó 4588 5407 5615 6099 6252 6370 6260 6340 6607 6638

Queijos 5397 5802 6641 7059 7253 7763 8173 8198 8243 8406

Demais produtos 1860 2032 2451 2293 2361 2573 2728 2287 1953 2004

Total 18948 20293 21852 22894 23428 24431 24981 24649 24741 25194

Fonte: ABLV (2017)

- 59 -
DEMANDA

Leite UHT ultrapassa


7 bilhões de litros
O consumo de leite UHT cresceu em 2017 em relação ao ano anterior, fato estimulado
pelos baixos preços praticados. Com isso, chegou a 7,026 bilhões de litros

O
balanço anual da ABLV-Associação de leite em 2017. O leite em pó consumo saltou de
Brasileira do Leite Longa Vida aponta 3,000 bilhões de litros em 2016 para 3,050 bilhões
que o consumo de leite UHT atingiu, no ano passado, salto explicado pela sensível redu-
em 2017, 7,026 bilhões de litros, o que ção dos volumes importados. “O segmento passou
significa 2,8% superior ou 194 milhões de litros a o ano todo carregando estoques elevados e prati-
mais que 2016, quando bateu em 6,832 bilhões de cando preços baixos”, cita o dirigente. Apesar de
litros. Segundo a entidade, tal crescimento deu-se tímido, o leite pasteurizado também revelou volu-
pelo ligeiro aumento do volume médio consumido, me maior entre os dois períodos comparados: 1,120
já que o leite UHT foi o maior destino do aumento bilhão de litros em 2017 contra 1,105 bilhão de li-
da produção nacional, pelos baixos preços ao con- tros em 2016, ou seja, 1,4% de diferença.
sumidor durante todo o ano e pelo aumento con- O relatório da ABLV ainda aponta que o creme
tínuo de sua participação no volume total de leite de leite obteve o melhor desempenho de lácteos
de consumo. longa vida, crescendo cerca de 8,5% em volume,
Para Nilson Muniz, diretor executivo da ABLV, segundo dados dos institutos de pesquisa. As mes-
os números mostram ainda crescimento do leite de mas fontes mostraram queda de 1% para o seg-
consumo formal em 2017 da ordem de 2,4%, com mento de leite condensado. “Mais graves que isso,
aumento do consumo aparente per capita de 1,25 segundo o documento, foram os baixos preços
litro, apresentando no ano passado 53,9 litros, con- conseguidos pela categoria junto ao trade. “Mesmo
tra 52,7 litros de 2016. “O consumo aparente per com muitas ofertas ao consumidor, o segmento não
capita de leite formal tem se sustentado acima dos deslanchou e provocou estoques na indústria”, cita.
50 litros/habitante/ano nos últimos 10 anos, sendo Completando, aponta que o segmento de bebidas
que em relação a 2008 o crescimento foi de 3 li- lácteas foi o de pior desempenho, com declínio de
tros/habitante/ano”, cita. 12% de volume, impactando os preços praticados
Aumentos também ocorreram em outros tipos pela categoria.

O aumento
constante
da oferta de
leite UHT tem
assegurado
um consumo
per capita de
53,9 litros/
ano
Divulgação

- 60 -
BRASIL – BALANÇO DO SETOR LÁCTEO(1) 2008/2017 – EM MILHÕES DE LITROS
Descrição 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Leite Inspecionado 19.284 19.601 20.974 21.795 22.339 23.553 24.747 24.062 23.170 24.117

Destinação do Leite Inspecionado

Leite Pasteurizado 1.795 1.790 1.690 1.625 1.430 1.340 1.220 1.094 1.105 1.120

Leite UHT 5.305 5.252 5.450 5.810 6.120 6.365 6.597 6.729 6.831 7.025

Leite em Pó 4.997 4.955 5.210 5.350 5.457 5.812 6.210 5.946 5.464 5.867

Queijos 5.420 5.700 6.465 6.722 6.980 7.466 7.983 8.000 7.830 8.105

Demais Produtos 1.767 1.904 2.159 2.288 2.352 2.570 2.737 2.293 1.940 2.000

Importação Total 662 1.086 1.178 1.279 1.247 1.052 722 1.057 1.845 1.257

Leite UHT 3 10 5 14 12 20 3 0,61 2,45 1,08

Leite em Pó 257 565 446 795 900 678 477 814 1.363 889

Queijos 46 160 219 372 299 327 218 225 444 338

Demais Produtos 356 351 508 98 36 27 24 17 35 29

Exportação Total -998 -394 -300 -180 -158 -174 -488 -470 -274 -180

Leite UHT -6 -0,03 -1,2 -0,1

Leite em Pó -666 -113 -41 -46 -105 -120 -427 -420 -219 -118

Queijos -69 -58 -43 -35 -26 -30 -28 -26,5 -31 -37

Demais Produtos -263 -223 -216 -93 -27 -24 -33 -23 -22 -25

Disponibilidade
18.948 20.293 21.852 22.894 23.428 24.431 24.981 24.650 24.741 25.194
Líquida Formal

População 186,3 188,5 190,7 193,0 195,2 201,0 202,8 204,5 206,1 207,6

Consumo Aparente
102 108 115 119 120 122 123 121 120 121
Per Capita Formal

Leite Informal (2) 8.294 9.511 9.739 10.301 10.077 10.702 10.427 10.938 10.455 10.685

Disponibilidade
27.242 29.804 31.591 33.195 33.505 35.133 35.408 35.588 35.196 35.879
Líquida Total

Consumo Aparente
146 158 166 172 172 175 175 174 171 173
Per Capita Total

Produção Total de Leite (3) 27.578 29.112 30.713 32.096 32.416 34.255 35.174 35.000 33.625 34.802

(1)
Estimativa da ABLV, que tomou por base várias fontes de informações - (2) Produção Total de Leite, menos o Leite Inspecionado - (3) De 2008 a 2016 – IBGE – Ano de 2017 - Estimativa

Fonte: Leite Inspecionado – (IBGE) – Balança Comercial de Lácteos (elaborada por Terra Viva)

- 61 -
DEMANDA

Intolerância à lactose:
bom para os negócios
Produtos lácteos sem lactose tornam-se a menina dos olhos da indústria de laticínios e já
representam 4% do mercado total no Brasil

O
s brasileiros estão consumindo cada vez vezes por não ter diagnóstico correto da origem do
mais produtos lácteos especiais, com problema. Atualmente, esse risco ainda ocorre, mas
destaque a itens com percentuais redu- a informação circula mais e mais rapidamente, aler-
zidos ou zero de lactose. De acordo com tando as pessoas a procurar ajuda de profissionais”.
levantamento do Conseleite-RS, essa classe de pro- A oportunidade de crescimento dos negócios para
dutos representou 2,5% em 2016 e explodiu para a indústria de laticínios também é respaldada por es-
3,3% em 2017. A perspectiva para 2018 é se aproxi- tatísticas globais. Segundo diversas fontes, nada me-
mar dos 4%. Em volume total, esse nicho já envolve nos do que 70% da população mundial (cerca de 5,2
mais de 1 bilhão de litros/ano. Somente as 15 maiores bilhões de pessoas) têm algum nível de intolerância
indústrias do setor, segundo ranking da Leite Brasil, à lactose. No Brasil, o índice varia de 35% (pesquisa
devem produzir este ano em torno de 220 milhões de Datafolha) a 61% (pesquisa Novozymes).
litros de leites especiais. O fato é que entre 50 milhões e 120 milhões de
O explosivo crescimento desse segmento está pessoas no Brasil estão nesse universo e uma boa
atraindo cada vez mais empresas. Segundo pesquisa parcela já tem informações suficientes para dese-
da Novozymes, feita pela MindMiners em dezem- jar – e pagar – por produtos lácteos sem lactose ou
bro de 2017, o ritmo de lançamentos de produtos com teores reduzidos da molécula.
lácteos sem lactose ou com baixos teores cresce a Essa realidade leva a indústria de laticínios a
taxas de 50% ao ano. E, o melhor: cerca de 37% das apostar sempre mais no segmento de produtos es-
pessoas consultadas aceitam pagar mais por esses peciais, retirando ou diminuindo o percentual de
alimentos diferenciados. lactose no leite, queijo, manteiga, iogurtes, creme de
O investimento das indústrias ocorre porque o leite e demais derivados. Há no mercado dezenas de
mercado sabe cada vez mais que precisa de alter- itens à disposição dos consumidores. O portfólio já
nativas sem lactose. De acordo com a nutricionista superou as 100 opções, seja de produtos integrais,
Adriana Lauffer, “no passado as pessoas passavam a semidesnatados ou desnatados. Nesse cenário, a lis-
vida toda sofrendo de problemas intestinais, muitas ta continuará aumentando.

ENTENDENDO A LACTOSE
A lactose é o “açúcar” células. Para isso, ela é que- se ao envelhecimento das
presente no leite produzido brada pela lactase em galac- pessoas – que deixam de
pelos mamíferos. É ela a res- tose e glicose – esta, absor- processar a lactose na velo-
ponsável por aquele gosti- vida pelo intestino delgado. cidade e nos níveis necessá-
nho levemente adocicado do A intolerância ocorre rios. Segundo especialistas,
leite. Segundo estudos, essa quando o organismo não há pessoas que processam
molécula representa, em absorve toda a lactose dis- somente 5% da lactose ne-
média, 4,7% do leite de vaca ponível. O problema pode cessária. Aí vem o incômodo
e 7,2% do leite humano. ser de origem genética, na forma de dores intesti-
O fato é que a lactose vira ocorrer devido a problemas nais, diarreias, gases, cóli-
energia para abastecer as intestinais ou ainda dever- cas etc.

- 62 -
PESQUISA INFORME

Melhor genética e
mais exportação
Gir Leiteiro e Girolando destacam-se na produção de leite de qualidade, sem perder a
rusticidade, explica o criador Evandro Guimarães.

O
Brasil é um dos maiores produtores de anos, potencializando a produtividade por vaca sem
leite do mundo. Em 2017, foram 35,1 perder rusticidade. E são raças que atendem tanto
bilhões de litros. Porém, para o criador o pequeno quanto o médio e o grande produtor”,
de Gir Leiteiro e Girolando Evandro explica o criador.
do Carmo Guimarães, das Fazendas do Basa, com Evandro do Carmo Guimarães também clama
propriedades em Leopoldina, Cataguazes e Muriaé, pela união da atividade. “É preciso juntar esforços e
em Minas Gerais, o desempenho poderia ser muito forças. Com organização, podemos abrir mais mer-
maior e contribuir para o Brasil se tornar um grande cado para exportação do leite brasileiro. Já fomos
exportador de leite. mais de 1,6 milhão de produtores; hoje somos 1,2 mi-
Evandro realiza um grande movimento nacio- lhão e esse número vem caindo ano após ano. Cada
nal em duas frentes. De um lado, pede a união das produtor de leite que encerra suas atividades fecha,
autoridades públicas e privadas e das entidades de na média, dez empregos. Mas há saída. E ela está no
classe estabelecidas em prol da atividade leiteira; de mercado externo”, diz.
outro, valoriza o Gir Leiteiro e o Girolando como as As Fazendas do Basa cumprem o seu papel. O
raças ideais para puxar o aumento da produção de Gir Leiteiro e o Girolando ½ são selecionados com
leite no país. extremo rigor para aumentar a eficiência produti-
“Gir Leiteiro e Girolando adaptam-se perfeita- va, nas mais exigentes condições. “Além de produzir
mente bem ao clima tropical. Essas raças são ver- muito bem, elas são resistentes a zoonoses, como
dadeiros tesouros do país e podem contribuir muito a mastite ambiental. E também precisam de menos
mais para o aumento da produção de leite no Brasil. produtos veterinários, o que se reflete em leite de
Essa genética evoluiu tremendamente nos últimos elevada qualidade”, destaca Evandro.

Melhoramento
genético objetiva
ter vacas mais
produtivas, sem
perder a rusticidade
ZZN Peres

- 63 -
PESQUISA

Pesquisa: desenvolvimento
e inovação a serviço do leite
Pedro Arcuri

Ações da Embrapa Gado de Leite priorizam estudos em produção, reprodução, genética,


saúde e bem-estar animal, além do uso e manejo de forrageiras tropicais

A
Embrapa Gado de Leite, inaugurada em biologia molecular, nanotecnologia, geotecnologia,
1976, está sediada em área da Universi- bioinformática, genômica e análise de grandes bases
dade Federal de Juiz de Fora, em Minas de dados (big data).
Gerais. Atividades de pesquisa e trans- Foram desenvolvidas ou adaptadas tecnologias
ferência de tecnologia são conduzidas em seus 14 de manejo alimentar de bezerras a partir de estu-
laboratórios e nos campos experimentais localiza- dos de nutrição e de avaliação de comportamento
dos em Coronel Pacheco-MG e Valença-RJ. em abrigos individuais ou manejadas coletivamente
As iniciativas em transferência de tecnologia nos em piquetes. Estratégias de fornecimento de mine-
campos experimentais acolhem um público de cer- rais nas rações, mistura de cana e ureia, avaliação
ca de 5.000 pessoas/ano. Nas demais regiões do de cultivares comerciais de milho para silagem e
país, atua por intermédio dos Núcleos Regionais desenvolvimento de variedades de capim-elefante
de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologia para pastejo e corte para fornecimento verde ou
para o Setor Leiteiro em parceria com as unidades ensilado geraram tecnologias utilizadas em todas as
Clima Temperado (RS), Arroz e Feijão (GO), Agro- regiões do país.
florestal, (RO) e Tabuleiros Costeiros (SE). O conforto térmico e comportamento de vacas
A programação de pesquisas prioriza estudos leiteiras, em sistemas a pasto ou confinadas, uti-
em produção, reprodução, melhoramento genético, lizando animais da raça Holandesa, Gir ou vacas
saúde e bem-estar animal de raças leiteiras. Tam- mestiças, resultou no zoneamento bioclimatológico
bém realiza estudos com o melhoramento genético das principais bacias leiteiras, baseado no Índice de
e manejo intensivo de pastagens e em socioecono- Temperatura e Umidade.
mia. A equipe técnica e a infraestrutura têm sido Estudos de eficiência alimentar em animais lei-
fortalecidas nessas áreas, viabilizando estudos em teiros e de diferentes alimentos produzidos no Brasil

O desenvolvimento
de forrageiras para
sistema de pastagem
é uma das prioridades
da pesquisa
Arquivo Embrapa Gado de Leite

- 64 -
têm sido realizados avaliando alternativas de manejo (iLPF) se aplicam a áreas de clima tropical e subtro-
intensivo de pastagens, metabolismo e emissão de pical, bem como criam subsídios para a implantação
gases causadores do efeito estufa, especialmente o e disseminação do Programa de Agricultura de Bai-
metano entérico, de modo a promover práticas sus- xo Carbono criado pelo Governo Federal, em 2009.
tentáveis para a pecuária no uso de recursos natu- Variedades de capim-elefante propagadas por
rais nos trópicos. sementes, Brachiaria ruziziensis com aptidão para
pastejo em sistemas de iLPF/iLP, Digitaria sp e Cy-
FORRAGEIRAS PARA PASTAGENS E CORTE nodon, tolerantes às cigarrinhas-das-pastagens e a
No momento, pesquisas em sistema compost estresses abióticos serão lançadas no mercado em
barn buscam caracterizar essa tecnologia no terri- breve. Além disso, dada a sua expertise e protago-
tório brasileiro quanto aos parâmetros em qualidade nismo no melhoramento genético do capim elefante,
do leite e mastite, de bem-estar e de comportamen- a Embrapa Gado de Leite lidera um programa de
to animal, assim como índices reprodutivos e dados desenvolvimento de materiais genéticos desta espé-
econômicos para fundamentar o uso de tal tecnolo- cie com foco na produção de biomassa para energia,
gia de exploração. seja para queima direta ou para a produção de eta-
Estão disponíveis recomendações para sistemas nol lignocelulósico.
intensivos de produção de leite a pasto, usando Trabalhos sobre manejo reprodutivo e a rela-
forrageiras de inverno e capim-elefante e, poste- ção da nutrição e reprodução culminaram na im-
riormente, Setaria sphacelata, Cynodon sp, alfafa plantação da Campanha Nacional de Aumento da
(Medicago sativa), Brachiaria sp e Panicum sp, com Produtividade em Rebanhos Leiteiros, em 1990. A
incrementos progressivos da produtividade em até biotecnologia da reprodução, envolvendo fisiologia,
dez vezes. endocrinologia e sistemas de cultivo em laboratório
As recomendações e tecnologias para recupera- contribuíram para o desenvolvimento e adaptação
ção de pastagens degradadas e a integração com de protocolos para a produção de embriões in vivo
lavoura e silvicultura em sistemas agropastoris (iLP), e in vitro em raças leiteiras zebuínas, além da incor-
sistemas silvipastoris (IPF) e agrossilvipastoris poração de genes de interesse em células e produ-

www.ipacol.com.br
- 65 -
ção de animais geneticamente superiores discrimi- dos fatores de virulência dos principais patógenos
nados por ferramentas de seleção genômica. e prospecção de imunógenos visando o controle de
infecção dos principais patógenos da doença.
SELEÇÃO GENÔMICA EM Com o mesmo propósito consta ainda o desen-
RAÇAS ZEBUÍNAS NA AGENDA volvimento e padronização de metodologia baseada
Estratégias de cruzamento e testes de progênie em PCR multiplex para monitoramento de genes de
fundamentaram os programas de seleção para me- resistência a antibióticos clinicamente relevantes
lhoramento das raças zebuínas leiteiras. Em 1988, a para o controle da mastite, desenvolvimento de mo-
Embrapa Gado de Leite e o MAPA - Ministério da delo de glândula mamária extracorpórea de bovinos
Agricultura, Pecuária e Abastecimento definiram as para avaliação de resposta a infecções por Strepto-
normas para formação da raça Girolando, o Gado coccus agalactiae, desenvolvimento de formulação
Leiteiro Tropical, bimestiço de composição racial nanoestruturada de antimicrobiano (cloxacilina),
5/8 de raça Holandês e 3/8 de raça Gir. que aumenta sua eficácia bem como sua adaptação
As ferramentas de seleção genômica já são apli- para uso oftálmico no tratamento da ceratoconjunti-
cadas no melhoramento das raças Girolando e Gir vite infecciosa em bovinos.
Leiteiro e em desenvolvimento para implantação nos A Coleção de Microrganismos de Interesse da
sistemas de avaliação e seleção das raças zebuínas Agroindústria e Pecuária (CMIAP) de amostras de
Guzerá e Sindi e da raça Holandesa, no Brasil. Tais leite e líquido ruminal atende a várias pesquisas e
ações da Embrapa Gado de Leite são realizadas em instituições. Estudos epidemiológicos são realizados
intensa cooperação com as respectivas associações para detectar áreas geográficas com alta ocorrência
de criadores e de empresas de inseminação artificial de contagem de células somáticas e contagem bac-
e empresas provedoras de serviços de genotipagem. teriana total. É realizado também o monitoramento
A mastite afeta diretamente a qualidade do lei- de outras doenças infecciosas, como leptospirose,
te, com implicação na segurança dos lácteos para IBR e BVD.
mercados cada vez mais exigentes. As pesquisas
incluem rastreabilidade dos patógenos da mastite, SELEÇÃO DE ANIMAIS E A GORDURA
elaboração de cartilhas de boas práticas de produ- DO LEITE EM GIR E GUZERÁ
ção, desenvolvimento de métodos moleculares para Trabalhos sobre a qualidade nutricional da gor-
a identificação correta das espécies de microrganis- dura do leite de vacas Gir e Guzerá permitem iden-
mos, sua caracterização molecular e identificação tificar uma ampla variabilidade individual em cada

INFORME

Silagem de trigo: alimento nobre para o gado


O questionamento de um produtor (NDT 70%) contidos na silagem do ragicultura, Maryon Strack Dalle Car-
do Rio Grande do Sul sobre a falta de TBIO Energia I, obtêm índices satis- bonare, a silagem de trigo, além de
uma cultivar específica para silagem fatórios para o bom funcionamento fonte energética, proporciona fonte
durante o inverno levou a Biotrigo fisiológico do rúmen, bem como para de fibra efetiva de qualidade, alta pa-
Genética ao desenvolvimento do trigo síntese proteica de tecidos e pro- latabilidade e aceitação pelos animais.
TBIO Energia I. A ideia era produzir dutos metabolizados. “Estes fatores “Pode ser utilizado para todas as ca-
um material que servisse tanto aos contidos na cultivar contribuem para tegorias animais na produção de leite,
produtores de gado de corte como de uma ótima fonte de energia para os principalmente para vacas secas, no-
leite. A cultivar tem ciclo mais curto, ruminantes, oriunda de carboidratos vilhas e também para gado de corte”,
não possui aristas – por isso não fere estruturais (celulose, hemicelulose explica.
o trato digestivo, possui boa produção e pectina) e não estruturais (os açú- Uma nova cultivar com ciclo precoce
de biomassa, qualidade nutricional e cares e polissacarídeos amiláçeos) (TBIO Energia II) está chegando em
de fibra, bons aspectos fitossanitários e incrementam a produção de pro- 2019. O trigo foi adaptado para culti-
e ainda fácil condução na lavoura. teína microbiana e de ácidos graxos vo em regiões de clima mais quentes,
O zootecnista da Biotrigo Genética, voláteis, favorecendo a resposta do como o Norte do Paraná, São Paulo,
Éderson Luis Henz, explica que os ruminante em maior ganho de peso”, Minas Gerais e Goiás. Nesses estados,
valores nutricionais médios, tanto em explica. o ciclo pode ser até 20 dias mais curto
proteína (12%) quanto em energia Para a Pesquisadora do Setor de For- em comparação ao TBIO Energia I.

