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06/02/2018 A educação sob os parâmetros da biopolítica: o efeito Foucault.

cault. Entrevista especial com Sílvio Gallo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU

A educação sob os parâmetros da biopolítica: o efeito


Foucault. Entrevista especial com Sílvio Gallo

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11 Outubro 2010

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Para o professor Sílvio Gallo, a principal contribuição que a filosofia da diferença dá à educação é o fato de
que ela compreende a “necessidade de tomar a diferença conceitualmente em si mesma e não como
representação ou identidade”. Em entrevista concedida à IHU On-Line, por telefone, o filósofo sobre como
as filosofias da diferença, principalmente aquelas pensadas por Deleuze, Foucault e Derrida,
compreendem a educação. Sílvio fala também sobre a transição do entendimento da pedagogia como arte
para tornar-se uma ciência. “Deixamos de tratar a pedagogia como um saber prático da condução do
processo de aprendizado para tratar como certos regimes de verdades de conhecimentos sobre o que é uma
criança, isto tendo em vista poder educá-la corretamente, garantindo os resultados que visam ser
alançados”, afirma. 
Sílvio Donizete de Oliveira Gallo é graduado em Filosofia pela PUC Campinas. Possui graus de
mestrado e doutorado em Educação alcançados na Universidade Estadual de Campinas, em que,
atualmente, é professor pesquisador e desenvolve o projeto Filosofias da diferença e educação: suas
interfaces, suas implicações, suas interferências. É autor de Subjetividade, Ideologia e Educação (Campinas:
Alínea, 2009), Deleuze & a Educação (Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2008), entre outros.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como as filosofias da diferença compreenderão a educação?

Sílvio Gallo – Ainda estou num patamar muito inicial dessa compreensão. Há várias dimensões que
poderíamos trabalhar para entender essa questão. O que eu tenho focado é justamente pensar o conceito de
diferença pela perspectiva filosófica e o que isso implicaria em discussões mais contemporâneas de
educação. O que venho levantando é uma crítica sobre como se faz essa discussão porque ela tem tomado a
diferença como representação e não tomando a diferença como diferença em si mesma. Essa é a principal
contribuição que a filosofia da diferença poderia nos dar, ou seja, a necessidade de tomar a diferença
conceitualmente em si mesma e não como representação ou identidade. Nos discursos que temos visto sobre
educação inclusiva, por exemplo, a diferença é tomada sempre como diferença em relação a uma identidade.
Isso faz com que se apague a diferença efetiva. A pedagogia inclusiva não é uma pedagogia de afirmação da
diferença, mas de apagamento da diferença.

IHU On-Line – O que o senhor pode falar a respeito do “efeito” de Foucault na educação?

Sílvio Gallo – Eu trabalho essa questão desde 2005 de forma mais articulada. O que propus, enquanto
projeto, foi uma leitura do que estou chamando de filosofia da diferença na versão francesa que vai
d b i t filó f D l F lt D id E fil fi t t d
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compreender, basicamente, filósofos como Deleuze, Foucault e Derrida. Essa filosofia tem um ponto de
partida que foi posto por Nietzsche no final do século XIX, ao propor que a filosofia pense a diferença. A
partir disso, temos duas vertentes básicas: uma na filosofia alemã, trabalhada principalmente por Heidegger
e outra francesa, trabalhada pelos três filósofos citados anteriormente. No meu projeto sigo a vertente
francesa. Nessa direção, o que fiz até agora foi, primeiramente, focar em como se dá a gênese da filosofia da
diferença na filosofia de Nietzsche. Num segundo momento, me dediquei a Deleuze focando principalmente
o conceito de diferença e, a partir daí, busquei elementos para compreender a educação. Quando passo a
entender o conceito de filosofia da diferença a partir de Foucault, faço um estudo da obra dele centrando a
discussão numa leitura dos cursos que este pensador deu.

A ideia dessa fase do projeto é fazer uma leitura regressiva, ou seja, parti do último curso dado por Foucault
em 1984 e depois fui retrocedendo. Esse curso está muito voltado para a ideia da filosofia antiga e nos
conceitos de cuidado de si e parresia. Nesse momento, estou trabalhando essa etapa da produção intelectual
do Foucault para buscar os aportes disso na educação. Desde as relações que ele mesmo faz nessas obras,
percebemos que essa questão é muito intensa. Quando ele está tratando de textos gregos antigos, de como
alguém cuida de si mesmo e se preocupa com dizer a verdade num processo de formação, Foucault está
lidando muito diretamente com questões educacionais mais formais e até de uma formação no sentido mais
geral. A ideia é tanto evidenciar esse trabalho que ele faz com relação à educação, como esses aportes que ele
fez da filosofia antiga para pensar problemas contemporâneos da educação. Essa é a direção do que
pretendemos desenvolver ainda nesta pesquisa.

IHU On-Line – Que jogos de “poder e saber” foram feitos pela Pedagogia para que esta
pudesse se transformar em ciência?

