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PENSAMENTO
.
"A resignação é um suicídio cotidiano."
(Honoré de Balzac)
AGRADECIMENTOS
O NGASR foi desenvolvido no Reino Unido por Cutcliffe e Barker (2004) e assenta em
práticas baseadas na evidência. É um índice composto por 15 itens, designados por
variáveis preditivas, que permitem efetuar a avaliação do risco de suicídio durante a
entrevista de enfermagem. A sua pontuação total varia entre 0 e 25 pontos e traduz o
nível de risco de suicídio, que é classificado em quatro níveis: risco baixo, intermédio,
elevado e muito elevado.
Da análise dos resultados ressalta que a maioria dos utentes da amostra apresenta
risco muito elevado de suicídio. O estudo das propriedades psicométricas do NGASR
revelaram uma consistência interna moderada e boa validade de conteúdo e critério. A
validade de conteúdo, obtida através de um painel de peritos, foi consensual; O índice
NGASR apresenta boa validade de critério, apresentando uma forte relação com o
QIS, BDI e DASS-21 (R=0,830 e p<0,05); A análise fatorial de componentes principais
evidenciou 6 fatores, sendo as 15 variáveis preditivas explicadas em 66,92% da
variância total. Estes resultados são semelhantes aos obtidos em estudos realizados
em outros países, pelo que se acredita que a sua aplicação seja fiável para a
população portuguesa.
ABSTRACT
Mental illness, particularly depression, are the major risk factor for suicide (WHO,
2012). There is no way to predict who will commit suicide or not , but it is possible to
assess the risk that each person has, based on the risk and protective factors,
investigated in the clinical interview (Bertolote, Mello-Santos e Botega, 2010). The
assessment of these factors help health professionals making decisions about
interventions to put into practice, thus contributing to a decrease risk (Santos et al.,
2012). The use of proper validated tools to assess the risk of suicide for the population
in question, facilitate communication and collection of information (NZGG, 2003).
Specialist nurses in mental health nursing are considered competent professionals to
perform this type of intervention, making this an area of high interest for nursing,
particularly for mental health nursing and psychiatry.
Due to the lack of well-validated instruments for the Portuguese population to make
their assessment of suicide risk, our goal was to contribute to the translation,
adaptation and validation of "The Nurses Global Assessment of Suicide Risk
(NGASR)" for the Portuguese population. This process involved the application of a
questionnaire in 109 patients with depressive symptoms and with risk factors for
suicidal behaviour.
The NGASR was developed in the UK by Cutcliffe and Barker (2004) and based on
evidence-based practices and has 15 items, called predictive variables, which allow
you to perform the assessment of suicide risk during the nursing interview. The
NGASR 's total score ranges from 0 to 25 points and reflects the level of risk of suicide,
which is classified into four risk levels: low, intermediate, high and very high.
The analysis of the results highlights that the majority of the 109 patients has a very
high risk of suicide. The study of the psychometric properties of NGASR revealed a
moderate internal consistency and good criterion and content validity, whose
consensus was obtained by a panel of experts; NGASR's index has good criterion
validity, showing a strong relationship with the QIS, BDI and DASS-21 (R=0,830 and
p<0.05); The analysis of the major components revealed six factors, with the 15
predictor variables explained in 66.92 % of the total variance. These results are similar
to those obtained in studies conducted in other countries, leading us to believe that its
application is reliable for the Portuguese population.
ÍNDICE DE QUADROS
Pág.
Pág.
INTRODUÇÃO 17
1 – DEPRESSÃO 23
1.2 - EPIDEMIOLOGIA 28
2 – COMPORTAMENTOS SUICIDÁRIOS 31
2.1 – CONCEITOS 33
2.1.4 – Suicídio 36
2.2 – EPIDEMIOLOGIA 37
3 – DEPRESSÃO E SUICÍDIO 50
4.1 – NGASR 66
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO 77
5 – METODOLOGIA 79
91
5.7 – ANÁLISE ESTÁTÍSTICA
93
6 – APRESENTAÇÃO EANÁLISE DOS RESULTADOS
CONCLUSÃO 113
BIBLIOGRAFIA 117
ANEXOS
ANEXO I - Questionário
ANEXO II - Pedido de Autorização ao Conselho de Administração
ANEXO III – Autorização da Comissão de Ética para a Saúde do Centro
Hospitalar do Algarve, EPE
ANEXO IV - Autorização da Comissão de Ética para a Saúde da Unidade
Local de Saúde de Castelo Branco, EPE
ANEXO V - Autorização da Comissão de Ética para a Saúde da Unidade
Local de Saúde da Guarda, EPE
ANEXO VI - Autorização da Comissão de Ética para a Saúde do Centro
Hospitalar Tondela/Viseu, EPE
ANEXO VII - Consentimento informado dirigido aos utentes
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
INTRODUÇÃO
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Pela forte e significativa associação entre suicídio e doença mental, uma parte
importante da avaliação do indivíduo, com comportamento da esfera suicidária, será a
avaliação psiquiátrica e psicossocial abrangente, assim como uma avaliação do risco
de suicídio a curto e longo prazo (NZGG, 2003; RNAO, 2009).
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PRIMEIRA PARTE
I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
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1 – DEPRESSÃO
Beck (1970) sintetiza alguns dos sintomas, já presentes nas explicações antigas,
nomeadamente distúrbios de humor, comportamentos de auto-humilhação, sintomas
físicos e vegetativos, autopunição e ilusão de ter cometido pecados imperdoáveis.
Estes sintomas ainda hoje se encontram presentes no diagnóstico de depressão.
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
De acordo com a APA (2002) são critérios para o Episódio Depressivo Major:
A. Estão presentes 5 (ou mais) dos seguintes sintomas durante o mesmo período
de 2 semanas e representam uma alteração do funcionamento prévio, sendo que pelo
menos um dos sintomas é humor depressivo ou perda de prazer ou do interesse:
1 – Humor depressivo na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por
relato subjetivo (sentir-se triste ou vazio) ou observação de outros (parece choroso);
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
D. Os sintomas não são devidos aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância
(abuso de droga, medicação) ou de um estado físico geral (hipotiroidismo).
E. Os sintomas não são melhor explicados por luto, isto é, depois da perda de um
ente querido, os sintomas persistem por mais de dois meses ou são caraterizados por
uma marcada deficiência funcional, preocupação mórbida com sentimentos de
desvalorização pessoal, ideação suicida, sintomas psicóticos ou lentificação
psicomotora.
A perda do interesse ou do prazer está quase sempre presente, ainda que por vezes
possa ser em grau ligeiro, verifica-se uma diminuição do interesse por algumas
atividades de lazer e por algumas atividades que anteriormente lhe davam prazer
(APA, 2002). A nível sexual verifica-se uma diminuição do interesse (APA, 2002; Costa
e Maltez, 2005) que pode, em situações extremas, ser caraterizada por anorgasmia
(Costa e Maltez, 2005).
1.2 - EPIDEMIOLOGIA
As perturbações depressivas são a 3.ª causa de carga global de doença (1.ª nos
países desenvolvidos), estando previsto que passem a ser a 1.ª a nível mundial em
2030 (OMS, 2013).
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Ainda segundo o mesmo autor, a depressão é mais comum em áreas rurais do que
urbanas e não existem diferenças entre raças para a prevalência de transtorno de
humor. Os acontecimentos da vida são apontados como tendo um papel principal na
depressão. Mas, de entre os acontecimentos, são apontados com mais frequência no
desenvolvimento de depressão: a perda de um dos pais antes dos 11 anos de idade, a
perda do cônjuge e o desemprego, sendo que os indivíduos desempregados têm 3
vezes mais probabilidade de apresentar depressão do que as pessoas que têm
emprego.
De acordo com Costa e Maltez (2005) após o primeiro surto de depressão há uma
probabilidade de 50% para a recorrência, esta percentagem sobe para os 70% após o
segundo e é de 90% nos casos de utentes com mais de dois surtos. Estudos de
follow-up com utentes deprimidos concluíram, que um ano após o episódio, cerca de
40% estão sem diagnóstico e recuperados, 40% mantém o diagnóstico inicial e os
restantes 20% evoluíram para perturbações distímicas (depressões crónicas com mais
de dois anos de evolução e sintomatologia menos intensa e variável).
O “The Global Burden of Disease” (Murray e Lopez, 1996), realizado pela Organização
Mundial de Saúde, o Banco Mundial e a Universidade de Harvard demonstrou dois
factos que alteraram a perceção pública da importância das doenças mentais:
- em primeiro lugar, realça que entre as principais causas de carga global das
doenças, medida através do número de anos vividos com incapacidade e o número de
anos perdidos por morte prematura como consequência da doença, encontram-se as
perturbações psiquiátricas e as relacionadas com a utilização de álcool e de outras
substâncias;
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Segundo o “The European Health Report”, realizado pela WHO (2002a), as doenças
crónicas tal como doenças cardiovasculares, cancro, diabetes mellitus, patologia
respiratória crónica, as doenças osteoarticulares e as perturbações da saúde mental
como a depressão constituem-se como a principal causa de morbilidade e mortalidade
das sociedades desenvolvidas.
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responsáveis por mais de 12% da carga global de doença em todo o mundo, valor que
sobe para 23% nos países desenvolvidos. Além disso, 5 das 10 principais causas de
incapacidade a longo prazo e de dependência psicossocial são doenças
neuropsiquiátricas, sendo a depressão unipolar responsável por 11,8%.
