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CAPÍTULO 1
Desenvolvimento
histórico
do pentecostalismo no Brasil
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Movimento Neopentecostal Brasileiro
Pentecostalismo clássico
O pentecostalismo brasileiro começou a se difundir na segunda
década do século 20 em duas regiões diferentes. O italiano Louis Francescon
estabeleceu sua base no sudeste do país. Ao mesmo tempo, dois homens de
origem sueca, Daniel Berg e Gunnar Vingren, trabalharam no norte do Brasil.
No entanto, esses missionários compartilhavam outra importante conexão
além do fato de terem ministrado durante o mesmo período no mesmo país.
Antes de se mudarem para o Brasil, eles haviam se exposto à mesma igreja,
sediada em Chicago, onde a mensagem pentecostal era pregada por William
H. Durham (Mendonça & Prócoro em Kramer, 2001, p. 17).
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A. H. Anderson, reconhecido por documentar descrições gerais, expansões e interpretações do
fenômeno mundial do pentecostalismo, entende a singularidade da implementação regional e
cita o pentecostalismo brasileiro como exemplo (Anderson, AH 2003).
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Desenvolvimento histórico do pentecostalismo no Brasil
Grupos principais
A AD e a Congregação Cristã no Brasil (CCB) são as denominações
mais visíveis que emergiram nesse período. É possível encontrar, na
fundação dos dois grupos, a infame estratégia de crescimento pentecostal
de fazer proselitismo entre os crentes das igrejas evangélicas de missão4 já
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O termo “igrejas evangélicas de missão” se refere a igrejas brasileiras de denominações
protestantes que existiam antes do século 20 e, consequentemente, do pentecostalismo.
Popularmente conhecidas como “igrejas históricas”, grupos como luteranos, batistas,
presbiterianos e metodistas se encaixam nessa classificação.
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Movimento Neopentecostal Brasileiro
Assembleia de Deus
Daniel Berg e Gunnar Vingren, de origem sueca, sentiram um
chamado do Senhor para pregar a mensagem pentecostal no Brasil. Numa
reunião de oração em South Bend, no estado de Indiana. Eles receberam
uma profecia para irem ao Pará. Sem saber a localização do Pará, logo
descobriram que era um estado do norte do Brasil. Receberam dinheiro de
um amigo para o transporte marítimo e partiram para a cidade de Belém
em 10 de novembro de 1910. Ao chegarem, foram ajudados por um pastor
batista que lhes providenciou hospedagem no templo de sua igreja. Quando
os dois aprenderam português suficiente para se comunicar, começaram a
propagar suas crenças pentecostais. Em 1911, ocorreu uma divisão entre eles
e a igreja batista, o que resultou no começo da Missão de Fé Apostólica, com
dezenove membros. Após 1914, o nome foi mudado para AD, assim como
sua denominação parceira nos Estados Unidos (Proença, 2006, p. 100).
Os missionários suecos rapidamente desenvolveram uma liderança
nativa entre os cidadãos simples e marginalizados (Freston, 1995, p. 122).
Proença (2006, p. 100) menciona que, três décadas depois da chegada
dos suecos no país, eram os brasileiros que conduziam a AD. Para dar
continuidade à expansão, a sede passou de Belém para o Rio de Janeiro,
um local de elevada migração urbana. Após 1934, missionários vieram
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A AD e CCG, pertencentes ao período clássico do pentecostalismo, experimentaram um
crescimento significativo durante a era moderna (começando em 1950 até o fim de 1970),
também conhecida como segunda onda pentecostal. Esse fenômeno de expansão tardia também
ocorreu em algumas igrejas da segunda onda pentecostal que viram um aumento significativo
no período da terceira onda.
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dos Estados Unidos para prestar auxílio, mas sua influência era limitada
em comparação com os suecos. Os missionários americanos pareciam ser
mais materialistas que seus parceiros suecos, além de ter uma visão mais
liberal das normas de comportamento pentecostais (Freston, 1995, p. 123).
Eles também enfatizavam a educação teológica, algo que a liderança sueca
e brasileira preferiu evitar, p. 123).
A AD tem crescido a ponto de se tornar o maior grupo pentecostal e a
maior denominação evangélica no Brasil. Vingren recorda que os batismos
cresceram de treze – quando o trabalho começou em 1911 – para 190 no
terceiro ano. Ele também lembra que, por volta de 1930, a AD se orgulhava
de possuir três templos e mil membros somente na cidade de Belém (em
Chestnut, 1997, p. 28-29). Por volta do mesmo período, a AD também
estava presente em todos os estados brasileiros e possuía autonomia quanto
ao controle missionário estrangeiro (Freston, 1995, p. 122).
