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PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO I
1 1
Schluchter, Wolfgang. Die Entwicklung des Okzidentalen Rationalismus. J.C.B. Mohr,
Tübingen, 1979, pag. 254.
2 2
Weber, Max. 1947, Gesammelte Aufätze zur Religionssoziologie, vol. I, J.C.B. Mohr,
Tübingen, pag.1
3
Op.cit., pag. 534
4
5
Op.cit., pag.12
5
1
Op.cit., pag.239
2
A interpretação weberiana de W. Schluchter ocupa uma posição intermediária entre as
interpretações tradicionais de cunho anti-evolucionista, como podemos notar nos
trabalhos de Reinhardt Bendix, Günther Roth ou Johannes Winckelmann, e a
inovadora recepção evolucionista de Max Weber levada a cabo por Friedrich Tenbruck.
Apesar de Schluchter concordar, em princípio, com Tenbruck acerca do conteúdo
6
com a expectativa de que as coisas possam "ir bem e que se viva longos
anos"5.
5
Weber, Wirtschaft und Gesellschaft, J.C.B. Mohr, Tübinen, 1985:245.
6
Op.cit.,:247.
7
Op.cit., 248.
8
8 8
apud Bellah, Robert, Religiöse Evolution, in: Constanz, Seyfarht, Sprondel, Walter, (orgs.) Religion
und Gesellschaftliche Entwicklung, Frankfurt, Suhrkamp, 1973:274.
9
Bellah, 1973:278
10
Schluchter, 1980:15.
11
Weber, 1985:264
9
12
Weber, 1947:242.
10
13
Op.cit.,:248.
11
14
Dois aspectos parecem-me decisivos na análise das influências diferenciais da ética religiosa sobre a
condução da vida prática. Por um lado, temos um elemento imenente à mensagem religiosa,
nomeadamente, a concepção da divindade. A investigação comparativa descobre um Deus pessoal e
transcendente no ocidente e um Deus imanente no oriente. Esta distinção, entretanto, ganha toda a sua
força apenas vinculada com o conteúdo da promessa religiosa e do caminho da salvação. Por outro lado,
um elemento extra-religioso assume importância central, nomeadamente os portadores sociais da ética
religiosa. Aqui importa saber que interesses ideais e materiais do estrato social em questão determinam a
ética religiosa. Todos esses aspectos se condicionam mutuamente. Importa muito, por exemplo, se o
estrato social portador da promessa e do caminho da salvação religiosa privilegia uma interpretação
intelectual (como no oriente) ou prática (como no ocidente) dos mesmos. (Ver Weber, 1947:536-573).
12
15
Este texto foi publicado em português com o título ”Rejeições Religiosas do Mundo e suas Direções”
(Weber, Max, Ensaios de Sociologia, Rio de Janeiro, Zahar editores, 1979, pags. 371/413.).
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de uma tensão entre ética religiosa e mundo que abriu caminho para a
conformação ética deste último. Fundamental no caso do judaísmo antigo
é a própria concepção de divindade. Jeová não é um Deus funcional
qualquer, mas o Deus da guerra de uma pequena nação cercada de
inimigos poderosos. A desobediência a Jeová significava consequências
políticas e militares imediatas.
16 16
Weber, Max 1923, Gesammelte Aufätze zur Religionssoziologie, vol. III, J.C.B. Mohr, Tübingen,
pags. 126/149.
14
17
Ver, sobre esse tema, o capítulo II da segunda parte desse livro.
16
então, ser muito maior. O desafio aqui é o de a ética querer deixar de ser
um ideal eventual e ocasional (que exige dos virtuosos religiosos quase
sempre uma ”fuga do mundo” como na prática monástica cristã medieval)
para tornar-se efetivamente uma lei prática e cotidiana ”dentro do
mundo”.
18
Weber, 1947, 90.
19
Op.cit.,, 94-95.
17
20
Weber fala mais precisamente de caminho para a certeza da salvação (Op.cit.,:110).
18
22
Schluchter, Wolfgang. 1979, pag.229.
19
24
A religião não desaparece simples e automaticamente no desenrrolar desse processo. Ela vive, agora como antes, da
carência e das limitações impostas à capacidade interpretativa humana no seu sentido mais geral, as quais não podem
ser sanadas pela ciência nem por esquemas de interpretação de fundo secular. Entretanto, como conseqüência do
desencantamento do mundo, a religião encontra-se na defensiva, sendo apenas uma alternativa entre outras de
paradigma interpretativo.
25
Weber, Max. 1947 I, pag.204
26
Schluchter, Wolfgang.1980, pag.36.
