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A solidão original

Catequese 5
O significado da solidão original do homem

1. [...] Devemos, de fato, reler a narração do primeiro e do segundo capítulo do Livro do


Gênesis num contexto mais amplo, que nos permitirá estabelecer uma série de
significados do texto antigo a que Cristo se referiu. Hoje refletiremos portanto sobre o
significado da solidão original do homem.
Commented [FA1]: Nos três primeiro capítulo do
2. As seguintes palavras do Gênesis nos dão diretamente o ponto de partida para tal Gênesis, ainda que pareça um único texto linear, os
reflexão: “Não é bom que o homem [macho] esteja só, vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe estudiosos mostram a mistura de duas tradições distintas
corresponda”. É Deus-Javé que pronuncia estas palavras. Elas fazem parte da segunda dentro do mesmo texto, certamente escrito por pessoas
diferentes. Elas são denominadas de tradição javista
narrativa da criação do homem e portanto provêm da tradição javista. Como já (capítulos 2 e 3) e eloísta (capítulo 1) – exatamente porque
recordamos precedentemente, é significativo que, no texto javista, a narrativa da criação numa delas, Deus é tratado por Javé, enquanto na outra,
Deus é tratado por Elohim. Essas duas tradições são
do homem (macho) seja uma passagem por si só, completa, que precede a narrativa da
completas em si mesma, com sentidos estabelecidos dentro
criação da primeira mulher. É, além disso, significativo que o primeiro homem (‘adam), de si mesmo. Ou seja, se elas fossem separadas, ambas
criado do “pó da terra”, só depois da criação da primeira mulher seja definido como teriam sentidos próprios. Porém, seus significados não são
contraditórios, e quando colocados juntos se
“macho” (‘is). Assim, portanto, quando Deus-Javé pronuncia as palavras a respeito da complementam.
solidão, refere-as à solidão do “homem” enquanto tal, e não só à do macho. No primeiro capítulo, ou seja, no relato Eloista, Deus cria o
homem e a mulher de uma vez só (cf. versículos 26-27) ao
É difícil porém, só com base neste fato, chegar a conclusões de maior alcance. Apesar final do sexto dia.
disso, o contexto completo dessa solidão, de que fala Gênesis 2, 18, pode convencer-nos No relato Javista, do segundo capítulo, Deus cria primeiro a
humanidade (‘adam), para depois fazer a distinção entre
que estamos lidando com a solidão do “homem” (macho e fêmea) e não apenas da solidão homem-macho (‘is), e a mulher (‘isha) (cf. versículos 18-23).
do homem-macho, causada pela falta da mulher. Parece, por conseguinte, com base no É nesse contexto que João Paulo II explica essa tradição.
contexto inteiro, que esta solidão tem dois significados: um derivado da própria natureza Commented [FA2]: É anterior pois faz referência ao
do homem, isto é, da sua humanidade (o que é evidente na narrativa de Gn 2), e o outro próprio homem, enquanto humanidade nas suas bases mais
íntimas, ou seja, na sua sede de relação. Num primeiro
derivado da relação entre macho e fêmea, e de certo modo, isso é evidente com base no
momento, notamos a relação direta entre o homem e a
primeiro significado. Uma análise detalhada da descrição parece confirmá-lo. mulher, mas a solidão parece apontar para uma relação
mais profunda: aquela solidão do homem diante de Deus.
