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2017 401
Resumo: Na contemporaneidade as imagens fazem parte de tudo, existe uma quantidade infinita de reproduções
cinematográficas que são expostas ao público, consideráveis filmes fazem sucesso de bilheteria e servem muitas
vezes como entretenimento e modo de aquisição de conhecimento aos interessados. Conforme esta linha de
pensamento, elabora-se este trabalho com o intuito de conectar a produção fílmica com os fatos acontecidos na
Segunda Grande Guerra, com a utilização dos filmes A menina que roubava livros e O menino do pijama
listrado, ambos foram anteriormente aos filmes, obras literárias de sucesso.
Palavras-chaves: História e Cinema; Literatura e História; A Menina que Roubava Livros; O menino do pijama
listrado
Abstract: In contemporary images are part of all, there is an infinite amount of cinematographic reproductions
that are exposed to the public, films are considerable box office success and often serve as entertainment and
way of acquiring knowledge to interested parties. As this line of thought, this work is elaborated in order to
connect the filmic production with the facts that happened in World War II, with the use of the films The book
thief and the boy in the striped pajamas, both were previously the movies , literary success.
Key-words: History and Cinema; Literature and History; The Book Thief; The boy in the striped pajamas.
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Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Faculdade de Ciências e Letras (UNESP/Assis).
Bolsista CNPq. Contato: thiago.sampaio92@gmail.com
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O cinema faz parte dos elementos contemporâneos, os filmes são facilmente acessados,
disponíveis em diversos meios: cinema, internet, televisão, locadoras, lojas de conveniências
etc. Aproveita-se dessa facilidade para prestigiar a reprodução cinematográfica enquanto fonte
histórica. Entende-se a importância do cinema enquanto espaço físico, por ser um meio de
encontro e trocas de experiências, um lugar frequentado na cidade por estar, normalmente,
inserido no shopping; esses elementos fazem com que o expectador consciente se sinta
instigado a pensar a respeito das suas formas de lazer.
O filme permite uma conexão com outras áreas, pois por ser uma sequência de imagens
atraem mais atenção do que obras escritas possuem um público maior e com este princípio
elabora-se o trabalho a partir dos filmes com contextualização destes com a obra escrita.
O cinema pode, portanto, fazer parte do elenco das fontes da História, pelo que
representa como criação e como manifestação do imaginário. Seja por envolver um
complexo processo econômico produtivo, como pela quantidade de informações que
contém e que nem sempre correspondem aos objetivos de seus autores, ou pelo seu
valor enquanto testemunho de uma sociedade e de uma época (MEIRELLES, 2004,
p. 6).
Por este motivo, a adaptação de uma obra literária nunca irá adequar ao idealizado por
todos e recebe diversas críticas, porém precisa-se compreender a limitação dos recursos, um
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FRIEDEMANN, Marcos Roberto.Ensino de História: O cinema como ferramenta didático-pedagógica.
Disponível em: < http://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_publicacao_-_ensino_de_historia_-
_o_cinema_como_ferramenta_didatico_pedagogica_0.pdf>, p. 6.
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FRIEDEMANN, Marcos Roberto.Ensino de História: O cinema como ferramenta didático-pedagógica.
Disponível em: < http://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_publicacao_-_ensino_de_historia_-
_o_cinema_como_ferramenta_didatico_pedagogica_0.pdf>, p. 5
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filme muito extenso dificilmente atrai a atenção do expectador, fato que inviabiliza a obra do
ponto de vista financeiro.
O período que é retratado pelas obras cinematográficas se refere aos anos de 1939-
1945, intervalo de tempo em que aconteceu a Segunda Guerra Mundial, acontecimento
marcado pelos modelos políticos baseados no sistema do totalitarismo, forma de governo que
autora Hannah Arendt faz uma definição acerca funcionamento:
Os movimentos totalitários são possíveis onde quer que existam massas que, por um
motivo ou outro, desenvolveram certo gosto pela organização política. As massas
não se unem pela consciência de um interesse comum e falta-lhes aquela específica
articulação de classes que se expressa em objetivos determinados, limitados e
atingíveis. O termo massa só se aplica quando lidamos com pessoas que,
simplesmente devido ao seu número, ou à sua indiferença, ou a uma mistura de
ambos, não se podem integrar numa organização baseada no interesse comum, seja
partido político, organização profissional ou sindicato de trabalhadores.
