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FACCREI/ FACED

APOSTILA DE TRABALHO

ECONOMIA

Professora Josiane Luiz

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1. CONCEITOS GERAIS DE ECONOMIA
O objetivo geral deste capítulo é fornecer aos alunos os conceitos básicos do estudo da
economia, ressaltando o principal objetivo de estudo desta ciência, ou seja, o estudo da escassez.

1.1. O objeto de estudo da Ciência Econômica

A Economia é uma ciência social. Diferentemente das ciências biológicas ou da física, na


economia não é possível realizar experimentos controlados em laboratório. Não é possível, por
exemplo, fazer um experimento para verificar os impactos da elevação da taxa de juros na economia
brasileira, ou ainda verificar quantos milhões de pessoas irão se tornar pobres se o governo deixar de
criar programas sociais. Neste sentido, como afirmam Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p.
05), a ciência econômica necessita de tempo para desenvolver observações, a fim de serem utilizadas
como evidências no teste de hipóteses sobre o comportamento dos fenômenos econômicos.
Dizer que a economia é uma ciência social significa dizer que ela repousa sobre os atos dos
seres humanos, e apesar da tendência das previsões econômicas serem cada vez mais precisas, é
impossível se fazer análises puramente frias e numéricas e com 100% de acerto, isolando as complexas
reações do homem no contexto das atividades econômicas. A economia é uma ciência social por
ocupar-se do comportamento humano, estudando como as pessoas e as organizações na sociedade se
empenham na produção, troca e consumo de bens e serviços.
A economia é uma ciência muito abrangente, e pelo fato de lidar com os atos dos seres humanos
acaba se fundindo com outras ciências. Desta forma, a economia é uma ciência estritamente
relacionada com a política, com a história, com a geografia, com a sociologia, com a matemática e com
a estatística, dentre outras do campo das ciências sociais.
Paul Samuelson (apud PINHO & SANDOVAL DE VASCONCELLOS 1998, p. 09) expõe que a
economia “é uma ciência social que procura estudar a administração de recursos escassos entre usos
alternativos e fins competitivos”. Sintetizando o que foi exposto até o momento, Sandoval de
Vasconcellos (2002, p.21) expõem que a “Economia pode ser entendida como a ciência social que
estuda como o indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de
bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade
de satisfazer às necessidades humanas”.

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Assim, para se compreender o foco de estudo da economia é necessário entender primeiramente
o conceito de bens escassos, tópico a ser abordado em seguida.

1.2. Noção de escassez

O significado da palavra escassez de acordo com o dicionário Aurélio é: Escassez - qualidade


de escasso; pouca abundância. Falta, míngua, carência, privação. Sandroni (2001, p. 211) afirma que
escassez, em termos econômicos, surge da idéia de que as necessidades humanas são infinitas, porém
os bens e os meios para satisfazer tais necessidades são limitados, ou seja, finitos. E neste confronto
entre necessidade e disponibilidade de recursos que surge o conceito de escassez. Assim, quanto
maiores as necessidades por um determinado bem, visto que a disponibilidade deste bem é limitado,
maior será a escassez deste item na economia. Assim, a partir deste conceito geral de escassez, o que se
pode notar e que nada na natureza existe em infinita abundância.

Figura 1 – Origem da escassez

Se as coisas da natureza não fossem escassas, ou seja, existissem em plena abundância, não
faria sentido em se preocupar com desperdícios ou com o uso irracional das coisas. Assim, por
exemplo, se a produção de carvão ou de petróleo fosse infinita, não haveria com certeza a necessidade
de se preocupar com o seu uso e com a busca de novas jazidas e novas fontes destas matérias primas ou
ainda com formas renováveis de energia. Se a água fosse para toda a vida, não haveria, como há
atualmente, a preocupação em se utilizar maneira correta e preservada esta valiosa fonte de vida.
Tem-se, portanto, duas forças contrárias agindo na economia. Enquanto os recursos e materiais
utilizados na produção dos bens são escassos (limitados), a busca pela satisfação das necessidades

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humanas é ilimitada. A partir destas duas forças contrárias que se pode entender o significado do
conceito de escassez.
Segundo Troster & Mochón (2002, p. 04) uma necessidade “é a sensação de carência de algo
unida ao desejo de satisfazê-la”.
Reunindo os conceitos apresentados até aqui, resumidamente a escassez surge:

(...) em virtude das necessidades humanas ilimitadas e da restrição física de


recursos. Afinal, o crescimento populacional renovas as necessidades básicas;
o contínuo desejo de elevação do padrão de vida (que poderíamos classificar
como uma necessidade “social” de melhoria de status) e a evolução
tecnológica fazem com que surjam “novas” necessidades (computador, freezer,
vídeo, CD, etc). Nenhum país, mesmo os países ricos, são auto-suficientes, em
termos de disponibilidade de recursos produtivos, para satisfazer a todas as
necessidades da população (SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002, p.
21).

Detalhando o conceito de economia de Paul Samuelson visto anteriormente, tem-se mais


detalhadamente:
a economia é uma ciência social: pois se preocupa e se baseia em atos dos seres humanos;
que procura estudar a administração de recursos escassos: administrar qual a melhor aplicação
dos recursos limitados que proporcionem uma melhor “satisfação” das necessidades humanas;
entre usos alternativos e fins competitivos: os recursos escassos podem ter diversos fins e
muitos deles competitivos, como por exemplo, a cana de açúcar, que pode ser utilizada tanto
para a produção de açúcar, como para a produção de álcool para a locomoção de automóveis.
Segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 13), conceitualmente, as necessidades
humanas podem ser entendidas como qualquer “manifestação de desejo que envolva a escolha de um
bem econômico capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo”.
Estas necessidades não são estáveis e não são iguais para todos os indivíduos de uma sociedade. Elas se
renovam dia a dia (são mutáveis) e se diferem entre as pessoas, como, por exemplo, gostar de comer
fígado.
Neste sentido, se o objetivo é o de atender ao máximo as ilimitadas necessidades da população e
se os recursos são limitados, então a administração desses recursos tem que ser feita de maneira
cuidadosa, econômica, racional e eficiente. Em outras palavras, temos que “economizar” recursos. A
economia é, portanto, o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes.

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O que é importante frisar, portanto, sobre a Ciência Econômica é: que seu objeto é o estudo da
escassez e de como a partir desta limitação de recursos podem-se criar bens econômicos (ou seja, bens
gerados a partir da utilização de recursos limitados); e que por se basear em atos dos seres humanos, se
classifica entre as Ciências Sociais.
A seguir são apresentados os problemas econômicos básicos que surgem a partir do conceito de
escassez.

1.3. Os problemas econômicos básicos

Assim como aponta Pinho & Sandoval de Vasconcellos (2002), Sandoval de Vasconcellos
(2002), Troster & Mochón (2002) e todos os outros manuais de economia introdutória, o problema da
escassez cria quatro problemas econômicos básicos, dentre eles: O QUE, QUANTO, COMO, e
PARA QUEM produzir? A partir dos conceitos expostos acima, fica claro que se os bens e recursos
não fossem escassos, estes problemas não existiriam. Todavia, na realidade existem ilimitadas
necessidades e limitados recursos disponíveis e técnicas de fabricação. Baseada nestas restrições, a
Economia deve optar dentre os bens a serem produzidos e os processos técnicos capazes de transformar
os recursos escassos em produção.
Assim, a Economia é uma ciência ligada ao problema da escolha. Somente devido à escassez
de recursos em relação às ilimitadas necessidades humanas que devem ser atendidas é que se justifica a
preocupação de utilizá-los de forma mais racional e eficiente quanto possível.

Figura 3 – Os problemas econômicos básicos

Necessidades ilimitadas
O QUE produzir?
X QUANTO produzir?
Escassez  ESCOLHA 
COMO produzir?
Disponibilidade recursos PARA QUEM produzir?
limitados

Fonte: Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 22).

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Uma forma de representar este problema de escolha existente a partir do conceito de escassez e
a partir da curva de possibilidades de produção (ou curva de transformação). Esta curva permite,
de maneira simplificada e limitada, exibir as possibilidades de combinações de produtos a serem
gerados. Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 28), esta curva representa a “(...) fronteira
máxima que a economia pode produzir, dados os recursos produtivos limitados. Mostra as alternativas
de produção da sociedade, supondo os recursos plenamente empregados”.
Para exemplificar, de modo ilustrativo, supõem-se uma economia com apenas dois produtos
(camisas e carros). A tabela a seguir mostra as possibilidades de produção destes dois itens.

Quantidade Quantidade
máxima de Possibilidades intermediárias máxima de
BENS
carros camisas
A B C D E F
Carros (milhares) 150 140 120 90 70 0
Camisas (milhares) 0 10 20 30 40 50

A curva de transformação (ou de possibilidades de produção) representa um importante fato da


ciência econômica: uma economia em pleno emprego, ou seja, a economia em uma situação em que os
recursos disponíveis estão sendo plenamente utilizados na produção de bens e serviços, precisa
sempre, ao produzir um bem, desistir de produzir um tanto de outro bem (PINHO & SANDOVAL DE
VASCONCELLOS, 1998, p. 15). A tabela anterior pode ser exibida ainda de forma gráfica, conforme a
ilustração abaixo:

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Curva de possibilidade de produção

60

F
50
H

E
40
Camisas(milhares)

D
30

C
20 G

B
10

A
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Carros (milhares)

Entra em cena o conceito de custo de oportunidade. Ou seja, é o sacrifício do que se deixou de


produzir, ou ainda, o custo (ou a perda) do que não foi escolhido para se produzir. Por exemplo, o custo
de oportunidade de se produzir apenas carros é de 50 camisas, e de se produzir apenas camisas e de 150
carros. O custo de oportunidade de sair da faixa C para a faixa D de produção seria de 30 carros, ou
seja, para se produzir mais camisas (ponto D) só seria possível em detrimento da produção de carros.
Assim, custo de oportunidade pode ser entendido como o sacrifício de se transferir os recursos de
uma atividade para outra.
Porém, para que o conceito de custo de oportunidade seja válido, é necessário que duas
condições sejam satisfeitas: 1) os recursos sejam limitados, e; 2) haja pleno emprego dos recursos.
Caso não seja satisfeita a segunda condição, ou seja, caso não haja pleno uso dos recursos e haja
recursos em desemprego (como homens desempregados, terras inativas, ou máquinas sem serem
utilizadas – capacidade ociosa nas empresas), as possibilidades de produção ficarão aquém da curva de
possibilidade de produção, representados, por exemplo, pelo ponto G do gráfico exibido anteriormente.
Neste caso, não existe custo de oportunidade para se atingir qualquer ponto em cima da curva de
possibilidade de produção.
Já o ponto H é um ponto que não é possível ser atingido, justamente por estar fora das
possibilidades de produção. Este ponto, contudo, só pode ser atingido com uma mudança na curva de
transformação, o que seria possível apenas com a ampliação da disponibilidade de recursos

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produtivos na economia, ou com uma mudança na tecnologia, que permitisse produzir mais com a
mesma quantidade de recursos disponíveis.

1.4. Os fatores de produção e suas remunerações

Os recursos produtivos, também denominados de fatores de produção, são elementos utilizados


no processo de fabricação dos mais variados tipos de mercadorias as quais, por sua vez, serão utilizados
para satisfazer as necessidades humanas. Os fatores produtivos e suas respectivas remunerações estão
discriminados no quadro abaixo:

Terra  aluguel
Trabalho  salário
Capital  juros

Segundo Sandroni (2001, p. 235) os fatores de produção são:

Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais.


Tradicionalmente, desde Say, são considerados fatores de produção a terra
(terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital (máquinas,
equipamentos, instalações, matérias-primas). Atualmente, costuma-se incluir
mais dois fatores: organização empresarial e o conjunto de ciência/técnica
(pesquisa). De modo geral, os fatores de produção são limitados e, por isso,
eles se combinam de forma diferente conforme o local e a situação histórica.

Desta forma, o recurso terra se refere a todos os recursos naturais, como as florestas, os
minerais e os recursos hídricos. O recurso trabalho é o nome dado para designar todo o esforço
humano, seja físico ou mental, despendido na produção de bens e serviços (é um fator limitado pelo
tamanho da população). O recurso capital é o conjunto de bens fabricados pelo homem e que não se
destina à satisfação das necessidades através do consumo, mas que são utilizados no processo de
produção de outros bens. Todos estes recursos são limitados, ou seja, são escassos e são também, de
alguma forma, remunerados, ou seja, é pago um preço pela utilização dos serviços dos fatores de
produção, se constituindo, desta forma, em renda para os proprietários dos fatores.

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1.5. Áreas de estudo da economia

Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, pp. 35-36) a economia pode, grosso modo, ser
dividida em quatro grandes áreas, a saber:
a) Microeconomia: estuda o comportamento de consumidores e produtores e o mercado no
qual interagem. Preocupa-se com a determinação dos preços e quantidades em mercados específicos;
b) Macroeconomia: estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados, como
PIB, consumo nacional, investimento agregado, exportação, nível geral de preços, etc., com o objetivo
de delinear uma política econômica. Tem um enfoque conjuntural, isto é, preocupa-se com a resolução
de questões como inflação e desemprego, a curto prazo.
c) Desenvolvimento Econômico: estuda modelos de desenvolvimento que levem à elevação do
padrão de vida (bem-estar) da coletividade. Trata de questões estruturais, de longo prazo (crescimento
da renda per capitã, distribuição da renda, evolução tecnológica).
d) Economia Internacional: estuda as relações de troca entre países (transações de bens e
serviços e transações monetárias). Trata da determinação da taxa de câmbio, do comércio exterior e das
relações financeiras internacionais.
No próximo capítulo abordam-se os elementos relacionados à microeconomia.

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2. PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA
Os objetivos gerais desta seção é o de compreender a função do estudo da microeconomia, os
fatores que determinam a oferta e a demanda de bens, a noção de elasticidades assim como sua forma
de cálculo e o funcionamento das principais estruturas de mercado, focando a questão da determinação
dos preços e das quantidades.

2.1. Conceito e aplicação da microeconomia

Mas afinal, o que é a microeconomia? Para que serve esta área de estudo da Ciência
Econômica? Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 47), a microeconomia (ou também chamada
de teoria dos preços) é uma vertente da economia que se preocupa fundamentalmente em estudar o
comportamento econômico das unidades individuais, tais como os consumidores, as empresas e os
proprietários de fatores de produção. Preocupa-se em estudar como e porque os agentes econômicos
agem de determinadas formas. Dentre muitas perguntas, a microeconomia procura respostas para as
seguintes questões:
- O que determina o preço dos bens e serviços de uma economia?
- O que determina o quanto cada mercadoria será produzida?
- O que determina a maneira pela qual um indivíduo gasta sua renda?
Conforme apontado em Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 69):

Genericamente, a microeconomia é concebida como o ramo da Ciência


Econômica voltado ao estudo do comportamento das unidades de consumo
representadas pelos indivíduos e/ou famílias (estas desde que caracterizadas
por um orçamento único), ao estudo das empresas, suas respectivas produções
e custos e ao estudo da geração e preços dos diversos bens, serviços e fatores
produtivos.

Contudo, Sandoval de Vasconcellos (2002) pondera que a microeconomia não pode ser
entendida como uma área da economia que foca apenas a empresa, mas sim um ramo em que se dedica
a estudar o mercado no qual as empresas e consumidores interagem. É por isto que se diz que a
microeconomia procura estudar o comportamento dos agentes econômicos em um determinado
mercado, ou seja, como as unidades tomam decisões econômicas e como as políticas econômicas

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governamentais podem influenciar a decisão de tais agentes (PINDYCK & RUBINFELD, 1999, pp.
03-04).
O estudo da microeconomia se baseia muito na condição “coeteris paribus”. Como se pode
verificar no dia a dia de nossas vidas, um determinado fenômeno (inclusive os econômicos) ocorre
devido a diversos fatores determinantes que atuam sobre ele simultaneamente. Esta simultaneidade
com que os fatores atuam sobre um determinado fenômeno dificulta a análise e o entendimento de
como cada um desses fatores atua isoladamente.
É neste sentido que a condição “coeteris paribus” se torna importante. É uma expressão em
latim que significa “tudo o mais permanecendo constante”. Assim, ao se adotar esta condição, pode
verificar como a demanda (ou até mesmo a oferta) é influenciada pelo preço, permanecendo os demais
fatores (como hábitos, renda, dentre outros) constantes (ou melhor, inalterados).
Conforme ressalta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 69):

A Microeconomia é parcial. Para poder analisar um mercado isoladamente,


supõe todos os demais mercados constantes. Ou seja, supõe que o mercado em
estudo não afeta nem é afetado pelos demais. Essa condição [coeteris paribus]
serve também para verificarmos o efeito de variáveis isoladas, independente
dos efeitos de outras variáveis; ou seja, quando queremos, por exemplo, saber
o efeito isolado de uma variação de preço sobre a procura de determinado bem,
independente do efeito de outras variáveis que afetam a procura, como a renda
do consumidor; gastos e preferências, etc.

Mas antes de se prosseguir no estudo das teorias de oferta e demanda, faz-se necessário
explicitar um conceito importante na microeconomia – o conceito de mercado.
Conforme apontam Pindyck & Rubinfeld (1999, p. 09), as unidades econômicas podem ser
divididas em dois grandes grupos – os compradores e os vendedores. É a partir da interação destes dois
grupos que surgem os mercados: Um mercado é, pois, um grupo de compradores e vendedores que, por
meio de suas reais ou potenciais interações, determina o preço de um produto ou um conjunto de
produtos.
Importante esclarecer ainda que mercado não é a mesma coisa que industria. Uma indústria é
um conjunto de empresas que vende o mesmo produto ou produtos correlatos. Assim, uma indústria
corresponde apenas a um dos lados (o lado dos vendedores) que compõem um mercado. Segundo
Pindyck & Rubinfeld (1999, p. 12), o conhecimento do conceito de mercado e sua abrangência é
importante, pois:
Uma empresa, por exemplo, precisa saber quem são seus reais e potenciais
competidores nos produtos que ela vende ou possa vir a vender no futuro. Uma

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empresa também precisa conhecer as características que definem um produto
específico e as fronteiras geográficas de um determinado mercado, para que
seja capaz de fixar preços, determinar as verbas de publicidade e tomar
decisões de investimento.
A definição do mercado é igualmente importante para a escolha de políticas
públicas. Deve o governo permitir as fusões e incorporações de companhias
que produzem produtos similares? A resposta depende do impacto disso na
competição futura e nos preços; ora, isso freqüentemente só pode ser avaliado
definindo mercado.

Na próxima seção se estudará a teoria da oferta, da demanda e como é possível através destes
dois conceitos se chegarem a uma situação de equilíbrio de mercado.

2.2. Teoria da oferta, da demanda e o equilíbrio de mercado

A teoria da oferta e da demanda é a base de muitos conceitos econômicos, não somente na área
de estudo da microeconomia. Contudo, nesta seção se estudará o conceito e os determinantes da teoria
da oferta e da demanda, assim como estes dois conceitos unidos permitem se chegar a uma situação de
equilíbrio de mercado, conceito teórico este que é muito importante para a Ciência Econômica.

LEI DA DEMANDA
A demanda (ou também conhecida como procura) de um indivíduo por um determinado bem ou
serviço refere-se à quantidade desse bem (ou serviço) que este indivíduo está disposto e capacitado a
comprar, por unidade de tempo.
Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 49):

Demanda (ou procura) é a quantidade de determinado bem ou serviço que os


consumidores desejam adquirir, num dado período.
Assim, a chamada demanda é um desejo, um plano. Representa o máximo que
o consumidor pode aspirar, dada sua renda e os preços no mercado.
A escala de demanda indica quanto o consumidor pode adquirir, dada várias
alternativas de preços de um bem ou serviço. (...) a demanda não representa a
compra efetiva, mas a intenção de compra, a dados preços.