- 66 -
raça para os índices de insaturação da gordura, indi- produção de leite serviu para a definição de preços
cando a possibilidade de seleção de animais visando pagos ao produtor até o final dos anos 1980, ten-
à produção de leite contendo gordura de elevada do contribuído para o desenvolvimento de índices
qualidade nutricional. Estudos da Embrapa Gado de zootécnicos e econômicos, planilhas de custos de
Leite, por exemplo, demonstraram que vacas con- produção norteadoras para o preço a ser pago pelo
sumindo palma forrageira apresentam perfil singular produto, orientação da pesquisa analítica e contri-
da gordura do leite. buição na formação de técnicos.
O queijo artesanal produzido em municípios in- A partir de 1991, a implantação de políticas
seridos no Corredor Ecológico da Mantiqueira, na econômicas como abertura comercial e desregula-
região do Serro e no Triângulo Mineiro, dentre ou- mentação dos preços tanto em nível de produtores
tros, vem sendo caracterizado, visando incremento quanto de consumidores impactou o segmento da
da renda para agricultura familiar e alimento seguro produção primária de leite, em que o aumento da
para os consumidores e, ainda, para apoiar a elabo- produtividade explicou o crescimento de 59,5% da
ração de políticas públicas para produção e comer- produção entre 1991 e 2005.
cialização do queijo artesanal no país. Ter informações de toda a cadeia produtiva e
Foram estabelecidas boas práticas para o con- congregar esforços de diferentes instituições, vi-
trole estratégico do carrapato, além de ser oferecido sando facilitar a tomada de decisões, tanto do setor
gratuitamente o teste de sensibilidade aos carrapa- produtivo como do governo nos programas ou polí-
ticidas disponíveis no mercado. Um inovador con- ticas públicas, é a entrega feita pela Embrapa Gado
trole biológico por meio de nematoides entomopa- de Leite, a partir de dados secundários ou pesquisas
togênicos está em fase de testes a campo. realizadas in loco feitas pelo Centro de Inteligência
A instalação de modelos físicos de sistemas de do Leite (www.cileite.com.br).

Pedro Arcuri, pesquisador e chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite

- 67 -
INOVAÇÃO

Seleção genômica:
avanço acelerado
Rubens Neiva

Testes de progênie passam a usar o valor genômico de touros e vacas. É mais precisão,
economia e rapidez na seleção genética das raças Girolando e Gir

Dobrar a velocidade do melhoramento genético esse procedimento otimiza as barrigas de aluguel,


dos rebanhos leiteiros no Brasil, com mais precisão pois a vaca passará a gerar somente os embriões
e custos menores, a partir de informações geradas que foram selecionados como os melhores.
do DNA dos animais e incorporadas aos tradicio- Além da maior confiabilidade das informações,
nais programas de melhoramento. Esta já é uma re- o coordenador do Programa de Melhoramento Ge-
alidade praticada a partir da chamada seleção ge- nético da Raça Girolando (PMGG), Marcello Cem-
nômica, desenvolvida pela Embrapa Gado de Leite branelli, aponta a redução do tempo de avaliação
em parceria com a Associação Brasileira dos Cria- dos animais, com redução significativa dos custos.
dores de Girolando e as empresas CRV Lagoa e “A introdução da avaliação genômica no programa
Zoetis. O objetivo é selecionar animais superiores. de melhoramento democratiza as oportunidades da
O produto leva o nome de Clarifide Girolando. seleção, na medida em que permite que um núme-
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Lei- ro maior de criadores tenha acesso ao serviço”, diz
te, Marcos Vinícius Barbosa da Silva, o projeto é o ele, explicando que com isso haverá grande salto de
resultado de seis anos de pesquisas em genômica, qualidade no programa de melhoramento genético.
genética molecular e bioinformática. “Reunimos o
que há de mais avançado nos conhecimentos de GENÉTICA BOVINA DECODIFICADA
genoma e sistemas computacionais para avaliar “Descobrir as diferenças genéticas entre as ra-
as informações provenientes de um chip com cen- ças europeias e indianas foi fundamental para os
tenas de milhares de dados relacionados ao DNA estudos de melhoramento genético dos rebanhos
bovino”, diz. zebuínos”, afirma o pesquisador Marcos Viní-
A seleção dos animais superiores para os sis- cius Barbosa da Silva. Sua dedicação rendeu-lhe
temas de produção de leite é feita a partir de uma em 2010 o prêmio Honor Awards, conferido pelo
amostra de material biológico que contenha células United States Departament of Agriculture. Ele co-
do bovino. As informações genéticas coletadas são ordenou o projeto do genoma das raças zebuínas
comparadas com as que estão disponíveis em chip. para leite, o primeiro trabalho de sequenciamento
“Como resultado deste trabalho, o produtor rece- realizado no Brasil.
be uma série de informações a respeito do animal, Os primeiros resultados, divulgados em 2012,
como produção e proteínas do leite, se é portador mostraram diferenças significativas entre animais
de genes que produzem defeitos genéticos, ca- taurinos e zebuínos em relação a alguns genes
pacidade reprodutiva e outros dados necessários de importância econômica. “O sequenciamento
para que o processo de melhoramento do rebanho do DNA permitiu identificar mais de 5 milhões de
seja efetivo”, cita ele. SNPs específicos para as raças zebuínas”, informa
A avaliação genômica abre grandes possibi- Silva. SNP é um tipo de marcador molecular, cuja
lidades para o melhoramento dos rebanhos, pois sigla traduzida para o português significa “poli-
permite, por exemplo, que o animal seja seleciona- morfismo de um único nucleotídeo”.
do antes mesmo de nascer. É possível retirar uma As pesquisas coordenadas por Silva tiveram
pequena amostra de células de um embrião após como objetivo identificar os SNPs vinculados às
sete dias da fecundação in vitro e, por meio dessas características de interesse econômico para a pe-
poucas células, analisar todo o seu genoma. Caso cuária de leite: tolerância a parasitas e ao estres-
o embrião possua as características desejáveis, ele se térmico, produção de sólidos, persistência da
é transferido para a vaca receptora. Do contrário, lactação etc. Isso reduziu o número de SNPs a ser
poderá ser descartado. Além de economizar tempo, analisados para cerca de 30 mil, tornando mais ob-

- 68 -
No laboratório
da Embrapa,
a seleção
genômica
a partir de
informações do
DNA dos animais

Arquivo Embrapa Gado de Leite

jetivos os procedimentos de seleção. O passo se- base nesse perfil, ele tomará decisões sobre as es-
guinte foi desenvolver equações de predição que tratégias de cruzamento e decidirá se utiliza ou não
permitissem identificar os efeitos dos SNPs dos um touro jovem em programas de teste de progê-
indivíduos e selecioná-los de acordo com os inte- nie, por exemplo.
resses econômicos.
Com a tecnologia disponível ao produtor, o DECISÃO PRECISA E ANTECIPADA
procedimento para a seleção genômica do bo- Para o pesquisador da Embrapa Gado de Leite,
vino ocorre da seguinte forma: o produtor retira Marco Antônio Machado, a seleção genômica tor-
amostra de tecido biológico do animal (amostra de na o melhoramento genético um jogo menos arris-
sangue ou pelo), enviando-a aos laboratórios co- cado. A aposta mais segura agora é conhecer o va-
merciais credenciados que irão extrair o DNA e re- lor genômico do animal, ranqueando-os de acordo
alizar a genotipagem para os marcadores de SNP. com o seu genótipo. “A seleção genômica demo-
Com os genótipos em mãos, uma equipe utili- cratiza as oportunidades do melhoramento genéti-
zando a tecnologia desenvolvida pela Embrapa co, na medida em que reduz os custos do processo.
Gado de Leite está procedendo às avaliações ge- O mesmo trabalho que levaria sete anos pode ser
nômicas. Na sequência, o produtor deve receber feito em apenas dois com economia e maior grau
um relatório com o perfil genético do animal. Com de certeza”, diz.

arenales_revista_M&P_C&MC_PRINT.pdf 1 25/05/2018 09:55:05

- 69 -
Alguns países já abandonaram os programas de melhoramento genéticos tradicionais, investindo na seleção genômica.
O Brasil também caminha para isso. As vantagens da seleção genômica em relação à tradicional incluem menor custo dos
procedimentos e rapidez nos resultados. Confira no quadro o que faz a diferença entre dos dois diferentes programas.

MELHORAMENTO TRADICIONAL SELEÇÃO GENÔMICA


No melhoramento tradicional, por meio do teste de No melhoramento por meio da seleção genômica, os
progênie os indivíduos são comparados com base animais são avaliados pela bagagem genética contida
na produção de leite das filhas: no DNA:
• O criador seleciona o touro que ele acredita ser • O criador seleciona o touro que ele acredita ser o me-
o melhor lhor.
• O touro é submetido a um pré-teste durante cin- • Uma mostra do material genético do touro (sangue ou
co meses, quando alguns critérios como a produ- pelo) é coletada e enviada ao laboratório credenciado.
ção e a qualidade do sêmen são avaliados. • O criador recebe o valor genômico do touro (uma
• AAprovado no pré-teste, o touro é inserido no espécie de perfil genético do animal). De posse des-
teste de progênie propriamente dito. sa informação, ele pode ou não inserir o touro em um
• Vacas de várias fazendas, que participam do pro- programa de melhoramento.
grama, são inseminadas com o sêmen desse touro. • A amostra também pode ser coleta de embriões fecun-
• As filhas do touro nascem, crescem, reproduzem dados in vitro (dez células) e o resultado embasará a
e começam a produzir leite; decisão sobre quais embriões implantar para gestação.
• Ao final da lactação, tem-se a produção da vaca. • A seleção genômica é aplicada ainda a fêmeas permi-
• As informações de interesse econômico coleta- tindo a identificação precoce de bezerras e novilhas
das durante este processo serão publicadas em superiores. O produtor tem mais segurança para deci-
um sumário, no qual o touro será ranqueado. dir quais novilhas devem receber sêmen sexado

A seleção genômica embrionária vem atender Embrapa contarão com apoio do governo federal
a um importante nicho de mercado. O Brasil é o para a genotipagem de milhares de animais que
maior produtor de embriões bovinos do mundo formarão a população de referência. A partir des-
(cerca de 400 mil por ano). “Esse contingente ain- sa população de referência, será possível produzir
da não é selecionado pelo valor genômico. Quando indicadores genômicos que beneficiarão direta ou
isso ocorrer, haverá maior confiabilidade dos pro- indiretamente todos os criadores. O grupo acredita
dutos, acarretando maior velocidade do melhora- que esta ação será capaz de mobilizar os criadores
mento genético dos rebanhos”, cita. a investirem na genotipagem, uma vez que os be-
As ações de melhoramento genético no Brasil nefícios só serão efetivos se os novos animais con-
remontam ao início do século passado, mas foi a tinuarem a ser genotipados e fenotipados.
partir de 1983 que ganharam impulso. Naquele Nesse contexto, o pesquisador Silva destaca
ano, a diretoria da ABCGIL-Associação Brasileira a importância de tais programas envolvendo as
dos Criadores do Gir Leiteiro procurou a Embrapa duas raças zebuínas. “Os resultados apontam que
Gado de Leite para discutir um plano que levasse a raça Girolando é a que mais cresce em produção
ao melhoramento genético da raça representada de sêmen no Brasil, o que representa um crescente
por ela. Os trabalhos começaram em 1985, quando aumento na produção de leite das vacas da raça.
foram escolhidos oito touros para constituir o pri- Hoje, em muitos rebanhos a média por lactação
meiro grupo a ser testado. Nascia então o PNM- passa de 5.000 kg. Graças a esses programas, o
GL-Programa Nacional de Melhoramento do Gir Brasil se transformou em exportador de genética
Leiteiro. bovina leiteira para países com condições climáti-
Para o início efetivo da parceria, Girolando e cas semelhantes às brasileiras”.

Rubens Neiva, assessor de imprensa da Embrapa Gado de Leite

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INOVAÇÃO

Nanotecnologia: trata
mastite e muito mais
Rubens Neiva e Fabiana Henrique

Pesquisa aprova um antibiótico nanoestruturado para combater mastite, que deverá ser
comercializado em breve. Outras doenças estão também na mira da tecnologia

U
m produto baseado na nanotecnologia é obter êxito de até 80%. “Dificilmente a eliminação
a mais nova aposta da pesquisa pecuá- se dá por completo”, afirma o pesquisador.
ria para enfrentar a mastite bovina. De- Numericamente, os índices clínicos obtidos com
senvolvida pela Embrapa Gado de Leite a nova formulação resultaram num incremento de
e a Universidade Federal de Ouro Preto, a tecnolo- até 15% no combate ao Staphylococcus aureus em
gia está em fase de negociação com uma indústria comparação ao medicamento convencional. Bran-
farmacêutica disposta a produzir e comercializar o dão ressalta que esses resultados foram obtidos
novo medicamento. com a metade da dose do antibiótico. “Em nossas
Embora o Brasil não possua números oficiais dos pesquisas, o número de animais portadores de mas-
prejuízos causados pela doença, estima-se que o tite infecciosa diminuiu”, diz o pesquisador, que
impacto econômico alcance até 10% do faturamen- completa: “O medicamento também demonstrou
to das fazendas. O pesquisador Guilherme Nunes de potencial para prevenir novas infecções”.
Souza avalia que, nos Estados Unidos, estatísticas
apontam perdas anuais da ordem de US$ 2 bilhões COMO ATUA A NANOESTRUTURA
devido à redução na produção, ao descarte do leite A diferença entre o tratamento convencional e a
e de animais e aos gastos com medicamentos e ho- utilização de nanoestruturas está basicamente em
norários veterinários. como o medicamento é carreado no organismo. Em
Uma das respostas da pesquisa agropecuária a tese, nada muda em relação ao princípio ativo em si
essas perdas pode estar na nanotecnologia, ciência (o antibiótico), mas no seu transporte até as células.
que manipula partículas em escala microscópica O antibiótico é encapsulado em uma nanopartícula
(até um bilhão de vezes menor do que o metro) e menor do que a célula.
tem revolucionado a farmacologia mundial. Nesse Essa nanoestrutura possibilita que o medicamen-
sentido, o pesquisador Humberto de Mello Brandão to chegue a compartimentos biológicos que formu-
trabalha há 10 anos no desenvolvimento de nanoes- lações farmacêuticas convencionais não têm acesso
truturas capazes de tornar mais eficiente a ação dos como, por exemplo, o interior das células de defesa
antibióticos contra a mastite. da glândula mamária.
Ele explica que nem todos os antibióticos con- A partir daí é feita uma liberação controlada e di-
seguem atuar de forma ampla para combater os recionada do antibiótico diretamente no local onde
agentes que provocam a mastite. “Com o tratamento o agente causador da doença fica protegido das
convencional, bactérias como o Staphylococcus au- formulações convencionais. Por ser mais eficiente
reus, grande responsável pela doença, costumam ser e utilizar de forma mais racional os antibióticos, a
eliminadas fora das células fagocitárias, mas conti- nanoestrutura dificulta a seleção de bactérias resis-
nuam vivas no espaço intracelular. Quando a célula tentes, aumentando a vida útil do fármaco.
fagocitária morre, a bactéria fica livre e volta a se Atualmente, o controle da doença dá-se por
proliferar no interior do úbere da vaca, dificultando meio de práticas de manejo corretas, entre elas a
a cura dos animais tratados”, revela. desinfecção dos tetos antes e após a ordenha. A
Isso explica por que essa inflamação é tão difícil prevenção e o tratamento são realizados em todo o
de ser combatida. Segundo Nunes, a possibilidade rebanho no período de secagem das vacas, quando
de se eliminar o Staphylococcus aureus durante o é administrado um antibiótico preventivo em todos
período de lactação, via tratamento intramamário, os quartos mamários do animal. Esse é um dos mo-
gira em torno de 30%. Com o tratamento da vaca mentos em que o antibiótico nanoestruturado alcan-
seca (início do período entre as lactações) é possível ça sua maior eficiência.

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Na imagem, a
primeira vaca
tratada com
antibiótico
nanoestruturado
contra mastite

Arquivo Embrapa Gado de Leite

O projeto de pesquisa que deu origem ao pro- essa tecnologia pode contribuir para o desenvolvi-
duto, que será submetido às indústrias farmacêuti- mento de nanobiossensores para o diagnóstico de
cas por meio de edital público, teve início em 2007. doenças, como tuberculose, brucelose, neosporose
As pesquisas contaram com o financiamento da e anaplasmose bovina. Com isso, será possível am-
Fapemig-Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas pliar a precisão em diagnósticos laboratoriais numa
Gerais e foram desenvolvidas nos laboratórios da escala menor de tempo.
Embrapa e da Faculdade de Farmácia da Universi- Segundo o Sebrae, os nanobiossensores seriam
dade Federal de Ouro Preto. Nesse período, foram a solução para o diagnóstico rápido de um elevado
realizados diversos ensaios para garantir a seguran- número de amostras de soro de animais, processado
ça do medicamento. ao mesmo tempo, e diversos tipos de doenças ana-
lisadas em uma única amostra. Essa inovação é tema
AÇÕES AMPLAS E VARIADAS de pesquisa da Embrapa, que busca o diagnóstico
A nanotecnologia, que permite manipular a ma- rápido de doenças em bovinos para detectar em so-
téria numa escala atômica e molecular, criando no- ros de animais baixas concentrações de antígenos
vos produtos e processos, já ajudou a revolucionar dos agentes causadores de doenças.
diversos segmentos – da indústria química à produ- Uma inovação desenvolvida por uma empresa de
ção de equipamentos médicos e têxteis. Agora, é a nanotecnologia de São Carlos-SP, a Nanox, possi-
vez da agroindústria, mais recente e especificamen- bilitou à fazenda leiteira da Agrindus Agropecuária
te a pecuária leiteira, no combate à principal doença incorporar micropartículas à base de prata, com
que afeta a atividade leiteira, a mastite. propriedades bactericida, antimicrobiana e auto-
Segundo o Sistema de Inteligência Setorial do esterilizante, no plástico rígido das garrafas usadas
Sebrae, dados expressivos já podem ser identifica- para envasar o leite tipo A produzido pela empresa
dos por esta inovação na produção de tratores, ara- e comercializado em 45 cidades do Estado de São
dos, herbicidas, adubos e medicamentos utilizados Paulo. Isso aumentou o prazo de validade do leite
nos animais, até mesmo nos mecanismos de diag- fresco pasteurizado de 7 para 15 dias.
nóstico de doenças. O mercado mundial de produ- Ao aumentar o prazo de validade do leite é
tos com nanotecnologias deve atingir valores pró- possível obter ganhos na logística, armazenamen-
ximos a US$ 3,3 trilhões em 2018. O setor químico to, qualidade e segurança do produto, segundo o
ocupa hoje a maior parcela desse mercado, seguido Sebrae. A empresa detentora da patente, que tem
pelos semicondutores. apoio de programa de inovação da Fapesp-Funda-
No Brasil, entre 2000 e 2007, foram investidos ção de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento de
cerca de R$ 320 milhões em nanotecnologia, soman- São Paulo, quer comercializar o produto na Europa
do os investimentos do setor privado e pesquisas. e nos Estados Unidos, onde se consomem volumes
Até o final deste ano, o país pretende alcançar 1% muito maiores de leite in natura em comparação
do mercado mundial. Na área de sanidade animal, com o Brasil.

