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Validação de Escala para Mensurar Resiliência por Meio da Teoria de Resposta ao Item
(TRI)
Autoria: Paulo Yazigi Sabbag, Plinio Bernardi Jr., Rafael Goldszmidt, Felipe Zambaldi
Resumo
Este artigo apresenta a validação de uma escala para medir resiliência servindo-se da Teoria
de Resposta ao Item (TRI). Empreendedores e gerenciadores de projetos usualmente
enfrentam eventos estressores, crises e resistência a mudanças, e a resposta a mudanças
envolve atitudes multidimensionais como cognição, emoções e comportamentos, podendo
reduzir efeitos potencialmente estressores nos indivíduos e promovendo a resiliência, ou a
capacidade de enfrentar resistências episódicas ou contínuas (Weick & Quinn, 1999). A
resiliência geralmente é associada a emoções positivas mesmo durante adversidades (o que
não significa a eliminação de emoções negativas) e à flexibilidade, levando a diversas
estratégias de enfrentamento, como resolução de problemas, abertura para apoio social,
redefinição da situação, redução de tensão e busca proativa de informação. Neste trabalho,
desenvolveu-se um instrumento de medida de resiliência que foi aplicado a estudantes de um
programa de educação continuada em Administração com conteúdo especificamente voltado
ao gerenciamento de projetos. Foram coletadas 1436 questionários completamente
preenchidos. A criação de questões para formar a escala de resiliência baseou-se em escalas
previamente validadas, adaptadas ao contexto brasileiro. O instrumento foi composto por 40
questões relacionadas a 11 construtos teoricamente identificados: Otimismo, Proatividade,
Auto-estima, Auto-eficácia, Flexibilidade, Controle de Emoções, Controle de Impulsos,
Empatia, Tenacidade, Improviso, Autonomia. O traço latente associado à resiliência que se
supunha permear as respostas coletadas se associa à crença proativa na possibilidade de agir
com eficácia. Por meio da aplicação da Teoria de Resposta ao Item (TRI), nove questões
foram removidas do questionário, gerando uma escala com 31 questões. O instrumento de
medida gerado pela pesquisa poderá servir ao aprofundamento das análises sobre resiliência,
tendo em vista que os estudos sobre o tema ainda não contam com uma escala definitiva ou
amadurecida. O trabalho também revela que, embora endereçado pela teoria como
multidimensional, o conceito de resiliência pode ser medido pela captura de um único traço,
referente à crença proativa na possibilidade de agir eficazmente, que se associa a todas as
dimensões teorizadas sobre o fenômeno. Para a prática administrativa, o instrumento
desenvolvido pode auxiliar gestores e profissionais na obtenção de diagnósticos acerca da
resiliência e na verificação de suas relações com outras variáveis de interesse. O estudo
também apresenta contribuição metodológica, pois a utilização da TRI, ainda incipiente no
campo da administração, incorpora vantagens para a validação de escalas ao proporcionar o
cômputo de um escore que incorpora o poder de discriminação dos itens elaborados,
representando ganhos em termos de análise, interpretação e depuração de instrumentos de
medida.