O último censo registra quase 8,5 milhões de integrantes da AD
(IBGE, 2000). Esse número inclui membros afiliados à Convenção Geral e
uma recente divisão, a Convenção de Madureira6, que estima contar com um
terço dos seguidores da AD (Freston, 1995, p. 124). Mariano (2004, p. 123)
observa que a denominação tem se adaptado razoavelmente a uma sociedade
em mudança, o que facilita seu crescimento. Sua percepção é mais uma
avaliação da denominação como um todo, mas se mostra verdadeira diante
do contraste com a rival CCB.
O sistema eclesiástico da AD favorece a manutenção do crescimento
desejado. Uma igreja-mãe situada em local estratégico supervisiona
múltiplas congregações satélites espalhadas em uma região. O pastor da
igreja-mãe serve como bispo com autoridade máxima sobre as decisões
referentes aos que lhe estão sujeitos. Diáconos, obreiros e evangelistas
se reportam a ele e servem como plantadores de igrejas e pastores leigos
nas principais e menores congregações (Freston, 1995, p. 123). O pastor
e sua assembleia se reportam a um líder mais elevado e sua respectiva
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As igrejas da Convenção de Madureira defendem algumas características neopentecostais que
levaram à sua separação da Convenção Geral. Para mais detalhes, veja a página 58.
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Grupos principais
Embora outras denominações menores tenham surgido durante esse
período, três merecem atenção por seu crescimento, inovações e influência
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A cura divina também é a principal razão pela qual os brasileiros buscam o catolicismo popular
e as religiões afro-brasileiras. Chestnut (1997) argumenta que o pentecostalismo compete com
essas religiões como alternativa evangélica para a cura.
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O uso de salas de milagres não é exclusivo da IPDA. Geralmente, essas salas são associadas
ao catolicismo popular, atribuindo milagres a determinado santo que providenciou a cura ou a
provisão necessária.
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Esta religião afro-brasileira começou nos anos 1920, reunindo práticas e dogmas de religiões
africanas, do catolicismo e do kardecismo. Ela se espalhou rapidamente pelo Brasil nas décadas
de 1950 e 1960, o mesmo período do início e avanço da segunda onda do pentecostalismo.
A AD também experimentou crescimento significativo durante essa época. É interessante
notar que Chestnut (1997) argumenta que o pentecostalismo compete com a umbanda e outras
religiões afro-brasileiras na oferta de soluções para problemas comuns relacionados à pobreza,
tais como doenças e desemprego.
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Período neopentecostal
O final da década de 1970 prenunciou a terceira onda de igrejas,
acarretando continuidades e descontinuidades no pentecostalismo brasi
leiro (Mattos, 2002). As igrejas afiliadas a esse movimento representam
o segmento que mais cresce no evangelicalismo brasileiro (Pereira &
Linhares, 2006, p. 78). Embora o movimento da segunda onda tenha como
ponto de origem e expansão nacional a região de São Paulo, a atual onda,
neopentecostalismo, emergiu e se espalhou a partir do Rio de Janeiro com
o início da IURD. A mudança para outra megacidade se deve ao fato
dos principais colaboradores neopentecostais terem sido inicialmente
influenciados pelo pastor canadense Walter Robert McAlister da Igreja
de Nova Vida, sediada no Rio. Freston (1995, p. 130) observa que as
igrejas da IURD estão mais concentradas no Rio de Janeiro e em São
Paulo, confirmando o fato deste último não ter ido muito longe na adoção
e compartilhamento das influências neopentecostais.
É difícil determinar o número exato de seguidores neopentecostais
brasileiros, pois a terceira onda é considerada um movimento e não é
associada a uma denominação em particular. Alguns estimam que seus
adeptos representem mais de 42% da população pentecostal geral (em
Pereira & Linhares, 2006, p. 84-85). De fato, essa estimativa poderia ser
maior, uma vez que os ensinamentos e as práticas da terceira onda fluíram
para igrejas da primeira e segunda ondas, além das históricas, fazendo com
que se parecessem menos com suas denominações afiliadas e, algumas
vezes, afastando-as lentamente.