Sílvio Gallo – Essa é uma questão complexa. Poderíamos ver, no processo de constituição da pedagogia na
modernidade, um trabalho bastante curioso. Se olharmos panoramica e retrospectivamente esse período,

veremos que a educação era considerada uma arte, uma ação do conhecimento de natureza prática. E o que
vemos na modernidade, a partir do século XVII, é todo um procedimento de afirmação da ciência, e isso
Foucault analisa em diversos momentos, que vai organizando nossa forma de pensar, agir e produzir
conhecimento. Tudo isso teve um impacto extremamente forte na produção científica. E, assim, assistimos,
na pedagogia, uma conformação a essa lógica moderna que é da produção da verdade segundo os cânones da
ciência. O que vemos, no âmbito da pedagogia, é o seu desejo de se constituir como tal, o aporte que a
psicologia traz para isso – aliás, a psicologia serve como a grande base da pedagogia, porque a primeira
ciência mostra saber o que é a criança e como ela pode ser educada.

Assim, deixamos de tratar a pedagogia como um saber prático da condução do processo de aprendizado para
tratar como certos regimes de verdades de conhecimentos sobre o que é uma criança, isto tendo em vista
poder educá-la corretamente, garantindo os resultados que visados. Por outro lado, teríamos também, e essa
é uma reflexão importante que Foucault faz em Vigiar e Punir, uma discussão em torno dos jogos de poder
que aí se estabelecem. É a invenção do exame que permite que a pedagogia se torne uma ciência. Agora, eu
diria que, embora tenhamos todo esse processo no período moderno, e que deu certo, felizmente vemos que
os estudantes e professores o tempo todo traçam linhas de fuga em relação a esse processo todo. É um
processo que funciona, mas que dá possibilidades de se escapar o tempo todo também.

IHU On-Line – Como o senhor vê a transição do poder disciplinar para o biopoder?

Sílvio Gallo – Não sei se poderíamos falar em transição, porque esta dá a ideia de substituição de um por
outro. E não é isso que Foucault coloca. Ele fala numa complementaridade entre essas duas técnicas de
poder. Na medida em que a disciplina – entendida como um poder individualizante, que age sobre o corpo
de cada indivíduo – se assenta e funciona, é que os Estados começam a operar dentro da lógica do biopoder.
Tendo os indivíduos absolutamente disciplinados, conseguimos trabalhar com um poder que se exerce já
não só sobre o indivíduo, mas sobre a população. Há uma complementaridade entre os dois porque o
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ão só sob e o d v duo, as sob e a popu ação. á u a co p e e ta dade e t e os do s po que o
próprio biopoder só pode ser exercitado na medida em que se tem um conjunto populacional disciplinado.
Desta forma, o âmbito da educação é interessante ser observado na medida em que vemos a
complementação de um com o outro na atuação do poder disciplinar enquanto uma lógica de controle e de
organização da instituição e uma lógica de disciplinarização dos estudantes na instituição. Não deixa de ser
curioso, portanto, que cada vez mais nós ouçamos falar da preocupação da chamada classe política sobre a
educação.

IHU On-Line – Há um projeto lançado pelo MEC que prevê que não haja reprovação nos três
primeiros anos escolares. Podemos dizer que essa medida do MEC é uma espécie de
mecanismo de disciplinamento? A reprovação pode ser encarada como uma maneira de
biopoder?

Sílvio Gallo – Aqui em São Paulo temos um processo de progressão continuada instalada a mais de uma
década que tem sido defendido por uns e criticado por outros. Se pensarmos com as ferramentas conceituais
que Foucault nos coloca, eu diria que a reprovação é um efeito de um processo avaliativo que é de natureza
disciplinar. Você estabelece os espaços do aprendizado, metrifica aquilo que é ensinado, avalia o quanto foi
aprendido segundo esses critérios e protocolos e a criança que não atingiu aquilo que se convenciona é
reprovada. Assim, a reprovação funciona no contexto da disciplina, ele é reprovado para fazê-lo aprender
melhor no contexto dessa noção de aprendizado como algo que pode ser controlado. Por outro lado, a ideia
da não reprovação está ligada a um jogo biopolítico, porque, na medida em que se afirma que não vai mais
reprovar nas três primeiras séries ou durante todo o primeiro ciclo do ensino fundamental, é feito um jogo
de planejamento do sistema educacional como um todo. E esse jogo está justamente na direção daquilo que
Foucault chamou de biopolítica. No caso do Estado brasileiro, isso está muito relacionado com alcançar os
índices propostos pelos organismos internacionais. Durante muito tempo, o Brasil foi criticado por ter altos
índices de reprovação e de evasão escolar, então uma forma de se reduzir esses índices é através da 
progressão continuada. Não que isto vá fazer funcionar melhor o sistema de ensino, mas melhora esses
índices apresentados aos organismos internacionais em busca de financiamentos.

IHU On-Line – O discurso sobre a falta de qualificação do professor está presente de que
forma dentro dessa ideia de biopolítica na educação?

Sílvio Gallo – Sim. Você faz o discurso da falta de qualificação pelo viés de uma certa concepção de
educação. Se pensamos a pedagogia como técnica, como no início da Modernidade, não faria muito sentido
falarmos em qualificação do professor. Faz mais sentido pensar, portanto, em vocação do professor, em algo
intrínseco a ele que o faz estar ou não preparado para esse ato de educar. Mas quando temos a colonização
do campo da educação por esse viés cientifico é quando vamos buscar a garantia da boa atuação do professor
na sua qualificação profissional. Então, ser qualificado profissionalmente, ter uma boa preparação é
justamente o que garante a boa atuação. Num quadro de planejamento educacional, em termos de um
estado ou de um país, que é o que chamaríamos de controle populacional que se exerce, nos termos da
biopolítica, o discurso da qualificação ou não do professor entra como um dos elementos disso que podemos
chamar de biopolítica da educação.

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