Rubens Neiva, assessor de imprensa da Embrapa Gado de Leite, e Fabiana Henrique, assessora de imprensa do Sebrae

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INOVAÇÃO

Ideas for milk:


o leite entre startups
Paulo do Carmo Martins e Wagner Arbex

T
oda empresa moderna e inovadora en- como marcas da trajetória humana. Pois, passadas
contra-se em crise por não ter claro apenas mais seis décadas, o surgimento do transis-
como se reposicionar frente a um futuro tor levou à terceira revolução, associando velocida-
cada vez mais incerto. Não se trata de de ao progresso e à abundância. Daí à chegada ao
incertezas inerentes ao mercado, pois estas sem- mundo digital foram poucas décadas mais.
pre existirão por serem incertezas de conjuntura. E, Nesses novos tempos, em vez de palavras, no-
como tudo na vida, crises de curto prazo vem e vão. vas expressões entraram no vocabulário cotidiano,
O difícil é quando a incerteza é resultante de mu- como Big Data, Internet das Coisas e Inteligência
dança estrutural, como ocorre agora. Artificial, sinalizando que o mundo 4.0, o da Quarta
O mundo passou por três revoluções tecnológi- Revolução, já começou. Se nas três revoluções tec-
cas que mudaram, cada uma, a maneira do homem nológicas anteriores tivemos mudança de Era, ago-
produzir e consumir. Portanto, o modo de pensar e ra estamos vivenda a Era das Mudanças e, a cada
agir. A primeira foi no final do século XVIII, quando momento, uma inovação nos impacta e muda nossas
surgiu a máquina a vapor. A partir dela, o homem vidas, sem que a gente esteja preparado para tal.
soube realmente o que significa a palavra abundân- Na Embrapa, percebeu-se que era preciso cami-
cia, pois a máquina começou a substituir os animais nhar para este novo ambiente. Todavia, se as gran-
e aumentou a capacidade de produzir alimentos e des empresas urbanas estão com dificuldade de se
tecidos, além de ter diminuído distâncias. adaptarem, mais difícil ainda é para aquelas que ge-
Cem anos depois ocorreu a segunda revolução, ram tecnologia para o agronegócio. O motivo é sim-
quando surgiu o carro, a energia elétrica e o petró- ples. Até então, uma solução tecnológica dependia
leo. A palavra progresso se somou à abundância, de agrônomos, veterinários e zootecnistas. Agora,
Divulgação

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o que estes profissionais geram deixou de ser uma como o maior desafio de startup do agronegócio
solução pronta porque uma nova etapa no processo brasileiro e o leite como a primeira cadeia produtiva
de inovação foi criada. a contar com em ecossistema de inovação articu-
Sim! É preciso ter a decisiva participação de lado. No ano seguinte, o evento reeditou o suces-
físicos, matemáticos, engenheiros, pois são eles os so do desafio e trouxe uma novidade: o Vacathon,
responsáveis por levar tudo para o mundo digital, o primeiro Farm Party do mundo, com equipes de
valendo-se de imensos bancos de dados, que per- alunos de 17 universidades. Dormindo em barracas,
mitem a tomada de decisão em tempo real e de ao estilo Campus Party, os alunos ficaram em regime
maneira precisa. Mas, como juntar duas tribos tão de concentração durante cinco dias na sede da Em-
diferentes? Foi esse o desafio que assumido. brapa Gado de Leite.
No primeiro dia foram conhecer um laticínio; no
ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO segundo, conheceram o que é produzir leite e pro-
ARTICULADO blemas que precisam de soluções digitais a partir de
Em 2016, nós, da Embrapa Gado de Leite, cria- contatos com técnicos do Campo Experimental, de
mos o Ideas For Milk, em parceria com quatro em- Coronel Pacheco-MG; no terceiro dia, as equipes se
presas: a KIK Venture, a Qranio, a Carrusca Inno- reuniram com as empresas Microsoft, IBM, Cisco e
vation e o Agripoint. Procuramos as empresas de BovControl. A ideia foi promover uma disputa sau-
Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC dável também entre as empresas e estas buscaram
e fomos em 11 das melhores universidades do Bra- atrair as equipes para usar as suas ferramentas nas
sil. Em Minas Gerais fomos na UFMG, UFV, UFLA, soluções que seriam geradas.
UFJF e PUC. Em São Paulo, fomos na USP/Esalq, A partir daí, começou a maratona, que durou dois
USP São Carlos e UFSCAR. No Rio Grande do Sul, dias e meio. Empresários e dirigentes do setor lác-
fomos na UFRGS, UFPEL e PUC. teo, especialistas em TIC e investidores assistiram à
Todas têm contribuído com análises em leite e na apresentação de dez startups selecionadas entre 86
formação de profissionais da área de ciências agrá- que se inscreveram no desafio e coube a eles esco-
rias. Então, fomos lá motivar professores e alunos lher a melhor solução para o leite em 2018.
das áreas de exatas e humanas a se juntarem e pro- O Ideas For Milk só tem obtido resultados em
porem sugestões para levar o leite ao mundo digital. função de ser uma parceria da Embrapa, universida-
E a surpresa foi imensa, pois foram recebidos 137 des, empresas e entidades representativas do setor.
projetos. Já existem tecnologias que surgiram no Ideas For
Então, 40 projetos de startups foram selecionados Milk e foram incorporadas por laticínios. Outras es-
para apresentação presencial a bancas formadas por tão em fase de aceleração em empresas de TIC e há
empresários especialistas do setor lácteo, em Tecno- aquelas que estão em busca de investidores. E, em
logia de Informação e Comunicação e investidores. 2018, tem mais, com novidades. É esperar para ex-
Com isso, em 2016 surgiu o Ideas For Milk, já perimentar. Afinal, o mundo da inovação não tem fim.

Paulo do Carmo Martins e Wagner Arbex, respectivamente,


chefe geral e pesquisador da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

STARTUPS FINALISTAS DO IDEAS FOR MILK 2017

Systech Feeder - Sistema integrado que monitora em tempo real o consumo de concentrado de bezerras

Smartfarm - Sistema inteligente que envia alertas de variações comportamentais relacionadas a bem-estar, saúde, cio e nutrição

Mobimilk - Sala de ordenha em módulo tipo contêiner, com monitoramento de CSS e temperatura do animal

Farmin4Milk – Sistemas de identificação do melhor momento da inseminação, com monitoramento do comportamento e da saúde das vacas

MilkLine - Mede, coleta e identifica amostras de leite, com precisão e confiabilidade

MilkPlus - Otimização da produtividade, qualidade e lucratividade dos laticínios, com sistema de rotas, rastreamento de viagens, medição de precisão, atividades de campo,
gestão de qualidade, gestão de plataformas e pagamento de produtores

Agroconforto – Monitoramento do bem-estar animal e da produtividade, avaliando o ambiente e a produtividade animal em tempo real

QualiSticker - Selo e/ou embalagem inteligente (sensor) capaz de informar a qualidade do produto

Scanner Bovino – Sistema de gestão zootécnica, intuitiva e interativa, que monitora a produtividade e eficiência do rebanho

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ECONOMIA

Retorno econômico de uma


vaca leiteira em produção
Diana Cifuentes, Juliana Pila e Rafael Ribeiro

A margem de ganho na atividade leiteira é estreita, o que exige alta eficiência e boa
produtividade para que a exploração seja rentável durante o ano inteiro

N
este artigo, consideramos a receita neiro a maio/2018). Este preço será a base do pri-
bruta e o lucro/prejuízo gerado por meiro cenário, de baixa/média tecnologia. Já o valor
uma vaca de leite a partir da comercia- máximo, de R$ 1,410, que inclui as bonificações por
lização de sua produção. Para isso, par- volume e qualidade, será utilizado para desenhar o
timos de um exemplo, tendo como referência a matriz segundo cenário, de maior eficiência produtiva e
entrando no processo produtivo ao ser inseminada, o adoção de tecnologia.
que ocorre, em média, aos 17 meses de idade. Para os dois cenários, serão estimadas vacas com
Confirmada a gestação, nasce a cria e, após a produção média de 15 litros/dia, totalizando 450 li-
produção do colostro, começa a produção de leite, tros por mês e 4.500 litros por lactação. De igual
o que dura cerca de 300 dias. O pico de produção forma, consideremos vacas com produção média de
é atingido aos 60 dias, diminuindo gradativamente a 20 litros por dia, totalizando 600 litros por mês e
partir de então. Para o nosso exemplo utilizaremos 6.000 litros por lactação.
uma fêmea Girolando ¾, mais especificamente uma Os valores apresentados referem-se ao preço do
novilha prenhe (potencial para produção média de leite ao produtor, que, multiplicados pelos volumes
15 litros de leite/dia), avaliada em R$ 3.900. de produção, informarão o faturamento bruto. Para
Quantas lactações seriam necessárias para ela se calcular o lucro ou prejuízo da atividade foram des-
pagar? Para responder, algumas referências: praça contados os custos de produção.
pecuária leiteira de Minas Gerais, valor pago por Utilizamos os custos de produção estimados pela
litro de leite ao produtor de R$ 1,085 (média de ja- Conab-Companhia Nacional de Abastecimento para

Genética,
alimentação,
manejo e
tecnologia
fazem a
diferença na
rentabilidade
do rebanho
N.Rentero

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TABELA 1 - CUSTO DE PRODUÇÃO ESTIMADO PARA A PECUÁRIA
LEITEIRA NO MUNICÍPIO DE IBIÁ-MG, EM MAIO DE 2018

Discriminação R$/litro Discriminação R$/litro


I - DESPESAS DE CUSTEIO DA ATIVIDADE (A) II - DESPESAS FINANCEIRAS (B)
Mão-de-obra contratada para manejo do rebanho 0,143 1 – Juros 0,047
Serviços especializados 0,008 Total das Despesas Financeiras (B) 0,047
Manutenção de pastagens 0,066 CUSTO VARIÁVEL (A+B =C) 1,03
Manutenção de capineira 0,000 III - DEPRECIAÇÕES
Manutenção de canavial 0,000 1 - Depreciação de benfeitorias/instalações 0,058
Silagem 0,148 2 - Depreciação de máquinas e implementos 0,030
Concentrados 0,315 3 - Depreciação de animais de serviço 0,004
Leite para bezerro 0,098 4 - Depreciação de forrageiras não anuais 0,007
Sal mineral 0,029 Total de Depreciações (D) 0,10
Medicamentos 0,016 IV - OUTROS CUSTOS FIXOS
Hormônios 0,000 1 – Capatazia 0,024
Material de ordenha 0,007 2 - Encargos sociais 0,084
Transporte do leite 0,000 3 - Seguro do capital fixo 0,004
Energia e combustível 0,043 Total de Outros Custos Fixos (E) 0,111
Inseminação artificial 0,009 Custo Fixo (D+E = F) 0,21
Impostos e taxas 0,028 CUSTO OPERACIONAL (C+F = G) 1,24
Reparos de benfeitorias 0,033
Fonte:
Reparos de máquinas 0,014 CONAB / Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br
Outros gastos de custeio 0,000
Despesas administrativas (3% do custeio) 0,029
Total das Despesas de custeio (A) 0,99

TABELA 2 - FATURAMENTO DE UMA VACA LEITEIRA DE ACORDO COM O CENÁRIO E


COM SUA PRODUÇÃO
Produção média Faturamento bruto Lucro/prejuízo Faturamento bruto/ Lucro/prejuízo por
Cenários
diária (litros) diário (R$) diário (R$) lactação (R$) lactação (R$)
Cenário 1 15,0 16,28 (2,33) 4.882,50 (697,50)
(R$1,085/l) 20,0 21,70 (3,10) 6.510,00 (930,00)
Cenário 2 15,0 21,15 2,55 6.345,00 765,00
(R$1,410/l) 20,0 28,20 3,40 8.460,00 1.020,00

Fonte: Scot Consultoria

TABELA 3 - FATURAMENTO E RESULTADO ECONÔMICO DE UMA VACA DURANTE


UMA VIDA ÚTIL DE OITO ANOS. REFERÊNCIA: MAIO DE 2018
Cenários Produção diária (litros) Faturamento bruto / vida útil (R$) Lucro/prejuízo durante a vida útil (R$)

15,0 39.060,00 (5.580,00)


Cenário 1
20,0 52.080,00 (7.440,00)
15,0 50.760,00 6.120,00
Cenário 2
20,0 67.680,00 8.160,00

Fonte: Scot Consultoria

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Minas Gerais e atualizado para 2018 com base no Ín- O investimento seria de R$ 3.900,00 na compra
dice de Custos de Produção da Atividade Leiteira da da novilha prenhe, que seria quitado com cerca de
Scot Consultoria (tabela 1). cinco lactações com produção de 15 litros/dia ou 3,8
Este custo refere-se a uma propriedade leiteira lactações com produção de 20 litros/dia no cenário 2.
com média tecnologia, onde é feita a suplementação
alimentar das vacas no período de menor disponi- BEZERRAS DEFINEM MARGEM
bilidade de forragem e faz-se uso de inseminação Outros fatores devem ser levados em considera-
artificial. O custo operacional de produção está esti- ção. No período de fevereiro a abril último, o índice
mado, em média, em R$ 1,24 por litro em 2018. de custo de produção da atividade calculado pela
Scot Consultoria apresentou alta, diminuindo a mar-
DIFERENTES RESULTADOS POR LACTAÇÃO gem para o produtor. As altas dos alimentos concen-
No primeiro cenário (média de 15 litros por trados, com destaque para o milho e o farelo de soja,
vaca/dia), no qual consideramos o preço médio foram o que mais pesaram no aumento do indicador.
pago ao produtor de R$ 1,085 por litro, o prejuízo Portanto, um bom manejo alimentar e estratégias de
estimado foi de R$ 0,16 por litro produzido em 2018. compras de insumos são fundamentais para aprovei-
Desta forma, houve prejuízo tanto para o animal, que tar os momentos de baixa de preços dos insumos.
produziu 15 litros/dia, como para o que produziu 20 Outro ponto que não foi analisado neste artigo
litros/dia. Os prejuízos foram de R$ 697,50 e R$ foi a venda das bezerras ou dos bezerros produzidos
930,00, respectivamente. por esta vaca. No caso das fêmeas, estas poderiam
No segundo cenário, no qual consideramos o pre- ser vendidas ou compor o rebanho da propriedade,
ço máximo pago ao produtor de R$ 1,410 por litro, o agregando valor.
lucro estimado foi de R$ 0,17 por litro de leite produ- Para exemplo, o ideal de uma vaca é produzir
zido. Neste caso, tanto as vacas com produtividade uma cria por ano, totalizando oito animais na sua
média de 15 litros/dia como as que produziram 20 vida útil. Se considerarmos zero de mortalidade e
litros de leite por dia deram lucro, estimado em R$ 50% de machos, teremos disponíveis quatro fêmeas
765,00 e R$ 1.020,00 por lactação, respectivamente. para venda. Atualmente, uma bezerra desmamada
O tempo de permanência de uma vaca em pro- (3/4 Girolando) está sendo vendida em torno de R$
dução varia, mas, em média, ela fica no rebanho por 2.300,00, o que totalizaria R$ 9.200,00 de receita.
oito lactações. No cenário 1, considerando somente Com esta venda seria possível aumentar o lucro na
a venda do leite, sem considerar a receita com a co- atividade.
mercialização das bezerras, houve prejuízo com as Voltando um pouco nos resultados do cenário 1,
vacas com produção de 15 litros e 20 litros por dia no qual os prejuízos foram de R$ 5.580,00 (média
ao longo das oito lactações. Os prejuízos foram de de 15 litros/vaca/dia) e R$ 7.440,00 (média de 20
R$ 5.580,00 e R$ 7.440,00, respectivamente. litros/vaca/dia) por lactação, seriam necessárias
De igual forma, no cenário 2, considerando so- as vendas de pelo menos três bezerras no primei-
mente a venda do leite durante os oito anos de per- ro caso e de quatro bezerras no segundo caso para
manência das vacas em produção, houve lucro nas “zerar” o resultado. Com os exemplos propostos
duas situações de produtividades médias, ficando neste texto é possível facilitar a tomada de decisão
em R$ 6.120,00 e R$ 8.160,00, para 15 litros e 20 de investir ou não na atividade, bem como a decisão
litros por dia, respectivamente. de realizar o descarte de animais.

Diana Cifuentes, médica veterinária; Juliana Pila e Rafael Ribeiro, ambos zootecnistas. Todos analistas da Scot Consultoria

A MAIOR REDE DE ANÁLISES DO AGRONEGÓCIO DO MUNDO

UNIDADES:
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OPINIÃO

Leite: protagonista
Roberta Züge, médica
veterinária, responde pela
superintendência da Associação
Brasileira de Criadores de

da história humana
Bovinos da Raça Holandesa e
é membro do CCAS-Conselho
Científico do Agro Sustentável

O
desenvolvimento humano, em Quando se restringe a ingestão de vaca era, em média, 1,5 cm menor que ou-
especial o incremento da ca- lácteos, há uma dificuldade em atingir o tra sem a restrição. Segundo pesquisado-
pacidade cognitiva, ou seja, valor de necessidade diária. De acordo res, para uma criança de três anos, 1,5 cm
a capacidade de adquirir co- com o National Institute of Health, 1994, é uma diferença bem considerável.
nhecimento, está intimamente ligado aos a recomendação é que adultos consumam Para o estudo foram avaliadas 5.034
fatores nutricionais. Na primeira infância, diariamente, ao menos, 5 g de vitamina D. crianças canadenses saudáveis com idade
a carência de nutrientes pode acarretar Consumir três copos (de 200 ml) de leite entre 2 e 6 anos de idade, com média de
perdas não recuperáveis mesmo com o supre quase 50% da necessidade diária 38 meses de idade. Destes, 51% eram de
reequilíbrio nutricional. de vitamina D. Substituir o leite por outros meninos. Dos participantes, cerca de 5%
Nos primórdios, os humanos eram ca- extratos vegetais deve ser uma recomen- bebiam exclusivamente substitutos vege-
çadores/coletadores e passavam grande dação muito restrita e sob atenta orienta- tais e cerca de 84% bebiam apenas leite
parte do dia buscando alimentos, percor- ção médica. de vaca. Fato também identificado que
rendo áreas em busca de opções. Para dei- quanto maior a substituição do leite bovi-
xar de ser nômades, precisaram desenvol- no pelas alternativas vegetais maior era a
ver técnicas de domesticação dos animais
Hoje o leite é amplamente diferença de tamanho em relação aos que
e da agricultura, o que permitiu um grande utilizado em quase todo bebiam o leite convencional.
avanço no desenvolvimento, inclusive de Infelizmente, há muitas ondas e pessoas
planeta. Pela sua rica
tempo de vida. que influenciam negativamente pais que
Um dos grandes destaques para faci- composição e facilidade pensam fornecer alimentos de qualidade a
litar a vida foi a utilização do leite de bo- seus filhos. Este impacto, na primeira in-
de ingestão, tem papel
vinos como alimento. Este, de alto valor fância, não será corrigido posteriormente.
nutricional, de fácil ingestão e que poderia fundamental na nutrição O leite de vaca, além de ser mais sau-
ser retirado nas proximidades de suas mo- infantil dável, ainda tem custo muito menor. Subs-
radias, em todas as épocas do ano. tituir é uma alternativa negativa ao desen-
O leite, além de conter significativas volvimento e à saúde das crianças, assim
concentrações de proteína, gordura e car- A Sociedade Europeia de Hepatologia como do bolso da população. Proporcio-
boidrato, possui também sais minerais e e Nutrição, em 2006, recomendou que nar que as crianças tenham acesso ao leite,
vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis. É a fórmula à base de soja fosse utilizada em quantidade e qualidade necessárias, é
considerado um dos alimentos mais com- apenas em situações específicas, devido a um benefício para toda a sociedade.
pletos. Pela sua rica composição e facili- possíveis desvantagens nutricionais e pelo
dade de ingestão, tem papel fundamental alto conteúdo de fitatos, alumínio e fito-
Composição lactose gorduras
na nutrição infantil. estrógenos.
do leite 10-12g 5-7g
Capadócia, na Turquia, é conhecida Um artigo na revista American Journal
por suas pitorescas casas escavadas nos of Clinical Nutrition destacou que crian-
rochedos, que serviam para os cristãos se ças com dietas restritas de leite bovino, 1 copo sólidos
esconderam de perseguições. Hoje, pou- quando há substituição por alternativas de leite 30-38g
cas delas são utilizadas como moradias. vegetais (soja, amêndoas ou arroz), são 250 ml
No entanto, ainda há os resquícios de ligeiramente menores do que seus pares minerais proteínas
compartimentos, também inseridos nos que bebem leite de vaca. Este estudo de- 2-2,5g 7-10g
rochedos, que eram utilizados como con- monstrou que a cada copo diário de leite
finamentos de bovinos e de caprinos. Os de vaca substituído por vegetais diminui água
212-220g caseína whey
animais tinham como principal finalidade 0,4 cm em relação à média de altura para
6-8g 1-2g
o fornecimento de leite para os habitantes a idade da criança.
da árida região. Hoje, como se sabe, o leite Demonstrou-se que uma criança de
é amplamente utilizado em quase todas as três anos que consumia três xícaras de α-caseína β-caseína k-caseína
regiões do planeta. substitutos vegetais em relação ao leite de 3-4g 2-3g 0,75-1g

- 79 -
EXTENSÃO RURAL

Assistência técnica revela


potencial da produção de leite
André Novo

Índices apresentados pelo Programa Balde Cheio confirmam a importância dos técnicos
na transformação do potencial produtivo de um grupo de fazendas mineiras

A
melhoria das condições tecnológicas da no estado em 2016, quando somava 238 municípios,
produção leiteira é um imperativo para a com atendimento a 781 produtores por 103 técnicos
obtenção de bons rendimentos do setor. e com apoio de 91 instituições parceiras.
Neste sentido, o Projeto Balde Cheio, A área das propriedades agrícolas da amostra
criado pela Embrapa Pecuária Sudeste, em 1998, variou de 1,3 a 870 ha, com média correspondente
vem promovendo a transferência de tecnologias de a 52,2 ha. A responsabilidade social do técnico que
produção e gerenciais aos técnicos e produtores atua nas pequenas propriedades é ampliada e todo o
de leite por meio da capacitação de técnicos e do cuidado é tomado para que o estabelecimento de um
acompanhamento das propriedades. programa de intensificação do uso dos recursos pro-
Num breve resumo do relatório elaborado pela dutivos não gere frustração, desânimo no produtor
Embrapa Pecuária Sudeste, em conjunto com a e, principalmente, comprometa o futuro do negócio.
Faemg-Federação da Agricultura e Pecuária do Es- Dados do relatório apontam que a média das
tado de Minas Gerais, pode-se caracterizar o con- porcentagens de vacas em lactação (76,2%) al-
junto de propriedades acompanhadas pelo projeto cançada pelo projeto ainda está abaixo do ideal,

Em Minas, a
orientação
técnica tem
melhorado a
eficiência e
os índices dos
produtores
assistidos
Arquivo Balde Branco

- 80 -
de 83,6%. Portanto, além de a atuação em nutri- por mão-de-obra foi de 197 l/homem/dia, o que
ção continuar a ser o foco principal do trabalho, está aquém do mínimo esperado de 500 litros por
será preciso mostrar ao produtor outros aspectos, homem/dia. A capacitação teórica e o treinamento
como a necessidade de acompanhamento reprodu- prático do fator recurso humano se fazem neces-
tivo e que se estabeleça um programa de seleção sários caso o desenvolvimento da pecuária leiteira
no rebanho. nacional seja o objetivo do país. Lembramos ainda
Os valores de produtividade descritos na tabela que este indicador relaciona-se à condução de todo
1 mostram que a capacidade de suporte das pro- o sistema e não somente o trabalho na ordenha.
priedades está aquém do desejado, pois 1,0 vaca em No início do trabalho em propriedades partici-
lactação por hectare é baixa se comparado a índices pantes do Programa Balde Cheio, atitude alguma
obtidos da ordem de 1,5 a 2,0 vacas em lactação por é tomada quanto à seleção das vacas. O potencial
hectare em propriedades localizadas em países com genético dos animais não é avaliado em um primeiro
clima temperado, as quais trabalham com forragei- momento. Após equacionar a alimentação dos ani-
ras de menor potencial produtivo quando compara- mais tanto em relação à quantidade como em qua-
das às variedades existentes no ambiente tropical. lidade, os animais passam a ser avaliados e aque-
les que não responderem aos esforços feitos pelo
MÃO DE OBRA: GARGALO DA ATIVIDADE produtor no sentido de atender a estas exigências
Na média, as propriedades avaliadas apresenta- básicas do rebanho serão selecionados para a co-
ram produtividade da terra (4.485 l/ha/ano) com- mercialização.
patível com países de pecuária desenvolvida, como Deve-se ressaltar também que pouco mais de
Argentina, Nova Zelândia e Uruguai, o que demons- 10% das propriedades apresentam produtividade
tra grande potencial da atividade leiteira em Minas da terra acima do ponto de inflexão considerado
Gerais. Valor máximo da ordem de 4,7 vacas em lac- para a realização do lucro, que gira em torno de
tação por ha mostra que ao menos uma propriedade 8.000 a 10.000 litros de leite por ha/ano, varian-
encontrou o caminho por onde as outras poderão do de acordo com o preço do litro de leite. Estas
também trilhar. propriedades têm servido como exemplos às de-
A questão da mão-de-obra é um dos principais mais, sendo as mesmas visitadas regularmente por
gargalos da atividade leiteira e merece redobrada produtores iniciantes no trabalho e por aqueles que
atenção. Em 2016, o volume de leite ordenhado desejam ingressar.