3. O problema da solidão manifesta-se somente no contexto da segunda narrativa [javista] Como entender isso, contudo? É necessário ter em mente,
da criação do homem. A primeira narrativa [eloísta] não menciona esse problema. Nela, antes de tudo, que essa solidão na relação entre Deus e o
homem não se dá pela ausência: o homem não é ausente
o homem é criado em um só ato como “macho e fêmea” (“Deus criou o ser humano à sua para Deus, nem Deus ausente para o homem. Nesse
imagem … Homem e mulher ele os criou). A segunda narrativa – que, segundo já sentido, é algo mais profundo que a própria solidão, pois
mencionamos, fala primeiramente sobre a criação do homem (macho), e só depois sobre ainda que esses não estejam ausentes um do outro, eles
não podem ser complementares, pois são ontologicamente
a criação da mulher a partir da “costela” do macho – concentra a nossa atenção no fato de diferentes, ou seja, para o homem não existe uma
que “o homem está só”, e isto apresenta-se como uma questão antropológica fundamental reciprocidade em relação a Deus, assim o homem não pode,
que é, de certo modo, anterior à questão levantada pelo fato de o ser humano ser macho ainda, amar a Deus de igual para igual, pois Deus é
infinitamente maior que o homem. Esse abismo será
e fêmea. Essa questão é anterior, não apenas no sentido cronológico, mas superado pela Encarnação do Verbo, onde Jesus será
principalmente no sentido existencial: é anterior “por sua própria natureza”. Esse é o perfeitamente Deus e perfeitamente homem: assumindo
nossa natureza, ele supera esse abismo ontológico entre
modo como a questão da solidão do ser humano se apresentará do ponto de vista da
Deus e o homem.
teologia do corpo, se conseguirmos fazer uma análise profunda da segunda narrativa da Num primeiro momento, então, conseguimos entender
criação em Gênesis 2. porque não existe uma vida celibatária no sentido de
realização do amor esponsal com o próprio Deus no Antigo
4. [...] O texto javista liga a criação do homem acima de tudo com a necessidade Testamento, pois essa complementação, até mesmo
“erótica”, do homem em relação a Deus, só poderá ser
de “cultivar a terra”[...]. Este ato divino já sublinha a subjetividade do homem. A alcançada através da humanidade de Cristo.
subjetividade encontra nova expressão quando o Senhor Deus “formou da terra todos os
animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao homem [macho] para ver
como os chamaria. Portanto, o primeiro significado da solidão original do homem é
definido com base em um específico “teste”, ou exame, a que se submete o homem diante
de Deus (e em certo modo também diante de si mesmo). Por meio desse “teste”, o homem
toma consciência da própria superioridade, ou seja, de não poder colocar-se em igualdade
com nenhuma outra espécie de seres vivos sobre a terra. Na verdade, como diz o texto, o Commented [FA3]: O homem, então toma consciência
homem impôs os nomes dos animais, de modo que “cada ser vivo teria o nome que o que nada nessa terra poderá saciar seu coração. Vive-se
assim numa tensão interior: primeiramente reconhece-se
homem lhe desse” “E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves como participante desse mundo material visível, mas não se
do céu e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar similar a si sacia exclusivamente com ele. Porém, olha para o alto e a
mesmo”. superioridade infinita de Deus também não lhe
complementa. Sente-se, então, só.
5. Toda esta parte do texto é, sem dúvida, uma preparação para a narrativa da criação da
mulher. Não obstante, ela também possui seu próprio significado profundo,
independentemente dessa criação. Portanto, o homem criado encontra-se, desde o
primeiro momento da sua existência, diante de Deus em busca de seu próprio ser, por
assim dizer; pode-se dizer, em busca de sua própria definição; hoje em dia se poderia
dizer, em busca de sua própria “identidade”. A observação de que o homem “está só” no
meio do mundo visível e, em especial, entre os seres vivos, tem nesta busca um
significado negativo, na medida em que exprime o que ele “não é”. Apesar disso, a
observação de que ele não pode se identificar essencialmente com o mundo visível dos
outros seres vivos (animalia) tem, ao mesmo tempo, um aspecto positivo para esta busca
primária: mesmo não sendo essa observação uma definição completa, constitui todavia
um dos seus elementos [...].