Fatores determinantes da demanda

Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 53) a demanda é influenciada por diversos fatores.
Os principais fatores seriam:

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a) preço do bem: normalmente, é de se esperar que o consumidor deseje adquirir uma
quantidade maior de um bem quanto menor for o seu preço. Assim, o preço do bem tem uma relação
negativa com a quantidade demanda.
b) renda do consumidor: na maioria dos bens, é de se esperar que uma elevação na renda do
consumidor esteja associada a uma elevação nas quantidades compradas desses bens. Um exemplo é o
caso da carne de primeira. Se você passa a ganhar mais, você provavelmente irá passar a comer mais
carne de primeira do que antigamente. Estes tipos de bens são chamados de bens normais (ou seja,
quando se eleva a renda e eleva-se também a demanda deste bem). Porém, existem algumas exceções a
esta regra, ou seja, existem aqueles produtos e serviços cujo consumo varia inversamente à variação da
renda, dentro de certa faixa de renda. Isso significa dizer que a quantidade adquirida desse tipo de
produto diminui com o aumento da renda, ou, caso haja uma diminuição da renda, a quantidade
adquirida desse produto aumenta. Esse tipo de bens e serviços com relacionamento negativo com a
renda são denominados de bens inferiores. São chamados desta forma, pois o aumento da renda
substitui estes bens por outros de qualidade superior. É o caso, por exemplo, da carne de segunda com a
carne de primeira, ou ainda das roupas usadas pelas roupas novas. Quando há uma elevação da renda
do indivíduo, ele tende a substituir o consumo da carne de segunda por uma carne de melhor qualidade
ou ainda deixar de comprar roupas usadas para comprar roupas novas. Existem ainda os bens de
consumo saciado, que são aqueles na qual mesmo a renda se elevando, o consumo deste bem não se
modificará. Este é o caso, em geral, dos alimentos básicos como o açúcar, o sal, o arroz, o feijão, do
papel higiênico, etc. Este último caso refere-se aqueles em que a renda não exerce influência sobre a
demanda dos produtos. Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 58) pondera ainda que tudo isto depende da
classe de renda a qual um determinado consumidor pertence. Segundo este autor, para os consumidores
de baixa renda praticamente não existem bens inferiores. Assim, quanto mais elevada a renda, maior o
número de produtos que passam a ter a possibilidade de serem classificados com bens inferiores ou de
consumo saciado.
c) gosto e preferências do consumidor: a demanda depende também dos hábitos de consumo e
das preferências individuais, que conseqüentemente, dependem do sexo, da idade, da tradição cultural e
religiosa e até mesmo do nível educacional de cada indivíduo.
d) preço dos bens relacionados: não é somente o preço do bem (ou serviço) que influencia a
sua quantidade demandada. Os preços de outros bens também o influenciam. Neste sentido, a demanda
de um bem pode ser influenciada pelas alterações nos preços de seus bens complementares ou de seus
bens substitutos. Os bens complementares são aqueles que tendem a ser utilizado em conjunto, ou

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seja, quando o preço de um se eleva, ocorre a redução da quantidade demandada do outro, como por
exemplo, o caso da margarina e do pão, ou ainda o efeito do aumento do preço dos automóveis sobre a
demanda de gasolina. Já com os bens substitutos ocorre o contrário. São aqueles cujo consumo pode
substituir o consumo de outro, ou seja, a elevação do preço de um bem pode elevar a quantidade
demanda do outro. Alguns exemplos: é o caso da manteiga e a maionese ou margarina, da carne de
frango, vaca e peixe, da viagem de trem ou de ônibus, da Coca-cola com o Guaraná (coeteris paribus,
ou seja, considerando que as outras condições como as preferências do consumidor são constantes).
e) questão populacional: quando aumenta o número de pessoas em um determinado mercado,
ou seja, um maior mercado consumidor, faz com que gere a tendência de elevar a quantidade
demandada dos bens.
No quadro a seguir é descrito sinteticamente os efeitos de tais variáveis sobre a demanda.

Quadro - Causas do deslocamento da demanda


Aumento da demanda Diminuição da demanda

Aumento da renda dos consumidores Diminuição da renda dos consumidores

Mudança de gosto favorável a um bem Mudança de gosto desfavorável a um bem

Aumento no preço de bens substitutos Diminuição no preço de bens substitutos

Queda no preço dos bens


complementares Aumento no preço dos bens complementares

Além dos fatores apontados nesta seção, as expectativas em relação ao futuro, a facilidade de
crédito (disponibilidade, taxa de juros e prazos), a propaganda, fatores climáticos e sazonais também
exercem influência sobre a demanda e são fatores que devem ser levados em consideração.

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Relação quantidade demandada e preço

Segundo Passos & Nogami (2001, pp. 49-50), a partir de uma escala de demanda individual, ou
seja, de quanto cada consumidor estará disposto a adquirir de um determinado bem a diferentes preços,
é possível construir a curva de demanda, que auxilia na ilustração da Lei da Demanda.

Escala de demanda por Leite


Preço Qtde.
Ponto
(R$/Unid.) Litros/Semana
4.00 2 A
3.00 4 B
2.00 6 C
1.00 8 D

Gráfico – Demanda por Leite


4.50

4.00

3.50

3.00

2.50
Preço(R$/unid.)

2.00

1.50

1.00

0.50

0.00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Qtde. (litros/semana)

No gráfico é possível verificar que ao preço de R$ 3,00, o consumidor estará disposto a adquirir
uma quantidade máxima de 4 litros de leite por semana. A curva de demanda é desenhada (como ilustra
o gráfico) de cima para baixo, da esquerda para direita, e sua inclinação negativa indica que a
quantidade demandada aumenta a medida que o preço cai. Esta é a Lei da Demanda e é aplicável a
praticamente a todos os bens de uma economia. Neste sentido, a Lei Geral da Demanda enuncia que:

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A quantidade demandada de um bem ou serviço varia inversamente ao seu
preço, pressumindo-se que tudo o mais que possa afetar a demanda permaneça
o mesmo, ou seja, sob a condição “coeteris paribus” (PASSOS & NOGAMI,
2001, p. 50).

A relação negativa da curva de demanda ocorre devido dois efeitos básicos:


a) efeito substituição: enuncia que irá ocorrer a substituição de um determinado bem por outro
similar devido à elevação do preço do primeiro. Assim, o bem fica mais barato relativamente aos
concorrentes, com o que a quantidade demandada aumenta. Exemplo: Se o preço da pêra aumentar, irei
substituí-la por maça.
b) efeito renda: supondo-se que a renda do consumidor, em termos nominais, permaneça a
mesma, quando o preço de um bem diminui, a renda dos consumidores, em termos reais, se eleva,
tornando o consumidor “mais rico” e fazendo com que ele possa aumentar o consumo deste bem. Com
a queda do preço, o poder aquisitivo do consumidor aumenta, e a quantidade demandada do bem deve
aumentar. Isto é, ao cair o preço de um bem, mesmo com sua renda não variando, o consumidor pode
comprar mais mercadorias. Assim, preços mais baixos induzem as pessoas que já adquiriam a
mercadoria a demandar maiores quantidades da mesma. Esse é o efeito renda, provocado pela queda do
preço.
É importante notar ainda que os pontos do gráfico referem-se às quantidades demandadas a
diferentes níveis de preços e não às alterações na curva de demanda, pois esta só sofrerá alterações se
outros fatores se alterarem, como exposto anteriormente.

LEI DA OFERTA
A oferta pode ser entendida como a quantidade de um determinado bem que o produtor deseja
vender no mercado, por unidade de tempo. Assim como descreve Sandoval de Vasconcellos (2002, p.
66), a oferta representa (assim como a demanda) uma intensão e não a venda efetiva. As quantidades
ofertadas referem-se aos pontos em que os vendedores estão minimizando seus custos.
Assim como a demanda, pode ser influenciada por inúmeros fatores, como descrito a seguir:

Fatores determinantes da oferta

Os fatores determinantes da oferta, grosso modo, dizem respeito ao aspecto de custos de


produção e o lucro do empresário. Assim, todos os itens que direta ou indiretamente podem
influenciar o custo e o lucro de um determinado produto, podem também influenciar sua oferta. Dentre
os principais fatores que podem influenciar o custo de produção e o lucro do empresário estão:

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a) preço do bem: espera-se que quanto mais elevado for o preço de um bem (ou serviço), maior
será o estímulo do produtor para aumentar sua produção (pois maiores serão seus lucros), e assim,
elevar a quantidade oferecida desse bem no mercado.
b) preço dos fatores de produção: a oferta de um determinado bem no mercado depende dos
custos relativos a sua produção e conseqüentemente, do preço pago aos fatores de produção (como os
salários – como pagamento da mão de obra e os aluguéis – como pagamento do uso da terra). Desta
maneira, quando o preço dos fatores de produção se reduz (e conseqüentemente os custos de produção),
a produção torna-se mais lucrativa. Esta maior lucratividade pode gerar dois efeitos: i) estimular as
empresas existentes a produzirem mais, ou; ii) estimular a entrada de novas empresas concorrentes no
mercado. O que é importante notar é que independentemente do efeito, ocorrerá a elevação da oferta.
c) tecnologia: a tecnologia é um outro fator que se relaciona diretamente com os custos de
produção e produtividade e conseqüentemente com a oferta. Assim, avanços tecnológicos que
permitem obter um volume maior de produção a custos menores, aumentando a lucratividade das
empresas produtoras do bem em cujo processo houve a evolução tecnológica, ocorrerá a elevação da
oferta.
d) preço de outros bens: a oferta também pode ser influenciada por produtos substitutos ou
complementares da produção. No caso dos bens substitutos, são aqueles que poderiam ser produzidos
com aproximadamente a mesma quantidade de recursos. Um exemplo disto seria a empresa de
processamento de soja. Essa mesma empresa possui uma estrutura que poderia processar qualquer
outro tipo de grão. Assim, um aumento no preço do milho, por exemplo, tornaria essa cultura mais
atraente para a empresa processadora de grãos, que substituiria o processamento da soja pelo
processamento do milho, que iria lhe trazer, possivelmente, um maior retorno. Assim, ocorreria neste
caso uma redução da oferta de soja processada em função de um aumento no preço do milho. Já no
caso dos bens complementares, ocorre o inverso, ou seja, o aumento no preço de um determinado bem
estimula a quantidade ofertada do outro. É o caso, por exemplo, da carne com o couro e miúdos. Um
aumento no preço da carne poderá provocar o estímulo de se abater mais animais (na busca de um
maior lucro), que por decorrência ira provocar um aumento na oferta de couro e de miúdos bovinos.
e) clima: o clima exerce também grande influência na oferta de alguns produtos, especialmente
os agrícolas. Um exemplo clássico para este tipo de fator é o sorvete, que em temporada de clima frio
tem sua oferta reduzida, elevando-se significativamente no período de calor.
A seguir um quadro síntese de como estes fatores influencia a oferta.

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Quadro - Causas do deslocamento da oferta
Aumento da oferta Diminuição da oferta

Diminuição no preço dos fatores de produção Aumento no preço dos fatores de produção

Diminuição no preço dos bens substitutos na Aumento no preço dos bens substitutos na
produção produção

Aumento no preço de bens complementares Diminuição no preço de bens complementares


na produção na produção

Mudança tecnológica favorável Mudança tecnológica desfavorável

Relação quantidade ofertada e preço

Aqui será analisada a maneira pelas quais as alterações no preço afetam a disposição e a
capacidade do produtor em ofertar bens e serviços para a população. Assim, a partir de uma escala de
oferta, ou seja, da quantidade de um bem (ou serviço) que um produtor estará disposto a oferecer a
diferentes preços possíveis, pode-se estudar a curva e a Lei da Oferta. No quadro a seguir está um
exemplo de escala de oferta de camisas.
Escala de oferta de camisas
Preço Qtde. Ponto
(R$/Unid.) (camisas por mês)
100,00 400 A
80,00 300 B
60,00 200 C
40,00 100 D

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Gráfico – Oferta de Camisas
120,00

100,00

80,00
Preço(R$unid)

60,00

40,00

20,00

0,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Qtde de camisas

A partir deste gráfico elaborado com os dados de escala da oferta é possível verificar que a um
preço de R$ 80,00 as empresas estariam dispostas a ofertar no máximo 300 camisas por mês.
Normalmente a curva de oferta é desenhada de baixo para cima, da esquerda para a direita, e sua
inclinação positiva indica que a quantidade ofertada aumenta quando o preço do produto se eleva. Esta
é a Lei da Oferta, que diz:

A quantidade ofertada de um bem geralmente varia diretamente com seu preço,


pressumindo-se quer todos os outros fatores que influenciam a oferta
permaneçam constantes, ou seja, dada a condição “coeteris paribus”.

A seguir, a partir dos conceitos apreendidos sobre a Lei da oferta e da demanda é possível tecer
comentários gerais sobre como o mercado pode chegar ao equilíbrio, ou seja, descreve-se no tópico a
seguir o processo de ajustamento do mercado.

EQUILÍBRIO DE MERCADO (O PROCESSO DE AJUSTAMENTO)

Primeiramente, é preciso ressaltar que o equilíbrio que se estará tratando é aquele existente em
um mercado competitivo, caracterizado por muitos compradores e vendedores e que de maneira
isolada nenhum deles tem a capacidade de influenciar sozinho o preço e a quantidade de mercado.
Como se verá mais adiante, outras estruturas de mercado (como oligopólios e monopólios) possuem
um esquema de equilíbrio diferente.

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Neste sentido, segundo Passos & Nogami (2001, p. 63) o equilíbrio em um mercado
competitivo é o ponto na qual a oferta se iguala a demanda. Para isso, portanto, é necessário se unir
às curvas de oferta e de demanda em um único gráfico. Os dados do quadro a seguir ilustram este
processo.

Escalas de oferta e demanda do mercado de camisas


Qtde.
Preço Demandada Qtde. Ofertada Excesso Oferta (+) Pressão sobre o preço
(R$/unid.) (camisas/mês) (camisas/mês) Excesso Demanda (-)
100.00 1000 11000 10000 descendente
90.00 2000 10000 8000 descendente
80.00 3000 9000 6000 descendente
70.00 4000 8000 4000 descendente
60.00 5000 7000 2000 descendente
50.00 6000 6000 Equilíbrio nenhuma
40.00 7000 5000 -2000 ascendente
30.00 8000 4000 -4000 ascendente
20.00 9000 3000 -6000 ascendente
10.00 10000 2000 -8000 ascendente

Gráfico – Equilíbrio no mercado de camisas


120.00

100.00

80.00
Excesso de Oferta
Preço(R$/unid)

60.00

E - ponto de equilíbrio

40.00

Excesso de Demanda
20.00

0.00
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
Qtdes demandadas e ofertadas

Oferta Demanda

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Como se pode observar no exemplo ilustrativo do mercado de camisas, existe apenas um preço
em que a quantidade demandada é exatamente igual a quantidade ofertada. Este é o chamado preço de
equilíbrio. A quantidade correspondente a este preço é chamada de quantidade de equilíbrio.
Este ponto de equilíbrio indica o preço em que os consumidores estariam dispostos a
pagar e os ofertantes dispostos a receber sem que houvesse, contudo, excesso de oferta nem
excesso de demanda. Em outras palavras, seria o preço em que tudo o que fosse vendido seria
comprado pelos consumidores (não existindo, porém relação de causalidade entre a oferta e a procura).
O alcance deste ponto, no entanto, não é algo tão simples de ser alcançado como se parece.
Depende de tempo e de um processo de tentativa e erro, na qual, a partir da interação entre
compradores e ofertantes ocorreriam os ajustes até alcançar o ponto de equilíbrio.
Para ilustrar este processo interativo, vamos supor que os produtores estabeleçam vender suas
camisas a R$ 70,00. A este preço eles colocariam a disposição no mercado cerca de 8000 camisas,
contudo, os compradores só estariam dispostos a comprar 4000 delas, gerando um estoque para os
produtores de outras 4000 unidades.
Certamente, o acúmulo de estoque, período após período, não é uma coisa interessante para os
produtores, uma vez que precisam pagar suas despesas e não possuem receitas suficientes. Ou seja, o
acúmulo de estoque desfalca o caixa para fazer jus às despesas e dívidas adquiridas. Esta situação de
insolvência faz com que os produtores coloquem uma quantidade inferior de produtos no mercado a um
menor preço. Vamos supor, portanto, que estes ofertantes decidem cobrar R$ 40,00 por suas camisas e
colocam a disposição cerca de 5000 unidades no mercado. Porém, a este preço, a demanda se eleva
para 7000 camisas, ou seja, na verdade faltarão 2000 unidades. Esta situação de excesso de demanda é
caracterizada pela falta de produto de mercado, ou seja, nem todos conseguirão encontrar camisas no
mercado. Esta situação ainda fará com que os produtores novamente reajustem seus preços e suas
quantidades ofertadas para satisfazer o excesso de demanda.
Assim, o processo de tentativa e erro continua até o momento em que não houver mais excesso
de oferta, nem excesso de demanda. Mas o que se tem na realidade é que este é um processo
constante, ou seja, não tem fim, pois, a todo instante, existem outros fatores (além do preço do bem)
que influenciam e deslocam a curva de demanda e de oferta para cima ou para baixo, fazendo com que
os pontos de equilíbrio que foram uma vez atingidos precisem ser reajustados.

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2.3. Teoria da Firma

Assim como visto anteriormente, um mercado é composto por vendedores e compradores. Até o
momento estudou-se de maneira um pouco mais aprofundada a teoria do consumidor, onde foi
detalhado os motivos que levam um consumidor a optar, dada uma restrição orçamentária e os preços
vigentes no mercado, por uma determinada cesta de produtos. Estudou-se ainda a lei da oferta, que se
refere ao lado da produção. Como foi destacado, assim quando se iniciou o estudo da Lei da Oferta, os
vendedores buscam em sua essência a redução dos custos e, em conseqüência, o aumento da
lucratividade.
Nesta seção, se estudará com maiores detalhes a teoria da produção e dos custos, tópicos que
compõem a chamada Teoria da Firma, com o intuito de entender a racionalidade que assenta a oferta de
um determinado produto. Sinteticamente, a teoria da produção e a teoria dos custos indicam o seguinte:

A teoria da produção que passaremos a analisar refere-se às relações


tecnológicas, físicas, entre a quantidade produzida e as quantidades de insumos
utilizados na produção, enquanto a teoria dos custos inclui os preços dos
insumos (SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002, p. 118).

Como exposto em Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 143), a Teoria da Firma trata
“(...) do problema da produção, dos custos de produção e dos rendimentos da firma”. A Teoria da
Firma divide-se, neste sentido, em Teoria da Produção e Teoria dos Custos, tópicos a serem abordados
a seguir:

TEORIA DA PRODUÇÃO
Assim como exposto por Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 144) a teoria da
produção fornece conceitos e princípios que norteiam a análise de preços e emprego dos fatores de
produção, constituindo-se na base para a análise dos custos e da oferta dos bens produzidos.
Antes de se prosseguir com a teoria da produção é importante esclarecer alguns conceitos
importantes como o que é firma e o que são fatores de produção. Segundo Pinho & Sandoval de
Vasconcellos (1998, p. 145), firma é uma unidade técnica que produz bens, enquanto que fatores de
produção são bens e serviços transformáveis em novos itens. Estes últimos (fatores de produção)
podem ser classificados em primários, ou seja, aqueles que não são produzidos por outras empresas
(como os recursos naturais, por exemplo) e os secundários, cuja existência deriva do processo
produtivo realizado por outras empresas.
Outro conceito importante é o de produção, definido como:

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(...) o processo pelo qual uma firma transforma os fatores de produção [seja os
primários ou secundários] em produtos ou serviços para a venda no mercado.
Assim, a firma é uma intermediária: compra insumos (inputs, fatores de
produção), combina-os segundo um processo de produção escolhido e vende
produtos (outputs) no mercado (SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002,
p. 118).

O esquema apresentado a seguir ilustra o conceito apresentado acima:

O processo de produção pode ser capital-intensivo, mão de obra intensivo ou terra-intensivo,


dependendo da quantidade do fator de produção mais utilizado no processo.
Com estes conceitos gerais em mente, inicia-se o desenvolvimento da teoria da produção a
partir do entendimento do que é uma função de produção. Segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos
(1998, p. 145) a função de produção:

Identifica a forma de solucionar os problemas técnicos da produção por meio


da apresentação das combinações de fatores que podem ser utilizados para o
desenvolvimento do processo produtivo. Podemos conceituá-lo como sendo a
relação que mostra qual a quantidade obtida do produto, a partir da quantidade
utilizada dos fatores de produção.

Nesta altura do campeonato, é necessário distinguir a diferença de processo de produção com o


conceito de função de produção. Ainda segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 146):

É possível perceber pelos conceitos apresentados, que a função de produção


indica o máximo de produto que se pode obter com as quantidades dos fatores,
uma vez escolhido determinado processo de produção mais conveniente. A
diferença entre os conceitos de função de produção e processo de produção é
extremamente sutil. O processo de produção, na realidade, indica quanto de
cada fator se faz necessário para obter certa quantidade de produto. Por seu
turno, a função de produção indica o máximo de produto que se pode obter a
partir de uma dada quantidade de fatores, mediante a adequada escolha do

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processo de produção. Em outras palavras, podem existir diversas formas de
combinar os fatores para se obter certa quantidade de produto. Cada uma
dessas formas caracteriza um processo de produção. Por conseguinte, quando
se fala em função de produção no sentido genérico, admite-se implicitamente
que o processo ou a forma escolhida de combinar os fatores é a mais eficiente.
Todas as demais formas ou processos menos eficientes já foram desprezados.