Potencialmente, as massas existem em qualquer país e constituem a maioria das
pessoas neutras e politicamente indiferentes, que nunca se filiam a um partido e
raramente exercem o poder de voto (ARENDT, 1976, p.361).
daquele momento não eram mais apontados como membros da sociedade alemã. Após a
eleição que consagrou Adolf Hitler no poder, a força e manifestação dessas ideias tomou
proporções surreais por todo o país. A população em êxtase com os discursos e convenções
realizadas pelo partido ajudou na disseminação dessas convicções. Todos os considerados
“degenerados” ou impuros que incluía ciganos, deficientes físicos e mentais, homossexuais,
cidadãos que residiam na Alemanha mais tinham outra nacionalidade, famílias que eram
miscigenadas em sua arvore genealógica, negros, cristãos que se opunham ao regime e
principalmente a figura que ganhou maior destaque: os judeus. Necessitava-se encontrar um
“objeto” para servir de “bode expiatório” que René Girard define como:
Através da exibição desses filmes é que o repudio aos judeus na Alemanha tomou
proporções inacreditáveis. Em conjunto com a propaganda foi criada uma legislação especial
antissemita da qual proibia os judeus de praticarem inúmeros atos. As "leis de Nuremberg"
promulgadas em 1935 reforçou com ênfase uma segregação existente entre arianos e judeus.
O eterno judeu é tido como um dos mais maldosos filmes já rodados. Foi
apresentado como um "documentário educacional sobre os problemas do judaísmo
internacional". O filme se propõe a mostrar como os judeus realmente são “por
detrás de suas máscaras”. Quando fala da sujeira dos judeus, aparecem moscas na
tela (LENHARO, 1998, p. 581).
Foi desta forma que um dos piores genocídios da história ocorreu. A imprensa que
quando criada teve o intuito de ajudar o ser humano e contribuir para a sua vida cotidiana de
informação, na Alemanha na primeira metade do século XX foi usada para tirar vidas.
A menina que roubava livros é uma adaptação instigante do escritor austríaco Markus
Zusak, lançado em 2005 pela editora Picador, e em 2007 no Brasil pela editora Intrínseca,
com uma união de características que insere o telespectador na narrativa e o faz se emocionar.
É tênue, em alguns momentos, o limite entre o que são apenas componentes da obra fictícia
do que é o contexto histórico, sem deixar, contudo, de ser uma obra instigante. A prova da
popularidade do livro é o número de vendas, são 2 milhões de exemplares no Brasil e mais de
8 milhões pelo mundo.4
A narrativa demonstra as dificuldades de sobrevivência dos rejeitados pelo Fuhrer na
Alemanha hitlerista, em especial, o destaque para o personagem judeu Max. Demonstra a
realidade dos mais pobres, dos jovens que eram obrigados a cumprir deveres militares e dos
comunistas.
Uma questão interessante é a tradução da obra, o título original é The Book Thief,
literalmente a Ladra de livros, entretanto na versão brasileira se intitulou A menina que
roubava livros, muito mais poético, no qual poucas vezes a tradução consegue abranger a
complexidade da obra e modificar o título de modo que fique tão fascinante.
A narrativa acontece entre 1939 e 1943, tendo como plano de fundo o nazismo e a
Segunda Guerra Mundial, contudo, apesar deste clima de conflito, a visão é mais leve.
Fornecida do ponto de vista de uma garota, a violência não é demonstrada em toda sua
plenitude, é mais uma visão infantil do período.
No que diz respeito ao livro, este é dividido em doze partes, onde a morte narra a
jornada de Liesel- a ladra - desde o primeiro furto à sua velhice, enquanto ilustra a
importância das palavras tanto para a vida da garota quanto para a Alemanha Nazista e para o
Fuhrer na Segunda Guerra Mundial.