TABELA 1 - INDICADORES DE PRODUTIVIDADE LEITEIRA DAS PROPRIEDADES


VACAS EM LACTAÇÃO MÉDIA DAS VACAS PRODUTIVIDADE
MÉDIA DAS VACAS EM LEITE POR HOMEM
POR HA DO REBANHO LEITEIRA POR ÁREA *
LACTAÇÃO (L/VACA/DIA) DIA (L/HD)
(Nº VACAS/HA) (L/VACA REBANHO/DIA) (L/HA/ANO)
VALOR MÍNIMO 0,1 3,8 2,4 224 10
VALOR MÁXIMO 4,7 28,9 23,8 32.266 1.128
MÉDIA 1,0 12,0 9,3 4.485 197
DESVIO PADRÃO 0,7 4,0 3,7 4.349 154,9
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (%) 78,5 33,2 39,3 97,1 78,5
* SEM RECEITA ORIUNDA DA VENDA DE ANIMAIS TRANSFORMADA EM EQUIVALENTE-LEITE

TABELA 2 - INDICADORES ECONÔMICOS DAS PROPRIEDADES

MB/HA* (R$/HA/
RT (R$/ANO) DI (R$/ANO) DC (R$/ANO) DC/RT (%) MB* (R$/ANO) FC* (R$/MÊS)
ANO)
VALOR MÍNIMO 6.187,05 0,00 4.128,00 13,69 -112.944,18 -10.756,59 -11.520,35
VALOR MÁXIMO 1.875.382,51 230.461,09 1.365.181,67 210,47 510.200,84 24.581,05 32.719,90
MÉDIA 197.842,73 18.016,85 137.228,05 68,83 60.614,69 1.961,50 3.549,82
DESVIO PADRÃO 14.265,80 1.703,14 10.286,56 1,34 4.654,48 159,27 323,83
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (%) 122,37 160,42 127,21 32,93 130,31 137,80 154,81
* SEM A REMUNERAÇÃO DO PROPRIETÁRIO

RT - RECEITA TOTAL (SOMATÓRIO DA VENDA DE LEITE E DERIVADOS, DE ANIMAIS E DE ESTERCO). DI - DESPESAS COM INVESTIMENTOS. DC - DESPESAS COM CUSTEIO. MB - MARGEM BRUTA (RT MENOS DC). FC - FLUXO DE CAIXA.

- 81 -
A análise de alguns dados agregados é inte- propriedade que estiver acima de 100% demons-
ressante do ponto de vista econômico como, por tra que a receita total não está cobrindo os custos
exemplo, a capacidade de geração de renda da ati- operacionais e que haverá a necessidade de aporte
vidade leiteira. Em média, as propriedades assistidas financeiro externo para que feche as contas.
pelo Balde Cheio em Minas Gerais, em 2016, gera- O fato de a média das despesas com investimen-
ram R$ 197.842,70 por ano. Deve-se considerar a tos representar quase 10% da média das receitas
característica de pequenas e médias propriedades totais ou, ainda, 30% da margem bruta é um indica-
que tiveram oportunidade de movimentar um valor tivo de que há confiança por parte do produtor em
expressivo de recursos, que fica no município, gera relação à capacidade geradora de futuro para sua
renda para outros pequenos negócios e movimenta família, atestado pela média das margens brutas e
a economia local. margens brutas por área.
Um dos fatores mais importantes da atividade
VALORIZAÇÃO DO FLUXO DE leiteira e muito valorizada pelos produtores é a ca-
CAIXA MENSAL É CHAVE pacidade de gerar fluxo de caixa mensal. O fluxo de
A saúde financeira de qualquer empresa é ates- caixa (FC) representa o que realmente sobra no bol-
tada pelos índices econômicos. Nas propriedades so do produtor após pagas todas as despesas efetu-
leiteiras, um destes índices que se destaca devido à adas com o custeio e com os investimentos. Indica-
significância é a relação entre despesas de custeio dores do projeto apontam que 72% dos produtores
(DC) e receita total (RT). Em qualquer proprieda- obtiveram, no mínimo, o equivalente a R$ 1.000
de, o valor limite para que as despesas com o dia a livres por mês, sendo que 19,4% conseguiram FC
dia da fazenda não se aproximem do total de receita superiores a R$ 5.000, motivando-os a continuar
gerada é de 75%. seguindo as orientações técnicas propostas.
Tal indicador teve o valor médio de 68,8% no Todos estes índices apresentados demonstram
grupo de propriedades do levantamento (tabela 2) e que a estratégia do Programa Balde Cheio em Mi-
71,2% das propriedades apresentaram relação DC/ nas Gerais em 2016 para atingir o principal objetivo
RT menor que 75%. Propriedades que apresentem que é a recuperação da autoestima do produtor foi
valores acima deste limite serão tão mais depen- obtido e que os outros objetivos palpáveis como ge-
dentes de maior remuneração do preço do litro de ração de renda e passar a ser exemplo para outros
leite quanto mais próximo de 100% for o índice. A produtores e técnicos são derivados dele.

André Novo é pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos-SP

INFORME

Saúde intestinal das bezerras


A Bayer Saúde Animal desen- fase de aleitamento. Os pro- no intestino da bezerra. Ou
volveu um produto inovador bióticos presentes em sua seja, um intestino saudável
para auxiliar o controle das formulação são altamente es- funciona como importante
diarreias em bezerras. Trata- pecíficos, capazes de destruir barreira para a entrada de
-se de Fagolac, nova tecnolo- bactérias e, com isso, reduzir microrganismos e favorece a
gia biológica que promove o a utilização de antibióticos na absorção de nutrientes, além
equilíbrio da flora microbiana fase de criação das bezerras. de ser essencial para preve-
intestinal e diminui o número Saul Hatem, gerente de Pro- nir a ocorrência de diarreias,
de microrganismos indesejá- dutos de Pecuária de Leite mais importantes e onerosas
veis, responsáveis pela ocor- da Bayer, explica que “a luta doenças que acometem as
rência de diarreias durante a pela produtividade começa bezerras em aleitamento”.

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TECNOLOGIA

De tirador a
produtor de leite
Paulo do Carmo Martins, Denis Teixeira da Rocha, João César de Resende,
Armando da Costa Carvalho e Marcos Antônio de Freitas

É recente a evolução dos sistemas de produção de leite no Brasil, imprimindo melhoria


contínua dos sistemas de produção a partir de trabalhos de pesquisa

O
modo de se produzir leite no Brasil evo- Experimental da Embrapa Gado de Leite, em Coro-
luiu muito em pouco mais de quatro nel Pacheco-MG. Esta foi e ainda é uma sala de aula
décadas. Nos anos 70, a produção era viva, uma vitrine aberta, que inspirou e inspira muitos
meramente extrativista, com animais de dos cerca de 200 mil visitantes que ali já passaram,
dupla aptidão, de leite e corte, baixa produtividade de produtores, alunos, professores e pesquisadores
em ambas as atividades, com manejo precário e pou- e até autoridades, ao longo destes anos. Foi dali que
ca atenção dada à alimentação, higiene e sanidade do surgiu o primeiro critério para reajustar o preço de
rebanho. leite, em 1987, numa época em que o setor pressionou
Nas décadas seguintes, houve evolução para o para que o preço tabelado deixasse de ser um instru-
estabelecimento de dois sistemas de produção tecni- mento heterodoxo de combate à inflação.
ficados, intensivos em termos de alimentação: pasta- Dez anos depois de ser criado, o objetivo da "fa-
gem e grãos. Entre esses extremos, várias gradações zendinha da Embrapa" era reproduzir as condições
possíveis foram construídas, além do fato de boa par- existentes na região que mais produzia leite no Bra-
te das propriedades leiteiras ainda hoje permanecer sil, a Zona da Mata de Minas Gerais. Reproduzindo
em sistemas extensivos, presas ao tempo. situações reais, seria possível testar tecnologias e
Todavia, o fato relevante é que houve melhora transferi-las para o setor produtivo. Numa proprie-
contínua dos sistemas de produção, que foram se dade montanhosa foi instalado um rebanho mestiço
profissionalizando em função do espírito empre- originário das raças Holandesa e Zebu, manejado a
endedor do produtor e por meio dos resultados da pasto. O desafio inicial era obter uma produtividade
pesquisa brasileira, principalmente a partir dos anos de 8 litros de leite/vaca/dia, muito acima da produ-
90, que possibilitaram ao país desenvolver uma pro- ção encontrada nas propriedades da época.
dução de leite genuinamente tropical. Neste caso, os A análise dos dados zootécnicos desse sistema ao
esforços da Embrapa foram decisivos. longo de quatro décadas de funcionamento mostra
Em termos de alimentação, além dos ganhos em que a incorporação contínua de novas tecnologias
produtividade no milho e na soja - fundamentais para desenvolvidas e/ou validadas pela pesquisa agrope-
Aumento da
a competitividade na produção de leite em sistemas cuária refletiu em maior eficiência do uso de todos produtividade dos
intensivos do tipo free stall -, foram melhoradas as es- os fatores de produção: terra, mão-de-obra, animal fatores de produção
deram novo status
pécies africanas destinadas ao pastejo existentes no à atividade
Brasil, trazidas pelos navios negreiros.
A partir dos anos 90, variedades transgênicas fo-
ram criadas pelos pesquisadores brasileiros e come-
çaram a ser disseminadas. Em igual sentido, ocorreu
evolução genética dos animais, tanto das raças eu-
ropeias, com destaque para a Holandesa, como das
raças indianas, que foram recriadas pela pesquisa
brasileira, como é o caso de Gir Leiteiro e Guzerá, e
da raça sintética Girolando.

SALA DE AULA COM 200 MIL VISITANTES


O túnel do tempo desta evolução, ocorrida em
N.Rentero

apenas quatro décadas, está representado pela his-


tória do sistema de produção instalado no Campo

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TABELA 1 - EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DOS FATORES
(TERRA, MÃO-DE-OBRA, ANIMAL E CAPITAL INVESTIDO) DE UM
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE LEITE DA EMBRAPA GADO DE LEITE
ENTRE 1977 E 2016 (MÉDIAS ANUAIS)

Produtividade Unidade 1977 2016 Variação

Terra Litros de leite / ha / ano 1.188 6.779 470,1%

Mão-de-obra Litros de leite / funcionário / ano 24.455 104.982 329,3%

Animal Litros de leite / lactação (305 dias) 2924 5392 84,4%

Capital Litros de leite / R$1.000,00 / ano 256 466 82,2%

Fonte: Embrapa Gado de Leite - registros históricos do sistema de produção de leite a pasto (organizado pelos autores)

e capital (tabela 1). O resultado mais expressivo fi- E mais: distribuição do rebanho em grupos ho-
cou por conta da produtividade da terra, que cresceu mogêneos com oferta de alimentação balanceada,
470%, saindo de 1.188 em 1977 para 6.779 litros de introdução de melhoria contínua na fase de cria das
leite/ha em 2016, associada ao incremento da taxa de bezerras, controle estratégico de carrapatos e outros
lotação das pastagens, que subiu de 0,63 UA/ha para parasitas, gestão estratégica do melhoramento gené-
2,07 UA/ha/ano. tico do rebanho e adoção da inseminação artificial,
A produtividade da mão-de-obra teve aumento refrigeração do leite produzido e adoção da coleta
de 329%, passando de 24.455 para 104.982 litros de granelizada, aumento da mecanização das atividades
leite por empregado/ano. Já a produtividade animal e registro sistemático das informações para fins de
cresceu 84,4%, com a produção de leite por lactação tomada de decisões com acurácia na gestão.
saltando de 2.924 litros para 5.392 litros. Por fim, a Neste túnel do tempo, representado pelo sistema
produtividade do capital investido aumentou 82,2%. de produção da Embrapa, verifica-se que a pesquisa
Esses números resultaram num aumento do volume permitiu que os produtores fossem além do que se
de produção deste sistema de 352%, alcançando a esperava inicialmente. Da meta proposta quase ina-
média diária de 1.430 litros em 2016. tingível de 8 litros/vaca/dia, hoje a realidade mos-
Essa análise evidenciou que os incrementos de tra que esta produtividade torna uma propriedade
produtividade mais relevantes aconteceram para os economicamente insustentável. Os sistemas reais de
fatores cujos preços reais de mercado mais cresce- produção chegam a registrar produtividade quatro
ram no período, quais sejam: terra e mão-de-obra. vezes maior que o proposto. A maior parte do leite
Interessante notar que mesmo diante de uma curva brasileiro já vem de sistemas de produção de leite
descendente de preços pagos ao produtor, que pas- que apresentam nível tecnológico além das técnicas
saram de R$ 3,77 em 1978 para R$ 1,45 em 2016 (em adotadas no sistema de produção descrito.
valores deflacionados para janeiro de 2018), a produ- Apesar da importância na disseminação de técni-
ção nacional de leite continuou crescendo, indicando cas de manejo, sanidade, reprodução e uso de pas-
que o avanço tecnológico foi capaz de reduzir os cus- tagem, novas demandas têm surgido e impactado o
tos de produção, mantendo ou até mesmo melhoran- processo de produção de leite. Os preços da terra e
do as margens e a rentabilidade da atividade. da mão-de-obra têm subido de modo contínuo e aci-
ma da inflação, mostrando a necessidade de se tornar
RESULTADOS ALÉM DO PROJETADO cada vez mais intensiva a produção.
Tudo isso foi possível devido, principalmente, ao O cuidado com o meio ambiente, a garantia da
aumento considerável da produtividade dos fatores inocuidade do leite, produzido sem resíduos quími-
de produção. As principais mudanças tecnológicas cos e sem vetores de doença, bem como o conforto
incorporadas pelo sistema ao longo desse período animal são os novos desafios postos para a pesquisa,
foram a utilização de espécies forrageiras geneti- cujas soluções já começam a estar disponíveis, por
camente melhoradas, com uso de adubação e do meio da pecuária de precisão e da nanotecnologia, da
pastejo rotacionado com cerca elétrica, e o uso de genômica e da biologia sintética, num ambiente cada
forrageiras de melhor qualidade e apropriadas para vez mais envolto à internet das coisas e à inteligência
alimentação do rebanho no período da seca. artificial.

Paulo do Carmo Martins, Denis Teixeira da Rocha, João César de Resende, Armando da Costa Carvalho e Marcos Antônio de
Freitas, pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

- 85 -
TECNOLOGIA

Brasil insemina 6,23%


das fêmeas leiteiras
4,3 milhões de doses de sêmen para pecuária de leite foram colocadas
no mercado pelas empresas de genética, em 2017

O
Brasil é um dos maiores produtores de 4.291.711 doses. No ano anterior, foram 3.739.433:
leite do mundo. Segundo estimativa do crescimento de 14,77%. Porém, o total chegou a
IBGE, em 2018 a oferta total deve ficar atingir 5.856.932 doses em 2014, recuando depois
em torno de 35 bilhões de litros, o que para 4.422.638 doses em 2015.
coloca o país entre os maiores fornecedores do pla- As importações (2.957.244 doses) – quase que
neta. Porém, a produtividade por vaca permanece na integralmente de sêmen da raça Holandesa – repre-
faixa dos 1.700 litros/ano (algo em torno de 5,5 li- sentaram 69% do total de sêmen utilizado no país.
tros/vaca/dia), indicador sustentado por alguns po- A produção interna, liderada pela raça Girolando,
los produtores, especialmente do Sul e do Sudeste. alcançou 1.334.467 doses. Estados Unidos, Canadá
A inseminação artificial sempre foi apontada como e Holanda, nessa ordem, são as principais origens de
uma técnica indispensável para contribuir para o au- sêmen de leite.
mento da produção de leite por vaca no país. E tem As exportações engatinham, mas as perspectivas
feito a sua parte. Afinal, em 2011 a produção média são otimistas. De acordo com o relatório da Asbia,
de leite por vaca era inferior a 1.400 litros/ano. O em 2017 o Brasil vendeu 124.762 doses no mercado
crescimento foi de quase 30% em apenas oito anos. internacional, especialmente para a América Latina
No entanto, sempre chama a atenção o baixo – liderança da Colômbia, Equador e Costa Rica.
índice de vacas inseminadas no Brasil. De acordo
com o mais recente levantamento da Associação
Venda de
Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), em 2017 sêmen de
apenas 6,23% das cerca de 22 milhões de fêmeas gado leiteiro
cresceu quase
leiteiras em idade reprodutiva foram inseminadas. 15% em 2017
O percentual fora de 7,9% em 2013, porém mos-
tra ligeira recuperação em relação a 2016, quando
atingiu 6,02%.
Sergio Saud, presidente da Asbia, aponta a osci-
lação de preços do leite ao produtor como o princi-
Divulgação

pal entrave ao aumento da inseminação artificial no


país. As empresas de genética, ele diz, fazem a sua
parte, com equipes em campo levando informações,
apresentando as novidades e realizando cursos. “O
ânimo do produtor está sempre ligado ao preço do GRÁFICO 1 - MERCADO DE
leite”, diz o dirigente. SÊMEN GADO LEITEIRO NO
O levantamento das Asbia também mostra que, BRASIL EM 2017 (EM DOSES)
em 2017, apenas quatro estados apresentaram ín-
dice de inseminação superior à média nacional. O
campeão foi o Rio Grande do Sul, com 13,7% do
2017 4.291.711
rebanho. Na sequência, estão Paraná (12,8%), São
Paulo (8,4%) e Minas Gerais (7,6%).
2016 3.739.433
Análise mais detalhada dos últimos quatro anos
mostra que as vendas de sêmen para leite no Brasil
2015 4.422.638
se recuperaram com consistência em 2017. No total,
foram utilizadas (produção nacional e importação)
2014 5.856.932
Fonte: Asbia

- 86 -
GRÁFICO 2 - PRINCIPAIS FONTES EXTERNAS GRÁFICO 3 - EVOLUÇÃO DA
DE SÊMEN GADO LEITEIRO EM 2017 (EM DOSES) PRODUÇÃO DE SÊMEN GADO
LEITEIRO NO BRASIL (EM DOSES)
ESTADOS UNIDOS 1.549.945
2017 1.334.467
CANADÁ 994.430
HOLANDA 321.149 2016 1.261.491

ANTILHAS HOLANDESAS 81.440


2015 1.209.436
INGLATERRA 8.180
NOVA ZELÂNDIA 2.100 2014 1.619.284
Fonte: Asbia Fonte: Asbia

