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François Dosse – O Desafio Biográfico

Capítulo II – A idade Heróica

O autor aponta que durante muito tempo a biografia teve por função identificar um modelo
moral edificante para educar e transmitir valores para as gerações futuras (p. 123). O gênero
biográfico em seu percurso histórico vem não só a relatar uma vida, mas também, em essência,
uma “maneira de viver”. Por conseguinte, de acordo com Dosse, em seu surgimento no período
helenístico, tal como o objetivo de Heródoto com a História, o objetivo da biografia repousaria
em impedir que os homens caíssem no esquecimento. No período Antigo, a biografia flerta tanto
com uma construção do real, quanto com a ficção – a biografia não corta suas relações com o
imaginário, ao contrário da História. A liberdade imaginativa era esperada pelos leitores. Ao
autor cabia justamente demonstrar a lição a ser aprendida, mesmo que isso significasse
“distorcer” a realidade através da imaginação.

Todavia, como aponta o autor, aos olhos da posteridade, os dois mestres da biografia seriam os
romanos Plutarco e Suetônio – em especial o primeiro, fruto de sua leitura durante a
Renascença. O método de Plutarco consistiu na comparação dupla, relacionando méritos e
defeitos de dois heróis, um grego e um romano, em sua obra Vidas Paralelas. O escritor romano
não tinha muita simpatia pela história, e salienta dizendo “Não escrevemos Histórias e sim
vidas”. Plutarco “inaugura” o gênero biográfico moralizante, heroico, no momento em que seu
objetivo se torna expressar “os traços de destaque de um caráter psicológico em sua
ambivalência e complexidade [...]” (p. 127) dos seus biografados. O romano se vê no direito de
estilizar a realidade em sua escrita a fim de que seus relatos alcancem espectros universais de
leitura. E nesse aspecto universalizante da biografia repousa a filosofia ciceriana de magistral
vitae para a escrita da vida. Esse caráter magistral é o que mantem os escritos de Plutarco
relevantes até o século XVIII (devido ao Regime de Historicidade em questão). Em poucas
palavras, o objetivo plutarquiano residiria na ambição de perpetuar as vidas dos homens através
do exemplaridade de suas condutas e o método comparativo serviria para delinear uma
característica psicológica que transcende o tempo e o local – inspirando especialmente políticos
e militares. O relato da vida seria também uma janela para se filosofar, especialmente sobre as
forças e fraquezas dos homens. Contudo, esse convite à reflexão é apenas o primeiro passo,
visto que o último consiste na imitação das virtudes expostas pela biografia – o relato se torna
gatilho pruma filosofia da ação.

Muitas das vezes, nesse processo de pintura de valores o biógrafo se questiona sobre a tensão
existente entre a virtude (virtú) e o trágico da história, a situações postas (práxis). O que fora de
fato fruto da liberdade humana e o que foi fruto da fortuna (týche). Entretanto, o que mais
importa para Plutarco é justamente o confronto entre todas essas situações, em outras palavras,
o exterior trágico e como o herói reage – deixando, em um primeiro momento, a cronologia com
pouca importância, o que já difere da casualidade do escrito histórico. O que Plutarco exalta é
em especial um número de virtudes que encontra nas vidas que narra.

A noção de herói ultrapassou décadas e sofreu sua descristianização (hagiografia), ainda se


beneficiando das concepções de indivíduos meio homens e meio deuses da Antiguidade. Essa
noção de herói leva ao extremo o embate entre o particular e o universal; até que ponto o herói
expressa suas características individuais e até que ponto exprime uma dimensão mais geral que
o ultrapassa e transcende (p. 151)?

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