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Stålsett incluiu esta avaliação em uma coletânea de ensaios sobre o pentecostalismo global, que
contou com sua edição e colaboração. Ele fez menção à dissertação de Mariano que, mais tarde,
se tornou base para a publicação de um livro considerado referência sobre o neopentecostalismo
brasileiro (veja Mariano, 2005). Entretanto, a coletânea de Stålsett usou a manifestação brasileira
do neopentecostalismo como base para uma descrição global e, além disso, dedicou três ensaios
à IURD. Esses fatos mostram o escopo no qual o neopentecostalismo brasileiro tem interagido e
contribuído para a atual situação pentecostal global.
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Geralmente, o espiritismo se refere às religiões mediúnicas e suas práticas. No Brasil, o
kardecismo é considerado uma de suas formas mais organizadas, atraindo muitos adeptos de classes
profissionais. Religiões afro-brasileiras como candomblé, quimbanda e macumba são exemplos do
baixo espiritismo. A umbanda – que é uma a síntese das religiões afro-brasileiras citadas, além do
kardecismo e catolicismo – também se encontra em uma categoria mais popular. Embora os termos
“alto” e “baixo” possam estar relacionados aos níveis socioeconômicos dos adeptos, este não é
sempre o caso. Pessoas de classe alta também são conhecidas por buscar centros afro-brasileiros
para obter conselho e assistência em tempos de crise.
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Grupos principais
Esta seção apresenta as principais denominações associadas ao
neopentecostalismo brasileiro, embora os detalhes sejam restritos em razão
da quantidade de grupos existentes. A IURD e a IIGD são destacadas
como as duas maiores representantes. A INV também é incluída devido à
sua influência preparatória sobre as duas denominações da terceira onda
previamente mencionadas. A última seção menciona, de maneira geral, os
outros grupos classificados como pentecostais da terceira onda.
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iniciaram, em 1977, o que mais tarde seria conhecida como IURD (Mariano,
2005, p. 55; Romeiro, 2005, p. 53). Inicialmente, Soares assumiu a liderança
da igreja, mas, com o crescimento da denominação, não se achou à altura
da personalidade de seu cunhado (Mariano, 2005, p. 56). Seu eventual
desacordo com a direção da nova denominação levou ao seu afastamento em
1980. Os quinze pastores que compunham a IURD naquela época votaram,
doze contra três, em favor de Macedo assumir como novo comandante (em
Tavolaro, 2007, p. 114-115). Após perder o voto para Macedo, Soares saiu e
estabeleceu a IIGD, a que preside atualmente como líder principal.
Como denominação neopentecostal, a IIGD se assemelha doutrinária
e eclesiasticamente à IURD, porém é menos dinâmica e criativa (Fernandes
& Stefano, 2001, p. 24-25; Kramer, 2001, p. 50). Soares (2001a, p. 26)
acredita que o verdadeiro evangelho se manifesta através de milagres de
cura, libertação de demônios e outras demonstrações de poder como estas.
Romeiro (2005, p. 96-98), um estudioso da IIGD, considera Soares como
principal porta-voz e difusor da ideologia do Faith Movement (Movimento
da Fé) de Kenneth Hagin Sr. Os livros de Hagin Sr. são disponibilizados
pela editora da IIGD, Graça Editorial.
A IIGD divulga sua mensagem, imagem e líder principal através de
um forte investimento em televisão e programas de rádio. A instituição
adquire cerca de cem horas de programação televisiva por semana em redes
nacionais de televisão (Fernandes & Stefano, 2001, p. 24-25). A frequência
da presença de Soares em horários nobres da televisão e estações populares
de rádio não se iguala a nenhuma outra figura religiosa. Geralmente,
a IIGD compra espaço na televisão para levar ao ar o Show da Fé antes
das novelas populares brasileiras. A estratégia de mídia de Soares faz
dele o líder evangélico brasileiro mais assistido pela população em geral.
Geralmente, os programas apresentam um culto da IIGD que começa com
um cantor popular evangélico conduzindo a música. Normalmente, Soares
prega a mensagem e ora “em nome de Jesus” para que milagres aconteçam
entre a plateia. O culto é concluído com testemunhos da plateia sobre curas
imediatas e assuntos resolvidos. A maioria dos participantes da IIGD parece
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O capítulo 2 apresenta uma descrição mais elaborada da IURD, seus ministérios e detalhes de
seu líder principal, Edir Macedo. Esta seção apresenta com pouca profundidade a IURD como
principal grupo e catalisador no desenvolvimento histórico do pentecostalismo brasileiro.