O primeiro fato marcante na história da menina é a morte de Werner, seu irmão de seis
anos, a caminho da casa dos pais adotivos. O garoto acaba morrendo no trem antes de chegar
a Molching, a busca do garoto é narrada com certa dose de lirismo pela Morte – o qual é uma
característica marcante da mesma no texto:
vinte e três minutos depois, quando o trem estava parado, desci com eles.
4
Sobre isso ver: REYNAUD, Nayara. Estreia: ‘A menina que rouba livros’mantém essência do best-seller. Em:
< http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2014/01/estreia-menina-que-roubava-livros-mantem-essencia-do-
best-seller.html > Acesso em: 21 de março de 2016
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Durante as noites Liesel tem pesadelos constantes com a morte do irmão, e quando
acorda no meio da madrugada seu papai está ao seu lado para confortá-la. Ao descobrir que a
garota não sabe ler bem, Hans passa a ajudá-la na leitura durante a madrugada, no meio de seu
sono interrompido pela lembrança de Werner morto no vagão do trem.
Além de seu papai reconfortá-la, Liesel acaba fazendo amizade com seu vizinho Rudy
Steiner, que se torna seu parceiro nos roubos, melhor amigo e primeiro amor, ao qual sempre
recusa os pedidos constantes de que ela o beijasse, esperança que ele alimenta logo no
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começo da relação entre os dois, “Um dia, Liesel, você vai morrer de vontade de me beijar.”
(ZUZAK, 2010, p.51) Frau Hermann, a mulher do prefeito é uma das clientes de sua mãe, que
após presenciar o segundo roubo da menina, a deixa entrar em sua biblioteca para ler seus
livros, mas quando dispensa os serviços de Rosa, a garota acaba discutindo com a mesma,
mas volta as escondidas a sua casa para roubar mais livros.
Eis que no meio de toda a confusão, aparece Max, filho de um amigo combatente do
pintor, para cobrar uma dívida de quando o pai do rapaz salvara sua vida na guerra. Ele, com
as chaves da casa dos Hubermann - enviadas pelo correio por Hans -, entra no meio da noite e
pergunta ao pai de Liesel se ainda toca acordeão – o acordeão dado pelo seu pai -, e o homem
lhe oferece abrigo.
Após uma demonstração de amor ao próximo em público, o pintor coloca toda a sua
família em risco, o problema é que a demonstração foi um pão dado a um judeu durante um
desfile de prisioneiros em Molching, o que fez Max ficar alerta e abandonar a casa dos
Hubermann, mesmo contra a todos os protestos destes e da pequena ladra, em um cenário
triste de sua partida:
Pouco depois das onze horas da mesma noite. Mas Vanderburg subiu a rua Himel,
com uma mala cheia de alimentos e roupas quentes. Havia ar alemão em seus
pulmões. As estrelas amarelas estavam em chamas. Quando chegou à loja de Frau
Diller, ele se virou para olhar pela última vez para o número trinta e três. Não podia
ver a figura na janela da cozinha, mas ela o via. Ela acenou, e Max não retribuiu o
aceno.
Liesel ainda sentia a boca do rapaz em sua testa. Cheirava seu hálito de adeus .
(ZUZAK, 2010, p.345)
O alerta do lutador judeu não foi infundado, pouco depois Hans é mandado para a
guerra – pela segunda vez – para pagar pelo crime de ter se apiedado de um judeu, assim
como o vizinho, Alex Steiner que se alistou para substituir o filho, Rudy, comparsa da ladra de
livros.
Liesel, desolada, tem como único refúgio as palavras. As palavras dos livros roubados,
tal como o Manual do Coveiro que a fazia relembrar seu irmão, O Dar de Ombros, que roubou
da fogueira feita no aniversário do Fuhrer para apagar qualquer produção cultural judaica, os
livros que lia na biblioteca do prefeito a convite de Frau Hermann, os livros escritos por Max
no porão, o Vigiador e a Sacudidora de palavras, inspirado em seus relatos das contações de
histórias feitas nos porões/abrigos-anti-bombas durante os avisos de ataque, que a fazia
lembrar que eram as palavras que mantinham as pessoas com um resto de esperança, e as
fazia agradecer a garota por isso.