Segundo a DGS (2013a) a Saúde Mental apresenta 5 patologias no top ten das
entidades nosológicas responsáveis pela maior incapacidade para a atividade
produtiva e psicossocial: a depressão major ocupa o primeiro lugar. O consumo de
mais antidepressivos por perturbações depressivas é, em Portugal, superior à média
da UE (55% em Portugal e 51% na UE).
A depressão tende para a cronicidade e tem a duração média de seis meses. Leva
frequentemente ao suicídio, determina estilos de vida pouco saudáveis, ocorre
frequentemente em comorbilidade com outras doenças e agrava o estado de saúde,
bem como o prognóstico dessas doenças, aumentando a mortalidade (Gusmão et al.,
2005).
2 - COMPORTAMENTOS SUICIDÁRIOS
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seio da literatura destaca-se Emile Durkheim com a importância atribuída aos fatores
sociais como génese do ímpeto suicida transcrita na obra “O Suicídio, Estudo
Sociológico” (Durkheim, 1982).
Sadock (2007) acrescenta que o suicídio tem ocorrido desde o início da história, com
atitudes que variam da condenação à tolerância, dependendo da época e da cultura.
Atualmente, na sociedade ocidental, não é visto nem como um ato aleatório, nem
como algo sem sentido. Pelo contrário, é uma saída de um problema ou crise que está
a provocar um sofrimento intenso. Shneidman (2001), refere que a pessoa suicida
envia sinais de sofrimento e que o suicídio está associado a necessidades frustradas
ou insatisfeitas, sentimentos de desesperança e desamparo, conflitos ambivalentes
entre sobrevivência e stress incontrolável, surgindo uma necessidade de fugir. Os
suicidologistas contemporâneos não acreditam que uma psicodinâmica ou estrutura de
personalidade específica esteja associada ao suicídio. As teorias recentes defendem
que muito pode ser aprendido sobre as psicodinâmicas dos doentes suicidas, o que
aconteceria e quais as consequências se cometessem o suicídio. Tais fantasias
incluem desejos de vingança, poder, controle ou punição, expiação, sacrifício ou
reparação, fuga ou sono, resgate, renascimento, reunião com o morto, ou uma nova
vida.
O suicídio é definido como um ato de por termo à própria vida com um resultado fatal,
que foi deliberadamente iniciado e preparado, com o prévio conhecimento do seu
resultado final e através do qual o indivíduo pensou fazer o que desejava (OMS,
2003).
O suicídio tem repercussões a diversos níveis, quer na sociedade, quer nos familiares,
causando um impacto psicológico que permanece bastante intenso mesmo naqueles
que não têm ligação direta com a pessoa que se suicidou (IASP, 2012).
2.1 - CONCEITOS
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A ideação suicida deve ser analisada de maneira a permitir caraterizar o quadro clínico
e simultaneamente, avaliar o risco de evolução para uma tentativa de suicídio. Esta
ideação pode variar desde pensamentos de morte até à intenção suicida estruturada,
onde poderá existir, ou não, a presença de um plano de suicídio (Correia e Paulino,
2013).
Para os mesmos autores, a avaliação da ideação suicida deverá ser realizada tendo
por base aspetos inerentes aos fatores de risco podendo para o efeito recorrer-se a
um conjunto de intervenções que incorporem a aplicação de instrumentos de
avaliação.
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
O PNPS classifica a tentativa de suicídio como um ato suicida e define-a como um ato
concretizado por um indivíduo e que visa a sua morte, mas que, por razões
desconhecidas, resulta frustrado (DGS, 2013b).
A DSM-5 apresenta um novo conceito “non suicide self-injury” que é descrito no PNPS
como comportamentos autolesivos. Estes consistem em “comportamento sem
intencionalidade suicida, mas envolvendo atos autolesivos intencionais, como, por
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Diekstra citado por Peixoto e Azenha (2006) propõe o uso do termo para-suicídio para
um ato não fatal pelo qual o indivíduo empreende, deliberadamente, um
comportamento não habitual que, sem intervenção do outro, causará lesões
autoinfligidas, ou que, ingere deliberadamente uma substância em quantidade superior
à prescrita ou à dosagem geralmente admitida, e que tem por objetivo conseguir, por
via das consequências físicas reais ou supostas, as mudanças que o sujeito deseja.
Este conceito revela-se da maior importância, na medida em que permite separar, pelo
menos no plano teórico, o suicídio frustrado e os comportamentos suicidários cujo
objetivo final não seja a morte.
2.1.4 - Suicídio
Suicídio é uma palavra com origem no latim, derivada da junção das expressões sui (si
mesmo) e cidium (matar), correspondente a matar-se a si mesmo (Peixoto e Azenha,
2006). Num sentido geral significa o ato voluntário por meio do qual o indivíduo possui
a intenção e provoca a própria morte. Embora não exista uma definição única
aceitável, o suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a
noção clara do que do ato executado pode resultar (Araújo, Vieira e Coutinho, 2010).
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Jean Baechler (1975) citado por Saraiva (2010) define suicídio como um
comportamento que busca e encontra solução para um problema existencial que
atenta contra a vida do sujeito. O autor considera quatro tipos de suicídio: Evasivo (ou
“escapista”), Agressivo, Oblativo e Lúdico. Sendo ainda percebidos 11 subtipos que
incluem fuga (de situação), luto (após perda), castigo (expiação), crime (arrastar outro
ou outros), vingança (culpa sobre outrem), chantagem (pressão sobre outrem), apelo
(aviso e manipulação), sacrifício (atingir valor superior à vida), passagem (busca de
algo mais agradável), ordálio (julgamento dos deuses) e jogo (brincar com a vida).
De acordo com a DGS (2013b) o suicídio define-se como morte provocada pelo
indivíduo com intenção de pôr termo à vida, incluindo a intencionalidade de natureza
psicopatológica.
2.2 - EPIDEMIOLOGIA
Como indicadores que justificam a inclusão do suicídio no leque dos problemas sociais
e das mais importantes questões de saúde pública destacam-se:
- Nos últimos 45 anos, a taxa de suicídio aumentou cerca de 60% a nível mundial. É,
neste momento, uma das três principais causas de morte entre os 15 e 44 anos
nalguns países e a segunda entre os 15 e os 24 anos. Representava cerca de 1,8 do
total da despesa em doença em 1998 e, estima-se que este número suba para 2,4, em
2020 (OMS, 2012);
- A nível europeu o suicídio situa-se entre o 5º e 10º lugar entre as causas de morte,
mas se situarmos a nossa análise na faixa etária dos 15 aos 24 anos, o suicídio
apresenta-se como a segunda causa de morte mais frequente, logo após as mortes
por acidente (Sampaio, 2005). Xavier et al. (2013) refere que, na Europa, os
problemas de saúde mental representam cerca de 26,6% da carga total de problemas
de saúde, sendo o suicídio uma das 10 principais causas de morte prematura.
Ainda no que diz respeito à Europa, após a queda do muro de Berlim em 1989 e do
desmembramento da União Soviética, em 1991, foram visíveis as elevadas taxas de
suicídio daquelas repúblicas e, posteriormente países independentes, com destaque
para a Lituânia, Rússia e Bielorrússia, com taxas anuais acima de 30. Seguiam-se, por
ordem decrescente, países de leste e bálticos, Eslovénia, Hungria, Estónia, Ucrânia e
Letónia com taxas anuais acima de 20. O primeiro país fora da Europa neste trágico
ranking da taxa de suicídio é o Japão, com uma taxa aproximada de 13 (Saraiva,
2010).
Na maioria dos países da Europa, o número anual de suicídios supera o das vítimas
de acidentes de viação: nos 27 países da União Europeia a taxa média de suicídio por
100.000 habitantes foi, em 2010, de 9,4 enquanto o número de mortes por acidentes
de viação foi de 6,5 por 100.000 habitantes, variando as taxas de suicídio entre o
máximo de 28,5 na Lituânia e 2,9 na Grécia (DGS, 2013b).
O nosso país encontra-se na 35.ª posição com uma taxa de 9,8 suicídios, por 100.000
habitantes (SPS, 2010). Dados mais recentes referentes ao ano de 2011 demonstram
que Portugal, nesse mesmo ano, registou um total de 951 suicídios, cuja taxa de
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suicídio por 100.000 habitantes é de 9,5 (DGS, 2013a). No ano de 2012 ocorreram
1066 suicídios, 851 homens e 215 mulheres, cuja taxa de suicídio por 100.000
habitantes é de 10,2 (INE, 2013).
Portugal apresenta, de entre os países da UE, uma das taxas mais elevadas de morte
por causa indeterminada (Santos et al., 2012; DGS, 2013a), presentemente com 14%
das mortes, sendo apenas ultrapassado pela Estónia, o que faz com que os valores
relativos devam ser interpretados com precaução (DGS, 2013a) uma vez que
fenómenos como a morte por suicídio possam estar sub-registados (Santos et al.,
2012).
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Santos (2012) acrescenta que, segundo a OMS, assiste-se a uma generalizada falta
de conhecimento do suicídio como um problema prioritário e ainda como tabu, o que
tem dificultado uma discussão aberta sobre este tema. Chachamovich et al. (2009)
acrescentam que a informação acerca do número de suicídios acaba por ser não
divulgada e desta forma o impacto do suicídio é obscurecido pelos homicídios e pelos
acidentes de trânsito. De acordo com o PNPS a morte por suicídio é uma morte
fortemente estigmatizada, por razões de ordem religiosa, sociocultural e política (DGS,
2013b).
