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RESUMO
O objetivo deste artigo é situar a Cédula de Produto Rural-CPR dentro de seu ambiente
contratual e operacional. Para tanto, são feitas considerações acerca do ambiente
econômico que propiciou seu surgimento; a existência de papéis similares para o
financiamento de custeio e comercialização de safras; seu papel como hedging de
venda; a comparação entre os mercados a termo e futuro; o desenho dos contratos e
o processo de formação de preços.
PALAVRAS-CHAVE
CPR, mercado a termo, mercados futuros, crédito rural
ABSTRACT
The aim of this paper is to locate the Cédula de Produto Rural-CPR (an agricultural
bond issued by producers) in the contractual and operational environment. With this
objective the economical environment was considered as well the existence of similar
bonds to raise money to plant and trade crops, and the role of the bond serving as a
hedging instrument. A comparison between forward and futures market was considered
as well the design of contracts and the price formation process.
KEY WORDS
agricultural bond, forward cash contract, futures market, agricultural credit
INTRODUÇÃO
Estudar esse título na moldura institucional que o suporta é o objetivo deste artigo.
Pretende-se, adicionalmente, despertar o interesse para a modelagem de operações
que propiciem a interação da CPR com os derivativos agropecuários, aproveitando
a sinergia natural que pode haver entre esses instrumentos. Com esse intuito, o
trabalho foi dividido em quatro seções além desta introdução. Na primeira seção
foram contemplados o ambiente econômico e institucional que propiciou o
surgimento da CPR e as tentativas de se estabelecerem instrumentos que permitam
o financiamento privado das safras como, por exemplo, os contratos ANEC e o
CM-G.
250,00
cust.+comerc.
Área Plantio-Cult.Selec.
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
O cenário vivenciado pela agricultura nos anos 80 que, de certa forma, se repetiu
no início dos anos 90, foi de crescimento da produtividade, com área relativamente
constante, não obstante a escassez de crédito e a conjuntura de preços quase sempre
desfavoráveis.2
2 Sobre a situação da agricultura na década de 80 e início da década de 90, ver, por exemplo,
GONZALEZ & COSTA (1998), GOLDIN & REZENDE (1993), GASQUES & VILLA
VERDE (1990), BARROS & MANOEL (1988) e REZENDE (1988 e 1992).
É nesse cenário que, além dos instrumentos citados, surge, em 1993, o Certificado
de Mercadoria com Emissão Garantida (CM-G). Segundo Franca (1997), esse é
um título mercantil de contrato de compra e venda3 nas modalidades entrega física
futura garantida (CMFG) e entrega física disponível garantida (CMDG),
representando a garantia de entrega e a qualidade do produto negociado. Esse
título, negociado exclusivamente em bolsas de mercadorias, podia ser utilizado
pela indústria tanto a montante da agricultura, na compra de insumos, matérias-
primas e materiais de embalagem, como a jusante, na venda à vista ou para entrega
futura de seus produtos industrializados ou semi-elaborados. Era passível de
utilização também pelo produtor rural como forma de captação de recursos para o
financiamento de suas atividades.
a safra 95/96 o valor transacionado foi de R$ 65,5 milhões, para um total de 792
cédulas. Os dados disponíveis até 31/12/97 apontam que, para a safra 96/97 e 97/
97, o volume de transações atingiu a cifra de R$ 66,2 milhões, com um total de
922 operações.
Para a safra 97/98, apenas 195 CPRs haviam sido registradas. No entanto, como
os negócios com café se concentram no início de cada ano (ver Gráfico 2, seção
3.2), espera-se que essa quantidade tenha aumentado substancialmente, até porque
no início de ano ainda são realizadas CPRs de soja, outro dos contratos mais
dinâmicos. Registra-se, por fim, a existência de duas CPR de soja para a safra 98/
99, evidenciando tratar-se de operações ligadas a investimento agrícola.