20
o sucesso e atitude ética, ou seja, uma mistura bem temperada entre sucesso
e moralidade. Trata-se, aqui, da necessidade típica de um antropocêntrismo
dualista, ou seja, que se mantenha a tensão entre ser e dever ser, de
reconhecer o conteúdo ético da problemática do auto-contrôle e da
dominação do mundo e de pautar seu comportamento de acordo com essa
dualidade necessariamente instável.
A partir da destruição da concepção de mundo dualista-teocêntrica
teríamos, como única possibilidade de atitude ética, a condução consciênte
da vida enquanto personalidade a qual pressupõe a necessidade de escolhas
morais e ações meditadas que levam em conta as suas conseqüências na
realidade 27. Desse modo, a antropodicéia no sentido weberiano pressuporia
uma antropologia, a qual, segundo Dieter Henrich, espelha uma doutrina
do homem como ser racional. Racionalidade significa aqui o imperativo de
qualquer existência humana de tornar-se uma personalidade na medida em
que a corrente de decisões últimas que conferem, em última instância, o
sentido da individualidade de uma vida, passa a ser conscientemente
executada e mantida. 28
Os "últimos homems", no sentido da "ética protestante", seriam, ao
contrário, aqueles que renunciam a escolha dos valores que regem a própria
vida, abdicando em suma à autodeterminação, praticando uma crua
acomodação aos estímulos pragmáticos exteriores. 29 A nova concepção
dualista do mundo, típica da modernidade desencantada, renuncia à noção
de um além o que justificaria sua designação de imanente. Para Henrich, o
homem que perde sua ligação orgânica com motivos religiosos só pode
encontrar os seus ideais dentro do "próprio peito"30.A concepção de mundo
moderna continua dualista, na visão de Weber, precisamente pela
permanência do confronto entre um mundo da causalidade natural e um
mundo "postulado" de uma causalidade compensatória de fundo ético. No
entanto, ao contrário do dualismo anterior, religiosamente motivado, temos
agora um dualismo imanente31já que o mundo da realidade ética postulada
é pelo próprio homem desenvolvida acarretando, conseqüentemente, uma
responsabilidade bastante peculiar com respeito à esfera ética.
27 27
Henrich, Dieter. 1950, Die Grundlagen der wissensschaftslehre Max Webers, mimeo,
Heidelberg, 1950. pag. 202.
28
Op.cit., pag.205.
29
Op.cit., pag.200.
30
Op.cit., pag.206.
31
Schluchter, Wolfgang. 1980, pag. 35 e 36.
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influenciar pelos imperativos dessas mesmas esferas. Isso implica que ética
e mundo se interpenetram reciprocamente.
É que a interpenetração entre ética e mundo não poderia ser vista
como uma subordinação unilateral do mundo à esfera ética. Em sociedades
que apresentavam já graus significativos de diferenciação social, como a
sociedade pré-moderna ocidental, só podemos falar de uma interpenetração
recíproca entre ética e mundo, na medida em que as esferas mundanas
tornam-se éticas e a ética religiosa adquire, por seu turno, ”relevância
prática”. É precisamente essa relevância prática que possibilita e radicaliza
seu efeito intra-mundano.
Para Münch, uma interpretação do processo de secularização como a
que Schluchter, por exemplo, propõe, equivale a secundarizar os elementos
éticos do racionalismo da ”dominação do mundo”. Münch demonstra como
a cidade medieval já havia criado as pré-condições para um processo de
interpenetração recíproca entre ética e mundo. É que a cidade medieval
ocidental era, ao contrário da cidade oriental, uma comunidade de
cidadãos. Esta última, ao contrário, era, antes de tudo, o centro da
dominação patrimonial e apenas secundariamente um centro comercial e
artesanal. Münch releva, portanto, a possibilidade do desenvolvimento de
um universalismo consequente nas esferas econômica, política e cultural a
partir desse fundamento.
Nesse sentido, a cidade medieval vinculava todos os cidadãos às
mesmas normas jurídicas, o que implicava que a ordem senhorial e
patrimonial medieval sofria, nos seus domínios, uma refração importante.
Também na cidade surgiu pela primeira vez o ”Homo Oeconomicus”, com
sua ênfase na continuidade, calculabilidade e segurança nos negócios; o
direito racional como forma de ordenar a vida econômica; uma primeira
forma de autonomia política, conquistada contra a dominação patrimonial;
e, finalmente, a revitalização da vida cultural, na medida em que se retoma
a herança da antiguidade clássica, transfromando-a em estímulo
fundamental para a renascença italiana e o humanismo.