Exposta a diferença, uma função de produção é descrita da seguinte maneira:

q = f(N, K, T, Mp)

Uma função, portanto, indica o grau de dependência (ou causalidade) entre alguns itens. No
caso expresso acima, a função de produção indica que a quantidade de produto fabricado (q) depende
(é uma função) da quantidade de fatores de produção como a mão de obra (N), capital físico (K), terras
(T) e matérias primas (Mp) utilizadas no processo de produção.
Os fatores de produção podem ainda ser fixos ou variáveis. Os fatores de produção fixos são
aqueles que permanecem inalterados mesmo quando ocorre variação na produção, enquanto que, os
fatores de produção variáveis se alteram juntamente com as variações nas quantidades produzidas. São
exemplos de fatores fixos o capital fixo e as instalações da empresa, e de fatores variáveis a mão de
obra e as matérias primas utilizadas (SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002, p. 120).
Com estes aspectos gerais sobre a função de produção em mente, pode-se definir dois outros
conceitos importantes: o conceito de curto e longo prazo. Assim, curto prazo em microeconomia é o
período no qual existe pelo menos um fator de produção fixo, enquanto que, no longo prazo todos os
fatores de produção variam. Assim, tem-se, por exemplo, que o curto prazo para uma empresa
metalúrgica é maior do que o de uma fábrica de biscoitos, dado que as alterações de um equipamento
ou instalação de uma metalúrgica requerem mais tempo para acontecer do que em uma fábrica de
biscoitos. A seguir, estuda-se mais detalhadamente a questão da produção no curto e no longo prazo.

Função de produção no CURTO prazo

Supondo uma função de produção simplificada, em que o nível de produto pode ser
determinado apenas pela utilização de mão de obra e capital e que a mão se obra seja o fator variável e
o capital o fator fixo, tem-se a seguinte situação:

q = f(N, K)

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Como K é fixo (ou constante no curto prazo), a função de produção desta firma pode ser
reescrita da seguinte forma:

q = f(N)

Ou seja, o nível de produto varia apenas em função das mudanças na quantidade de mão de obra
utilizada. Com estas idéias introdutórias, é possível calcular a chamada produtividade média e
produtividade marginal do fator variável. Assim, a produtividade média do fator variável é o
resultado do quociente da quantidade total produzida (q) pela quantidade utilizada deste fator (que no
exemplo acima é a mão de obra N). É dada pela seguinte expressão:

Produtividade média (PMe) = q / N

Por produtividade marginal entende-se como a relação entre as variações no produto total e as
variações nas quantidades utilizadas do fator variável. E dada pela seguinte expressão:

Produtividade marginal (PMg) = Δq / ΔN

Para ilustrar tais cálculos, segue um exemplo numérico.

Capital M.O Produto


Pme PMg
K N q
10 0 0 - -
10 1 3 3,00 3
10 2 8 4,00 5
10 3 12 4,00 4
10 4 15 3,75 3
10 5 17 3,40 2
10 6 17 2,83 0
10 7 16 2,29 -1
10 8 13 1,63 -3

Observa-se que no ponto máximo de produção (q) a produtividade marginal (PMg) da mão de
obra (N) é igual a zero. Antes deste ponto a PMg é positiva, porém, após este ponto torna-se negativa.
Uma PMg negativa significa dizer que os acréscimos de mão de obra estão tendo um impacto negativo
no produto, ou seja, estão diminuindo a quantidade de bens produzidos (q).
Outro exemplo simples para explicar porque isto acontece é o seguinte: suponha uma fábrica
com 10 máquinas e que cada máquina empregue 1 pessoa (N) e produza, quando funcionando, 20 itens
de produto (q). Assim, se apenas 1 máquina estiver funcionando, serão produzidas 20 unidades de

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produto (q), o que implicará em uma Produtividade Média da mão de obra (PMe) = 20 / 1 = 20 e uma
produtividade marginal (PMg) igual a 20 também. Como a empresa esta operando com capacidade
ociosa, é possível contratar mais mão de obra para trabalhar nas máquinas paradas. Assim esta empresa
decide empregar mais um funcionário para operar com mais uma máquina. Esta empresa passará a
produzir q = 40 e terá agora 2 funcionários. A produtividade média desta empresa será 40/2 = 20 (não
se alterou) e a produtividade marginal será Δq / ΔN = (40-20)/(2-1) = 20. Como o mercado esta
crescendo, a empresa decide utilizar toda sua capacidade instalada, ou seja, emprega mais 8 pessoas e
passa a utilizar as 10 máquinas existentes. Sua produção passa a ser, portanto, 200 unidades, o que
implica em uma produtividade média igual a 200/10 = 20 e uma produtividade marginal igual a 20
também. Porém, o dono da empresa possui um amigo que esta em uma situação difícil, sem emprego e
para ajudar este amigo, decide contratá-lo para fazer parte do corpo de funcionários da empresa. Porém
a empresa já esta trabalhando com sua capacidade total, ou seja, produzindo q = 200 unidades. Porém
agora a produtividade média será igual a 200/11 = 18,18 (a produtividade média esta se reduzindo)
enquanto que a produtividade marginal será igual a (200-200)/(11-10) = 0. Assim, este novo
funcionário nada contribuiu para o crescimento da produção da empresa, visto que a empresa já estava
operando com capacidade total instalada. Para que este funcionário não prejudicasse o desempenho da
empresa seria necessário comprar uma nova máquina para que ele pudesse contribuir na produção e
manter as taxas de produtividade média e marginal iguais às observadas anteriormente.
Isto ocorre em virtude da lei dos rendimentos decrescentes. Segundo Sandoval de Vasconcellos
(2002, p. 124), a lei dos rendimentos decrescentes implica que:

Ao aumentar o fator variável [que no caso do exemplo é a mão de obra – N],


sendo dada a quantidade do fator fixo [no exemplo, é dada o número de
máquinas e suas capacidades de produção], a PMg do fator variável cresce até
certo ponto e, a partir daí, decresce, até tornar-se negativo.

Esta lei, contudo, só é válida se um dos fatores de produção é mantido fixo, ou seja, só é válida
em uma análise de curto prazo. A seguir, estuda-se o funcionamento da função de produção no longo
prazo.

Função de produção no LONGO prazo

Como indicado anteriormente, na análise de longo prazo todos os fatores de produção podem
variar, ou seja, no longo prazo não existem fatores fixos de produção. De maneira simplificada,

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supõem-se novamente dois fatores de produção (mão de obra e capital), em que a função de produção
poderia ser expressa da seguinte forma:

q = f(N, K)

Assim, como existem dois fatores de produção e ambos podem variar, a função de produção
pode ser representada por uma isoquanta. Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 125) o
conceito de isoquanta é semelhante ao conceito de curva de indiferença, anteriormente estudado.
Assim:

Isoquanta significa igual quantidade e pode ser definida como sendo uma linha
na qual todos os pontos representam infinitas combinações de fatores, que
indicam a mesma quantidade produzida. Ou seja, a isoquanta expressa os
vários métodos ou processos alternativos de produção, que proporcionam a
mesma quantidade produzida.

Abaixo segue um exemplo numérico para ilustrar o significado de uma isoquanta.

Capital M.O Produto


K N q
6 50 0
4 80 3
2 150 8
160

140

120

100
Mãodeobra-N

80

60

40

20

0
0 1 2 3 4 5 6 7
Capital - K

Isoquanta

No tópico a seguir estuda-se a segunda teoria que compõem a teoria da firma – a teoria dos
custos de produção.

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TEORIA DOS CUSTOS

O objetivo de toda firma é maximizar os resultados através de sua atividade produtiva, ou seja,
procurar o máximo de produção com uma certa combinação de fatores. Contudo, ela não consegue
adquirir tais fatores de maneira gratuita, assim, toda firma tem também que pagar para adquirir bens
que são utilizados no processo de produção para criar outros bens. É neste sentido que o estudo dos
custos da empresa se torna de fundamental importância. Assim, a quantidade utilizada de cada fator,
multiplicado pelo seu preço constituirá os custos da empresa, denominado de custo total de produção
(PINHO & SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 1998, p. 158).
Em outras palavras, o custo total de produção é o total das despesas realizadas pela firma com a
utilização da combinação mais econômica dos fatores por meio da qual é obtida uma determinada
quantidade de produto. Os custos totais podem ser divididos em dois: os custos fixos e os custos
variáveis. Os custos fixos são as despesas que não dependem da quantidade produzida, sendo
decorrentes dos fatores fixos de produção como o aluguel, por exemplo. Já os custos variáveis são
parcelas dos custos totais que dependem necessariamente da quantidade produzida. Representam as
despesas que dependem dos fatores variáveis de produção.
Assim como realizado na Teoria da Produção, a teoria dos custos também é analisada no curto e
no longo prazo, conforme se estudará a seguir.

Custos de produção no CURTO prazo

No curto prazo apenas os fatores variáveis afetam o custo. O custo total no curto prazo é
descrito da seguinte forma:

CT = CV + CF

Na qual: CT = custo total; CV = custo variável (preço X quantidade do fator variável utilizado
no processo de produção) – o custo variável é o mesmo que a soma dos custos marginais (CMg); CF =
custo fixo (preço X quantidade do fator fixo utilizado no processo de produção). Com isto, tem-se:

CT = pv . Qv + pf . Qf

Assim, o custo total de produção no curto prazo depende diretamente do nível de produção
estabelecido pela firma, pois é a partir das mudanças do nível de produção que ocorrerão as mudanças

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nos fatores variáveis utilizados no processo. A figura abaixo ilustra a relação existente entre o custo
total com o custo variável e com o custo fixo.

Além dos custos totais, fixos e variáveis, a microeconomia se interessa por outras análises.
Neste sentido, faz-se importante analisar também os custos médios e os custos marginais a partir das
fórmulas descritas a seguir:

CTmédio (ou custo unitário) = CT / q

CVmédio = CV / q

CFmédio = CF / q

Assim como exposto por Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 161):

(...) o custo variável total é uma despesa de produção diretamente relacionada


com o andamento desta última [a produção]. Portanto, a medida que a
produção cresce, o custo variável total aumenta. O custo variável médio, por
sua vez, é inicialmente decrescente, após atingir um mínimo, torna-se
crescente.
Por seu turno, o custo fixo total é constante para cada intervalo de produção.
Em decorrência desse fato o custo fixo médio é decrescente à medida que a
produção aumenta.

Existe ainda a análise dos custos marginais que se refere à variação do custo em resposta a uma
variação na quantidade produzida. As formas de cálculo são apresentadas a seguir:

CTmarginal = ΔCT / Δq

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CVmarginal = ΔCV / Δq

Como o custo fixo não se altera no curto prazo, não existe a necessidade de se calcular e
analisar o custo fixo marginal.

Custos de produção no LONGO prazo

No longo prazo, todos os insumos são variáveis, não existindo, portanto, custos fixos de
produção. Em outras palavras, todos os custos são variáveis.
Neste sentido, como todos os fatores de produção podem se alterar, torna-se relevante o
conceito de isocusto. Isocusto, segundo Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, p. 167), é uma linha
onde todos os pontos indicam combinações de quantidades utilizadas dos fatores adquiridos pela firma
que representam sempre o mesmo custo total. O exemplo numérico a seguir ilustra este novo conceito.

Preço fator Qtde fator CT Preço fator Qtde fator CT CT


x1 x1 x1 x2 x2 x2 CTx1 + CTx2
6,0 20,0 120,0 4,0 0,0 0,0 120,0
6,0 18,0 108,0 4,0 3,0 12,0 120,0
6,0 14,0 84,0 4,0 9,0 36,0 120,0
6,0 10,0 60,0 4,0 15,0 60,0 120,0
6,0 6,6 39,6 4,0 20,1 80,4 120,0
6,0 3,2 19,2 4,0 25,2 100,8 120,0
6,0 0,0 0,0 4,0 30,0 120,0 120,0

35,0

30,0

25,0

20,0
Qtdefatorx2

15,0

10,0

5,0

0,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
Qtde fator x1

Isocusto = R$ 120,00

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2.4. Elasticidade

Como visto na teoria da oferta e da demanda estudado anteriormente, a quantidade consumida


e/ou ofertada de um bem ou serviço é influenciado por diversos fatores, dentre eles o próprio preço dos
bens e serviços. Assim, diz-se que a demanda e/ou a oferta são sensíveis às mudanças de preços (e de
outros fatores, como a renda, por exemplo).
Verificou-se até o momento a direção da relação entre os diversos fatores e a quantidade
consumida e ofertada, ou seja, no estudo realizado até aqui sabe-se que a elevação do preço de um
produto reduz sua demanda, porém eleva sua oferta. Contudo, não se conhece a magnitude numérica
desta relação, ou seja, se o preço do produto aumentar 10% em quanto a demanda e a oferta irão se
alterar? O conceito de elasticidade permite justamente responder esta pergunta, ou seja, a elasticidade
fornece um indicador numérico da relação entre diversos fatores com a quantidade demandada e
ofertada.
Neste sentido, o conceito de elasticidade permite verificar qual a oferta/demanda de produtos e
serviços que são mais sensíveis às alterações de preços (ou outros fatores) do que outros. É a partir do
conceito de elasticidade que se pode medir esse grau de sensibilidade de um produto em relação à
alteração de preço ou da renda (ou de outros fatores que sejam mensuráveis). Desta maneira, a
elasticidade pode ser entendida como um número que indica se um bem ou serviço é sensível ou
não às alterações de um determinado fator como o preço ou a renda.
Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 78), o conceito de elasticidade é aplicável
em diversas áreas da Economia e não somente na Microeconomia.

FORMA DE CÁLCULO E CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE

A fórmula básica para medir o grau de sensibilidade de um produto em relação às alterações de


um fator qualquer (como o preço, a renda ou qualquer outro que seja mensurável) e dada pela seguinte
expressão:

Variação Percentual da Qtde. demandada/ofertada


E=
Variação Percentual do fator determinante em questão

Ou mais detalhadamente:

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Qtde. demandada/ofertada final – Qtde demandada/ofertada inicial
Qtde demandada/ofertada inicial
E=
Valor final do determinante – Valor inicial do determinante
Valor inicial do determinante

Os dados abaixo permitem exemplificar este procedimento de cálculo. Suponha a seguinte


escala de demanda, dada pela relação entre quantidade demanda e o preço do produto, conforme
demonstrado pela tabela abaixo:

Tabela – Exemplo (Escala de Demanda de Trigo)


Quantidade Demandada de
Preço do Trigo
Trigo (ton)
50.00 89
55.00 75

75 – 89

89
E=
55 – 50
50

-14
89
E=
5
50

-0,1573

E=
0,1000

E = -1,5730

Neste exemplo, as variáveis relacionadas são preço e quantidade demandada. O coeficiente


calculado acima, por relacionar estas duas variáveis chama-se de coeficiente de elasticidade de
elasticidade-preço da demanda. Caso as variáveis relacionadas fossem a renda e quantidade
demanda, teríamos um coeficiente denominado de elasticidade-renda da demanda.

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O que se pode notar a partir do exemplo acima é que o preço do produto teve um crescimento
de 10% (de R$ 50,00 para R$ 55,00), enquanto que a quantidade demanda se reduziu em 15,73% (de
89 para 75 toneladas) gerando um coeficiente de elasticidade-preço da demanda igual a -1,5730.
O sinal negativo indica uma relação negativa das variáveis em questão. No exemplo, o sinal
negativo confirma a idéia por trás da teoria da demanda, ou seja, quando eleva-se o preço, reduz a
quantidade demanda de um determinado produto. Caso o sinal do coeficiente fosse positivo, indicaria
uma relação positiva, ou seja, um aumento no preço, elevaria também a quantidade.
A partir do valor em módulo (ou seja, dos valores positivos) destes coeficientes, pode-se
classificar um bem ou serviço em 3 tipos básicos de elasticidade:
1) ELÁSTICA (quando |E > 1|): significa que uma mudança (em termos percentuais) no preço
(ou na renda ou em qualquer outro fator) provoca uma mudança (em termos percentuais) da quantidade
(demandada ou ofertada) maior que a mudança do preço. Significa dizer que um produto ou serviço é
muito sensível às alterações que ocorrem em um determinado fator determinante.
2) INELÁSTICA (quando |E < 1|): significa que uma mudança (em termos percentuais) no
preço (ou na renda ou em qualquer outro fator) provoca uma mudança (em termos percentuais) da
quantidade (demandada ou ofertada) menor que a mudança do preço. É o mesmo que dizer que a
quantidade (demanda/ofertada) de um determinado produto é pouco sensível às alterações que ocorrem
em um determinado fator determinante.
3) ELASTICIDADE UNITÁRIA (quando |E = 1|): significa que uma mudança (em termos
percentuais) no preço (ou na renda ou em qualquer outro fator) provoca uma mudança (em termos
percentuais) da quantidade (demandada ou ofertada) igual que a mudança do preço. É o mesmo que
dizer que um produto não é sensível, ou não é influenciado pelas alterações neste fator determinante
em questão.
No exemplo realizado anteriormente o coeficiente de elasticidade-preço da demanda foi igual a
-1,5730, que em módulo seria igual a 1,5730, ou seja, superior a 1, indicando que a demanda de trigo é
elástica ao preço do produto. Em outras palavras, a quantidade consumida de trigo é muito sensível às
mudanças que ocorrem no preço do produto.
Exemplo ilustrativo: suponha que o preço de um determinado produto sofra uma redução de R$
8,00 para R$ 6,00 e que a quantidade demandada passe de um valor de 25 para 30 unidades. Qual o
valor do coeficiente de elasticidade?
Aplicando a fórmula básica de cálculo, teria-se a seguinte situação:

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30 – 25
25
E=
6–8
8

5
25
E=
-2
8

0,2000

E=
- 0,2500

E = -0,8000

Neste exemplo, percebe-se que a quantidade demandada sofreu uma variação de 20% (de 25
para 30 unidades) enquanto que a variação no preço foi de -25% (de R$ 8,00 para R$ 6,00), permitindo
criar um coeficiente igual a -0,80, que em módulo é igual a 0,80. Como este valor é menor que 1,
indica-se que a demanda deste produto é inelásticas (ou pouco sensível) as mudanças no preço do
produto. Isto fica claro com a simples visualização da variação na quantidade demandada e no preço do
produto. A variação na quantidade demandada foi de 20% enquanto que a variação no preço foi de
25%, ou seja, ΔQ< ΔP.
A mesma lógica de análise pode ser feita quanto se relacionada quantidade ofertada e preço,
quantidade demanda e renda e quantidade ofertada e renda, dentre outras inúmeras possibilidades.

FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE DE UM DETERMINADO BEM OU


SERVIÇO

Os fatores que podem influenciar a elasticidades dos produtos, segundo Passos & Nogami
(2001, pp. 126-127) são:
a) grau de essencialidade dos produtos: quanto mais essencial for o produto ou o serviço,
mais inelástico ele será, ou seja, por ser muito essencial, um grande aumento no preço, dificilmente irá

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reduzir na mesma magnitude a quantidade demandada deste produto. São os casos, por exemplo, de
itens de consumo cotidiano, como o arroz e o sal, ou ainda como remédios.
b) possibilidade de substituição: quanto mais produtos substitutos uma mercadoria tiver, mais
elástica ela se torna às variações nos preços, ou seja, grandes aumentos nos preços provocam grandes
reduções nas quantidades demandadas destes produtos. Um exemplo pode ser encontrado na
concorrência entre Coca-Cola e Guaraná.
c) importância relativa do bem no orçamento do consumidor: quanto menor for o peso de
um bem no orçamento do consumidor, mais inelástico este produto será. Por exemplo, o fósforo, por
ser um item que tem pequeno peso no orçamento familiar tem uma demanda mais inelástica (ou seja,
menos sensível às alterações de preço) do que a carne, que tem um grande peso no orçamento familiar.
d) o tempo: com o passar do tempo, novos produtos e novos hábitos de consumo surgem,
fazendo com que a demanda dos produtos se tornem mais elástica, ou seja, mais sensíveis e suscetíveis
às alterações de preço.

2.5. Estruturas de mercado

Neste tópico pretende-se estudar a forma pela quais são determinados os preços dos produtos e
as quantidades oferecidas nas diversas estruturas de mercado. Porém tais mercados são estruturados de
maneiras diferenciadas. Conforme apontam Passos & Nogami (2001, p. 228), dois fatores básicos
diferenciam estas estruturas de mercado, a saber: i) o número de firmas produtoras atuando, e; ii) a
homogeneidade/diferenciação existente entre os produtos.
A partir destes dois itens, a estrutura dos mercados pode ser classificada em: a) concorrência
perfeita; b) monopólio; c) concorrência monopolista, e d) oligopólio. A figura abaixo indica a
localização de cada estrutura de mercado segundo o critério do número de empresas que compõem o
mercado e o grau de homogeneidade (igualdade) dos produtos de cada mercado.

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A seguir apresentam-se mais detalhadamente as características gerais de cada uma das
estruturas indicadas anteriormente e como funciona o processo de determinação de preço e quantidade
produzida em cada uma delas.