GRÁFICO 4 - PERCENTUAL DO REBANHO LEITEIRO INSEMINADO NO BRASIL


2017 2016 2015 2014 2013 2012
6,2% 6,0% 6,7% 7,2% 7,9% 7,3%

- 87 -
ENTREVISTA RODRIGO ALVIM

Qualidade e competitividade:
prioridades para todo o setor
Para exportar ou elevar a oferta no mercado interno, o setor leiteiro precisa avançar em ações voltadas para
melhoria da qualidade e competividade nas fazendas e na indústria

vas, atuando sempre com muita eficiên- trada de melhor acesso. Quando se com-
cia. Para que isto ocorra é imprescindível pleta a carga o veículo se dirige para a
se fazer alguns avanços ligados à quali- indústria. A proposta é baratear o custo
dade e competitividade do setor. de transporte. A IN 62 proíbe este pro-
cesso na medida em que obriga que se
Sobre qualidade do leite, a revisão da faça higienização do caminhão (romeu)
Instrução Normativa 62 tem mereci- a cada descarga. É impossível se atender
do atenção do setor e do governo nos tal quesito, pois não há condição para
últimos meses, inclusive passando por isso fora da indústria. Importante lembrar
consulta pública. Na sua opinião, o que o leite está resfriando e o transvase é
Arquivo Scot

que mereceria ajustes na regulamen- feito em circuito fechado, sem, portanto,


tação? contato com o meio ambiente.
RA - Destacaria a questão dos padrões

O
de qualidade. Sem uma informação atu- E com relação à temperatura do leite,
eng. agrônomo Rodrigo Al- alizada de como estamos no cumprimen- o que o sr. tem a dizer?
vim é um dos nomes que to das exigências não há como aferir os RA - Há controvérsias sobre esse tema.
melhor representam a pecu- avanços e propor que produtores atin- A sugestão é de que o leite chegue à in-
ária leiteira no país. Há anos jam o último estágio do padrão de con- dústria a 7ºC, quando acordos firmados
ele tem liderado ações voltadas para tagem bacteriana total de 100.000 ufc/ com o Mercosul estabelece 8ºC. Na pró-
defender o setor, mais especificamente ml e de contagem de células somáticas pria IN 62, essa temperatura estava esta-
a categoria de produtores. Nessa entre- de 400.000/ml. Outra coisa: gostaria belecida em 10ºC. Ou seja, é preciso que
vista exclusiva ao Anuário Leite 2018, que fosse melhor discutida a penalização prevaleça um indicador único para essa
ele diz o que pensa sobre qualidade de para produtores que não atinjam o pa- questão avançar.
leite, importação e exportação de lác- drão de qualidade exigido. Por enquanto,
teos e organização da classe produtora. estamos entre suspender a coleta para Qual seria a consequência para o setor
Atualmente, Rodrigo é o presidente da quem apresentar leite fora dos padrões leiteiro se fossem aplicados os atuais
Comissão Nacional da Bovinocultura de de tolerância durante três meses segui- padrões estabelecidos pela IN 62?
Leite da CNA-Confederação da Agri- dos ou atribuir à indústria captadora a Quantos produtores ficariam fora des-
cultura e Pecuária do Brasil, presidente responsabilidade de definir e implemen- ses limites?
da Câmara Setorial de Leite e Derivados tar um plano de manejo de ordenha e res- RA - Ainda não temos tais dados dispo-
do Ministério da Agricultura, Pecuária e friamento específico para a propriedade níveis. Isso é inaceitável após 13 anos de
Abastecimento e da diretoria da Faemg- infratora. programa de qualidade. Por isso, a pro-
-Federação da Agricultura do Estado de posta do Ministério da Agricultura é que
Minas Gerais. O sr. tem também destacado a inade- se mantenham os padrões atuais por mais
quação dos atuais procedimentos no dois anos, quando seria avaliado um ce-
A CNA tem anunciado que 2018 é o transporte. O que tem a dizer? nário pontual.
ano do leite para a entidade. O que RA - Trata-se de um outro tópico a ser
tem significado tal prioridade? ajustado na atual revisão, mais especifi- Pessoalmente, qual é o seu nível de sa-
Rodrigo Alvim - O grande desafio para camente o trasbordo do leite pelo trans- tisfação com a evolução do fator qua-
CNA é transformar o setor de leite e de- portador. A coleta é feita em caminhão lidade do leite brasileiro desde que a
rivados do Brasil em exportador, assim menor (romeu), que transfere para o re- IN 51 e depois a IN 62 foram implan-
como somos em outras cadeias produti- boque (julieta), estacionado em uma es- tadas?

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RA - Estamos ainda a desejar melhores RA - É verdade que temos uma margem só pela demanda de mais matéria-prima,
indicadores no quesito qualidade para a importante de aumento no consumo in- mas principalmente com mais qualidade
maioria de nossos produtores. Entretan- terno, mas se atingirmos níveis de consu- para formar e aumentar a eficiência da
to, os avanços são inegáveis. Só o fato de mo per capita de países desenvolvidos, indústria, elevando produtividade. Como
grande parte do leite brasileiro ser, hoje, demandaríamos mais 14 ou 15 bilhões de consequência, produtos com maior tem-
transportado resfriado em tanques iso- litros na produção nacional, o que sig- po de duração de prateleira.
térmicos já é um grande avanço. Faltam nificaria cerca de 40% a mais da nossa
ajustes, assistência técnica e, principal- produção atual. Mas será que este seria Atualmente, como o sr. vê a organi-
mente, a aplicação de programas de pa- o limite da nossa capacidade produtiva? zação do setor leiteiro para buscar e
gamento por qualidade pela maior parte Certamente que não. Por isso, penso que pleitear soluções positivas para for-
da indústria brasileira. devemos atacar os dois frontes: mercado talecimento? Tais ações deveriam ser
interno e externo, ao mesmo tempo. mesmo abrangentes, nacionais, ou se
Muito se fala que qualidade não se restringirem a entendimentos mais
consegue apenas com lei, mas com Produtividade é, também, outro fator regionais, como vem acontecendo na
estímulo financeiro e com efetivo en- que nos deixa bem atrás de nossos vi- região Sul?
gajamento da cadeia láctea e do go- zinhos e também dos EUA e Canadá, RA - A organização do setor leiteiro é
verno. O sr. concorda com a tese? E entre outros países. O que seria preci- condição inequívoca de avanço e cres-
até que ponto o setor tem o mesmo so fazer para reduzir a diferença? cimento da atividade. Não é por acaso
entendimento? RA - Não há mais como produzir em- que os três estados do Sul são os que
RA - Concordo plenamente com a tese. piricamente administrando vícios. Fazer mais crescem em produção nos últimos
Qualidade tem custo. Se o produtor não assim porque sempre se fez! É imperioso anos. Já passaram o Sudeste, região his-
recebe por ela, não se motiva a produzir que haja assistência técnica privada, re- toricamente maior produtora do país.
para obtê-la. Não é admissível que maté- munerada pela meritocracia para que os Penso que as regiões onde se encontram
rias-primas diferentes em termos de qua- erros sejam mitigados. as maiores bacias leiteiras devem mesmo
lidade recebam valores idênticos. se organizar ou não se manterão na ati-
vidade.
Exportar leite é apontado como uma
das chaves para expansão de nossa E também são os estados da região
capacidade produtiva. No entanto,
QUALIDADE TEM Sul que mais vêm se destacando nos
indicadores de qualidade e de compe-
titividade da maior parte dos produto-
CUSTO. SE O últimos anos nos indicadores de efici-
ência. Por que o mesmo avanço não é
res e indústrias parecem não facilitar
PRODUTOR NÃO visto em outros estados, como Minas
muito as coisas. Como o sr. avalia esse Gerais, por exemplo, cuja oferta de
descompasso? RECEBE POR ELA, leite vem recuando desde 2015?
RA - Não há dúvida que a exportação é RA - Organização e cultura fazem a di-
o caminho que nos permitirá aumentar a NÃO SE MOTIVARÁ A ferença. A pecuária leiteira do Sul tem
produção, sem ficar limitados ao merca- como marca as imigrações holandesa,
do interno. Entretanto, como não somos PRODUZIR PARA OBTÊ- em Castro, e alemã, em Palmeiras, ambas
formadores de preços no mercado inter- cidades no Paraná. Junto com o conheci-
nacional, precisamos produzir leite tendo LA. NÃO É ADMISSÍVEL mento da atividade, trouxeram o espirito
os preços praticados internacionalmente de associativismo. Não por acaso por lá
como referência. Para tanto, necessitamos VALORES IGUAIS PARA se tem um setor cooperativista forte, atu-
diminuir custos de produção nas fazen- ante e sadio financeiramente. Veja o caso
das e nas indústrias; resolver as questões MATÉRIAS-PRIMAS do Conseleite-PR, um conselho paritário
sanitárias, como brucelose e tuberculose; que reúne produtores e indústrias para
melhorar a qualidade do leite e dos pro- DIFERENTES definir preços. Outro exemplo recente é a
dutos lácteos. Será, portanto, um desafio Aliança Láctea do Sul, formada pelos três
que levará algum tempo, muito trabalho e estados da região. Tais ações explicam os
absoluta seriedade. avanços que temos notados na pecuária
A despeito de tal cenário, o setor lei- de leite da região no país. Veja bem, o
A propósito, prioridade para o mer- teiro brasileiro tem atraído empresas Conseleite amadurece a relação produtor
cado de leite brasileiro seria mesmo multinacionais, ao mesmo tempo em e indústria, tornando-a mais transparen-
exportar leite ou se empenhar na ele- que ocorrem fusões e aquisições no te, conciliadora e consequentemente mais
vação do consumo interno, de índice mercado por aqui. O sr. acha que esta produtiva e exitosa. Finalmente, Minas
reduzido se comparado com EUA, Ca- nova ordem deve impactar o segmento Gerais está em processo de criação do
nadá e até mesmo com Uruguai e Ar- de produção de matéria-prima? seu Conseleite, que deverá entrar em vi-
gentina? RA - Com certeza! E o impacto será não gor ainda este ano.

- 90 -
INFORME

Nutrição que gera saúde e retorno econômico


Nutrição, sanidade e gené- o sucesso da outra. Um Além de suprir todas as
tica trabalham em conjunto exemplo: “a dieta nutricio- necessidades nutricionais
para o sucesso da pecuária nal correta é essencial para dos animais, a alimentação
leiteira. O correto manejo a manutenção da saúde da precisa contribuir para sua
nutricional, o eficaz con- vaca, com melhor desem- proteção. Os minerais de
trole sanitário e a boa ge- penho, mais longevidade e alta performance na ração
nética contribuem para a consequente redução dos possibilitam o aumento da
maior eficácia da criação, a custos de produção”, ex- imunidade dos animais e do
partir do bom desenvolvi- plica o médico veterinário índice de prenhez das va-
mento dos animais e de sua Rogério Isler, gerente de cas, a redução do interva-
proteção contra as enfer- Negócios de Ruminantes lo entre partos e do índice
midades que tiram o lucro da Zinpro, fabricante de de lesões de casco, maior
do produtor. minerais de alta performan- eficiência alimentar e ele-
No passado, essas três ce com quase meio século vação da produção de leite
áreas eram analisadas iso- de atuação no mercado. de vacas e novilhas. Dessa
ladamente. Agora, é dife- “A rentabilidade da pecu- forma, o retorno é superior
rente: elas estão interliga- ária leiteira é medida em a três vezes o investimen-
das. Uma contribui para centavos por litro de leite. to”, complementa Isler.

- 91 -
QUALIDADE

CCS: indicadores de
análises não avançam
A contagem de células somáticas não acompanha a evolução da produção de leite,
segundo as análises da Clínica do Leite, que envolvem hoje 446 indústrias

A
pesar de a produção de leite ter evoluído Perguntado sobre qual o caminho, então, para rever-
nos últimos anos no Brasil, os indicadores ter essa situação, ele responde: “A saída está no mé-
gerados pelas análises dos laboratórios todo, unindo conhecimento técnico e gerencial das
de qualidade insistem em não acompa- fazendas. Nossa experiência acompanhando produ-
nhar o mesmo ritmo. No caso da Contagem de Cé- tores de todo o país permite afirmar que as fazendas
lulas Somáticas (CCS), mostram-se estabilizados num com pior desempenho em relação à qualidade do lei-
patamar bem acima dos praticados em países que te sofrem com problemas típicos de gestão”, diz.
têm a atividade leiteira como referência. Machado afirma, ainda, que muitas fazendas com
Recente estudo desenvolvido pela Clínica do CCS do tanque elevada vivem no caos. Além de pro-
Leite/Esalq-USP, divulgado na publicação Mapa da blemas operacionais, como falta de padronização nos
Qualidade, tendo como base análises de amostras de processos, ausência de protocolo de tratamento de
446 indústrias de laticínios, confirma que não houve animais, equipamentos sem manutenção e ambientes
melhoria nos índices de contagem de células somá- inadequados, há uma série de gargalos gerenciais,
ticas (CCS) entre 2010 e 2016*. Os dados utilizados identificados por ausência do proprietário, inexistên-
no diagnóstico são provenientes do leite fornecido cia de rotina, falta de capacitação e engajamento dos
tendo como referência a Instrução Normativa 62 e funcionários.
programas próprios de pagamento por qualidade. Numa definição rápida, células somáticas, ou
“Entre os problemas de sanidade que geram gran- glóbulos brancos, atuam na corrente sanguínea no
de impacto em fazendas produtoras de leite, a CCS combate a patógenos que invadem a glândula mamá-
continua ocupando lugar de destaque”, lamenta o ria. Desta forma, a CCS passa a ser um importante
professor Paulo Machado, diretor do laboratório. indicador de saúde da glândula mamária, visto que

Desde 2010,
análises de CCS
mostram médias
constantemente
elevadas
Arquivo Embrapa

- 92 -
está relacionada a uma possível infecção. Machado “Os números indicam que fazendas maiores pos-
explica que o leite ordenhado de uma vaca com CCS suem CCS mais elevadas, ou seja, maior prevalência
superior a 200 mil células/ml deve ser considerado da mastite. Por exemplo, fazendas com produção de
infectado, o que exige tratamento imediato do animal. até 100 litros/dia possuem CCS média de 309 mil/ml,
Esse quadro é diagnosticado como mastite, a doença enquanto fazendas acima de 1.000 litros, têm conta-
que mais prejuízos causa à pecuária leiteira. gem média de 542 mil/ml”, relata ele, acrescentando
que não foi ainda possível precisar quais são as cau-
MELHORIA A PARTIR DE GESTÃO sas que levam a tal diferença.
No caso da redução da CCS, fica muito mais fácil Já em relação a outros mercados, a situação do
convencer os empregados a adotarem os procedi- Brasil é bem desfavorável, segundo estudo do Natio-
mentos recomendados quando eles compreendem o nal Mastitis Council, cuja síntese está no tabela 1. A
impacto do problema na qualidade do leite e na ren- média de contagem de células somáticas do leite bra-
tabilidade do produto – e, assim, em sua própria ati- sileiro é duas a três vezes maior no grupo de oito paí-
vidade. “É importante deixar claro que uma pequena ses comparados. “Países que hoje apresentam valores
tarefa realizada da forma errada pode comprome- médios abaixo de 200 mil células/ml, como Nova
ter o resultado do trabalho de todos. Quando essa Zelândia e Alemanha, adotaram planos de melhoria
consciência existe, o engajamento das pessoas para da qualidade de leite por vários anos, com ações
a melhoria se torna mais efetivo, pois elas se sentem voltadas para legislação, pagamento por qualidade e
parte de um objetivo maior”, adverte Machado. educação/capacitação”, cita Lima.
Por sua vez, Augusto Lima, pesquisador e gestor Elevar a qualidade do leite produzido no Brasil
de relacionamento da Clínica do Leite, conta que o a um novo patamar depende de questões que vão
diagnóstico revelado tem sido cada vez mais abran- além de aspectos técnicos, costumam observar
gente. Se, em 2006, envolvia a produção de 186 in- Machado e Lima em suas palestras. Segundo eles,
dústrias; em 2010 era mais que o dobro e em 2015 a orientação técnica é extremamente importante,
totalizava 446. Sobre o perfil dos produtores, cita mas, sozinha, não será capaz de alterar a situação
que cerca de 80% deles produzem menos de 400 li- em que a qualidade do leite brasileiro hoje se en-
tros/dia e o restante mais que este volume. Para res- contra. “Aliar a evolução genética ao aprimoramento
ponder se existe relação entre volume e CCS, Lima da gestão das fazendas mostra-se o melhor caminho
utiliza-se de algumas conclusões obtidas a partir de para uma transformação definitiva que beneficie a
dados de 32 mil fazendas. todos’, completa Machado.

TABELA 1 - CCS TABELA 2 - EVOLUÇÃO DA MÉDIA DE CCS (ARITMÉTICA


MÉDIA NOS PAÍSES, E GEOMÉTRICA EM MIL CELS/ML) DE INDÚSTRIAS QUE
EM 2012, DE ACORDO ENVIARAM AMOSTRAS PARA A CLÍNICA DO LEITE DE
COM O NATIONAL 2006 A 2015 CCS (MIL CELS/ML)
MASTITIS COUNCIL
CCS (mil céls/mL)
País CCS (mil céls/mL) Ano Aritmética Geométrica

Brasil 593 2006 485 341

2007 487 345


Espanha 260
2008 498 348
EUA 192
2009 530 373
Nova Zelândia 187 2010 544 389

Inglaterra 188 2011 547 389

2012 505 356


Alemanha 180
2013 513 352
Itália 295
2014 529 358
Canadá 239 2015 593 400

Fonte: www.clinicadoleite.com.br Fonte: www.clinicadoleite.com.br

- 93 -
INTERNACIONAL

China: menos fazendas,


mais produtividade
Rosangela Zoccal

Os indicadores da pecuária de leite da China têm variado nos últimos anos. No entanto, o
déficit do produto continua expressivo diante da crescente demanda

D
esde a chamada crise do leite chinês em ZiZhiQu, com 8,9% ao ano, gerando excedente de 1,2
2008, quando um derivado lácteo foi milhão t, direcionado para abastecer a região Sul.
contaminado com melamina, o déficit de Por outro lado, a produção de leite por vaca tem
leite na China vem crescendo. Em 2016, a crescido ao longo dos anos, chegando, em média, a
demanda aumentou mais de dez vezes, se compara- 6.400 litros. Também pode-se observar no quadro 1
da a 2008, atingindo um nível de 10,4 milhões t/ano uma redução do número de fazendas produtoras, que
há dois anos, quando a produção total de leite foi de chega a 10% nos últimos cinco anos.
32,08 milhões t. Em 2016, o tamanho do rebanho das propriedades,
A principal região produtora é o interior da avaliado pelo número de vacas ordenhadas, estava as-
Mongólia. Lá, nos últimos cinco anos a produção sim distribuído: 36% dos produtores contava com me-
diminuiu 4,6% ao ano, devido ao fato de que mui- nos de 20 vacas em produção, 28% deles com rebanho
tos produtores, principalmente os pequenos, de- variando de 21 até 100 cabeças e 36% com grandes
sistiram da atividade leiteira, segundo o relatório rebanhos, com mais de 500 vacas em lactação.
do IFCN de 2017. A China tem população de 1,379 bilhão de pessoas,
As principais regiões deficitárias estão no Sul, onde produção ao redor de 32 bilhões de litros e disponibi-
o consumo per capita é mais alto devido ao maior po- lidade por habitante inferior a 25 litros de leite por ano.
der de compra. No período de 2011 a 2016, o maior Com tal cenário, o país deve continuar como grande
crescimento da produção de leite ocorreu em Ningxia importador de lácteos no mercado internacional.