Para diminuir este tipo de incidência está a ser colocado em prática o Sistema
Informatizado de Certificado de Óbito sob tutela da Direção Geral da Saúde de forma a
garantir um registo com maior fiabilidade das causas de morte (Santos et al., 2012).
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Sabe-se que o suicídio pode afetar toda a população, no entanto, alguns grupos estão
em maior risco quando comparativamente a outros (IASP, 2012).
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Para Botega (2006) uma perceção otimista da vida, com razões para continuar a viver,
opondo-se ao sentimento de desesperança, protege contra o suicídio. Por exemplo, o
apego aos filhos pequenos e o sentimento de importância na vida de outras pessoas.
Também a capacidade para falar e pedir ajuda podem atuar como fatores protetores.
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torna-se o mais importante, uma vez que se for possível controlar a exposição aos
fatores de risco é possível controlar o risco e eventualmente eliminar o problema de
saúde. Por outro lado, só é possível alcançar estes objetivos se, para além de uma
mera relação estatística, existir uma relação causal.
Cruz (2006) sugere que a conduta suicida pode ser precipitada por múltiplos e
complexos fatores, tendo a investigação identificado os fatores hereditários,
bioquímicos, culturais, sociológicos, psiquiátricos e epidemiológicos, entre outros. A
Direção Geral de Saúde (DGS) considera que as causalidades exigem mais
investigação e que essa deve ser alargada a várias áreas do saber (DGS, 2013a).
- Idade
Em Portugal, na Europa, América do Norte, bem como na maioria dos países as taxas
de suicídio aumentam com a idade (DGS, 2013b). A SPS (2009) considera como fator
de risco para o suicídio, ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45 anos. Dados da WHO
(2010) evidenciam que as maiores taxas de suicídio são habitualmente encontradas
entre pessoas idosas (atualmente acima de 75 anos de idade), porém, em
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Os idosos tentam o suicídio com menor frequência do que as pessoas jovens, mas
fazem-no habitualmente de forma consumada. A idade encontra-se associada a uma
maior prevalência de ideação suicida e de tentativas de suicídio nos estudos de
Waldrop et al. (2007) e Cheng et al. (2009). De referir que, em Portugal, 50% dos
suicídios ocorrem após os 64 anos (DGS, 2013b).
- Sexo
- Estado Civil
- Profissão
No que diz respeito à situação profissional, esta também se assume como um fator de
risco referenciado em vários estudos (Viana et al., 2008; Lifeline Australia et al., 2010).
Simultaneamente as pessoas em situação de emprego instável apresentam um
aumento do risco de suicídio (Santos et al., 2012). Os profissionais de saúde e os
trabalhadores rurais têm taxas mais elevadas (DGS, 2013b).
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
- Residência urbana/rural
Residir em meio rural, sobretudo no sul do país, ou nos grandes centros urbanos,
constitui-se como fator de risco (DGS, 2013b). A SPS (2009) considerou como fatores
de risco habitar em meio urbano e ser rural ao sul do Tejo.
São dos mais significativos preditores de risco para o suicídio (DGS, 2013b). Também
a SPS (2009) considerou os comportamentos suicidários prévios como importantes
fatores de risco. Um dos grupos de maior risco de suicídio é o dos indivíduos com
história de tentativas de suicídio anteriores (Suominen et al., 2004; Botega 2006;
Sadock, 2007; DGS, 2013b). Tal risco foi estimado em 100 vezes maior do que o da
população em geral (Owens, Horrocks e House, 2002). Botega, Mauro e Cais (2004)
apud Botega et al. (2006) com base na OMS relatam que 15-25% das pessoas que
tentaram o suicídio irão tentar novamente no ano seguinte e, 10% das pessoas que
tentam suicidar-se, conseguem efetivamente concretizá-lo nos próximos 10 anos. Em
estudos publicados conclui-se que até 50% das pessoas que morreram por suicídio
fizeram pelo menos uma tentativa prévia (DGS, 2013b).
- Perturbação mental
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
- Doenças físicas
A doença física pode aumentar o risco, sobretudo se estiver relacionada com défices
funcionais, alteração da imagem corporal, dor crónica e dependência de terceiros.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
- História familiar
A história de suicídio na família (SPS, 2009; Santos et al., 2012; DGS, 2013b) ou de
perturbação mental pode influenciar o risco de atos suicidas (DGS, 2013b). Assim
como a existência de modelos suicidários familiares, de pares sociais, de histórias de
ficção (SPS, 2009) e de perdas recentes, de perdas de figuras parentais na infância
e/ou existência de dinâmica familiar conturbada (Pires et al., 2009). A SPS (2009)
considerou ainda como fator de risco a família atual desagregada, por separação,
divórcio ou viuvez e as perdas precoces de figuras significantes (pais, irmãos, cônjuge,
filhos).
- Fatores neurobiológicos
- Isolamento social
O isolamento social está entre os principais fatores de risco, que pode resultar de
aspetos geográficos mas também ser desencadeado por situações de doença, perdas
afetivas, situação de divórcio, prisão, bullying e mobbing, menor suporte familiar e
social e o envelhecimento da população (DGS, 2013b). O isolamento e a solidão
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
constituem-se como importantes fatores de risco (Viana et al., 2008; Abreu et al.,
2010; Lifeline Australia et al., 2010).
Essas barreiras podem ser financeiras, físicas, geográficas ou pessoais e são fatores
de risco para o suicídio (DGS, 2013b).
Pela forma como são divulgadas as notícias relativas ao suicídio e pelo seu conteúdo
(DGS, 2013b). Também a Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), (2009)
considerou as notícias veiculadas pelos media como fator de risco.
- Desemprego
A situação de desemprego assume-se como fator de risco (Viana et al., 2008; SPS,
2009; Lifeline Australia et al., 2010) que parece estar fortemente associado às taxas
de suicídio, embora exista alguma complexidade (DGS, 2013b).
O acesso fácil a meios letais (Pires et al., 2009; SPS, 2009) tais como armas de fogo
ou pesticidas (SPS, 2009; DGS, 2013b), medicamentos ou locais potencialmente
perigosos ou não protegidos, condicionam o método e constituem-se como fatores de
risco (DGS, 2013b).
Para além dos acima evidenciados, a SPS (2009) considerou ainda como fatores de
risco para o suicídio: a ameaça ou ideação suicida com plano elaborado; o ser de raça
branca e possuir escolaridade elevada; a ausência de crenças religiosas; a mudança
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Ainda de acordo com o autor anterior, e com base na APA (1999), existem um
conjunto de manifestações que, quando presentes, sugerem uma intervenção e que
são designados de sinais de perigo: morte recente ou suicídio de um familiar ou amigo
chegado; conflitos com os pais; fim de um namoro; casos de suicídios de jovens da
mesma escola ou comunidade ou de personagens mediáticas.
Clark e Fawcett (1992) apud Botega et al. (2006) identificaram, num estudo
retrospetivo de casos de suicídio, cinco achados importantes: cerca de 60% das
pessoas que se suicidaram não tinham tentativas anteriores; 50 a 60% nunca
contataram ao longo da vida com um profissional de saúde mental; 2/3 comunicaram a
sua intenção a amigos ou pessoas próximas na semana anterior; metade foram a uma
consulta nos últimos 6 meses antes do suicídio; 80% recorreram a um médico no mês
anterior ao suicídio e 93-95% dos casos de suicídio sofriam de doença psicopatológica
sendo os transtornos de humor os mais frequentes (40-50% com depressão grave).
3 - DEPRESSÃO E SUICÍDIO
Sadock (2007) refere que quase 95% de todas as pessoas que cometem ou tentam o
suicídio têm um transtorno mental diagnosticado. Os transtornos depressivos são
responsáveis por 80% desse número, na medida em que o risco de suicídio aumenta
quando os doentes estão deprimidos. O autor acrescenta que a depressão está
associada não apenas ao suicídio consumado, mas também a tentativas de suicídio
graves.
De acordo com Xavier et al. (2013), com o aumento provável de casos de depressão,
verificar-se-á, concomitantemente, um agravamento provável das taxas de suicídio e
para-suicídio.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
deprimidas que cometeram o suicídio fizeram uma tentativa anterior, sendo o risco de
uma segunda tentativa mais alto, e a ocorrer dentro de três meses depois da primeira.
Neste contexto, Sadock (2007) refere que alguns, poucos estudos, investigaram quais
os doentes com transtorno do humor que têm risco aumentado de suicídio e apurou
que o isolamento social aumenta as tendências suicidas nos doentes deprimidos. Esse
achado está de acordo com dados de estudos epidemiológicos que mostram que
pessoas que cometem suicídio podem não estar bem integradas na sociedade. O
suicídio nos doentes deprimidos é provável no início ou no final de um episódio
depressivo e um terço ou mais de doentes deprimidos que cometem o suicídio fazem-
no dentro de seis meses após deixarem o hospital (provavelmente devido a uma
recaída).