4 O design da CPR previa que ela seria utilizada pelos agentes com aval de uma instituição financei-
ra e registradas na CETIP. No entanto, tem prosperado a modalidade de negociação para valida-
de entre as partes, que se constituem em acordos fechados diretamente entre o vendedor e o
comprador, sem interferência/intermediação de terceiros. Neste caso, a CPR estaria funcionan-
do meramente como um substituto para os contratos a termo anteriormente vigentes.
Por outro lado, permeando a atividade rural e afetando a decisão dos produtores,
existe a incerteza que, além da possibilidade de queda na produção devido a
fenômenos bioclimáticos, expõe os produtores a outros riscos, dos quais se
destacam: a) risco de carência de recursos para o plantio, devido ao substancial
afastamento do governo do financiamento do crédito rural. Esse afastamento
propiciou, como alternativas de suprimento de recursos, a criação da poupança
verde e, em período mais recente, a aprovação da Lei que introduziu a CPR; e b)
risco de mercado, cuja redução/eliminação pode ser alcançada via mercados futuros,
como mecanismo de hedging, ou por meio do desenvolvimento de um mercado de
opções. São instrumentos que podem ser mais eficazes para o produtor e para a
sociedade do que o sistema de AGF/EGF, pelos problemas que este apresentou ao
longo do tempo e, até mesmo, porque atualmente os recursos oficiais não atendem
aos volumes requeridos.
O risco de carência de recursos de que trata o item a pode ser amenizado pelos
instrumentos formais ou informais5 de crédito que têm surgido no mercado e que
foram tratados em parágrafos anteriores. Dentre os mecanismos listados insere-se
a CPR.
5 Sobre mecanismos informais/alternativos de crédito, ver, por exemplo, ARAÚJO & ALMEIDA
(1997) e MARQUES et alii (1997).
Por outro lado, para o risco de mercado, aqui considerado como risco de preço, os
agentes econômicos praticamente não têm buscado proteção. Conforme se vê pela
análise da Tabela 2, o volume envolvido na transação de cada commodity
agropecuária não chega, em quaisquer dos casos, a um porcentual significativo da
safra nacional respectiva. A exceção é o café, cujo porcentual atingido foi de 51,54%.
Nas bolsas internacionais é comum que o volume de transação física envolvida
equivalha a algumas vezes o giro da safra nacional da commodity respectiva. A
propósito, Souza (1994, p. 3) relata que em 1990 o volume de negociação de soja
e milho na Chicago Board of Trade correspondeu a 13,3 e a 7,4 vezes a produção
mundial anual, respectivamente.6
6 É de se ressaltar que girar várias vezes a safra nacional em mercados com alta liquidez não
constitui surpresa. A mecânica usual de operação nesses mercados é a liquidação de um contrato
por meio de uma operação inversa. Nesse caso, para uma única operação de hedging existirão
dois contratos. Entrando-se e saindo-se do mercado várias vezes, o número de contratos (com
seu equivalente em produção) cresce significativamente.
7 O cross-hedging refere-se à proteção de uma posição por meio de uma commodity diferente da-
quela mantida no físico, porém com preços relacionados. Por exemplo: porco e milho.
Dessa forma, cumpre entender as interações que a CPR pode manter com os
mercados futuros e de opções e a resposta que o mercado vem apresentando em
sua utilização. À realidade que se observar, talvez seja o caso de acrescentar, ao
instrumento, características que aumentem sua atratividade e que permitam a
atração de investidores interessados em aplicar seus recursos em commodities
agropecuárias. Investidores externos certamente não têm interesse no recebimento
dos produtos comercializados. As alternativas passam, então, pela eliminação da
possibilidade de recebimento do produto físico. Essa possibilidade dar-se-ia pela
existência de um mercado secundário movimentado ou, até mesmo, pela
possibilidade de a CPR poder ser liquidada com base em indicadores de preços,8 a
exemplo dos contratos futuros das commodities agropecuárias que hoje são assim
referenciados.