Rosangela Zoccal é pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

TABELA 1 - PRODUÇÃO DE LEITE, VACAS ORDENHADAS E NÚMERO DE FAZENDAS


PRODUTORAS DE LEITE NA CHINA, 2014 A 2016

2014 2015 2016 Dif %

Produção de leite - mil toneladas 33,17 33,44 32,08 -0,3%

Vacas ordenhadas - mil cabeças 6.000 5.510 5.000 -5,7%

Produção por vaca - litros/vaca/ano 5.500 6.100 6.400 5,7%

Número de fazendas - mil unidades 1.852 1.600 1.300 -10,0%

Tamanho rebanho - cabeças/fazenda 3,2 3,4 3,8 4,6%

Fonte: International Farm Comparison Network, 2017

- 94 -
OPINIÃO

O sucesso da
Alex Ferraresi é Doutor
em Administração pela
FEA/USP e Coordenador
do Programa de Pós-

intercooperação
Graduação em Gestão de
Cooperativas da PUCPR
(Mestrado profissional)

O
Paraná possui o coopera- principal atividade econômica era o leite. O modelo baseia-se na liderança de
tivismo mais organizado e Hoje, concentra-se também na agricultu- cada uma das três cooperativas em ne-
desenvolvido do país, sendo ra (soja, milho, trigo e feijão) e na pro- gócios específicos, no qual a cooperativa
exemplo para várias outras dução de suínos, além da produção de líder já possui estrutura ou expertise mais
regiões. São 13 ramos ou setores que café. Atua em 80 municípios no Paraná e desenvolvida, porém, mantendo suas
incluem cooperativas de crédito, saúde, em áreas do interior de São Paulo, com identidades organizacionais e jurídicas.
trabalho, habitação, educação, minera- 16 unidades de produção. Obteve fatura- Esse modelo busca otimizar as plantas
ção, consumo, produção, infraestrutura, mento de R$ 1,2 bilhão em 2017. industriais das cooperativas e evitar in-
turismo e lazer, transporte e setores es- A Castrolanda foi fundada em 1951 e vestimentos duplicados ou concorrência
peciais, organizadas sob o guarda-chuva localiza-se em Castro. Possui 2.900 em- desnecessária entre elas.
da Ocepar-Organização das Cooperati- pregados em duas grandes unidades de Por exemplo, a Castrolanda é líder no
vas do Estado do Paraná. No estado, mui- negócios: operações (carnes, agrícola, beneficiamento de leite e industrializa-
tos têm algum tipo de relação com algu- leite, batata, feijão e corporativa) e in- ção de carnes, enquanto a Frisia lidera
ma cooperativa, seja por ser associados a dustrial (carnes, leite e batata). Com 878 em moagem de trigo, e assim por diante.
uma ou por comprar produtos e serviços cooperados, seu faturamento alcançou Embora a operação seja de responsabi-
oriundos desse tipo de organização. R$ 2,83 bilhões em 2017. lidade daquela cooperativa que assume
O agronegócio é um dos setores mais a liderança, as decisões são tomadas em
importantes do Brasil, representando algo comum acordo com as três cooperativas,
próximo a 25% do PIB. No Paraná, esse O processo de por meio de comitês gestores. As partici-
número é ainda maior, chegando a 30% pações são proporcionais em cada uni-
de toda riqueza gerada no estado. O que
intercooperação, que dade compartilhada.
poucos sabem é que mais de 55% da agora chega à sua Com isto, pretendeu-se aumentar o
produção agropecuária do estado estão foco no resultado, afastando as influências
maturidade com três
nas mãos de cooperativas. E os números políticas; aumentar a escala e, consequen-
são realmente impressionantes se consi- cooperativas paranaenses, temente, a competitividade; capitalização
derarmos que são pouco mais de 70 co- direta da unidade de negócios; diluição de
resultou em um modelo
operativas no setor. O ranking da revista custos corporativos, entre outros.
Exame identificou, em 2016, 17 coopera- que envolve 5 mil famílias e Os investimentos também passaram a
tivas agroindustriais paranaenses entre as 3 milhões de litros de leite ter um modelo próprio, pelo qual a coope-
maiores e melhores empresas no Brasil. rativa entra com 60% e o cooperado com
Baseadas no princípio da intercoope- processados por dia 40%, com participação nos resultados
ração, três grandes cooperativas para- (indústria) garantida. Ou seja, o coopera-
naenses - Castrolanda, Frísia e Capal –, do tem a oportunidade de agregar valor à
localizadas na região de Castro e Caram- Essas cooperativas criaram a Unium. sua produção de forma direta, por meio da
beí, deram início a um processo de inter- Não se trata de uma fusão ou nova co- unidade de negócios na qual ele investiu.
cooperação inovador, considerado único operativa, mas sim uma marca guarda- Este processo de intercooperação,
na história do país. chuva, que tem abaixo de si as marcas de que se iniciou em 2010 e agora chega à
Fundada em 1925, a Frísia é a coope- produtos das três cooperativas, que dei- sua maturidade com a criação da Unium,
rativa mais antiga do estado e tem sua xam de utilizar suas marcas de fabrican- resultou em um modelo que envolve 5 mil
produção voltada ao leite, carne e grãos. te. Mas não foi somente uma questão da famílias cooperadas; 3 milhões de litros
Possui 760 associados e atua em mais de gestão das marcas de dezenas de produ- de leite processados por dia; 115 mil t
30 municípios, com faturamento de R$ tos que vão desde feijão, leite e iogurtes de grãos moídos por dia; 3,2 mil suínos
2,4 bilhões em 2017. até cerveja e carnes e alimentos proces- abatidos por dia; e 1,8 mil t de carne in-
A Capal se originou em 1980 de um sados, mas inclui também um complexo dustrializada por mês. Esse grupo expor-
pequeno grupo de produtores rurais modelo de gestão de negócios, produção ta para 25 países das Américas do Sul e
holandeses, em Arapoti. No início, sua e logística. Central, África, Oriente Médio e Europa.

- 95 -
INTERNACIONAL

África: oportunidade para


lácteos do Brasil
José Luiz Bellini Leite e Rosangela Zoccal

Indústrias brasileiras devem dar atenção aos indicadores de demanda de lácteos dos países
africanos, fortalecendo a relação comercial, principalmente com os de língua portuguesa

uando se fala em crescimento e con- cial; predominância da juventude; rápida urbaniza-


solidação da cadeia láctea brasileira ção e rápida adoção de tecnologias. Entre 2000 e
tem que se considerar a expansão da 2012, o consumo agregado das famílias cresceu, em
demanda que faça crescer a escala de média anual, 10,7%, aumentando em mais de US$
produção primária e o beneficiamento. 850 bilhões e alcançando quase US$ 1,3 trilhão. O
E o crescimento da demanda tem duas possibili- relatório conclui que a África não sofre de falta de
dades: uma delas é o crescimento populacional e o demanda, mas sim de falta de oferta.
aumento de renda, dentro do cenário doméstico; a Segundo a OCDE/FAO, o comércio de produtos
outra é a incorporação de demanda de outros paí- lácteos deverá crescer nos próximos dez anos. As
ses, por meio do aumento das exportações. taxas anuais variam de acordo com os produtos:
Se levarmos em conta o sucesso em exportação manteiga (2,3%); queijo (2,1%); leite em pó desna-
da cadeia de grãos e de proteínas animais do Bra- tado (2,2%); leite em pó integral (1,8%). No perío-
sil, deve-se considerar o quanto será benéfico para do, o consumo mundial de produtos lácteos frescos
a cadeia láctea brasileira se inserir de forma per- e industrializados deverá crescer 2,1% e 1,7% por
manente no mercado internacional. Para isso, deve ano, respectivamente.
levar em conta os tradicionais mercados, países e O leite será consumido, majoritariamente sob a
regiões não tradicionais no mercado lácteo, mas forma de produtos frescos, que representa, atual-
que possuem elevado potencial de expansão. É o mente, 50% da produção mundial. Esse percentual
caso da África, para onde as grandes multinacio- deverá chegar a 52% até 2028, em consequência
nais começam a se movimentar fortemente. da elevação do consumo nos países em desenvol-
Informações do World Economic Outlook Da- vimento, que é diferente para os países desenvol-
base mostra que no período de 2000 a 2013 o con- vidos. Na tabela 1 estão produção, consumo e im-
tinente africano cresceu seu PIB, em média, 10,7% portação de lácteos realizados pela África em 2017.
e projeta-se para até 2019 crescimento médio de
7,7%. Este crescimento é acima da média mundial
e está alinhado às maiores expansões de países di-
A Africa consumiu,
nâmicos como a China e a Índia. em equivalente leite,
Conforme se vê na figura 1, o crescimento da 7% de tudo o que foi
exportado no mundo
classe média na África é surpreendente. Em 2010,
era 355 milhões pessoas nesse patamar para uma
população de 1 bilhão. Em 2060, a estimativa é de
2,6 bilhões e a classe média de 1,1 bilhão. Além de
uma classe pujante, com o processo de urbaniza-
ção acelerado, população entre 15-24 anos, por
volta de 2030, na casa dos 321 milhões, estará ávi-
da por produtos de qualidade e alto valor nutritivo,
como são os lácteos.
Na visão de relatório da consultoria Deloitte,
as forças de expansão do consumo na África e as
oportunidades para as empresas do ramo baseiam-
Divulgação

se em cinco pilares fundamentais: ascensão da


classe média; crescimento populacional exponen-

- 96 -
CONSUMO AUMENTA MAIS QUE A OFERTA estimativa até o final de 2018, com base no primei-
No que se refere ao continente, persistem di- ro quadrimestre do ano, o Brasil exportou para os
ferenças significativas entre as regiões, tanto nos países do continente africano US$ 11.126.304. Se
níveis como nas formas de consumo de lácteos. o país obtiver somente 10% de share no mercado
Enquanto os produtos frescos continuam repre- africano, poderia acrescentar US$ 500 milhões à
sentando a maior parte da demanda per capita, em balança comercial. As nossas exportações de lác-
torno de 70%, na África subsaariana, a manteiga teos para a África são pouco significativas, como
representa 11% e o queijo 18% dos lácteos consu- são as vendas totais para aquele continente, de
midos. O consumo aumenta mais rápido do que a 0,13% em média, no período citado.
produção, o que favorece as importações, pressio- Parece recomendável que o Brasil olhe para os
nando os governos por alimento a preços acessí- países do Norte da África, principalmente Egito,
veis, gerando pressões políticas crescentes de uma Argélia e Marrocos, por ser grandes importadores
população em rápida urbanização. de lácteos. Atenção também aos países do Atlânti-
A África importou, em equivalente leite, 7% de co Sul, como Nigéria, Angola e África do Sul, pela
tudo o que foi exportado no mundo. Esse nível de facilidade de logística e por ter grande potencial
participação manteve-se estável de 2010 a 2013, de consumo de lácteos devido à grande população,
segundo a FAO, com crescimento de 12% no perí- crescimento da renda e da classe média, além de
odo. Na África Oriental, com destaque para Quênia forte urbanização.
e Etiópia, o consumo cresceu 64%, representando Deve-se considerar, ainda, uma estratégia es-
7,15% do total da África. A região da África Central pecífica para os países de língua portuguesa do
é a que possui o comércio de lácteos mais tímido, continente africano - Angola, Moçambique, Cabo
com participação de 5,59% do conjunto da África Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Guiné-
e com crescimento de 7%. Equatorial -, pelas proximidades culturais e do
Já a região do Sul do continente, principalmente idioma. Há uma forte influência dos programas
Angola e África do Sul, a participação foi de 5% brasileiros de televisão nestes países, notadamen-
do consumo do total, e teve crescimento muito ex- te as telenovelas, que podem ser utilizadas como
pressivo nos anos considerados, de 57%. Na Áfri- veículo de inserção de produtos lácteos no mer-
ca Ocidental, sendo a Nigéria o país mais populoso cado dessa região.
do continente, a participação foi de 24% do con- Por fim, é de se esperar que a cadeia produti-
sumo e crescimento pouco expressivo, de apenas va do leite no Brasil explore todo o seu potencial
3%. A região do Norte, com Argélia, Marrocos e de crescimento, desde a produção primária até
Egito, é a grande importadora de lácteos da África. os grandes laticínios, e assuma, de vez, seu papel
A participação foi de 58% do consumo de lácteos de provedor de produtos lácteos para o mercado
e 9% de crescimento nos anos considerados. internacional. São necessários estudos sobre os
A África importa mais de US$ 5 bilhões por ano mercados africanos de lácteos, suas cadeias de
em produtos lácteos e, desse total, o Brasil detém distribuição, que possam auxiliar o fortalecimen-
market share bastante acanhado, inferior a 0,22%. to da relação comercial entre os países, repetindo,
Na média, considerando o período de 2014 e uma especialmente os de língua portuguesa.

José Luiz Bellini Leite, analista; Rosangela Zoccal, pesquisadora, ambos da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora-MG

TABELA 1 - PRODUÇÃO, CONSUMO E IMPORTAÇÃO DE LÁCTEOS


REALIZADOS PELA ÁFRICA, 2017

Produto lácteo Produção (t) Consumo (t) Importação (t)

Produtos frescos 34.102,30 34.102,30 --

Manteiga 310,98 420,08 113,4

Queijo 934,31 970,38 142,85

Leite em pó 14,99 845,47 851,55

Soro em pó 3.036,60 3.475,19 444,95

Fonte: OECD-FAO Agricultural Outlook 2017-2026, organizado pelos autores

- 97 -
LÁCTEOS

Queijos: negócio de
R$ 18 bilhões ao ano
Brasil produz 1 milhão de toneladas de queijo.
Muçarela lidera e consumo per capita é de 5,5 quilos/hab/ano

U
m em cada três litros de leite produzi- presenta cerca de 70% do mercado total. No outro
dos no Brasil segue para a fabricação de grupo estão o parmesão – cuja demanda cresce e
queijos, um dos mais apreciados produ- já atingiu 5% da oferta total –, meia-cura, ricota e
tos lácteos do país. Segundo estimativas coalho, entre dezenas de opções.
da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo Segundo estimativas, o universo do queijo – en-
(Abiq), há mais de 70 tipos de queijos à disposição tre produção local e importação – movimenta cerca
dos consumidores de produção nacional – incluindo de R$ 18 bilhões por ano. Em 2017, o Brasil importou
os importados, a soma supera 200 opções. 32 mil toneladas de queijos, especialmente muçarela,
Em 2017, a produção de queijos atingiu 1 milhão queijo fundido e pasta semidura.
de toneladas, com crescimento de 2% sobre o ano Os principais fornecedores foram Argentina
anterior. A previsão inicial era crescer em torno de (15.813 t) e Chile (11.997 t), bem longo da terceira
4% em 2018, porém uma série de eventos compro- colocada, a Holanda, com 1.374 t, França (882 t) e
meteram essa expectativa – pelo menos no primeiro outros países. A compras internacionais custam ao
semestre do ano. Destaque à esperada elevação do país em torno de US$ 100 milhões por ano.
consumo interno, que não ocorreu, e à greve dos ca- Em relação à exportação, o Brasil vendeu 3,5 mil
minhoneiros, que desorganizou a cadeia produtiva. toneladas para Chile (884 t), Argentina (807 t), Rús-
Neste momento, a melhor aposta é a repetição do sia (528 t) e outros países.
resultado do ano passado, o que pode ser conside- Há no Brasil cerca de 2 mil laticínios, sendo que
rado positivo para os laticínios. 10% desse total respondem por cerca de 80% da
Os campeões nacionais são a muçarela, com produção de queijos. O brasileiro consome em torno
30% do mercado, seguido do queijo prato (20%), de 5,5 quilos de queijo por ano – menos da metade
requeijão (8%) e minas frescal (6%). Esse grupo re- em relação aos argentinos.

Cinco tipos
de queijos
representam
perto de 70%
do consumo.
Porém, há mais
de 200 opções
no mercado
Divulgação

- 98 -
RAIO-X DO QUEIJO NO BRASIL PRINCIPAIS QUEIJOS

1 milhão Muçarela
de toneladas produzidos

32 milhões Prato
toneladas/ano importadas
31% 30%
Requeijão
3,5 milhões
toneladas/ano exportado
Minas Frescal
18 bilhões (R$)
ano foi o faturamento
Parmesão
5%
5,5 quilos
hab/ano consumo per capita 6% 20% Outros
8%
2 mil
Laticínios

- 99 -
LÁCTEOS

Queijo artesanal de Minas


ganha força e mercado
Investimento do governo do estado e legislação apoiam regulamentação da produção do
queijo Minas Artesanal e devem liberar comercialização para o país e exterior

D
e repente, o consumo de queijo artesa- antiga do setor, já que o queijo artesanal é um pro-
nal ganhou status. Mais que isso: qua- duto reconhecido como parte cultural e sua produ-
lidade e demanda. Por conta, veio uma ção tem peso significativo na geração de emprego
valorização que atrai investimentos não e renda das famílias. É uma atividade presente e
só dos produtores, como também do governo que, assistida principalmente em sete regiões do estado
do ano passado para cá, aplicou no tradicional setor de Minas – Araxá, Campo das Vertentes, Canastra,
mineiro valores da ordem de R$ 3 milhões, desti- Cerrado, Serra do Salitre, Serro e Triângulo Mineiro.
nados a aprimorar a produção do chamado queijo Ainda assim, existe uma demanda reprimida e ques-
Minas Artesanal e fomentar novas pesquisas sobre o tões do processo de produção que necessitam de
processamento do produto. reconhecimento, visando melhoria da qualidade e da
A ação do governo mineiro é resultado da articu- segurança para o consumidor.
lação da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abas- Nesse sentido, um projeto de lei foi recentemen-
tecimento, após identificar junto aos produtores ru- te aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas
rais a necessidade de informações científicas quanto Gerais, criando padrões sanitários e de qualidade
à segurança sanitária e caracterização dos queijos. para estabelecer o queijo Minas Artesanal. A ini-
Com isso, quer financiar propostas de pesquisa que ciativa também fixou critérios para o transporte e a
contribuam para promover a sustentabilidade e a comercialização do produto. A intenção é incentivar
melhoria da qualidade em toda a cadeia do queijo e sensibilizar os produtores, estabelecer diretrizes
artesanal. Foram aprovados 12 projetos, num total de para a fabricação artesanal, promover o desenvolvi-
45 projetos inscritos. mento das regiões produtoras, gerar renda no meio
O investimento em pesquisas é uma demanda rural e garantir a segurança alimentar da população.

A produção
de queijo
artesanal
em Minas
movimenta
cerca de R$ 370
milhões/ano
Arquivo Seapa

- 100 -
ALGUNS INDICADORES DA PRODUÇÃO DE QUEIJOS ARTESANAIS EM MG

R$ 3 mi 85,5 mil kg 14 a 22 dias 9.500


Investimento do governo Produção diária de Maturação mínima para Produtores
estadual no setor desde 2017 queijo artesanal o queijo Minas artesanal de queijos
artesanal
em regiões
7 35 mil t/ano R$ 370 mi tradicionais
Regiões produtoras Produção total das Faturamento da
de queijo artesanal no Estado regiões tradicionais atividade por ano

Características
Produção artesanal, a partir de Processamento iniciado até 90 Só podem ser utilizados
mão-de-obra familiar minutos após o começo da ordenha como ingredientes
culturas lácticas naturais,
Produção em baixa escala e Leite não pode passar por como pingo, soro
utilização de leite cru nenhum tratamento térmico fermentado, coalho e sal

Fonte: SEAPA MG

AÇÕES DEVEM artesanais. Três meses depois, o Congresso Na-


INCREMENTAR EXPANSÃO cional aprovou o projeto, que estabelece que os
A proposta inclui a criação de fundos específicos produtos sejam identificados, em todo o país, com
para financiar o controle de zoonoses, além de linhas um selo único com a inscrição “ARTE”, estando su-
de crédito para que o produtor possa investir na jeitos à fiscalização de órgãos de defesa sanitária e
melhoria do trabalho e da produção. Como em Mi- de saúde dos estados. Já no dia 15 de junho, o pre-
nas cada região tem características específicas para sidente Michel Temer sancionou a Lei 13.680, sem
produção, tais regionalidades serão consideradas vetos, desburocratizando de vez a comercialização
para certificação. A Emater ficou como responsável do queijo e de alimentos artesanais em todo o Brasil.
por prestar assistência técnica aos produtores e re- Para o superintendente técnico da Faemg-Fede-
alizar os estudos para que o terroir seja considerado ração da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas
na produção, enquanto a Epamig deve desenvolver Gerais, Altino Rodrigues, a comercialização interes-
pesquisas sobre identidade e qualidade do queijo tadual do queijo artesanal é vista como importante
regionalmente. medida para estimular a regulamentação da ativi-
Para o superintendente de Apoio à Agroindústria dade. “A partir de agora haverá grande avanço na
da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abasteci- produção artesanal de vários produtos de Minas
mento de Minas Gerais, Gilson Sales, a simplificação Gerais e também de outros estados”, disse, citando
é o caminho. “A metodologia simples faz parte do que a decisão deve envolver embutidos, geleias, mel
plano de ação para melhorar a qualidade do quei- e outros produtos de origem animal.
jo artesanal e atrair mais produtores para regulari- Já para Bruno Luchi, superintendente técnico
zação”, disse, explicando que outra prioridade é o da CNA-Confederação da Agricultura e Pecuária
fator, há muito enfatizado pelos produtores, rela- do Brasil, a legislação antiga era um entrave para
cionado à dificuldade em conseguir comercializar o o setor. “Um dos benefícios é que a lei permitirá a
produto para fora de Minas. comercialização interestadual de produtos alimen-
No final de março, a aprovação do Projeto de tícios com características e métodos tradicionais
Lei 3.859/15, pela Câmara dos Deputados de Mi- ou regionais próprios, boas práticas agropecuárias
nas, significou a dispensa do selo de inspeção fe- e submetidos à fiscalização de órgãos estaduais de
deral para a comercialização interestadual de itens saúde pública”.