A ênfase de Münch na importância da cidade medieval serve para
demonstrar sua tese da interpenetração recíproca entre ética e mundo. É
que na cidade medieval já existiam pressupostos importantes da cultura
ocidental antes mesmo do protestantismo ascético. A norma da eqüidade,
por exemplo, que implicava universalização e igualdade na esfera
econômica é um pressuposto da própria possibilidade de tornar o tráfico
econômico normatizável segundo regras universalizáveis. Assim, não seria
decisivo apenas a existência de uma ou outra característica, mas a
interpenetração entre várias, como no ocidente a partir da cidade e do
univeraalismo cristão, que seria responsável pela posterior construção de
uma cultura normativa com as características de ativismo, universalismo,
23
racionalismo e individualismo33.
De acordo com essa linha de raciocínio, a doutrina religiosa
protestante ascética, partiria do dado da existência de uma civilização
comercial burguesa direcionando sua doutrina a esse tipo de vida
econômica. Isso não implica que a religião teria sido usada para conferir
substância moral à vida econômica. Esse fato significa apenas que a
mensagem religiosa ascética dirige-se àqueles segmentos citadinos e
burgueses cuja condução de vida estava em conflito secular e constante
com a ética tradicionalista da doutrina católica. Nesse sentido, levar em
conta as necessidades desse estrato, não significa subordinar a mensagem
religiosa às suas necessidades, mas direcionar a doutrina religiosa a esse
tipo de vida econômica. Essa referência da doutrina em relação as
necessidades cotidianas desse estrato explica, precisamente, em que medida
se pode lograr uma ”moralização da economia”, moderando os estímulos à
atividade econômica descontrolada e propiciando, através do controle dos
desejos e paixões, a entronização do princípio da responsabilidade
individual e da conduta racional e metódica.
Esse aspecto é fundamental para a tese da interpenetração recíproca.
É que, nesse novo quadro, o mundo secularizado das gerações seguintes
não seriam apenas regulados pelos estímulos empíricos de mercado
capitalista e Estado racional-burocrático, como na tese da coisificação do
mundo secular. Essas gerações seguintes seriam também influenciadas pela
ética subjacente e já incorporada e materializada por essas instituições
fundamentais. Assim, todo o potencial normatizador da vida contratual
moderna, ancorado no mercado, e o respeito a direitos humanos
generalizáveis, como base do Estado democrático moderno, remetem a
esse contexto moral que é o pressuposto mesmo da existência dessas
esferas.
Uma visão da modernidade secularizada como incapaz de qualquer
consenso ético, descura, na opinião de Münch, nesse particular seguindo os
passos de Talcott Parsons, o fenômeno da ”generalização valorativa” típica
da modernidade. Segundo essa tese, a modernidade secularizada implicaria
a superação do particularismo ético e não da ética enquanto tal. Ao
moderno sistema escolar e universitário caberiam o ancoramento
institucional possibilitador do princípio da generalização normativa e da
autonomia da personalidade. Para Münch, é precisamente a constituição
desse sistema profissional baseado na escola e na universidade que, em
consonância com as necessidades do mercado e do Estado, permitem a
manutenção em escala ampliada da cultura normativa e do valor da auto-
33 33
Münch. Richard, Die Kultur der Moderne, volumes I e II, Frankfurt, Suhrkamp, 1993, volume I,
pags. 96/127.
24
responsabilidade34.
Apesar de Münch conscientemente ir mais adiante, na sua
argumentação em favor da permanência de uma cultura normativa como
pressuposto do mundo moderno secularizado, do que uma interpretação
estrita da sociologia weberiana permitiria, essa discussão é interessante
para nossos propósitos de várias maneiras. Inicialmente, ela nos lembra que
o arcabouço institucional do mundo individualista e burgues moderno, se
por um lado não pressupõe, necessariamente, uma cultura normativa
substantiva, por outro lado ela é enormemente facilitada por ela. Depois ela
permite um ponto de partida interessante para a análise dos diversos casos
empíricos de modernização que efetivamente ocorreram no ocidente. Esse
ponto de partida nos permite, por exemplo, comparar experiências
históricas concretas segundo a forma mais ou menos consequente na qual a
cultura normativa da modernidade logrou se institucionalizar e permear o
pano de fundo valorativo e normativo de cada sociedade singular. Com
relação a esse último ponto, podemos examinar casos concretos
alternativos de desenvolvimento ocidental, como efetivamente faremos na
segunda parte desse livro, nos perguntando acerca da articulação específica
entre cultura normativa e padrões de institucionalização.
Acrediro ser possível demonstrar que o caso brasileiro é uma
variante peculiar dessa lógica de desenvolvimento, e não o ”outro” dela
como defende nossa sociologia da inautenticidade, apesar de apresentar um
alto grau de seletividade comparativa.
34
São precisamente as profissões que demandam maior auto-responsabilidade as que exigem maior
tempo de permanência no complexo escola/universidade.
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