Como vimos até aqui, pessoas com depressão têm maior risco de suicídio. O risco é
maior na vigência da doença e de comorbilidades. O risco é menor quando a doença é
tratada ou está em remissão. Assim, a deteção e o tratamento adequado de pessoas
acometidas por transtornos mentais, notadamente da depressão, a partir do
atendimento em serviços gerais de saúde parece ser a forma mais efetiva de prevenir
o suicídio (Chachamovich et al., 2009). Os autores reportam-se a um estudo realizado
em Gotland, uma ilha da Suécia, que evidencia como uma intervenção que incluiu
capacitação de profissionais, visando à maior deteção e ao tratamento adequado da
depressão, pode reduzir o número de suicídios. Dois anos, após o início do projeto,
houve redução de 60% no coeficiente de mortalidade por suicídio.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Botega et al. (2006) baseado em Mann et al. (2005) e OMS (2004) defendem que o
diagnóstico precoce e o tratamento correto da depressão são apontados como uma
das mais eficazes estratégias de prevenção do suicídio.
Também o PNPS defende o investimento em saúde mental nas crises, referindo que
vários trabalhos com evidência científica revelam que o investimento em saúde mental
é custo-efetivo e que a oportunidade deve ser aproveitada para melhorar a eficácia no
setor. Acrescentando ainda que, ao contrário de outros problemas de saúde pública, a
maioria dos quadros depressivos é passível de ser tratada, de forma eficaz e menos
dispendiosa, nos cuidados primários (DGS, 2013b).
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Pela forte e significativa associação entre suicídio e doença mental, uma parte
importante da avaliação do indivíduo, com comportamento da esfera suicidária, será a
avaliação psiquiátrica e psicossocial abrangente, assim como uma avaliação do risco
de suicídio a curto e longo prazo (NZGG, 2003; RNAO, 2009).
Sadock (2007) defende que a maioria dos suicídios entre doentes psiquiátricos é
evitável, emergindo assim a necessidade de intervir no campo da prevenção
objetivando a diminuição das tentativas de suicídio e do número de suicídios. A
prevenção dos comportamentos suicidas deve assentar no conhecimento dos fatores
de risco, sendo fundamental que as ações sejam centradas nos aspetos que podem
ser transformados, evitando o que pode ser evitado, e diminuindo o que não é passível
de intervenção.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Baptista (2004) apud Ribeiro e Santos (2009) ressalta que se não existirem programas
específicos, dentro e fora dos hospitais para acompanhar estas pessoas, haverá uma
espécie de conivência com tal ato. Para o autor a adoção de programas de saúde
pública direcionados para o problema do suicídio é fundamental para promover
estratégias que permitam salvar aqueles que, prematuramente, perdem as suas vidas.
O suicídio não está relacionado a uma causa biológica, hereditária e de raça, mas sim,
ao fato de que o suicida, não vê mais significados em conviver coletivamente. Desta
forma, emerge a necessidade de realizar ações multiprofissionais e intersectoriais, que
vinculem os suportes disponíveis na comunidade, a fim de otimizar o atendimento ao
indivíduo na sua integralidade, na tentativa de prevenir o suicídio (Sampaio, 2005;
Heck et al., 2012).
Bertolote, Mello-Santos e Botega (2010) defendem que não há como prever quem
cometerá ou não suicídio, mas é possível avaliar o risco individual que cada pessoa
apresenta, baseado nos fatores de risco e de proteção investigados na entrevista
clínica. Uma boa entrevista permanece o melhor meio de se avaliar o risco de
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Não existe evidência científica que permita afirmar que perguntar diretamente a uma
pessoa o que pensa sobre o suicídio, a sua vontade de morrer ou plano de suicídio,
aumenta a probabilidade de ideação e comportamento suicida (NZGG, 2003). Ainda
segundo os autores, para uma avaliação abrangente do risco de suicídio é
fundamental a realização de uma entrevista, podendo ser útil a utilização de
instrumentos de avaliação do risco de suicídio devidamente validados para a
população portuguesa, uma vez que estes facilitam a comunicação e recolha de
informações no contexto de entrevista. Contudo, estes apenas devem ser utilizados
como parte de uma avaliação abrangente, e não devem ser usados isoladamente,
dado que não substituem o julgamento clínico. Joe e Bryant (2007) também
consideram que os instrumentos de rastreio psicometricamente validados são
essenciais para qualquer programa de prevenção do suicídio.
Barbosa e Camara (2005) acrescentam que a avaliação do risco suicidário requer uma
atitude de escuta por parte do profissional, que lhe permita: recolher as razões
expressas; perceber as motivações e expetativas e informar-se sobre os recursos
existentes no meio familiar e social do utente e das pessoas mais significativas para
ele.
Desta forma, a intervenção a ser realizada à pessoa em crise suicidária passa por
ouvir e por demonstrar disponibilidade, pois o utente necessita falar sobre seus
pensamentos e sentimentos. O profissional deve aliar-se à parte do utente que deseja
sobreviver fazendo desta uma âncora, na qual a dupla terapeuta/utente, se poderá
apoiar, para posteriormente conseguir prosseguir (Botega, Silveira e Mauro, 2010
55
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
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VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Estudos referem uma atitude positiva por parte dos enfermeiros perante indivíduos
com comportamentos da esfera suicidária (Anderson e Standen, 2007; Dip e Gijbels,
2010).
Face ao exposto, torna-se evidente que o enfermeiro de saúde mental tem um papel
fundamental na prevenção da depressão e suicídio, bem como a importância da
existência de instrumentos capazes de auxiliar estes profissionais na avaliação do
risco de suicídio.
Assim que esteja familiarizado com, o que as organizações habitualmente fazem para
prevenir o suicídio num utente, o enfermeiro pode utilizar as ferramentas que estejam
disponíveis para implementar um programa eficaz de prevenção do suicídio. As
questões utilizadas na triagem e as ferramentas de rastreio do risco de suicídio,
nomeadamente os questionários e escalas, não devem ser entendidas nem utilizadas
como check list ou como meio de obtenção de uma pontuação para determinar o nível
de risco. Elas pretendem ajudar o enfermeiro a avaliar significados, motivos e
intenções de um utente que possa estar em risco de suicídio. O profissional deve
utilizar cumulativamente os fatores de risco, e os seus significados para o utente, para
efetivamente conseguir obter uma avaliação mais precisa do risco (Armes, 2007).
Baseado numa revisão da literatura com base em documentos publicados desde 2002,
Armes (2007) apresenta um conjunto de instrumentos para avaliação de risco de
suicídio que a seguir caraterizamos:
- “Clinical Global Impressions (CGI) Scale for Severity of Suicidality” é uma escala que
se traduz como uma forte ferramenta de avaliação psicológica que foi desenhada para
avaliar a gravidade global da doença e para mudar as condições clínicas
atempadamente. Contém uma escala de suicidabilidade. É composta por 3 sub-
escalas: a severidade da doença, a melhoria global e o índice de eficácia.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
- “Beck Scale for Suicidal Ideation (BSI)” pretende avaliar os pensamentos, planos e as
intenções de cometer suicídio. É uma escala de auto-relato com 5 itens de risco
apresentados nas primeiras 5 questões. Se as respostas demonstram a intenção de
cometer suicídio são então apresentados os restantes 14 itens. Os 19 itens são
avaliados numa escala de 0 a 2, somados para obter uma pontuação que poderá ir de
0 a 38. Os últimos 2 itens da escala avaliam o número de tentativas de suicídio
anteriores e quão séria era a intenção de morrer na última tentativa. Esta escala foi
desenvolvida especificamente para avaliar os pensamentos acerca do suicídio,
fazendo dela uma boa forma de prever, para quem admite o risco de suicídio. Ao
contrário do BDI esta escala separa a depressão do risco de suicídio. Contudo, o
formato de auto-relato é uma limitação e a escala tem evidenciado um elevado número
de falsos positivos.
Brown (2001) acrescenta que esta escala é de rápida aplicação, pois são necessários
cerca de apenas 10 minutos para a administrar, e possui um elevado grau de
confiança interno com coeficientes de alfa de Cronbach a variar entre 0,87 e 0,97 e
uma confiança moderada no teste-reteste com r = 0,54.
- “Scale for Suicide Ideation (SSI)” é um instrumento composto por 21 itens e foi
descrito por Beck et al. (1979) como uma escala de classificação em que o
entrevistador mede a intensidade das atitudes e comportamentos específicos do
utente e os seus planos para cometer suicídio no dia da entrevista. Os itens são
avaliados numa escala de 3 pontos, com pontuação que varia entre 0 e 2 pontos,
consoante a intensidade suicida. Há também 5 itens de triagem, sendo três para
avaliar o desejo de viver, ou o desejo de morrer, e dois para avaliar o desejo de tentar
o suicídio. Depois, caso haja relato ativo ou passivo de cometer suicídio, serão
aplicados os 14 itens adicionais. As pontuações obtidas nos primeiros 19 itens são
então somadas para obter a pontuação global que poderá variar de 0 a 38. Os itens
individuais permitem assim avaliar o risco suicida em fatores como a duração e a
frequência da ideação suicida, o sentimento de controlo sobre fazer uma tentativa, o
número de impedimentos e a quantidade da preparação real para uma tentativa. Por
fim, os dois itens adicionais medem a incidência e a frequência das tentativas de
suicídio anteriores. É também uma escala que leva apenas cerca de 10 minutos a
administrar.
Numa análise de Beck et al. (1979), foi encontrada uma moderadamente elevada
consistência interna com coeficientes de alfa de Cronbach a variar entre 0,84 e 0,89 e
uma elevada fiabilidade interna com correlações desde 0,83 até 0,98.