6. [...] O autoconhecimento anda de mãos dadas com o conhecimento do mundo, de todas
as criaturas visíveis, de todos os seres vivos a que o homem deu nome para afirmar ante
eles a própria dissimilaridade. Assim, portanto, a consciência revela o homem como o ser
que possui o poder de conhecer a respeito do mundo visível. Com este conhecimento, que
o faz sair, de certo modo, fora do próprio ser, o homem ao mesmo tempo revela-se a si
mesmo em toda a peculiaridade do seu ser. Ele não está apenas essencialmente e
subjetivamente só. A solidão, de fato, também significa a subjetividade do homem, a qual
se forma através do autoconhecimento. O homem está só porque é “diferente” do mundo
visível, do mundo dos seres vivos. Analisando o texto do Livro do Gênesis, tornamo-nos, Commented [FA4]: Essas palavras de São João Paulo II
em certo sentido, testemunhas do modo como o homem, com o primeiro ato de estão profundamente ligadas com sua Fenomenologia. Para
entender melhor, precisamos ter claro que a
autoconsciência, “se distingue” ante Deus-Javé de todo o mundo dos seres vivos Fenomenologia usa-se da categoria da empatia para
(animalia), como ele consequentemente se revela a si mesmo e ao mesmo tempo se afirma explicar como o homem conhece, seja as coisas, seja a si
no mundo visível como “pessoa” [...]. mesmo. Mas o que significa empatia, na Fenomenologia?
Não é somente aquele sentimento de proximidade afetiva
com algo, ou alguém; mas é um conhecimento intuitivo
daquilo “que se parece comigo” ou daquilo “que não se
parece comigo”, ou seja, daquilo que “forma par” ou
Catequese 6 daquilo “que não forma par”, por isso o nome empatia.
Assim, ao olhar para o mundo visível, o homem reconhece
A solidão original do homem e a sua consciência de ser pessoa que ele também é visível, material, tem corpo – nesse
sentido, “forma par” com o mundo. Porém, ao mesmo
tempo, reconhece que o mundo não sacia os desejos
íntimos de seu coração, sente-se só – nesse sentido “não
1. [...] Quando Deus-Javé dá a este primeiro homem, assim formado, o mandamento que forma par”. É nessa perspectiva que o homem descobre sua
diz respeito a todas as árvores que crescem no “jardim do Éden”, acima de tudo a árvore subjetividade – descobre-se como sujeito-, sua
interioridade, ou seja aquilo que está invisível ao mundo –
do conhecimento do bem e do mal, isso adiciona o aspecto da escolha e da ele descobre-se como pessoa.
autodeterminação (ou seja, do livre arbítrio) aos contornos do homem acima descritos. Commented [FA5]: Se, no primeiro momento, na
Deste modo, a imagem do homem, como pessoa dotada de uma subjetividade própria, Catequese 5, vimos que o homem toma consciência da sua
identidade, através da Solidão Original, vemos, também,
aparece diante de nós como acabada no seu primeiro esboço [...]. que ele pela liberdade de escolha entre a árvore do
conhecimento do bem e do mal, se descobre como um
2. Este homem, de quem a narrativa do capítulo primeiro diz que foi criado “à imagem homem livre, capaz de autodeterminação. Ou seja, ele não é
de Deus”, manifesta-se, na segunda narrativa, como sujeito da Aliança, isto é, um sujeito condicionado por toda a sua situação exterior, ou até
constituído como pessoa, constituído à altura de “companheiro do Absoluto”, na medida mesmo, interior.