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uma vida santificada conforme prescrita pela IURD (Macedo, 2006; Stålsett,
2006b, p. 199). A fé é manifestada através da confiança em Jesus como
Salvador, declarando as promessas de Deus e levando uma vida de sacrifício
a ele. Geralmente, o sacrifício é sinônimo de dízimos e ofertas. Macedo se
refere às contribuições financeiras como uma aposta com Deus, o “sangue da
igreja” e o meio de obter a atenção do Senhor (Barros & Capriglione, 1997,
p. 93; Macedo, 1998, p. 98; 2000, p. 68). Frases simples e constantemente
repetidas como “pare de sofrer”, “toma lá, dá cá” e “tá amarrado” respaldam
o conteúdo teológico principal.
A IURD interage com a sociedade em diversos níveis, estendendo
sua presença e fortalecendo uma reputação variada. Em suas reuniões, os
líderes da igreja confrontam religiões afro-brasileiras ao orar contra suas
entidades demoníacas e praticar exorcismos. Seus pastores também têm
avançado os limites ao criticar católicos, outros pentecostais e igrejas
evangélicas de missão. A IURD promove seus próprios candidatos
políticos locais e nacionais, que, em contrapartida, favorecem o interesse
da denominação. Macedo e sua liderança declararam “guerra santa” à
rede de televisão mais popular do país, a Globo, que tem exposto as
práticas da IURD. A insistência em pedir dinheiro, principalmente entre
os fiéis pobres, é o tema mais repetido em uma reunião regular (Furre,
2006, p. 46).
A IURD evoluiu de uma reunião de igreja periférica em uma antiga
funerária para uma denominação multifacetada. Sua mensagem e estrutura
organizacional avançaram em 1980 quando o país experimentou dificuldades
econômicas desalentadoras que levaram milhões de volta à pobreza,
tornando a ascensão social algo praticamente inalcançável (Campos, 1996,
p. 3-4). Edward (2004, p. 108) estima que a denominação tenha desfrutado
um aumento de 100 mil pessoas a cada ano, somente no Brasil. O último
censo revelou que mais de 2,1 milhões de brasileiros declararam lealdade à
IURD (IBGE, 2000). Contudo, a liderança da IURD imagina que o número
de adeptos seja muito maior, uma vez que muitos vivem em áreas pobres,
ignoradas e de difícil acesso (Tavolaro, 2007, p. 243).
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Outros
Geralmente, os pesquisadores estão de acordo sobre quais deno
minações relevantes representam o neopentecostalismo. A seguir serão
mencionados alguns grupos para demonstrar a abrangência e diversidade
do movimento. Duas denominações cujos fiéis representam mais as classes
média e alta são a Comunidade Sara Nossa Terra (CSNT) e a Igreja
Apostólica Renascer em Cristo (Iarc).
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A CSNT estima ter 100 mil membros, 900 pastores e 300 templos
(Lima, M 2000, p. 90-91). Romeiro (2005, p. 58-59) encara a doutrina da
quebra de maldição hereditária como característica principal.
A IARC atrai cerca de 50 mil seguidores por semana somente em
São Paulo e outros milhares em seus 600 templos espalhados pelo país
(Smith & Campos, 2005, p. 60; Veja, em Romeiro, 2005). A denominação
administra diversas estações de rádio, um canal de TV e uma reconhecida
gravadora. A estrela do futebol brasileiro Kaká e sua esposa foram
membros da Iarc e, por muitos anos, contribuíram financeiramente com
a denominação. A Iarc é reconhecida nacionalmente entre os evangélicos
por seu megashow anual e pela multidenominacional Marcha para Jesus,
que reúne aproximadamente 2 milhões de pessoas nas ruas de São Paulo
(Stefano, 2007, p. 26).
No entanto, a Iarc tem lutado para manter uma imagem pública
positiva sobre a responsabilidade financeira. O casal fundador e líderes
principais Estevam e Sônia Hernandes foram condenados a servir por
dez meses em uma prisão americana por causa do transporte ilegal de
56 mil dólares (Stefano, 2007, p. 24). Os escândalos públicos cercaram
a denominação quando ex-membros foram entrevistados em programas
populares de televisão, relatando a insistência da Iarc em recolher ofertas
e tomar dinheiro emprestado dos membros. Investigações judiciais e o
eventual confisco de propriedades pessoais revelaram ao público brasileiro
a suntuosa riqueza dos Hernandes (Fernandes & Santos, 2004; Carneiro,
2006, p. 35-36).