CONCORRÊNCIA PERFEITA

Como apontam Passos & Nogami (2001, p 229), a concorrência perfeita é uma estrutura que
visa mostrar qual deveria ser o funcionamento ideal de uma economia, servindo de base comparativa
para outras estruturas. Apesar de ser uma construção teórica, existem algumas situações que se
aproximam a ela, como é o caso do mercado dos produtos agrícolas, ou de uma feira livre.
A concorrência perfeita é a situação de mercado caracterizada pela existência de um grande
número de compradores e vendedores, e que são tão pequenos que nenhum deles, de maneira
isolada, é capaz de influenciar o preço de mercado, ou seja, tantos os produtores como os consumidores
são tomadores de preço.
Neste tipo de mercado, os produtos são homogêneos, ou seja, não existem diferenças entre
eles, sendo assim, perfeitos substitutos entre si. A partir disso, tem-se que os compradores são
indiferentes quanto a que empresa irá recorrer para efetuar a compra do produto.
Uma terceira hipótese básica deste tipo de estrutura de mercado é a inexistência de barreiras
legais e econômicas tanto para a entrada como para a saída das empresas do mercado. Esta
hipótese torna-se importante, pois é a partir dela que se garante que não haverá um pequeno número de
empresas controlando o mercado e se destacando das demais empresas. É bem sabido, contudo, que
esta é uma hipótese extremamente forte, pois existem diversas barreiras para as empresas entrarem
como até mesmo para saírem de um determinado mercado, como os aspectos burocráticos, necessidade
de grandes investimentos, capital imobilizado de pequena liquidez, dentre outros.
Existe ainda neste tipo de mercado uma grande transparência, no sentido de que tanto os
compradores como os vendedores têm informações perfeitas sobre o funcionamento do mercado.
Ou seja, existe pleno conhecimento dos custos e lucros das empresas concorrentes, dos preços
praticados no mercado, enfim, plena existência de informações.
Apesar de serem hipóteses extremamente rígidas e irrealistas, são elas que garantem o pleno
funcionamento do mercado. Apesar deste tipo de estrutura de mercado dificilmente ocorrer na
realidade, ele é de grande importância, pois serve de comparativo-base para as demais estruturas no
estudo do relaxamento das hipóteses apresentadas.

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MONOPÓLIO

O monopólio é uma estrutura totalmente diferente da concorrência perfeita. Na verdade é seu


extremo oposto. É uma situação de mercado em que existe um só produtor de um bem (ou serviço)
que não tenha substituto próximo, ou seja, o produto não é homogêneo. Em outras palavras, o grau
de diferenciação do produto é pleno. Com isto, a empresa monopolista exerce grande influência na
determinação do preço a ser cobrado pelo seu produto e das respectivas quantidades que estará
oferecendo ao mercado.
As principais características desta estrutura de mercado são: a) um determinado produto é
suprido por uma única empresa; b) não existem substitutos próximos para este produto, e; c) existem
obstáculos à entrada de novas firmas no segmento.
Contudo, para que o monopólio exista é necessário manter as concorrentes em potencial
afastadas do mercado através de barreiras que impeçam ou desestimulem o surgimento de novas
competidoras. Estes obstáculos podem ser oriundos do: a) monopólio natural; b) controle sobre o
fornecimento de matérias primas; c) proteção de patentes; d) processo burocrático do sistema, ou ainda;
e) monopólios legais (como é o caso da Petrobrás – que tem direito exclusivo do governo para operar
no país).

CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA

A concorrência monopolista é uma estrutura de mercado que contém elementos da


concorrência perfeita e do monopólio, ficando em uma posição intermediária entre as duas. Assim
como na concorrência perfeita, existe na concorrência monopolista um grande número de empresas
respondendo por apenas uma pequena fração da produção total e tendo a possibilidade de ingressar ou
abandonar o mercado com relativa facilidade.
O que irá diferenciar a concorrência monopolista é o afrouxamento da hipótese de
produtos homogêneos, ou seja, na concorrência monopolista, as firmas produzem produtos
diferenciados, porém substitutos próximos. Na realidade, cada produtor procura diferenciar seu
produto a fim de torná-lo único no mercado.
A diferenciação do produto pode ser classificada em diferenciação real ou diferenciação
ilegítima. A primeira representa as diferenças reais nas características dos produtos enquanto a segunda
são diferenças superficiais, como marcas, design, embalagens, ou seja, a composição do produto fica
praticamente intacta.

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E essa diferenciação no produto que dá ao produtor o poder de monopólio, uma vez que
somente ele produz aquele tipo de bem, existindo assim, alguma liberdade para que os produtores
possam fixar seus preços. Exemplos deste tipo de estrutura de mercado podem ser encontrados no
setor de serviço como academias de ginástica, salões de beleza, padarias, etc.

OLIGOPÓLIO

É o tipo de estrutura que prevalece nos dias atuais (principalmente no mundo ocidental). Esta
estrutura é caracterizada pela existência de poucas empresas controlando a oferta de um
determinado bem (ou serviço).
O oligopólio pode ser classificado como puro (ou perfeito) ou diferenciado. O oligopólio puro
é aquele em que o grupo (de poucas) empresas oferece exatamente o mesmo produto homogêneo. Este
é o caso encontrado, por exemplo, na indústria de cimentos, alumínio e outros minerais. No caso dos
produtos não serem homogêneos, o oligopólio é classificado como diferenciado, como é o caso da
indústria de automóvel e cigarros.

MONOPSÔNIO E OLIGOPSÔNIO

O monopsônio é uma situação caracterizada pela existência de muitos vendedores e um único


comprador. É uma situação que pode prevalecer especialmente no mercado de trabalho. É o caso, por
exemplo, da empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por ser única, torna-se a
demandante exclusiva de mão de obra.
O oligopsônio, por sua vez, é uma forma de mercado onde existem poucos compradores, que
dominam o mercado, para muitos vendedores.

SITUAÇÕES OLIGOPOLISTAS (CARTEL E MODELO DE LIDERANÇA DE PREÇO)

O cartel é uma organização formal de produtores dentro de um setor. Essa organização formal
determina as políticas para todas as empresas do cartel, objetivando aumentar os lucros totais do
mesmo. Por ser uma prática ilegal (pelo menos no Brasil), o cartel ocorre sem que haja qualquer
documento explicitando o comportamento. Um exemplo do dia a dia é a pratica de preço dos postos de
gasolina. Mesmo que estes jurem de pés juntos que não existe organização entre os postos, os preços
são praticamente os mesmos. Este tipo de comportamento é prejudicial aos consumidores, pois impede
a concorrência via preço.

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O modelo de liderança de preço é uma forma de conluio imperfeito em que as empresas do
setor decidem, sem acordo formal, estabelecem o mesmo preço, aceitando a liderança de preço de uma
empresa da indústria. A firma líder – a empresa que fixa o preço - pode tanto ser a firma de custo
mais baixo, como também a maior firma do mercado. Todas as firmas que conseguem seguir os
preços adotados pela líder maximizam o lucro reconhecendo a interdependência que têm entre si
Este modelo pressupõe que a liderança decorre do fato de uma das firmas rivais possuírem
estrutura de custos mais baixos que as demais. Por esta razão consegue se impor como líder do grupo.
De início, os preços podem ser diferenciados. O mercado, entretanto, preferirá o produto que esteja
sendo oferecido a preços mais baixos. Desta forma, resta à firmas que oferecem o produto a preços
mais elevados duas possibilidades: ou mantêm o preço, perdendo aos poucos mercado e e como
conseqüência são obrigadas a abandoná-lo, ou aceitam o preço praticado pela rival de menores custos,
e continuam no mercado, sem maximizar os lucros.
Assim é que a firma líder de preços fica, através de um acordo tácito (ou seja, um acordo
não formal), responsável pela determinação do nível de venda do produto. As firmas menos
favorecidas em termos de preço tornam-se seguidoras dos preços fixados pela empresa líder.
O Quadro a seguir sintetiza as principais características das quatro principais estruturas de
mercado estudadas neste tópico e a influência de tal estrutura sobre os preços praticados.

Quadro– Resumo das estruturas de mercado


Condição de Influência sobre
Estrutura Nº de Empresas Diferenciação do produto entrada e
o preço
saída
Concorrência
muitas produto homogêneo fácil nenhuma
perfeita
Monopólio uma produto único sem substituto difícil forte
próximo
Concorrência
muitas produto diferenciado fácil leve
monopolística
Oligopólio poucas homogêneo ou diferenciado difícil considerável

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3. PRINCÍPIOS DE MACROECONOMIA
O objetivo geral desta seção é descrever o foco de estudo da macroeconomia e indicar as
principais ferramentas que um governo tem para intervir na economia de modo a atingir determinados
objetivos macroeconômicos.

3.1. Conceitos gerais de macroeconomia

Diferentemente da microeconomia, a macro procura estudar a economia como um todo. Ao


invés de focar no estudo do comportamento dos indivíduos que compõem uma determinada sociedade,
a macroeconomia, conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 189), foca no estudo dos
agregados econômicos, como a renda nacional, o investimento, a poupança e o consumo, o nível geral
de preços (inflação), emprego e desemprego, estoque de moeda, taxas de juros, balanço de pagamentos
e taxa de câmbio de toda uma sociedade. Assim, a macroeconomia trata os mercados de maneira
global. Assim como apontam Troster & Mochón (2002, p. 178):

A macroeconomia busca a imagem que mostra o funcionamento da economia


em seu conjunto. Seu propósito é obter uma visão simplificada do
funcionamento da economia que, porém, permita ao mesmo tempo conhecer e
atuar sobre o nível de atividade econômica de um determinado país ou de um
determinado conjunto de países.

Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 190) a teoria macroeconômica preocupa-


se com questões conjunturais, de curto prazo, como a inflação, o desemprego, o nível de renda,
enquanto que questões do tipo estruturais são preocupações das teorias do desenvolvimento econômico
(tópico a ser abordado no próximo capítulo desta apostila).
Porém, assim como afirmam Passos & Nogami (2001, p. 291) não é correto também afirmar
que a microeconomia esta voltada para o estudo das empresas e a macroeconomia para o estudo do
comportamento dos agregados dos agentes econômicos. Assim como afirmam estes autores, as duas
áreas (micro e macroeconomia) andam juntas e sua separação prejudica o correto entendimento da
teoria econômica. A macro e a micro se diferenciam apenas segundo o nível de agregação das variáveis
econômicas.
A teoria macroeconômica busca as seguintes metas:
i) alto nível de emprego (ou em outras palavras, reduzir o desemprego);

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ii) estabilidade de preços (reduzir o problema da inflação);
iii) distribuição igualitária de renda;
iv) crescimento econômico.
Contudo, um aspecto importante da teoria macroeconômica é a de que normalmente os
objetivos não são independentes uns dos outros, ou seja, normalmente os objetivos macroeconômicos
são conflitantes. Em outras palavras, para se ter crescimento econômico, normalmente a estabilidade de
preços é comprometida. Normalmente é impossível se conseguir atingir mais de um objetivo ao mesmo
tempo. Desse modo, o administrador público (também chamado de policy maker) tem que fazer uma
escolha quanto à ênfase a ser dada a diferentes objetivos, ou seja, existe o que se chama de trade-off
entre os objetivos macroeconômicos. Conforme ressalta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 193):

Cada combinação afeta diferentes grupos na sociedade de diferentes maneiras,


e qualquer escolha estará sujeita à objeção política pelos representantes dos
grupos para os quais a escolha alternativa é pior. Na maioria dos países, é
geralmente possível prever a alternativa de política econômica a ser escolhida,
a partir do conhecimento prévio de que partido político deve assumir o poder.

Neste sentido, os objetivos macroeconômicos a serem atingidos estão muito relacionados com a
vertente política seguida por um determinado policy maker. Para alcançar tais objetivos o policy maker
pode adotar as seguintes ferramentas de política macroeconômica: política fiscal, política externa,
política de renda e política monetária. Uma política macroeconômica são as formas que um
determinado governo pode utilizar para influenciar sobre a capacidade produtiva ou sobre as despesas
agregadas visando sempre fazer com que a economia opere no pleno emprego, com baixas taxas de
inflação e com distribuição de renda igualitária.
A seguir se descreverá com um pouco mais de detalhes cada uma destas políticas.

3.2. Política fiscal

A política fiscal, segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 195) refere-se a todos os


instrumentos de que um governo dispõe para a arrecadação de tributos (também chamada de política
tributária) e controle de suas despesas (política de gastos). Em outras palavras, são todas as decisões
do governo acerca aos gastos públicos e a arrecadação de impostos.
Conforme aponta Pinho & Sandoval de Vasconcellos (1998, pp. 557-558) o setor público tem
três grandes funções econômicas a serem desempenhadas: a) função alocativa: associada ao

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fornecimento de bens e serviços não oferecidos adequadamente pelo sistema de mercado; b) função
distributiva: o governo exerce esta função quando consegue retirar renda do seguimento mais rico e
transferir para o seguimento menos favorecido, e; c) função estabilizadora: esta relacionada com a
intervenção estatal que influencia os níveis de preços e emprego. A política fiscal, portanto, é uma das
formas que o governo pode utilizar para atingir os objetivos macroeconômicos e assim, exercer suas
funções econômicas básicas.
Neste sentido, a política fiscal pode causar efeitos (de elevação ou redução) tanto na oferta
como na demanda. Sinteticamente, a tabela a seguir demonstra que tipo de política fiscal um governo
deve utilizar para alcançar certos tipos de objetivos macroeconômicos.

OBJETIVOS MACROECONÔMICOS POLITICAS FISCAL UTILIZADA


- redução do desemprego / crescimento - política de gastos expansionista (aumento dos
econômico gastos públicos) e uma política tributária mais
branda/leve (redução da carga tributária).
- estabilidade dos preços (controle da inflação) - política de gastos restritivas (redução dos gastos
públicos) e uma política tributária mais forte
(elevação da carga tributária).
- distribuição de renda - política tributária e de gastos que beneficie os
grupos menos favorecidos.

Como é possível perceber, uma política fiscal expansionista, apesar de ajudar a reduzir o
desemprego e a promover o crescimento com a economia torna-se incompatível com o objetivo de
reduzir a inflação. Eis aqui o momento em que o governo deve optar por qual o objetivo dará mais
importância no estabelecimento de suas políticas.
De maneira simplificada, existe na economia um grande debate de qual deve ser a postura que
um governo deve adotar em relação à política fiscal. Segundo Troster & Mochón (2002, p. 227), existe
o enfoque clássico que se baseia em que o governo deve limitar os seus gastos e manter o orçamento
público equilibrado, pois o gasto desenfreado e o desequilíbrio das contas públicas seriam os principais
causadores da inflação, considerado por este enfoque o principal mal econômico de todos. Para o
enfoque clássico, para se conseguir crescer e desenvolver a economia e alcançar qualquer outro
objetivo, necessariamente deve-se controlar primeiramente a inflação.
Por outro lado, o enfoque keynesiano prega que diante de um momento de recessão (da
demanda principalmente), o setor público deve intervir, manipulando os gastos e os impostos de modo
a promover o crescimento da economia. Segundo esta vertente, o orçamento deve equilibrar-se de
maneira cíclica, ou seja, nos momento de recessão o governo terá déficits, pois gastará recursos

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procurando promover o crescimento da economia. Porém, assim que a economia voltasse a apresentar
taxas de crescimento, o governo deixaria de gastar e colheria os recursos, através de impostos e de uma
maior movimentação econômica, para sanar os déficits do início.
Um debate relativamente recente sobre esse assunto refere-se às privatizações das empresas
brasileiras. No início da década de 90 do século passado, o Brasil, assim como diversas outras
economias consideradas subdesenvolvidas, passou por um processo chamado de privatização, que nada
mais é do que vender as empresas de posse do governo para o setor privado. O principal argumento a
favor das privatizações é que o setor público sempre foi ineficiente e improdutivo e ao se privatizar, as
empresas se tornariam mais eficientes e produtivas e ficaria a cargo de terceiros a função de gastar com
modernizações e não mais com o governo. Porém, a vertente contrária a este processo indica que as
privatizações deixariam o país mais vulnerável ao capital estrangeiro e poderia elevar a taxa de
desemprego de um país. O debate sobre esta questão, especificamente no caso brasileiro, é muito rico e
merece especial atenção, principalmente no que se refere a forma como foram vendidas as empresas
brasileiras, porém não é foco desta apostila.
A seguir abordam-se as medidas de política externa que um governo pode adotar almejando
alcançar os objetivos macroeconômicos.

3.3. Política externa

A política externa refere-se às medidas utilizadas pelo governo que influenciam variáveis
relacionadas com o setor externo da economia. Assim como explica Sandoval de Vasconcellos (2002,
p. 196), a política externa é composta pela política cambial e pela política comercial. A política cambial
refere-se ao controle do governo sobre as taxas de câmbio e o regime cambial, enquanto, que a política
comercial diz respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e estímulo/desestimulo às
importações, ou seja, instrumentos que influenciam diretamente o fluxo do comércio internacional do
país.

POLÍTICA CAMBIAL

Política cambial, portanto, refere-se à forma com que o governo atua na manipulação da
principal variável relacionada com o comércio exterior – a taxa de câmbio. Segundo Carvalho & Leite
da Silva (2002, p. 150), taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda

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estrangeira. Obviamente há pelo menos tantas taxas de câmbio quantas moedas estrangeiras. É uma
taxa de conversão de moedas, utilizadas para a realização de comércio com outros países.
Assim quando se fala que um dólar americano vale um real e oito centavos, já se esta
expressando a taxa de câmbio entre as duas moedas: US$ 1,00 = R$ 1,08.
Pode-se entender mais facilmente taxa de câmbio, como uma taxa de transformação, ou
seja, caso eu tenha R$ 150,00 em minhas mãos e irei viajar para os EUA onde precisarei de dólares,
tenho, portanto, que transformar os Reais em Dólares. Suponha que a taxa de câmbio do dia da viagem
esteja a seguinte: US$ 1,00 = R$ 2,50. Significa que no momento da viagem, quando transformar R$
150,00 em dólares, irei receber US$ 60,00 (R$ 150 / 2,50).
Segundo Carvalho & Leite da Silva (2002, p. 150):

A taxa de câmbio é uma variável econômica muito importante porque


intermedeia todas as transações entre residentes e não-residentes de um país.
Em outras palavras, todas as contas do balanço de pagamentos são
influenciadas pela taxa de câmbio, cujas alterações afetam exportações,
importações, entradas de capitais estrangeiros, rentabilidade das aplicações no
exterior, volume de reservas, etc.

Cada país possui sua moeda e as transações devem ser realizadas a partir das moedas correntes
de cada país. Neste sentido, um gaúcho que queira realizar a compra de um computador na Bahia, basta
utilizar em sua transação o Real (R$). Porém, caso este mesmo gaúcho queira fazer a compra de um
computador dos EUA, como ele deverá proceder?
Primeiramente, é preciso esclarecer que ele não pode comprar este computador com Reais
(R$), pois a moeda corrente nos EUA é o dólar. Outro aspecto importante é que as transações
realizadas entre os países não envolvem em nenhum instante a movimentação/deslocamento de
moeda entre os países. Tudo funciona através de débitos e créditos no sistema bancário.
Vamos supor, portanto, que este gaúcho queira comprar um computador no valor de US$
1.000,00 dólares hoje e a taxa de câmbio no momento da compra esteja R$ 1,50 por dólar (US$ 1,00 =
R$ 1,50). Com estas informações em mãos o gaúcho deverá proceder da seguinte maneira:
a) deverá ter em mãos a conta corrente da empresa que vendeu o computador a ele;
b) deverá se dirigir a um banco comercial, que efetuará os cálculos de quanto (em Reais) o
gaúcho deverá pagar pelo computador que comprou. No caso indicado acima, o computador
custava US$ 1.000 e a taxa de câmbio do dia era R$ 1,50 por dólar. Neste sentido, o gaúcho
deverá desembolsar o valor de R$ 1.500,00.
c) ele deverá, portanto, depositar na conta do americano o valor de R$ 1.500,00.