8 Enquanto se pensava nessa alternativa, BRANCO (1997, p. c7), em artigo na Gazeta Mercantil,
estampava uma reportagem intitulada A moeda do campo sai do forno, onde dá conta que a
Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&F) prepara o lançamento de uma modalidade de CPR
com opção de liquidação financeira, podendo ser esta a solução para a escassez de mecanismos
de compra e venda futura da safra, conforme acredita a reportagem.
2. O MERCADO A TERMO
9 Um aspecto que certamente deve ser considerado é a questão cultural. Um trabalho educativo
mereceria ser levado a efeito, instrumentalizando os produtores rurais a lidar com essa nova
realidade que lentamente chega ao campo. No caso específico da CPR, duas são as variáveis
principais: a) apreender o sentido e aferir a adequação dos deságios praticados em relação ao
preço futuro, uma vez que a renda da produção vendida é recebida de imediato; b) na avaliação
do preço praticado na época da colheita, comparar esse valor não com o valor nominal obtido na
época de emissão da CPR, mas, sim, com esse valor, acrescido dos custos financeiros projetados
até a data normal de comercialização, acrescido do custo de oportunidade de ficar sem plantar a
safra.
10 Do ponto de vista específico de qual o preço justo, ajudaria muito a elaboração e divulgação
de modelos preditores de preços ou, alternativamente, alguma forma de liquidação financeira do
título. Além disso, como os produtores rurais são tomadores de risco em potencial (sempre têm
a esperança de que o preço vai subir), a CPR poderia, ainda, ser transformada em título pós-
fixado, do ponto de vista do preço praticado.
Nesta seção tratar-se-á dos mercados a termo. No entanto, como há uma estreita
relação com os mercados futuros, também serão abordados aspectos que os
diferenciam. Para Leuthold et alii (1989, p. 25), contratos futuros e a termo são
acordos entre duas partes para entregar ou receber um bem ou serviço particular em uma
data futura por um dado preço. Ou seja, ambos expressam a performance
contratualmente diferida e especificam os principais termos contidos no mesmo. A
natureza básica de ambos é que certamente empresta a possibilidade de confusões
conceituais.
A principal diferença entre os dois tipos consiste no fato de que nos contratos
futuros trabalha-se com uma determinada commodity como referencial, não se
estando interessado no recebimento ou entrega do produto físico em si, apenas em
seus movimentos de preços, os quais vão balizar as decisões estratégicas dos agentes
que têm como negócio (venda ou compra) a mercadoria objeto do contrato futuro.
Os contratos a termo podem ter seus preços fixados de várias formas.11 Para
Marshall (1989, p. 25), os preços futuros são estabelecidos no momento em que
se firma o contrato, podendo ser estabelecidos na forma de preço fixo por unidade
ou referenciado em uma commodity relacionada em algum outro mercado. 12
Segundo a experiência daquele autor, não é incomum que o contrato a termo para
uma dada qualidade de trigo seja vinculado à qualidade padrão comercializada no
mercado futuro.
Ainda com relação às diferenças entre contratos a termo e futuros, uma entidade
com atuação fundamental na liquidez do mercado e na integridade das transações
é a Câmara de Compensação (clearinghouse). Segundo Leuthold et alii (1989, p.
37), a Câmara de Compensação é responsável por: a) fazer a compensação das
transações ocorridas; b) assegurar a integridade financeira das transações; e c)
propiciar os meios para a liquidação física (quando for o caso).
15 EDWARDS, Franklin R. The Clearing Association in Futures Market. The Journal of Futures
Markets, v. 3, n. 4, 1983.