1
Introdução
2
Referencial teórico
Conceito de resiliência
3
Otimismo (Connor & Davidson, 2003; Smith et al., 2008; Reivich & Shatté, 2008),
Positividade (Hoopes & Keely, 2004; Ong et al., 2010) e Senso de Humor (Connor &
Davidson, 2003; Flach, 2004);
Solidão existencial (Wagnild, 2009), entendida como a consciência de que cada pessoa é
única; Paciência e Fé (Connor & Davidson, 2003);
Inteligência Pessoal (Mayer & Faber, 2010), como a compreensão de emoções, motivos,
auto-conceito e outras experiências internas e modelos mentais;
Auto-eficácia (Connor & Davidson, 2003; Flach, 2004; Reivich & Shatté, 2008), Auto-
confiança (Wagnild, 2009) e Auto-estima (Flach, 2004), que fornecem ao indivíduo a
vitalidade para agir nas situações estressantes;
Significância (Meaningfulness, em Wagnild, 2009), entendida como a compreensão de
que a vida tem propósito; Orientação Positiva ao Futuro (Skodol, 2010) e Foco (Hoopes
& Keely, 2004);
Equilíbrio de Vida (Equanimity, em Wagnild, 2009) como uma perspectiva de vida
balanceada;
Flexibilidade (Hoopes & Keely, 2004);
Organização (Hoopes & Keely, 2004) ou Análise Causal (Reivich & Shatté, 2008), como
capacidade de planejar soluções;
Proatividade (Hoopes & Keely, 2004) ou Criatividade (Flach,2004), como receptividade
a novas idéias;
Controle de Emoções (Reivich & Shatté, 2008; Maddi & Koshaba, 2005);
Empatia (Reivich & Shatté, 2008);
Comprometimento (Maddi & Koshaba, 2005);
Controle de Impulsos (Reivich & Shatté, 2008) ou Ego Resiliente (Skodol, 2010), como
atributos de personalidade que facilitam a adaptação a estressores a situações novas e à
modulação de impulsos;
Persistência (Wagnild, 2009) ou Tenacidade (Hardiness), que Maddi e Koshaba (2005)
acreditam englobar alguns dos tópicos precedentes e são sintetizados como
comprometimento, controle e desafio.
4
Apoio Social (Powley, 2009; Maddi & Koshaba, 2005; Smith et al., 2008; Wallace et al.,
2001), que geralmente se refere a interações interpessoais que fornecem ajuda, afeto ou
afirmação, seja no contexto formal seja no informal;
Rede de amigos e familiares (Flach, 2004);
Aptidão para livrar-se de ressentimentos e perdoar outros, bem como a si mesmo (Flach,
2004);
Generosidade e aptidão para dar e receber amor (Flach, 2004);
Enfrentamento transformacional (Coping, para Maddi & Koshaba, 2005), como o uso de
mudanças estressantes em benefício próprio.
Na literatura, é consensual que os fatores externos são tão relevantes para a resiliência
quanto a personalidade. Por isso, o conceito de resiliência precisa ser compreendido em
função de eventos específicos. Havendo inúmeros eventos, as estratégias de enfrentamento
são diversas: resolução de problemas, abertura para apoio social, redefinição da situação,
redução de tensão, evitar problemas, busca proativa de informação e até a religiosidade
(Pereira, 2001).
Para alguns indivíduos, um evento pode causar estresse; para outros, o trauma potencial
pode ser evitado com um nível sadio de funcionamento físico e psíquico, demonstrando um
bem estar resistente. Para outros, até mesmo o crescimento pessoal é o produto de eventos
catastróficos.
Método
O método de pesquisa utilizado neste trabalho é apresentado em três partes, a seguir. A
primeira parte descreve o procedimento por meio do qual se construiu o instrumento de
medida testado; a segunda parte detalha a técnica de análise de dados empregada (a Teoria de
Resposta ao Item – TRI), com destaque a sua adequação e vantagens de uso no contexto
estudado; e a terceira parte informa sobre a amostra e a coleta de dados.
própria eficácia inclui não só a força de uma crença como a afirmação de uma capacidade e
está associado ao conceito de controle interno (internal locus of control). Por fim, opera sobre
a proatividade, flexibilidade, autonomia e habilidade de enfrentamento (coping) e, desse
modo, define-se o traço latente da resiliência.
Para validação da escala foi utilizada a Teoria de Resposta ao Item (Lord & Novick,
1968). Embora amplamente utilizada nos campos de Educação e Psicometria, sua aplicação
na Administração é ainda muito incipiente .
A Teoria de Resposta ao Item (TRI) permite que indivíduos que teriam o mesmo
escore por uma abordagem mais tradicional, tal como a análise fatorial confirmatória ou por
escores aditivos, porém com padrões de resposta distintos, apresentem diferentes valores de
resiliência. Dois indivíduos terão a mesmo grau de resiliência, pela TRI, apenas se
responderem todos os itens do teste de forma idêntica.