- 101 -
RAÇA

Leite de cabra:
potencial a ser explorado
Brasil tem cerca de 10 milhões de caprinos, mas produz pouco.
Consumo per capita é de apenas 1,2 kg/hab/ano

O
Brasil produz cerca de 270 milhões de adoção de tecnologias, gestão das propriedades e
litros de leite de cabra por ano, volume organização da comercialização da produção.
que vem se recuperando depois de al- “Já a região Sudeste, apesar do pequeno reba-
guns anos de queda. Trata-se de uma nho quando comparado ao Nordeste, destaca-se
produção modesta, considerando que o país tem nacionalmente sediando empresas de capril espe-
cerca de 10 milhões de caprinos. Porém, é um ni- cializados na produção de leite e derivados. Este
cho que merece atenção por uma série de fatores, fato está associado à maior demanda, uma vez que
incluindo a importante fonte de alimentos de qua- concentra o maior centro consumidor do país”,
lidade para populações carentes, especialmente da ressalta o pesquisador.
região Nordeste – onde estão cerca de 90% do Apesar da escassez de estatísticas, estima-se
rebanho. que o consumo per capita de leite e produtos lác-
Segundo o engenheiro agrônomo Cícero Carta- teos de cabra no Brasil gire em torno de 1,2 kg/
xo de Lucena, pesquisador da Embrapa Caprinos hab/ano.
e Ovinos, unidade sediada em Sobral (Ceará), a Há no país aproximadamente 300 mil estabe-
produção de leite de cabra no Brasil em sua quase lecimentos agropecuários com rebanhos caprinos.
totalidade é destinada para a subsistência das fa- Destes, apenas cerca de 20 mil declaram produzir
mílias ou comercializada em pequenos comércios leite de cabra.
locais, com poucas indústrias de laticínios. Mesmo A região Nordeste registra cerca de 90% dos
concentrando expressiva parte do rebanho capri- estabelecimentos com rebanhos caprinos e apro-
no nacional, a região Nordeste tem sistemas de ximadamente 80% dos estabelecimentos que pro-
produção com baixa produtividade, carecendo de duzem leite de cabra. A maior concentração está na

Saanen está entre


as raças mais
exploradas para
produção de leite
Arquivo Balde Branco

- 102 -
AS RAÇAS CAPRINAS MAIS IMPORTANTES DO BRASIL
As raças caprinas com aptidão manejo nutricional. A raça é conside- ANGLONUBIANA: originária
leiteira exploradas no Brasil são pre- rada de porte grande, com peso mé- do vale do Alto Nilo, da região de
dominantemente de origem europeia, dio entre 70 e 90 kg (machos) e 60 a Núbia, no atual Sudão, cruzada com
especificamente das regiões dos Vale 80 kg (fêmeas). cabras comuns da Inglaterra após
de Saanen e Vale de Toggenburg, na ALPINA: raça originária dos intenso processo de seleção desen-
Suíça. Com aptidão dupla (carne e Alpes europeus, do Vale de Saanen. volveu a dupla aptidão (leite e carne).
leite) destaca-se o cruzamento origi- Nas condições edafoclimáticas do A raça é bem adaptada às condições
nado entre cabras da região de Nú- Brasil, a produção média diária de edafoclimáticas do Brasil, especial-
bia, localizada no Sudão, com animais leite varia de 2 kg a 4 kg para lac- mente à região do semiárido brasilei-
oriundos da Inglaterra. tação de 240 a 280 dias. A raça é ro. Em cruzamentos com animais sem
SAANEN: raça originária do Vale considerada rústica, de porte ele- raça definida (SRD), produz crias
de Saanen, na Suíça. Nas condições vado, com peso médio entre 70 e mestiças dotadas de boa aptidão lei-
edafoclimáticas do Brasil, a produ- 90 kg (machos) e entre 50 e 60 kg teira, crescimento rápido e produção
ção média diária de leite varia de 2,5 (fêmeas). de carne de boa qualidade. A produ-
kg a 4,9 kg para lactação de 260 a TOGGENBURG: originária do ção média diária de leite é em torno
305 dias. O teor de gordura do leite vale do Toggenburg, na Suíça, me- de 2 kg em 210 dias de lactação. O
varia de 3 a 4%, característica que diante cruzamento inicial da cabra leite da cabra Anglonubiana possui
favorece a aptidão para produção de fulva de Saint-Gall com a branca de teor de gordura superior ao da raça
queijos e outros derivados. As fême- Saanen. No Brasil, a produção mé- Alpina. Os animais são robustos e de
as são férteis, tendo com frequência dia diária de leite varia de 2 a 4 kg porte grande, pesando em média 70 a
duas crias por parto e, às vezes, três. para lactação de 255 a 290 dias. A 95 kg (machos) e 55 a 65 kg (fêmeas).
Adapta-se bem ao manejo em con- raça apresenta peso entre 60 a 90 Os cabritos para abate alcançam de
finamento, embora seja exigente no kg (machos) e 45 a 65 kg (fêmeas). 21 a 22 kg aos 2 a 3 meses de idade.

Bahia, Piauí, Pernambuco, Ceará e Paraíba. fluido verifica-se aumento gradativo do consumo
A região Sul apresenta o segundo maior número de queijos, iogurte e doce de leite e outros pro-
de estabelecimentos com rebanhos caprinos: cer- dutos derivados de leite de cabra, notadamente os
ca de 18 mil propriedades, em sua maioria no Rio produzidos em escala artesanal com grande apelo
Grande do Sul e no Paraná, mas com baixa expres- regional. Pesquisas da Embrapa têm desenvolvido
são de estabelecimentos dedicados à produção de uma série de processos de fabricação de deriva-
leite de cabra. dos de leite de cabra, tais como diferentes tipos
Na região Sudeste, são cerca de 2 mil estabele- de doces e iogurtes, queijo coalho maturado e de-
cimentos destinados à produção de leite de cabra, fumado, queijo com adição de condimentos, quei-
porém a região é o segundo maior polo de produ- jo tipo ricota, iogurte batido adicionado de frutas
ção de leite de cabra do país. Destacam-se empre- tropicais, doce de leite pastoso e doce de leite em
sas especializadas na produção de leite de cabra e tablets adicionado de sabores naturais”, informa o
derivados em Minas Gerais e Rio de Janeiro. especialista.
As regiões Norte e Centro-Oeste registram O pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos
poucos estabelecimentos com produção de leite destaca as qualidades indiscutíveis do leite de ca-
de cabra, cerca de 2% do total. bra, notadamente como substituto para as crianças
Cícero Cartaxo de Lucena, da Embrapa Capri- com alergia ao leite de vaca e também para pro-
nos e Ovinos, explica que apesar do mercado po- dução de derivados, devido aos elevados teores
tencial os produtos derivados de leite de cabra ain- de gordura. Além disso, o leite de cabra aumenta
da apresentam comercialização incipiente. “Não a resposta imunológica do organismo e é uma im-
obstante a esta demanda reprimida, além do leite portante fonte de cálcio.

- 103 -
RAÇA

Selo de Pureza valoriza marcas


de leite 100% de búfala
Programa da ABCB é realizado desde 2000. Marcas certificadas podem usar o selo em suas
comunicações e produtos. No momento, sete marcas têm o selo de pureza

A
ltos teores de sólidos, elevados índices Fomentar o aumento da produção e diferenciar o
de gordura e de proteína, composição leite de búfala puro estão entre as prioridades da As-
diferenciada em termos de cálcio, fós- sociação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB),
foro e outros elementos, menos coles- entidade criada em 1960 e credenciada pelo Ministé-
terol e maior rendimento industrial. Atributos não rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
faltam para o leite de búfala ser atraente à indústria para o registro genealógico da espécie.
de laticínios e também aos consumidores. Até por Atualmente, o rebanho de búfalos no Brasil é es-
isso, os produtos são diferenciados e valorizados, timado em até 1,8 milhão de animais espalhados por
como é o caso da muçarela de búfala. Porém, ainda todas as regiões, especialmente o Norte, que res-
falta produção para atender aos nichos que pagam ponde por cerca de 70% do plantel. A ABCB estima
População
mais por alimentos de qualidade superior. haver 16 mil fazendas de búfalos no país. São gera- estimada em
1,8 milhão
de búfalos
no país

Divulgação
??????????

- 104 -
dos cerca de 80 empregos diretos pela atividade. origem indiana, tem chifres encaracolados negros
Espécie de tripla aptidão (corte, leite e tração), o da base até a ponta. São animais maciços, robustos
búfalo é responsável por perto de 100 milhões de li- e de conformação profunda. Possuem extremida-
tros de leite/ano, produção distribuída entre os cer- des curtas e ossos pesados. A cabeça e as orelhas
ca de 150 laticínios espalhados pelo país. Apesar de são curtas. As fêmeas têm tetos bem desenvolvi-
ter rebanho de pouco mais de 100 mil cabeças (8º dos, com veias bem marcadas e quartos bem en-
no ranking nacional), o Estado de São Paulo lidera quadrados. Os machos pesam de 600 a 800 kg e as
em produção de leite de búfala, representando cer- fêmeas, de 500 a 600 kg. Assim como é excelente
ca de 25% do total. Pará, Minas Gerais e Amazonas para leite, também tem boa aptidão para corte.
vêm a seguir. Juntos, esses quatro estados respon- MEDITERRÂNEO: também originário da Ín-
dem mais de 70% da produção de leite. dia, é a segunda raça mais presente em território
Segundo dados da ABCB, em 2016 o valor da brasileiro. São búfalos de rios, descendentes de
produção de produtos lácteos de búfala no varejo várias raças da Índia, definidos como a raça pre-
atingiu R$ 666 milhões. A receita atual está perto dominante na Europa e no Mediterrâneo. As cores
de R$ 1 bilhão, estima Mariana de Almeida Prado, comuns são negra, cinza escura e marrom escura.
coordenadora executiva do Programa de Certifica- Os chifres são medianos, voltados para trás, com as
ção da ABCB. pontas voltadas para cima e para dentro. A cara é
O programa de certificação da entidade, o Selo larga e apresenta pelos largos e esparsos na borda
de Pureza, é a mais importante bandeira da ABCB inferior da mandíbula. O corpo é robusto em relação
neste momento. Criado em 2000, o selo tem ges- ao seu comprimento e as patas, curtas e robustas. O
tão terceirizada desde 2013 e analisa cerca de 20 peito é profundo e o abdômen, volumoso. A trasei-
marcas por ano para avaliar o teor de pureza do ra é curta. Eles são, em geral, animais compactos,
leite. Atualmente, sete marcas ostentam o Selo de musculosos e profundos. São animais desenvolvidos
Pureza 100% Búfalo ABCB. São elas: Bom Destino, para produção de leite. O peso vivo é de 700 a 800
Bubalinas, Búfalo Dourado, Almeida Prado, Taupio, kg para os machos e 600 kg para as fêmeas, cujos
Bufalíssima, Natal e La Vera. “Estas marcas aten- tetos são muito bem formados. Assim como é exce-
dem aos critérios do programa de certificação e lente para leite, também tem boa aptidão para corte.
podem incluir o nosso selo de pureza em suas co- JAFARABADI: De origem indiana, tem o nome
municações”, informa Mariana, ela mesma de uma da cidade de Jafarabad, a oeste da Índia. Possui cor
família de produtores de leite puro de búfala. negra, frente proeminente, chifres pesados e lon-
Para fortalecer a imagem do programa, a ABCB gos, que tendem a ir até abaixo da direção atrás
utiliza as mídias sociais, participa de feiras e expo- dos olhos, terminando em formato espiralado. De
sições, promove apresentações técnicas e encon- todas as raças, é a de maior tamanho. É um ani-
tros nacionais. Uma parceria com a área de nutri- mal forte, de enorme capacidade torácica, o que o
ção da Universidade São Camilo (SP) está sendo torna apto para produzir leite. Tem excelente con-
costurada. Também está em fase final de elabora- formação dos tetos. Destaca-se no Brasil porque
ção o aplicativo Purezza, que reforçará a comuni- produz muita carne quando tem boa alimentação e
cação, especialmente para os públicos mais jovens. bom pasto. Os machos pesam entre 700 e 1.500 kg
“Em regra, os consumidores são mal informados e as fêmeas pesam de 650 a 900 kg.
sobre leite de búfala. Muitos estão comprando de CARABAO: originário do extremo orien-
boa-fé, mas podem estar levando para suas casas te (China, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Camboja e
produtos em desconformidade com as regras do Tailândia). Sua aptidão é voltada para o trabalho
Programa de Certificação – Selo de Pureza”, ex- agrícola, tração e carne. Na Ilha de Marajó (PA),
plica Mariana de Almeida Prado. “É nossa respon- é destinado à produção de carne. Seus chifres são
sabilidade levar a informação correta. E é o que largos e abertos, com corte transversal triangular
estamos fazendo”, complementa a coordenadora que fazem ângulo de 90 graus quando se afastam
executiva do programa. da cabeça. Possui cor cinza-parda, com manchas
brancas na pata e na dianteira, em forma de colar.
MAIOR REBANHO DO OCIDENTE Seu corpo é curto e o ventre, largo. É um animal
O Brasil possui o maior rebanho de búfalos do compacto e maciço, o que explica sua aptidão
Ocidente. As quatro raças (Murrah, Mediterrêneo, para o corte. Não há diferença significativa entre
Jafarabadi e Carabao) que compõem as cerca de machos e fêmeas. Os machos atingem entre 600
1,8 milhão de cabeças no país são domesticadoss, e 700 kg e as fêmeas, 450 a 600 kg. A produção
mansas, dóceis e curiosas. leiteira é baixa, mas com cruzamentos as fêmeas
MURRAH: é a raça mais presente no Brasil. De podem produzir cerca de 1.000 litros por lactação.

- 105 -
RAÇAS BOVINAS

Diversidade de raças para


um país-continente
Holandês, Girolando, Gir Leiteiro, Jersey, Pardo-Suíço, Guzerá, Simental... Seja em
confinamento ou criação a pasto, o leite brasileiro vem de várias fontes

O
Brasil tem diferentes regiões edafocli- Girolando e Holandesa. Porém, a produção em cli-
máticas e, dessa forma, oferece con- ma tropical possibilita núcleos de criação impor-
dições para criação de diversas raças tantes das raças Jersey e Gir Leiteiro – ambas es-
bovinas especializadas ou de dupla pecializadas em leite, além de Guzerá, Pardo Suíço
aptidão. Segundo as mais recentes estatísticas, o e Simental e vários cruzamos interligados.
país produz em torno de 35 bilhões de litros de Nas páginas seguintes, publicamos um resumo
leite/ano, sendo que mais de 90% referem-se a da presença de cada uma dessas raças no Bra-
leite de bovinos. sil, tendo como fontes oficiais das informações as
Nesse cenário, despontam em volume as raças associações nacionais de criadores. Várias raças e
diferentes sistemas
de produção: o perfil
do leite brasileiro

Arquivo Embrapa

- 106 -
A
nimais da raça Holandesa pura 100% representam em torno de

HOLANDÊS
10% do total dos rebanhos bovinos leiteiros brasileiros, segundo
o CEPEA/USP. No entanto, a raça é a base de vários cruzamen-
tos. Com isso, há grande dispersão da genética em diversos re-
banhos no país. A partir dessas informações, a Associação Brasileira de Cria-
dores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) confia que a raça Holandesa
seja responsável pela maior parte da produção de leite no Brasil.
Importante ressaltar que qualquer raça bovina que tenha cruzamento
com a raça Holandesa objetiva buscar maior produção de leite. Os cruza-
mentos mais famosos são o Girolando (Brasil) e o Jersolando, esse muito
utilizado ao redor do mundo, especialmente na Nova Zelândia, para buscar
uma vaca que produz mais leite com altas taxas de produção de sólidos,
exigência crescente da indústria.
O Brasil busca eficiência de produção. Cada vez mais procura-se uma vaca
que responda à melhora de manejo, nutrição, conforto etc. O Brasil é um dos
grandes celeiros mundiais de alimentos, um grande produtor de milho e soja,
por exemplo. Isso combina perfeitamente com a produção de leite da vaca
Holandesa, uma vez que a grande maioria dos criadores tem o confinamento
como modelo de exploração. Com custos de produção mais baixos, é perfei-
PERFIL DA RAÇA NO BRASIL
tamente possível cada vez mais ser competitivos no mercado internacional.
Principais polos de criação
Estudos indicam que o leite representa um dos seis produtos mais impor-
Paraná, Minas Gerais, São
tantes da agropecuária brasileira. A atividade é eficaz no suprimento de ali-
Paulo, Rio Grande do Sul,
mentos e na geração de emprego e renda para a população. Gradativamente,
Santa Catarina e Goiás
o número de produtores de leite no Brasil tem descaído. No entanto, o volume
de produção tem crescido, o que demonstra que há procura pela especiali-
Rebanho no Brasil
zação na propriedade, que tem buscado animais com produções mais altas.
2.200.000 fêmeas
A Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa
(ABCBRH) mantém um arcabouço de informações referentes aos animais re-
Estimativa do número de
gistrados. Sabe-se que muitos bovinos da raça Holandesa não estão no Herd
criadores no país
Book, principalmente quando se compara o número de animais registrados
5.200 fazendas
com o volume de sêmen da raça Holandesa comercializado no território bra-
sileiro. Mesmo considerando que parte deste material genético é utilizado
Número de animais registrados
para compor o rebanho Girolando, há uma porcentagem considerável de ani-
50.000 fêmeas/ano
mais puros que não consta no banco da ABCBRH.
No entanto, os estados que mais possuem criadores/proprietários são
Número de vacas
compatíveis com os estados que mais produzem leite. As regiões que con-
em controle leiteiro
centram mais associados da ABCBRH são as que apresentam as maiores pro-
65.272 lactações/ano
dutividades, tanto por área quanto por animal.
Fonte: ABCBRH
Em termos de associados, o Paraná se destaca com 630 criadores asso-
ciados, seguido do Rio Grande do Sul com 542, Minas Gerais com 305, São
SERVIÇO Paulo com 108 e Santa Catarina 102. Os demais estados possuem menos
Associação Brasileira de que 100 criadores cada.
Criadores de Bovinos da Em número de animais registrados, em 2017 alguns estados superaram os
Raça Holandesa - ABCBRH dados de 2016, mas ainda não alcançaram o mesmo patamar de 2012. Outros
estados continuaram evidenciando queda no número de animais registrados.
Diretor Presidente No total nacional, houve incremento de 3,1%, saltando de 48.869 animais
Reinaldo Carlos Figueiredo (2016) para 50.406 animais (2017).

R. Professor Francisco O MOMENTO DA RAÇA


Dranka, 608, Sala 01 A atividade passa por momentos de tecnificação, com menos produtores e
Curitiba (PR) - CEP 81200-404 mais leite produzido. Isso mostra melhoramento em várias áreas da atividade,
mas também na genética dessas vacas, segmento no qual a raça Holandesa
E-mail - Site - Telefone tem papel fundamental.
diretoria@gadoholandes.com.br
www.gadoholandes.com.br E O FUTURO?
(41) 3285-5169 As perspectivas são as melhores possíveis. Nessa busca por vacas es-
pecializadas, a raça Holandesa destaca-se muito entre as outras raças. A
ABCBRH acredita em crescimento expressivo da raça nos próximos anos.

- 107 -
A GIROLANDO
Associação Brasileira dos Criadores de Girolando estima que
cerca de 50% do rebanho leiteiro brasileiro sejam formados por
animais oriundos do cruzamento entre Gir e Holandês, base do,
Girolando. No entanto, somente cerca de 500 mil animais são re-
gistrados pela entidade. Desde o início do Programa para Formação da Raça
Bovina Girolando, em 1989, até hoje já foram certificados mais de 1.700.000
animais Girolando em todo Brasil.
Importante destacar que, essencialmente, as raças-mães Gir e Holandesa
são as duas únicas utilizadas para a formação da raça, em função de a Giro-
lando ser uma raça sintética, com a fixação de sua composição racial em 5/8
Holandês + 3/8 Gir, sendo esta a composição racial propriamente dita.
Atualmente, são mais de 3.200 criadores ativos no banco de dados da
Girolando.
Como o Brasil é um país de dimensões continentais, há grande variedade
de climas e de características geográficas que afetam diretamente a produ-
ção. Com isso, a rusticidade e a produtividade dos animais são as caracte-
rísticas que mais se destacam em regiões de clima tropical, pois os animais
Girolando conseguem se adaptar facilmente a diferentes sistemas de produ-
ção e a diferentes temperaturas, tornando-se animais altamente rentáveis em PERFIL DA RAÇA NO BRASIL
situações adversas de manejo e em situações de alta performance. Principais polos de criação
Minas Gerais é um dos principais polos da raça no Brasil, por ser também Minas Gerais, São Paulo, Rio
o maior produtor de leite do país. Mas outros estados também se destacam, de Janeiro, Goiás e Bahia
como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Bahia. Nas regiões Centro-Oeste,
Norte e Nordeste, a criação de gado Girolando também vem crescendo ano Rebanho no Brasil
após ano, demonstrando a importância da raça para a pecuária leiteira nacional. 1.700.000 fêmeas
Em termos de animais registrados, entre 1989 e 2017 foram mais de
1.700.000 animais certificados pela Girolando. Anualmente, em média, são Estimativa do número de
registrados cerca de 85.000 animais. criadores no país
Em termos de controle leiteiro, são encerradas cerca de 17.000 lacta- 3.200 fazendas
ções por ano no Serviço de Controle Leiteiro Oficial, número ainda baixo se
comparado com o potencial da raça e com a quantidade de criadores ativos. Número de animais registrados
55.000 fêmeas/ano
O MOMENTO DA RAÇA
Embora o país esteja vivendo um momento difícil, a pecuária leiteira é uma Número de vacas
das poucas atividades que conseguem gerar bons resultados. No entanto, a em controle leiteiro
atividade sofre com a falta de investimentos e de políticas. Isso faz com que 17.000 lactações/ano
ela cresça em velocidade inferior ao seu potencial. Isso afeta as raças lei- Fonte: Girolando
teiras, mas no caso da Girolando o impacto é menor, por ser um gado muito
utilizado em várias regiões do país e por ser altamente eficiente em diferentes
sistemas de produção. SERVIÇO
Associação Brasileira dos
E O FUTURO? Criadores de Girolando
Com a chegada da seleção genômica à raça Girolando, a expectativa é
que haja intensa evolução genética no rebanho Girolando nos próximos anos, Diretor Presidente
fazendo com que os índices sejam bem melhores que os atuais em curto es- Luiz Carlos Rodrigues
paço de tempo. Esse é o papel da seleção genômica: acelerar o processo de
melhoramento genético do rebanho. Com isso, há a perspectiva de que em R. Orlando Vieira do
pouco tempo a raça Girolando esteja ainda mais consolidada no cenário da Nascimento, 74,Vila São
pecuária leiteira nacional e até internacional. Cristóvão - Uberaba (MG)
CEP 38040-280

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(34) 3331-6000

- 108 -
GIR LEITEIRO
A
raça Gir Leiteiro conta com aproximadamente 300.000 animais
no Brasil. A Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro
(ABCGil) estima que há cerca de 600 criadores da raça no país,
número que vem crescendo rapidamente devido às importantes
características desse excelente opção genética para o ambiente tropical.
Por ser uma raça originária da Índia, um país tropical, e com muitas
semelhanças nas condições edafoclimáticas, o Gir Leiteiro encontrou no
Brasil o ambiente propício para expressar ao máximo o seu potencial. A
raça Gir, assim como as demais zebuínas, possui maior resistência a endo
e ectoparasitas, seu sistema termorregulador permite que ela tolere altas
temperaturas sem entrar em estresse térmico. O Gir Leiteiro tem grande
capacidade de converter pastagens em leite, tornando o custo de produção
da atividade mais baixo do que os animais confinados. O fato de ser uma
raça pura faz com que o produtor de leite aumente sua receita com a venda
de machos para corte.
Em ordem de importância, os principais polos de criação são Minas Ge-
rais, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do
PERFIL DA RAÇA NO BRASIL
Sul e Espírito Santo. O restante do plantel é distribuído de forma homogê-
Principais polos de criação
nea por todo o Nordeste, Norte e Sul do país.
Minas Gerais, Goiás, São
A ABCGil estima que há no Brasil aproximadamente 150.000 cabeças
Paulo, Rio de Janeiro, Bahia,
de gado Gir Leiteiro. Assim como o número de criadores, o plantel está em
Mato Grosso, Mato Grosso do
crescimento, acima da média das demais raças leiteiras.
Sul e Espírito Santo
De acordo com o levantamento da associação, há cerca de 25.000 vacas
Gir Leiteiro em Controle Leiteiro oficial anualmente. O volume de animais
Rebanho no Brasil
está, igualmente, aumentando ano após ano em decorrência das caracterís-
150.000 animais (total)
ticas positivas da raça.
Além de raça pura, o Gir Leiteiro é responsável pela criação da raça
Estimativa do número de
Girolando, a partir de cruzamento com a raça Holandesa. Também crescem
criadores no país
os cruzamentos com Jersey, formando a raça Girsey, cujo diferencial mais
600 fazendas
relevante para os criadores é a quantidade de sólidos no leite.