E então veio o fim. Em um dia entre a volta de papai para casa e a volta de Alex Steiner,
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bombas dizimaram o lar dos Hubermann e de seus vizinhos. Sem alertas e sirenes, as pessoas
que ali viviam não tiveram tempo de se abrigar, apenas a menina que lia no porão de sua casa
sobreviveu, porão esse considerado raso demais para um abrigo de emergência e que, no
entanto, foi o suficiente para mantê-la viva, diferentemente de todos que conhecia.
Logo após a destruição da rua Himmel, o que sabemos da história de Liesel é que fora
adotada pela mulher do prefeito, Frau Hermann, e quando Alex Steiner volta da Guerra e
continua seu trabalho na alfaiataria, ela se propõe a ajudá-lo, mantendo o vínculo com o que
seria o último sobrevivente e conhecido. E então, em um dia tranquilo, Max aparece na loja e
lhe abraça e da infância a partir daí não há mais nenhum registro:
Depois que a guerra acabou e Hitler se entregou em meus braços, Alex Steiner
retomou o trabalho em sua alfaiataria. Não ganhava dinheiro com ela, mas se
mantinha ocupado por algumas horas, todos os dias, e Liesel frequentemente o
acompanhava. Os dois passavam muitos dias juntos, amiúde andando até Dachau,
depois que o campo foi liberado, apenas para serem repelidos pelos americanos.
Por fim, em outubro de 1945, um homem de olhos alagadiços, plumas de cabelo e
rosto escanhoado entrou na loja. Aproximou-se do balcão.
-Há alguém aqui com o nome de Liesel Meminger?
-Sim, ela está lá nos fundos – disse Alex. Ficou esperançoso, mas queria ter certeza.
– Posso perguntar quem a está procurando?
Liesel saiu.
Os dois se abraçaram e choraram e desabaram no chão (ZUZAK, 2010, p.475).
Quando a Morte busca a ladra de livros, esta já se encontra em idade avançada e mora
em Sidney, nos Estados Unidos, rodeada por netos, o marido e livros. Vive uma vida tranquila
e se deixa ir confortavelmente junto à morte que lhe entrega o livro escrito na infância, pouco
antes da explosão da bomba sobre Molching, e através do qual pôde saber os detalhes da vida
da menina até aquele momento e assim narrá-lo através do homônimo: A Menina que
Roubava Livros.
Quando viajei até Sydney e levei Liesel, finalmente pude fazer uma coisa pela qual
havia esperado durante muito tempo. Coloquei-a no chão e fomos andando pela
avenida Anzac, perto do campo de futebol, e tirei do bolso um livro preto e empo-
eirado.
A velha senhora ficou perplexa. Segurou-o nas mão e perguntou:
-É ele mesmo?
Fiz que sim com a cabeça.
Com grande alvoroço, ela abriu A Menina que Roubava Livros e folheou as páginas.
-Não consigo acreditar... (ZUZAK, 2010, p.477)
5
Sobre isso ver:: <http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2014/02/03/a-menina-que-roubava-livros-estreia-
em-1-nas-bilheterias-brasileiras.htm> . Acesso em: 21 de março de 2016
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de um milhão de pessoas no Brasil para o cinema, liderou entre os filmes mais assistidos em
cartaz.
A adaptação segue os elementos básicos da narrativa, tais como a morte de Werner,
irmão de Liesel (Sóphie Nelisse), a caminho de Molching seguido pelo “abandono” de sua
mãe, a qual sabemos o seu sumiço ter sido devido ao fato de ser comunista, como a garota
acaba chegando à conclusão posteriormente; a recepção por seu pai (Geoffrey Rush) e mãe
(Emily Watson) de criação, os quais têm sua personalidade mantida semelhante ao livro, doce
e hostil - sem ser cruel -, respectivamente. Suas amizades com os meninos da rua Himmel é
exibida, e também a construção de confiança com o garoto Rudy Steiner (Nico Liersch) seu
vizinho. No entanto a carreira de furtos que começa com o roubo de maçãs por grupos de
adolescentes não é retratado, bem como o plano do jovem casal de ladrões aos pães que
seriam enviados aos padres, possivelmente por serem eventos menores, que não alterassem a
alcunha de ladra da garota, mesmo que os livros não fossem o único produto de suas
investidas.