As características dos contratos a termo e futuro são muitas vezes semelhantes, até
porque estes últimos derivaram-se dos primeiros. A maior divergência entre ambos
se dá em nível de facilidade de se encerrarem as posições, permitindo que terceiros
agentes participem do mercado. Por não estarem interessados no produto físico,
os especuladores, desde que não tenham que receber o produto, vão tomar riscos
de variações de preços, sempre na esperança de obterem lucros. Com esse
procedimento aumentam a liquidez do mercado, tornando-o mais atrativo para os
vendedores e compradores da mercadoria spot (hedgers).
Para esses autores, contratos a termo com preços fixos não apresentam risco de
base, existindo com o propósito da entrega física a um preço já fixado, com
qualidade e local de entrega também já definidos. Esses elementos podem diferir
das especificações dos contratos futuros. Estes últimos oferecem flexibilidade e
liquidez para se desfazer posições, com reflexos nos custos de transação, nos prêmios
e nos custos de pesquisa. Embora divergentes, os contratos futuros e a termo
freqüentemente coexistem para muitos bens e serviços.
17 Base é a diferença entre o preço à vista da mercadoria e o preço futuro. Quando se aproxima o
mês de vencimento de um contrato futuro, o preço futuro converge para o preço à vista do
objeto de negociação.(HULL, 1996, p. 24) A não convergência entre esses preços provoca o
que é chamado risco de base.
O primeiro dos problemas causou prejuízos a muitos produtores, mercê dos altos
descontos praticados e, na realidade, da pouca habilidade exibida para mensurar
os reflexos dos deságios assumidos. Há ainda que se considerar que nos contratos
a termo o deságio tende a ser ampliado em relação ao mercado futuro, pois maior
é a incerteza no momento da formação do preço. Aqui, uma das causas que
permitem a prática de altos deságios é o fato de os mercados a termo não se
constituírem em bons difusores dos preços praticados, uma vez que os preços
acordados têm caráter particular, circunscrevendo-se aos dois agentes intervenientes
(comprador/vendedor). No caso específico da CPR, esse problema é atenuado,
uma vez que muitas das transações são levadas a efeito por meio de leilões
eletrônicos e também porque os títulos são registrados na CETIP (Central de
Custódia e Liquidação Financeira de Títulos).
Além disso, como os contratos a termo exibem dificuldades para ser trocados de
mão, pelas especificidades que os cercam (não padronização, data específica de
entrega, entrega e liquidação financeira no final), a formação de preços entre os
intervenientes se dá de uma forma mais rígida, até mesmo pela dificuldade de
existência de mercado secundário. Fica-se vinculado à operação até o vencimento.
A falta de especuladores que tomem o risco dos hedgers faz com que o mercado
secundário deixe de existir ou tenha pouca liquidez, justamente pela falta de
parceiros.(BESSADA, 1995, p. 98/9)
Ligado a essa questão, Nuevo (1996, p. 29) cita que, para Lopes,18 os maiores
problemas que devem ser saneados no mercado primário e que impedem o
desenvolvimento do mercado secundário de títulos lastreados em produtos agrícolas
são: falta de qualidade e tecnologia nos serviços de armazenagem; o fato de os
contratos de depósito não serem equilibrados na preservação dos direitos dos
depositantes e depositários e a falta de fiscalização dos armazéns gerais por parte
das juntas comerciais, levando a práticas lesivas ao interesse dos depositantes de
produto.
Como visto na primeira seção, a CPR teve sua origem fortemente influenciada
pela crise fiscal iniciada em princípios da década de oitenta, a qual se alastra, a bem
19 Assim como serve ao produtor como proteção contra a baixa nos preços, serve, também, como
hedging de compra para a contraparte. Se os preços se elevarem, o comprador do produto estará
protegido.
dizer, até os dias atuais. Um dos componentes dessa crise foi a redução dos recursos
financeiros destinados ao crédito rural, obrigando os agentes privados a buscar
formas alternativas de financiamento de suas atividades.