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d) automaticamente o sistema bancário irá efetuar o depósito na conta do americano em
dólares, fazendo uma nova conversão, ou seja, convertendo R$ 1.500,00 em dólares (no
caso US$ 1.000,00).
e) é um processo automático, em que os envolvidos na negociação tem apenas o trabalho de se
deslocarem (isso quando tem) ao sistema bancário para efetuar os respectivos depósitos ou
saques.
Importante ainda esclarecer como o valor da taxa de câmbio é determinada. Segundo Carvalho e
Leite da Silva (2002), sendo a taxa de câmbio um preço, ela também será influenciada pela oferta e
demanda, no caso, de divisas, ou seja, pela oferta e demanda de moeda estrangeira que entra ou sai de
um determinado país.
Assim, caso entre muita moeda estrangeira no país, a moeda estrangeira se tornará menos
escassa e, portanto, seu preço em moeda nacional tenderá a se reduzir. Neste sentido, uma diminuição
no preço da moeda estrangeira em moeda nacional denomina-se de valorização cambial. Caso a
moeda estrangeira comece a sair do país, sua escassez se elevará, ocorrendo um aumento no preço da
moeda estrangeira em moeda nacional, denominando-se de desvalorização cambial. Assim, o termo
desvalorização significa que a moeda nacional passa a valer menos em termos de moeda estrangeira.
Uma desvalorização da taxa de câmbio estimula as exportações, uma vez que os
exportadores passarão a receber mais reais por dólar de produto exportado; por outro lado, desestimula
as importações, uma vez que os importadores receberão menos reais por dólar de produto importado.
Isto faz aumentar o saldo comercial (exportações menos importações), sendo por isso considerado um
eficaz mecanismo de correção dos déficits em conta corrente do Balanço de Pagamentos.
Por outro lado, não se pode esquecer dos impactos inflacionários de uma desvalorização
cambial, uma vez que ela aumenta o custo dos produtos importados. No caso de fatores de produção
importados, uma desvalorização significa aumentos nos custos de produção. Se as empresas repassarem
esses aumentos de custos para os preços dos produtos, os preços internos acabam por se elevar e assim
gerar inflação.
A política cambial também envolve a determinação do regime cambial. Um regime cambial
pode ser entendido como uma regra que a autoridade monetária de um país adota para determinar a sua
taxa de câmbio (CARVALHO & LEITE DA SILVA, 2002, p. 150). Como se pode visualizar na figura
seguinte, existem basicamente dois tipos de regimes cambiais.

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Figura – Tipos de Regimes Cambiais
Regimes Cambiais

Fixo

Flutuante

Flutuante Limpo

Flutuante Sujo

Em um regime cambial fixo, o Banco Central fixa o preço de uma moeda estrangeira em
moeda nacional. A autoridade monetária garante a conversão de moeda estrangeira em nacional, e
vice-versa, àquele preço. Todas as transações com o exterior que envolvam entrada e saída de moeda
estrangeira obedecerão à taxa de câmbio fixa para converter as moedas.
No regime de taxas de câmbio flexíveis ou flutuantes, o Banco Central permite que o
mercado estabeleça o preço da moeda estrangeira. Há, de um lado, agentes que demandam moeda
estrangeira – importadores, turistas que vão ao exterior, etc – e, de outro, aqueles que demandam
moeda nacional em troca de moeda estrangeira que possuem (ofertantes de moeda estrangeira) –
exportadores, turistas estrangeiros no país, etc.
Nesta modalidade de regime cambial (câmbio flexível), pode ocorrer o caso (muito raro hoje em
dia) em que a autoridade monetária nunca interfere no mercado de divisas, constituindo-se em um
regime cambial flutuante limpo. Isto raramente ocorre, pois há uma relação bastante estreita entre
mercado cambial e política monetária (que será estudada logo mais neste mesmo capítulo), e, em um
regime de taxas flutuantes, o governo perde o controle sobre a oferta monetária.
Por isto, é comum que os Bancos Centrais intervenham no mercado cambial quando o preço da
moeda estrangeira se afasta muito de um valor que o governo julgue conveniente para atingir seus
objetivos, caracterizando um regime cambial de flutuação suja (ou também conhecido como “dirty
floating”). Alguns países que administram sua política cambial por meio de flutuações sujas
estabelecem bandas cambiais, ou seja, intervalos dentro dos quais a taxa de câmbio pode flutuar
livremente. Quando o mercado estabelece um preço para a moeda estrangeira que esteja fora desses
limites, ou seja, fora da banda cambial, a autoridade monetária interfere, vendendo ou comprando
divisas conforme for o caso.
Mas na prática, a maioria dos países não adota nem um regime nem outro, de forma radical, mas
com adaptações. Na atualidade, a política cambial de boa parte das nações baseia-se em um regime de

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câmbio fixo. Em geral, a taxa de câmbio de um país é fixa em relação a outra moeda, que pode ser
considerada uma âncora. Portanto, adotar um regime de taxas fixas significa ancorar o valor de
uma moeda no de outra, ou no de uma cesta de moedas. A ancoragem pode ocorrer basicamente de
três maneiras distintas:
1) No regime de ancoragem unilateral, a responsabilidade pela manutenção da paridade do
país ancorado, e não do país-âncora. Em outras palavras, a política econômica do país que adotou esse
regime passa a ser guiada pela necessidade de manter a taxa de câmbio estabelecida, enquanto o país
que serve de âncora não se preocupa com o assunto. Na atualidade poucos países adotam este sistema.
2) O currency board é uma versão radical da ancoragem unilateral. Nesse regime, o país
ancorado não só estabelece unilateralmente uma taxa de câmbio fixa, como vincula o volume de moeda
local à quantidade de moeda estrangeira de referência existente no país. Com essa medida, fica
garantida, por parte da autoridade monetária, a conversão entre as moedas local e estrangeira à taxa de
câmbio estipulada. O país que adota este regime perde completamente a capacidade de executar
política monetária. A Argentina adotou este regime em maio de 1991, quando fixou sua taxa de
câmbio, constitucionalmente, em $1/US$1, e condicionou o volume de pesos argentinos em circulação
ao saldo de dólares de suas reservas.
3) O arranjo cambial cooperativo é um sistema de ancoragem que se distingue do unilateral
na medida em que todos os países envolvidos são responsáveis pela manutenção das paridades
cambiais entre as respectivas moedas. A União Européia é um exemplo de ancoragem cooperativa.

POLÍTICA COMERCIAL

Conforme aponta Carvalho & Leite da Silva (2002, p. 50) política comercial refere-se aos
mecanismos que o governo pode utilizar para intervir sobre o comércio exterior, seja estimulando as
exportações ou estimulando/impedindo as importações.
Todo comércio é formado de transações. Para que uma transação ocorra é necessário que haja,
pelo menos, duas partes interessadas, sendo uma interessada em realizar uma compra e a outra
interessada em realizar uma venda. Assim, todo o comércio é considerado mutuamente benéfico, pois a
transação não se consolidará se ambas as partes sentirem suas necessidades satisfeitas. O processo de
transações entre países também não é diferente, porém recebe novas nomenclaturas – exportação e
importação. Uma exportação ocorre quando um país vende produtos e/ou serviços para outro país,
enquanto que uma importação é o processo de compra de produtos e/ou serviços de outro país.
Necessariamente, a exportação de um país é uma importação de outro.

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No comércio internacional a lógica empresarial também é válida. Toda empresa procura
maximizar resultados, lucros. As formas que ela tem de fazer isto são basicamente duas: ampliar as
receitas ou reduzir seus custos. Um país funciona da mesma forma!!! Ele tem que melhorar a situação
dele, e para que isto ocorra, ele tem que exportar mais (ampliando suas receitas) ou importar menos ou
importar produtos de maneira mais barata (reduzindo seus custos). Portanto, para um país a lógica é a
mesma, ou seja, quanto mais exportar, teoricamente, em melhor situação financeira este país estará.
Porém, é importante ressaltar que é impossível um país não importar produtos de outro.
Como se sabe, nenhum país é autárquico, ou seja, é auto-suficiente. Assim como são as
pessoas (ou seja, nenhuma pessoa é capaz de produzir tudo o que necessita para seu consumo), existem
determinados tipos de necessidades e recursos que obrigam um país a trazer produtos do exterior (ou
seja, importar) para satisfazê-las, pois normalmente não são produzidos internamente ou quando são,
sua produção é insuficiente para abastecer todo o mercado interno.
De maneira geral, argumenta-se que as exportações são importantes, pois permitem o país
arrecadar recursos com a venda de produtos para o exterior. Mas o principal argumento a favor de se
estimular às exportações é o fato de que para se vender mais é necessário se produzir mais.
Normalmente para se produzir mais, é necessário empregar mais pessoas. Assim, estimular as
exportações de um país significa estimular a criação de empregos e o crescimento econômico. O
contrário ocorre com o aumento das importações, ou seja, comprar em demasia de outros países
significa a saída de recursos do país e a criação de empregos em outros países. Por isto, normalmente
os policy makers adotam medidas para incrementar as exportações e desestimular as importações.
Segundo Carvalho e Leite da Silva (2002, pp. 55-73), as principais medidas que um governo
pode utilizar para atingir estes objetivos são:
a) tarifas: uma tarifa é um imposto sobre importação e é cobrado quando uma mercadoria entra
no país. Normalmente quando os policy makers querem reduzir as importações, eles promovem a
elevação de tais impostos, encarecendo o produto importado e desestimulando as pessoas a comprar do
exterior e procurar um produto similar dentro de seu próprio país. Esta medida representa ainda uma
entrada de recursos no caixa do governo.
b) subsídios: os subsídios consistem em um pagamento, direto ou indireto, realizados pelo
governo, para encorajar as exportações ou desestimular as importações. Um exemplo de subsídios são
as baixas taxas de juros fornecidas para os agricultores, ou para as empresas financiarem sua expansão.
Existem também situações em que o governo compra produtos (como por exemplo, fertilizantes) e os
vende a preços menores do que os preços de custo. Normalmente, os subsídios implicam em despesa

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para o governo e esta ferramenta pode entrar em conflitos com os objetivos de política fiscal. Este tipo
de mecanismo, normalmente implica em menores custos para o produtor. Tais custos, contudo, são
assumidos pelo governo. Com menores custos, as empresas podem praticar menores preços e se
tornarem mais competitivas no mercado interno bem como no mercado externo, conseguindo concorrer
inclusive no mercado internacional.
c) quotas de importação: são restrições quantitativas impostas sobre o volume ou sobre o valor
das importações. Com estas medidas, um governo pode, por exemplo, limitar a entrada de um produto
em um país, ou ainda criar uma política seletiva de importações. Esta política seletiva ocorreu com
frequência no Brasil no período em que ele estava se industrializando (1930 a 1980). Para aqueles
produtos que seriam fundamentais para os objetivos delineados pelo governo, libera-se quotas mais
amplas para a entrada de produtos. A Organização Mundial de Comércio (OMC) condena o uso de
quotas, por isto quando usada, conforme aponta Maia (2011, p.274), um país deve se justificar a este
órgão o porque esta utilizando tal medida.
d) licenças de importação e exportação: As licenças, por sua vez, representam processos
burocráticos de autorização por parte de algum órgão do governo. Normalmente as licenças são
necessárias nos casos de produtos que apresentam algum tipo de perigo para a sociedade de um país.
Assim, as licenças representam controles por parte dos órgãos do governo. Conforme esclarece Maia
(2011), o governo designa um órgão que estuda a necessidade do país e autoriza a importação dos
artigos essenciais. Para aqueles produtos que seriam fundamentais para o processo os objetivos do
governo, liberavam-se licenças mais facilmente.
e) controles cambiais: o governo pode ainda manipular a taxa de câmbio (através do “dirty
floating”) de modo a ampliar as exportações ou reduzir as importações. Assim, uma taxa de câmbio
desvalorizada estimula as exportações e desestimula as importações. Neste sentido, o governo pode
promover intencionalmente desvalorizações cambiais (reduzindo a quantidade de moeda estrangeira
dentro do país) para elevar as vendas e reduzir as compras com outros países. Ou ainda se o objetivo do
governo é aumentar a quantidade importada, o governo pode manipular a taxa de câmbio de forma a
valorizá-la. Outra medida existente dentro dos controles cambiais se chama mecanismo de taxas
múltiplas de câmbio, na qual, o governo administra diversas taxas de câmbio diferenciadas, sendo
utilizadas de acordo com o seu interesse. Se o governo quer, por exemplo, estimular a venda de
bananas, ele estabelece que as bananas utilizarão uma taxa de câmbio maior do que a de outros
produtos. Resumidamente, quanto maior o interesse em proteger determinado produto, maior a taxa de
câmbio fixada para sua importação. Atualmente a política de taxas múltiplas de câmbio não é utilizada

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pelo governo, mas em vários momentos esta política foi utilizada para facilitar a dificuldade de alguns
tipos de produtos e dificultar a de outros.
f) proibição de importações: esta é uma forma direta de controle e pode ser seletiva em função
da mercadoria ou do país de origem.
g) monopólio estatal: esta é uma situação em que o próprio governo centraliza a importação de
um determinado produto e impede a atuação de outros agentes nesse mercado. No Brasil, o exemplo
clássico deste tipo de medida é a importação de petróleo, monopólio da Petrobrás., ou ainda na compra
de material bélico.
h) depósito prévio à importação: neste tipo de mecanismo, antes de se realizar a importação
de uma determinada mercadoria, seu valor total (ou um percentual dele) é recolhido por um órgão do
governo (normalmente o Banco Central) e permanece retido por um determinado período de tempo. É
um método que dificulta através da burocracia estatal e permite com que o governo tenha um recurso
extra por um determinado tempo para utilizar da forma como ele achar melhor (empréstimo forçado ao
governo). Depois de cumprido o tempo de deposito, o recurso é devolvido e o importador pode iniciar
o processo de compra desejado.
i) barreiras não-tarifárias: são restrições impostas pelo funcionamento normal da burocracia e
nem sempre tem o intuito principal de reduzir as importações. Às vezes, inclusive, tais barreiras
prejudicam a venda dos próprios produtos, como foi o caso da carne bovina brasileira no início de
2008, que não se encaixava nos padrões técnicos e sanitários estabelecidos pelo mercado europeu.
Neste caso, constituem-se em barreiras não-tarifárias as restrições relacionadas aos regulamentos
sanitários e de saúde, normas técnicas que devem ser seguidas, padrões de segurança, dificuldades
relativas à documentação, inspeção e outras formas de dificultar o processo de compra e venda de
produtos entre os países. Um exemplo de barreira técnica hilário exposto por Maia (2011, p. 277) é
uma barreira definida pela União Europeia, em 1994, que determinava que as bananas importadas
devessem ter, pelo menos, 14 cm de comprimento e 2,7 cm de largura.
A seguir descreve-se a política de rendas.

3.4. Política de rendas

Conforme aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 196) as políticas de rendas referem-se aos
controles exercidos pelo governo sobre os preços e salários. Segundo este autor, a característica
especial deste tipo de política é a de que:

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(...) nesses controles, os agentes econômicos ficam proibidos de levar a cabo o
que fariam, em resposta a influências econômicas normais do mercado.
Normalmente, esses controles são utilizados como política de combate à
inflação. No Brasil, a política salarial e a atuação da Secretaria especial de
Abastecimento e Preços (Seap) situavam-se nesse contexto. Esses controles
também denominados “políticas de rendas” no sentido de que influem
diretamente sobre as rendas (salários, lucros, juros, aluguel).

O controle de preços e salários, segundo Sandroni (2001, p. 489) é o modo de intervenção mais
direto e mais radical do poder público no mercado. Regulado, seja no interesse do produtor ou no do
consumidor, o controle de preços e salários visa a fixar um preço mínimo (como é o caso do salário
mínimo) ou um preço máximo (como é o caso de produtos em geral disponíveis no mercado). Ambas
as formas tem o impacto direto sobre as rendas dos indivíduos.

3.5. Política monetária

A política monetária contempla uma série de instrumentos e é, na atualidade uma das formas
mais utilizadas pelas autoridades para intervir na economia e alcançar os objetivos macroeconômicos.
É uma grande área de estudo da macroeconomia, pois envolve uma das principais variáveis da ciência
econômica – a moeda. Antes de descrever as principais políticas monetárias existentes, destaca-se
inicialmente as funções e principais características que uma moeda deve possuir. Em seguida, realiza-
se uma breve discussão da evolução histórica da moeda. Na seqüência, estuda-se os principais
instrumentos de política monetária e por fim, a importância da intermediação financeira e a estrutura do
sistema financeiro brasileiro.

FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA MOEDA

Segundo Lopes & Rossetti (2002), a moeda pode ser compreendida como sendo uma
mercadoria que serve de equivalente geral para todas as outras mercadorias do mercado. Mas para
algum item se tornar realmente uma moeda é necessário desempenhar algumas funções e possuir
características específicas. A seguir serão discriminadas as principais funções que a moeda deve
desempenhar assim como as principais características que deve possuir.

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Funções da moeda

Segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 19-25), as principais funções que a moeda deve
desempenhar são:
a) função de intermediária de trocas: este função permitiu com que fosse superada a fase de
economia de escambo e passasse para uma economia monetária. A superação da economia de escambo
trouxe muitas vantagens, dentre as quais o aumento generalizado da eficiência econômica em sensível
acréscimo da quantidade de bens e serviços que passaram a ser posta no mercado para a troca. A moeda
desempenhando a função de intermediária de trocas fez com que não fosse mais necessário haver a
dupla coincidência de desejos para a realização das trocas.
b) função de medida de valor: a generalização da moeda implica na criação de uma unidade-
padrão de medida, à qual são convertidos os valores de todos os bens e serviços de uma economia. Se
esta função não existisse, seria praticamente impossível apurar a contabilidade social, o nível de
produto e da renda, o volume de consumo, etc.
c) função de reserva de valor: esta terceira função da moeda é a que decorre da particularidade
de a moeda servir como uma reserva de valor, desde o momento em que é recebida até o instante em
que é gasta por seu detentor. Esta capacidade traduz a forma alternativa de guardar riqueza. A moeda é
a representante universal da riqueza.
d) função liberatória: esta função refere-se à capacidade da moeda de saldar dívidas, de
liquidar débitos, de livrar seu detentor de uma situação passiva.
e) função de padrão de pagamentos diferidos: esta função resulta na capacidade que a moeda
tem de facilitar a distribuição de pagamentos ao longo do tempo, quer para a concessão de crédito ou
de diferentes formas de adiantamentos. Trata-se de uma função importante, pois a partir disto é
garantido, na economia moderna, a viabilização dos fluxos de produção e renda, que, embora
simultâneos e interdependentes, desenvolvem-se por etapas, exigindo que, ao longo delas, sejam
antecipados diferentes tipos de pagamentos.
f) função de instrumento de poder: a moeda permite que os que a detêm possuam direitos de
haver sobre os bens e serviços disponíveis no mercado, tanto maiores e mais amplos quanto maior for o
montante disponível de moeda. Assim, quanto maior as quantidades de moeda que cada indivíduo têm,
maiores serão seus poderes, tanto econômicos, políticos ou sociais.
À medida que a moeda de uma determinada economia começa a perder esses atributos, ela
inicia um processo de perda de seu papel no sistema monetário, levando os governantes à sua
substituição. Este foi o caso, por exemplo, da economia brasileira na década de 80 e início da década de

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90, quando a nossa moeda foi rebatizada por diversas vezes, por meio da alteração de sua medida de
valor.

Características essenciais da moeda

Para que a moeda possa desempenhar suas principais funções ela deve possuir uma série de
atributos. Importante ressaltar que os instrumentos monetários foram se adaptando as necessidades
cada vez mais complexas da sociedade. Neste sentido, as principais características que a moeda deve
possuir para desempenhar suas funções com eficiência, segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 25-27)
são:
a) indestrutibilidade e inalterabilidade: a moeda deve resistir às inúmeras relações de troca a
que estiver sujeita. Ela deve ser suficientemente durável no sentido de que não se destrua ou
se deteriore à medida que os agentes econômicos a utilizam na economia.
b) homogeneidade: duas unidades monetárias distintas, de igual valor, devem ser
rigorosamente iguais. A não homogeneidade da moeda pode gerar no processo de relação de
desentendimentos que venham dificultar as relações econômicas entre os agentes.
c) divisibilidade: a moeda padrão ou moeda principal de uma economia deve possuir
múltiplos e submúltiplos, denominados de moedas subsidiárias, de modo que se possa
garantir a realização de todos os tipos de transações comerciais, sejam elas de pequeno ou
grande porte.
d) transferibilidade: a moeda deve circular na economia sem nenhuma dificuldade,
facilitando o processo de troca. Se a moeda estiver materializada em uma mercadoria
qualquer ou em uma cédula emitida e garantida pelo Estado, é desejável que tanto a
mercadoria quanto a cédula não tragam quaisquer registros que identifiquem seu atual
possuidor.
e) facilidade de manuseio e transporte: o papel-moeda de uma economia deve ser impresso
de forma a facilitar o seu uso e o seu transporte, para evitar que a sua utilização seja
dificultada.
Conclusivamente: na história econômica de todos os povos, a exigência das características
essenciais que destacamos foi uma das principais justificativas para se passar de um tipo de moeda para
outro, ou, mesmo, de um sistema monetário para outro. Este processo ficou claro quando se estuda o
processo evolutivo da moeda, tópico da próxima seção.