Número de animais registrados


O MOMENTO DA RAÇA
não fornecido
O Gir Leiteiro passa por um momento de consolidação como raça lei-
teira, aumentando o número de rebanhos produtores de leite e de material
Número de vacas
genético em todo o país.
em controle leiteiro
25.000 lactações/ano
E O FUTURO?
Fonte: ABCGIL
O Gir Leiteiro é presença marcante em exposições, concursos leiteiros
e importantes provas zootécnicas. Atualmente, ele é reconhecido no Brasil
e no exterior pelo seu desempenho como raça especializada em produ-
SERVIÇO
ção de leite, sendo uma opção para o mundo tropical. Essa presença está
Associação Brasileira
aumentando em decorrência das características da raça e da necessidade
dos Criadores de Gado
crescente da oferta de leite de qualidade.
Gir Leiteiro - ABCGIL

Diretor Presidente
José Afonso Bicalho

Praça Vicentino Rodrigues da


Cunha, 110 - Parque Fernando
Costa – Uberaba (MG)
CEP 38022-330

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girleiteiro@girleiteiro.com.br
www.girleiteiro.com.br
(34) 3331-8400

- 109 -
O JERSEY
rebanho de animais Jersey no Brasil, hoje, é estimado em mais de
750.000 animais. A Associação dos Criadores de Gado Jersey
no Brasil tem em torno de 2.000 criadores associados em todos
os estados do país.
A principal característica da raça Jersey é a qualidade do leite. A vaca Je-
rsey produz leite com até 30% a mais de sólidos (proteína, gordura e cálcio)
em comparação com as outras raças leiteiras. Além disso, é extremamente
adaptável a qualquer região do Brasil e a qualquer sistema de manejo (do
pasto ao confinamento), apresentando excelentes resultados em produção.
Os animais Jersey são extremamente precoces. As fêmeas são inseminadas
mais cedo e parem mais cedo, proporcionando rentabilidade aos criadores.
Da mesma forma que são precoces, as vacas Jersey são longevas, permane-
cendo mais tempos produzindo leite nos rebanhos. Por fim, e não menos im-
portante, em um mundo preocupado cada vez mais com os recursos naturais,
a raça Jersey é sustentável: o seu leite tem maior rendimento na produção de
derivados lácteos. Além disso, por ser um animal de menor porte, consome
menos água, tem melhor taxa de conversão alimentar e menor emissão de
carbono. Todas essas características juntas ressaltam a importância da raça
Jersey para produção de leite no Brasil.
PERFIL DA RAÇA NO BRASIL
Em termos de presença no país, o estado com maior número de animais
Principais polos de criação
da raça Jersey é Santa Catarina, seguido por Paraná, Minas Gerais, São Paulo
Santa Catarina, Paraná,
e Rio Grande do Sul.
Minas Gerais, São Paulo e
Importante destacar que além da raça Jersey pura despontam no Brasil
Rio Grande do Sul
cruzamentos com o Holandês (Jersolando) – este o mais importante –, Pardo
Suíço, Gir e Girolando.
Rebanho no Brasil
No total, a ACGJB possui em torno de 120.000 animais registrados no
750 mil animais (total)
banco de dados do Sistema de Registro Genealógico (SRG).
Atualmente, em torno de 7.000 vacas participam do Controle Leiteiro
Estimativa do número de
Oficial. Esse número poderia ser muito maior se as regras fossem mais fle-
criadores no país
xíveis, podendo desonerar um pouco os criadores do alto custo do controle
2.000 fazendas
leiteiro no Brasil

Número de animais registrados


O MOMENTO DA RAÇA
10 mil fêmeas/ano
Com a crescente demanda dos laticínios por leite de qualidade e com cada
vez maior teor de sólidos, a raça Jersey vem crescendo no Brasil e no mundo,
Número de vacas
pois propicia ao criador produzir um leite com essas características e em
em controle leiteiro
quantidade. Além disso, por ser uma raça adaptada a diversos sistemas de
7.000 lactações/ano
manejo e com boa tolerância ao calor, há crescimento do número de animais
Fonte: ACGJB
Jersey em sistemas de pastejo rotacionado em regiões mais quentes do Brasil.

E O FUTURO? SERVIÇO
Os laticínios estão pagando valor superior para o leite com maior teor de Associação dos Criadores de
sólidos. A raça Jersey produz o melhor e mais completo leite, com excelente Gado Jersey do Brasil
volume de produção. Por esses fatores, os próximos anos serão de grande
crescimento no número de animais e criadores de Jersey no país. Diretor Presidente
Ulisses Ribeiro Filho

Av. Francisco Matarazzo, 455


Sala 21 – Prédio do Fazendeiro
São Paulo (SP) – CEP 05001-900

E-mail - Site - Telefone


contato@gadojerseybr.com.br
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(11) 3672-0588

- 110 -
GUZERÁ O
Guzerá é uma raça zebuína de dupla aptidão, com núcleos de
criação bastante fortes em leite – especialmente no Brasil Cen-
tral. Mais recentemente, o cruzamento com a raça Holandesa
produziu o gado Guzolando, este sim 100% focado na produção
de leite em regiões tropicais e em regime de pasto.
O Guzerá tem a cara da sustentabilidade no campo. É extremamente rús-
tico, produz e reproduz muito bem em todos os climas do Brasil. É a única
uma raça zebuína de dupla prova nas aptidões de carne e leite, sendo muito
leiteiro e pesado. As matrizes puras ou cruzadas desmamam bezerros preco-
ces que vão para a recria e engorda, garantindo lucro à propriedade que faz
uso da genética Guzerá.
Segundo estimativas, há no país rebanho de ???? bovinos da raça Guzerá
e ??? criadores espalhados pelo país. A Associação dos Criadores de Gado
Guzerá e Guzolando do Brasil informa que os principais centros de criação
estão em Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Goiás, Mato
Grosso do Sul e Bahia.
O principal cruzamento do Guzerá para produção de leite é feito com a
raça Holandesa, resultando em animais altamente leiteiros, rústicos, férteis,
PERFIL DA RAÇA NO BRASIL longevos, de boa estrutura. Os machos oriundos desse cruzamento são apro-
Principais polos de criação veitados para corte, pois têm alta capacidade de ganho de peso. O Guzolando
Minas Gerais, Pará, Rio é registrado pela ABCZ como CCG.
Grande do Norte, São Paulo,
Goiás, Mato Grosso do Sul O MOMENTO DA RAÇA
e Bahia O mercado atual é desafiador para todos os setores, mas o Guzerá mantém
o trabalho na difusão da raça e suas vantagens, sendo opção de criação como
Rebanho no Brasil raça pura e nos cruzamentos, nos quais se destaca por somar características
não fornecido de rusticidade, adaptabilidade e conversão de capim em carne e leite.

Estimativa do número de E O FUTURO?


criadores no país A perspectiva é de expansão e conquista de novos mercados. A associa-
não fornecido ção nacional sabe da grande aceitação e desejo pelo Guzolando como alter-
nativa mais sustentável à pecuária leiteira, o que impulsiona a venda de ani-
Número de animais registrados mais Guzerá, tanto fêmeas quanto machos, para cruzamentos de leite. Além
não fornecido disso, mantém o foco em melhoramento genético, que confere mais valor ao
animal e segurança ao mercado.
Número de vacas
em controle leiteiro
não fornecido
Fonte: ACGGB

SERVIÇO
Associação dos Criadores de
Guzerá e Guzolando do Brasil

Diretor Presidente
Adriano Varela Galvão

Praça Vicentino Rodrigues da


Cunha, nº 110 - bloco 01
Uberaba (MG) – CEP 38022-330

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www.guzera.org.br
(34) 3336-1995

- 111 -
O
rebanho brasileiro de gado Pardo-Suíço é composto, atualmen-
te, por aproximadamente 39.000 animais vivos. A Associação
Brasileira dos Criadores de Gado Pardo-Suíço estima que há
PARDO-SUÍÇO
139 criadores na raça no país. Os principais polos de criação
estão no Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Norte. Rustici-
dade, adaptabilidade, longevidade e suas duas linhagens distintas (linhagem
leiteira e linhagem corte) são as principais características do Pardo-Suíço
que despertam o interesse dos criadores brasileiros.
No total, constam em registro oficial 265.589 animais no país. Segundo
a associação nacional, há aproximadamente 970 vacas em controle leiteiro
atualmente.
As características de dupla aptidão do Pardo-Suíço atraem produto-
res interessados em cruzamentos que incorporam peso e produtividade. Os
cruzamentos mais presentes envolvem a raça com Guzerá, Gir, Holandês,
Nelore e Girolando.

O MOMENTO DA RAÇA
O Nordeste é um dos nossos melhores mercados para o Pardo-Suíço. Po-
rém, a seca dos últimos anos impediu o crescimento da raça. Nesse momento,
PERFIL DA RAÇA NO BRASIL
ocorre a retomada do avanço do Pardo-Suíço, especialmente naquela região.
Principais polos de criação
Paraná, São Paulo, Minas
E O FUTURO?
Gerais e Rio Grande do Sul
Devido à rusticidade, longevidade, produção e adaptação nos mais diver-
sos climas e relevos, a Associação Brasileira dos Criadores de Gado Pardo-
Rebanho no Brasil
-Suíço acredita no crescimento da raça no Brasil e concentra o seu trabalho
39 mil animais (total)
na comunicação, com dados técnicos, para que isso aconteça.

Estimativa do número de
criadores no país
139 fazendas

Número de animais registrados


não informado

Número de vacas
em controle leiteiro
970 lactações/ano
Fonte: ABCGPS

SERVIÇO
Associação Brasileira
de Criadores de Gado
Pardo-Suiço

Diretor Presidente
Marcelo de Paula Xavier

Av. Francisco Matarazzo, 455


Sala 27 – Prédio do Fazendeiro
São Paulo (SP) – CEP 05001-900

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(11) 3871-1018

- 112 -
SIMENTAL A
Associação Brasileira de Criadores das Raças Simental e Simbra-
sil (ABCRSS) estima que mais de 800 mil bovinos com sangue
das duas raças façam parte do rebanho brasileiro em sistemas
produtivos de carne e leite. O Simental é uma raça de dupla ap-
tidão e se destaca tanto na produção de carne como na produção de leite,
pois apresenta alta fertilidade, habilidade materna, adaptabilidade, conver-
são alimentar, precocidade produtiva e reprodutiva, além da precocidade de
crescimento.
Atualmente, 160 criadores controlam as raças Simental e Simbrasil com
objetivo do registro genealógico. Há um número expressivo de criadores que
não realiza o controle em todo país.
As raças estão mais presentes em São Paulo, Minas Gerais, Santa Cata-
rina e Paraná. Há em registro oficial mais de 400 mil exemplares Simental
(Mestiços, PC e PO), Simlandês e Simangus (corte) e 38 mil da raça Simbrasil
(dados de 2017).
A associação informa que é realizado controle leiteiro, porém não tem
informação de quantidade de vacas.
PERFIL DA RAÇA NO BRASIL Os principais cruzamentos da raça são Simental x Holandês (Simlandês),
Principais polos de criação Simental x Gir e Simental x Guzerá (Simbrasil). O gado Simlandês é o mais
São Paulo, Minas Gerais, novo projeto da Associação Brasileira de Criadores das Raças Simental e
Espírito Santo, Goiás, Rio Simbrasil para a formação de uma nova raça sintética brasileira, resultante do
Grande do Sul e Paraná cruzamento das raças Simental e Holandês, com a finalidade de produzir 5/8
Simental e 3/8 Holandês.
Rebanho no Brasil A proposta é unir as características de produção do gado Holandês com a
800 mil animais (total) qualidade do leite das vacas Simental, a partir da maior longevidade produ-
tiva, produção de leite com maior teor de sólidos e menos células somáticas,
Estimativa do número de lactações longas e persistentes e aproveitamento dos machos.
criadores no país Além disso, a associação informa que o Simbrasil é outra ótima opção de
160 fazendas produção e lucro na atividade leiteira. Formada com o cruzamento de Simen-
tal e raças zebuínas, a raça tem linhagens de grande desempenho na produ-
Número de animais registrados ção de leite e carne a campo, aliando rusticidade à alta produtividade.
438.000 animais (total)
O MOMENTO DA RAÇA
Número de vacas No cenário atual, o mercado de leite está valorizado e, com isso, há ten-
em controle leiteiro dência natural de alta de preço para animais com registro genealógico. Na
não fornecido pecuária leiteira, é preciso boa produção, úberes sadios e volumosos, baixa
Fonte: ABCRSS contagem de células somáticas e longevidade. Essa exigência mercadológica
tem levado criadores e pesquisadores a desenvolver cruzamentos que pro-
movem produtividade em todos esses quesitos e o Simlandês vem se eviden-
SERVIÇO ciando por apresentar essas qualidades.
Associação Brasileira
de Criadores das Raças E O FUTURO?
Simental e Simbrasil A associação acredita no crescimento da demanda e, com isso, no avanço
da raça Simental, principalmente via cruzamentos.
Diretor Presidente
Alan Fraga

Rua Mário Romanelli, 57


Gilberto Machado –
Cachoeiro de Itapemirim (ES)
CEP 29.303-260

E-mail - Site - Telefone


simental@simentalsimbrasil.org.br
simentalsimbrasil.org.br
(28) 3521-5666

- 113 -
OPINIÃO

Leite de
Artur Chinelato
de Camargo é
engenheiro agrônomo
e pesquisador da

vacas felizes
Embrapa Pecuária
Sudeste, de São
Carlos-SP

D
e uns anos para cá é crescente liberdade, consomem pastagens de for- Para que se tenha a criação de “vacas
o movimento em favor do bem- rageiras de clima temperado o ano todo, felizes” ou “cocho zero” no mundo tro-
estar e da ética no trato com além do uso de alimentos concentrados. pical é necessário, além da irrigação de
os animais, o que se estende à Diferentemente da região do Açores, pastagens ao longo do ano e da aduba-
qualidade dos alimentos por eles produ- no Brasil não é possível a produção leiteira ção destas com fertilizantes químicos e/
zidos. Grandes empresas estão atentas ao exclusivamente em regime de pastagens ou compostos orgânicos, tomar por base a
fato e começam a despertar interesse por devido à irregularidade da pluviosidade capacidade de suporte de animais na pro-
sistemas de produção de proteína animal ao longo do ano. No entanto, onde hou- priedade na época de menor crescimento
que estabeleçam uma relação mais “huma- ver a possibilidade de utilização de sis- das gramíneas forrageiras.
na” e harmoniosa com os animais, além de temas de irrigação nos pastos, a criação A partir desta medida, evidentemente,
oferecerem produtos isentos de antibióti- de vacas leiteiras alimentadas apenas com haverá sobra de forragens no período de
cos, conservantes e hormônios. pastagens como único alimento volumoso, maior crescimento das pastagens, quando
A criação de suínos fora de galpões de em um sistema aqui denominado “cocho parte da área poderá: I - ficar em pousio e
alvenaria, de galinhas de postura livres do zero”, a mesma proposta poderá ser es- ser transformada em matéria orgânica para
confinamento das gaiolas e da produção tabelecida. o solo, devendo-se estabelecer rodízio en-
de leite por vacas criadas em regimes de tre as áreas a ser descansadas a cada ano;
pastagens são exemplos dessa tendên- Grandes empresas começam II - ser conservada na forma de ensilagem
cia. No Brasil, a onda dos confinamentos ou fenação para fornecimento na época de
a despertar interesse por
estabulados de vacas leiteiras tipo com- entressafra de forragens, deixando de ser,
post barn está em curso, apresentando, sistemas de produção neste caso, o sistema tipo “cocho zero”;
no entanto, sinais de declínio em relação III - ser utilizada para recria ou engorda
de proteína animal
a novos projetos. Movimento semelhante de animais próprios; IV - ser utilizada para
ocorreu no século passado, a partir do fi- que estabeleçam uma recria ou engorda de animais em parceria,
nal dos anos de 1990, quando o sistema relação mais “humana” e caso o proprietário não disponha de re-
de criação de vacas leiteiras estabuladas cursos financeiros para a compra dos ani-
em confinamento tipo free stall era a onda. harmoniosa com os animais mais; V - ser alugada para terceiros para
Não se trata de classificar a produção recria ou engorda de animais.
desses alimentos em orgânica ou conven- A produção de pastagens de gramí- No sistema “cocho zero”, o forneci-
cional, mas, sim, estabelecer relação dife- neas forrageiras tropicais no Brasil apre- mento de alimentos concentrados dar-se-á
renciada dentro da cadeia produtiva para senta característica estacional, existindo em cochos de acordo com o balancea-
oferecer um produto saudável. Não que uma época do ano na qual o ritmo de mento da dieta, tomando-se por critério a
os produtos fabricados convencionalmen- crescimento das plantas é reduzido e ou- produção de leite de cada vaca em caso
te não sejam saudáveis, mas a intenção tra época do ano na qual o crescimento é de arraçoamento individual, ou baseado na
é criar uma diferenciação entre eles e, é acelerado devido à ocorrência concomi- média do grupo de vacas, para os casos em
óbvio, valorizar os produtos oriundos de tante dos seguintes fatores de produção: que os animais sejam manejados em lotes.
criações de animais felizes. O consumidor a - temperaturas elevadas acima de 30˚C; O conceito de criação “cocho zero”
terá a percepção deste aspecto e pagará b - intensidade luminosa, permitindo que ou “vacas felizes” já existe no Brasil em
mais por isso? Tudo indica que sim. a fotossíntese seja máxima e não consiga algumas propriedades, destacando-se
No arquipélago dos Açores, territó- atingir o ponto de saturação com o au- dentre elas a Fazenda Leite Verde, no
rio autônomo ligado a Portugal, distante mento da luz; c - fertilidade do solo na- município de Jaborandi-BA, e a Fazenda
1.800 km da Península Ibérica, cujos solos tural ou proveniente de adubações, pos- do Grupo Kiwi Pecuária, no município
têm origem vulcânica e, portanto, apre- sibilitando elevadas lotações de animais de Silvânia-GO, podendo ser aplicado
sentam elevada fertilidade natural, contan- por unidade de área; d - disponibilidade em todo e qualquer tipo de propriedade
do ainda com um generoso regime regular de água da ordem de 50 a 60 m3 por hec- leiteira no país, desde que haja disponibi-
de chuvas ao longo do ano, foi lançado o tare por dia, dependendo da localidade e lidade e autorização (outorga) para o uso
Programa Leite de Vacas Felizes que, em da evapotranspiração da planta forrageira. de água para irrigação.

- 114 -
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