em que deve discernir e escolher conscientemente entre o bem e o mal, entre a vida e a
morte. As palavras do primeiro mandamento de Deus-Javé , que falam diretamente sobre
a submissão e a dependência do homem-criatura ao seu Criador, revelam de modo
indireto precisamente tal nível de humanidade, como sujeito da Aliança e “companheiro
do Absoluto”. O homem está “só”: isto quer dizer que ele, através da própria humanidade,
através daquilo que ele é, está ao mesmo tempo constituído numa única, exclusiva e
irrepetível relação com o próprio Deus. A definição antropológica contida no texto javista
aproxima-se, a seu modo próprio, daquilo que exprime a definição teológica do homem,
que encontramos na primeira narrativa da criação (“Façamos o homem à Nossa imagem,
à Nossa semelhança”). Commented [FA6]: Assim, o homem não faz paridade
com o próprio Deus, mas por uma iniciativa de Deus é
3. O homem, assim formado, pertence ao mundo visível, é corpo entre corpos. [...] O convidado a formar uma aliança com Ele. É preciso ter claro,
corpo, mediante o qual o homem participa do mundo criado visível, torna-o ao mesmo que Aliança é um ato de bondade do próprio Deus e não um
ato de justiça, pois a justiça pressupõe paridade entre os
tempo consciente de estar “só”. De outro modo não teria sido capaz de chegar a essa iguais, o que não é verdade entre Deus e o homem.
convicção a que, efetivamente, como lemos, chegou, se o seu corpo não o tivesse ajudado Contudo, por misericórdia de Deus, o homem é convidado a
a compreendê-lo, tornando o fato evidente. A consciência da solidão poderia ter ser um colaborador da graça de Deus.

enfraquecido, precisamente por causa do próprio corpo. Baseando-se na experiência de Commented [FA7]: O texto bíblico, então, deixa claro que
seu próprio corpo, o homem, ‘adam, poderia ter chegado à conclusão de ser o corpo é constituinte da identidade do homem, faz parte
da estrutura da pessoa e não é somente pura exterioridade.
substancialmente semelhante aos outros seres vivos (animalia). Ao contrário, como
lemos, ele não chegou a esta conclusão, pelo contrário chegou à convicção de que estava
“só”. O texto javista nunca fala diretamente sobre o corpo; até mesmo quando diz que “o
Senhor Deus formou o homem do pó da terra”, fala do homem e não do corpo. Apesar
disso, a narração tomada no seu conjunto oferece-nos bases suficientes para perceber este
homem, criado no mundo visível, exatamente como corpo entre corpos.
A análise do texto javista permite-nos também relacionar a solidão original do homem
com a consciência do corpo, mediante a qual o homem se distingue de todos os animalia e
“se separa” deles, e também mediante a qual ele é pessoa. Pode-se afirmar com certeza
que o homem assim formado tem, ao mesmo tempo, o conhecimento e a consciência do Commented [FA8]: Através da solidão original, o homem
sentido do próprio corpo. Além disso, ele o tem baseado na experiência da solidão compreende que, tendo um corpo, não se confunde com
original. todos as coisas que tem um corpo: ele descobre-se como
pessoa precisamente por ter um corpo, e ser “algo mais que
um corpo”. A isso, podemos chamar de auto consciência,
4. [...] O homem pode dominar a terra porque só ele — e nenhum outro ser vivo — é
gerada na situação da Solidão Original, pelo fato do homem
capaz de “cultivá-la” e transformá-la segundo as próprias necessidades (“fazia jorrar da ser um corpo.
terra a água dos canais para regar o solo”). E então, este primeiro esboço de uma atividade Commented [FA9]: Ainda que esse não seja o objetivo da
especificamente humana parece fazer parte da definição do homem, tal como emerge da Teologia do Corpo, podemos ver aqui certa Teologia do
análise do texto javista. Por conseguinte, pode-se afirmar que tal esboço é intrínseco ao Trabalho. Ao contrário do que muitos acusaram a Igreja,
especialmente os historiadores da época medieval, a Igreja
significado da solidão original e pertence àquela dimensão da solidão através da qual o não via o trabalho como um castigo de Deus. Desde de o
homem tem sido desde o princípio, no mundo visível, um corpo entre corpos, e descobre princípio o trabalho é uma maneira do homem de colaborar
o significado de sua própria corporeidade. com Deus, na sua obra de criação. Ou seja, desde de antes
do pecado, o homem trabalha. Com a diferença que o
pecado trouxe a fadiga ao trabalho, por isso “com o suor do
teu rosto, comerás o teu pão” (cf. Genesis 3, 19).

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