A SSI está significativamente associada com os itens suicidas do BDI, foi também
associada com tentativas de suicídio anteriores e com a gravidade da depressão. Esta
escala tem já estabelecida a sua consistência interna, a sua fiabilidade entre itens, a
fiabilidade no teste-reteste e a validade concorrente. Está descrito como um dos
poucos instrumentos de avaliação de suicídio por ter documentado a validade preditiva
para suicídio concluído.
- “Modified Scale for Suicide Ideation (MSSI)” é uma escala modificada da SSI.
Contém 18 itens sendo que 13 deles são da SSI e, os 5 itens adicionais, estão
relacionados com a intensidade da ideação, a coragem e competência para tentar,
para falar e para escrever sobre a morte. Trata-se de uma entrevista semiestruturada
que pode ser aplicada por profissionais. Os sintomas suicidas são avaliados em
relação ao ano passado, sendo que os 4 primeiros itens se consideram como itens de
rastreio para identificar os indivíduos, com ideação suicida suficientemente grave, para
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
que seja necessário aplicar toda a escala. A escala também leva cerca de 10 minutos
a administrar e os itens são pontuados de 0 a 3 pontos sendo as avaliações somadas
de forma a obter a pontuação global que totaliza 0 a 54 pontos.
O MSSI revela uma elevada consistência interna com coeficientes de alfa de Cronbach
a variar entre 0,87 e 0,94, boa correlação entre os itens com valores desde 0,41 até
0,83 e adequada confiabilidade no teste-reteste com r = 0,65. A sua validade
concorrente apresenta segundo Clum e Yang (1995) apud Brown (2001) uma
moderadamente elevada correlação com a SSI com r = 0,74 e, segundo Miller (1986)
apud Brown (2001), uma moderada correlação com os itens de suicídio da BDI (r =
0,60) e uma correlação significativa com o total da escala BDI (r = 0,34).
Pode então dizer-se, em suma, que a MSSI é uma escala modificada que inclui a SSI
e mede a ideação suicida usando uma escala de 4 pontos em vez da escala de 3
pontos que a SSI utiliza. Contudo, é uma escala usada com menos frequência do que
a SSI, embora a sua confiabilidade e validade concorrente tenham sido estabelecidas
pese embora que haja apenas uma pequena pesquisa sobre a sua validade preditiva.
- “Tool for the Assessment of Suicide Risk (TASR)” é uma ferramenta desenvolvida por
Kutcher e Chehil, em 2007, que visa avaliar o risco iminente de suicídio. È uma
ferramenta curta e sucinta destinada a ser usada como parte de uma avaliação regular
de saúde mental para auxiliar na tomada de decisão sobre o “fardo do risco” para o
suicídio para que os fatores de risco e os sintomas agudos sejam dirigidos a
especialistas.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
A seção 4 é a classificação geral do risco, que evidencia a taxa de risco do utente para
o suicídio com base na avaliação global do enfermeiro como sendo alto, moderado ou
baixo.
- “Reasons for Living Inventory (RFL)” é uma escala de Linehan et al. (1983) que pode
ser usada para explorar diferenças nas razões de viver entre utentes que se envolvem
em comportamentos relacionados com o suicídio e os que não o fazem, avaliando
potenciais fatores de proteção dos utentes que reportam ideação suicida. Trata-se de
um auto-relato de 48 itens classificados numa escala de likert de 6 pontos que varia
entre 1 (nada importante) e 6 (muito importante). Possui 6 sub-escalas e uma escala
total em que temos 24 itens de sobrevivência e imitação de comportamentos, 7 itens
de responsabilidade com a família, 3 itens de preocupações relacionadas com a
criança, 7 itens de medo de suicídio, 3 itens de medo e desaprovação social e 4 itens
de objeções morais, sendo que os 6 domínios foram baseados em quatro análises
separadas realizadas em duas amostras de voluntários adultos normais.
É uma escala demonstrada para uso com amostras clínicas e não clínicas de adultos
mais velhos (RFL-OA) mas também de adultos jovens (RFL-YA) e demora apenas
cerca de 10 minutos a administrar. Revela boa confiabilidade interna com alpha de
Cronbach entre 0,72 e 0,92 nas sub-escalas, bem como uma consistência interna
robusta para o RFL-OA com alpha de 0,98. Apresenta correlações negativas
moderadas com o SSI (r = -0,64) e com o BHS (r = -0,63).
concluída a sua aplicação, é importante discutir os itens com o utente revendo as suas
respostas como parte da intervenção terapêutica.
Importa salientar que dos instrumentos acima mencionados apenas o RFL se encontra
validado para a população portuguesa. Na sua validação revelou as seguintes
propriedades psicométricas: tem uma boa consistência interna no sentido em que se
observa uma enorme homogeneidade dos itens, apresentando um valor de alpha
de.Cronbach entre 0,82 e 0,95 para as sub-escalas do RFL e valores entre 0,85 e 0,99
no método Metade-Metade com correcção de Spearman Brown e entre 0,85 e 0,92
com correcção de Guttman; apresenta ainda uma correlação positiva (0,54) com o
Inventário Clínico de Auto-Conceito (Vaz Serra, 1986) e a existência de uma
correlação negativa e significativa (-0,24) entre o RFL (com cinco dimensões) e o BDI,
o que leva a concluir que este instrumento apresenta uma boa validade de construto,
convergente e discriminante (Matias, 2013).
- “The Suicide Ideation Questionnaire" é uma escala que, na sua primeira versão, foi
desenvolvida por Reynolds (1988), sendo depois traduzida e adaptada para a
população portuguesa por Ferreira e Castela (1999). Na versão portuguesa a escala é
intitulada de Questionário de Ideação Suicida (QIS) e será abordada no capítulo do
enquadramento metodológico.
4.1 - NGASR
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Foi reconhecido que o NGASR se constitui como uma ferramenta que facilita o
desenvolvimento do julgamento clinico dos enfermeiros menos experientes e,
simultaneamente, serve de complemento no caso do julgamento clínico realizado
pelos mais experientes (Cutcliffe e Barker, 2004).
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
4 - Existe uma vasta e extensa literatura que atesta a relação entre depressão e
suicídio. Quando a depressão se manifesta na forma de perda de interesse ou prazer,
tal pode ser considerado indicação adicional de potencial risco de suicídio. Estas
manifestações de perda de interesse ou prazer podem surgir não unicamente em
pessoas com diagnóstico de depressão mas também outras formas de doença mental
ou física.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Tal como foi referido anteriormente a ferramenta NGASR é composta por 15 variáveis.
A cinco delas foi atribuída pontuação três, sendo variáveis que apresentam uma forte
correlação estatística com elevado grau de risco de suicídio, corroborado por Beck et
al. (1974), Pockorny (1983), Motto et al. (1985), Fawcett et al. (1987), Goldstein et al.
(1991), Young et al. (1994), Powell et al. (2000) apud Cutcliffe e Barker (2004). Às
restantes dez variáveis foi atribuído pontuação de um.
De referir que a categoria de menor risco foi denominada como de risco baixo por se
considerar que seria imprudente avaliar utentes como não tendo risco de suicídio.
Nestes casos são reportadas baixas pontuações no NGASR apresentando poucos, ou
até nenhuns fatores de risco/variáveis.
A pessoa que apresenta alguns fatores de risco elevados e alguns fatores protetores
baixos pode ser considerada como estando com um risco elevado de suicídio. Por sua
vez, a pessoa que apresenta alguns fatores de baixo risco, foi considerada como
estando na categoria de risco intermédio.
Os autores consideram, desta forma, ter obtido uma estimativa do grau de risco
podendo esta informação ser utilizada pelos profissionais de forma significativa.
Consequentemente, o NGASR estima o risco de suicídio e incorpora parte do modelo
de Tidal e, adicionalmente, foi associada à estimativa de risco o nível de intervenção e
envolvimento necessários. Este nível de envolvimento define a base a utilizar em cada
nível, que são baseados em Cutcliffe e Barker (2002) e no Modelo de Tidal.
Essencialmente um elevado nível de risco indica a necessidade de um nível intensivo
de envolvimento.
É de ressalvar que avaliar o risco, num elevado número de indivíduos, revela uma
precisão individual do risco reduzida mas, em larga escala, a validação quantitativa
torna-se viável. Contudo, outras validações foram previamente efetuadas,
nomeadamente ao nível da validade de face, da valide de conteúdo e da utilização na
prática clínica.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Neste estudo, constatou-se existir uma elevada validade de face dado que as variáveis
consideradas foram já identificadas em outros instrumentos.
Barker (1999) apud Cutcliffe e Barker (2004) realizou outra tentativa de validação de
conteúdo do NGASR, com enfermeiros do Newcastle City Heath Trust e da
Universidade de Newcastle, todos envolvidos na prática clínica ativa, com três fases. A
primeira, com 18 enfermeiros seniores, em formação de 4 dias direcionada à
consciencialização sobre o suicídio desenhada a partir da sua extensa experiência
clínica para identificar os fatores que parecem estar relacionados com o risco de
suicídio. A segunda, que incluía um conjunto de ferramentas de avaliação de risco de
suicídio, estudadas em profundidade, e considerada a sua validade de face e de
conteúdo e a utilidade na prática clínica. A terceira, com execução do mesmo
procedimento para NGASR, sendo que após a realização das alterações supra
mencionadas se constatou a sua elevada validade de conteúdo.