Outro evento ao qual se pode inferir a presença de falhas é a passagem de Max (Ben
Schnetzer) pela casa e a proximidade que esse adquiriu para com a menina. O lutador judeu
chega como uma incógnita, e como uma rápida explicação sobre o porquê de estar ali. A
relutância de Rosa em recebê-lo, mesmo que breve, significativamente maior do que a
resignação de estar escondendo um judeu em sua casa presente no texto, resignação essa que
teria deixado evidente a bondade de Rosa nos momentos difíceis. Um diário ofertado pelo
lutador a Liesel, o qual é fruto de um Mein Kampf (Minha Luta) de Hitler com as páginas
pintadas de branco toma o lugar dos dois livros escritos com as páginas pintadas também por
ele, sendo estes, o Vigiador, onde relata os sonhos nos quais lutava com Hitler a noite no
fundo do porão, e a Sacudidora de Palavras, inspirado nos relatos da ladra de livros sobre as
noites em que lera para distrair as pessoas no Abrigo anti-bombas – neste trecho podemos
notar o simbolismo presente no que diz respeito à pintura das páginas do Mein Kampf, pois,
ao fazê-lo, é como dizer que o futuro pode ser mudado através das palavras, fazer o contrário
do que Hitler fez usando as palavras ao seu favor para causar destruição, e desta forma levar
esperança para as pessoas. Suas leituras na cozinha da vizinha Frau Holtzapfel foram
ocultadas no filme, bem como o suicídio de seu filho recém chegado da guerra. Receberam
mudanças na adaptação o fato de que Liesel conta o segredo de Max ao amigo Rudy; o fato de
seu pai não ter levado o acordeom ao abrigo, o que não havia feito no texto por esquecimento
na primeira vez, e superstição de seguir o padrão nas posteriores, como aparece no texto em
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oposição ao trecho em que o mesmo toca para distrair os vizinhos no filme, além do fato de as
histórias contadas pela garota no abrigo terem sido memorizadas, quando esta teria levado os
livros que roubara de Frau Hermann para lá.
Os eventos do desfecho da adaptação seguem fiéis aos fatos narrados no texto. Após a
destruição da rua Himmel, a ladra permanece como ajudante de Alex após seu retorno da
guerra, e Max também aparece e lhe dá o abraço marcante do livro. Logo em seguida a rua é
mostrada sem as bandeiras nazistas, o que indica o declínio não só de Hitler, mas de um povo
alemão que havia construído um sonho de superioridade e se vê dividido e derrotado,
humilhado por ter sua ideologia posta abaixo. Logo após a reprodução dessas cenas, a Morte
entra para finalizar o seu relato, e narra a busca de Liesel, já no auge de sua idade rodeada por
netos, seu marido e seus livros.
No filme não se observa grande destaque sobre a figura de Max, quando no texto há
uma amizade muito forte entre este e Liesel, e a adaptação cinematográfica não é capaz de
captar toda a complexidade desta relação. O que acontece entre o lutador judeu e ladra de
livros é a identificação, pois os dois sofreram a perda de sua família por conta da Guerra, e
principalmente por causa de Hitler. Sendo acolhidos pelos Hubermann – autênticos alemães –
eles sabem o que é estar à margem da sociedade e sofrer a perseguição pelo fato de serem
como são. Assim, não colegas como o filme faz parecer, mas sim amigos íntimos, Liesel se
torna os olhos de Max e sua fonte de informações e esse confia a garota todo o seu passado
até sua chegada à rua Himmel, 33.
Algumas cenas que podem parecer irrelevantes diante da complexidade da obra
merecem destaques, entre elas as queimadas dos livros, algo comum no nazismo, pois
acreditava-se que a expressão artística daqueles julgados como inferiores não caracterizavam
a alta intelectualidade, cita-se judeus, poloneses e comunistas. A breve cena que retrata a
passagem dos judeus pela cidade, evento comum na Alemanha deste período. As crianças que
eram obrigadas a idolatrar Hitler, assim como os adultos que deveriam expor bandeiras em
momento especiais. A ignorância dos jovens perante o conflito é explorada na cena em que as
crianças anunciam felizes que a Inglaterra declarou guerra ao país, explicitando a reprodução
de um sentimento de orgulho sobrea conquista sobre outros povos, dos quais saíram vitoriosos
dos embates, o que os tornava mais confiantes e orgulhosos.