A TRI é uma teoria que modela a probabilidade de um indivíduo escolher uma
categoria de resposta ao item com as características do item (parâmetros dos itens) e as
características dos indivíduos (variáveis latentes não observáveis) (Lord & Novick, 1968).
Essa relação probabilística é matematicamente definida pela curva característica do item (Item
Characteristics Curve - ICC), uma regressão não linear da probabilidade de escolher uma
categoria como função de características do indivíduo e do item (Cheryshenko et al, 2001). A
TRI possui diversos modelos que diferem entre si pelo tipo e número de parâmetros
estimados, bem como sua adequação a diferentes tipos de dados.
O modelo utilizado nesta pesquisa envolve um único grupo, ou seja, uma amostra de
indivíduos de uma única população (Andrade et al, 2000). Também é utilizado o modelo para
itens não dicotômicos, devido a características dos itens da escala, com cinco categorias. Os
itens utilizados nessa pesquisa têm as suas categorias ordenadas, o que sugere a utilização do
modelo de resposta gradual de Samejima (1969), representado pela Equação 1, utilizado para
estimar as características dos itens dos modelos estudados, como a dificuldade e poder
discriminatório do item.
1
Pi ,k ( j ) Dai ( j bi , k )
(1)
1 e
Com i = 1, 2, ..., I, j = 1, 2,..., n e k = 0,1,..., m i ; onde:
Pi ,k ( j )
é a probabilidade de um indivíduo j escolher a categoria k ou outra
mais alta do item i;
b i ,k é o parâmetro de dificuldade da k-ésima categoria do item i e varia dentro
da restrição b k 1 < b k < b k 1
j representa a habilidade (traço latente) do j-ésimo indivíduo.
a i é o parâmetro de discriminação (ou de inclinação) do item i, com valor
proporcional à inclinação da Curva Característica do Item - CCI no ponto bi.
D é um fator de escala constante e igual a 1. Utiliza-se o valor 1,7 quando se
deseja que a função logística forneça resultado semelhante ao da função ogiva
normal.
6
A variável latente subjacente aos indivíduos ( j ) pode ser definida neste estudo como
grau de Resiliência. Essa variável latente, expressa pela letra grega θ, é um construto
mensurado em um continuum unidimensional que explica a covariância entre as respostas dos
itens (Steinberg & Thissen, 1995). Indivíduos com altos níveis de θ possuem alta
probabilidade de “concordar” com um item.
As medidas b e θ estão na mesma escala e podem ser representadas graficamente
sobre um mesmo eixo. Assim, é possível que se usem os dados de forma prática e intuitiva
para a interpretação dos itens. Por exemplo, é possível identificar quais questões discriminam
indivíduos na escala inferior do traço latente ou na escala superior. Em uma avaliação, por
exemplo, isto seria equivalente a identificar quais questões são fáceis ou difíceis.
A principal vantagem da TRI na determinação da confiabilidade e poder
discriminatório de uma escala é não assumir que os testes têm igual poder de informação por
toda gama de possibilidade de escores. Ou seja, melhor que apresentar uma estimativa pontual
do erro padrão de medida a uma escala de grau de resiliência, como em abordagens mais
tradicionais, a TRI oferece uma função de informação para cada item, e o erro padrão do teste
funciona para indexar o grau de precisão das medidas ao longo de todas as possibilidades do
construto latente estudado (Lord, 1980).
A Teoria de Resposta ao Item pode ser usada também para a interpretação da
qualidade e da validade do uso das questões. Se algumas propriedades específicas não forem
satisfeitas, há sinais empíricos de que os itens podem ser eliminados. Como exemplo, se os
b´s das categorias de um item não estiverem em ordem crescente, já que se trata de escala
ordinal, isso significa que há problemas de interpretação e resposta do item e, portanto, ele
deve ser eliminado.