O NGASR tem sido usado mais amplamente em várias pesquisas piloto do modelo de
Tidal, em sites, noutras partes de Inglaterra e do País de Gales e, em outros Países,
como Canadá, Irlanda, Japão e Nova Zelândia. Estes sites são direcionados ao
atendimento da população forense e da comunidade em ambiente hospitalar público e
privado. Os autores reportaram consistentemente a sua satisfação com o NGASR,
dado que sugerem que preenche a necessidade de uma abordagem global
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
No entanto, esta escala tem sido utilizada de duas formas distintas nos sites da prática
do modelo de Tidal. Primeiro, como enfoque para o desenvolvimento de uma
entrevista centrada, que utiliza as variáveis chave como um guia explorando os
contextos pessoais, interpessoais e sociais, numa tentativa de esclarecer as variáveis
que efetivamente afetam a pessoa. Segundo, nas situações em que o utente não é
capaz ou não colabora na entrevista, a equipa multidisciplinar recorre ao NGASR,
como base para análise da situação do utente e, se necessário, organiza informação
complementar para clarificar a influência da presença ou ausência de variáveis chave.
O suicídio continua, no entanto, a ser uma realidade. Apesar de a sua erradicação não
ser possível, os enfermeiros de saúde mental podem desenvolver estratégias que
contribuam para a redução do risco. Especialmente pela prossecução de formas mais
coesas, realistas e funcionais de avaliação do risco.
O NGASR tem vindo a ser traduzido para várias línguas sendo conhecidos alguns
estudos que foram desenvolvidos utilizando este instrumento em amostras clínicas.
Foram encontrados na literatura estudos utilizando este instrumento em vários países,
nomeadamente, Suíça, Alemanha, Holanda e Coreia do Sul.
16 - Número de internamentos nos últimos anos, ocorridos logo após a última alta -
Entrevista clínica estruturada/documentação.
Para além dos estudos de validação já mencionados, o NGASR tem sido utilizado em
outros estudos.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
II - ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
5 – METODOLOGIA
Suportando esta ideia, Alarcão (2001) refere que o objetivo de qualquer atividade
científica visa a compreensão, explicação e previsão dos fenómenos, arquitetando
teorias e operacionalizando modelos. Deste modo, a essência de todo e qualquer
trabalho de investigação é espelhada num desejo de obter conhecimentos acerca de
alguém ou alguma coisa, de forma a, se possível, intervir com vista à aquisição de
melhorias efetivas.
A crise socioeconómica que vivemos vai ter seguramente impactos muito significativos
na saúde mental das populações. É plausível a ocorrência de um aumento da
prevalência de algumas doenças mentais, nomeadamente a depressão, assim como o
aumento da taxa de suicídio em alguns setores da população (DGS, 2012). De acordo
com a OMS (2013) as perturbações depressivas são a 3.ª causa de carga global de
doença (1.ª nos países desenvolvidos) estando previsto que passem a ser a 1.ª a nível
mundial em 2030.
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
O PNPS defende o investimento em saúde mental nas crises, referindo que vários
trabalhos com evidência científica revelam que o investimento nesta área é custo-
efetivo e que a oportunidade deve ser aproveitada para melhorar a eficácia no setor. E
acrescenta que, ao contrário de outros problemas de saúde pública, a maioria dos
quadros depressivos é passível de ser tratada, de forma eficaz (DGS, 2013b).
Os distúrbios mentais são responsáveis por mais de 12% da carga global de doença
em todo o mundo, valor que sobe para 23% nos países desenvolvidos. Além disso, 5
das 10 principais causas de incapacidade, a longo prazo, e de dependência
psicossocial são doenças neuropsiquiátricas, sendo a depressão responsável por
11,8% (Xavier et al., 2013). Segundo o PNPS, os comportamentos autolesivos e atos
suicidas, representam um grave problema de saúde pública e os custos económicos
associados ao suicídio são da ordem dos biliões de euros (DGS, 2013b).
Pela forte e significativa associação entre suicídio e doença mental, uma parte
importante da avaliação do indivíduo, com comportamento da esfera suicidária, será a
avaliação psiquiátrica e psicossocial abrangente, assim como uma avaliação do risco
de suicídio a curto e longo prazo (NZGG, 2003; RNAO, 2009).
Bertolote, Mello-Santos e Botega (2010) defendem que não há como prever quem
cometerá ou não suicídio, mas é possível avaliar o risco individual que cada pessoa
apresenta, baseado nos fatores de risco e de proteção, investigados na entrevista
clínica. A avaliação do risco de suicídio deve envolver o levantamento e análise da
interação entre três classes de variáveis: fatores de risco, fatores de proteção e
indicadores de risco iminente.
Estes fatores devem por isso ser considerados na avaliação do risco de suicídio,
ajudando os profissionais de saúde na tomada de decisão acerca das intervenções a
colocar em prática, contribuindo assim para uma diminuição do risco (Santos et al.,
2012).
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
A adaptação cultural de uma medida de saúde, que permita a sua utilização num país
diferente do país de origem requer uma metodologia específica de forma a tornar essa
medida válida. Não basta realizar uma tradução, mas é também necessário realizar a
sua adaptação cultural de forma a manter a sua validade de conteúdo na nova língua
e população (Viana e Madruga, 2008). A adaptação transcultural do NGASR foi
realizada utilizando uma metodologia que visa testar as suas propriedades
psicométricas e equivalência para a população portuguesa.
Segundo Fortin (2003) a tradução dos enunciados de uma escala tem por objetivo
permitir aos participantes exprimir na sua própria língua as nuances de certas
81
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
83
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
84
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
A amostra é então constituída por pessoas, com fatores de risco para comportamentos
suicidários, que estiveram presentes (no internamento ou na consulta externa) no
momento da recolha de dados e que aceitaram participar voluntariamente no estudo.
QIS
BDI
O “Beck Depression Inventory” foi desenvolvido por Beck (1967) tendo sido validado
para população portuguesa por Vaz Serra e Pio Abreu (1973) intitulado em português
como Inventário Depressivo de Beck (BDI). De acordo com os autores, esta é uma
escala de autoavaliação dos sintomas depressivos, que permite avaliar como a pessoa
se vê e se sente, e não como é observada, eliminando assim a subjetividade da
observação clínica. Trata-se de um questionário composto por 21 grupos de
afirmações, com quatro a seis questões cada (cuja intensidade dos sintomas e
atitudes varia de 0 a 3, dispostas por ordem progressiva de gravidade), a partir das
quais o indivíduo deve selecionar aquela que melhor descreve o seu estado no
86
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
DASS-21
A cada uma das possibilidades de resposta é atribuída uma pontuação que varia entre
zero e três pontos. O resultado obtido é o score das pontuações, em cada grupo de
sete itens, que compõe cada uma das subescalas, e do total dos 21 itens.
As subescalas são compostas por sete itens que visam avaliar as perturbações de
depressão, ansiedade e stress. A subescala de depressão avalia os seguintes
sintomas: inércia, anedonia, disforia, falta de interesse / envolvimento, auto-
depreciação, desvalorização da vida e desânimo. A subescala de ansiedade avalia a
excitação do sistema nervoso autónomo, efeitos músculo-esqueléticos, ansiedade
situacional, experiências subjetivas de ansiedade. Finalmente, a subescala de stress
87
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
NGASR
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Historial de psicose 1
Viúvo/ viúva 1
Tentativa anterior de suicídio 3
Historial de privação socioeconómica 1
Historial de álcool e/ou abuso de álcool 1
Presença de doença terminal 1
Em cada uma das unidades hospitalares foi agendada e realizada, uma reunião
preparatória, onde foram explicitados os objetivos do estudo, foi apresentado e
analisado o instrumento de recolha de dados (na especificidade de ser composto por
duas partes), foram evidenciados os critérios de inclusão e os procedimentos éticos,
nomeadamente o consentimento informado e a confidencialidade dos dados. Foi
explicado que o questionário é constituído por duas partes, sendo a parte I de
autopreenchimento pelos utentes (páginas 1-5) e a parte II destinada a ser preenchida
pelo enfermeiro (página 6) e apresentadas algumas sugestões sobre a forma de
aplicação do mesmo.
89
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Uma investigação com seres humanos, implicando a sua participação, levanta sempre
questões éticas e legais, pelo que só deve ser realizada se não colocar em causa a
autonomia e o respeito pela vida humana, assim como os seus direitos. Assim, para
que a aplicação deste questionário fosse possível, e este estudo realizado, foi
necessário atender a vários aspetos de natureza ética.
90
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Após ter sido concedida autorização, por parte das entidades hospitalares, e de ter
sido realizada a reunião com os enfermeiros dos diferentes locais, procedeu-se à
apresentação do estudo aos utentes com o objetivo de esclarecer a sua natureza e
relevância, foram questionados se concordavam participar de forma voluntária, tendo
sido obtido o consentimento informado junto de cada um dos participantes (ANEXO
VII).
Aos utentes que aceitaram participar no estudo foram explicados os objetivos deste e
garantida a voluntariedade da participação, o anonimato e a confidencialidade dos
dados. Depois de obtido o seu consentimento e colaboração foi aplicado o
questionário a 109 utentes, que estiveram internados nos serviços de psiquiatria ou
que foram à consulta externa, dos hospitais acima mencionados, durante o período em
que decorreu a recolha de dados e que cumpriam os requisitos necessários. A recolha
de dados decorreu entre maio e novembro de 2013.
x alpha de Cronbach;
x Regressão linear;
x One-Way ANOVA;
x Rotação ortogonal Varimax;
x Teste de Esfericidade de Bartlett’s e Kaiser-Meyer-Olki.