Valdemiro Santiago, ex-líder da IURD por dezoito anos, fundou
em 1998 a Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) que se encontra em
rápida expansão. A denominação afirma funcionar em mais de 500 templos
pelo Brasil. Ela também declara ter crescido mais de 200% durante o ano
de 2007 (Stefano, 2008, p. 19). Multidões lotam os 1.500 assentos da
igreja-mãe em São Paulo, onde Santiago insiste em andar entre as pessoas,
abraçando e tocando seus ouvintes. Muitos frequentadores levam fotos,
comida e objetos de uso pessoal que são colocados sobre a plataforma para
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que Santiago ore ou toque neles. A maioria dos adeptos parece pertencer
a um segmento socioeconômico mais baixo, posicionando a IMPD como
outra concorrente da IURD e da IIGD.
A IMPD enfatiza a cura e os milagres, fazendo investimentos
significativos em televisão e rádio. Romeiro (em Stefano, 2008, p. 22)
compara seu foco em curas e milagres ao da IPDA e acredita que a IMPD
continuará a crescer rapidamente por causa de sua liberdade quanto aos
requisitos comportamentais e atenção doutrinária.
Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, o surfista que se tornou pastor,
iniciou a Igreja Bola de Neve no ano 2000. É provável que Romeiro
(2005, p. 60-61) classifique este grupo como neopentecostal por ser uma
divisão da Iarc. No entanto, a denominação parece sustentar uma teologia
e conduta evangélica tradicionais, permitindo que os homossexuais
frequentem somente se estiverem dispostos a mudar para um estilo de
vida heterossexual. A linguagem do surf e a atmosfera descontraída
atraem principalmente adolescentes e jovens adultos. Essa denominação
possui 26 templos, a maior parte deles no estado de São Paulo (Pereira &
Linhares, 2006).
Sem esgotar a lista de denominações neopentecostais, algumas ainda
merecem atenção. A Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo começou em 1994
por Valnice Milhomens Coelho, ex-missionária da CBB na África do Sul.
Antes de seu início, Coelho fundou em 1987 um ministério para a propagação
dos ensinamentos da Escola Rhema, ligada a Hagin Sr. e ao Faith Movement
(Movimento da Fé) (Romeiro, 2005, p. 59). Em 1995, o ex-bispo pertencente
ao alto escalão da IURD, Renato Suhett, começou a Igreja do Senhor Jesus;
porém, nos últimos anos, voltou à IURD e, atuando novamente como pastor.
Um artigo da FU apresentou sua liderança em uma igreja afiliada à IURD
em San Cosme, México (Reinauguração [s.d.]). O ex-líder da IURD Miguel
Ângelo, também procedente da INV, iniciou em 1986 a Igreja Cristo Vive,
sediada no Rio de Janeiro. Outras denominações pentecostais incluem a
Comunidade da Graça, que começou em 1979, e a mais recente Comunidade
Cristã Paz e Vida, que foi lançada em 1996, ambas sediadas em São Paulo.
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Este termo é conhecido no Brasil como “saúde e prosperidade”.
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Neopentecostalização de igrejas
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Conclusão
A história do pentecostalismo brasileiro se divide em três períodos, ou
ondas, distintos. O período clássico, ou primeira onda, em torno de 1910 a
1950, enfatizou principalmente o segundo batismo no Espírito Santo após a
conversão, o falar em línguas e os usos e costumes. A AD e a CCB são as
maiores denominações que vieram desse período e, atualmente, são as duas
maiores denominações evangélicas do país. A segunda onda, embora construída
sobre a onda anterior, diferiu por focalizar a cura divina, mostrando um forte
interesse em demônios e exorcismo, e reduzindo os rígidos usos e costumes
na maioria dos casos. A IEQ, BPC e IPDA são os grupos mais relevantes
provenientes desse período, sendo a IPDA um grupo legalista e faccioso.
O neopentecostalismo, a atual terceira onda, começou em 1977 com
o início da IURD. A INV lançou os fundamentos para a IURD e outros
grupos neopentecostais ao introduzir alguns ensinamentos e métodos
inovadores. Embora as igrejas neopentecostais mantenham algumas
características em comum com seus antecessores pentecostais, suas
distinções incluem a ênfase na prosperidade e batalha espiritual, além do
favorecimento da redução dos usos e costumes. Outros traços consistem
no uso extensivo de canais de mídia, um modelo mais corporativo de
organização denominacional e, em alguns grupos, agressividade para
com religiões afro-brasileiras. A IURD e a IIGD são as duas maiores
denominações desse período, embora outros grupos também tenham
crescido expressivamente (ex., Iarc, CSNT e IMPD).
O movimento neopentecostal brasileiro mostra semelhanças e
interdependências com o pentecostalismo global e norte-americano. Não
obstante, demonstra suas próprias peculiaridades e distinções locais. Este
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