Outra vantagem da TRI refere-se a possibilidade de identificar a utilidade das questões
para mensurar o valor do traço latente dos indivíduos. O poder de discriminação de um item é
representado pelo parâmetro a e devem ser descartados aqueles itens com baixo poder de
discriminação (Thissen, 1986).
Amostra e dados
Um pré-teste foi aplicado com 92 estudantes graduados e matriculados em cursos
abertos de Gerenciamento de Projetos, a fim de refinar o questionário. A avaliação de
confiabilidade e a validação de conteúdo foram realizadas.
Em outubro de 2009 o questionário refinado foi aplicado a alunos graduados de um
curso aberto à distância de Administração, da Fundação Getulio Vargas. No início das aulas
da disciplina “Criação e Viabilidade de Projetos”, com 3707 alunos provenientes de 61
cidades, desde grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, até cidades
pequenas e distantes de grandes centros (p. ex.: Pato Branco, Niquelândia, Catalão). Foram
obtidas 1512 respostas, das quais 1436 estavam completas.
Resultados e Discussão
Antes de utilizar o modelo TRI é necessário verificar se os pressupostos dessa teoria
são verificados na amostra pesquisada. O modelo proposto pressupõe a unidimensionalidade
do teste, isto é, a homogeneidade do conjunto de itens que supostamente devem estar medindo
um único traço latente. É razoável supor que qualquer desempenho humano é sempre
multideterminado ou motivado, pois mais de um traço latente se faz presente na execução de
uma tarefa. Entretanto, para satisfazer o pressuposto de unidimensionalidade é suficiente
admitir que haja uma habilidade dominante sendo medida. Esse fator é o que se supõe estar
sendo medido pelo teste (Andrade et al, 2000). Também há estudos sobre a robustez de
7
A análise do instrumento com o uso da TRI permitiu sua depuração ao indicar os itens
que deveriam ser eliminados. Parte deles foi retirada pelo seu baixo poder de discriminação,
ou seja, por serem desnecessários na escala. Dentre os nove itens retirados, seis
8
a b1 b2 b3 b4
1. Considero desafios como um bom modo de aprender e me 1.20 2.04 2.92 4.61 5.54
aprimorar
2. Quando enfrento uma situação difícil, eu confio que tudo dará 0.78 -0.82 0.53 4.09 5.36
certo
3. Sou o tipo de pessoa que vive para tentar realizar coisas novas 0.83 -0.55 0.66 4.10 5.93
4. Raramente confio nas oportunidades que surgem 0.65 -1.08 0.36 4.40 5.69
5. Sou aberto, criativo e confortável com paradoxos e 1.08 0.28 1.46 3.90 4.93
ambigüidades
6. Eu sinto que minha participação faz diferença e provoca 0.99 0.22 1.26 3.28 4.06
mudanças
7. Costumo enfrentar mudanças estressantes, tentando entendê-las 0.58 -0.16 1.07 4.04 5.34
e aprender com elas
8. Dizem que eu não interpreto bem eventos e situações 1.05 0.39 1.47 3.42 4.12
9. Eu confio em mim para descobrir como resolver problemas que 0.85 0.94 2.22 5.11 6.09
surgem
10. Considero o trabalho como importante e valioso, e isso garante 0.59 -0.06 1.45 5.12 6.36
minha atenção plena e esforço
11. Diante de problemas eu atuo, mesmo quando não tenho certeza 1.12 0.63 1.68 3.65 4.47
do resultado
13. Se minha primeira solução não funciona, tento outras soluções 0.84 0.21 1.24 3.61 4.62
até encontrar a que funciona
14. Tenho a visão clara do que quero alcançar e um propósito e 1.57 0.21 1.13 2.67 3.48
foco na vida
15. Acredito que tenho boa habilidade de enfrentamento e 0.71 0.27 1.36 3.46 4.35
respondo bem a desafios
16. Pessoas raramente me procuram para ajudá-las a resolver 0.58 -0.90 0.33 3.56 4.83