91
92
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
No que respeita à idade, a média de idade dos elementos da amostra é de 43,07 anos,
com um desvio padrão de 12,61, sendo a idade mínima de 19 anos e a idade máxima
de 79 anos. O intervalo mais frequente situa-se entre os 41 e 50 anos, representando
cerca de 34,9% da amostra.
Idade n %
≤ 20 2 1,80
21-30 14 12,80
31-40 34 31,20
41-50 38 34,90
51-60 13 11,90
61-70 2 1,80
71-80 6 5,50
Mn Mx x s
19 79 43,07 12,61
93
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Quanto ao sexo, predomina o sexo feminino com 73 utentes (67%) e 36 (33%) são do
sexo masculino.
Sexo n %
Masculino 36 33,00
Feminino 73 67,00
Total 109 100,00
Estado Civil n %
Com companheiro Casado 50 45,90 31,20
Solteiro 34 31,20
94
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Escolaridade n %
Até 4º ano 15 13,80
Licenciatura 20 18,30
Mestrado 6 5,50
Local de Residência n %
Rural 36 33,00
Urbano 73 67,00
95
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Profissão n %
Desempregado 20 18,30
Reformado 12 11,00
s Mn Mx
No que diz respeito aos resultados obtidos nos instrumentos de medida consoante o
sexo, verifica-se que o sexo feminino apresenta média mais elevada no QIS (45,50),
BDI (21,94) e NGASR (9,67) e mais baixa na DASS-21 (33,08). Relativamente aos
valores máximos obtidos verifica-se que apresentam um valor mais elevado no sexo
feminino (QIS=140; BDI=52; NGASR=28) à exceção da DASS-21 (55), tal como se
pode verificar no quadro abaixo (Quadro 8).
96
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Masculino
QIS BDI DASS-21 NGASR
n=36
Mn 5 6 9 4
Mx 116 50 56 16
Feminino
QIS BDI DASS-21 NGASR
n=73
65,34 25,33 31,07 10,66
Mn 0 4 0 1
Mx 140 52 55 28
No que diz respeito às pontuações obtidas, de acordo com o fato de o utente estar
sozinho/sem companheiro ou ser casado (Quadro 9), ressalta que os valores da média
são mais elevados para todos os instrumentos nos utentes que estão sozinhos/sem
companheiros em comparação com os casados. Também os valores máximos obtidos,
em todos os instrumentos, são superiores para este grupo.
97
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Sozinho/sem
companheiro QIS BDI DASS-21 NGASR
n=59 (54,13%)
Mn 0 4 0 2
Mx 140 52 56 28
Casado
QIS BDI DASS-21 NGASR
n=73 (45,87%)
51,28 16,96 26,56 8,66
Mn 0 4 7 1
Mx 125 36 52 18
NGASR
98
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Para a pontuação obtida no índice NGASR segundo o grau de risco (Quadro 11)
temos que, a maioria dos utentes (44) que corresponde a 40,40% da amostra,
apresentam uma pontuação ≥ 12, o que significa que possuem um risco muito elevado
de suicídio. O nível de risco baixo (pontuação ≤ 5) foi o menos pontuado, n=16
correspondente a 14,70% da amostra. O nível de risco intermédio (pontuação 6-8) e o
nível de risco elevado (pontuação 9-11) apresentam respetivamente n= 26 (23,90%) e
n= 23 (21,10%).
99
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
NGASR n %
Pontuação ≤ 5 16 14,70
Pontuação ≥ 12 44 40,40
Mn Mx x s
1 28 10,33 4,54
A consistência interna do índice foi avaliada pelo cálculo do alfa de Cronbach, tendo
apresentado moderada consistência (alfa de Cronbach=0,49), tal como evidencia o
Quadro 12.
100
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Alpha Cronbach
NGASR 0,49
Validade de conteúdo
Validade de critério
No presente estudo, para averiguar a validade de critério, optamos por realizar uma
regressão linear entre o NGASR e o QIS, BDI e DASS-21. O coeficiente de associação
R, o coeficiente de determinação R2 e o R2 ajustado indicam se existe uma boa
qualidade do ajustamento. O R2 ajustado é utilizado quando os modelos têm mais do
que uma varável independente. A qualidade do ajustamento deve ser também
analisada através de testes de inferência estatística que permitem saber se a relação
estimada pode ser inferida para o universo, e conhecer a qualidade das predições
feitas. Neste sentido são utilizados os Testes t e F. O teste F valida em termos globais
o modelo e não cada um dos parâmetros isoladamente (Pestana e Gageiro, 2003).
Verificou-se que existe uma forte associação linear positiva (R=0,830) entre o NGASR
e as medidas QIS, BDI e DASS-21. Pela realização do Teste F verificou-se uma
relação entre o NGASR e o QIS, BDI e DASS-21 estatisticamente significativa (p
<0,05), o modelo mostra-se adequado para descrever essa relação com um R
quadrado próximo de 0,70 (Pestana e Gageiro, 2003). Em relação ao Teste t as
diferenças encontradas foram estatisticamente significativas para as medidas, tal
como evidencia o Quadro 13.
101
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
NGASR t p R R2 F p
NGASR R R2 F t p
Para o BDI verificou-se, igualmente, a existência de uma forte associação linear positiva
R=0,75 e uma relação estatisticamente significativa (p<0,05) entre os dois instrumentos,
como demonstra o quadro 15.
NGASR R R2 F t p
102
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
NGASR R R2 F t p
Validade de constructo
Utilizando o critério para a retenção dos fatores com valores próprios superiores a 1, as
15 variáveis preditivas são explicadas em 66,92% pelos 6 fatores comuns, pelos quais
foram distribuíram as respetivas cargas fatoriais. Relativamente ao Fator 1, agrupa os
itens: “Presença/Influência da desesperança”, “Evidência de depressão/perda de
interesse ou perda de prazer” e “Aviso de intenção suicida”; o Fator 2, agrupa os itens:
“Acontecimento stressante recente, por exemplo, perda do emprego, preocupações
financeiras, ação judicial pendente”, “Evidência de afastamento social”, “Historial de
privação socioeconómica”, “Evidência de vozes/crenças persecutórias”; o Fator 3,
agrupa os itens: “Processo de luto recente ou fim de uma relação”, “Historial de
psicose”, “Viúvo/viúva” e “Tentativa anterior de suicídio”; o Fator 4 agrupa: “Evidência de
um plano para se suicidar” e “Presença de doença terminal”; o Fator 5 é composto pelo
item “Historial de álcool e/ou abuso de álcool” e por sua vez o Fator 6 é composto pelo
item “Historial familiar de problemas psiquiátricos graves ou suicídio”, tal como pode ser
verificado no Quadro 17.
103
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
ITENS F1 F2 F3 F4 F5 F6
104
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
No que respeita à idade, a média de idade dos elementos da amostra foi de 43,07
anos, sendo a idade mínima de 19 anos e a idade máxima de 79 anos. O intervalo
mais frequente situa-se entre os 41 e 50 anos, representando cerca de 34,9% da
amostra. Estes achados estão de acordo com a SPS (2009) que considera como fator
de risco para o suicídio, ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45 anos. A média de idades
encontrada está de acordo com o que é defendido por Cheng et al. (2009) e Waldrop
et al. (2007). Nos estudos que realizaram concluíram que os idosos tentam o suicídio
com menor frequência do que as pessoas jovens (embora o façam habitualmente de
forma consumada), encontrando-se o aumento da idade associada a uma maior
prevalência de ideação suicida e de tentativas de suicídio. De referir que em Portugal
50% dos suicídios ocorrem após os 64 anos (DGS, 2013b).
105
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
No que diz respeito aos resultados obtidos consoante o sexo, nos instrumentos de
medida utilizados no estudo, verifica-se que o sexo feminino apresenta média mais
elevada no QIS (45,50), BDI (21,94) e NGASR (9,67) e mais baixa na DASS-21
(33,08). Tal evidencia que o sexo feminino tem maior predisposição para apresentar
ideação suicida, sintomatologia depressiva e maior risco de suicídio, o que está de
acordo com o explicado anteriormente. Em relação à escala DASS-21 verificou-se
uma média mais alta para o sexo masculino (33,08), comparativamente com o sexo
feminino (31,07), assim como os valores máximos que revelam um máximo de 56 para
o sexo feminino e 55 para o masculino. Estes resultados obtidos podem ser explicados
tendo em conta que ao contrário dos outros instrumentos, esta é uma escala que não
avalia apenas um só constructo, pois para além da componente depressiva, avalia
também a ansiedade e o stress. De referir que as mulheres apresentam mais
perturbações depressivas e de ansiedade ao passo que os homens apresentam mais
perturbações do controlo de impulsos e perturbações por abuso de substâncias
(Almeida e Xavier, 2013).
106
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Relativamente aos valores máximos obtidos verifica-se que apresentam um valor mais
elevado no sexo feminino (QIS=140; BDI=52; NGASR=28) à exceção da DASS- 21
(55).
No que concerne aos comportamentos suicidários, como o objetivo foi avaliar o risco
para comportamentos suicidários e não o número de suicídios, sendo a amostra
maioritariamente constituída por mulheres, vai de encontro ao que é referido pela DGS
(2013a) as tentativas de suicídio predominam no sexo feminino, numa proporção de
2:1. O suicídio predomina em homens (DGS, 2013b; Sadock, 2007; SPS, 2009).