Para Nuevo e Marques (1996, p.626), uma das principais vantagens da CPR em
relação aos instrumentos de financiamento informais como o contrato de soja verde
e as operações troca-troca reside na diminuição dos custos de transação, ou seja,
nos custos de operacionalização e formalização do negócio, das averbações das
garantias hipotecárias e pignoratícias e dos custos de fiscalização das lavouras
implantadas.
A CPR (BRASIL, 1994; NUEVO, 1996) é uma cambial, criada pela Lei nº 8.929,
de 22/08/94, mediante a qual o emitente - produtor rural e suas associações,
inclusive cooperativas - vende a termo sua produção agropecuária, recebe o valor
da venda no ato da formalização do negócio e se compromete a entregar o produto
vendido na quantidade, qualidade e em local e data estipulados no título. Pode ser
emitida para validade entre as partes (vendedor/comprador) ou pode ser garantida
por uma instituição financeira.
Por outro lado, no ato de sua emissão, o preço é travado, gerando vantagens se o
preço cair na época que seria natural a comercialização do produto, ou seja, como
o preço foi fixado ex ante a CPR torna-se, então, um instrumento de hedging contra
oscilações para baixo, aumentando a receita do produtor (num cenário de preços
No cenário de altas taxas inflacionárias, que vigorou por muitos anos no Brasil, a
demanda dos produtores rurais sempre foi pela existência de financiamentos em
equivalência-produto. A CPR cumpre esse papel. É um financiamento referenciado
em produto, possibilitando ao produtor dimensionar seus custos na moeda cujo
domínio lhe é estritamente familiar.
Não obstante, como a CPR pode ser emitida pelo produtor rural e suas associações,
inclusive cooperativas (BRASIL, 1994, Art. 2º) o alcance de seus benefícios vai
atingir mais diretamente o segmento produtivo de produtos in natura, inibindo
a realização de negócios com os agentes que se situam a jusante da agricultura, ou
seja, os beneficiadores e industriais não pertencentes a associações ou cooperativas
de produtores.
Para se avaliar a utilização da CPR pelo mercado, duas são as principais fontes de
dados: o Banco do Brasil, por ser o principal agente intermediador de operações
com CPR, e a CETIP, por ser o órgão onde os títulos são registrados.
Com relação aos dados do Banco do Brasil (ver Tabela 3), foi possível a obtenção
de seus registros desde o início das operações, em 1994, com posição em 31/12/
20 Sobre liquidação financeira ver, por exemplo, ROCHELLE (1997) e MARQUES & MELLO
(1997).
97. Os referidos dados estavam disponíveis por produto, por safra e por Unidades
da Federação.
Por outro lado, os dados que se conseguiu obter da CETIP são dados que
contemplam o estoque semanal de CPR e não o número de títulos registrados,
como seria desejável. Além dessa limitação, os dados não cobrem todo o período
de existência do título, permitindo apenas a verificação dos dados compreendidos
entre 29/06/96 e 29/12/97.
Pela análise dos dados da CETIP pode-se determinar, para alguns contratos, o
número de negócios realizados, enquanto que para outros (Tabela 4) só podem ser
feitas inferências. No primeiro grupamento percebe-se a existência de CPRs não
contempladas nos dados do Banco do Brasil, como, por exemplo: açúcar cristal,
com 331 CPRs; tomate, com 12 negócios, além de trigo e batata-semente, com 1
título cada. Além disso, o número de CPRs de algodão registrado no período
citado é de 77 negócios, contra 3 observados nos números do BB.
Pelos dados do Banco do Brasil houve apenas 21 negócios envolvendo boi gordo.
Esse é um segmento de mercado futuro bastante ativo em termos de Brasil. Porém,
pelos dados da CETIP relativos a 90 semanas, o estoque de CPR de boi gordo
situou-se em nível superior a 30 operações durante 44 semanas, tendo, inclusive,
alcançado a marca de 40 CPR em estoque na posição semanal de 07/02/97. Isso
indica que outros agentes financeiros além do BB estão atuando no aval dessas
CPRs, o que é salutar para o desenvolvimento do título como instrumento
alternativo de captação de recursos e proteção de preços.