Sutilmente, se comparado a outros filmes acerca do tema, é retratado o preconceito e
maus tratos aos judeus. A destruição de estabelecimentos administrados por eles e a tentativa
deles se esconderem. A discriminação aos negros também é percebida, no momento em que
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Rudy simula ser o corredor negro Jesse Owens - conhecido internacionalmente por ter
ganhado quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim - em
uma brincadeira, é censurado por um vizinho e não compreende as circunstâncias que o
levaram a ser repreendido.
Algo que poucos podem perceber é a semelhança das imagens do filme com a capa do
livro, principalmente no início, em que se mostra apenas a neve e algumas árvores, é uma
identificação visual direta, levando o espectador que por venturar já tenha lido o texto a
relembrar instantaneamente do ínicio da narrativa.
A menina que roubava livros não possui a visão mais original em relação a filmes que
retratam este período, a ênfase está no fato do autor, Markus Zusak utilizar um nível mais
poético ao retratar o fenômeno, é o fato da morte narrar a história através de um visão
romantizada que a faz diferenciada.
O filme é um olhar do século XXI, para um acontecimento do século passado, uma co-
produção entre Estados Unidos e Alemanha, e por ser algo visual e com a classificação etária
baixa, não explorou os horrores, as crianças apesar da evidente escassez estão com os rostos
bem nutridos e após o massacre da rua Himmel, todos os corpos estão intactos, apenas com
poeiras por causa do desabamento. Ressalta-se que esta obra visual possui todas as
características enumeradas pelo historiador francês Marc Ferro de filmes americanos sobre o
nazismo6.
Percebemos ao longo da sua escrita que o autor dialoga muito com a história e com a
memória, contribuindo assim para reforçar a questão de identidade presente no livro e
refletindo na obra cinematográfica. Segundo Jaques Le Goff, a memória, onde fecunda a
história e por sua vez a fortifica, procura salvar o passado para sua utilidade atual e futura. A
memória é um elemento essencial do que se chama identidade, podendo ser individual ou
coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de
hoje (LEGOFF, 1999, p.47).
6
Os filmes americanos sobre o nazismo apresentam alguns traços em comum: - o povo alemão aparece sempre
dissociado do regime; este só tem influência sobre os adolescentes ou sobre gente sem experiência; - a vontade
do povo alemão, bem como sua capacidade de resistência ao nazismo são superestimadas; - a ação sempre passa
em cidades médias ou pequenas; - o funcionamento do terror e sua ligação com o sistema são descritos a partir
do interior [...]; - nos filmes de ficção, o resultado do triunfo do nazismo é a ruptura das relações familiares e
das relações de boa vizinhança. FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo, Paz e Terra, 2001, p. 35.
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O enredo se passa por volta de 1942, percebe-se essa temporalidade por mostrar a
solução final aos judeus europeus que foi proposto por Hitler a partir deste ano. Bruno,
personagem principal, é filho de um oficial nazista que se torna Comandante e que mora com
sua família na cidade de Berlim. O garoto não sabia o ofício exato do seu pai, apenas que era
um homem importante e que o Fuhrer tinha grandes planos para ele.
As famílias de Bruno saem de Berlim para uma casa isolada, pois agora seu pai era
comandante de um campo de concentração. Ao chegar a seu novo lar, o garoto parte para a
janela do seu quarto, onde avista pessoas vestidas com roupas que lembram pijamas. A irmã
de Bruno aparece e ambos ficam pasmos com a imagem de sofrimento e medo na face
daquelas pessoas.