No que diz respeito aos resultados da pontuação obtida com a utilização do NGASR
no que respeita ao nível de risco de suicídio, verificou-se que na literatura disponível
não são apresentados resultados obtidos em outros estudos. Na amostra em estudo
verificou-se que, a maioria dos utentes (44) que corresponde a 40,40% da amostra,
apresentam uma pontuação ≥ 12, o que significa que possuem um risco muito elevado
de suicídio. O nível de risco baixo (pontuação ≤ 5) foi o menos pontuado, (n=16)
correspondente a 14,70% da amostra. O nível de risco intermédio (pontuação 6-8) e o
nível de risco elevado (pontuação 9-11) apresentam respetivamente n=26 (23,90%) e
n=23 (21,10%). Estes resultados estão de acordo com alguns dados encontrados na
literatura que defendem que a associação entre depressão e suicídio é inegável e que
as pessoas com episódio depressivo major apresentam risco de suicídio cerca de 20
vezes mais elevado (Lönnqvist, 2000 apud Botega et al., 2006).
108
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Para averiguar a validade de critério, realizou-se uma regressão linear entre o NGASR
e o QIS, BDI e DASS-21. Verificou-se que existe uma forte associação linear positiva
(R=0,830) entre o NGASR e as medidas QIS, BDI e DASS-21. Foram ainda realizados
testes de inferência estatística, pela realização do Teste F verificou-se uma relação
entre o NGASR e o QIS, BDI e DASS-21 estatisticamente significativa (p<0,05). O
modelo mostra-se adequado para descrever essa relação com um R quadrado
próximo de 0,70 (Pestana e Gageiro, 2003). Também os resultados encontrados para
o Teste t foram estatisticamente significativos.
Estes resultados demonstram que o índice NGASR apresenta boa validade de critério
quando analisada a sua relação com outros instrumentos que avaliam a ideação
109
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
Nos estudos encontrados na literatura não são realizadas análises comparativas entre
o NGASR e o QIS, BDI e ou DASS-21.
Nos estudos de validação do NGASR em outros países, foram utilizados para avaliar a
validade de critério, outros instrumentos diferentes dos que utilizamos. Veen (2010)
utilizou o SIS e encontrou uma correlação linear significativa entre o score do NGASR
e o score do SIS (r =0,698, p= 0,00). Pettit et al. (2009) apud Veen (2010) refere que
numa pesquisa recente foi demonstrado que o MSSI é um instrumento válido para
avaliar a gravidade do risco de suicídio, sendo de referir que o NGASR contém um
elevado número de itens que se encontram no MSSI. Segundo Brown (2001) a BSI é
moderadamente correlacionada com o BDI com coeficientes de correlação entre 0,58
e 0,69. Segundo Miller (1986) apud Brown (2001) foi encontrada uma correlação
significativa entre o MSSI e o BDI (r=0,34). Estes dados reforçam a correlação entre o
BDI e a ideação suicida.
O NGASR foi ainda analisado tendo em conta a relação com cada um dos
instrumentos separadamente. Verificou-se a existência de uma forte associação linear
positiva entre o NGASR e o QIS e entre o NGASR e o BDI respetivamente (R=0,71 e
R=0,75) e uma relação moderada (R=0,63) entre o NGASR e a DASS-21. As relações
encontradas foram, para todos os instrumentos, estatisticamente significativas
(p=0,000). A relação entre o NGASR e o BDI é a que apresenta um valor mais
elevado, tendo em conta que o BDI avalia a depressão, os resultados encontrados
estão de acordo com a DGS (2013b) que aponta a depressão como o fator de risco
mais frequente para os comportamentos suicidários e Sadock (2007) quando refere
que quase 95% de todas as pessoas que cometem ou tentam o suicídio têm um
transtorno mental diagnosticado sendo os transtornos depressivos responsáveis por
80% desse número, na medida em que o risco de suicídio aumenta quando os
doentes estão deprimidos. Estudos realizados recorrendo a autópsias psicológicas
revelam que cerca de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão
(Botega et al., 2006).
110
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
variáveis preditivas são explicadas em 66,92% da variância total. Estes resultados são
semelhantes aos obtidos por Yeon et al. (2012) na Coreia do Sul que apresenta 6
fatores e que explicaram 63,4 % da variância total. Por sua vez, Veen (2010), no seu
estudo na Holanda, obteve após rotação varimax uma solução de 5 fatores que
explicam 55% da variância total. Não foram revelados, pelos autores acima referidos,
os itens constituintes de cada um dos fatores que permitam fazer uma análise
comparativa com a distribuição obtida na nossa amostra.
111
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
112
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
CONCLUSÃO
- Verificou-se que o sexo feminino apresenta média mais elevada no QIS (45,50), BDI
(21,94) e NGASR (9,67) e mais baixa na DASS-21 (33,08);
- Os valores da média para todos os instrumentos, são mais elevados nos utentes que
estão sozinhos/sem companheiros em comparação com os casados;
- A maioria dos utentes (44) que corresponde a 40,40% da amostra possuem um risco
muito elevado de suicídio sendo o nível de risco baixo o menos pontuado (n=16)
correspondente a 14,70% da amostra;
- A consistência interna do índice foi avaliada pelo cálculo de alfa de Cronbach, tendo
apresentado moderada consistência (alfa de Cronbach=0,49);
- O índice NGASR apresenta boa validade de critério quando analisada a sua relação
com o QIS, BDI e DASS-21 (R=0,830), sendo os resultados obtidos estatisticamente
significativos (p <0,05);
Neste ponto, pretende-se ainda realçar os aspetos que se consideram terem sido
facilitadores do desenvolvimento de todo o trabalho. Deles fazem parte a aceitação e
disponibilidade das pessoas a quem se recorreu e que colaboraram na realização do
mesmo. Destacamos uma atenção especial para os utentes que aceitaram participar
no estudo, bem como os enfermeiros que colaboraram ativamente na aplicação do
instrumento de colheita de dados, tornando assim possível a concretização deste
trabalho.
114
AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
VALIDAÇÃO DO ÍNDICE NGASR PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA
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AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICIDIO: CONTRIBUTOS PARA A
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127
ANEXOS
ANEXO I
Questionário
1
QUESTIONÁRIO Hospital:…………………..
Seguidamente encontra-se uma lista de 30 itens, peço-lhe para responder, assinalando com
uma cruz (X), a resposta que melhor expressa o seu sentimento nos últimos 6 meses. Cada
item tem 7 possibilidades de resposta.
Raramente
Frequente
Às vezes
Sempre
sempre
Quase
Quase
Nunca
Nunca
1 2 3 4 5 6 7
1 Pensei que seria melhor não estar vivo.
2 Pensei suicidar-me.
3 Pensei na maneira como me suicidaria.
4 Pensei quando me suicidaria.
5 Pensei em pessoas a morrerem.
6 Pensei na morte.
7 Pensei no que escrever num bilhete sobre o suicídio.
8 Pensei em escrever um testamento.
9 Pensei em dizer às pessoas que planeava suicidar-me.
10 Pensei que as pessoas estariam mais felizes se eu não estivesse
presente.
11 Pensei em como as pessoas se sentiriam se me suicidasse.
12 Desejei estar morto(a).
13 Pensei em como seria fácil acabar com tudo.
14 Pensei que suicidar-me resolveria os meus problemas.
15 Pensei que os outros ficariam melhor se eu estivesse
morto(a).
16 Desejei ter coragem para me matar.
17 Desejei nunca ter nascido.
18 Pensei que se tivesse oportunidade me suicidaria.
19 Pensei na maneira como as pessoas se suicidam.
20 Pensei em matar-me, mas não o faria.
21 Pensei em ter um acidente grave.
22 Pensei que a vida não valia a pena.
23 Pensei que a minha vida era muito miserável para continuar.
24 Pensei que a única maneira de repararem em mim era matar-
me.
25 Pensei que se me matasse as pessoas se aperceberiam que
teria valido a pena preocuparem-se comigo.
26 Pensei que ninguém se importava se eu estivesse vivo(a) ou
morto(a).
27 Pensei em magoar-me mas não em suicidar-me.
28 Perguntei-me se teria coragem para me matar.
29 Pensei que se as coisas não melhorassem eu matar-me-ia.
30 Desejei ter o direito de me matar.
2
INVENTÁRIO DEPRESSIVO DE BECK (BECK, 1967; VAZ SERRA & PIO de ABREU, 1973)
U. - Não notei qualquer mudança recente no meu interesse pela vida sexual
- Encontro-me menos interessado pela vida sexual do que costumava estar
- Actualmente sinto-me menos interessado pela vida sexual
- Perdi completamente o interesse que tinha pela vida sexual
5
14. Fui intolerante quando qualquer coisa me impedia de realizar o que estava 0 1 2 3
a fazer ............................................................................................................
15. Estive perto de entrar em pânico ................................................................. 0 1 2 3
19. Senti o bater do meu coração mesmo quando não fazia esforço físico (Ex: 0 1 2 3
sensação de aumento do bater do coração ou falhas no bater do coração)
Níveis de risco:
Pede deferimento,
Atenciosamente,
____________________________________________________________________
AUTORIZAÇÃO
(nome do doente)
_________________________________________
(Assinatura do utente)