problemas
17. Tenho vínculos sociais fortes e me sinto confortável em 0.59 0.71 2.23 5.40 6.47
variadas situações sociais
18. Reconheço minha interdependência com outros e peço apoio 0.81 0.49 1.68 4.52 5.72
quando necessário
19. Sou considerado flexível e preservo pontes nos 0.60 -2.62 -1.05 2.48 3.78
relacionamentos porque isso é valioso
21. Posso controlar o modo como sinto, quando adversidades 0.54 -2.22 -0.56 2.52 3.84
ocorrem
22. Quando discuto questão “quente” com outros, sou capaz de 1.35 0.32 1.36 2.94 3.65
manter minhas emoções sob controle
23. Eu tento manter influência positiva sobre mudanças que 0.64 -0.23 1.05 3.53 4.71
ocorrem à minha volta
24. Sou quase incapaz de controlar emoções para ajudar a manter 0.57 0.03 1.75 4.87 6.26
foco na atividade
9
25. Quando surge um problema, penso em muitas soluções 0.70 -0.63 0.81 3.70 5.32
possíveis antes de tentar resolvê-lo
27. Prefiro fazer coisas espontaneamente mais que de modo
planejado, mesmo se isso significa que posso não desempenhar 0.63 -1.82 -0.21 3.32 4.66
tão bem
29. Olhando fisionomias, reconheço as emoções que outros 0.95 -0.23 0.96 3.02 3.90
experimentam
30. Se um colega está incomodado, eu tenho uma boa idéia dos 0.66 0.14 1.30 3.99 5.12
porquês
31. Quando colegas estão estressados por mudanças, eu expresso 1.07 0.78 1.61 3.49 4.31
solidariedade porque entendo as emoções envolvidas
32. Eu tendo a ficar arredio com colegas no trabalho, para 1.05 0.09 1.35 3.44 4.33
proteger-me dos impactos de mudanças
33. Minha vida é fruto das escolhas e decisões que tomo, e essa é 0.97 0.76 2.07 4.14 5.12
minha liberdade
35. Tentando resolver problemas, eu confio em minhas 0.54 -0.72 0.59 3.13 4.32
competências para compensar minhas fragilidades
37. Eu tento realizar planos, mas me sinto aberto a feedback para 0.72 0.85 1.77 3.73 4.49
reavaliar meus planos
39. Eu agüento muita “pancada” no dia-a-dia do trabalho e da 1.20 2.04 2.92 4.61 5.54
minha vida pessoal
40. Meus amigos me dizem que eu “desmonto” e perco o rumo 0.78 -0.82 0.53 4.09 5.36
quando o problema é grave
permitem discriminar entre indivíduos com menor resiliência (questões difíceis). A questão 1,
por exemplo, com valores de b elevados, permite discriminar indivíduos na faixa de menor
resiliência, enquanto a questão 21 concentra seu poder de discriminação na faixa mais
resiliente.
0.7
0.8
0.6
0.6 0.5
Probabili ty
Informati on
0.4
0.4
0.3
0.2
0.2
0.1
2 3 4 5
0 0
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
Ability Scale Score
A TRI permite calcular o valor do traço latente para cada indivíduo (theta), o que
possibilita análises posteriores sobre características dos respondentes. A Figura 2 apresenta o
histograma de para os 1436 respondentes.
11
Quanto maior o valor de theta, menor o grau de resiliência do indivíduo (como a escala
é invertida, significa maior valor negativo). Percebe-se que a distribuição de theta é
aproximadamente normal, com alguns pontos discrepantes. Os valores de theta podem ser
utilizados em análises posteriores que busquem, por exemplo, entender quais características
dos indivíduos os tornam mais resilientes.
Discussão e Considerações finais
A partir da adaptação de escalas previamente desenvolvidas para capturar diferentes
dimensões da resiliência, esta pesquisa apresentou um instrumento de medida válido e
parcimonioso, com reduzido número de indicadores. Este instrumento possibilitará o
aprofundamento de estudos futuros sobre resiliência por facultar sua aplicação em outras
amostras e contextos.
