Sei sulla pagina 1di 2

Um evangelho marginal: desafio e oportunidade para uma renovada teologia política

Na reunião plenária da Congregação para a Doutrina da Fé do passado 27 de Janeiro, o então papa


Bento XVI fazia notar como “em vastas áreas da terra, a fé corre o risco de se apagar como uma
chama que não encontra alimento. Estamos perante uma profunda crise de fé, uma perca do sentido
religioso que constitute o maior desafio para a Igreja. A renovação da fé deve portanto tornar-se a
prioridade do empenho da Igreja inteira nestes dias…: tornar Deus novamente presente neste
mundo”.
A análise da situação deste “mundo que se tornou adulto” (Bonhoeffer), marginalizando Deus, a
religião, a prática cristã a facto meramente privado, é algo que já faz parte da nossa vida. Quem
ainda não ouviu falar de secularização, globalização, sociedade liquida, cultura light, pós-moderno
etc.? Páginas e páginas já formas escritas, e devemos reconhecer que a análise está bem feita, a
diagnóstica está cientificamente mapada, os pormenores não fugiram ao atento olhar dos analistas.
A quaestio doente é mais ou menos a seguinte: devemos limitar a acção missionária-evangelizadora
ao reduzido espaço do intimístico privado no qual hoje é ainda possivel, ou temos a todo custo um
dever político? Se, teoricamente, os evangelizadores admitem a vertente política como essencial ao
bom anúncio, na prática assistimos a uma sempre mais evidente tensão-tentação centrípeta no
desenvolvimento da acção pastoral.
Esta foi originariamente a causa mais profunda da crise da fé do povo de Israel: na passaggem do
nomadismo ao estancial, da tenda ao templo, do caminho no deserto à paragem estática…
consumou-se a traição mais antiga e sempre nova da política histórico-salvífica de Deus. Se
quisessemos ser realístas, de um ponto de vista teológico, deveriamos enfrentar o drama da pergunta
mais assustadora: será que a Gloria-Presença (Shekinah de IHWH) está propriamente no lugar na
qual a procuramos?
Eis que na marginalização do facto religioso, na perseguição sutil mas constante actuada pelo
mundano-líquido contra o espiritual, no desmoronamento das catedrais, na hemoragia de cristãos,
na redução da prática sacramental a algo de terapêutico (um pouco de açucar na dura amargura da
vida…para aguentar melhor!), nisso e noutros fenómenos poderiamos ver, com o profeta Ezequiel,
a saida da Shekinah que antecipa a destruição do templo e a deportação do povo.
Não seria esta porém a conclusão do discurso, mas a abertura de uma reflexão mais atenta à
dinâmica política que se pode desencadear como grande oportunidade. Embora não faltem na Igreja
considerações pessimistas e desesperadas, quem acredita sabe que sempre há Aquele que tudo
governa e que tudo providencia.

Empurrado às margens, o Evangelho encontra os marginalizados; destruido o templo, voltamos nas


tendas (Domus Ecclesiae); descongestionados os sacramentos, celebramos o Sacramento.
Claro que uma pasqua deste tipo não se celebra rapidamente, nem é dado saber se a actual geração
“post” (pós-modena, pós-conciliar, pós-bélica, pós-industrial) saberá interpretar o desafio capaz de
fazer dela a geração do renovamento político-evangélico a partir das periferias, das margens, das
deslocações.
Parece que o papa Francisco tenha escolhido para o seu serviço a terivel postura da cruz, plantada
fora da cidade, num sítio marginal (só um lugar marginal pode chamar-se “Golgota”!), sinal
inequivocavel da política de Deus; o nome de Francisco, itinerante com estigmas, tendo na boca e
no corpo um Evangelho sine glossa. Parece estar pronta a sua primeira encíclica, um grupo de
cardeais deve trabalhar para renovar o palinsesto vaticano... o que interessa é a forte indicação a
deslocar-se para as margens da cidade e da sociedade, para anunciar o Evangelho aos pobres (cf.
Omelia da Quinta-feira Santa, missa crismal).

Seria superficial pensar que esta passagem epocal diz respeito ao mundo ocidental. Os sinais dos
tempos maduros são evidentes também em Moçambique, onde já assistimos a não esporádicos

1
fenómenos de desintegração do tecido cultural e spiritual, onde as novas gerações dedicam-se à
política do bate-papo e a Igreja está a cair na tentação do centripetismo.

A política do evangelho é marginal, se aprossima ao que foi abandonado meio morto à margem, à
beira do caminho, cresce com trinta anos de silêncio numa aldeia marginal (Nazaré) da qual nada de
bom se espera possa vir, banqueta com publicanos e pecadores anunciado-lhes a proximidade de
Deus, deixa as mulheres entrar no seu discepolado e morre crucificado no meio de dois terroristas-
ladroes.
A política do Evangelho chama-se “serviço”, lava os pes, factura ao negativo, sae a perder, derrama
o oleo da consolaçao e o vinho da esperança, fica com maos furadas mesmo se resuscitado e chama
tudo isso de amor. É fermento na massa, sal que salga e que salgando se perde, luz que faz luz aos
outros e não a si mesma. Por isso é que o Evangelho é marginalizado na vida, e esta marginalização
as vezes é favorecida pela religião, como o culto no templo marginalizava Deus da vida diária.

Repensar a política cristã segundo a sua costituição evangélica e revisitar as suas possiveis
declinações é nosso dever e nosso prazer! Invoca esta reflexão e este discurso aquele cristianismo
sem evangelho (coisa inventada pelos Gálatas, embora de facto impossivel), não cativante, não
salvador. Esta política do evangelho marginal é decisiva tambèm para o nosso humanesimo
deprimido, que necessita reencontrar o sentido da vida, para um renovado gosto do simples e fresco,
para um equilibrado sentido crítico frente do tecnológico e produtivo. O Mundo inteiro precisa
desta política evangélica: do sorriso de Deus capaz de abrir um futuro de esperança. Pois este é de
facto a política do evangelho de Deus: o seu sorriso para a vida do homem no mundo.

Potrebbero piacerti anche