Produtob Qtd. Física Média Qtd. Média Nº Obsd Qtd. Física Nº CPR
Média (t) Ponderadac CPRs 03/11/97 03/11/97
cana-açúcar 7.148.177 7.418.115 76 44 5.061.386 44
boi gordo 2.257 2.362 29 75 1.370 22
café arábica 4.509 9.123 153 72 1.848 53
soja 151.745 273.229 223 84 53.743 135
Fonte: CETIP
(a) 90 observações semanais. Foram utilizadas nos cálculos apenas as observações não repetidas em
relação ao estoque de CPR;
(b) produtos mais dinâmicos em movimentação de títulos (posição dominante em 29/12/97);
(c)quantidade física ponderada pelo estoque de CPR;
(d) número de observações por número de estoque não coincidente de CPR.
Com relação ao café, pode-se dizer, também, que a escassez de recursos oficiais de
financiamento fizeram com que o produto fosse bem aceito (sempre em comparação
com o total de negócios realizados). Contribui para a aceitação da CPR, por parte
desse segmento, o fato de o café constituir-se, no contrato futuro agropecuário, o
de maior movimentação (Tabela 2), incluindo até mesmo a existência de
negociações com opções.
Embora o volume financeiro global dos negócios com soja supere o valor relativo
às operações de café, deve-se registrar que para a safra 97/98 o valor relativo à soja
alcançou R$ 14,82 milhões, enquanto o valor para o café totalizou R$ 34,02
milhões, mostrando um crescimento porcentual de 372% em relação à safra anterior.
Na análise da Tabela 4 percebe-se que os quatro produtos ali indicados são os mais
dinâmicos em termos de negociação com CPR. Das 90 semanas que compõem o
universo de informações fornecidas pela CETIP, a cana-de-açúcar apresenta
movimentação em 44 semanas; o boi gordo em 75; o café arábica em 72 e a soja,
líder de movimentação, teve seu estoque alterado em 84 oportunidades das 90
possíveis, indicando, pela constância na negociação, estarem ocorrendo negócios
que transcendem a obtenção de recursos unicamente para plantio.
800
CAFÉ
700 SOJA
600
500
400
300
200
100
0
29/02/96
21/03/96
30/04/96
21/05/96
11/06/96
16/07/96
06/08/96
27/08/96
17/09/96
08/10/96
04/11/96
25/11/96
16/12/96
06/01/97
27/01/97
17/02/97
10/03/97
31/03/97
18/04/97
12/05/97
02/06/97
23/06/97
14/07/97
04/08/97
01/09/97
22/09/97
13/10/97
03/11/97
24/11/97
15/12/97
Fonte: CETIP.
Além da deficiência dos dados, há que se registrar que, de acordo com a lei, a
exigência de que a CPR seja registrada em sistema de registro de liquidação
financeira (BRASIL, 1994, Art. 19) é válida apenas para os negócios realizados
em bolsas e em mercados de balcão. Se a transação se der de forma privada e
fechada entre vendedor e comprador, o registro não se torna necessário e, assim, as
informações se perdem, não sendo possível identificá-las. Segundo Machado
(1997), principal idealizador da CPR, uma única trading com atuação no País
teria realizado cerca de 100.000 CPRs de soja na última safra sob a modalidade
fechada, para validade apenas entre as partes vendedora e compradora.
A CPR, por ser um contrato a termo, exibe a característica de ser um título taylor
made, ou seja, pode ser feita sob medida segundo a confluência dos interesses
exibidos pelo vendedor e pelo comprador. Além dessa característica de
ajustabilidade a cada caso, ela pode ser também transacionada por meio de contratos
padronizados. A padronização exibe a vantagem de extrapolar a relação particular
vendedor/comprador com a correspondente necessidade de, a uma dada mercadoria
com uma dada qualidade e preço, encontrar um comprador exatamente com esse
desejo de compra.