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA

A história e a evolução da moeda é tão antiga quanto a própria humanidade é se torna


necessário um grande recuo no tempo e um pequeno exercício de imaginação para que se possa
imaginar e caracterizar as atividades econômicas de grupos humanos primitivos que não utilizavam
nenhuma forma de moeda.
Segundo Lopes & Rossetti (2002, p. 16), os primeiros agrupamentos humanos, em geral
nômades, teriam sobrevivido com padrões de atividade econômica bastante simples, baseados nas
trocas diretas de produtos, denominado de escambo. Estes grupos tinham necessidades limitadas que
na grande maioria das vezes eram satisfeitas com os próprios recursos advindos da natureza com a
prática da caça, pesca e coleta de frutos (práticas extrativistas). Além disto, a pequena diversidade de
produtos disponíveis facilitava a dupla coincidência de desejos, o que facilitava o processo do escambo.
Contudo, com o advento da primeira revolução agrícola, na qual grupos humanos passaram a
se fixar em determinadas áreas (como por exemplo, nos deltas dos Rios Nilo e Eufrates), o nomadismo
foi gradativamente cedendo lugar à forma sedentária de viver, o que tornou a vida social mais
complexa. A questão da divisão social do trabalho teve papel fundamental no processo do
surgimento da moeda. Com cada integrante da sociedade desempenhando uma função, aumentou
sensivelmente o número de bens e serviços exigidos para a satisfação humana, o que dificultou a dupla
coincidência de desejos, o que dificultava ainda mais as trocas diretas entre as pessoas.
Assim, para permitir o desenvolvimento das trocas o escambo deu lugar, gradativamente,
a processos indiretos de pagamentos. É neste ambiente, da generalização da aceitação de
determinados produtos como forma de pagamento que se configura a origem da moeda. A partir deste
momento tem-se que as operações de compra e venda são separadas e intermediadas por
produtos de aceitação geral que atuavam como moedas.
Um ponto importante a se observar e ressaltado por Lopes & Rossetti (2002, p. 18) é o fato de
que a criação da moeda é um fator essencialmente social, pois um produto só se torna em um ativo
monetário se os membros do grupo o aceitarem em pagamento das transações que se efetivam.
Com o passar do tempo, a evolução da sociedade impôs a necessidade de se facilitar às
relações de trocas. Os indivíduos, então, passaram a eleger um único produto como referencial de
trocas: uma mercadoria que tivesse algum valor e que fosse aceita por todos. Essa passagem do
escambo para a escolha de uma única mercadoria para intermediar as trocas é chamada de era das
moedas mercadorias.

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Neste período, vários tipos de produtos foram utilizados como referencial das relações de
trocas, tais como gado, fumo, azeite de oliva, sal, dentre outros, como ilustra o Quadro a seguir.
Apesar deste tipo de moeda ter facilitado um pouco o dia a dia dos indivíduos, algumas
dificuldades ainda persistiam principalmente em relação à não satisfação das características essenciais
da moeda. Neste sentido, não tardou para que a era da moeda metálica chegasse.
De forma geral, os metais foram às mercadorias que mais se ajustaram às funções
monetárias, não só porque suas características intrínsecas aproximam-se mais das características
essenciais que se exigem dos instrumentos monetários, como também porque seu valor de uso não
compromete nem compete tão diretamente com seu valor de troca.

Quadro – Principais mercadorias utilizadas como moeda


REGIÕES MERCADORIAS-MOEDA
Antiguidade (até 410)
- Egito cobre
- Babilônia, Assíria cobre, prata, cevada
- Pérsia gado
- Índia animais domésticos, arroz, metais
- China conchas, seda, sal, cereais
Idade Média (410 a 1453)
- Ilhas Britânicas moedas de couro, gado, ouro, prata
- Alemanha gado, cereais, mel
- Islândia gado, tecidos, bacalhau
- Noruega gado, escravos, tecidos
- Rússia gado, prata
- China arroz, chá, sal, estanho, prata
- Japão anéis de cobre, pérolas, arroz
Idade Moderna (1453 a 1789)
- Estados Unidos fumo, cereais, madeira, gado
- Austrália rum, trigo, carne
- Canadá peles, cereais
- França metais preciosos, cereais
- Japão arroz

Inicialmente, foram os metais não nobres como o cobre, o bronze e em especial o ferro, que
eram utilizados como moeda, porém, a descoberta de novas jazidas e a existência destes tipos de metais
em abundância fez com que ocorresse a progressiva substituição dos metais não nobres pelo ouro e pela
prata (que eram bens escassos e as novas jazidas não influenciavam significativamente o estoque já
existente, de tal forma que era possível manter o seu valor estável). Mas apesar de ter sido um grande
avanço em relação às moedas mercadorias, a moeda metálica ainda tinha um grande inconveniente

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relacionado com o transporte do mesmo a longas distâncias, que se tornou difícil (por causa do
peso) e muito arriscado (por causa dos roubos).
Assim, surgiu a era da moeda-papel. A moeda-papel veio eliminar, portanto, as dificuldades
que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas regiões européias, facilitando a
efetivação de suas operações comerciais e de crédito. Ao invés de partirem carregando a moeda
metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado de certificados de depósitos, que era
emitido por instituições conhecidas como Casas de Custódia, onde os comerciantes depositavam
as suas moedas metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia. Assim, criou-se uma nova
moeda, 100% lastreada e com a garantia de plena conversibilidade, a qualquer momento, pelo seu
detentor, e que se tornou, ao longo do tempo, o meio preferencial de troca e de reserva de valor.
Com o tempo, contudo, as Casas de Custódia notaram que a reconversão da moeda-papel em
metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao mesmo tempo e que enquanto
uns solicitavam a reconversão, outros realizavam novas emissões, levando às casas de custódia
novas quantidades de ouro e prata para depósitos. Assim e que surgiu a era da moeda fiduciária1 (ou
papel moeda) em que começaram a se emitir certificados sem lastro integral, porém o uso abusivo
desta prática fez com que diversos sistemas econômicos fossem a ruína.
Devido a estes problemas, o Estado foi levado a assumir o mecanismo de emissões, passando a
controlá-lo. Com o passar do tempo, passou-se à emissão de notas inconversíveis. Atualmente, a
maioria dos sistemas monetários são fiduciários, tendo as seguintes características: a)
inexistência de lastro metálico; b) inconversibilidade absoluta, e; c) monopólio estatal das
emissões.
Com a evolução do sistema bancário desenvolveu-se outro tipo de moeda: a moeda bancária
(ou moeda escritural). Ela é representada pelos depósitos a vista e a curto prazo nos bancos, que
passaram a movimentar esses recursos por cheques ou ordens de pagamentos. Ela é chamada de moeda
escritural uma vez que diz respeito aos lançamentos (débito e crédito) realizados nas contas correntes
dos bancos.
Basicamente, nos dias de hoje existem três tipos de moeda: a) moeda metálica; b) o papel-
moeda, e; c) a moeda escritural. A moeda metálica representa as reservar de barras de ouro retidas no
Banco Central e que são utilizadas para saldar as dívidas com o comércio exterior. O papel-moeda é
composto pelas cédulas e moedas emitidas pelo governo e que circulam legalmente por força de

1
Vem de “fidus” que significa confiança. Era uma moeda baseada na confiança das pessoas que depositavam suas riquezas
junto as Casas de Custódia.

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dispositivo legal, que lhes dá curso forçado no país e são aceitos como forma de pagamento. A moeda
escritural é a moeda dos bancos que são constituídos pelos cheques e ordens de pagamento. Alguns
estudiosos da área indicam ainda a existência de um quarto tipo de moeda – a moeda eletrônica,
constituído pelos cartões de crédito e débito.
Existe ainda as chamadas quase-moedas, que compreendem um conjunto de ativos do sistema
financeiro não monetário. Estes ativos são constituídos por compromissos assumidos pelas instituições
financeiras e pelo governo e se caracterizam pela sua extrema liquidez, além de possuírem outras
propriedades da moeda. Alguns deles são os títulos da dívida pública, depósitos de poupança,
certificados de depósitos bancários (CDBs), por exemplo. A razão principal para não serem chamados
de moedas se deve ao fato de não ser utilizado para os pagamentos de nossas despesas de consumo do
dia a dia.

POLÍTICA MONETÁRIA – CONCEITO E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS

Existe de certa forma, um grande reconhecimento, exceto por alguns representantes de setores
da sociedade menos comprometidos com os objetivos sociais de distribuição de renda e igualdade
social, de que a inflação é perversa e indesejável para um país.
Segundo Armínio Fraga e Ilan Goldfajn (Política Monetária no Brasil – Valor Econômico – 6
de novembro de 2002), “a estabilidade de preços pode gerar maiores taxas de crescimento do produto
ao reduzir incertezas e distorções, alongar os horizontes de decisão, e permitir aumento de
investimentos e ganhos de produtividade”. E concluem: “Portanto, deve-se ter claro que não existe a
opção de um maior crescimento sustentável com mais inflação”.
Traduzindo o que foi exposto acima: se os preços são previsíveis, os agentes econômicos se
sentem mais seguros para tomarem decisões de consumo ou de investimento. Assim, a manutenção de
níveis baixos de inflação é altamente desejável, para que se tenha um ambiente macroeconômico
favorável ao desenvolvimento econômico.
Mas que meios um determinado governo possui para controlar efetivamente a inflação e
promover o crescimento econômico de um país? Uma das diversas formas é através da política
monetária, foco de estudo desta seção. Segundo Lopes & Rossetti (2002, p. 253), a política monetária,
pode ser definida como o controle da oferta de moeda e das taxas de juros, no sentido de que
sejam atingidos os objetivos da política econômica global do governo. Alternativamente, pode
também ser definida como a atuação das autoridades monetárias, por meio de instrumentos de
efeito direto e indireto, com o propósito de controlar a liquidez do sistema econômico.

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Assim, a política monetária age diretamente sobre o controle da quantidade de dinheiro em
circulação, visando defender o poder de compra da moeda. Tal prática pode ser expansionista ou
restritiva. Em uma política monetária restritiva, a quantidade de dinheiro em circulação é diminuída
(ou mantida estável) e os empréstimos são encarecidos, com o objetivo de desaquecer a economia e
evitar o aumento dos preços. Já, em uma política monetária expansionista, a quantidade de dinheiro
em circulação é aumentada e o crédito e barateado, com o objetivo de aquecer a demanda e incentivar o
crescimento econômico.
É importante relembrar ainda que o manejo do conjunto de instrumentos de ação a disposição
do governo para a realização de políticas monetárias não é facilmente conciliável, no sentido de que
sejam alcançados os objetivos pretendidos pela política econômica global. Ou seja, às vezes é
necessário se praticar uma política monetária restritiva para controlar a inflação o que se torna
incompatível com o objetivo do governo de crescimento econômico.
Feita essa ponderação, torna-se importante agora esclarecer quais são os principais instrumentos
de política monetária e seus respectivos modos de funcionamento que o governo tem a disposição para
atingir os objetivos macroeconômicos globais. Segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 255-269), os
governos dispõem de cinco instrumentos básicos para efetivar a política monetária:
a) incentivo/restrição (controle) ao crédito;
b) compra/venda de títulos públicos (open market);
c) depósitos compulsórios (taxa de reserva);
d) taxa de redesconto;
e) taxa de juros.
Vejamos como cada um desses instrumentos é utilizado:

1) Incentivo/Restrição (controle) ao Crédito: por ter efeito direto sobre determinados setores
da economia, o incentivo ou a restrição ao crédito (controle direto sobre o volume e o preço do crédito)
são utilizados pelo governo como instrumentos de desenvolvimento microeconômico. Assim, se o
governo deseja expandir o agronegócio, cria incentivos para a concessão de créditos aos produtores
rurais. Se desejar restringir o consumo de determinado segmento de produtos, cria instrumentos que
restrinjam o acesso ao crédito para compra de produtos desse segmento. A utilização desse instrumento
pelas autoridades monetárias pode referir-se às três seguintes formas de intervenção direta: a) controle
do volume e da destinação do crédito; b) controle das taxas de juros, e; c) determinação dos prazos,
limites e condições dos empréstimos.

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2) Compra/Venda de Títulos Públicos (open market): através da compra e da venda de títulos
públicos, o Banco Central afeta diretamente a quantidade de dinheiro em circulação. Ao comprar títulos
do público, o banco central promove política monetária expansionista, pois entrega dinheiro em troca
dos títulos. Ao contrário, para enxugar a liquidez do sistema, o Banco Central pode vender títulos de
sua carteira própria, entregando papéis e recebendo dinheiro, que é tirado de circulação. A figura
abaixo demonstra os efeitos da política de compra e venda de títulos do governo nos meios de
pagamentos e na taxa de juros.
Figura - Impacto das operações de open market sobre os meios de pagamento e sobre a taxa de
juros

As duas políticas apresentadas anteriormente (controle de crédito e open market) são


instrumentos utilizados em conjunto para definir a política cambial. Assim como assinalado
anteriormente, a política monetária esta muito ligada à política cambial e normalmente os instrumentos
monetários são utilizados para influenciar a taxa de câmbio e conseqüentemente a política externa do
país.

3) Depósitos Compulsórios (taxa de reserva): parte dos depósitos efetuados pelos clientes não
bancários nos bancos comerciais deve ser recolhido ao Banco Central, compulsoriamente
(obrigatoriamente). Esse instrumento tem o objetivo de diminuir o poder que os bancos comerciais
possuem de multiplicar o dinheiro em circulação através dos empréstimos, possibilitando ao Banco
Central manter o controle da quantidade de dinheiro em circulação. Este é um dos mais poderosos

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instrumentos que a autoridade monetária possui para controlar a liquidez da economia. A figura
seguinte ilustra e simplifica o funcionamento deste instrumento sobre a liquidez da economia.

Figura – Forma de funcionamento da taxa de reserva compulsória

4) Taxa do Redesconto: é uma taxa exigida pelo Banco Central para cobrir os eventuais
"buracos" nos caixas dos bancos comerciais, ou seja, consiste na concessão de assistência financeira de
liquidez aos bancos comerciais. Na execução desta operação, o Banco Central funciona como o banco
dos bancos, descontando títulos dos bancos comerciais a uma taxa prefixada, com a finalidade de
atender às suas necessidades momentâneas de caixa, a curtíssimo prazo.

Figura – Forma de funcionamento do redesconto

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Se a taxa é baixa e o prazo é longo, os bancos podem se expor a riscos maiores, aumentando os
empréstimos e, por conseqüência, a quantidade de dinheiro em circulação. Se a taxa é alta e o prazo é
curto, os bancos precisam exigir riscos menores, diminuindo os empréstimos e, por conseqüência, a
quantidade de dinheiro em circulação. O controle dos meios de pagamento por intermédio do
redesconto resulta da alteração das taxas de juros cobradas pelo Banco Central, pela mudança dos
prazos concedidos aos bancos comerciais para resgate dos títulos redescontados, pela fixação de
limites da operação ou, ainda, pela restrição dos tipos de títulos redescontáveis.

5) Taxa de Juros: na teoria, a taxa de juros tem efeito direto sobre a poupança, influenciando a
remuneração do capital, e sobre os investimentos, influenciando o custo do capital. Assim, se o
objetivo é uma política monetária restritiva, a elevação da taxa de juros irá diminuir a quantidade de
dinheiro em circulação, ao estimular a poupança e elevar os custos dos investimentos. Ao contrário,
para estimular o consumo e os investimentos, as taxas de juros devem ser mais baixas.
Além destes instrumentos que permitem o governo controlar a quantidade de moeda na
economia de maneira indireta, o governo pode atuar diretamente sobre a economia, pois é o governo a
instância responsável pela emissão ou retirada de papel moeda em circulação da economia. Ou seja, o
governo pode, além dos instrumentos indicados acima, atuar diretamente sobre a oferta de moeda
(SANDOVAL DE VASCONCELLOS, 2002, p. 195).

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA – SURGIMENTO E IMPORTÂNCIA

Segundo Lopes & Rossetti (2002, pp. 405-412) a formação de um sistema financeiro
necessariamente necessita de três fatores básicos para existir. O primeiro é a superação do estágio
primitivo de escambo (através da introdução da moeda). O segundo é que haja bases institucionais
para o funcionamento do mercado de intermediação financeira e o terceiro é a necessidade de se
existirem agentes econômicos deficitários e superavitários, respectivamente dispostos a financiar
seus déficits aos custos correntes e a transformar seus ativos monetários em ativos financeiros aos
riscos e às possibilidades correntes de ganho real.
Destas três pré-condições para a existência da intermediação financeira, é atribuída primordial
importância à terceira. O pressuposto básico mais importante para que a intermediação financeira se
estabeleça em bases permanentes é a existência de agentes deficitários e superavitários. Na realidade,
os intermediários financeiros só têm razão de ser quando se encontram agentes que desejam gastar mais
do que seus rendimentos correntes, e em paralelo existam outros agentes que possuem rendimentos em

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excesso, relativamente às suas intenções de gasto, predispondo-se a trocar seus ativos monetários por
ativos financeiros não monetários.
O esquema abaixo ilustra a importância da intermediação financeira:

Figura – O processo de intermediação e o estabelecimento do mercado financeiro

Assim, entre as duas situações básicas (agentes deficitários e superavitários) posicionam-se os


intermediários financeiros, cuja atividade consiste em viabilizar o atendimento das necessidades
financeiras de curto, médio e longo prazos, manifestadas pelos agentes carentes, e a aplicação,
sob riscos minimizados, das disponibilidades dos agentes excedentes orçamentários. Trata-se, pois,
de uma atividade que estabelece uma ponte entre os agentes que poupam e os que se encontram
dispostos a gastar além dos limites de suas rendas correntes.
O surgimento da intermediação financeira permitiu os seguintes benefícios:
1) Ao invés dos agentes superavitários e deficitários administrarem suas próprias carteiras de
títulos, é preferível que eles confiem esta atividade para as instituições especializadas, pois elas estão
tecnicamente equipadas para realizar julgamentos e previsões de melhores investimentos, devido ao
fato de possuírem informações mais consistentes para tal tarefa;
2) A existência de intermediários financeiros pode minimizar os custos de cobertura dos riscos
existentes em determinado sistema econômico;
3) A existência de intermediários financeiros amplia as possibilidades de os agentes econômicos
deficitários encontrarem excedentes livres no momento exato de suas necessidades; de igual forma,
amplia as oportunidades dos agentes superavitários, com relação à absorção, a qualquer instante, de
seus excedentes no mercado financeiro;
4) A intermediação pode elevar os níveis de formação de capital, mediante maior incentivo à
poupança individual, e;
5) A intermediação financeira pode conduzir a ganhos de eficiência, em termos de produção,
para igual volume de formação e capital.

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4. PRINCÍPIOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
A preocupação com a questão do desenvolvimento econômico é algo relativamente recente. Até
então se acreditava que apenas conseguindo fazer uma economia crescer, todos os benefícios oriundos
de tal crescimento poderiam ser desfrutados por toda a sociedade. Porém percebeu-se que mesmo
alguns países tendo elevadas taxas de crescimento, ainda existia uma grande parcela da população na
margem da pobreza e da indigência. Foi o que ocorreu com o Brasil na década de 70, no chamado
Milagre Econômico, na qual o país conseguiu no período de 1968 a 1973 crescer a taxas acima de 10%
ao ano, porém ainda assim grande parcela da população não pode desfrutar de tais benefícios. O bolo
cresceu, mas não foi devidamente repartido.
Esta seção tem o intuito de esclarecer as diferenças conceituais entre crescimento e
desenvolvimento econômico, esclarecer uma das formas mais conhecidas de se calcular o
desenvolvimento econômico de um país – o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e mostrar
algumas estatísticas básicas da situação brasileira em termos de desenvolvimento econômico.

4.1. Diferença conceitual entre crescimento e desenvolvimento

Conforma aponta Sandoval de Vasconcellos (2002, p. 401) as teorias de crescimento e


desenvolvimento econômico discutem estratégias de longo prazo (diferentemente da macroeconomia),
no sentido de que medidas deveriam ser adotadas para se ter um desenvolvimento e um crescimento
econômico auto-sustentado.
Um primeiro aspecto desta linha de estudo da ciência econômica e a diferença conceitual que
existe entre crescimento e desenvolvimento econômico. Segundo Sandoval de Vasconcellos (2002, p.
401):

Crescimento e desenvolvimento econômico são dois conceitos diferentes.


Crescimento econômico é o crescimento contínuo da renda per capita ao longo
do tempo. O desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo,
incluindo as alterações da composição do produto e a alocação dos recursos
pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de
bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições
de saúde, nutrição, educação e moradia).

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Neste sentido, o desenvolvimento econômico é um conceito muito mais amplo. Assim, para se
alcançar o desenvolvimento econômico é necessário crescer. Apesar de o crescimento ser condição
necessária, não é condição suficiente para garantir a todos um melhor padrão de vida.
Troster & Mochón (2002, p. 333) conceituam desenvolvimento como um...:

(...) processo de crescimento de uma economia, ao longo do qual se aplicam


novas tecnologias e se produzem transformações sociais, que acarretam uma
melhor distribuição de riqueza e da renda (grifo do autor).