Como em sua nova residência não tinha nada para fazer, além de ficar lendo, o menino
decide explorar e investigar a região do campo de concentração chamado Haja-Vista, e
quando chega ao local observa de longe uma sombra, que logo se torna perceptível, de uma
criança, o judeu Shmuel que cria uma relação com o protagonista pelo resto da narrativa. A
cerca que separa os dois meninos ao longo da narrativa, segundo o autor, foi pensada em uma
situação que poderia ocorrer em qualquer lugar, em qualquer tempo, assim como atos de
extermínio em massa que não tem temporalidade específica. Segundo John Boyne, a história
mundial recente, tem existido cercas em todos os lugares do mundo e que seriam erguidas em
nome de “grandes causas”:
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GONÇALVES FILHO, Antônio. O Nazismo visto por olhos inocentes: entrevista com John Boyne. Publicada
no Jornal Folha de São Paulo no dia 27/10/2007. Disponível em:
http://www.livrariaresposta.com.br/v2/produto.php?id=2319 Acessado em 27/09/2010.
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Bruno é tudo o que Shmuel já foi um dia: livre. Shmuel é como Bruno se sente
interiormente: aprisionado, com medo, sem entender o que se passa. O que separa
ambos é uma cerca de arame farpado que traz consigo a intolerância humana, o
aprisionamento, a irracionalidade e falta de sentimento. Mas quando essa cerca é
derrubada, ambas as vidas se cruzam em um só destino. Quando Bruno decide
passar para o outro lado da cerca e usar o pijama que seu amigo Shmuel e que tantos
outros judeus utilizam, ele se torna um deles, possuindo o mesmo fim, esse,
destinado a todos. (...) No caso da narrativa, quando o menino Bruno ao atravessar a
cerca e vestir-se como um judeu para ajudar Shmuel a procurar teu pai, a sua
identidade a partir daquele momento é apagada. Ali todos são iguais, e todos terão o
mesmo fim. Bruno e Shmuel estão a procurar por pistas, quando de repente, ouve-se
o soar de apitos e ambos são arrastados por uma multidão. Shmuel acredita que eles
estão indo marchar e diz para Bruno que “quando as pessoas saem para marchar, eu
nunca mais as vejo. Pelo fato de serem pequenos, os dois são arrastados pela
multidão. Como Bruno parecia sentir o que estava prestes a acontecer, diz para
Shmuel, “você é o meu melhor amigo, Shmuel”, disse ele. “Meu melhor amigo para
a vida toda”. Ambos dão as mãos e são conduzidos para um cômodo escuro onde ali
termina a história. Depois desse acontecimento, ninguém possui notícias de Bruno
(XAVIER, 2012, p.9).
E assim termina a história de Bruno e sua família. Claro que tudo isso aconteceu há
muito tempo e nada parecido poderia acontecer de novo. Não na nossa época
(BOYNE, 2007, p.94).
Desta forma, o filme e a obra literária são ímpares no apelo da trama à inocência de
uma criança como forma necessária para o desenvolvimento e sensibilidade do tema do
Holocausto dentro da obra.
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Considerações Finais
adequado para inserir ideologias para aquele que assistem e direcionar os gostos teoricamente
particulares dos indivíduos.
A adaptação de obras literárias em filmes, praticamente garantem o seu sucesso, visto
que se baseiam na quantidade de vendas, une-se este fenômeno a exposição de atrocidades
humanas presenciadas em guerras no fenômeno mais violento do século XX, a segunda
guerra, e se tem como resultado um filme com publico garantido e grande bilheteria.
Nos dois filmes aqui apresentados, o tema central foi o conflito da guerra, o sofrimento
que ela causou nos cidadãos mais simples, uma forma de manter viva a memória acerca do
tema e de mostrar os problemas sociais do conflito bélico, nas duas obras o desfecho é
comovente, triste, sendo que seus personagens cativantes são mortos pela destruição em
massas, mesmo quando são inocentes.
Referências
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Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH: São Paulo, julho 2011. Disponível
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BOYNE, John. O Menino do Pijama Listrado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
GIRARD, René. A violência e o sagrado. São Paulo: Editora Universidade Paulista, 1990.
LENHARO, Alcir. Nazismo “O Triunfo da Vontade”. São Paulo. Editora Ática, 2007.
MEIRELLES, William Reis. O cinema na história. O uso do filme como recurso didático no
ensino de história. História & Ensino, Londrina, v. 10, out. 2004.
PERCIVAL, Brian. A menina que roubava livros. [Filme], Duração: 131 min., 2013.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 2º ed. – Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
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