Os estudos sobre resiliência ainda não contam com uma escala definitiva e
amadurecida e, portanto, podem se beneficiar desta pesquisa, que oferece o ganho de se
extrair um único traço latente de um fenômeno multifacetado e dificilmente observado como
o estudado.
O instrumento aqui desenvolvido possui implicações acadêmicas por revelar que,
embora endereçada pela teoria como conceito multidimensional, a resiliência pode ser medida
pela captura de um único traço referente à crença proativa na possibilidade de agir ou de ser
eficaz, que se associa a todas as dimensões teorizados sobre o fenômeno.
Sob o ponto de vista da prática administrativa, o instrumento pode interessar a gestores
que precisam obter diagnósticos objetivos acerca da resiliência em suas equipes e
colaboradores. Também interessa aos profissionais que necessitam mapear suas habilidades e
competências diante de adversidades às quais possam ser expostos em seus ambientes de
trabalho, sobretudo ambientes com grande incidência de eventos estressantes e presença de
riscos, como aqueles que circundam profissionais envolvidos com gerenciamento de projetos.
A medida do grau de resiliência validada neste artigo pode configurar uma útil
ferramenta de diagnóstico na área de gestão de pessoas para fins de recrutamento, avaliação,
direcionamento de carreira ou ajustes de tarefas e funções. Neste sentido, confrontar o escore
de resiliência com o desempenho profissional de colaboradores pode ser um veio de pesquisa
prolífico em iniciativas de pesquisa futuras. Outra vertente pode ser a comparação dos índices
de resiliência de profissionais atuantes em diferentes contextos, responsáveis por diferentes
funções, de forma a identificar condições e práticas de trabalho mais propensas ao
desenvolvimento da resiliência ou mesmo alguma associação entre resiliência e funções ou
contextos específicos.
Outra sugestão para pesquisas futuras é investigar características relacionadas à
resiliência e buscar determinar sua importância no escore apresentado nesse estudo. De forma
semelhante, pesquisas futuras podem relacionar a escala de resiliência em relação à resistência
a mudanças, condição usualmente enfrentada por gerenciadores de projetos e
empreendedores.
Este estudo também apresenta uma contribuição metodológica em relação ao método
de validação de escalas empregados, ainda pouco difundido no campo da administração. O
uso da TRI mostrou que a escala desenvolvida é consistente e coerente. A utilização da TRI
incorpora vantagens sobre abordagens mais tradicionais de validação de escalas, pois
proporciona uma medida para um traço latente nos indivíduos considerando a dificuldade dos
itens elaborados, o que representa ganhos em análise e interpretação.
12
Com o escore construído e os itens balanceados pela técnica de TRI, a nova escala
pode ser reaplicada possibilitando acompanhamento da variação do grau de resiliência ao
longo do tempo. Para expandir a análise para outras populações, basta que se mantenha um
número de itens da escala original já calibrados, não necessitando da reaplicação de todo o
questionário (Andrade et al, 2000).
Nesse sentido, há possibilidade de aplicar a escala em amostras probabilísticas para
fins de inferência. Como a Teoria de Resposta ao Item permite que sejam calculadas as
probabilidades de respostas por categoria de acordo com o escore obtido (no caso, o grau de
resiliência do indivíduo), poderia ser calculado um parâmetro de discriminação médio
ponderado por questão, permitindo assim a construção de um mapa de localização de cada
item em relação ao escore de resiliência e ao poder de discriminação de cada item.
A análise feita com auxílio das técnicas da TRI mostrou ainda que para boa parte dos
itens, existe uma predominância de escolhas de algumas categorias (categorias 1 e 3, no caso
estudado). Uma investigação relevante pode ser a verificação, item por item, da quantidade de
categorias necessárias para se aprimorar a calibração do modelo.
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