Como estes autores ainda expõem, os países em subdesenvolvimento são assim classificados,
pois se caracterizam por um conjunto de insuficiências em comparação com as chamadas economias
desenvolvidas. Dentre estas insuficiências, destaca-se: a) baixa renda por habitante (renda per capita);
b) altos índices de analfabetismo; c) débil estrutura sanitária; d) baixa taxa de poupança por habitante;
e) elevado peso da agricultura; f) elevada taxa de desemprego; g) fortes diferenças na distribuição da
renda, e; h) elevada taxa de crescimento da população.
Na verdade, dentro da área de estudo do desenvolvimento econômico existe uma série de
vertentes teóricas que procuram descrever os fatores necessários para um país se desenvolver. Alguns
atribuem importância para a indústria, outros para a agricultura, outros para o comércio exterior, alguns
para o desenvolvimento tecnológico, outros para os investimentos estrangeiros, outros para as políticas
de distribuição de renda, enfim, não existe um consenso do que deve ser feito para se desenvolver. O
único consenso que existe, neste sentido, é de que a busca pelo desenvolvimento é uma questão
complexa e que depende de inúmeros fatores e até mesmo do processo histórico de cada nação.
Neste sentido, a questão do desenvolvimento econômico é muito mais complexa e envolve
muitas outras características e fatores do que um simples processo de crescimento econômico. É
justamente esta grande complexidade que se desenvolveram diversas formas de medida com o intuito
de simplificar a análise do desenvolvimento econômico. O crescimento de uma economia é
costumeiramente medida pelo avanço/retrocesso do seu produto (Produto Interno Bruto – PIB). Porém,
a questão do desenvolvimento, como discutido, implica em mudanças qualitativas, ou seja, medir o
desenvolvimento significa medir a qualidade de vida de uma determinada população.
Uma medida amplamente conhecida e utilizada para medir o desenvolvimento econômico dos
países é o chamado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desenvolvido por Mahbud ul Had com
a colaboração do celebre economista Amartya Sen. Nesta apostila não se detalhará a forma de calculo
deste indicador, mas abaixo segue algumas informações recentes da situação do Brasil e outros países
selecionados para comparação.

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4.2. Fatores determinantes do desenvolvimento

Em seguida, expõem-se uma série de gráficos demonstrando a relação do desenvolvimento


(medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH) com algumas outras variáveis
socioeconômicas. O objetivo desta seção é compreender tais relações e demonstrar a situação do Brasil
em termos de desenvolvimento na atualidade. A tabela a seguir expõem quem são os 5 países mais
desenvolvidos e os 5 menos desenvolvidos no ano de 2011. Expõem ainda a situação dos países que
formam o chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Tabela – IDH de países selecionados - 2011


Países selecionados 2011
1 - Noruega (0,943)
2 - Austrália (0,929)
5 países com maior IDH 3 - Holanda (0,910)
4 - Estados Unidos (0,910)
5 - Nova Zelândia (0,908)
Rússia (posição e índice) 66ª (0,755)
Brasil (posição e índice) 84ª (0,718)
China (posição e índice) 101ª (0,687)
Índia (posição e índice) 134ª (0,547)
África do Sul (posição e índice) 123ª (0,619)
183 - Chade (0,328)
184 - Moçambique (0,322)
5 países com menor IDH 185 - Burundi (0,316)
186 - Níger (0,295)
187 - Congo (0,286)
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do PNUD (http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDH_global_2011.aspx)

Um ponto muito chamativo nos dados apresentados acima é o fato dos países menos
desenvolvidos serem todos africanos. Percebe-se, portanto, que este continente é o que possui piores
condições de vida para a população.
O gráfico seguinte relaciona o Índice de Desenvolvimento Humano com o PIB per capita de
cada país (GDP per capita). Neste gráfico fica clara a relação de que países mais ricos (que possuem
maiores rendas per capitas) são justamente os que possuem melhores índices de desenvolvimento.
Assim, crescimento não é a mesma coisa que desenvolvimento, mas para se conquistar melhores
condições de vida (e, portanto, maior nível de desenvolvimento) é necessário crescer.

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Gráfico – Relação do IDH com a renda per capita de cada país (ano de 2009).
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do PNUD (http://hdr.undp.org/en/data/explorer/)

O próximo gráfico relaciona o IDH com a parcela do PIB utilizada pelos governos com gastos
em saúde.

Gráfico – Relação do IDH com a porcentagem do PIB de gastos público com saúde (ano de 2009).
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do PNUD (http://hdr.undp.org/en/data/explorer/)

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É notório com tais informações que países que gastam maior parte de seu PIB com saúde
possuem melhores índices de desenvolvimento, enquanto que países com baixas taxas de gastos com
saúde ficam com baixos patamares de desenvolvimento humano.
A questão da escolaridade também é importante, como se pode visualizar no gráfico seguinte
que relaciona o IDH com a expectativa de anos de escolaridade das crianças.

Gráfico – Relação do IDH com os anos esperados de escolaridade das crianças (ano de 2009).
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do PNUD (http://hdr.undp.org/en/data/explorer/)

Percebe-se, portanto, que quanto maior é a expectativa de escolaridade das crianças, maiores
serão os índices de desenvolvimento de um país.
O próximo gráfico relaciona o IDH com a taxa de fertilidade de jovens mulheres (15-19 anos de
idade).
Percebe-se claramente com tais informações que quanto menor a taxa de natalidade entre as
adolescentes, melhor é o IDH. Uma explicação para este fato é que em famílias grandes as condições
de vidas são mais difíceis. Não é a toa que a taxa de natalidade nos últimos tempos esta se reduzindo.
As famílias tem percebido que existem dificuldades inúmeras para se sustentar uma família.
Antigamente era comum famílias compostas de 4-5 filhos. Hoje as famílias tem se formado com 1-2
filhos. Este gráfico mostra claramente que países com baixa taxa de fertilidade entre as adolescentes
são justamente os que possuem melhores índices de desenvolvimento.

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Gráfico – Relação do IDH com a taxa de fertilidade entre adolescentes de 15-19 anos de idade
(ano de 2009).
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do PNUD (http://hdr.undp.org/en/data/explorer/)

Outra variável muito interessante a ser observada é a taxa de mortalidade infantil de crianças
com menos de 5 anos, mostrada no gráfico seguinte.

Gráfico – Relação do IDH com taxa de mortalidade de crianças menores de 5 anos (ano de 2009).
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do PNUD (http://hdr.undp.org/en/data/explorer/)

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Este período da vida da criança é o momento em que o sistema imunológico esta se fortalecendo
e criando resistência para uma série de situações e, portanto, se crianças desta idade morrem é porque
estão muito suscetíveis à problemas externos, ou seja, se existe uma alta taxa de mortalidade de
crianças desta idade é porque as condições de saneamento básicos e de saúde que a cercam não são
adequadas. Percebe-se com as informações do último gráfico apresentado, que, países com alta taxa de
mortalidade de crianças menores de 5 anos são justamente os que apresentam menores índices de
desenvolvimento.
Tais informações mostram que para se alcançar índices de desenvolvimento mais altos uma
série de requisitos são necessários, como gastos em saúde, educação, saneamento básico, crescimento
econômico, e reduzir o tamanho das famílias (a partir da redução da taxa de natalidade familiar), dentre
diversos outros fatores apontados por uma vasta literatura.
Tais informações nos faz pensar também que tipo de políticas públicas os governantes podem
apresentar e desenvolver para melhorar as condições de vida de sua população e mostra diversos
desafios que precisam ser enfrentados para tal fim.

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5. PRINCÍPIOS DE ECONOMIA INTERNACIONAL

O objetivo geral desta seção e debater brevemente alguns temas relacionados com a economia
internacional, como a questão da formação de blocos econômicos, o debate sobre medidas
protecionistas ou liberais e a questão da globalização que tem sido muito forte nos dias atuais. Esta é
uma área muito abrangente de estudo da ciência econômica, porém procurou-se focar nestes tópicos
visto que são temas atuais. Inicia-se, contudo, o capítulo com uma breve revisão histórica do comércio
entre os países, para em seguida abordar os temas propostos inicialmente.

5.1. Breve histórico do comércio internacional

O comércio é uma prática que remete aos tempos antigos. Desde a época dos homens nômades,
se pode considerar que já havia algum tipo de comércio. Os nômades, devido ao fato de estarem
mudando de lugar constantemente na busca de alimentos, realizavam pouquíssimo comércio. Era um
povo que vivia essencialmente das práticas extrativistas, ou seja, usufruíam do que o meio ambiente
lhes oferecia para o próprio consumo (fosse através da caça, da pesca ou da colheita de frutos).
Outra característica importante deste tipo de povo era as necessidades simples, baseando-se
somente naquilo que seria essencial para a manutenção do funcionamento do corpo, diferentemente dos
dias atuais, que além das necessidades fundamentais dos seres humanos, as pessoas compram e
usufruem de outros produtos que incrementam seu bem-estar (seja físico ou psicológico) perante a atual
sociedade capitalista de consumo.
Apesar da simples forma de viver, ainda assim existiam formas de comercializar seus produtos.
As tribos, ao colherem ou adquirirem através da caça e da pesca produtos além de suas necessidades,
estocavam e assim que encontrassem outras tribos durante as viagens, realizavam o comércio baseado
no escambo para adquirirem produtos diferentes dos que já possuíam. Ou seja, havia um comércio
baseado no escambo e que necessitava obrigatoriamente da dupla coincidência de desejos das partes
envolvidas. Em termos mais simples: se uma tribo tinha um estoque de bananas, poderia trocar estas
bananas por laranjas de outras tribos, porém esta tribo que era dona das laranjas, obrigatoriamente teria
que querer receber em contrapartida as bananas da primeira tribo.
Assim, devido à simplicidade de vida e devido à necessidade da dupla coincidência de desejos
o comércio neste período era muito pequeno e insignificante. Importante esclarecer ainda que o
comércio internacional ainda neste período não existia, pois ainda não existia a formação de países.

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Com o passar do tempo, principalmente na Grécia antiga à beira dos rios Nilo, Tigre e Eufrates
os povos foram notando que era possível não precisar mais se deslocar de um canto para outro para
adquirir o que era preciso para manter a sobrevivência da tribo, ou seja, percebeu-se que era possível
produzir aquilo de que necessitavam. Isto ocorreu à beira dos rios indicados acima, pois toda vez que
havia chuvas e a cheia dos rios, assim que os mesmos tivessem seus níveis baixados, as terras se
tornavam favoravelmente férteis para a produção de diversos bens, o que permitiu aos povos nômades
fixarem residência, tornando-se sedentários.
Mesmo no sedentarismo o comércio realizado entre os povos era muito pequeno e
insignificante, pois se conseguia suprir as necessidades basicamente a partir da própria produção. Eis
aqui uma característica importante. De um povo extrativista, passou-se para uma civilização
produtiva. Outro fator que impedia o desenvolvimento do próprio comércio eram as dificuldades de
transporte para se alcançar outras regiões do mundo e a falta de um bem que pudesse ser utilizado
como moeda (as moedas ainda não haviam se desenvolvido de tal forma que as trocar se tornassem
mais fáceis de serem realizadas). O comércio neste período era basicamente o de artigos de luxo, que
na grande maioria das vezes exige uma mão-de-obra especifica para serem produzidos.
Conforme afirma Singer (1998, p. 112):

(...) O comércio internacional existe desde pelo menos a Antigüidade. O Império


Romano constituiu, de certo modo, uma comunidade comercial de países que
tinha por centro o Mediterrâneo. Com as invasões dos bárbaros e, mais tarde, dos
árabes, essa comunidade se desfez, mas mesmo durante a Idade Média havia um
comércio internacional muito vivo entre a Europa e a Ásia. O principal eixo
desse comércio se fazia por maré terra: caravanas de mercadores partiam da
Alemanha ou Itália para o Oriente Médio, onde trocavam seus produtos com
mercadores árabes por outros do Extremo Oriente (China, Índia).

Na Idade Média, período do feudalismo, também havia pouco comércio. Os feudos eram locais
em que um nobre vivia a partir do trabalho de seus vassalos com a obrigação de protegê-los dos ataques
externos. Os vassalos, por sua vez, eram obrigados a cultivar ou produzir produtos para o próprio
consumo e exercer atividades solicitadas pelo nobre, e normalmente, o excedente da produção era
direcionado para o consumo do nobre e não para comercializar com outros feudos. A
comercialização com outros feudos ocorria de maneira muito incipiente, pois existiam grandes chances
de furtos no decorrer do caminho (remetendo à história de Robin Hood, por exemplo), as estradas
estavam em condições desfavoráveis, além dos longos caminhos a serem percorridos.

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O comércio, principalmente o comércio internacional (entre as nações) vai se fortalecer e
intensificar-se somente com o surgimento do mercantilismo em que devido aos grandes avanços da
engenharia naval, houve as descobertas de diversas outras terras repletas de riquezas. Ou seja, o
crescimento do comércio entre as nações ocorreu naturalmente com a expansão geográfica do período.
Conforme aponta Singer (1998, p. 113):

Desta maneira se completou, nos séculos XV e XVI, a interligação por mar dos
cinco continentes. Foi obra dos europeus, que trataram de estabelecer as bases
comerciais na América, na África e na Ásia para restabelecer o comércio
internacional em moldes mais amplos e em função dos seus interesses. Só que
não ficaram apenas no estabelecimento de bases comerciais. Defrontando-se com
povos militarmente inferiorizados, embora em alguns casos economicamente
mais adiantados, os europeus passaram da penetração à conquista, colonizando
os outros continentes e estabelecendo neles enclaves de produção especializada
para o mercado mundial.

Entre a metrópole e as novas colônias descobertas predominava uma relação denominada de


pacto colonial. Apesar de um maior comércio entre as nações da época, a mesma intensidade não
ocorria entre a relação das metrópoles e suas colônias. Entre estas duas partes predominava uma
relação de exclusividade, ou seja, a colônia deveria enviar todas suas riquezas somente para a
metrópole, estando impedida de comercializar seus produtos, independente de qualquer motivo, com
qualquer outra nação.
Isto ocorria porque sempre houve interesses explícitos por parte da metrópole em manter-se no
poder nas colônias, ou seja, acreditava a metrópole que ao limitar o comércio das colônias com outros
países estaria impedindo a mesma de se desenvolver internamente, podendo exercer de maneira mais
forte sua influência sobre as novas terras. Já as colônias recebiam apenas materiais básicos para a
sobrevivência e para incrementar a produção das novas terras, mas nada demais que pudesse gerar de
alguma maneira o desenvolvimento interno da colônia.
Esta forma mercantilista de comércio estava baseada na idéia metalista, ou seja, havia o simples
e puro interesse de acumular o máximo possível de metais preciosos de modo que pudesse se
enriquecer e se tornar uma nação mais forte (existia a clara intenção de enriquecimento, pois o mesmo
estava associado com o poderio militar de cada nação).
Desta forma, tem-se que o comércio entre as nações, principalmente a partir do período
mercantilista, se fortaleceu significativamente, porém como demonstra os fatos históricos, ainda assim
o comércio entre as nações passou por altos e baixos. Nota-se a partir deste período que ocorre

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periodicamente uma intensa queda no comércio internacional principalmente nos momentos de grande
crise financeira e econômica e nos momentos de guerra internacional.
Nos casos da guerra, por exemplo, foi o que ocorreu na a Primeira Grande Guerra (1914 a 1918)
e na Segunda Grande Guerra (na década de 40) e em outras guerras mais recentes, como a Guerra do
Vietnã e na Guerra do Golfo. Percebe-se que nestes momentos ocorre uma intensa queda no fluxo de
comércio entre os países.
Os motivos para ocorrer isto são simples: primeiramente o fato dos países entrarem no chamado
“estado de guerra”, em que todos os esforços e capacidades produtivas internas de um país se voltam à
produção e crescimento interno para o abastecimento das tropas em guerra. Foi o que ocorreu, por
exemplo, com os EUA na Segunda Guerra Mundial, em que deixou de realizar o comércio com
diversos países para produzir de maneira mais intensiva seus armamentos para enfrentar os inimigos.
Outro motivo é de que nos momentos de guerra surge a desconfiança entre os países. Como se
sabe, existe um pré-requisito para que qualquer negociação internacional possa ser realizada – é o
fundamento da confiança que existe entre as partes. Só são realizadas transações quando existe a
confiança entre as partes envolvidas.
Outro fator ainda é o vínculo de parceria que existe entre alguns países. Por exemplo, o caso da
parceria que existia no período colonial entre a Holanda e Portugal que foi de extrema importância para
o sucesso da implantação da cana-de-açúcar no Brasil. Esta parceria ia muito bem, porém quando
Holanda entrou em guerra com a Espanha, por tabela também se decretou guerra com Portugal, ou seja,
a relação Holanda e Portugal foi comprometida com a guerra deste primeiro país com a Espanha.
Contudo, mesmo em momentos de guerra, nem todas as relações de comércio são rompidas.
Mesmo com a guerra ainda pode existir comércio entre as nações, porém costuma ser um comércio
voltado para o abastecimento da guerra e na maioria em menor magnitude se não houvesse guerra. Para
exemplificar este caso toma-se novamente o exemplo dos EUA na Segunda Guerra Mundial em que
concentrou seus esforços para a produção de armamentos para a guerra. Porém um batalhão não vive
somente com armamentos, é necessário ainda produtos para consumo. Neste caso em específico, os
EUA mantiveram uma forte relação comercial com o Brasil, que fornecia produtos suficientes para o
abastecimento das tropas americanas.
Fica evidente neste caso indicado acima outra característica importante da necessidade de
ocorrer comércio entre os países. Os países, por possuírem diferenças específicas, passam a se
especializar na produção de determinados bens e serviços. Este processo na especialização da
produção faz com que um país produza um determinado bem em condições mais vantajosas que os

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outros países, pois permite concentrar seus esforços naquilo que faz de melhor. Assim, a especialização
é uma característica importante do processo do comércio internacional entre os países.
Além das guerras, as crises internacionais de caráter econômico e financeiro também tendem
a prejudicar o comércio entre os países. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a crise da Bolsa de Nova
Iorque em 1929, quando os EUA deixaram de comprar o café brasileiro. Os EUA eram os principais
compradores do café brasileiro na época, porém o café sempre foi considerado como um “produto de
sobremesa”. Desta maneira, assim como a lógica individual, sempre que ocorre alguma situação de
aperto monetário e financeiro, a primeira atitude a ser tomada é descartar aquilo que é supérfluo, e foi
justamente o que os EUA fez com o café brasileiro. Na época, os cafeicultores brasileiros enfrentaram
diversas dificuldades, tanto que o café brasileiro entrou numa grave crise que decretou o fim de sua
hegemonia até então. Só para se ter uma idéia em termos numéricos: a exportação de café representava
para o Brasil em 1929 71% da pauta de produtos exportáveis. Os EUA importavam em 1929 4,4
bilhões de dólares em café, mas já em 1932, logo após a eclosão da crise e o surgimento das
dificuldades, passaram a importar apenas 1,3 bilhões de dólares, ou seja, uma significativa redução de
dinheiro que deixou de entrar no Brasil por causa de uma crise externa.
Outro exemplo clássico a ser citado são as crises internacionais do petróleo que ocorreram em
1973 e em 1981. Nestas crises houve por parte da OPEP (Organização dos países produtores e
exportadores de petróleo) a elevação exorbitante do preço do barril do petróleo (o preço do barril
chegou a ter seu preço multiplicado por 4). Para países extremamente dependentes do petróleo para o
desenvolvimento da economia interna, como era o caso do Brasil nestas épocas, foi necessário alocar
uma maior quantidade de recursos para manter o estoque de petróleo para não prejudicar o andamento
da industria nacional, porém esta maior quantidade de recursos teve que ser tirada de outros locais,
prejudicando o comércio de outros produtos.
Para finalizar, o que é importante ter-se em mente é que o comércio internacional tem a função
de permitir adquirir produtos de maneira menos custosa e de maior qualidade. Porém o comércio
entre as nações é facilmente influenciável, principalmente nos momentos de guerras e de crises
internacionais, o que requer uma maior atenção por parte das autoridades (policy makers) dos países no
relacionamento comerciais com outras nações (como não foi o caso, por exemplo, da carne bovina
brasileira com problemas de rastreabilidade e que sofreram embargos pelos países da União Européia
no início de 2008).