Além disso, a padronização pode expandir os canais de absorção dos títulos, fazendo
com que os investidores e/ou tomadores de risco se interessem pelo instrumento e
entrem no mercado, aumentando a liquidez e dando vazão à potencial oferta,
permitindo ao campo o financiamento privado de suas necessidades e a
comercialização antecipada. As CPRs intermediadas pelo BB são todas
padronizadas.(BANCO DO BRASIL, s/d, b)
Do ponto de vista contratual, pode acontecer com a CPR o mesmo que ocorre
com alguns contratos futuros, ou seja, alguns contratos têm êxito, outros não.
Dessa forma, quando do lançamento de nova modalidade de CPR seria interessante
incorporar aos estudos de viabilidade as condições subjacentes ao sucesso. Parece
que o tamanho do mercado físico e seu grau de atomização seriam variáveis
importantes. Além disso, outro item fundamental seria a verificação de se o produto
a ser lançado em CPR possui sinalização de preços futuros forte. Quanto melhor a
sinalização, menores seriam os problemas de descolamento do preço praticado em
relação ao preço de mercado (e, conseqüentemente, mais ajustado seria o deságio).
21 Na esteira da criação da CPR com liquidação financeira, a BM&F intenta, também, a criação de
um Fundo de Investimento Financeiro, composto por, no mínimo, 51% de contratos agrícolas,
para dar sustentação ao crescimento do mercado.(BRANCO, 1997, p. c7)
22 CARLTON, D.W. Futures markets: their purpose, their history, their growth, their sucess and
failures. The Journal of Futures Markets, v. 4, n. 3, p. 237-271, 1984.
23 Para que o custo de produção expresse de forma mais fiel possível a realidade dever-se-ia conside-
rar um certo porcentual como risco de quebra de safra, pois havendo quebra os custos unitários
se elevam.
Além dos custos de produção, viu-se acima que o ponto de partida é a utilização de
um preço sinalizado pelo mercado futuro da commodity. Para se participar de um
mercado de CPR, assim como de um mercado futuro, é crucial o processo de
descobrimento do preço (price discovery). Os preços agrícolas são descobertos no
mercado por meio da interação dos movimentos de oferta e demanda. A oferta de
um determinado produto é composta pela safra corrente prevista mais os estoques
remanescentes de safras anteriores. A demanda, por sua vez, leva em conta os
principais agentes consumidores do produto, seu nível de demanda, oferta de
produtos substitutos, nível de renda da população, hábitos de consumo, preferência
dos consumidores, taxa de câmbio etc.
Ocorre, porém, que na agricultura o elo mais frágil tende a ser o produtor. Assim
é que os encargos financeiros embutidos pelos compradores dos produtos na
formação dos preços (deságios praticados em relação ao preço futuro) tem se
constituído em elemento inibidor à formalização de CPRs, estimulando os
produtores a realizar operações de custeio convencional.(BANCO DO BRASIL,
s/d, c, p. 3)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A CPR pode ser emitida para validade entre as partes, como uma operação fechada
entre o vendedor e o comprador, ou pode ser garantida por uma instituição
financeira, mediante aval. A partir dos dados do Banco do Brasil e da CETIP,
apresentados ao longo do texto, percebeu-se um crescimento significativo das
transações com CPR, principalmente para os segmentos de café e soja. No entanto,
tais negócios atingem um pequeno porcentual das respectivas safras, indicando a
necessidade de aprimoramento do instrumento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agradecemos ao Prof. João Gomes Martines Filho, da ESALQ/USP, por sugestões a uma primeira
versão deste trabalho e ao parecerista anônimo da Revista pelas sugestões apresentadas.
(Recebido em fevereiro de 1998. Aceito para publicação em dezembro de 1998).