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5.2. Protecionismo X Liberalismo

Dentro do estudo da economia internacional existe um forte debate de que tipo de postura um
país deve adotar frente aos seus parceiros comerciais, ou seja, se um país deve adotar uma postura com
caráter protecionista ou liberal.
Por protecionismo entende-se uma postura que procura defender essencialmente os interesses da
população do país e pressupõem, grosso modo, “fechar as portas” para o comércio com outros países,
restringindo a compra (importação) de produtos. De outro lado, a corrente liberal prega que os países
devem se abrir de maneira mais intensa, pois esta abertura promoveria benefícios e vantagens
superiores ao fechamento da economia.
A corrente liberal baseia-se nos seguintes princípios: a) mercado livre, na qual o governo não
deve intervir; b) deve haver a livre concorrência, sendo os preços dos produtos formados pelo
mercado (interação entre a oferta e demanda); c) deve prevalecer a iniciativa individual, pois é através
dela que se garantirá que os indivíduos exerçam a função que quiserem, se especializando naquilo que
fazem de melhor; d) deve haver a desregulamentação, ou seja, o Estado deve retirar todos os
obstáculos legais que atrapalhar o andamento dos ajustes via mercado. O Estado desta forma deve
apenas se limitar a assuntos como justiça, defesa nacional e atuar em áreas complementares à iniciativa
privada (como nas áreas de infra-estrutura, por exemplo).
Os liberais indicam que dado estes princípios, o mercado e o comércio entre as nações permitirá
ganhos para as partes envolvidas, pois os países irão concentrar esforços, através do processo de
especialização, na produção de bens e serviços que possuem maiores vantagens (seja por causa da
dotação de recursos naturais, tecnológicos ou know-how), permitindo a utilização mais eficiente dos
recursos, acarretando em redução de custos e, portanto, melhores preços, maior produção e qualidade
dos itens fabricados. Para esta vertente, a redução de custos oriunda do processo de especialização,
acarreta em menores preços, que por sua vez incrementa o consumo, que exige mais produção, gerando
mais emprego e, portanto, maior bem-estar para os países envolvidos no processo.
Porém, os defensores da corrente protecionista alegam que o liberalismo pode criar estruturas de
mercados imperfeitos, ou seja, oligopólios, monopólios, trustes, cartéis e situações de dumping, que são
extremamente perversas para os consumidores, e, portanto, para os países envolvidos em uma
negociação comercial, principalmente aqueles que têm menor poder de barganha frente às grandes
potencias comerciais. Alega ainda esta linha de pensamento que existem certos conflitos entre as
empresas e os indivíduos que somente a atuação do governo poderá minorar os impactos perversos.

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Os protecionistas defendem, portanto, que deve haver intervenção estatal no comércio entre os
países através da criação de barreiras comerciais (já estudadas no capítulo referente às políticas
macroeconômicas – ver política externa – política comercial). Defendem ainda que o governo deve
estimular a diversificação de produtos comercializáveis, procurando diminuir a dependência externa,
ou seja, segundo esta linha de pensamento, o processo de especialização eleva a dependência existente
entre os países.
Argumentam ainda os defensores do protecionismo que é necessário a atuação do governo no
sentido de se proteger a indústria nacional, e conseqüentemente o emprego dos residentes da
concorrência desleal das empresas estrangeiras, além de que esta atuação permitiria proteger e
supervisionar o uso dos recursos naturais além de poder atuar em áreas de natureza estratégica,
principalmente naqueles setores considerados de segurança nacional, como telecomunicações, petróleo,
armamentos, etc.
Rebatendo as críticas, os que defendem as práticas liberais argumentam que o protecionismo
torna as empresas nacionais acomodadas e ineficientes, não tendo capacidade de promover melhorias
que permitam redução de preços e acréscimo de qualidade nos produtos. Além disto, argumentam que a
falta de concorrência externa cria situações de monopólios, colocando o direito de escolha do
consumidor em risco e sendo usual a prática de preços mais elevados dos que seriam observados em
situações de mercados abertos.
Enfim, este é um debate que permanece até hoje na ciência econômica, inclusive é objeto de
estudo de diversos pesquisadores. O que se observa, contudo é a prática mesclada. Não existem países
totalmente protecionistas nem totalmente abertos ao comércio mundial. Na verdade, as práticas
protecionistas são muito mais regra do que exceção. Isto pode ser visualizado com as tentativas
fracassadas da Rodada de Doha em julho de 2008, que procurou gerar acordos de comércio entre os
países desenvolvidos e subdesenvolvidos, porém, devido interesses de uma minoria, grande parte dos
acordos não pôde ser fechado.

5.3. Formação de blocos econômicos (integração econômica)

O processo de integração entre as nações é considerado pelos estudiosos uma prática antiga,
porém que se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, em parte porque o período precedente havia
sido marcado pelo excesso de protecionismo, com consequências desastrosas para todos. O propósito
de reverter essa tendência foi sustentado pelas teorias clássicas de comércio internacional que

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defendiam o livre comércio como meio de se incrementar produção e consumo, aumentando o bem
estar social.
Como mostra a história, no passado a integração entre os povos era realizada através de
invasões e conquistas e a força do exército era o principal instrumento de persuasão. Atualmente,
nações independentes procuram integrar-se por meio de acordos firmados em função de seus
interesses recíprocos.
Conforme apontam Carvalho & Leite da Silva (2001, p. 227) há diversos tipos de integração
econômica, que podem ser classificados segundo um grau crescente de interdependência, da seguinte
maneira:
a) zona de livre comércio: é onde os países sócios concordam em eliminar as barreiras sobre o
comércio recíproco, mas mantém políticas comerciais independentes em relação aos demais;
b) união aduaneira: além da eliminação recíproca das barreiras sobre o comércio, os sócios
passam a adotar uma política comercial (tarifária) uniforme (comum) em relação aos demais países;
c) mercado comum: a liberdade de deslocamento não se restringe aos produtos, mas abrange
também os fatores de produção (capital e mão-de-obra), e a política comercial é uniforme em relação a
países não-membros;
d) união econômica: os acordos não se limitam aos movimentos de bens, serviços e fatores de
produção, mas buscam harmonizar políticas econômicas para que os agentes possam operar sob
condições semelhantes nos países constituintes do bloco econômico;
e) integração econômica total: essa fase implica livre deslocamento de bens, serviços e fatores
de produção, além de completa igualdade de condições para os agentes econômicos, pois o acordo
prevê idênticas políticas econômicas e sociais, administradas por autoridades supranacionais.
Uma questão, contudo, que surge sobre o tema referente à integração e a formação de blocos
econômicos. Um bloco econômico é uma prática de política externa liberal ou protecionista? Alguns
estudiosos argumentam que a formação de blocos econômicos tem um caráter liberal, pois tem a função
justamente de propiciar maior liberdade de comércio entre os países envolvidos. Porém, a perspectiva
de outros autores é a de que a formação de blocos econômicos esta muito mais relacionada com
práticas protecionistas, pois os blocos têm sido formados, normalmente entre países com grandes
semelhanças e que a formação de blocos com países mais desenvolvidos tem sido evitada por diversos
países em processo de desenvolvimento, principalmente pelo fato dos países “mais fracos”
economicamente não quererem se sujeitar as políticas unilaterais dos países mais desenvolvidos. Um

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fato que pode alicerçar este argumento é justamente o fracasso da Rodada Doha2 de comércio
internacional.
A partir da figura seguinte é possível verificar quais são os principais blocos econômicos
existentes na atualidade. Conforme aponta Maia (2011, p. 352), a OMC destaca que existem 474 blocos
econômicos, porém os mais importantes estão indicados na figura seguinte. Não se descreverá, contudo
maiores informações sobre os blocos justamente por não ser o foco do capítulo.

Figura – Principais blocos econômicos da atualidade


Fonte: Site do Ministério da Fazenda (http://www.esaf.fazenda.gov.br/parcerias/ue/cedoc-ue/bloco-economico.html)

5.4. Globalização

Não há um consenso em relação ao como todo o processo de globalização começou. Uns


autores dizem que é uma situação totalmente nova que vem se amplificando nos dias atuais. Outros
dizem que esse já é um processo muito antigo que esta apenas em uma forma mais notável e intensa.

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A Rodada Doha é uma ronda de negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio) que visa diminuir as barreiras
comerciais em todo o mundo, incentivando o livre comércio.

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Independentemente de quando este processo se iniciou, é uma realidade nos dias atuais (Barbosa,
2001).
Conforme expõem Carvalho & Leite da Silva (2001, p. 243), embora a ideia de globalização
envolva muitos aspectos, o mais notável diz respeito à crescente interdependência entre as nações,
que vem provocando sobressaltos e comprometendo a própria dinâmica capitalista. Assim, essa
crescente interdependência tem acarretado, conforme aponta Lacerda (1998, p. 18) em uma forte
aceleração da internacionalização e fortalecendo o acirramento da competição mundial.
A globalização possui diversas interpretações e definições, contudo, independente da
interpretação que se dê à palavra globalização, pode-se afirmar que caracteriza um processo que vem
transformando intensamente as relações sociais e econômicas do mundo contemporâneo.
Embora o caráter financeiro da globalização seja o mais evidente, o processo tem outros
ângulos de análise, passando também por questões sociais e culturais. Os principais enfoques da
globalização são:
Enfoque tecnológico: os adventos de novas tecnologias da informação promoveram
uma intensificação do volume e da velocidade com que as informações são distribuídas e processadas
pelo globo. O surgimento da internet é o aspecto mais marcante de todo esse contexto, permitindo com
que a informação chegue ao outro lado do mundo com apenas um botão. São tais tecnologias que
permitirão, conforme esclarece Lacerda (1998, p. 21) uma “difusão acelerada e simultânea de
inovações técnicas, organizacionais e financeiras”. Sobre o enfoque tecnológico, Lacerda (1998, p. 25)
aponta:

A aplicação da tecnologia da informação, mediante a utilização dos circuitos


integrados, veio permitir a difusão de tecnologias, como o projeto auxiliado por
computador, máquinas-ferramenta de controle numérico por computador, robôs
industriais, sistemas de transferência automatizados e informatização do
monitoramento da produção e do controle de qualidade.
A principal característica do novo paradigma é, desta forma, o extraordinário
aumento no conteúdo de informação dos produtos, decorrente principalmente da
redução espetacular de preços dos componentes eletrônicos e do não menos
extraordinário aumento da velocidade e da capacidade de processamento e
transmissão de informações. Este novo paradigma vem em contraponto aos
anteriores, que se baseavam ora no conteúdo energético do petróleo ora no
conteúdo de materiais como o aço.
A consequência das novas tecnologias é a ocorrência de um maior nível de
automação e integração entre as atividades de concepção, produção,
gerenciamento e comercialização de produtos e serviços. Essas mudanças
tecnológicas vêm acompanhadas de inovações organizacionais importantes,
conforme Gonçalves (1994:16).

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Enfoque comercial: com a globalização, a competição passa a ocorrer em escala
mundial e não mais dentro de cada país. Há uma crescente homogeneidade nas estruturas de oferta e
demanda, possibilitando o surgimento de ganhos de escala e a uniformização das técnicas produtivas e
administrativas. Isso significa, por exemplo, que uma montadora de automóveis não precisa mais
produzir vários modelos em determinado país para atender ao mercado local. Como tem subsidiárias
em vários países, pode especializar cada uma delas em determinado modelo e as demandas pelos tipos
diferentes de automóveis passam a ser atendidas com importação. Percebe-se, portanto, um
crescimento da concorrência que não ocorre mais em escala local ou regional, mas sim em escala
internacional.
Enfoque produtivo: antigamente, toda a produção de um bem era realizada por
completo por uma organização, porém, com o advento da globalização uma parcela crescente do valor
adicionado de um produto passou a ser gerado em estruturas de produção interligadas, localizadas
em diversas partes do mundo. Em outras palavras, a crescente interligação dos mercados provoca
expansão do número de empresas oligopolistas transnacionais. Assim, a produção de um bem depende
de uma grande quantidade de empresas distribuídas por todo o mundo, acarretando na intensificação da
interdependência entre as nações. Este é o processo chamado por Lacerda (1998, p. 34) de
internacionalização da produção. Além deste aspecto, Lacerda (1998) destaque que se percebe como
característica central do enfoque produtivo a automação repetitiva e não programável (ou seja, com
muita flexibilidade para se alterar no momento que desejar). Descentralização e flexibilidade da
produção são as palavras chaves para se compreender o enfoque produtivo da globalização.
Enfoque institucional: devido à globalização, há uma tendência a uma maior
homogeneidade dos sistemas de regulação da atividade econômica nos diferentes países. Isso significa
que as relações entre os setores público e privado tendem a ser cada vez mais uniformes.
Enfoque da governabilidade: a globalização retira graus de liberdade dos governos na
condução das políticas fiscal, monetária, cambial, salarial, etc, reduzindo a soberania econômica e
política das nações. Conforme aponta Lacerda (1998, p. 22), “o grau de interpenetração das atividades
econômicas dessas corporações empresariais e as economias nacionais é de tal monta, que tendem a
diminuir consideravelmente a força dos instrumentos tradicionais de interferência estatal nas
economias locais, diminuindo o espaço das políticas econômicas”.
Enfoque financeiro: a parte da economia com maior grau de internacionalização é o
sistema financeiro. Por essa razão, é o aspecto mais frequentemente associado à ideia de globalização e

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significa o aumento do volume e/ou da velocidade de circulação dos recursos entre as diversas
economias. Porém tem um lado negativo que é a maior exposição dos países aos riscos de movimentos
especulativos em grande escala, a exemplo o que ocorreu em 1997 com a crise asiática.
Barbosa (2001) esclarece que o processo de globalização é caracterizado pela mundialização da
produção, por um forte processo de fusões e aquisições envolvendo empresas de várias partes do
mundo, por uma intensificação do processo de abertura comercial entre as nações e pela expansão das
empresas multinacionais visado ocupar pontos estratégicos para a produção e distribuição internacional
de seus produtos. Além disto o autor destaca que o processo de globalização não é caracterizado
somente por estes elementos, mas também pelo fato de difundir valores políticos, culturais, morais com
maior rapidez. Portanto, a globalização também afeta questões políticas e culturais e não somente as
econômico-financeiras como apontado até então.
Barbosa (2001) destaca ainda que a globalização não significa dizer uniformidade ou
homogeneidade das condições econômicas entre as nações, pois neste processo existem vencedores e
perdedores. Nas palavras do autor, existe neste processo os GLOBALIZADORES e os
GLOBALIZADOS. Nas palavras deste autor:

Os países que conseguem assimilar as novas tecnologias possuem as


multinacionais mais avançadas, dispondo de uma vantagem comercial adicional
em relação aos demais e de maior autonomia para realizar as suas políticas. Esses
são os “globalizadores” (...).
Já os países “globalizados” são os mais vulneráveis e, portanto, mais expostos
aos impactos negativos da globalização, pois geralmente importam mais do que
exportam, ou então exportam produtos menos elaborados e são praticamente
obrigados a adquirir do exterior as tecnologias mais caras; esses países, ao
mesmo tempo, procuram estimular a instalação de empresas multinacionais em
seu território, mas não fomentam as empresas nacionais na magnitude exigida;
além de se tornarem reféns dos movimentos bruscos de capitais de curto prazo,
sofrendo frequentes ataques especulativos contra as suas moedas (BARBOSA,
2001, p. 16).

Barbosa (2001) conclui que a globalização não pode ser rotulada como boa ou ruim, pois é o
conjunto, como exposto até aqui, de fatores econômicos, políticos e sociais que afetam o mundo
inteiro, mas não por igual, já que alguns países possuem maior capacidade de intervenção no cenário
internacional do que outros.

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5.5. Motivos para investir em outros países

Na maioria dos casos o fluxo internacional de capital esta relacionada com a atuação de
empresas denominadas de transnacionais. São chamadas transnacionais as empresas que tem capital
genuíno inteiramente livre, sem identificação nacional específica e com uma administração
internacionalizada e, no mínimo, potencialmente inclinado a localizar-se e relocalizar-se em qualquer
lugar do mundo para obter retornos mais seguros e mais altos.
Assim como explica Carvalho & Leite da Silva (2001), quando uma empresa resolve deslocar
parte de seu capital para o exterior, pode optar por investimento direto ou em portfólio. O investimento
em portfólio envolve somente ativos financeiros, como aquisição de títulos ou ações. A transação se
realiza por meio de instituições financeiras e não implica o controle da empresa beneficiaria por parte
do investidor. Já um investimento direto é uma operação em que se cria uma subsidiária no exterior ou
passa-se a exercer controle sobre uma empresa estrangeira, adquirindo a maior parte de suas ações.
Uma das expressões mais marcantes do processo de globalização é o crescimento acelerado dos
investimentos diretos no exterior. É através desses investimentos que as empresas realizam sua inserção
nos mercados estrangeiros, passando a competir em escala mundial.
Carneiro (2002, p. 279) expõem ainda que a maioria dos investimentos diretos estrangeiros no
Brasil na década de 90 destinou-se em sua maioria para fusões e aquisições de novas empresas,
enquanto apenas uma pequena parcela destes investimentos foi destinada para a criação de novas
indústrias (IDE - greenfield).
Mas afinal, porque as empresas realizam investimentos diretos no exterior? Pela teoria
econômica, a perspectiva de lucros é o que move os capitais pelo mundo. Assim, um país é capaz de
atrair investimentos diretos se oferecer vantagens às empresas que lhes possibilitem reduzir o custo de
produção ou elevar a lucratividade através de novas vendas. De maneira geral, conforme expõem Maia
(2011, p. 398), os capitais migram para outros países porque: a) houve a saturação do mercado de
origem; b) segurança, e; c) busca de maiores oportunidades de rentabilidade.
A busca por outros mercados ocorre porque trarão vantagens. Essas vantagens podem provir das
características naturais ou estruturais do país ou serem criadas pelo poder público. As mais importantes
estão relacionadas aos seguintes itens descritos a seguir:
Matéria-prima: uma empresa transnacional pode reduzir seus custos de produção
realizando investimentos diretos em países onde os recursos naturais sejam mais abundantes ou os
fatores climáticos sejam mais adequados. Quanto mais abundante o fator natural, menor tenderá ser o

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preço do mesmo e, portanto, menores serão os custos de produção para a empresa que utilizar
intensivamente estas matérias-primas.
Mão-de-obra: empresas cuja matriz está sediada em um país onde os salários são
elevados podem obter vantagens criando subsidiárias onde os trabalhadores tenham baixa remuneração.
Este processo tente a enfraquecer ainda mais o poder dos sindicatos ou até mesmo do governo na
defesa dos interesses da classe trabalhadora. Naturalmente que, a decisão de investir no exterior leva
em conta não só o custo da mão-de-obra, como também sua produtividade e escolaridade que possuem.
Estes aspectos, contudo, dependem essencialmente do tipo de produto que a firma fabrica.
Transporte: Os custos do transporte influenciam a decisão de investimento quando tem
participação elevada no valor da mercadoria. A localização da empresa será escolhida a partir da
comparação das despesas de transporte do produto final e da matéria-prima (já computados em
conjunto as possíveis variações da taxa de câmbio).
Políticas públicas: alguns países, interessados em atrair investimentos diretos a seu
território, podem oferecer tratamento fiscal preferencial na forma de subsídios ou redução da
tributação. Este é outro fator que estimula a entrada de investimentos em um determinado país. Além
disto, políticas públicas que criem uma infra estrutura educacional e logística dentro de um país são
fortes estímulos atrativos de capitais estrangeiro produtivo.
Mas, apesar do processo de relativa facilidade na movimentação de capitais, os investimentos
diretos estrangeiros não possuem apenas pontos a favor. Existem muitos inconvenientes associados
com a questão de se instalar em um novo país para desenvolver suas atividades. Inicialmente surgem os
problemas de adaptação devido às diferenças de costume, tradições e línguas.
Porém, acredita-se que os benefícios são muitos superiores que as dificuldades, já que o que se
pode verificar é uma intensificação na movimentação desses capitais. Mas há também muitos
benefícios que os investimentos podem promover para o país que esta recebendo estes recursos. Os
investimentos diretos em específico são benéficos tanto para o crescimento do produto e do emprego de
um determinado país, mas também é muito importante porque permite com que haja transferência de
conhecimento e tecnologia, bem como novas técnicas de administração e produção. Esta questão da
transferência da tecnologia e de conhecimento também é questionada por alguns autores que indicam
que existem determinados setores que mesmo que a empresa se instale no país não significa que o
conhecimento será transmitido para o país, pois existem certos tipos de atividades que exigem
qualificação específica e determinados detalhes estão na cabeça de seus elaboradores que não podem
ser transmitidos. Além disto, existe a questão da proteção de patentes.

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Ressalta-se ainda que os investimentos diretos são particularmente importantes para economias
em desenvolvimento que operam com insuficiência de poupança. A maior atividade econômica
resultante destes recursos eleva também as receitas públicas e os salários. Além disso, com o passar do
tempo, o acesso aos novos conhecimentos acaba por se difundir, gerando externalidades positivas para
outras firmas e levando a indústria a um novo patamar tecnológico.
Um dos aspectos negativos do investimento se instalar em um determinado país é a
possibilidade de formação de monopólio no mercado do país hospedeiro do investimento direto. Existe
ainda o problema da redução da soberania dos Estados Nacionais na defesa de seus interesses. Com a
globalização, a eficácia dos instrumentos tradicionais de política pública fica condicionada às
mudanças de direção ou composição das transações econômicas internacionais.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 4ª ed. São Paulo: Makron Books,
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PINHO, Diva Benevides; SANDOVAL DE VASCONCELLOS, Marco Antônio (orgs.). Manual de


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TROSTER, Roberto Luis; MOCHÓN, Francisco. Introdução à economia. São Paulo: Pearson
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Quaisquer erros são de inteira responsabilidade do autor da apostila.

André Luiz Pires Muniz

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